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Baixar para ler offline
Daisy Tamashiro
Fernando Imai
Leonardo Deusdado
Marina Thobias
Pedro Andrade
Vitor Artigas
Marca
Capa




                                                              R$ 8,90
                                                          Nº 1 06/2011




                                                Craft+Design
                                                Tendências para 2011



A intimidade do
artista-artesão
piauiense AGADMAN,
em entrevista exclusiva




                              Mercado
                           Inovação é a chave
                               para o sucesso
Elementos de Apoio
Elementos de Apoio




                                            De seu ateliê, em frente à exuberância da
                                            Serra da Bocaina, Mieko Ukeseki avista a
                                            bela paisagem montanhosa de Cunha, a
                                            227 quilômetros de São Paulo. É ali, dian-
                                            te do torno, que suas mãos untadas com
                                            água dão forma ao barro. Com a técnica
                                           - aperfeiçoada há quase 40 anos - e paci-
                                            ência oriental, ela deixa sua marca nas
                                            peças. Mieko é pioneira na produção de
                                            cerâmicas em forno noborigama na cida-
                                            de. Ao chegar ao Brasil, em 1975, se ins-
                                            talou na capital paulista, no apartamento
                                            de uns amigos, até encontrar um lugar
                                            para realizar seu trabalho.
                                               Em um mês descobriu a Estância Cli-
                                            mática de Cunha, um lugar bastante sos-
                                            segado, com extensa área verde, locali-
                                            zado entre os contrafortes das Serras da
                                            Quebra Cangalha e do Mar, próximo a
                                            Paraty, RJ. Decidiu ficar. Convidou mais
                                            artistas, entre eles o ceramista português
                                            Alberto Cidraes, que também veio ao Bra-
                                            sil para trabalhar com o noborigama. Eles                                 Mieko Ukeseki foi quem
                                            transformaram um galpão, cedido pela
                                                                                                                         iniciou a produção de
                                            prefeitura, no primeiro ateliê de Cunha.
                                           "Éramos um grupo de seis pessoas, muito                                        cerâmica em Cunha
                                            unido e que se ajudava e ensinava uns
                                            aos outros", diz Mieko. Em janeiro de
                                            1976 fizeram a primeira queima.
                                               Quando foram para Cunha, a cidade           lecimentos de hospedagem e alimentação
                                            tinha apenas um hotel e nenhum res-            e pouco mais de 20 ateliês com 30 cera-
                                            taurante. Por meio da cerâmica surgiu a        mistas.
                                            possibilidade de desenvolvimento para a           O forno noborigama é uma técnica mi-
                                            região. Devido ao crescimento dos ateliês      lenar chinesa, incorporada e aperfeiço-
                                            e à divulgação que ela e outros artistas fa-   ada pelos japoneses. Em japonês, numa
                                            ziam em palestras sobre cerâmicas além         tradução literal, noboro significa rampa e
                                            dos limites de São Paulo, aos poucos os        gama forno. O forno, de alta temperatura,
                                            turistas foram chegando, e a necessidade       é construído em degraus, em declive na-
                                            de ter infraestrutura para atender toda        tural, e pode chegar a 1.400 graus célsius
                                            essa gente também au-                                         (ºC). As câmaras interliga-
                                            mentou.                                                       das proporcionam o apro-




Mãos de argila
                                               Com 26 mil habitantes,         A cerâmica tem              veitamento do calor - que,
                                            divididos entre a área ur-                                    ao ser produzido na for-
                                            bana e o campo, o municí-       bastante espaço na            nalha, sobe gradualmente
                                            pio tem sua economia ba-       melhoria da economia           para as câmaras.
                                            seada na pecuária leiteira,                                      A fornalha, também
                                            no plantio de feijão, milho                                   conhecida como boca, é
                                            e batata e, desde o final da década de         alimentada com madeira de eucalipto re-
Artesãos de Cunha, SP, criam peças de       1980, no turismo rural. "A cerâmica tem        florestado. A primeira queima, chamada
                                            bastante espaço na melhoria da econo-          de biscoito, é levada de 800 ºC a 900 ºC
beleza singular e transformam a             mia. A atividade fez muito bem à cidade,       por 24 horas. Essa pré-queima serve para
cerâmica em atração turística               porque causou essa vinda de turistas", diz     dar resistência e porosidade à peça, tiran-
                                            Mieko. Hoje, existem mais de 50 estabe-        do toda a água e dando mais aderência
Chapéus
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                                                                 Nº 1
                                                                 06/2011
                                                                 R$ 8,90




                                          Craft+Design
                                          Tendências para 2011




         Entrevista
         A intimidade do atista-artesão
         piauiense, Agadman




                                          Mercado
                                          Inovação é a chave
                                          para o sucesso
Master Pages


                                     36 mm

14 mm   20 mm




                23 mm




                                        12,7 mm




                           12,7 mm
Style Sheets
Nº 1
                                                        06/2011
                                                        R$ 8,90




                                 Craft+Design
                                 Tendências para 2011




Entrevista
A intimidade do atista-artesão
piauiense, Agadman




                                 Mercado
                                 Inovação é a chave
                                 para o sucesso
conversando   conversando




8                       9
apresentando


                           artesanato | cultura




Escola supErior dE pro-                           Quando se trata de artesanato, cada peça é única. Ela carrega
paganda E MarkEting
                                                  consigo um pouco do artista, um pouco das ferramentas que
curso dE graduação EM dEsign
coM Habilitação EM coMunica-                      foram usadas e um pouco da matéria-prima. Por mais que sejam
ção E ênfasE EM MarkEting
                                                  semelhantes, duas peças nunca são iguais, cada peça é única:
projeto integrado do 3º semestre das
disciplinas:                                      ímpar. A nossa revista que tem como objetivo principal trazer
Projeto III - Cultura e Informação Prof. Ma-
rise De Chirico e Prof. Dr. Marcello Montore      uma visão abrangente do universo do artesanato, focando essen-
Língua Portuguesa III Prof. Regina Fer-
reira da Silva                                    cialmente na sua relação com a cultura, também é ímpar.
Marketing II Prof. Vivian Iara Strehlau
Módulo de Atividades Habilitação/ Cor             Dentro desse tema, sentimos a necessidade de construir uma
Prof. Paula Csillag
Produção Gráfica Prof. Antonio Celso Collaro      identidade forte do artesão brasileiro que é pouco valorizado,

Edição de imagens, Projeto gráfico,               mesmo tendo uma forte influência sobre a cultura brasileira
diagramação, tratamento de imagens,
revisão, Editores:                                em geral. Na seção “conversando” há uma entrevista com o
Daisy Kyoko Tamashiro
Fernando Imai Hoshiko                             artista e artesão Agadman, que divide conosco um pouco de
Leonardo Broglio Deusdado
Marina Valentin Thobias                           sua vida e sua ideologia. Ainda reforçando a importância de
Pedro Vincente de Andrade
Vitor Mello Artigas                               se reverenciar o artesanato brasileiro, na seção “viajando”, há

                                                  um completo panorama sobre a influência do artesanato da

                                                  cidade de Cunha, interior de São Paulo, atualmente a maior

                                                  produtora de peças de cerâmica do Brasil.

