Este documento descreve um projeto de pesquisa que analisa estratégias de co-presença na interação epistolar amorosa. O projeto estuda 68 cartas de amor dos séculos 16 ao 19 para examinar como os autores se apresentam, as atitudes esperadas dos destinatários, tipos de manipulação, tratamento de segredos e empatia. A análise mostra que os autores tendem a se apresentar como amantes fiéis e sofredores, acreditam em correspondência das expectativas do destinatário, e usam manipulação, confidências
2. Introdução
• preservar e estudar a correspondência
privada de pessoas anónimas
• conhecer e compreender a linguagem
oral e os usos sociais da escrita na
Idade Moderna (entre os séculos XVI e
XIX).
• 3 500 cartas portuguesas e 3 500
cartas espanholas
• transcrição, contextualização,
anotação linguística, modernização e
digitalização acessíveis ao público
1) Projeto
Post Scriptum
Arquivo Digital de Escrita Quotidiana em
Portugal e Espanha na Época Moderna
DialectologyandDiachrony-PostScriptum
3. Introdução
Interdisciplinaridade: História,
Linguística e Humanidades Digitais
- Transcrição segundo normas
internacionais para dados facilmente
transformáveis e transportáveis (Text
Encoding Initiative);
- Anotação linguística (e modernização
com anotação morfossintática sintática
- de acordo com o sistema de
etiquetas EAGLES adaptação para o
Português da Penn Parsed Corpora of
Historical English);
- Busca - livre, cruzada, visualização de
mapas com origem das cartas, busca
de árvores sintáticas.
1) Projeto
Post Scriptum
Convenções
DialectologyandDiachrony-PostScriptum
4. 3 676 cartas disponíveis em
ps.clul.ul.pt
Cada carta corresponde a ficheiro XML e a duas entradas bibliográficas que são
incluídos na base de dados acessível em linha.
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5. Introdução • Carta: intermediação / conector
• Pressupõe a existência de um eu e de um
tu
• O autor pode dar ênfase à ausência ou à
presença
• Cartas de amor: modelos do género
epistolográfico
• Estratégias de encurtamento da distância:
a escrita e a leitura da carta, enquanto
momentos de copresença.
2) Estratégias de
co-presença na
interação epistolar
amorosa
DialectologyandDiachrony-PostScriptum
6. Introdução • Comunicação epistolar como forma
profícua de apresentação e administração
de impressões
• Género epistolar / fala espontânea /
co-presença
• Estratégias de comunicação
• Imagem publicamente aceitável versus
gafes ou deslizes
• Quebra de etiquetas sociais
2) Estratégias de
co-presença na
interação epistolar
amorosa
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7. Desenvolvimento
Seleção de 68 cartas escritas e
recebidas por 56 participantes
diferentes:
1) As nossas cartas de
amor
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Distribuídas por todos os séculos da Idade
Moderna (sécs. XVIII e XIX maioritariamente)
9. Desenvolvimento
• Intervenientes:
- pretendentes, namorados, noivos, esposos
e amantes
• Contextos:
- prisão, distância, proibição (de familiares ou
sociedade
• Critérios de análise:
- a) apresentação dos autores e os deslizes;
b) atitude esperada dos destinatários; c)
manipulação; d) segredos; e) tratamento
dos ausentes; e f) empatia.
2) Os Contextos
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11. Desenvolvimento
A análise:
b) Atitude esperada dos
destinatários
Em relação a:
- correspondência
(não faltará à resposta da carta);
- contacto presencial
( não faltará ao encontro marcado);
- conhecimento profundo do outro
(como vai pensar ou agir em determinada
situação);
- autoridade
(obediência ou da cedência perante algo);
- sentimentos
(amor correspondido e ajuda)
13. Desenvolvimento
A análise:
d) Segredos
Menção a:
- confidências e inconfidências
Ex.:"tanto mal fas não guardar segredo; não quero que se venha a saber”,
CARDS0073
ou “rogote q me digas o segredo pois tenho sumo dezejo de o saber”,
CARDS7098
- ajudas de terceiros na manutenção do
segredo
Ex.: “tendo nos agora a Maria pela nosa parte..”, CARDS7093
- descoberta de segredos
Ex.: “Diz a Catharina que guarde segredo”, CARDS0282
- estratégias para manter os segredos
Ex.: “o portador desta vai ẽganado cuida q he carta do frade”, PSCR0103
14. Desenvolvimento
A análise:
e) Tratamento dos
ausentes
Depreciação em segredo (Goffman):
Exemplos:
a) “he home falto de relegião”
(CARDS0001);
b)“[carcereiro] esta mt inpinhado do
diabo” (CARDS0006);
c) "ele he um patife”... "ele tem dinheiro
tudo compra"... "he um doido"
(CARDS0008);
d) “me via redeada de Serpentes
Velhas” (CARDS6112).
15. Desenvolvimento
A análise:
d) Empatia
Exemplos:
a)"se a voça Libardade estivece na
minha mão eu por Vos daria a propria
vida e me daria por Satisfeita"
(CARDS0078);
b)“mais emtereço eu no teu Livramto do
que tu propio” (CARDS2043) ;
d)“que tenhais passado livre das
molestias, de que tanto vos dezejo
aliviada” (PSCR1523)
16. Conclusão
- Os autores das cartas tendem a apresentar-se
como amantes fiéis, sofredores e saudosos;
- têm um conhecimento profundo do outro e
pensam que este vai corresponder às suas
expectativas;
- exercem 3 tipos de manipulação (sub-reptícia,
coerciva e condicional);
- na partilha de segredos fazem menção a
confidências e inconfidências; ajudas de
terceiros; descoberta de segredos e
estratégias para mantê-los;
- falam dos ausentes de forma pejorativa;
- são capazes de se colocar nos sapatos dos
destinatários e ajudar (expressão de amor).
Os dados
mostram que:
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