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EXPOSIÇÃO PROLONGADA À LUZ
                   carlos valente             ·   v ítor magalhães              ·    hugo olim

         Museu de Arte Contemporânea do Funchal, Forte de São Tiago, 5 de Novembro a 15 de Dezembro




Luz. Tempo. Matéria. Movimento. Fixidade. Memória. Obsolescência. Estes são alguns dos elementos-chave que se
articulam em EXPOSIÇÃO PROLONGADA À LUZ, colectiva de Carlos Valente, Vítor Magalhães e Hugo Olim. A
partir deste conjunto de palavras, desenham-se possíveis percursos, dispositivos que permitem estruturar a experiência da
percepção. Expor-se à luz comporta riscos, mas também torna possível um sentir fenomenológico sobre o acto de exposição
à imagem, à matéria, à memória, em definitivo, às membranas do tempo que transmutam a própria ideia de tempo.




                                                                                                                            [1]
À temperatura do movimento



              O contemporâneo é alguém que fixa o olhar no seu tempo, para perceber não as suas luzes, mas o seu escuro. Todos
              os tempos são, para quem experimenta a sua contemporaneidade, tempos obscuros. O contemporâneo é, precisa-
              mente, aquele que sabe ver essa obscuridade, que é capaz de escrever mergulhando o aparo na treva do presente.
                                                                                   Giorgio Agamben, O Que É o Contemporâneo?



          Na altura em que estávamos a organizar algumas questões relativas à exposição, surgiu-nos a ideia, um pouco dadá, de A temperatura do movimento como possível título.
Apesar de ter sido abandonada logo de início, não sem deixar de estar estranhamente adequada às ideias que cada um de nós pensava realizar, ainda assim permaneceu,
latente, e alheia ao título entretanto escolhido.

         A temperatura do movimento não é constante, como a temperatura do ar, ou de um corpo, esta depende das condições climatéricas, e poderá também depender, no caso
do corpo humano, do grau de excitação. A temperatura é o elemento modificador, que absorve, dilata, faz transpirar ou secar o ambiente e os corpos a ele sujeitos.
         Por outro lado, existe a deslocação dos espectadores nas salas de uma galeria, de um museu, ou em lugares públicos onde se encontram obras de arte. Qualquer per-
curso implica criar uma proximidade com o espaço ou lugar, com os objectos, e com as outras pessoas que nele se encontram; mas é, também, descobrir um ponto de vista,
deparar-se com uma situação, muitas vezes improvável. Esse deambular pelo espaço físico determina uma temperatura específica, um estado, por assim dizer, de alteração física
(e igualmente psicológica). Assim, cada movimento regula ou desregula uma dada temperatura no interior daquela que habita o lugar (podemos pensar nos espaços da arte como
termógrafos altamente controladores da actividade artística).

         Porém, falar de movimento é falar do seu oposto impossível: aquilo que está imóvel, estático. Embora a quietude seja apenas uma subtil aparência. O tempo avança,
assim como as coisas se transformam, aprendemo-lo em físico-química: nada se perde, tudo se transforma (não esquecendo que também há uma perda de energia, que leva à
entropia, ao desgaste e ao caos, que nós, humanos, procuramos constantemente, e talvez inutilmente, travar). A imagem é sempre fixa –mesmo quando “aparenta” movimento–,
mas a vida não é. Existem os ciclos naturais, para nós de certa forma distantes e já quase indiferentes, mas que ajudaram a definir o próprio fluir da vivência quotidiana e que os
povos ancestrais entenderam e, com sapiência, utilizaram.
         Tudo se transforma. Inclusive uma imagem fixa altera as suas cores, perde brilho, pormenores; e um ecrã de computador, com o uso, perde a intensidade e as cores
originais. Além disso, os discursos sobre a imagem modificam-se conforme o contacto com outras imagens, outros comentários, outros olhares. Deste modo, a luz tem essa
outra face (como a lua), uma face escura, onde as trevas mostram aquilo que tem o poder de ocultar, ao contrário da luz que esconde aquilo que deveria mostrar (a luz cega!). Por
detrás do optimismo positivista em plena época das luzes, no século XVIII, escondiam-se as chaves de um futuro ancorado na máquina, na produtividade, na rentabilidade; e hoje,
na globalidade da luz virtual, tão transparente quão espessa e opaca.