                                                  Na seção “visualizando”, última página desta edição, há um poe-

                                                  ma visual, que dialoga com o tema e a identidade da publicação.

                                                                                          boa leitura!

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Sumário


Fique por dentro     Saiba mais sobre    Como tornar            Erick Renan             Conheça melhor
de cursos, eventos   Cunha, interior     seus produtos          fala sobre o que        o artesão-artista
e o Craft Design     de São Paulo,       artesanais mais        achou da Feira de       Agadman e suas
2011                 famoso por seus     sustentáveis?          Jequitinhonha           obras incríveis
                     artesanatos


             08                     10                     14                      17                 20




Cerâmica de          Aprenda a criar     Inovação no            Confira os              Poema visual:
Santarém ou          com crochê essa     artesanato, saiba      bastidores e as         relaciona com o
Tapajônica, mas o    linda pulseira de   como desenvolver       fotos do desfile        tema e sempre
que é isso?          corrente            e expandir seus        Dragão Fashion          fecha nossa revista
                                         negócios               2011


              27                   30                  32                      36                       38
acontecendo                                                                                                                                                                                                    acontecendo
                                                                                                                                                                                                                conversando




Craft+Design                                                                                                           Modelagem                                                         O Brasil na
                                                          Idealizada há mais de 10 anos, a Craft Design é uma
                                                          feira de negócios que apresenta tendências na área de
                                                                                                                       de cerâmica                                                      arte popular
                                                          decoração, design e arte.
                                                          Direcionada a lojistas, fabricantes, arquitetos, deco-
                                                          radores e profissionais do setor em geral, a Feira pro-
                                                          move, semestralmente, a integração tanto de novos
                                                          talentos, quanto de designers consagrados, com o se-
                                                          tor produtivo e seus canais de distribuição.
                                                          O talento e a idoneidade dos expositores, somados a
                                                          um excelente clima para negócios e um eficiente tra-
                                                          balho de divulgação, tem trazido para o evento, a cada
                                                          edição, empresários e profissionais de todo o Brasil e
                                                          do exterior. Neste ano, o evento acontece dos dias 25 a 28
                                                          de agosto em São Paulo, SP.

                                                          Das 10h às 20h
                                                          Terraço Villa Daslu
                                                          Av. Juscelino Kubitschek, 2.041
                                                          Vila Olímpia - São Paulo - SP




Feincartes – CE
Realizada na maior região de comercio do Ceará – a ave-
nida Mosenhor Tabosa em Fortaleza, a Feincartes – CE                                                                   Para quem procura aplicar técnicas va-
chega a sua terceira edição com enorme sucesso. Reali-                                                                 riadas de modelagem em argila.
zada no Moderno e bem localizado Centro de Negócios                                                                    Serão demonstradas técnicas para a mo-
do Sebrae, em ambiente totalmente climatizado, a feira                                                                 delagem peças decorativas e utilitárias:
tem sido uma ótima oportunidade de negócios e vendas                                                                   vasos, cachepôs, travessas e cinzeiros.
aos expositores. O publico cearense tem uma ligação                                                                    Além de técnicas para secagem, utilização   Foi aberta no último dia 17 de maio/11 a exposição de
muito forte com o artesanato, além disso, Fortaleza é                                                                  adequada do forno e técnicas de queima.     obras de arte popular brasileira no Museu Nacional em
destino turístico certo durante todo o ano, fazendo com                                                                                                            Brasília. A exposição com 1.500 obras de 70 artistas popu-
que a feira tenha uma grande variedade de público com                                                                                                              lares pertence ao acervo Museu Casa do Pontal do Rio de
um ótimo perder de compra. Tudo isso aliado a um am-                                                                   Rua Bom Pastor, 654 - Ipiranga              Janeiro, e fica aberta ao público até o dia 26 de junho/11.
plo plano de divulgação e mídia.                                                                                       São Paulo - SP                              Muito bem organizada, é muito mais que apenas apresen-
                                                                                                                       Tel: (11) 2065-0150                         tar obras de artistas populares brasileiros, é uma viagem
                                                                                                                       www.sesisp.org.br/ipiranga                  pela cultura e folclore de todos os estados do país, numa
Data: de 17 à 26 de junho de 2011                                                                                                                                  riqueza de valores que merece uma visita. O Museu Na-
Local: Centro de Negócios do Sebrae.                                                                                                                               cional de Brasília fica na Esplanada dos Ministérios, Setor
Entrada: R$ 06 (seis reais).                                                                                                                                       Cultural Sul e a exposição está aberta ao público de terça
Horário: das 15h00min às 22h00min                                                                                                                                  a domingo, das 9h às 18h30. Imperdível.
Pessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada e
crianças até 12 anos de idade, acompanhadas por                                                                                                                    Mais informações: http://www.popular.art.br/
responsável, tem entrada liberada.

5                                                                                                                                                                                                                           6
De seu ateliê, em frente à exuberância da
                                         Serra da Bocaina, Mieko Ukeseki avista a
                                         bela paisagem montanhosa de Cunha, a
                                         227 quilômetros de São Paulo. É ali, dian-
                                         te do torno, que suas mãos untadas com
                                         água dão forma ao barro. Com a técnica
                                        - aperfeiçoada há quase 40 anos - e paci-
                                         ência oriental, ela deixa sua marca nas
                                         peças. Mieko é pioneira na produção de
                                         cerâmicas em forno noborigama na cida-
                                         de. Ao chegar ao Brasil, em 1975, se ins-
                                         talou na capital paulista, no apartamento
                                         de uns amigos, até encontrar um lugar
                                         para realizar seu trabalho.
                                            Em um mês descobriu a Estância Cli-
                                         mática de Cunha, um lugar bastante sos-
                                         segado, com extensa área verde, locali-
                                         zado entre os contrafortes das Serras da
                                         Quebra Cangalha e do Mar, próximo a
                                         Paraty, RJ. Decidiu ficar. Convidou mais
                                         artistas, entre eles o ceramista português
                                         Alberto Cidraes, que também veio ao Bra-
                                         sil para trabalhar com o noborigama. Eles                                 Mieko Ukeseki foi quem
                                         transformaram um galpão, cedido pela
                                                                                                                      iniciou a produção de
                                         prefeitura, no primeiro ateliê de Cunha.
                                        "Éramos um grupo de seis pessoas, muito                                        cerâmica em Cunha
                                         unido e que se ajudava e ensinava uns
                                         aos outros", diz Mieko. Em janeiro de
                                         1976 fizeram a primeira queima.
                                            Quando foram para Cunha, a cidade           lecimentos de hospedagem e alimentação
                                         tinha apenas um hotel e nenhum res-            e pouco mais de 20 ateliês com 30 cera-
                                         taurante. Por meio da cerâmica surgiu a        mistas.
                                         possibilidade de desenvolvimento para a           O forno noborigama é uma técnica mi-
                                         região. Devido ao crescimento dos ateliês      lenar chinesa, incorporada e aperfeiço-
                                         e à divulgação que ela e outros artistas fa-   ada pelos japoneses. Em japonês, numa
                                         ziam em palestras sobre cerâmicas além         tradução literal, noboro significa rampa e
                                         dos limites de São Paulo, aos poucos os        gama forno. O forno, de alta temperatura,
                                         turistas foram chegando, e a necessidade       é construído em degraus, em declive na-
                                         de ter infraestrutura para atender toda        tural, e pode chegar a 1.400 graus célsius
                                         essa gente também au-                                         (ºC). As câmaras interliga-
                                         mentou.                                                       das proporcionam o apro-




