2. As operações mentais e arte
“ Conhecer um objeto, é agir sobre ele e transformá-
lo para captar os mecanismos destas transformações
em conexão com as próprias ações transformadoras.
Conhecer é portanto assimilar o real às estruturas de
transformação e são estas as estruturas que elaboram
a inteligência enquanto prolongamento direto das
ações”.
Jean Piaget Psicologia e Pedagogia
Ed. Delachaux- Niestlé
3. “ A arte é um jogo – o jogo do espírito. O jogo maior
do Homem. Um criança olha por um instante uma
bola de pano – um pensamento a atravessa; este
objeto é um ‘Pele Vermelha’. Ela decide acreditar
que aquele boneco de pano é um ‘Pele Vermelha’.
Daí ter medo como se tem medo do ‘Pele Vermelha’.
Ela tem medo de verdade. Ela sabe bem que é apenas
um lenço de pano com um nó.”
Dubuffet in, l’Homme du commun à l’ouvrage
(Idées/Gallimard)
4. Esta sucessão de operações mentais é a origem do ato
plástico e inclui outras classes de ações.
Olhar tem muitos sentidos: observar, examinar,
contemplar, estimar
Observar pode conduzir a identificar, imitar,
reproduzir; examinar é explorar dissecando,
detalhando, comparando; contemplar é admirar: isto
supõe uma escolha que privilegia; estimar é julgar,
avaliar
11. Qualquer que seja o trabalho, o tema ou o assunto
escolhido, se o pretexto é o material, a cor, a forma ou
o objeto trata-se sempre de observar (olhar):
comparar, analisar, reproduzir; associar: as formas, os
materiais , as cores , as ideias
e transformar
12. “Gauguin, acredito eu, pensava que o artista deve
buscar o símbolo, o mito, ampliar os fatos da vida até
o mito, enquanto Van Gogh pensava que é preciso
saber deduzir o mito das coisas mais terra- a- terra da
vida.
No que, penso eu, ele tinha razão.
Por que a realidade é superior a toda história, a toda
fábula, a toda divindade, a toda surrealidade.
Basta ter gênio para interpretá-la.”
Antonin Artaud Van Gogh o suicida da sociedade, José
Olympio, pp.50,51
Trad. Ferreira Gullar
13. Exemplo de uso das operações em ações de aprendizagem
Vamos tomar um elemento simples como uma folha de
árvore e aplicar as diversas operações:
Reproduzí-la: desenhando-a (contorno, estrutura, forma);
decalcando-a (contorno);
Pintando-a (cor); na busca de técnicas de impressão com
materiais diversos (pena para sulcar, lápis de cera para frotar);
examinando-a na lente de aumento para reproduzir seus
grafismos; a impressão (à lápis, lápis de cera, à tinta ou na
pintura); fotocopiado-a, filmando, fotografando.
Comparando-a a outros elementos da mesma ordem (outras
folhas) ou com gêneros diferentes ( lenços, papéis, dentro dos
quais procuramos semelhanças de cor e texturas).
14. Decupando-a, fragmentando-a para integrar a uma
superfície pintada.
Desfazendo seus limites separando suas partes para
as utilizar novamente
Escondendo o conjunto de sua forma para valorizar
(destacar) um detalhe particularmente interessante
que será assim isolado, mostrado e reproduzido
Aproximando de outros motivos semelhantes ou não
que serão juntos, manipulados, trabalhados
(intercalados, sobrepostos, opostos) dentro de
criações diversas
15. Reunindo em um grande quadro as impressões em
destaque e as folhagens reunidas
Acrescentando outras folhas para fazer uma árvore,
aglomerando-as em uma acumulação
Ordenando-as em um herbário
Diversificando as cores e as formas para fazer um
quadro abstrato
Modificando as formas decupando, invertendo frente
e verso
Transformando o concreto em abstrato: quadro de
assemblages
16. • Metaforizando o elemento ‘uma folha’ em árvore
dentro de uma paisagem
• Transformando-nos em folhas
• Qualquer que seja o trabalho, tema ou assunto
escolhido se o pretexto é o material, a cor, a forma
ou objeto será necessário observar: comparando,
analisando, reproduzindo; associando as formas, as
cores, as ideias; transformando