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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP 
Mauro Tadeu Baptista Sobhie 
Análise comparativa de avaliação em press releases e notícias 
DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM 
SÃO PAULO 
2008
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP 
Mauro Tadeu Baptista Sobhie 
Análise comparativa de avaliação em press releases e notícias 
Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra. Leila Barbara. 
DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM 
SÃO PAULO 
2008
Banca examinadora 
___________________________________ 
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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos ou científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, por processos eletrônicos ou de fotocopiagem 
Assinatura: Data:
AGRADECIMENTOS 
Agradeço às seguintes pessoas e instituições; peço desculpas antecipadamente por quaisquer omissões, totalmente indesculpáveis, mas totalmente involuntárias. 
Ao CPNq, pelo apoio financeiro indispensável para a realização desta pesquisa. 
À orientadora Leila Barbara, por seu enorme carinho e paciência infinita, que me apresentou o mundo acadêmico e ensinou a fazer pesquisa científica, além de muito me ensinar sobre a vida e sobre mim mesmo. 
À minha esposa Vilma, que sempre me apoiou e me compreendeu em todos os momentos difíceis e que soube suportar os momentos de distância. Os cuidados e seu carinho foram essenciais para que eu pudesse enfrentar todas as dificuldades e privações da vida e passado a ser uma pessoa melhor. Também ao Flávio, pela amizade e o incentivo constante. 
Aos meus pais, que sempre me deram apoio para que eu chegasse até aqui e que compreenderam os anos de distância. Às minhas irmãs e meus sobrinhos, pelo carinho. 
A toda a minha família, que também soube compreender a ausência e sempre me incentivou em minha jornada. 
Aos professores do LAEL, que muitas vezes me mostraram apoio e incentivo para ir em frente, especialmente os professores Rosinda Ramos, Tony Berber Sardinha, Orlando Vian Jr. e Taïs Bittencourt, que participaram de minhas bancas de qualificação e ofereceram sua contribuição valiosa ao desenvolvimento desta pesquisa, além de sua inestimável amizade. Agradeço também à professora Nina Célia Almeida de Barros pela contribuição à versão final desta tese e aos diversos professores de outras instituições estrangeiras, que deram orientações valiosas e desinteressadas, especialmente os professores Geoff Thompson, Kazuhiro Teruya, Jim Martin e Carlos Gouveia. 
Às funcionárias do LAEL, Maria Lúcia e Márcia, que apesar de todas as dificuldades, sempre me incentivaram e deram apoio indispensável nas atividades acadêmicas, sem falar na enorme amizade e carinho. 
Aos funcionários da PUC/SP, especialmente da Secretaria de Alunos, Secretaria de Teses e Biblioteca, pelo atendimento sempre simpático e solícito. 
Por último, e não menos importante, aos colegas de nosso grupo de orientação e demais colegas do LAEL, que, cada um de seu jeito, me auxiliaram a avançar nos estudos e me permitiram participar de suas vidas, dando provas de grande apreço e amizade, e ajudando a enfrentar a aridez da vida acadêmica.
Resumo 
Este trabalho tem como objetivo analisar a avaliação na linguagem empresarial. A avaliação é um aspecto da linguagem relacionado à interação, sendo um campo de estudos que pode trazer contribuições significativas para a área empresarial, pois as empresas são entidades que dependem de sistemas de comunicação para criar alianças entre seus elementos internos, com outros grupos e instituições. 
As análises lingüísticas foram baseadas no arcabouço teórico da Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), apresenta uma detalhada descrição de como os recursos ideacionais e interpessoais da linguagem descritos por Halliday (1978, 1994) podem ser usados com propósitos avaliativos em diferentes gêneros, conforme os estudos de Avaliação e Avaliatividade. Diferentemente de outras análises de avaliação baseadas na LSF, esta pesquisa faz uma análise comparativa baseada em corpus entre os press releases de duas empresas brasileiras de telecomunicações e notícias publicadas por um jornal sobre os mesmos assuntos, discutindo as avaliações explícitas e implícitas contidas nessas descrições e os valores envolvidos nelas à luz do contexto. 
Os resultados da análise mostraram quatro grupos principais de diferenças entre press releases e notícias: os press releases tendem a atribuir avaliações positivas aos serviços oferecidos aos clientes, à capacidade da própria empresa, a ações que aumentem essa capacidade e aos seus resultados positivos. As notícias, por sua vez, tendem a excluir essas avaliações positivas e incluir informações sobre limitações dos produtos e problemas internos das empresas. Os resultados permitiram também observar que as empresas e o jornal utilizam conjuntos de valores semelhantes ao fazerem suas avaliações, mesmo quando os pontos de vista são diferentes. Dessa forma, esta pesquisa pretende que seus resultados tragam subsídios para que as empresas possam se comunicar melhor com os seus diferentes públicos e para a educação de leitores críticos, que identifiquem os valores que estão por trás das escolhas lingüísticas dos textos. 
Palavras chave: avaliação, avaliatividade, press releases, notícias, análise comparativa
Abstract 
This dissertation aims at analyzing evaluation in the business language. Evaluation is an aspect of language related to interaction, being a field of studies that may bring a significant contribution to business since companies are entities that depend on communication systems to construct alliances both between their internal elements and with external individuals and institutions. 
The linguistic analysis herein is based on the theoretical framework of the Systemic-Functional Linguistics (SFL) that provides us with a detailed description on how the ideational and interpersonal resources of language described by Halliday (1978, 1994) may be used with evaluative purposes in different genres based on Evaluation and Appraisal studies. Differently from other SFL-based analysis of evaluation, this research makes a corpus-based comparative analysis between press releases from two Brazilian telecommunication companies and news stories published by an online newspaper about the same topics, discussing the explicit and implicit evaluations embodied in these texts and the values involved on them at the light of the context. 