Mãos de argila
                                            Com 26 mil habitantes,         A cerâmica tem              veitamento do calor - que,
                                         divididos entre a área ur-                                    ao ser produzido na for-
                                         bana e o campo, o municí-       bastante espaço na            nalha, sobe gradualmente
                                         pio tem sua economia ba-       melhoria da economia           para as câmaras.
                                         seada na pecuária leiteira,                                      A fornalha, também
                                         no plantio de feijão, milho                                   conhecida como boca, é
                                         e batata e, desde o final da década de         alimentada com madeira de eucalipto re-
Artesãos de Cunha, SP, criam peças de    1980, no turismo rural. "A cerâmica tem        florestado. A primeira queima, chamada
                                         bastante espaço na melhoria da econo-          de biscoito, é levada de 800 ºC a 900 ºC
beleza singular e transformam a          mia. A atividade fez muito bem à cidade,       por 24 horas. Essa pré-queima serve para
cerâmica em atração turística            porque causou essa vinda de turistas", diz     dar resistência e porosidade à peça, tiran-
                                         Mieko. Hoje, existem mais de 50 estabe-        do toda a água e dando mais aderência
utilitários como xícaras, pratos, ca-    trabalho conhecido, além de atrair      como definir a forma final das
                                                                                                 necas, vasilhas. Outros gostam de        turismo para a cidade. A abertura       peças.”A cerâmica é um enigma:
                                                                                                 objetos de decoração. O tipo de for-     dos fornos deu um outro significado     você só vai saber o resultado do
                                                                                                 no também diferencia: dos 20 for-        às peças. “A cerâmica tem de fazer      trabalho quando abrir o forno”, diz
                                                                                                 nos existentes em Cunha, cinco são       parte da vida das pessoas. É para ser   Jardineiro ao tirar uma caneca cor
                                                                                                 noborigama. Os outros ateliês usam       usada”, diz.                            creme, esmaltada com argila, cinza
                                                                                                 forno elétrico e a gás. A singulari-        A cada dois meses, abrem-se no-      de lenha, cinza de casca de arroz e
                                                                                                 dade e a criatividade dos ceramistas     vas fornadas. É sempre uma surpre-      feldspato do forno recém-aberto.
                                                                                                 de Cunha fazem com que cada um           sa. A fusão do fogo com o esmalte          As fortes chuvas que castigaram
                                                                                                 a seu modo conquiste o público. “A                                               a região de Cunha no começo des-
                                                                                                 maleabilidade do barro permite a                                                 te ano prejudicaram o fluxo de tu-
                                                                                                 você gerar qualquer tipo de forma.         A cerâmica tem de                     ristas. Porém, eles voltaram com a
                                                                                                 É um desafio transformar a terra, o                                              abertura dos fornos e devem acorrer
                                                                                                 chão que a gente pisa, em peças de        fazer parte da vida                    novamente em grande número - é o
                                                                                                 valor, seja artístico, seja econômico”                                           que todos na cidade esperam - aos
                                                                                                 diz Alberto Cidraes.                      das pessoas. É para                    eventos tradicionais do município,
                                                                                                    Nos últimos 20 anos, a cidade fi-                                             como o Festival de Pinhão, a expo-
                                                                                                 cou conhecida como o polo criativo
                                                                                                                                                ser usada                         sição em honra ao Dia do Ceramista
                                                                                                 na produção de cerâmicas, princi-                                                (28 de maio) e as festas de cunho
                                                                                                 palmente depois da transformação         produz efeitos inéditos, de beleza      religioso.
                                                                                                 da abertura dos fornos noborigama        singular. A fuligem produzida pela
                                                                                                 num grande evento, idealizado pelo       queima da lenha também influencia
                                                                                    A queima     ceramista Gilberto Jardineiro e sua      no resultado final. Todas as peças
                                                                                   com forno     esposa, Kimiko Suenaga.                  são únicas e exclusivas. Apesar de
                                                                               Noborigama já        Incorporados ao grupo de cera-        o artista conhecer o funcionamento
                                                                              era utilizada há   mistas instalados no município, eles     de todo o processo,
                                                                             mais de mil anos    vieram para o Brasil em 1984, quan-      ele não tem
                                                                               atrás no Japão    do construíram seu primeiro forno
                                                                                                 noborigama. Desde 1988, abrem
                                                                                                                                                                                       Gilberto Jardineiro iniciou seu
                                                                                                 as fornadas para os turistas. Com
                                                                                                                                                                                        trabalho com cerâmica no Japão,
                                                                                                 didática e paixão pelo que faz, Jar-
                                                                                                                                                                                          em 1980
ao esmalte. Ao fim da primeira         do artista - que dá forma ao barro.                       dineiro explica o passo a passo da
 queima, a peça é limpa e esmal-       Os quatro elementos - terra, água,                        produção da cerâmica: da extração
  tada. Após essa etapa, inicia-se     fogo e ar - se unem durante a fa-                         da argila da natureza à queima final.
   a queima definitiva, em que as      bricação da cerâmica. O processo                          Jardineiro não queria ser um comer-
    peças ficam no forno durante       de transformação da argila em                             ciante de cerâmicas, muito menos
    30 horas contínuas. Quando         uma obra de arte é para muitos                            colocar suas peças em exposições;
     todas as câmaras atingem a        ceramistas algo que envolve ma-                           assim, convidar as pessoas para ir
      temperatura desejada, ou         gia e emoção. Ele acontece como                           ao seu ateliê foi a forma que ele en-
      seja, 1.400 ºC, o processo       um ritual, da extração da argila                          controu para tornar seu
      está concluído. O fogo é         da natureza à queima nos for-
       extremamente importante         nos noborigama.
       nesse processo. É ele que          Cada ceramista tem uma
      vai determinar o resultado       característica e um projeto
      da fusão dos esmaltes e da       artístico. Uns usam a es-
      coloração do barro e dará a      maltação, outros preferem
     resistência à peça.               a cerâmica rústica. Há os
        E tudo começa pelas mãos       que gostam de produzir


 A qualidade e a variedade da argila
 fazem de Cunha o local ideal para a
instalação dos ateliês de cerâmica
Agadman
  O atelier de formas do artista-
    artesão, pintor e entalhador
     além de confeccionador de
      móveis, painéis circulares
                em madeira, etc.




