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A natureza do Serviço Social- A natureza do S.S. na sua gênese

Carlos Montaño (1998) em seus estudos sobre a natureza do Serviço Social apresenta duas teses claramente
opostas sobre a natureza profissional: Perspectiva Endógena e Perspectiva Histórico-crítica. Neste texto, a partir da
reflexão de diversos autores, pretendemos indentificar o papel e a natureza do Serviço Social, tomando como base
as duas perspectivas, levantadas por Montaño, sobre a institucionalização e legitimação da profissão no Brasil.

- Na Perspectiva Endógena ou Conservadora a origem do Serviço Social está relacionada à evolução, organização
e profissionalização da caridade e da filantropia, das damas de caridade (moças de família rica) emergentes na
Igreja católica, através do humanismo cristão, enfocando, sobretudo, questões de natureza moral e orientação
conservadora baseada no Neotomismo. Dentre seus principais defensores podemos destacar: Herman Kruse,
Ezequiel Ander-Egg, Natalio Kisnerman, Boris Aléxis Lima, Ana Augusta de Almeida, Balbina Otooni Vieira, José
Lucena Dantas.

Os autores que defendem essa tese apóiam-se na idéia de evolução das primeiras formas de ajuda, desde a
Antigüidade até a cientificidade da filantropia que dá origem ao Serviço Social. Esses autores colocam em evidência
a história do Serviço Social, num evoluir nem sempre tranqüilo tendo mantido inalterado o objetivo da coesão social
no qual seus conhecimentos e experiências estão a serviço dos indivíduos, dos grupos, das comunidades e da
sociedade cujo objetivo final é a modelação do comportamento humano.

Balbina Ottoni Vieira (1977, p. 13-14) concebe o Serviço Social como ajuda ou auxilio aos outros, independente das
manifestações sociais, sem levar em conta, portanto, as manifestações dos trabalhadores, muito menos a relação
capital/trabalho.

Segundo a autora os dois fatores que contribuíram para a evolução da ajuda e consequentemente da legitimação do
Serviço Social foram: a industrialização, que ela chamou de fatores imediatos (sociais, econômicos e políticos) e os
fatores técnicos, com a introdução da Ciência.

Vieira conceitua Serviço Social como “um serviço prestado à sociedade e o Trabalho Social – Social Work – a
atividade realizada em beneficio da sociedade” (1977, p. 58). Segundo a autora, com a influência do Serviço Social
norte-americano e europeu, o conceito de Assistência Social evoluiu da assistência paliativa e curativa, passando a
assistência mútua aos programas de bem-estar, a assistência individualizada e coletiva (comunidade) até a atuação
profissional junto ao Estado “que assume a responsabilidade da cura ou prevenção de determinados males sociais,
soluções de problemas e ação comunitária com planos de bem-estar, saúde, educação e desenvolvimento” (1977,
p. 62)

- E a outra que é a perspectiva histórico-crítica enfoca o trabalho e o modo de produção capitalista, como o berço da
profissão, a profissão é entendida como subproduto da síntese dos projetos político-econômicos, e está situada na
sociedade capitalista como um elemento que participa da reprodução das relações de classe e da contradição nelas
existente. Dentreseus principais defensores destacamos: José Paulo Netto e Marilda Vilela Iamamoto, Vicente de
Paula Faleiros, Maria Lucia Martinelli, Manuel Manrique Castro, entre outros.

Segundo Netto, o surgimento do Serviço Social como profissão, está vinculado à emergência da “questão social”,
esta é conceituada por Netto como o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que reclamados pela
classe operária no curso da consolidação do capitalismo; portanto a “questão social” está atrelada aos conflitos da
relação capital/trabalho (Netto, 1992, p.13). Netto ressalta que a gênese do Serviço Social não se esgota apenas
com a emergência da “questão social” se tomada abstratamente, mas especificamente ao momento histórico do
capitalismo: a idade do monopólio, “as conexões genéticas do Serviço Social profissional não se entretecem com a
„questão social‟, mas com suas peculiaridades no âmbito da sociedade burguesa fundada na organização
monopólica” (Netto, 1992, p.14).