[2]
A sensibilidade contemporânea é, na perspectiva de Agamben, a de antever a escuridão da sua época. Perceber o escuro seria compreender as lacunas da luz, adentrar-
se no domínio obscuro da temporalidade idiossincrásica da nossa contemporaneidade. A dificuldade de ser do contemporâneo é ser simultâneo à sua condição “transitável” (em
palavras de Delfim Sardo), um fluxo de fluxos. Numa sociedade planetária, a noção de fluxo assume um papel cada vez mais eminente, até a náusea.
          Se hoje o consumo é a única ideologia que impera (segundo Boris Groys) num contexto, decadente, de capitalismo globalizado, uma defesa possível seria, não a de
arrojar luz aos olhos com o intuito de cegar ou de anular as trevas, mas, pelo contrário, e como sugere Agamben, com a pretensão de fazer ver (e entender) a escuridade que ela
produz. Foi sempre esse o grande paradoxo: para que haja projecção, luz, terá de existir escuro. Até mesmo com os projectores mais sofisticados, ou com monitores que invadem
não só o espaço privado, mas o público, sentimos a necessidade de escurecer tudo à volta, de construir uma carapaça isolada que intensifique a ilusão.

         Contudo, o efeito ilusório é, em Exposição prolongada à luz, cesurado pelo dispositivo das imagens, alternando a materialidade imagética (e objectual) com a imateri-
alidade lumínica, potenciais activadores do pensamento. São indícios narrativos que expõem as gradações entre claridade e escuro, entre objecto e espectro, entre modernidade
e obsolescência, camadas de tempo que se sobrepõem e que perturbam a ideia de tempo. Daqui resulta, também, outra condição contemporânea: a subversão do tempo
imposto pelo ritmo natural do planeta.
         Será com base nestas estratificações temporais e materiais, que devemos equacionar as experiências aqui apresentadas, à luz, nunca melhor dito, das diferentes aborda-
gens que tentam estruturar, fenomenologicamente, o contacto com a temperatura do movimento. Esta ideia de luz, consolida, de forma intangível, a diversidade das propostas que
integram Exposição prolongada à luz, e que mostra bem como essa diversidade se relaciona –marcando, algumas vezes, a ambiguidade que lhe é intrínseca– com o espaço físico
do museu, como espaço-signo da praxis contemporânea (também ela, finalmente, museificada). A possibilidade surge, neste contexto, da presença perceptiva, uma parte fun-
damental da experienciação da arte, em sentido amplo. Numa palavra: duração.


Vítor Magalhães




                                                                                                                                                                           [3]
carlos valente




[4]
[5]
Circuito · Instalação. Vídeo - captação directa, gravação e tratamento analógico; equipamentos de edição e leitura; cabos diversos, 2010.

A paisagem tecnológica, em contínua mutação, gera um sem-fim de dispositivos que rapidamente se tornam obsoletos, mesmo que ainda funcionais. O esboço de
auto-retrato, e de auto-citação interpela o espectador num circuito impossível, feito de ligações fracturadas, anuladas, esboçadas ou, simplesmente, impraticáveis.
         [6]
[7]
[8]
Âmbito · Instalação. Vídeo projectado, objectos em madeira, espelho, 2010.

A projecção de imagens desmultiplica-se no espaço, desmultiplicando a semiose. O lugar é marcado por uma geometria visual, que redescobre o espaço físico
graças à virtualidade da luz e dos pontos de vista de quem observa.                                                                                         [9]
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vítor magalhães




                  [11]
Tentativas sobre uma casa (história natural) · Vídeo hd transferido para dvd, cor, som, 15:07, 2010.
Esta curta-metragem, que tem como ponto de partida pequenos excertos do texto de Luiz Pacheco A Velha Casa (Exercícios de Estilo, 1971), pretende criar uma perspectiva sobre a
ideia de casa, como invólucro, covil (como imaginou Kafka), iniciador de experiências, contradições, rupturas e paixões. Mas também tem por objecto a noção abstracta e difícil de
pertença,[12]
          de lugar formador do espírito, até mesmo aquele mais inquieto ou nómada. É isso mesmo que as ruínas de uma casa revelam: a morte de uma etapa, num processo evolutivo.
Fragmentos para um breve anti-atlas imaginado · Instalação com objectos, documentos, fotografias, fotocópias, desenhos, etc., 2010.
Esta instalação está constituída por objectos fragmentares, que não definem uma memória particular, mas uma caleidoscopia extensiva, elementos de ausência e provas
de potenciais realidades ou ficções paralelas (é por esta via que ela se relaciona com a curta-metragem Tentativas sobre uma casa).                                 [13]
Fragmentos para um breve anti-atlas imaginado · Pormenor vitrina.