                                             Eu me apaixonei
                                    pelas formas, pelas cores
A beleza
                                                        Revista Ímpar - E essa coisa de você trabalhar com madeira?
    independe da                                        
Agadman - Em Brasília comecei a fazer artesanato, e olhando
                                                         aquela cidade toda com formas retas, as pessoas morando naqueles
    política, inclusive                                  prédios quadrados, etc., procurei fazer algo diferente, um
                                                         diferencial, então comecei a fazer entalhes em discos de madeira,
    da cultura                                            eu já mexia com madeira. Minha idéia era encher a cidade com
                                                           uma forma que não tinha lá. Aconteceu aí, olha - mostrando o
                                                            atelier - o trabalho de madeira é o seguinte: primeiramente eu
                                                             conquistei o desenho, até quando cheguei hoje numa forma, que
                                                              eu encontrei um símbolo universal de contorno de qualquer
                                                               imagem, no desenho, que uma criancinha aprende isso em
                                                                menos de meia hora, isso é o ápice da minha pesquisa no
                                                                desenho (...) 
 A beleza independe da política, inclusive da
                                                                cultura, um cara sem cultura vê uma coisa que é linda, uma
      Revista Ímpar - Quando começou a                          vez eu foi num sítio velho lá no Piauí, e encontrei na parede
      trabalhar com madeira?
                                  de um caboclo, que nem nunca foi na cidade, levei uma revista
      Agadman - Acho que, com vinte e                         velha e deixei pôr lá, tinha um clássico, uma mulher, uns
      poucos anos, eu comecei esta brincadeira.              banhistas e tal, e eu achei que aquele cidadão ia achar aquilo
      É, com dezessete anos é que eu desenvolvi            mais bonito, no entanto ele pegou um trabalho do Van Gogh,
      mais isso, é que eu mexia com desenho com          um bem doido lá, e fez uma moldurinha de graveto e colocou lá
      pintura, modelagem em durepox.                     na parede, eu perguntei porque você escolheu isso? – “Porque isto
                                                         aqui é que é belo, não sei o que me deu, mas isso aqui é que é
                                                         belo, eu não entendo, mas eu gosto disso.” - então uma pessoa sem
      
Revista Ímpar - Qual é a sua escola, como você    estudar faz isso.
       aprendeu, como foi?

       Agadman - Isso não tem escola não, é da
       vontade que vem da alma- mexia com gado,                                                                 Cores vivas e fortes fazem parte de seu estilo.
       com fazenda, né, e criei uma paixão, o resto     Revista Ímpar - Uma reprodução?

       foi desenvolvendo no automático do meu           Agadman - É uma reprodução, que ele
       ser, uma vontade de ver o estranho de ver        colocou sagradamente na parede dele, e tinha
       a diferenciação, de mergulhar em outros          um retrato de um cavalo, de um boi bonito,
       espaços, que não fossem conhecidos pelas         que pra mim, o que eu pensei daquela pessoa,
       pessoas. Eu sempre acreditei em universos        o que fosse satisfazer mais o indivíduo, mas
       diferentes, eu vejo as pessoas que tem           ele procurou aquilo, ele falou; “que não sabia
       capacidade de exercer as faculdades, dirigidas   o que era, mas me faz um bem.” - entendeu?
       em qualquer sentido que quer ciência, então      Então, a arte é essa magia.

       eu me apaixonei pela formas, pelas cores.





                     Uma das belas criações de
                                    Agadman.
4                                                                                                                                                                 5
Revista Ímpar - Você nasceu em que cidade do Piauí?

    Agadman - Cidade Corrente.


    Revista Ímpar - E lá nessa região tem tradição de
    trabalhar com madeira, barro, artesanato?

    Agadman - Tem não, só com enxada nas costas
    mesmo, a gente plantava, feijão, batata...


    Revista Ímpar - E hoje, você se considera um artesão
    ou artista-artesão, como é isso?

    Agadman - Todo artista deve ser um artesão, pra
    poder desenvolver o jeito
de fazer o que ele quer, o seu
    jeito, a sua maneira. Eu já fui um artesão, hoje eu me
    considero um artista e dou trabalho para os artesãos
    que estão comigo.


    Revista Ímpar - Então pra você, o que é artesanato,
    o que é ser artesão?
    Agadman - O artesão copia, às vezes, até algo que
    ele mesmo criou, ou não, pode ser a obra de outro
    artista, então ele repete aquilo inúmeras vezes, e ele
    visa o mercado, vender o seu produto com um preço
    acessível, e coisa e tal. E o artesanato pode ser feito
    de muitas maneiras não é só com as mã os, hoje você
    pode se utilizar dos recursos modernos, até o laser,
    pôr exemplo, é mais uma ferramenta, e o artesão
    sempre utilizou ferramentas.


    Revista Ímpar - E o que é ser artista, o que é arte?

    Agadman - O artista faz o novo, algo que nunca se
    viu, faz o único, e com isso encontra o seu lugar no
    mundo, o lugar só dele. É o indivíduo que criou um
    diferencial, e a arte dá essa possibilidade, a arte é
    isso, a oportunidade de se expressar, é comunicação, é
    uma liberdade de expressão, e cada um procura a sua
    linguagem o seu modo de falar, seu modo de expressar
    o que esta dentro dele, o que muitas vezes não se pode
    dizer com palavras, é uma espécie de presente, que o
    homem primeiro dá a si próprio e depois compartilha
    com o mundo, a arte salva muita gente da loucura.




6                                                              7
conversando


                                                                          Ação Cultural (DAC), reunindo, na
                                                                          Praça de Serviços, 42 associações
                                                                          de artesãos de 25 cidades do Vale.
                                                                          Só no ano passado, os expositores
                                                                          lucraram cerca de R$ 100 mil com
                                                                          as vendas.
                                                                             Dentre as novidades, destaque
                                                                          para a participação de artesãos
                                                                          de duas etnias indígenas, Aranã
                                                                          e Pataxó-Pankararu, de Araçuaí.
                                                                          “Isso dará visibilidade ao trabalho
                                                                          artesanal realizado por eles, além
                                                                          de reforçar a presença indígena no
                                                                          campus”, afirma Terezinha Furiati,




