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FÓRUM DE GENEALÓGISTAS
Mas o estudo da genealogia, seção valiosa das ciências
históricas, só se pode ser feito à luz de exaustivas
pesquisas.
Jorge G. Felizardo, 1937
Beneméritos os genealogistas que, na azáfama dos dias que
passam, abrem clareiras no passado....
Carlos da Silveira, 1944
já se perguntou: qual o significado de fazer pesquisas genealógicas? Que
sentido isso pode ter no âmbito familiar? Para muitas pessoas, esses
questionamentos nada dizem, pois seu cotidiano há muito desempenha e articula
personagens, fatos e histórias.
A publicação de pesquisas, a divulgação de dados sobre o tema multiplica-se com as
ferramentas contemporâneas: computador e internet. É nesse contexto que surgiu
a ideia do FÓRUM DE GENEALOGISTAS, da necessidade de pensarmos no nosso
fazer genealógico, além de possibilitar o convívio entre pessoas que compartilham a
mesma prática.
Pretendemos dar uma olhada no passado e revigorar aqueles que nos antecederam
nessa prática. E sabemos que, quando convidamos o passado a nos visitar, é porque
desejamos que ele nos oriente e, de tal orientação, é certo que surgirão
questionamentos... e que necessitamos trocar ideias!
 
o ponto de vista histórico, podemos dizer que a prática genealógica
se instalou a partir do século XVI na sociedade moderna, como instrumento de
comprovação do bom sangue e do bom nome. Portanto, ligava-se à propaganda e
preservação dos valores nobiliárquicos – que serviam de modelos exemplares e
incontestáveis – tão caros àquelas sociedades!
2014
Cremos
Na
Na América colonial, estudiosos identificaram dois objetivos da prática genealógica:
A) A utilização da genealogia enquanto ferramenta de apoio a pretensões
de índole nobiliária, com a garantia da limpeza de sangue e,
consequentemente, a garantia da sucessão patrimonial e o acesso a
ordens religiosas e militares.
B) O uso da genealogia como mecanismo de busca de origens em prol de
uma construção identitária, fundadora da nação (antepassados
indígenas, por exemplo).
 
que o processo histórico secular se encarregou de deslocar certas
concepções...
 
tentativa de entender as “aspirações genealógicas” que se instalaram no
Brasil no século XX, quando se publicam grandes obras1
e se iniciam as
institucionalizações do fazer genealógico, buscamos as falas dos próprios autores.
Silva Leme, na abertura do seu Genealogia Paulistana (1903), declarou
que não foi ele inspirado na vaidade de ostentar brasões de armas
que provam a nobreza de nossos antepassados e sim na necessidade
que temos de guardar as tradições de família e satisfazer a
curiosidade justificada, que nos leva a perguntar de onde viemos, a
que nacionalidades – embora remotamente – nos filiamos pelos laços
de sangue, e quais os feitos que enobreceram aos nossos
antepassados, gravando seus nomes na história de nossa pátria.
1
No século XVIII foram produzidas três obras que marcaram a genealogia no Brasil: “Nobiliarquia,
História e Genealógica” de Pedro Taques de Almeida Paes Leme (escrita por volta de 1750 e
publicada mais de um século depois pelo IHGB); “Catálogo Genealógico das Principais Famílias” de
Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão (datada de 1768 e impressa apenas em 1889 pelo IHGB); e
“Nobiliarquia Pernambucana” (1748).
Com
Genealogia
Se
Do mesmo modo, Francisco Negrão, em Genealogia Paranaense (1926), também foi
categórico em dizer na apresentação de sua obra que
não tivemos outro intuito senão o de relembrar os feitos gloriosos
desses valorosos e abnegados desbravadores das terras que formam
o nosso querido Paraná. Não nos animou o desejo de investigar
purezas de sangue, de raças, nem divergências de religiões;
tampouco a existência ou não de retumbantes títulos nobiliárquicos
ou de conselhos.
Ramiz Galvão, ao prefaciar a obra de Mário Teixeira de Carvalho, Nobiliário Sul Rio-
Grandense (1937), aponta que:
A genealogia poucos cultores tem tido no Brasil, e todavia ela é um
precioso adminículo da História, particularmente quando o
investigador se alonga em dados biográficos minuciosos e colhidos
em fonte segura .
 
o FÓRUM DE GENEALOGISTAS homenageamos e convidamos os
percursores na prática genealógica gaúcha, que longe de se preocuparem única e
exclusivamente com os seus antepassados, foram muito avante. Fizeram grandes
levantamentos documentais, cada qual de determinada região e etnia, somando-se
às informações históricas coletadas oralmente que orientaram a coleta de
relevantes dados. Assim que, guardada a importância de cada genealogista,
queremos referendar as obras e o legado deixado por J. G. Felizardo, J. de Araújo
Fabrício, Paulo Xavier, Carlos Rheingantz, Moacyr Domingues e Hunsche.
 