[14]
Zona de sombra · Instalação com luz projectada e imagem impressa, medidas variáveis, 2010.   [15]
Zona de sombra · Pormenor.




[16]
As imagens não são deste mundo (a Máquina de M) · Vídeo dv-pal, cor, som, 05:54, 2010.
                   As imagens não são deste mundo (a Máquina de M) · Vídeo dv-pal, cor, som, 05:54.
Walter Benjamin sugeriu que as imagens são que as“lugares do crime”. Aqui, as imagens são hipóteses, que se relacionam com a “máquina de com um conjunto de
                    Walter Benjamin sugeriu como imagens são como “lugares do crime”. Aqui, as imagens são hipóteses, que se relacionam M”: a “máquina de
nomes de pessoas, personagens ou lugares, reaisde pessoas, personagens pela letra M e que suscitam leituras e associações diversas. O intervalo entre e associa-entre
                    M”: um conjunto de nomes ou fictícios, começados ou lugares, reais ou fictícios, começados pela letra M e que suscitam leituras imagens,
palavras e entre texto e imagem, reforça a concepção aberta eentre palavras e entre texto e imagem, reforça a concepção aberta e curto-circuitada deste vídeo.
                    ções diversas. O intervalo entre imagens, curto-circuitada deste vídeo.                                                                             [17]
[18]




Frames do vídeo: As imagens não são deste mundo (a Máquina de M).
hugo olim




            [19]
Penso ser unânime que o cinema é uma arte ilusionista, que nos transporta para outras realidades através da projecção de sequências de imagens fixas que a nos-
sa retina interpreta como se estivessem em movimento. Até hoje, o suporte mais privilegiado para gravação das imagens e também dos sons, foi a película de celulóide. É
na transparência e flexibilidade da película de celulóide que as imagens são impressas, que se dão a ver à luz do dia ou da projecção eléctrica.
         Além das histórias que os filmes nos apresentam, as películas de celulóide escondem outras imagens que raramente são mostradas e projectadas ao público em
geral. Se o cinetoscópio de Thomas Edison é dos poucos aparelhos de projecção que nos possibilita ver a totalidade dos frames gravados na película, parece que todos os
restantes modernos aparelhos de projecção, para filmes e trailers em película, obstruem um espaço visível que está antes e depois das histórias cinematográficas, velando
aquilo que, numa linearidade temporal, pode ser interpretado como um pré-filme/pré-trailer e um pós-filme/pós-trailer. Na periferia das películas cinematográficas
escondem-se muitas imagens, muitas matérias, muitas histórias e muitas reflexões por revelar.
         Com a série Trailers, pretendo reflectir sobre o obtuso das imagens fílmicas sobre a memória física/analógica do cinema, trabalhando novas narrativas que, não
sendo fílmicas, têm a sua origem no suporte fílmico, naquilo que está antes e depois das imagens cinematográficas projectadas aos espectadores.


Hugo Olim




[20]
[21]
[22]   Film · Película cinematográfica e fita adesiva transparente, 200 x 152 cm, 2010.
Strips #2 · Película cinematográfica, plástico e fita adesiva transparente, 8 x 160 cm, 2010.
                                                                                                [23]
Strips #2 · Pormenor.

[24]
[25]
Frameline · Película cinematográfica, 2 ecrãs de computador 15,4’’ e inversor LCD, 69 x 22 cm, 2010.
    [26]
Frameline · vista geral dos ecrãs.   Pormenor.




                                                 [27]
Sync[28]Retroprojectores e película cinematográfica, dimensões variadas, 2010.
     ·2
Sync · Pormenor.