    Jequitinhonha
                                                                          coordenadora do Artesanato Coop-
                                                                          erativo, ligada ao Programa Polo,
                                                                          e que trabalha na organização do
                                                                          evento. Outra inovação da edição de
                                                                          2011 é a montagem de um espaço
                                                                          especial para artesãos reconhecidos


               e sua feira                              por Eric Renan
                                                                          do Vale. Entre os convidados, Ulisses Mendes, de Itinga, a família
                                                                          de Dona Isabel, de Santana do Araçuaí, e Lira Marques, de Araçuaí.
                                                                             O artesão João Alves, de Taiobeiras, é uma das estrelas da
                                                                          Feira. Suas esculturas em argila já foram premiadas pela Unesco
                                                                          e expostas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No caso da capi-
                                                                          tal mineira, ele produziu 40 peças que ficaram em exposição
                                                                          no Palácio da Liberdade. “Elas representam o folclore de
                                                                          Minas, um retrato da nossa cultura”, conta o artesão, que
                                                                          participa da feira desde a primeira edição e hoje integra a
                                                                          Associarte, entidade que, segundo ele, tem papel importante
                                                                          na valorização de seu trabalho. “Graças a ela faço vários con-
              Reconhecida como um dos espaços que melhor acolhem          tatos e aprendo muito com os outros artesãos”, argumenta.
              a cultura do Norte de Minas, a tradicional Feira de Arte-      Além do artesanato, a música do Jequitinhonha também
              sanato do Vale do Jequitinhonha volta a ocupar a Praça      invadirá a Praça de Serviços, com shows diários. Na segun-
              de Serviços, no campus Pampulha, entre os dias 2 e 7        da feira, dia 2, haverá apresentação do Coral Água Branca,
              de maio. Em sua 12ª edição, o evento abrigará peças         de Itinga; na terça, 3, Volber e Gilmar; na quarta, 4, o Grupo
              produzidas por artesãos de duas etnias indígenas e hom-     Sarandeiros e, na sexta, 6, a Banda Terceira Margem, de
              enageará a paneleira Dona Zizi e a fiandeira Dona Ger-      Montes Claros, sempre às 12h30. Na quinta-feira, dia 5, às
              alda, duas mestras que lutam para perpetuar seus ofícios.   17h30, haverá homenagem às mestras de ofício Elzi Gon-
                 A fama já ultrapassou – e muito – as fronteiras de-      çalves Pereira e Geralda Leite Sena (veja abaixo) e show de
              marcadas pelo Rio Jequitinhonha. Na mão de homens           João di Souza e Chico Lobo. A entrada é franca.
              e mulheres habilidosos, barro, taboa e madeira dão for-
              ma a esculturas, trançados, cerâmicas, panelas, bone-
              cas, moringas e tigelas, materializando uma das mais
              belas expressões culturais da região. Mas, mesmo com
              todo esse prestígio, os artesãos encontram dificuldades
              para expor suas peças e vendê-las a um preço justo.
                 Uma exceção nesse cenário é a tradicional Feira de
              Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que este ano
              chega à 12ª edição. Será realizada na próxima semana,
              entre 2 e 7 de maio, numa promoção da Pró-reitoria
              de Extensão (Proex), do Programa Polo de Integração
              da UFMG no Vale do Jequitinhonha e da Diretoria de