No Brasil, segundo Iamamoto, o Serviço Social surge no início da década de 1930 através do movimento de “reação
católica”, e “é respaldado em uma vasta rede de organizações difusoras de um projeto de recristalização da ordem
burguesa, sob o imperativo ético do comunitarismo cristão, exorcizando essa ordem de seu conteúdo liberal”.
(IAMAMOTO, 2004, p. 18). Observa-se que o Serviço Social surge como uma tentativa de recuperar áreas de
influências e privilégios que a Igreja havia perdido, em face à crescente secularização da sociedade e das tensões
presentes em suas relações com o Estado e também pela sua legitimação jurídica dentro do aparato estatal.

O Serviço Social tem em sua gênese, “marca profunda do capitalismo e do conjunto de variáveis: alienação,
contradição e antagonismo que buscou afirmar-se historicamente como uma prática humanitária, sancionada pelo
Estado e protegida pela Igreja, como uma mistificada ilusão de servir”. (Martinelli, 2001:6).

A autora chama atenção que ao contrário da idéia evolucionista da profissão o Serviço Social não pode ser
entendido apenas como nova forma de exercer a caridade, mas, sobretudo, como forma de intervir ideologicamente
na vida dos trabalhadores, ainda que sua base seja a atividade assistencial; porém seus efeitos são essencialmente
políticos: através do “enquadramento dos trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a mutua
colaboração entre capital e trabalho” (IAMAMOTO, 2004, p. 20).

- A diferença entre as duas perspectiva apresentada(Perspectiva Endógena ou Conservadora e Perspectiva
Histórico-crítica)

Perspectiva Endógena ou Conservadora, a profissão é vista a partir dela mesma, na qual o tratamento teórico
conferido ao Serviço Social lhe permite uma autonomia histórica referente às classes, as lutas de classes e a
sociedade. Enquanto que na histórico-crítica a profissão é entendida como subproduto da síntese dos projetos
políticos-econômicos, e está situada na sociedade capitalista como um elemento que participa das relações de
classes e das contradições nelas existente.

Conclusão do texto “A natureza do Serviço Social”

Assim a partir da reflexão dos diversos autores aqui apresentados, percebese claramente a distinção entre as duas
perspectivas: endógena e histórico-critica, entretanto isso não significa que estas perspectivas estiveram presentes
em momentos distintos na realidade profissional, significa que são concepções divergentes quanto à legitimação
profissional, um exemplo claro disto é que no processo de reconceituação da profissão atores das duas
perspectivas estiveram unidos contra o conservadorismo do Serviço Social, marcando assim as divergências de
pensamentos no seio da profissão.