                   [29]
Biografias




[30]
carlos                                                       vítor                                                      hugo
valente                                                      magalhães                                                  olim
Nasceu em Caracas em 1964.                                   Nasceu no Funchal em 1971.                                 Nasceu em Machico em 1978.
É Licenciado em Design, com Mestrado em História da          Estudou Belas Artes no Funchal, em Cuenca (Espanha)        Estudou Tecnologias da Comunicação Audiovisual no
Arte e Doutoramento em Teorias e Tecnologias da Ima-         e em Leipzig (Alemanha). Doutorado em Estética e
                                                             Teoria da Arte/Comunicação Audiovisual no Departa-         IPP e Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias na
gem. Desenvolve a sua prática artística desde 1987 na área
                                                             mento de Arte, Universidade de Castilla-La Mancha, Es-     FCSH-UNL. Actualmente é Doutorando na FBA-UL.
do vídeo e da instalação, explorando ultimamente a relação
                                                             panha, em 2007. A sua prática artística abrange as áreas   A sua obra artística insere-se no campo das artes visuais,
entre o conceito de auto-retrato em vídeo e o comentário
                                                             do vídeo digital, Super 8, instalação e arte sonora. Tem
aos trabalhos de outros artistas com quem tem exposto                                                                   mais concretamente no vídeo e na fotografia, onde ex-
                                                             participado em diversos projectos e exposições colec-
(série de trabalhos denominados «ponto de vista», entre      tivas em Espanha e Portugal, entre os quais se destaca     plora a imagem e as suas diferentes naturezas – na relação
2006 e 2009). Foi co-organizador das exposições colecti-     What is Watt?.                                             com o som, o tempo, o espaço, os materiais e a tecnologia.
vas What is watt?, entre outras.                             É docente no Centro de Artes e Humanidades e Direc-
                                                                                                                        É docente no Centro de Artes e Humanidades da Univer-
É docente no Centro de Artes e Humanidades e Director        tor do Curso de Arte e Multimédia, na Universidade da
do Curso de Design, na Universidade da Madeira.              Madeira.                                                   sidade da Madeira. Vive e trabalha na ilha da Madeira.

<http://whatiswatt.org/artistaCarValente.htm>                <http://whatiswatt.org/artistaVitorMag.htm>                <http://www.hugoolim.com>




                                                                                                                                                                             [31]
MUSEU DE AR TE COMTEMPORÂNEA
       FOR TALEZA DE SÃO TIAGO - FUNCHAL




             2010
[32]

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Exposição Prolongada à Luz _ Catálogo