The analysis has shown four major groups of differences between Press Releases and News: Press Releases tend to assign positive evaluations to the benefits to the customer, the capacity of the company itself, their capacity improvements and positive results. On the other hand, the News tends to exclude such positive evaluations and include information on product‟s constraints and company‟s internal problems. The results also revealed that the companies and the newspaper use similar sets of values in their evaluations, even when expressing different points-of-view. Therefore, it is expected that the analysis herein provide resources to enable companies to communicate better with their different audiences and to the education of critical readers enabled to identify the values underlying the linguistic choices of the texts. 
Key-words: evaluation, appraisal, press releases, news, comparative analysis
Sumário 
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 13 
I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ---------------------------------------------------------- 21 
1.1. A visão funcional da linguagem da LSF ------------------------------------------------- 21 
1.2. A relação entre texto e contexto ----------------------------------------------------------- 23 
1.3. Estratificação e metáforas gramaticais --------------------------------------------------- 27 
1.4. A metafunção ideacional -------------------------------------------------------------------- 28 
1.4.1. A função lógica ------------------------------------------------------------------- 29 
1.4.2. A função experiencial ---------------------------------------------------------- 31 
1.4.3. Metáforas ideacionais ----------------------------------------------------------- 42 
1.5. A metafunção interpessoal ------------------------------------------------------------------ 46 
1.5.1. O sistema de Modo -------------------------------------------------------------- 47 
1.5.2. Metáforas interpessoais --------------------------------------------------------- 50 
1.6. Atribuição de papéis ------------------------------------------------------------------------- 52 
1.7. Avaliação e avaliatividade ------------------------------------------------------------------ 53 
1.7.1. O sistema de avaliação de Hunston ------------------------------------------- 55 
1.7.2. O sistema da Avaliatividade --------------------------------------------------- 57 
1.7.2.1. O subsistema de Atitude ------------------------------------------- 58 
1.7.2.2. O subsistema de Engajamento ------------------------------------ 63 
1.7.2.3. O subsistema de Gradação ----------------------------------------- 65 
1.7.3. Considerações sobre os estudos de avaliação e avaliatividade ---------- 66 
1.8. As empresas e o mercado ------------------------------------------------------------------- 68 
1.9. O mercado de telecomunicações no Brasil ---------------------------------------------- 69 
1.10. A comunicação empresarial, os press releases e as notícias ----------------------- 71 
II. METODOLOGIA DE PESQUISA -------------------------------------------- 75 
2.1. Descrição das empresas --------------------------------------------------------------------- 76 
2.2. Procedimentos de coleta e organização dos dados ------------------------------------ 77 
2.3. Descrição do corpus -------------------------------------------------------------------------- 78 
2.4. Metodologia de análise --------------------------------------------------------------------- 81
Sumário (cont.) 
2.4.1. Estudos sobre análises computadorizadas ---------------------------------- 81 
2.4.2. A abordagem usada nesta pesquisa ------------------------------------------ 84 
2.5. Palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas ----------------------- 86 
2.6. Instrumentos de análise --------------------------------------------------------------------- 88 
2.6.1. Comparação lado a lado dos textos ------------------------------------------- 89 
2.6.2. Listas de palavras significativamente exclusivas -------------------------- 91 
2.7. Análise dos recursos ideacionais ---------------------------------------------------------- 94 
2.7.1 Análise gramatical das linhas de concordância ---------------------------- 94 
2.7.2. Análise dos participantes ------------------------------------------------------- 95 
2.7.3. Análise das relações ideacionais nas quais os participantes estão envolvidos ------------------------------------------------------------------------- 95 
2.8. Análise dos recursos avaliativos ---------------------------------------------------------- 96 
III. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ------------------------ 99 
3.1. Apresentação dos resultados --------------------------------------------------------------- 99 
3.2. Relatos de linguagem ------------------------------------------------------------------------ 100 
3.3. Representação das atividades da empresa ----------------------------------------------- 106 
3.4. Análise da avaliação ------------------------------------------------------------------------- 112 
3.4.1. Oferta de benefícios ------------------------------------------------------------- 113 
3.4.1.1. Oferta de serviços pelos produtos -------------------------------- 114 
3.4.1.2. Limitações e restrições dos produtos ---------------------------- 132 
3.4.1.3. Divergências em press releases e notícias ---------------------- 140 
3.4.2. Demonstração de capacidade -------------------------------------------------- 146 
3.4.3. Aumento de capacidade da empresa ----------------------------------------- 158 
3.4.3.1. Aumento de capacidade por ações da empresa ---------------- 158 
3.4.3.2. Aumento de capacidade por ações de parceiros --------------- 160 
3.4.3.3. Problemas internos -------------------------------------------------- 165 
3.4.4. Resultados das ações das empresas ------------------------------------------- 169 
3.4.4.1. Expressos por ações dos clientes --------------------------------- 169 
3.4.4.2. Expressos por indicadores financeiros -------------------------- 173 
3.5. Considerações sobre a discussão dos resultados---------------------------------------- 176
Sumário (cont.) 