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  • 1. A natureza do Serviço Social- A natureza do S.S. na sua gênese Carlos Montaño (1998) em seus estudos sobre a natureza do Serviço Social apresenta duas teses claramente opostas sobre a natureza profissional: Perspectiva Endógena e Perspectiva Histórico-crítica. Neste texto, a partir da reflexão de diversos autores, pretendemos indentificar o papel e a natureza do Serviço Social, tomando como base as duas perspectivas, levantadas por Montaño, sobre a institucionalização e legitimação da profissão no Brasil. - Na Perspectiva Endógena ou Conservadora a origem do Serviço Social está relacionada à evolução, organização e profissionalização da caridade e da filantropia, das damas de caridade (moças de família rica) emergentes na Igreja católica, através do humanismo cristão, enfocando, sobretudo, questões de natureza moral e orientação conservadora baseada no Neotomismo. Dentre seus principais defensores podemos destacar: Herman Kruse, Ezequiel Ander-Egg, Natalio Kisnerman, Boris Aléxis Lima, Ana Augusta de Almeida, Balbina Otooni Vieira, José Lucena Dantas. Os autores que defendem essa tese apóiam-se na idéia de evolução das primeiras formas de ajuda, desde a Antigüidade até a cientificidade da filantropia que dá origem ao Serviço Social. Esses autores colocam em evidência a história do Serviço Social, num evoluir nem sempre tranqüilo tendo mantido inalterado o objetivo da coesão social no qual seus conhecimentos e experiências estão a serviço dos indivíduos, dos grupos, das comunidades e da sociedade cujo objetivo final é a modelação do comportamento humano. Balbina Ottoni Vieira (1977, p. 13-14) concebe o Serviço Social como ajuda ou auxilio aos outros, independente das manifestações sociais, sem levar em conta, portanto, as manifestações dos trabalhadores, muito menos a relação capital/trabalho. Segundo a autora os dois fatores que contribuíram para a evolução da ajuda e consequentemente da legitimação do Serviço Social foram: a industrialização, que ela chamou de fatores imediatos (sociais, econômicos e políticos) e os fatores técnicos, com a introdução da Ciência. Vieira conceitua Serviço Social como “um serviço prestado à sociedade e o Trabalho Social – Social Work – a atividade realizada em beneficio da sociedade” (1977, p. 58). Segundo a autora, com a influência do Serviço Social norte-americano e europeu, o conceito de Assistência Social evoluiu da assistência paliativa e curativa, passando a assistência mútua aos programas de bem-estar, a assistência individualizada e coletiva (comunidade) até a atuação profissional junto ao Estado “que assume a responsabilidade da cura ou prevenção de determinados males sociais, soluções de problemas e ação comunitária com planos de bem-estar, saúde, educação e desenvolvimento” (1977, p. 62) - E a outra que é a perspectiva histórico-crítica enfoca o trabalho e o modo de produção capitalista, como o berço da profissão, a profissão é entendida como subproduto da síntese dos projetos político-econômicos, e está situada na sociedade capitalista como um elemento que participa da reprodução das relações de classe e da contradição nelas existente. Dentreseus principais defensores destacamos: José Paulo Netto e Marilda Vilela Iamamoto, Vicente de Paula Faleiros, Maria Lucia Martinelli, Manuel Manrique Castro, entre outros. Segundo Netto, o surgimento do Serviço Social como profissão, está vinculado à emergência da “questão social”, esta é conceituada por Netto como o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que reclamados pela classe operária no curso da consolidação do capitalismo; portanto a “questão social” está atrelada aos conflitos da relação capital/trabalho (Netto, 1992, p.13). Netto ressalta que a gênese do Serviço Social não se esgota apenas com a emergência da “questão social” se tomada abstratamente, mas especificamente ao momento histórico do capitalismo: a idade do monopólio, “as conexões genéticas do Serviço Social profissional não se entretecem com a „questão social‟, mas com suas peculiaridades no âmbito da sociedade burguesa fundada na organização monopólica” (Netto, 1992, p.14). No Brasil, segundo Iamamoto, o Serviço Social surge no início da década de 1930 através do movimento de “reação católica”, e “é respaldado em uma vasta rede de organizações difusoras de um projeto de recristalização da ordem burguesa, sob o imperativo ético do comunitarismo cristão, exorcizando essa ordem de seu conteúdo liberal”. (IAMAMOTO, 2004, p. 18). Observa-se que o Serviço Social surge como uma tentativa de recuperar áreas de
  • 2. influências e privilégios que a Igreja havia perdido, em face à crescente secularização da sociedade e das tensões presentes em suas relações com o Estado e também pela sua legitimação jurídica dentro do aparato estatal. O Serviço Social tem em sua gênese, “marca profunda do capitalismo e do conjunto de variáveis: alienação, contradição e antagonismo que buscou afirmar-se historicamente como uma prática humanitária, sancionada pelo Estado e protegida pela Igreja, como uma mistificada ilusão de servir”. (Martinelli, 2001:6). A autora chama atenção que ao contrário da idéia evolucionista da profissão o Serviço Social não pode ser entendido apenas como nova forma de exercer a caridade, mas, sobretudo, como forma de intervir ideologicamente na vida dos trabalhadores, ainda que sua base seja a atividade assistencial; porém seus efeitos são essencialmente políticos: através do “enquadramento dos trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a mutua colaboração entre capital e trabalho” (IAMAMOTO, 2004, p. 20). - A diferença entre as duas perspectiva apresentada(Perspectiva Endógena ou Conservadora e Perspectiva Histórico-crítica) Perspectiva Endógena ou Conservadora, a profissão é vista a partir dela mesma, na qual o tratamento teórico conferido ao Serviço Social lhe permite uma autonomia histórica referente às classes, as lutas de classes e a sociedade. Enquanto que na histórico-crítica a profissão é entendida como subproduto da síntese dos projetos políticos-econômicos, e está situada na sociedade capitalista como um elemento que participa das relações de classes e das contradições nelas existente. Conclusão do texto “A natureza do Serviço Social” Assim a partir da reflexão dos diversos autores aqui apresentados, percebese claramente a distinção entre as duas perspectivas: endógena e histórico-critica, entretanto isso não significa que estas perspectivas estiveram presentes em momentos distintos na realidade profissional, significa que são concepções divergentes quanto à legitimação profissional, um exemplo claro disto é que no processo de reconceituação da profissão atores das duas perspectivas estiveram unidos contra o conservadorismo do Serviço Social, marcando assim as divergências de pensamentos no seio da profissão.