  • 1. EXPOSIÇÃO PROLONGADA À LUZ carlos valente · v ítor magalhães · hugo olim Museu de Arte Contemporânea do Funchal, Forte de São Tiago, 5 de Novembro a 15 de Dezembro Luz. Tempo. Matéria. Movimento. Fixidade. Memória. Obsolescência. Estes são alguns dos elementos-chave que se articulam em EXPOSIÇÃO PROLONGADA À LUZ, colectiva de Carlos Valente, Vítor Magalhães e Hugo Olim. A partir deste conjunto de palavras, desenham-se possíveis percursos, dispositivos que permitem estruturar a experiência da percepção. Expor-se à luz comporta riscos, mas também torna possível um sentir fenomenológico sobre o acto de exposição à imagem, à matéria, à memória, em definitivo, às membranas do tempo que transmutam a própria ideia de tempo. [1]
  • 2. À temperatura do movimento O contemporâneo é alguém que fixa o olhar no seu tempo, para perceber não as suas luzes, mas o seu escuro. Todos os tempos são, para quem experimenta a sua contemporaneidade, tempos obscuros. O contemporâneo é, precisa- mente, aquele que sabe ver essa obscuridade, que é capaz de escrever mergulhando o aparo na treva do presente. Giorgio Agamben, O Que É o Contemporâneo? Na altura em que estávamos a organizar algumas questões relativas à exposição, surgiu-nos a ideia, um pouco dadá, de A temperatura do movimento como possível título. Apesar de ter sido abandonada logo de início, não sem deixar de estar estranhamente adequada às ideias que cada um de nós pensava realizar, ainda assim permaneceu, latente, e alheia ao título entretanto escolhido. A temperatura do movimento não é constante, como a temperatura do ar, ou de um corpo, esta depende das condições climatéricas, e poderá também depender, no caso do corpo humano, do grau de excitação. A temperatura é o elemento modificador, que absorve, dilata, faz transpirar ou secar o ambiente e os corpos a ele sujeitos. Por outro lado, existe a deslocação dos espectadores nas salas de uma galeria, de um museu, ou em lugares públicos onde se encontram obras de arte. Qualquer per- curso implica criar uma proximidade com o espaço ou lugar, com os objectos, e com as outras pessoas que nele se encontram; mas é, também, descobrir um ponto de vista, deparar-se com uma situação, muitas vezes improvável. Esse deambular pelo espaço físico determina uma temperatura específica, um estado, por assim dizer, de alteração física (e igualmente psicológica). Assim, cada movimento regula ou desregula uma dada temperatura no interior daquela que habita o lugar (podemos pensar nos espaços da arte como termógrafos altamente controladores da actividade artística). Porém, falar de movimento é falar do seu oposto impossível: aquilo que está imóvel, estático. Embora a quietude seja apenas uma subtil aparência. O tempo avança, assim como as coisas se transformam, aprendemo-lo em físico-química: nada se perde, tudo se transforma (não esquecendo que também há uma perda de energia, que leva à entropia, ao desgaste e ao caos, que nós, humanos, procuramos constantemente, e talvez inutilmente, travar). A imagem é sempre fixa –mesmo quando “aparenta” movimento–, mas a vida não é. Existem os ciclos naturais, para nós de certa forma distantes e já quase indiferentes, mas que ajudaram a definir o próprio fluir da vivência quotidiana e que os povos ancestrais entenderam e, com sapiência, utilizaram. Tudo se transforma. Inclusive uma imagem fixa altera as suas cores, perde brilho, pormenores; e um ecrã de computador, com o uso, perde a intensidade e as cores originais. Além disso, os discursos sobre a imagem modificam-se conforme o contacto com outras imagens, outros comentários, outros olhares. Deste modo, a luz tem essa outra face (como a lua), uma face escura, onde as trevas mostram aquilo que tem o poder de ocultar, ao contrário da luz que esconde aquilo que deveria mostrar (a luz cega!). Por detrás do optimismo positivista em plena época das luzes, no século XVIII, escondiam-se as chaves de um futuro ancorado na máquina, na produtividade, na rentabilidade; e hoje, na globalidade da luz virtual, tão transparente quão espessa e opaca. [2]