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------- 181 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------- 189 
ANEXO I – Títulos dos press releases e notícias ------------------------------------------- 197 
ANEXO II – Quantidades de palavras --------------------------------------------------------- 201 
ANEXO III – Palavras significativamente exclusivas -------------------------------------- 203 
Índice de figuras 
Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática --------------------------------------- 25 
Figura 2. Taxonomia de participantes --------------------------------------------------------- 32 
Figura 3. Representação dos tipos de processos --------------------------------------------- 34 
Figura 4. Relação entre modalidade, polaridade e modo ---------------------------------- 49 
Figura 5. Sistemas interpessoais de Thompson e Thetela --------------------------------- 52 
Figura 6. O sistema da Avaliatividade -------------------------------------------------------- 58 
Figura 7. O subsistema de Engajamento ------------------------------------------------------ 64 
Figura 8. O subsistema de Gradação ---------------------------------------------------------- 65 
Figura 9. Elementos do sistema de marketing ----------------------------------------------- 69 
Figura 10. Lista de comparação lado a lado -------------------------------------------------- 90 
Figura 11. Sistema de bases de avaliação para os produtos ------------------------------- 178 
Figura 12. Sistema de bases de avaliação para as empresas ------------------------------ 179 
Índice de quadros 
Quadro 1. Análise sob as três metafunções -------------------------------------------------- 27 
Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais ------------------------------------------------------ 29 
Quadro 3. Tipos de processos relacionais ---------------------------------------------------- 36 
Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização --------------------------------------- 38 
Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais ---------- 42 
Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico ------------------------------------------- 43 
Quadro 7. Convenção de notação da constituência lexicogramatical ------------------- 44 
Quadro 8. Funções de fala ----------------------------------------------------------------------- 46 
Quadro 9. Modalização e modulação --------------------------------------------------------- 51
Índice de quadros (cont.) 
Quadro 10. Exemplos de realizações metafóricas de propostas e proposições ------- 51 
Quadro 11. Comparação entre Hunston e Martin ------------------------------------------- 67 
Quadro 12. Tamanho do corpus ---------------------------------------------------------------- 78 
Quadro 13. Atividades descritas nos press releases e notícias --------------------------- 79 
Quadro 14. Funções ideacionais das palavras significativamente exclusivas --------- 99 
Quadro 15. Quantidade de palavras e linhas de concordância --------------------------- 100 
Quadro 16. Palavras exclusivas usadas em relatos de linguagem ----------------------- 101 
Quadro 17. Números de press releases e notícias com relatos de linguagem --------- 104 
Quadro 18. Ocorrência de participantes por número de textos --------------------------- 106 
Quadro 19. Ocorrência das relações ideacionais por número de textos ---------------- 108 
Quadro 20. Funções ideacionais do exemplo 33 -------------------------------------------- 114 
Quadro 21. Funções ideacionais do exemplo 34 -------------------------------------------- 116 
Quadro 22. Funções ideacionais do exemplo 35 -------------------------------------------- 117 
Quadro 23. Funções ideacionais do exemplo 36 -------------------------------------------- 119 
Quadro 24. Funções ideacionais do exemplo 38 -------------------------------------------- 121 
Quadro 25. Funções ideacionais do exemplo 39 -------------------------------------------- 122 
Quadro 26. Descrição dos clientes por processos mentais -------------------------------- 124 
Quadro 27. Funções ideacionais do exemplo 44 -------------------------------------------- 125 
Quadro 28. Funções ideacionais do exemplo 45 -------------------------------------------- 126 
Quadro 29. Funções ideacionais do exemplo 62 -------------------------------------------- 134 
Quadro 30. Funções ideacionais do exemplo 64 -------------------------------------------- 135 
Quadro 31. Funções ideacionais do exemplo 65 -------------------------------------------- 136 
Quadro 32. Funções ideacionais dos exemplos 67 e 68 ----------------------------------- 137 
Quadro 33. Funções ideacionais do exemplo 70 -------------------------------------------- 138 
Quadro 34. Funções ideacionais do exemplo 71 -------------------------------------------- 139 
Quadro 35. Funções ideacionais do exemplo 72 -------------------------------------------- 140 
Quadro 36. Estrutura ideacional do exemplo 73 -------------------------------------------- 141 
Quadro 37. Funções ideacionais do exemplo 74 -------------------------------------------- 142 
Quadro 38. Funções ideacionais do exemplo 76 -------------------------------------------- 143 
Quadro 39. Funções ideacionais do exemplo 82 -------------------------------------------- 147 
Quadro 40. Funções ideacionais do exemplo 83 -------------------------------------------- 147 
Quadro 41. Estrutura de comparação dos exemplos 82 e 83 ----------------------------- 147 
Quadro 42. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 99 --------------------- 156 
Quadro 43. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 100 ------------------- 156 
Quadro 44. Funções ideacionais do exemplo 107 ------------------------------------------ 159
Índice de quadros (cont.) 
Quadro 45. Ações dos parceiros da empresa no evento ----------------------------------- 162 
Quadro 46. Ações dos paulistas no evento --------------------------------------------------- 163 
Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A ------------------------------ 197 
Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B ------------------------------ 198 
Quadro 49. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_A -------- 201 
Quadro 50. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_B -------- 202 
Quadro 51. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_A -- 203 
Quadro 52. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_B --- 204 
Quadro 53. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_A ---- 206 
Quadro 54. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_B ----- 207
Introdução 
13 
Introdução 
O presente trabalho faz parte do Projeto DIRECT – Em Direção à Linguagem dos Negócios, na linha de pesquisas de Linguagem e Trabalho do Programa de Pós- Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Como parte desse projeto, esta pesquisa se inclui entre outras que têm como objetivo geral analisar o uso da linguagem em atividades profissionais com base no arcabouço teórico da Lingüística Sistêmico- Funcional. 