, ousamos dizer, trata-se de um método que organiza e
quantifica o material coletado, a fim de ser analisado; complementa-se com outros
suportes, como a história, a sociologia, a antropologia – para citar alguns. A partir
de todos esses elementos, podemos qualificar os indivíduos e as suas relações, além
compreendermos e situarmos contextos e atitudes, mesmo que hipoteticamente. A
partir da genealogia, observamos a formação dos grupos de parentesco ao longo
do tempo. No entanto, resultados concretos somente irão surgindo através da
pesquisa exaustiva e com o cruzamento de diferentes fontes documentais.
Atrevemo-nos a perguntar: somos capazes de encerrar nosso fazer genealógico em
qual(is) conceito(s)?
Trabalho complexo, porém gratificante. Podemos dizer que traçamos algum rumo?
 
Referências
AMORIM, Maria Norberta. Do Antigo Regime à Contemporaneidade. Micro-análise da transição
demográfica numa paróquia açoriana. Revista Demografia Histórica, XIX, II, 2001, segunda
época, p. 79-113. Disponível em: <dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/246212.pdf>
DAVINSON PACHECO, Luis Guillermo. Una mirada al método genealógico y un ejemplo de su
aplicación en un pueblo de Tlaxcala, México. Familia y Diversidad en América Latina. Estudios
de casos. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Septiembre
2007. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/grupos/robichaux/07-
Pacheco.pdf>
KÜHN, Fábio. Gente da Fronteira: família, sociedade e poder no sul da América portuguesa.
Tese (Doutorado), PPG-História da Universidade Federal Fluminense, 2006. Disponível: <
http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Tese-2006_KUHN_Fabio-S.pdf>
RÊGO, João de Figueiroa. A limpeza de sangue e a escrita genealógica nos dois lados do
Atlântico entre os séculos XVII e XVIII: alguns aspectos. Disponível em: <http://cvc.instituto-
camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/joao_figueiroa_rego.pdf>
SILVEIRA, Carlos da. Silva Leme e o Conceito da Genealogia. Revista Genealógica Brasileira,
São Paulo, ano V, n. 9, 1944, p. 93-100.