2                                                                                                                                              3
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  • 1. Daisy Tamashiro Fernando Imai Leonardo Deusdado Marina Thobias Pedro Andrade Vitor Artigas
  • 3. Capa R$ 8,90 Nº 1 06/2011 Craft+Design Tendências para 2011 A intimidade do artista-artesão piauiense AGADMAN, em entrevista exclusiva Mercado Inovação é a chave para o sucesso
  • 5. Elementos de Apoio De seu ateliê, em frente à exuberância da Serra da Bocaina, Mieko Ukeseki avista a bela paisagem montanhosa de Cunha, a 227 quilômetros de São Paulo. É ali, dian- te do torno, que suas mãos untadas com água dão forma ao barro. Com a técnica - aperfeiçoada há quase 40 anos - e paci- ência oriental, ela deixa sua marca nas peças. Mieko é pioneira na produção de cerâmicas em forno noborigama na cida- de. Ao chegar ao Brasil, em 1975, se ins- talou na capital paulista, no apartamento de uns amigos, até encontrar um lugar para realizar seu trabalho. Em um mês descobriu a Estância Cli- mática de Cunha, um lugar bastante sos- segado, com extensa área verde, locali- zado entre os contrafortes das Serras da Quebra Cangalha e do Mar, próximo a Paraty, RJ. Decidiu ficar. Convidou mais artistas, entre eles o ceramista português Alberto Cidraes, que também veio ao Bra- sil para trabalhar com o noborigama. Eles Mieko Ukeseki foi quem transformaram um galpão, cedido pela iniciou a produção de prefeitura, no primeiro ateliê de Cunha. "Éramos um grupo de seis pessoas, muito cerâmica em Cunha unido e que se ajudava e ensinava uns aos outros", diz Mieko. Em janeiro de 1976 fizeram a primeira queima. Quando foram para Cunha, a cidade lecimentos de hospedagem e alimentação tinha apenas um hotel e nenhum res- e pouco mais de 20 ateliês com 30 cera- taurante. Por meio da cerâmica surgiu a mistas. possibilidade de desenvolvimento para a O forno noborigama é uma técnica mi- região. Devido ao crescimento dos ateliês lenar chinesa, incorporada e aperfeiço- e à divulgação que ela e outros artistas fa- ada pelos japoneses. Em japonês, numa ziam em palestras sobre cerâmicas além tradução literal, noboro significa rampa e dos limites de São Paulo, aos poucos os gama forno. O forno, de alta temperatura, turistas foram chegando, e a necessidade é construído em degraus, em declive na- de ter infraestrutura para atender toda tural, e pode chegar a 1.400 graus célsius essa gente também au- (ºC). As câmaras interliga- mentou. das proporcionam o apro- Mãos de argila Com 26 mil habitantes, A cerâmica tem veitamento do calor - que, divididos entre a área ur- ao ser produzido na for- bana e o campo, o municí- bastante espaço na nalha, sobe gradualmente pio tem sua economia ba- melhoria da economia para as câmaras. seada na pecuária leiteira, A fornalha, também no plantio de feijão, milho conhecida como boca, é e batata e, desde o final da década de alimentada com madeira de eucalipto re- Artesãos de Cunha, SP, criam peças de 1980, no turismo rural. "A cerâmica tem florestado. A primeira queima, chamada bastante espaço na melhoria da econo- de biscoito, é levada de 800 ºC a 900 ºC beleza singular e transformam a mia. A atividade fez muito bem à cidade, por 24 horas. Essa pré-queima serve para cerâmica em atração turística porque causou essa vinda de turistas", diz dar resistência e porosidade à peça, tiran- Mieko. Hoje, existem mais de 50 estabe- do toda a água e dando mais aderência
  • 9. Layout Nº 1 06/2011 R$ 8,90 Craft+Design Tendências para 2011 Entrevista A intimidade do atista-artesão piauiense, Agadman Mercado Inovação é a chave para o sucesso
  • 10. Master Pages 36 mm 14 mm 20 mm 23 mm 12,7 mm 12,7 mm
  • 12. Nº 1 06/2011 R$ 8,90 Craft+Design Tendências para 2011 Entrevista A intimidade do atista-artesão piauiense, Agadman Mercado Inovação é a chave para o sucesso
  • 13. conversando conversando 8 9
  • 14. apresentando artesanato | cultura Escola supErior dE pro- Quando se trata de artesanato, cada peça é única. Ela carrega paganda E MarkEting consigo um pouco do artista, um pouco das ferramentas que curso dE graduação EM dEsign coM Habilitação EM coMunica- foram usadas e um pouco da matéria-prima. Por mais que sejam ção E ênfasE EM MarkEting semelhantes, duas peças nunca são iguais, cada peça é única: projeto integrado do 3º semestre das disciplinas: ímpar. A nossa revista que tem como objetivo principal trazer Projeto III - Cultura e Informação Prof. Ma- rise De Chirico e Prof. Dr. Marcello Montore uma visão abrangente do universo do artesanato, focando essen- Língua Portuguesa III Prof. Regina Fer- reira da Silva cialmente na sua relação com a cultura, também é ímpar. Marketing II Prof. Vivian Iara Strehlau Módulo de Atividades Habilitação/ Cor Dentro desse tema, sentimos a necessidade de construir uma Prof. Paula Csillag Produção Gráfica Prof. Antonio Celso Collaro identidade forte do artesão brasileiro que é pouco valorizado, Edição de imagens, Projeto gráfico, mesmo tendo uma forte influência sobre a cultura brasileira diagramação, tratamento de imagens, revisão, Editores: em geral. Na seção “conversando” há uma entrevista com o Daisy Kyoko Tamashiro Fernando Imai Hoshiko artista e artesão Agadman, que divide conosco um pouco de Leonardo Broglio Deusdado Marina Valentin Thobias sua vida e sua ideologia. Ainda reforçando a importância de Pedro Vincente de Andrade Vitor Mello Artigas se reverenciar o artesanato brasileiro, na seção “viajando”, há um completo panorama sobre a influência do artesanato da cidade de Cunha, interior de São Paulo, atualmente a maior produtora de peças de cerâmica do Brasil. Na seção “visualizando”, última página desta edição, há um poe- ma visual, que dialoga com o tema e a identidade da publicação. boa leitura! Acompanhe nossas novidades pela internet: www revistaimpar.com.br @revistaimpar facebook.com/revistaimpar
  • 15. Sumário Fique por dentro Saiba mais sobre Como tornar Erick Renan Conheça melhor de cursos, eventos Cunha, interior seus produtos fala sobre o que o artesão-artista e o Craft Design de São Paulo, artesanais mais achou da Feira de Agadman e suas 2011 famoso por seus sustentáveis? Jequitinhonha obras incríveis artesanatos 08 10 14 17 20 Cerâmica de Aprenda a criar Inovação no Confira os Poema visual: Santarém ou com crochê essa artesanato, saiba bastidores e as relaciona com o Tapajônica, mas o linda pulseira de como desenvolver fotos do desfile tema e sempre que é isso? corrente e expandir seus Dragão Fashion fecha nossa revista negócios 2011 27 30 32 36 38
  • 16. acontecendo acontecendo conversando Craft+Design Modelagem O Brasil na Idealizada há mais de 10 anos, a Craft Design é uma feira de negócios que apresenta tendências na área de de cerâmica arte popular decoração, design e arte. Direcionada a lojistas, fabricantes, arquitetos, deco- radores e profissionais do setor em geral, a Feira pro- move, semestralmente, a integração tanto de novos talentos, quanto de designers consagrados, com o se- tor produtivo e seus canais de distribuição. O talento e a idoneidade dos expositores, somados a um excelente clima para negócios e um eficiente tra- balho de divulgação, tem trazido para o evento, a cada edição, empresários e profissionais de todo o Brasil e do exterior. Neste ano, o evento acontece dos dias 25 a 28 de agosto em São Paulo, SP. Das 10h às 20h Terraço Villa Daslu Av. Juscelino Kubitschek, 2.041 Vila Olímpia - São Paulo - SP Feincartes – CE Realizada na maior região de comercio do Ceará – a ave- nida Mosenhor Tabosa em Fortaleza, a Feincartes – CE Para quem procura aplicar técnicas va- chega a sua terceira edição com enorme sucesso. Reali- riadas de modelagem em argila. zada no Moderno e bem localizado Centro de Negócios Serão demonstradas técnicas para a mo- do Sebrae, em ambiente totalmente climatizado, a feira delagem peças decorativas e utilitárias: tem sido uma ótima oportunidade de negócios e vendas vasos, cachepôs, travessas e cinzeiros. aos expositores. O publico cearense tem uma ligação Além de