A opção pelo estudo da linguagem empresarial veio de minha experiência profissional em empresas de diversos setores e cumprindo diversas funções, entre as quais o atendimento de clientes, treinamento de usuários, desenvolvimento de propostas técnico-comerciais e concorrências. Essa experiência prática mostrou a importância do uso apropriado da linguagem nas empresas para obter informações e colaboração, resolver conflitos, analisar problemas e persuadir; dessa maneira, considero o setor empresarial um campo de estudos relevante para os estudos lingüísticos, não apenas pela importância das empresas na economia, mas também no desenvolvimento das carreiras profissionais dos indivíduos. 
Dentro da linguagem empresarial, escolhi analisar materiais de comunicação relacionados a empresas brasileiras do mercado de telecomunicações para dar continuidade aos meus estudos na Lingüística Aplicada, devido à minha formação acadêmica e experiência profissional. Esta pesquisa está relacionada ao mercado de telecomunicações, no qual atuei como engenheiro eletrônico, à área de marketing, na qual tenho pós-graduação lato sensu e que fez parte de minhas atividades profissionais no atendimento de clientes e negociação de vendas, e à linguagem empresarial e técnica, na qual estou envolvido desde 1992, como tradutor. Dessa forma, procurei trazer para a interpretação dos dados esse conhecimento de mundo adquirido, assumindo, dentro de meus limites, o papel de especialista. 
O arcabouço teórico da lingüística sistêmico-funcional (doravante LSF), desenvolvida por Michael Halliday e outros estudiosos desde a década de 1950, foi escolhido para esta pesquisa por seu foco sociossemiótico e funcional, que mostra como os significados são criados pelos falantes para realizar determinadas funções em uma sociedade, em uma complexa relação entre o texto e o seu contexto de uso. A LSF oferece ao analista todo um arsenal de ferramentas de análise poderosas e flexíveis, com
Introdução 
14 
as quais podemos analisar isoladamente cada aspecto do texto e as maneiras pelas quais os diferentes aspectos do texto operam em conjunto entre si, oferecendo classificações gramaticais bem definidas e aceitando interpretações alternativas, o que nos permite lidar com aspectos como a ambigüidade da linguagem. 
A LSF é uma teoria adotada por um grupo crescente de pesquisadores em todo o mundo. No Brasil, além do Grupo DIRECT, outros grupos de pesquisa que utilizam a LSF, como os grupos formados por pesquisadores da PUC/SP como o Edulang, voltado à pesquisa sobre o ensino e aprendizagem de línguas em contextos digitais, e o Grupo de Abordagem Instrumental e o Ensino-Aprendizagem de Línguas em Contextos Diversos. Em outras universidades, podemos citar o Grupo CORDIALL, da Faculdade de Letras da UFMG, que estuda a utilização de corpora em Estudos Cognitivos da Linguagem, dos Estudos da Tradução e da Análise Crítica do Discurso. O grupo de Texto, Discurso e Práticas Sociais (NUPDISCURSO) reúne pesquisadores da UFSC e da Universidade Federal de Santa Maria no estudo de gêneros textuais; temos também o grupo de Linguagem e Ideologia da UNB, que estuda o discurso em uma teoria social crítica e os grupos de Lingüística sistêmico-funcional, lingüística de corpus e análise do discurso e de Práticas discursivas em contextos pedagógicos da PUC/RJ. 
Aqui, abro um parêntese para justificar a escolha da principal fonte de referência sobre a LSF utilizada nas descrições gramaticais, a terceira edição do Introduction to Functional Grammar de Halliday e Matthiessen, edição de 2004. Pessoalmente considero que a descrição da teoria sistêmica introduzida nessa edição permite ao leitor compreender melhor do que as edições anteriores a lógica subjacente aos sistemas gramaticais propostos pela LSF. Dessa forma, as referências a essa obra vêm com a indicação de Halliday e Matthiessen (este último indicado como revisor da terceira edição), embora seja possível encontrar a maior parte das descrições gramaticais nas edições de 1985 e 1994 desse livro de Halliday. 
O problema a ser enfrentado neste estudo surgiu de uma preocupação que sempre me acompanhou durante toda a minha experiência profissional: identificar pela linguagem o que influencia as pessoas e o que podemos fazer com a linguagem de forma que elas colaborem com os nossos objetivos. Para lidar com questões como essas, a LSF oferece conceitos e modelos que nos permitem analisar as formas como as pessoas representam a sua experiência de mundo e interagem com os outros, respectivamente descritas pelas metafunções ideacional e interpessoal de Halliday (1978, 1994) e os desenvolvimentos desses sistemas propostos por outros estudiosos.
