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Está na hora de empunhar
as gravatas e ir para as ruas
(novamente)
Marcos Guariso
Consultoria em Capital Humano
Está na hora de empunhar as gravatas e ir para as ruas
(novamente)
Ir para a rua é mostrar a indignação nas redes sociais, é mobilizar as associações de classe. É apoiar as
iniciativas sociais com nossas competências voltadas para a efetividade
Marcos Guariso
Quem trabalha em organizações sabe: sempre há politicagem, sempre há manipulação e sempre
há gente incompetente nelas. E sempre ficamos muito incomodados quando temos essa gente
sem condição influenciando nossos destinos.
Podemos: a. trabalhar mais para que as outras pessoas vejam o quão sem condição são essas
pessoas; b. tramar contra os sem condição; c. sair da organização.
Nas organizações, nós executivos, alguma coisa acabamos por fazer, mas não deixamos de fazê-
las.
Eu nunca fui bom em tramar contra outras pessoas. Nas poucas vezes em que lamentavelmente
me arrisquei a fazer isso, me dei mal, e o feitiço virou contra o feiticeiro.
Até acho que, por não acreditar nessas tramóias, acabei me preparando para a alternativa c, que
era realmente causar a minha saída. Pena que isso não seja fácil de se fazer com um país que se
ama. Sair dele causa uma série de complicações, como ajuste a uma nova cultura, começar tudo
de novo, custos de mudança e tudo o mais. Por outro lado, trabalhar mais seria uma verdadeira
piada para quem já entrega quase metade de sua renda anual ao fisco.
Muito bem. O assunto é esse mesmo: o que estamos fazendo com nosso país. As pessoas sem
condição moral ou de competência estão administrando o Brasil. Sua lógica é a da sobrevivência
em seus postos, aumento capacidade de se beneficiarem e de defenderem o espaço para seu
clã. Uma lógica barata - na verdade, uma lógica de barata: a da autopreservação da
espécie, sobrevivência e domínio de um ecossistema. Como se sabe, corre por aí que as únicas
sobreviventes do holocausto nuclear seriam as baratas.
Consultoria em Capital Humano
Não é por nada que nem a bomba atômica das manifestações de junho conseguiu liquidar a
horda de insetos peçonhentos que infestam os plenários, corredores e gabinetes deste país.
Como eles, reúnem-se a altas horas para um festa particular em nossa cozinha, acolhendo e
absolvendo as baratas corruptas em suas comilanças, aproveitando-se das doces verbas para
superfaturar o pagamento a familiares, invadindo o armário do erário público para uma alegre
pilhagem.
Muito bem. Nós, executivos, que temos a habilidade de fazer as coisas acontecerem nas
empresas não podemos mais ficar parados. Apesar de sermos os “privilegiados” da
sociedade, também não estamos satisfeitos com a direção que o país está seguindo. E
exatamente por nossa condição de privilegiados – isso não quer dizer que tenhamos recebido
tudo de mão beijada, muito pelo contrário; o nosso privilégio vem, na maior parte das vezes, de
termos desenvolvidos virtudes e a competência com muito esforço. Dizia que, exatamente por
ser pessoas preparadas, temos o papel de influenciar a sociedade.
Ir para as ruas.
Não é só participar de uma manifestação. Ir para a rua é mostrar a indignação nas redes
sociais, é mobilizar as associações de classe. É apoiar as iniciativas sociais com nossas
competências voltadas para a efetividade. Se nas organizações, tramar contra os sem condição é
algo arriscado e, muitas vezes, contraproducente (afinal de contas, eles são os donos, ou
acionistas, ou amigos deles), na sociedade, isso pode ser feito de maneira sempre
ética, transparente e firme, porque somos os donos do negócio. Esse tramar transforma-se em
mobilizar-se.
Apenas um lembrete: baratas podem sobreviver até um mês sem cabeça! Isso significa que o
trabalho não será fácil: as nossas “manifestações” deverão ser feitas persistentemente, com
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  • 3. Não é por nada que nem a bomba atômica das manifestações de junho conseguiu liquidar a horda de insetos peçonhentos que infestam os plenários, corredores e gabinetes deste país. Como eles, reúnem-se a altas horas para um festa particular em nossa cozinha, acolhendo e absolvendo as baratas corruptas em suas comilanças, aproveitando-se das doces verbas para superfaturar o pagamento a familiares, invadindo o armário do erário público para uma alegre pilhagem. Muito bem. Nós, executivos, que temos a habilidade de fazer as coisas acontecerem nas empresas não podemos mais ficar parados. Apesar de sermos os “privilegiados” da sociedade, também não estamos satisfeitos com a direção que o país está seguindo. E exatamente por nossa condição de privilegiados – isso não quer dizer que tenhamos recebido tudo de mão beijada, muito pelo contrário; o nosso privilégio vem, na maior parte das vezes, de termos desenvolvidos virtudes e a competência com muito esforço. Dizia que, exatamente por ser pessoas preparadas, temos o papel de influenciar a sociedade. Ir para as ruas. Não é só participar de uma manifestação. Ir para a rua é mostrar a indignação nas redes sociais, é mobilizar as associações de classe. É apoiar as iniciativas sociais com nossas competências voltadas para a efetividade. Se nas organizações, tramar contra os sem condição é algo arriscado e, muitas vezes, contraproducente (afinal de contas, eles são os donos, ou acionistas, ou amigos deles), na sociedade, isso pode ser feito de maneira sempre ética, transparente e firme, porque somos os donos do negócio. Esse tramar transforma-se em mobilizar-se. Apenas um lembrete: baratas podem sobreviver até um mês sem cabeça! Isso significa que o trabalho não será fácil: as nossas “manifestações” deverão ser feitas persistentemente, com paciência e... com cabeça. Marcos Guariso é Partner da cowork.hr. Consultoria em Capital Humano