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  • 1. Você Desde FÓRUM DE GENEALÓGISTAS Mas o estudo da genealogia, seção valiosa das ciências históricas, só se pode ser feito à luz de exaustivas pesquisas. Jorge G. Felizardo, 1937 Beneméritos os genealogistas que, na azáfama dos dias que passam, abrem clareiras no passado.... Carlos da Silveira, 1944 já se perguntou: qual o significado de fazer pesquisas genealógicas? Que sentido isso pode ter no âmbito familiar? Para muitas pessoas, esses questionamentos nada dizem, pois seu cotidiano há muito desempenha e articula personagens, fatos e histórias. A publicação de pesquisas, a divulgação de dados sobre o tema multiplica-se com as ferramentas contemporâneas: computador e internet. É nesse contexto que surgiu a ideia do FÓRUM DE GENEALOGISTAS, da necessidade de pensarmos no nosso fazer genealógico, além de possibilitar o convívio entre pessoas que compartilham a mesma prática. Pretendemos dar uma olhada no passado e revigorar aqueles que nos antecederam nessa prática. E sabemos que, quando convidamos o passado a nos visitar, é porque desejamos que ele nos oriente e, de tal orientação, é certo que surgirão questionamentos... e que necessitamos trocar ideias!   o ponto de vista histórico, podemos dizer que a prática genealógica se instalou a partir do século XVI na sociedade moderna, como instrumento de comprovação do bom sangue e do bom nome. Portanto, ligava-se à propaganda e preservação dos valores nobiliárquicos – que serviam de modelos exemplares e incontestáveis – tão caros àquelas sociedades! 2014
  • 2. Cremos Na Na América colonial, estudiosos identificaram dois objetivos da prática genealógica: A) A utilização da genealogia enquanto ferramenta de apoio a pretensões de índole nobiliária, com a garantia da limpeza de sangue e, consequentemente, a garantia da sucessão patrimonial e o acesso a ordens religiosas e militares. B) O uso da genealogia como mecanismo de busca de origens em prol de uma construção identitária, fundadora da nação (antepassados indígenas, por exemplo).   que o processo histórico secular se encarregou de deslocar certas concepções...   tentativa de entender as “aspirações genealógicas” que se instalaram no Brasil no século XX, quando se publicam grandes obras1 e se iniciam as institucionalizações do fazer genealógico, buscamos as falas dos próprios autores. Silva Leme, na abertura do seu Genealogia Paulistana (1903), declarou que não foi ele inspirado na vaidade de ostentar brasões de armas que provam a nobreza de nossos antepassados e sim na necessidade que temos de guardar as tradições de família e satisfazer a curiosidade justificada, que nos leva a perguntar de onde viemos, a que nacionalidades – embora remotamente – nos filiamos pelos laços de sangue, e quais os feitos que enobreceram aos nossos antepassados, gravando seus nomes na história de nossa pátria. 1 No século XVIII foram produzidas três obras que marcaram a genealogia no Brasil: “Nobiliarquia, História e Genealógica” de Pedro Taques de Almeida Paes Leme (escrita por volta de 1750 e publicada mais de um século depois pelo IHGB); “Catálogo Genealógico das Principais Famílias” de Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão (datada de 1768 e impressa apenas em 1889 pelo IHGB); e “Nobiliarquia Pernambucana” (1748).
  • 3. Com Genealogia Se Do mesmo modo, Francisco Negrão, em Genealogia Paranaense (1926), também foi categórico em dizer na apresentação de sua obra que não tivemos outro intuito senão o de relembrar os feitos gloriosos desses valorosos e abnegados desbravadores das terras que formam o nosso querido Paraná. Não nos animou o desejo de investigar purezas de sangue, de raças, nem divergências de religiões; tampouco a existência ou não de retumbantes títulos nobiliárquicos ou de conselhos. Ramiz Galvão, ao prefaciar a obra de Mário Teixeira de Carvalho, Nobiliário Sul Rio- Grandense (1937), aponta que: A genealogia poucos cultores tem tido no Brasil, e todavia ela é um precioso adminículo da História, particularmente quando o investigador se alonga em dados biográficos minuciosos e colhidos em fonte segura .   o FÓRUM DE GENEALOGISTAS homenageamos e convidamos os percursores na prática genealógica gaúcha, que longe de se preocuparem única e exclusivamente com os seus antepassados, foram muito avante. Fizeram grandes levantamentos documentais, cada qual de determinada região e etnia, somando-se às informações históricas coletadas oralmente que orientaram a coleta de relevantes dados. Assim que, guardada a importância de cada genealogista, queremos referendar as obras e o legado deixado por J. G. Felizardo, J. de Araújo Fabrício, Paulo Xavier, Carlos Rheingantz, Moacyr Domingues e Hunsche.   , ousamos dizer, trata-se de um método que organiza e quantifica o material coletado, a fim de ser analisado; complementa-se com outros suportes, como a história, a sociologia, a antropologia – para citar alguns. A partir de todos esses elementos, podemos qualificar os indivíduos e as suas relações, além
  • 4. compreendermos e situarmos contextos e atitudes, mesmo que hipoteticamente. A partir da genealogia, observamos a formação dos grupos de parentesco ao longo do tempo. No entanto, resultados concretos somente irão surgindo através da pesquisa exaustiva e com o cruzamento de diferentes fontes documentais. Atrevemo-nos a perguntar: somos capazes de encerrar nosso fazer genealógico em qual(is) conceito(s)? Trabalho complexo, porém gratificante. Podemos dizer que traçamos algum rumo?   Referências AMORIM, Maria Norberta. Do Antigo Regime à Contemporaneidade. Micro-análise da transição demográfica numa paróquia açoriana. Revista Demografia Histórica, XIX, II, 2001, segunda época, p. 79-113. Disponível em: <dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/246212.pdf> DAVINSON PACHECO, Luis Guillermo. Una mirada al método genealógico y un ejemplo de su aplicación en un pueblo de Tlaxcala, México. Familia y Diversidad en América Latina. Estudios de casos. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Septiembre 2007. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/grupos/robichaux/07- Pacheco.pdf> KÜHN, Fábio. Gente da Fronteira: família, sociedade e poder no sul da América portuguesa. Tese (Doutorado), PPG-História da Universidade Federal Fluminense, 2006. Disponível: < http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Tese-2006_KUHN_Fabio-S.pdf> RÊGO, João de Figueiroa. A limpeza de sangue e a escrita genealógica nos dois lados do Atlântico entre os séculos XVII e XVIII: alguns aspectos. Disponível em: <http://cvc.instituto- camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/joao_figueiroa_rego.pdf> SILVEIRA, Carlos da. Silva Leme e o Conceito da Genealogia. Revista Genealógica Brasileira, São Paulo, ano V, n. 9, 1944, p. 93-100.