Introdução 
15 
Entre esses desenvolvimentos, podemos citar a detalhada descrição dos sistemas ideacionais desenvolvida por Halliday e Matthiessen (1999, 2004), o sistema interpessoal proposto por Thompson e Thetela (1995) e questões de Avaliação e Avaliatividade1 discutidas por autores como Hunston (2000), Martin (2000) e Martin e White (2005). Esta pesquisa também se baseou em estudos não lingüísticos, como as descrições de materiais de comunicações de Bell (1991) e Fowler (1991), além de estudos de marketing e administração de estudiosos como Philip Kotler (1990) e Torquato (1986). Dessa maneira, esta pesquisa tem como objetivo teórico contribuir para os estudos de interação feitos dentro do arcabouço teórico da LSF, vindo, assim, a se reunir aos pioneiros que analisam a Avaliação e o sistema de Avaliatividade no idioma português brasileiro. Além disso, este trabalho é um dos primeiros voltado especificamente à linguagem empresarial. Em um levantamento das pesquisas de Avaliatividade feitas no Brasil, observei que a maior parte dos trabalhos encontrados nessa área em nosso idioma estuda o uso da linguagem no ensino, como Sartin (2007), textos de opinião, como Cabral e Barros (2007), ou políticos, como Souza (2007), para mencionar apenas alguns dos participantes do 33rd International Systemic Functional Congress, realizado na PUC/SP em 2006. A análise das atitudes dos falantes sobre o que falam está prevista nos estudos de Avaliação, como o de Hunston (2000) e o sistema de Avaliatividade (Martin, 2000; Martin e White, 2005). Para Martin e White, a Avaliatividade (Appraisal): 
“... refere-se ao lado interpessoal na linguagem, à presença subjetiva dos escritores/falantes nos textos, na medida em que eles adotam posições com relação ao material que eles apresentam e àqueles com quem eles se comunicam. Refere-se aos modos como escritores/falantes aprovam e desaprovam, ficam entusiasmados e repudiam, aplaudem e criticam e como posicionam seus leitores/ouvintes a fazerem o mesmo. Está relacionada à construção pelos textos de comunidades de sentimentos e valores compartilhados e com os mecanismos lingüísticos usados para compartilhar emoções, gostos e avaliações normativas. Refere-se aos modos como escritores/falantes constroem semanticamente identidades ou personas autorais, como entram em alinhamento/desalinhamento com respondentes existentes ou potenciais e como constroem para seus textos um público desejado ou ideal.” (Martin e White, 2005:1) 2 
1 A tradução de Appraisal como Avaliatividade é discutida nos meios acadêmicos; em trabalhos de outras universidades, é usado o termo “Valoração”. 2 A menos que haja indicação em contrário, todas as traduções incluídas neste documento são de minha responsabilidade.
Introdução 
16 
Esse mapeamento entre os significados ideacionais e interpessoais está alinhado à visão de Lemke (1992:87), que relaciona os significados ideacionais à ideologia, dizendo que "o ideacional pode ser visto como uma ferramenta ou pretexto para a sustentação, modificação, apoio ou contestação de uma estrutura de interesses sociais, valores e pontos de vista". Na mesma linha, Thompson (1996a:76) aponta uma relação íntima entre os significados ideacionais e interpessoais, dizendo haver “muitas formas alternativas que os falantes podem escolher para representar o mundo, e a escolha feita será em grande parte dependente de seus propósitos”. 
Essa posição também é assumida por Hunston (2000:195), para quem “as palavras escolhidas para descrever o mundo em um texto inevitavelmente refletem a ideologia do escritor, ou mais apropriadamente, a ideologia da parte da sociedade de onde vem o escritor”. Dessa maneira, ao criar as suas representações de mundo, os falantes transmitem também seus sistemas de valores, introduzindo diversos tipos de avaliações (Martin e White, 2005:28), de forma explícita ou implícita. 
Um exemplo de como os recursos de representação do mundo, que a priori estariam mais relacionados à metafunção ideacional de Halliday, podem ser utilizados com propósitos interpessoais é apresentado de forma sistêmica na proposta de função interacional de Thompson e Thetela (1995:107). Essa função mostra como papéis sociais podem ser projetados aos participantes do discurso por recursos de nomeação e atribuição, em seu conceito de papéis projetados, que são os “papéis atribuídos pelo falante/escritor aos participantes do evento da linguagem” (1995:108). 
Esse conceito foi posteriormente desenvolvido por Ramos em sua pesquisa sobre a construção da identidade dos participantes em prospectos institucionais pela “organização taxonômica dos itens lexicais (palavras chave-chave), que se configuram para representar os participantes no universo textual” (1997:41). Nesse trabalho, Ramos (1997:76) mostrou como a representação do mundo feita pelo falante afeta a interação entre os participantes, pois segundo ela “os itens lingüísticos usados num texto não são escolhas arbitrárias: elas nos dão importantes insights sobre a visão de um mundo que o escritor deseja transmitir”. 
Entretanto, a atitude do falante não é expressa apenas pelo modo como fala dos participantes de seu discurso. Van Leeuwen (1996:38) aponta a exclusão ou inclusão de atores sociais e das atividades destes na representação como um recurso que o escritor tem para adequar seus interesses ou propósitos com relação aos seus leitores, visão compartilhada por Fowler (1991:71), para o qual ao fazer escolhas de transitividade
Introdução 
17 
sempre estamos suprimimos outras possibilidades. Para analisar a exclusão, segundo Van Leeuwen (1996:39) seria necessário comparar diferentes representações de uma mesma prática social, pois não haveria vestígios dessa exclusão na análise de um único texto. 
Para analisar algumas das informações que não foram incluídas nas representações de mundo feitas pelas empresas, utilizei a comparação entre as representações fornecidas em press releases emitidos por duas empresas brasileiras de telecomunicações (referenciadas neste trabalho como Tele_A e Tele_B) sobre suas atividades empresariais e as incluídas em notícias publicadas por um jornal online (Jornal_A) sobre os mesmos assuntos em datas próximas. Dessa maneira, foi possível analisar as descrições e avaliações incluídas nas notícias e não nos press releases e vice- versa. 
Os comunicados à imprensa, ou press releases, foram considerados apropriados para esta pesquisa por sua função de transmitir as informações que a empresa deseja que sejam publicadas nos veículos de comunicação e que necessariamente tenham algum interesse jornalístico para serem publicadas pelos jornais, não sendo, dessa forma, uma promoção explícita da empresa, como ocorre nos materiais institucionais ou nas propagandas. Outra característica é que, embora forneça as informações, a empresa não tem o poder de determinar como será texto que chegará aos leitores do jornal, dentre os quais estão os públicos que a empresa deseja atingir; dependendo de seus próprios interesses, o jornal pode incluir na notícia informações de outras fontes ou interpretar as informações fornecidas de uma forma desfavorável à empresa. 
