1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ESCOLA DE MINAS
ARQ150 - SUSTENTABILIDADE EM ARQUITETURA EM
URBANSISMO
CANETA DESMANIPULADORA
Carlos Alexandre
Laila Reskalla
Letícia Borsato
Mayra Marques
Valéria Eleutério
Prof. Karine Gonçalves Carneiro
Ouro Preto
2018
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O conceito de sustentabilidade incorpora aspectos econômicos, sócio-políticos e
ecológicos com o objetivo de alcançar um discurso sobre este tema complexo tão
presente no cotidiano.
Como Henri Acselrad cita em seu texto “Discursos da sustentabilidade urbana”,
o conceito de sustentabilidade é impreciso e, atualmente, grandes investimentos como
condomínios se apoiam no “desenvolvimento” para se intitularem sustentáveis, com
seus certificados e prêmios que enaltecem mais a busca capitalista pelo lucro do que
uma mínima noção ambiental.
Como exemplo, podemos citar o Grupo Encalso Damha, empresa de
empreendimentos imobiliários que “se apoia em princípios básicos como a busca da
qualidade e da perfeição, sempre respeitando o meio-ambiente.” Contudo, indaga-se
qual seria o público alvo desta “qualidade” e, as questões da preservação ambiental não
são cumpridas, além do que é regido pela legislação.
A missão do empreendimento é: “Desenvolver empreendimentos urbanísticos
com o melhor conceito integrado de moradia, lazer, segurança e respeito ao meio
ambiente, aliado a uma infraestrutura altamente qualificada”, reforçando a ideia
segregadora dos condomínios de que sustentabilidade está ligada a sofisticação.
O condomínio Damha diz utilizar algumas soluções sustentáveis em seu projeto:
Cerca de 50% da área do empreendimento será formada por áreas verdes
[Porém, a área verde (constituída de grama e palmeiras), de 74 mil m² é
“integrada” a piscinas, quadras, campos de futebol, academia, playground, salão
de festa, ciclovia, etc.]
As piscinas e as áreas comuns [para os moradores do condomínio, excluindo a
população do entorno] vão funcionar com fonte de energia renovável que vem
do sol. Serão instalados captadores fotovoltaicos para o aquecimento das
piscinas e lâmpadas de LED para a iluminação das áreas comuns. [Percebe-se
que não é citado a quantidade de energia que será consumida em cada residência
e que não consiste em energia renovável.]
As comunidades do entorno e moradores vão participar de cursos de capacitação
sobre sustentabilidade e gestão para a integração social. [A “proximidade social”
em questão trata-se da mão de obra oferecida pela população local para
trabalharem no condomínio.]
A futura administração do condomínio será responsável pela plantação de mudas
para preservar a vegetação local e organizar encontros para a discussão de temas
sobre educação ambiental com grupos de alunos de escolas públicas e
particulares. [Aparenta-se que a futura administração pretende passar para as
crianças um conceito de sustentabilidade capitalista, que não condiz com seu
conceito real.]
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Logo, percebe-se que o que está em atividade no momento é apenas aquilo que
retrata o discurso tecno-material, a parte de conscientização da comunidade não está
sendo executada.
Segundo a empresa, “para firmar a busca constante pela redução dos impactos
ambientais de suas obras, empenhou-se para conquistar a mais respeitada certificação de
sustentabilidade de construção civil: o AQUA (Alta Qualidade Ambiental)”. Contudo,
percebe-se o marketing por trás desse selo na matéria publicada pelo site Inovatech
Engenharia que diz: “Sustentabilidade pode, sim, ser um fator de decisão para o
consumidor. Prova disso foi o que aconteceu com o residencial Damha Campos dos
Goytacazes, na cidade fluminense que leva o nome do empreendimento. O condomínio
ganhou destaque em 2012 por ter sido o primeiro com certificação AQUA no estado do
Rio de Janeiro e, graças a uma série de diferenciais de sustentabilidade, comercializou
100% dos lotes em menos de 12 horas.”
Com isso, percebe-se que a natureza ainda é tratada como mercadoria,
prolongando a falácia do discurso sustentável. De acordo com Acosta “Devemos deixar
de ver os recursos naturais como uma condição para o crescimento econômico ou como
simples objeto das políticas de desenvolvimento”. Ainda nesse âmbito, o texto
“Sustentabilidade Urbana e as certificações ambientais na construção civil”, de Paulo
César Zangalli Jr., nos mostra que enquanto não se define um ideal de desenvolvimento
social e ambiental comum, as cidades vão continuar sendo produzidas regidas pelas
necessidades do capitalismo, sendo um lugar mais disperso e segregador, individualista
e com menos chances de atingir uma equidade urbana e social.