  • 3. A sensibilidade contemporânea é, na perspectiva de Agamben, a de antever a escuridão da sua época. Perceber o escuro seria compreender as lacunas da luz, adentrar- se no domínio obscuro da temporalidade idiossincrásica da nossa contemporaneidade. A dificuldade de ser do contemporâneo é ser simultâneo à sua condição “transitável” (em palavras de Delfim Sardo), um fluxo de fluxos. Numa sociedade planetária, a noção de fluxo assume um papel cada vez mais eminente, até a náusea. Se hoje o consumo é a única ideologia que impera (segundo Boris Groys) num contexto, decadente, de capitalismo globalizado, uma defesa possível seria, não a de arrojar luz aos olhos com o intuito de cegar ou de anular as trevas, mas, pelo contrário, e como sugere Agamben, com a pretensão de fazer ver (e entender) a escuridade que ela produz. Foi sempre esse o grande paradoxo: para que haja projecção, luz, terá de existir escuro. Até mesmo com os projectores mais sofisticados, ou com monitores que invadem não só o espaço privado, mas o público, sentimos a necessidade de escurecer tudo à volta, de construir uma carapaça isolada que intensifique a ilusão. Contudo, o efeito ilusório é, em Exposição prolongada à luz, cesurado pelo dispositivo das imagens, alternando a materialidade imagética (e objectual) com a imateri- alidade lumínica, potenciais activadores do pensamento. São indícios narrativos que expõem as gradações entre claridade e escuro, entre objecto e espectro, entre modernidade e obsolescência, camadas de tempo que se sobrepõem e que perturbam a ideia de tempo. Daqui resulta, também, outra condição contemporânea: a subversão do tempo imposto pelo ritmo natural do planeta. Será com base nestas estratificações temporais e materiais, que devemos equacionar as experiências aqui apresentadas, à luz, nunca melhor dito, das diferentes aborda- gens que tentam estruturar, fenomenologicamente, o contacto com a temperatura do movimento. Esta ideia de luz, consolida, de forma intangível, a diversidade das propostas que integram Exposição prolongada à luz, e que mostra bem como essa diversidade se relaciona –marcando, algumas vezes, a ambiguidade que lhe é intrínseca– com o espaço físico do museu, como espaço-signo da praxis contemporânea (também ela, finalmente, museificada). A possibilidade surge, neste contexto, da presença perceptiva, uma parte fun- damental da experienciação da arte, em sentido amplo. Numa palavra: duração. Vítor Magalhães [3]
  • 5. [5]
  • 6. Circuito · Instalação. Vídeo - captação directa, gravação e tratamento analógico; equipamentos de edição e leitura; cabos diversos, 2010. A paisagem tecnológica, em contínua mutação, gera um sem-fim de dispositivos que rapidamente se tornam obsoletos, mesmo que ainda funcionais. O esboço de auto-retrato, e de auto-citação interpela o espectador num circuito impossível, feito de ligações fracturadas, anuladas, esboçadas ou, simplesmente, impraticáveis. [6]
  • 7. [7]
  • 8. [8]
  • 9. Âmbito · Instalação. Vídeo projectado, objectos em madeira, espelho, 2010. A projecção de imagens desmultiplica-se no espaço, desmultiplicando a semiose. O lugar é marcado por uma geometria visual, que redescobre o espaço físico graças à virtualidade da luz e dos pontos de vista de quem observa. [9]
  • 10. [10]
  • 12. Tentativas sobre uma casa (história natural) · Vídeo hd transferido para dvd, cor, som, 15:07, 2010. Esta curta-metragem, que tem como ponto de partida pequenos excertos do texto de Luiz Pacheco A Velha Casa (Exercícios de Estilo, 1971), pretende criar uma perspectiva sobre a ideia de casa, como invólucro, covil (como imaginou Kafka), iniciador de experiências, contradições, rupturas e paixões. Mas também tem por objecto a noção abstracta e difícil de pertença,[12] de lugar formador do espírito, até mesmo aquele mais inquieto ou nómada. É isso mesmo que as ruínas de uma casa revelam: a morte de uma etapa, num processo evolutivo.
  • 13. Fragmentos para um breve anti-atlas imaginado · Instalação com objectos, documentos, fotografias, fotocópias, desenhos, etc., 2010. Esta instalação está constituída por objectos fragmentares, que não definem uma memória particular, mas uma caleidoscopia extensiva, elementos de ausência e provas de potenciais realidades ou ficções paralelas (é por esta via que ela se relaciona com a curta-metragem Tentativas sobre uma casa). [13]
  • 14. Fragmentos para um breve anti-atlas imaginado · Pormenor vitrina. [14]
  • 15. Zona de sombra · Instalação com luz projectada e imagem impressa, medidas variáveis, 2010. [15]
  • 16. Zona de sombra · Pormenor. [16]
  • 17. As imagens não são deste mundo (a Máquina de M) · Vídeo dv-pal, cor, som, 05:54, 2010. As imagens não são deste mundo (a Máquina de M) · Vídeo dv-pal, cor, som, 05:54. Walter Benjamin sugeriu que as imagens são que as“lugares do crime”. Aqui, as imagens são hipóteses, que se relacionam com a “máquina de com um conjunto de Walter Benjamin sugeriu como imagens são como “lugares do crime”. Aqui, as imagens são hipóteses, que se relacionam M”: a “máquina de nomes de pessoas, personagens ou lugares, reaisde pessoas, personagens pela letra M e que suscitam leituras e associações diversas. O intervalo entre e associa-entre M”: um conjunto de nomes ou fictícios, começados ou lugares, reais ou fictícios, começados pela letra M e que suscitam leituras imagens, palavras e entre texto e imagem, reforça a concepção aberta eentre palavras e entre texto e imagem, reforça a concepção aberta e curto-circuitada deste vídeo. ções diversas. O intervalo entre imagens, curto-circuitada deste vídeo. [17]