Isso pode ocorrer porque, segundo Fowler (1991:10), a notícia é articulada a partir de uma posição ideológica, impondo uma estrutura de valores na representação de mundo construída no texto (:4). Fowler lembra que: 
“... a publicação de um jornal é um negócio e uma indústria, sendo esperado que os produtos do jornal sejam determinados por fatores decorrentes de sua atuação no mundo, como a necessidade de lucros e o relacionamento com outros agentes sociais, que determinarão a seleção dos eventos e tópicos que terão interesse jornalístico para serem publicados e também as maneiras como os eventos serão representados”. Fowler (1991:20) 
Considerando a distinção feita por Biber (1995:70) entre os conceitos de gênero e tipo de texto, pela qual os gêneros são identificados por critérios externos ao texto (como as relações entre os interactantes, por exemplo) e os tipos de texto são agrupados
Introdução 
18 
por similaridades em suas formas lingüísticas, os press releases e as notícias pertenceriam a gêneros diferentes, independentemente de suas semelhanças. Enquanto o press release é dirigido aos veículos de comunicação, com o propósito de promover a imagem da empresa e de seus produtos junto a clientes em potencial e outros grupos que possam ter interesse nas atividades da empresa; a notícia é dirigida ao público geral, com o propósito de fornecer informações sobre as atividades da empresa. 
Dessa maneira, esta análise pode também ser vista como uma comparação entre dois gêneros diferentes de uma mesma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough, 1995:37), que divulgam as atividades a partir da empresa, passando pelo jornal e chegando aos públicos finais, em um estudo da intertextualidade (Halliday e Hasan, 1989:47) entre esses eventos comunicativos. Em suas notícias, o jornal discute as informações fornecidas no press release, “desconsiderando” e excluindo informações que não julga relevantes para os seus propósitos, e incluindo aquelas que considera relevantes sobre o assunto discutido no press release, em uma indicação da sua posição de leitura (Martin e White, 2005:25) do press release. Cabe aqui observar que o conceito de gênero foi utilizado neste trabalho apenas para a identificação dos materiais utilizados na pesquisa; dado o foco na análise das diferenças lingüísticas entre os textos, uma discussão mais aprofundada sobre as diversas teorias que estudam o gênero poderá ser feita em uma pesquisa posterior. 
Com base nos conceitos apresentados acima, foram definidas as perguntas de pesquisa abaixo para orientar essa pesquisa: 
1. Quais são as diferenças nas formas como os press releases e as notícias descrevem as atividades da empresa? 
2. Como as diferenças encontradas expressam diferentes formas de avaliação dessas atividades? 
3. Quais são os valores que baseiam essas avaliações? 
A pergunta 1 está relacionada à representação de mundo (Halliday, 1994:106) construída nos textos; para responder essa pergunta, temos de identificar as diferenças entre press releases e notícias relacionadas aos participantes envolvidos nas descrições das atividades, as ações que esses participantes executam e as circunstâncias nas quais essas ações ocorrem, identificando também as formas como essas relações ideacionais estão expressas nos textos.
Introdução 
19 
A pergunta 2 está relacionada à avaliação (Hunston e Thompson, 2000) e à avaliatividade (Martin e White, 2005), às maneiras pelas quais as relações ideacionais identificadas nos press releases ou nas notícias podem mostrar as posições do jornal e das empresas perante as atividades descritas em seus textos e criar laços de afinidade com os públicos aos quais esses materiais se destinam. 
A resposta à pergunta 3 está relacionada às bases que fundamentam as avaliações incluídas no texto (Hunston, 2000:200), ou seja, os critérios pelos quais podemos dizer que uma determinada relação ideacional pode expressar uma avaliação positiva ou negativa. Identificando os conceitos3 que servem como base para as avaliações, podemos analisar como os conjuntos de valores subjacentes às descrições das atividades e as estratégias usadas nos press releases e notícias para construir suas avaliações no texto. Seguindo a visão de Lemke (1992:83), isso envolve traçar relações intertextuais que nos permitam interpretar uma determinada ação ou característica e dizer se ela é apropriada ou significativa para uma determinada prática social. Para responder a estas perguntas, foi coletado um corpus formado por pares compostos por um press release e uma notícia que tratassem de uma mesma atividade da empresa. O motivo para o uso de pares de press releases e notícias em vez da comparação de dois corpora, um com todos os press releases da empresa e o outro com todas as notícias sobre a empresa no período, foi a possibilidade de comparar individualmente os recursos léxico-gramaticais usados para descrever cada tópico. Essa comparação individual foi considerada necessária devido a dois fatores: a variação de significado das palavras de acordo com o contexto e a diversidade dos recursos léxico- gramaticais que podem ser usados para realizar os significados ideacionais e interpessoais, conforme descrito nos capítulos de fundamentação teórica e metodologia deste trabalho. 
A análise comparativa dos recursos léxico-gramaticais presentes nos press releases e notícias foi baseada em ferramentas oferecidas pela Lingüística de Corpus, com o uso do aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004). A Lingüística de Corpus foi desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros de Sinclair e Leech, ambos publicados no ano de 1966 (citados em Berber-Sardinha, 2000:332), e estuda a linguagem como 
3 O termo “conceito” é usado neste trabalho em seu sentido genérico, de “noção” e “idéia”, não utilizando o arcabouço teórico da Teoria do Conceito, descrita, entre outros, por Dahlberg (1978).
Introdução 
20 
sistema probabilístico em uma abordagem empirista (Berber-Sardinha, 2000:349), em uma visão da linguagem alinhada à da LSF. 
