texto utilização para alunos de teologia na pesquisa sobre a pessoa de Jesus Cristo. Busca necessariamente, centralizar a fé cristã no evento Cristo, a partir do Calvário.
1. Fé pascal - Kessler pp.264-265
2.3.3.2. Em que se baseia a fé pascal?
A experiência pascal das testemunhas apostólicas originárias representa a experiência de irrupção
inicial e extraordinária, que não podemos repetir da mesma forma: por meio dela os primeiros discípulos
reconheceram (identificaram) como o Ressurreto o Jesus que haviam conhecido, só por meio dela Jesus
enquanto Ressurreto se fez experimentar historicamente. A experiência pascal (que suscitou a fé e foi feita na
fé) das testemunhas apostólicas originárias é o lugar e meio da manifestação originária do Ressurreto na
história. Por isso ela é básica para todo o futuro: toda fé (pascal) posterior depende fundamentalmente do
testemunho dos portadores originários da revelação e é mediada por sua transmissão (tradição).
Ainda assim. Os testemunhos dessas experiências pascais há muito passadas nunca constituíram o
verdadeiro e último fundamento da fé pascal dos cristãos posteriores.Estes também fizeram experiências
próprias da vitalidade e presença contínua do Senhor Ressurreto. Não é correta a opinião de G.E. Lessing
(Beweis [1777]) segundo a qual só os primeiros discípulos teriam experimentado em suas vivências
extraordinárias as "demonstrações do Espírito e de poder", enquanto que agora estas teriam "deixado
inteiramente de acontecer": portanto, os pósteros não teriam outra coisa senão informações sobre o que
outros pretendem ter vivenciado, de modo que sua fé seria mera fé baseada em autoridade, sua certeza
seria apenas uma certeza emprestada das testemunhas originárias, baseando-se numa realidade apenas
imaginada (não experimentada por eles próprios). Não, a fé dos pósteros se baseia em última análise em
Jesus mesmo (transmitido a eles numa tradição fidedigna em termos de conteúdo e viva), que eles
experimentam como convincente e vivo hoje: baseia-se, portanto, numa evidência experiencial e
existencial própria (e não apenas tomada de empréstimo).
Ocorre que também para os crentes posteriores existe uma imediatez (ainda que mediada pelo
testemunho pascal e pela tradição sobre Jesus) do encontro pessoal com o Jesus Ressurre to, uma
experiência e evidência de sua presença no Espírito. Embora o Senhor não "apareça" mais como
"apareceu" a Pedro e a outros, ele, em compensação, se junta discretamente como o fez com os discípulos
de Emaús (Lc 24,15s: Jo 21.4), caminha junto e se dá a experimentar como presente: na comunhão de fé
viva (Mt 18,20), na palavra da Escritura e na ceia do Senhor (Lc 24.30-32; Jo 21.12s: compare CI3.2.26: 4,6
com 2Cor 3.17s), na solicitude para com os pequeninos (Nt 25.31-45), na pratica de suas palavras (Jo 8.31s:
3.2]; Mt 28,20), portanto no misticismo ordinário dos crentes: e às vezes também numaexperiência mística
especial. A comunhão e a solidariedade vivas que sustentam as pessoas que seguem a Jesus no caminho
de sua prática constituem o verdadeiro lugar da experiência pascal hoje, o sinal e meio da presença
contínua do Ressurreto no mundo. Através dessavitalidade e atuação de Jesus experimentadas no presente
é confirmada a mensagem acerca da ressurreição de Jesus e surge certeza de fé para os discípulos
posteriores.
O fundamento da fé é, por conseguinte, certamente o Jesus terreno, mas como o Senhor Ressurreto
(testemunhado pelas testemunhas originárias e experimentado pelos próprios crentes como atuante no
presente).