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Manifesto do Partido Comunista (Resumo)
O Manifesto Comunista fez a humanidade caminhar. Não em direção ao paraíso, mas
na busca da solução de problemas como a miséria e a exploração do trabalho. Rumo à
concretização do princípio, que diz todos os homens são iguais. E sublinhando a
novidade que afirmava que os pobres, os pequenos, os explorados também podem ser
sujeitos de suas vidas. Por isso é um documento histórico, testemunho da rebeldia dos
seres humanos. Seu texto, racional, em diversas passagens é irônico, mal esconde essa
origem comum com homens e mulheres de outros tempos: o fogo que acendeu a
paixão da Liga dos Comunistas, reunida em Londres no ano de 1847, não foi diferente
do que incendiou corações e mentes na luta contra a escravidão clássica, contra a
servidão medieval, contra o obscurantismo religioso e contra todas as formas de
opressão. A Liga dos Comunistas encomendou a Marx e a Engels a elaboração de um
texto que tornasse claros os objetivos dela e sua maneira de ver o mundo. Portanto, o
Manifesto Comunista é um conjunto afirmativo de idéias, de verdades, em que os
revolucionários da época acreditavam, por conterem, segundo eles, elementos
científicos um tanto economicistas para a compreensão das transformações sociais. O
Manifesto tem uma estrutura simples: uma breve introdução, três capítulos e uma
rápida conclusão. A introdução fala com um certo orgulho, do medo que o comunismo
causa nos conservadores. O fantasma do comunismo assusta os poderosos e une, em
uma aliança, todas as potências da época. É a velha satanização do adversário. Mas o
texto mostra o lado positivo disso: o reconhecimento da força do comunismo. Se
assusta tanto, é porque tem alguma presença. Daí a necessidade de expor o modo
comunista de ver o mundo e explicar suas finalidades, tão deturpadas por aqueles que
não o queriam. A parte I, denominada Burgueses e Proletários, faz um resumo da
história da humanidade até os dias de então, quando duas classes sociais antagônicas
dominam o cenário. A grande contribuição deste capítulo talvez seja a descrição das
enormes transformações que a burguesia industrial provocava no mundo,
representando na história um papel essencialmente revolucionário. Com a sabedoria
de quem manejava com destreza instrumentos de análise socioeconômica muito
originais na época, Marx e Engels relatam o fenômeno da globalização que a burguesia
implementava, globalizando o comércio, a navegação, os meios de comunicação. O
Manifesto fala de ontem mas parece dizer de hoje. O desenvolvimento capitalista
libera forças produtivas nunca vistas, mais colossais e variadas que todas as gerações
passadas em seu conjunto. O poderio do capital que submete o trabalho é anunciado e
nos faz pensar no agora do revigoramento neoliberal: nos últimos 40 anos deste século
XX, foram produzidos mais objetos do que em toda a produção econômica anterior,
desde os primórdios da humanidade. A revolução tecnológica e científica a que
assistimos, cujos ícones são os computadores e satélites e cujo poder hegemônico é a
burguesia, não passa de continuação daquela descrita no Manifesto , que criou
maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, que os aquedutos romanos e as
catedrais góticas; conduziu expedições maiores que as antigas migrações de povos e
cruzadas. Um elogio ao dinamismo da burguesia? Impiedoso com os setores médios da
sociedade, já minoritários nas formações sociais mais conhecidas da Europa, o
Manifesto chega a ser cruel com os desempregados, os mendigos, os marginalizados,
que podem ser arrastada por uma revolução proletária mas, por suas condições de
vida, está predisposta a vender-se à reação. A relação relativa do papel dos comunistas
junto ao proletariado é o aspecto mais interessante da parte II, intitulada Proletários e
Comunistas. Depois de quase um século de dogmatismos, partidos únicos e de
vanguarda, portadores de verdade inteira, é saudável ler que os comunistas não
formam um partido à parte, oposto a outros partidos operários, e não têm interesses
que os separemdo proletariado em geral. Embora, sem qualquer humildade, o
Manifesto atribua aos comunistas mais decisão, avanço, lucidez e liderança do que às
outras frações que buscam representar o proletariado, seus objetivos são tidos como
comuns: a organização dos proletários para a conquista do poder político e a
destruição da supremacia burguesa. O fantasma do comunismo assombrava a Europa
e o livro procura contestar, nessa parte, todos os estigmas que as classes poderosas e
influentes jogavam sobre ele. A resposta do Manifesto: Os comunistas querem acabar
com toda a propriedade, inclusive a pessoal !. Marx e Engels responderam que
queriam abolir a propriedade burguesa, capitalista. Para os socialistas, a apropriação
pessoal dos frutos do trabalho e aqueles bens indispensáveis à vida humana eram
intocáveis. Ao que se sabe, roupas, calçados, moradia não são geradores de lucros
para quem os possui... O Manifesto a esse respeito, foi definitivo. O comunismo não
retira a ninguém o poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais, tira apenas
o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio dessa apropriação. Na sociedade
capitalista a educação é, ela própria, um comércio, uma atividade lucrativa... Os
comunistas querem socializar as mulheres ! Para o burguês, sua mulher nada mais é
que um instrumento de produção. Ouvindo dizer que os instrumento de produção
serão postos em comum, ele conclui naturalmente que haverá comunidade de
mulheres. O burguês não desconfia que se trata precisamente de dar à mulher outro
papel que o de simples instrumento de produção.

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