A análise comparativa entre corpora de diferentes autores não é comum em análises de Avaliatividade, não sendo de meu conhecimento a existência de estudos com tal abordagem metodológica. Para lidar com as especificidades da análise comparativa de um aspecto lingüístico como a avaliação, que pode ser expressa nos textos por uma diversidade tão grande de recursos, utilizei procedimentos desenvolvidos com base no conceito de palavras significativamente exclusivas, apresentado no capítulo de fundamentação teórica deste trabalho. Dessa maneira, o presente estudo procura trazer uma contribuição tanto ao estudo da avaliação na linguagem empresarial quanto à metodologia de análise de Avaliatividade baseada em corpus em um balanço entre a análise quantitativa e a qualitativa que, segundo Martin e White (2005:260) “é um importante desafio à medida que procuramos aprofundar o nosso conhecimento da avaliação no discurso”. 
Além desta introdução, este trabalho compreende os seguintes capítulos: 
O Capítulo 1, de Fundamentação Teórica, apresenta um breve histórico e os conceitos básicos da Lingüística Sistêmico-Funcional, incluindo os modelos usados para descrever suas dimensões fundamentais, além das descrições das metafunções ideacional e interpessoal e os recursos léxico-gramaticais usados para realizar esses significados, incluindo os estudos relacionados à Avaliação e Avaliatividade. 
O Capítulo 2, de Metodologia de pesquisa, descreve os procedimentos usados na pesquisa, incluindo as perguntas de pesquisa, os procedimentos de coleta de corpus e a descrição do corpus coletado, os procedimentos e instrumentos de análise usados na análise comparativa do corpus e as listas de palavras resultantes dessas comparações. 
O Capítulo 3, de Apresentação e discussão dos resultados, inclui a apresentação dos resultados obtidos e a discussão desses resultados para responder as perguntas de pesquisa, compreendendo a identificação de padrões ideacionais, os recursos avaliativos utilizados e os valores envolvidos nessas avaliações. 
As Considerações Finais deste trabalho apresentam de forma resumida os principais resultados obtidos, as limitações da pesquisa e os sugerem possíveis desenvolvimentos nos procedimentos e análises realizadas no âmbito desta pesquisa.
I. Fundamentação teórica 
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I. Fundamentação teórica Este capítulo apresenta a fundamentação teórica que baseia a metodologia e as análises descritas nos próximos capítulos. Como dissemos anteriormente, a teoria lingüística que baseia esta pesquisa é a Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), principalmente por seu foco na funcionalidade da linguagem e na interpretação dos textos em seus contextos de uso, além do poderoso ferramental analítico oferecido para a descrição da linguagem. A seguir, são apresentadas as teorias de comunicação e marketing utilizadas neste trabalho, que descrevem o sistema de marketing proposto por Kotler (1990:49), destacam a importância da comunicação nessas relações e apresentam os materiais de comunicação incluídos nesse trabalho, os press releases e as notícias. Este capítulo inclui também um breve histórico do mercado de telecomunicações no Brasil, que oferece informações de contexto para a interpretação dos dados no mercado brasileiro. As próximas seções descrevem a visão funcional da linguagem oferecida pela lingüística sistêmico-funcional, incluindo a descrição das metafunções ideacional e interpessoal, e de suas realizações léxico-gramaticais, os estudos de avaliação, como os publicados por Hunston e Thompson (2000), entre outros, e o sistema de Avaliatividade proposto por Martin (2000). 1.1. A visão funcional da linguagem da LSF A LSF estuda a linguagem a partir de um ponto de vista sócio-semiótico, considerando-a como um dos diversos sistemas de criação de significados que fazem parte da cultura de uma sociedade (Halliday e Hasan, 1989:03). Por essa visão, os membros de uma sociedade trocam significados uns com os outros para executar tarefas nas atividades reconhecidas como próprias dessa sociedade. 
A análise sistêmica mostra que a funcionalidade é uma característica intrínseca à linguagem. Segundo Halliday (1994:xiii), a linguagem seria o produto de um processo evolucionário, orientado “pelas maneiras como a linguagem foi usada por dezenas de milhares de gerações para satisfazer as necessidades do homem”. Dessa forma, para Halliday e Matthiessen (2004:31), “toda a arquitetura da linguagem segue linhas funcionais
I. Fundamentação teórica 
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e a linguagem é como é devido às funções nas quais ela se desenvolveu na espécie humana”, onde por funções da linguagem podemos entender “as maneiras pelas quais as pessoas usam a linguagem” (Halliday e Hasan, 1989:15). Os aspectos funcional e semântico da linguagem são destacados por Eggins (1994:2) em quatro premissas básicas da LSF: (i) o uso da linguagem é funcional; (ii) a função da linguagem é criar significados; (iii) os significados são influenciados pelo contexto social e cultural no qual eles são trocados; e (iv) o processo de uso da linguagem é um processo semiótico, que envolve a criação de significados por escolhas. (Eggins (1994:2) Essas premissas destacam a importância do significado na LSF. Halliday (1992:353) explica o conceito de significado como sendo um produto do impacto da experiência do mundo externo ao falante em sua consciência interna. Isso quer dizer que o falante organiza em sua consciência na forma de significados todas as percepções captadas por seus sentidos das coisas do mundo ao seu redor e das relações sociais com os outros membros de seu grupo. Essa organização da experiência em significados depende, portanto, da forma como o falante vê o mundo, da cultura da sociedade da qual cada falante faz parte, incluindo as práticas sociais comuns e as formas como a linguagem é utilizada. 