técnicas para secagem, utilização Foi aberta no último dia 17 de maio/11 a exposição de muito forte com o artesanato, além disso, Fortaleza é adequada do forno e técnicas de queima. obras de arte popular brasileira no Museu Nacional em destino turístico certo durante todo o ano, fazendo com Brasília. A exposição com 1.500 obras de 70 artistas popu- que a feira tenha uma grande variedade de público com lares pertence ao acervo Museu Casa do Pontal do Rio de um ótimo perder de compra. Tudo isso aliado a um am- Rua Bom Pastor, 654 - Ipiranga Janeiro, e fica aberta ao público até o dia 26 de junho/11. plo plano de divulgação e mídia. São Paulo - SP Muito bem organizada, é muito mais que apenas apresen- Tel: (11) 2065-0150 tar obras de artistas populares brasileiros, é uma viagem www.sesisp.org.br/ipiranga pela cultura e folclore de todos os estados do país, numa Data: de 17 à 26 de junho de 2011 riqueza de valores que merece uma visita. O Museu Na- Local: Centro de Negócios do Sebrae. cional de Brasília fica na Esplanada dos Ministérios, Setor Entrada: R$ 06 (seis reais). Cultural Sul e a exposição está aberta ao público de terça Horário: das 15h00min às 22h00min a domingo, das 9h às 18h30. Imperdível. Pessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada e crianças até 12 anos de idade, acompanhadas por Mais informações: http://www.popular.art.br/ responsável, tem entrada liberada. 5 6
  • 17. De seu ateliê, em frente à exuberância da Serra da Bocaina, Mieko Ukeseki avista a bela paisagem montanhosa de Cunha, a 227 quilômetros de São Paulo. É ali, dian- te do torno, que suas mãos untadas com água dão forma ao barro. Com a técnica - aperfeiçoada há quase 40 anos - e paci- ência oriental, ela deixa sua marca nas peças. Mieko é pioneira na produção de cerâmicas em forno noborigama na cida- de. Ao chegar ao Brasil, em 1975, se ins- talou na capital paulista, no apartamento de uns amigos, até encontrar um lugar para realizar seu trabalho. Em um mês descobriu a Estância Cli- mática de Cunha, um lugar bastante sos- segado, com extensa área verde, locali- zado entre os contrafortes das Serras da Quebra Cangalha e do Mar, próximo a Paraty, RJ. Decidiu ficar. Convidou mais artistas, entre eles o ceramista português Alberto Cidraes, que também veio ao Bra- sil para trabalhar com o noborigama. Eles Mieko Ukeseki foi quem transformaram um galpão, cedido pela iniciou a produção de prefeitura, no primeiro ateliê de Cunha. "Éramos um grupo de seis pessoas, muito cerâmica em Cunha unido e que se ajudava e ensinava uns aos outros", diz Mieko. Em janeiro de 1976 fizeram a primeira queima. Quando foram para Cunha, a cidade lecimentos de hospedagem e alimentação tinha apenas um hotel e nenhum res- e pouco mais de 20 ateliês com 30 cera- taurante. Por meio da cerâmica surgiu a mistas. possibilidade de desenvolvimento para a O forno noborigama é uma técnica mi- região. Devido ao crescimento dos ateliês lenar chinesa, incorporada e aperfeiço- e à divulgação que ela e outros artistas fa- ada pelos japoneses. Em japonês, numa ziam em palestras sobre cerâmicas além tradução literal, noboro significa rampa e dos limites de São Paulo, aos poucos os gama forno. O forno, de alta temperatura, turistas foram chegando, e a necessidade é construído em degraus, em declive na- de ter infraestrutura para atender toda tural, e pode chegar a 1.400 graus célsius essa gente também au- (ºC). As câmaras interliga- mentou. das proporcionam o apro- Mãos de argila Com 26 mil habitantes, A cerâmica tem veitamento do calor - que, divididos entre a área ur- ao ser produzido na for- bana e o campo, o municí- bastante espaço na nalha, sobe gradualmente pio tem sua economia ba- melhoria da economia para as câmaras. seada na pecuária leiteira, A fornalha, também no plantio de feijão, milho conhecida como boca, é e batata e, desde o final da década de alimentada com madeira de eucalipto re- Artesãos de Cunha, SP, criam peças de 1980, no turismo rural. "A cerâmica tem florestado. A primeira queima, chamada bastante espaço na melhoria da econo- de biscoito, é levada de 800 ºC a 900 ºC beleza singular e transformam a mia. A atividade fez muito bem à cidade, por 24 horas. Essa pré-queima serve para cerâmica em atração turística porque causou essa vinda de turistas", diz dar resistência e porosidade à peça, tiran- Mieko. Hoje, existem mais de 50 estabe- do toda a água e dando mais aderência
  • 18. utilitários como xícaras, pratos, ca- trabalho conhecido, além de atrair como definir a forma final das necas, vasilhas. Outros gostam de turismo para a cidade. A abertura peças.”A cerâmica é um enigma: objetos de decoração. O tipo de for- dos fornos deu um outro significado você só vai saber o resultado do no também diferencia: dos 20 for- às peças. “A cerâmica tem de fazer trabalho quando abrir o forno”, diz nos existentes em Cunha, cinco são parte da vida das pessoas. É para ser Jardineiro ao tirar uma caneca cor noborigama. Os outros ateliês usam usada”, diz. creme, esmaltada com argila, cinza forno elétrico e a gás. A singulari- A cada dois meses, abrem-se no- de lenha, cinza de casca de arroz e dade e a criatividade dos ceramistas vas fornadas. É sempre uma surpre- feldspato do forno recém-aberto. de Cunha fazem com que cada um sa. A fusão do fogo com o esmalte As fortes chuvas que castigaram a seu modo conquiste o público. “A a região de Cunha no começo des- maleabilidade do barro permite a te ano prejudicaram o fluxo de tu- você gerar qualquer tipo de forma. A cerâmica tem de ristas. Porém, eles voltaram com a É um desafio transformar a terra, o abertura dos fornos e devem acorrer chão que a gente pisa, em peças de fazer parte da vida novamente em grande número - é o valor, seja artístico, seja econômico” que todos na cidade esperam - aos diz Alberto Cidraes. das pessoas. É para eventos tradicionais do município, Nos últimos 20 anos, a cidade fi- como o Festival de Pinhão, a expo- cou conhecida como o polo criativo ser usada sição em honra ao Dia do Ceramista na produção de cerâmicas, princi- (28 de maio) e as festas de cunho palmente depois da transformação produz efeitos inéditos, de beleza religioso. da abertura dos fornos noborigama singular. A fuligem produzida pela num grande evento, idealizado pelo queima da lenha também influencia A queima ceramista Gilberto Jardineiro e sua no resultado final. Todas as peças com forno esposa, Kimiko Suenaga. são únicas e exclusivas. Apesar de Noborigama já Incorporados ao grupo de cera- o artista conhecer o funcionamento era utilizada há mistas instalados no município, eles de todo o processo, mais de mil anos vieram para o Brasil em 1984, quan- ele não tem atrás no Japão do construíram seu primeiro forno noborigama. Desde 1988, abrem Gilberto Jardineiro iniciou seu as fornadas para os turistas. Com trabalho com cerâmica no Japão, didática e paixão pelo que faz, Jar- em 1980 ao esmalte. Ao fim da primeira do artista - que dá forma ao barro. dineiro explica o passo a passo da queima, a peça é limpa e esmal- Os quatro elementos - terra, água, produção da cerâmica: da extração tada. Após essa etapa, inicia-se fogo e ar - se unem durante a fa- da argila da natureza à queima final. a queima definitiva, em que as bricação da cerâmica. O processo Jardineiro não queria ser um comer- peças ficam no forno durante de transformação da argila em ciante de cerâmicas, muito menos 30 horas contínuas. Quando uma obra de arte é para muitos colocar suas peças em exposições; todas as câmaras atingem a ceramistas algo que envolve ma- assim, convidar as pessoas para ir temperatura desejada, ou gia e emoção. Ele acontece como ao seu ateliê foi a forma que ele en- seja, 1.400 ºC, o processo um ritual, da extração da argila controu para tornar seu está concluído. O fogo é da natureza à queima nos for- extremamente importante nos noborigama. nesse processo. É ele que Cada ceramista tem uma vai determinar o resultado característica e um projeto da fusão dos esmaltes e da artístico. Uns usam a es- coloração do barro e dará a maltação, outros preferem resistência à peça. a cerâmica rústica. Há os E tudo começa pelas mãos que gostam de produzir A qualidade e a variedade da argila fazem de Cunha o local ideal para a instalação dos ateliês de cerâmica