  • 18. [18] Frames do vídeo: As imagens não são deste mundo (a Máquina de M).
  • 19. hugo olim [19]
  • 20. Penso ser unânime que o cinema é uma arte ilusionista, que nos transporta para outras realidades através da projecção de sequências de imagens fixas que a nos- sa retina interpreta como se estivessem em movimento. Até hoje, o suporte mais privilegiado para gravação das imagens e também dos sons, foi a película de celulóide. É na transparência e flexibilidade da película de celulóide que as imagens são impressas, que se dão a ver à luz do dia ou da projecção eléctrica. Além das histórias que os filmes nos apresentam, as películas de celulóide escondem outras imagens que raramente são mostradas e projectadas ao público em geral. Se o cinetoscópio de Thomas Edison é dos poucos aparelhos de projecção que nos possibilita ver a totalidade dos frames gravados na película, parece que todos os restantes modernos aparelhos de projecção, para filmes e trailers em película, obstruem um espaço visível que está antes e depois das histórias cinematográficas, velando aquilo que, numa linearidade temporal, pode ser interpretado como um pré-filme/pré-trailer e um pós-filme/pós-trailer. Na periferia das películas cinematográficas escondem-se muitas imagens, muitas matérias, muitas histórias e muitas reflexões por revelar. Com a série Trailers, pretendo reflectir sobre o obtuso das imagens fílmicas sobre a memória física/analógica do cinema, trabalhando novas narrativas que, não sendo fílmicas, têm a sua origem no suporte fílmico, naquilo que está antes e depois das imagens cinematográficas projectadas aos espectadores. Hugo Olim [20]
  • 21. [21]
  • 22. [22] Film · Película cinematográfica e fita adesiva transparente, 200 x 152 cm, 2010.
  • 23. Strips #2 · Película cinematográfica, plástico e fita adesiva transparente, 8 x 160 cm, 2010. [23]
  • 24. Strips #2 · Pormenor. [24]
  • 25. [25]
  • 26. Frameline · Película cinematográfica, 2 ecrãs de computador 15,4’’ e inversor LCD, 69 x 22 cm, 2010. [26]
  • 27. Frameline · vista geral dos ecrãs. Pormenor. [27]
  • 28. Sync[28]Retroprojectores e película cinematográfica, dimensões variadas, 2010. ·2
  • 31. carlos vítor hugo valente magalhães olim Nasceu em Caracas em 1964. Nasceu no Funchal em 1971. Nasceu em Machico em 1978. É Licenciado em Design, com Mestrado em História da Estudou Belas Artes no Funchal, em Cuenca (Espanha) Estudou Tecnologias da Comunicação Audiovisual no Arte e Doutoramento em Teorias e Tecnologias da Ima- e em Leipzig (Alemanha). Doutorado em Estética e Teoria da Arte/Comunicação Audiovisual no Departa- IPP e Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias na gem. Desenvolve a sua prática artística desde 1987 na área mento de Arte, Universidade de Castilla-La Mancha, Es- FCSH-UNL. Actualmente é Doutorando na FBA-UL. do vídeo e da instalação, explorando ultimamente a relação panha, em 2007. A sua prática artística abrange as áreas A sua obra artística insere-se no campo das artes visuais, entre o conceito de auto-retrato em vídeo e o comentário do vídeo digital, Super 8, instalação e arte sonora. Tem aos trabalhos de outros artistas com quem tem exposto mais concretamente no vídeo e na fotografia, onde ex- participado em diversos projectos e exposições colec- (série de trabalhos denominados «ponto de vista», entre tivas em Espanha e Portugal, entre os quais se destaca plora a imagem e as suas diferentes naturezas – na relação 2006 e 2009). Foi co-organizador das exposições colecti- What is Watt?. com o som, o tempo, o espaço, os materiais e a tecnologia. vas What is watt?, entre outras. É docente no Centro de Artes e Humanidades e Direc- É docente no Centro de Artes e Humanidades da Univer- É docente no Centro de Artes e Humanidades e Director tor do Curso de Arte e Multimédia, na Universidade da do Curso de Design, na Universidade da Madeira. Madeira. sidade da Madeira. Vive e trabalha na ilha da Madeira. <http://whatiswatt.org/artistaCarValente.htm> <http://whatiswatt.org/artistaVitorMag.htm> <http://www.hugoolim.com> [31]
  • 32. MUSEU DE AR TE COMTEMPORÂNEA FOR TALEZA DE SÃO TIAGO - FUNCHAL 2010 [32]