  • 19.
  • 20. Agadman O atelier de formas do artista- artesão, pintor e entalhador além de confeccionador de móveis, painéis circulares em madeira, etc. Eu me apaixonei pelas formas, pelas cores
  • 21. A beleza Revista Ímpar - E essa coisa de você trabalhar com madeira? independe da 
Agadman - Em Brasília comecei a fazer artesanato, e olhando aquela cidade toda com formas retas, as pessoas morando naqueles política, inclusive prédios quadrados, etc., procurei fazer algo diferente, um diferencial, então comecei a fazer entalhes em discos de madeira, da cultura eu já mexia com madeira. Minha idéia era encher a cidade com uma forma que não tinha lá. Aconteceu aí, olha - mostrando o atelier - o trabalho de madeira é o seguinte: primeiramente eu conquistei o desenho, até quando cheguei hoje numa forma, que eu encontrei um símbolo universal de contorno de qualquer imagem, no desenho, que uma criancinha aprende isso em menos de meia hora, isso é o ápice da minha pesquisa no desenho (...) 
 A beleza independe da política, inclusive da cultura, um cara sem cultura vê uma coisa que é linda, uma Revista Ímpar - Quando começou a vez eu foi num sítio velho lá no Piauí, e encontrei na parede trabalhar com madeira?
 de um caboclo, que nem nunca foi na cidade, levei uma revista Agadman - Acho que, com vinte e velha e deixei pôr lá, tinha um clássico, uma mulher, uns poucos anos, eu comecei esta brincadeira. banhistas e tal, e eu achei que aquele cidadão ia achar aquilo É, com dezessete anos é que eu desenvolvi mais bonito, no entanto ele pegou um trabalho do Van Gogh, mais isso, é que eu mexia com desenho com um bem doido lá, e fez uma moldurinha de graveto e colocou lá pintura, modelagem em durepox. na parede, eu perguntei porque você escolheu isso? – “Porque isto aqui é que é belo, não sei o que me deu, mas isso aqui é que é belo, eu não entendo, mas eu gosto disso.” - então uma pessoa sem 
Revista Ímpar - Qual é a sua escola, como você estudar faz isso. aprendeu, como foi?
 Agadman - Isso não tem escola não, é da vontade que vem da alma- mexia com gado, Cores vivas e fortes fazem parte de seu estilo. com fazenda, né, e criei uma paixão, o resto Revista Ímpar - Uma reprodução?
 foi desenvolvendo no automático do meu Agadman - É uma reprodução, que ele ser, uma vontade de ver o estranho de ver colocou sagradamente na parede dele, e tinha a diferenciação, de mergulhar em outros um retrato de um cavalo, de um boi bonito, espaços, que não fossem conhecidos pelas que pra mim, o que eu pensei daquela pessoa, pessoas. Eu sempre acreditei em universos o que fosse satisfazer mais o indivíduo, mas diferentes, eu vejo as pessoas que tem ele procurou aquilo, ele falou; “que não sabia capacidade de exercer as faculdades, dirigidas o que era, mas me faz um bem.” - entendeu? em qualquer sentido que quer ciência, então Então, a arte é essa magia.
 eu me apaixonei pela formas, pelas cores.
 Uma das belas criações de Agadman. 4 5
  • 22. Revista Ímpar - Você nasceu em que cidade do Piauí?
 Agadman - Cidade Corrente.
 Revista Ímpar - E lá nessa região tem tradição de trabalhar com madeira, barro, artesanato?
 Agadman - Tem não, só com enxada nas costas mesmo, a gente plantava, feijão, batata...
 Revista Ímpar - E hoje, você se considera um artesão ou artista-artesão, como é isso?
 Agadman - Todo artista deve ser um artesão, pra poder desenvolver o jeito
de fazer o que ele quer, o seu jeito, a sua maneira. Eu já fui um artesão, hoje eu me considero um artista e dou trabalho para os artesãos que estão comigo.
 Revista Ímpar - Então pra você, o que é artesanato, o que é ser artesão? Agadman - O artesão copia, às vezes, até algo que ele mesmo criou, ou não, pode ser a obra de outro artista, então ele repete aquilo inúmeras vezes, e ele visa o mercado, vender o seu produto com um preço acessível, e coisa e tal. E o artesanato pode ser feito de muitas maneiras não é só com as mã os, hoje você pode se utilizar dos recursos modernos, até o laser, pôr exemplo, é mais uma ferramenta, e o artesão sempre utilizou ferramentas.
 Revista Ímpar - E o que é ser artista, o que é arte?
 Agadman - O artista faz o novo, algo que nunca se viu, faz o único, e com isso encontra o seu lugar no mundo, o lugar só dele. É o indivíduo que criou um diferencial, e a arte dá essa possibilidade, a arte é isso, a oportunidade de se expressar, é comunicação, é uma liberdade de expressão, e cada um procura a sua linguagem o seu modo de falar, seu modo de expressar o que esta dentro dele, o que muitas vezes não se pode dizer com palavras, é uma espécie de presente, que o homem primeiro dá a si próprio e depois compartilha com o mundo, a arte salva muita gente da loucura. 6 7
  • 23. conversando Ação Cultural (DAC), reunindo, na Praça de Serviços, 42 associações de artesãos de 25 cidades do Vale. Só no ano passado, os expositores lucraram cerca de R$ 100 mil com as vendas. Dentre as novidades, destaque para a participação de artesãos de duas etnias indígenas, Aranã e Pataxó-Pankararu, de Araçuaí. “Isso dará visibilidade ao trabalho artesanal realizado por eles, além de reforçar a presença indígena no campus”, afirma Terezinha Furiati, Jequitinhonha coordenadora do Artesanato Coop- erativo, ligada ao Programa Polo, e que trabalha na organização do evento. Outra inovação da edição de 2011 é a montagem de um espaço especial para artesãos reconhecidos e sua feira por Eric Renan do Vale. Entre os convidados, Ulisses Mendes, de Itinga, a família de Dona Isabel, de Santana do Araçuaí, e Lira Marques, de Araçuaí. O artesão João Alves, de Taiobeiras, é uma das estrelas da Feira. Suas esculturas em argila já foram premiadas pela Unesco e expostas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No caso da capi- tal mineira, ele produziu 40 peças que ficaram em exposição no Palácio da Liberdade. “Elas representam o folclore de Minas, um retrato da nossa cultura”, conta o artesão, que participa da feira desde a primeira edição e hoje integra a Associarte, entidade que, segundo ele, tem papel importante na valorização de seu trabalho. “Graças a ela faço vários con- Reconhecida como um dos espaços que melhor acolhem tatos e aprendo muito com os outros artesãos”, argumenta. a cultura do Norte de Minas, a tradicional Feira de Arte- Além do artesanato, a música do Jequitinhonha também sanato do Vale do Jequitinhonha volta a ocupar a Praça invadirá a Praça de Serviços, com shows diários. Na segun- de Serviços, no campus Pampulha, entre os dias 2 e 7 da feira, dia 2, haverá apresentação do Coral Água Branca, de maio. Em sua 12ª edição, o evento abrigará peças de Itinga; na terça, 3, Volber e Gilmar; na quarta, 4, o Grupo produzidas por artesãos de duas etnias indígenas e hom- Sarandeiros e, na sexta, 6, a Banda Terceira Margem, de enageará a paneleira Dona Zizi e a fiandeira Dona Ger- Montes Claros, sempre às 12h30. Na quinta-feira, dia 5, às alda, duas mestras que lutam para perpetuar seus ofícios. 17h30, haverá homenagem às mestras de ofício Elzi Gon- A fama já ultrapassou – e muito – as fronteiras de- çalves Pereira e Geralda Leite Sena (veja abaixo) e show de marcadas pelo Rio Jequitinhonha. Na mão de homens João di Souza e Chico Lobo. A entrada é franca. e mulheres habilidosos, barro, taboa e madeira dão for- ma a esculturas, trançados, cerâmicas, panelas, bone- cas, moringas e tigelas, materializando uma das mais belas expressões culturais da região. Mas, mesmo com todo esse prestígio, os artesãos encontram dificuldades para expor suas peças e vendê-las a um preço justo. Uma exceção nesse cenário é a tradicional Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que este ano chega à 12ª edição. Será realizada na próxima semana, entre 2 e 7 de maio, numa promoção da Pró-reitoria de Extensão (Proex), do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e da Diretoria de 2 3
  • 24. conversando visualizando conversando 6 7