A definição de texto na LSF também segue critérios funcionais, sendo “um instrumento para a troca de significados que constituem o sistema social” (Halliday 1978:182) e “uma instância de linguagem que está realizando alguma função em um contexto” (Halliday e Hasan, 1989:10). Assim, um texto pode ser visto como um evento interativo, uma troca social de significados (Halliday e Hasan, 1989:11), que “simultaneamente reflete a relação entre o falante e o mundo, interpretando a experiência, e a relação entre o falante e os outros, com o estabelecimento de relações sociais”. Eggins (1994:5) destaca a importância da funcionalidade, definindo texto como “uma interação lingüística completa (falada ou escrita), preferencialmente do início ao fim”. Dessa maneira, a questão do que é considerado texto parece estar relacionada ao cumprimento de uma função desejada pelo falante, mesmo que não possamos definir com certeza todo o alcance e complexidade do propósito comunicativo de um falante ao criar um texto.
I. Fundamentação teórica 
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Halliday (1972:350) diz que, apesar do imenso número de maneiras diferentes pelas quais usamos a linguagem, podemos identificar um conjunto finito de funções com características que são comuns a todos esses usos. As funções básicas da linguagem são expressar a experiência humana e desempenhar relacionamentos pessoais e sociais. Para Halliday (1994:xiii), os recursos semânticos que executam essas funções podem ser reunidos em três metafunções. O conceito de metafunção é definido por Halliday e Hasan (1989:44) como sendo “a parte do sistema de uma linguagem desenvolvida para executar uma função específica.” As três metafunções são: ideacional (a representação de experiências), interpessoal (associada às relações sociais entre os participantes do discurso) e textual (o modo como organizamos as mensagens). Neste modelo, a metafunção textual, pode ser considerada uma função que habilita as outras duas, pois organiza o fluxo discursivo e cria coesão e continuidade ao desenrolar do texto, segundo Matthiessen, (1995:20), é a metafunção que “expressa os significados ideacionais e interpessoais como informações que podem ser compartilhadas entre o falante e o ouvinte.” 1.2. A relação entre texto e contexto Para Halliday (Halliday e Hasan, 1989:47), “o relacionamento entre texto e contexto é dialógico; o texto cria o contexto na mesma medida em que o contexto cria o texto”. Esse é um conceito básico da LSF, que está alinhado à visão de Firth, para o qual “todo significado é função de um contexto”, ou seja, um mesmo texto em contextos diferentes daria origem à criação de significados diferentes (Halliday e Hasan, 1989:10). A LSF utiliza os conceitos de contexto de situação e contexto de cultura para descrever o ambiente em que os textos são utilizados. O contexto de cultura é um ambiente que vai além do contexto de situação, que compreende todo o retrospecto cultural dos participantes e das práticas em que estes estão envolvidos. Lemke destaca o papel do contexto de cultura na criação de significados: 
O “contexto de cultura” deve ser representado não apenas pelos sistemas de recursos semióticos que nos dizem o que pode ser significado, mas também a caracterização do que é significado recorrentemente: dito e feito em um texto após o outro e em uma ocasião de discurso após a outra. Somente dessa maneira podemos interconectar textos, contextos situacionais e os sistemas mais amplos de
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atitudes, crenças, valores e opiniões de uma comunidade social real. (Lemke, 1988:30) O contexto de situação é definido por Halliday e Hasan (1989:11) como o contexto no qual o texto se desenrola e o ambiente imediato no qual um texto está tendo uma função (1989:46). Para a LSF, o contexto de situação é um construto semiótico de natureza não lingüística que descreve a situação com base em princípios funcionais, seguindo a definição de Firth, sendo apropriado para a análise de eventos de linguagem (Hasan, 1995:186-190).. Para Hasan, esta é uma visão que difere do conceito original de Malinowski, para o qual o contexto faria referência a tudo significativo que acontece concorrentemente com a atividade de fala. O contexto de situação é formado por um conjunto de categorias que descreve uma realidade construída intersubjetivamente entre os interactantes. Segundo Halliday e Hasan (1989:12), os princípios que podemos usar para interpretar o contexto social de um texto, ou seja, o ambiente no qual os significados são trocados, são descritos pelas variáveis de contexto denominadas campo (field), relações (tenor) e modo (mode): 
 O campo do discurso refere-se ao que está acontecendo, à natureza da ação social que está sendo executada: no que é que os participantes estão envolvidos 
 As relações do discurso referem-se a quem está participando da interação, à natureza dos participantes, seus status e papéis: que tipos de relações entre papéis são obtidos entre os participantes, os tipos de papéis de fala que estão sendo aceitos no diálogo e todo o conjunto de relações socialmente significativas nas quais os falantes estão envolvidos. 
 O modo do discurso refere-se a que papel a linguagem está desempenhando, o que é que os participantes estão esperando que a linguagem faça por eles na situação: a organização simbólica do texto, o status que ele tem e a sua função no contexto, incluindo o canal (falado, escrito, etc.) e também o modo retórico, o que está sendo feito pelo texto, em termos de categorias como persuasivo, expositório, didático, etc. (Halliday e Hasan, 1989:12) 
Conforme Halliday e Hasan (1989:38), todo texto carrega informações sobre o seu contexto de uso; dessa forma, podemos recuperar as características de campo, relações e
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modo da situação a partir do texto. A LSF descreve essa relação entre texto e o contexto por um modelo que representa a linguagem (Halliday e Matthiessen, 2004:24), como um sistema semiótico complexo, com vários níveis, ou estratos. A representação do sistema da linguagem em estratos mostra como a gramática faz a interface entre o que acontece fora da linguagem (os acontecimentos e situações do mundo e os processos sociais que acontecem nele) e os fraseados (wordings)4 pelos quais os significados dessa experiência humana são organizados na linguagem. Como explica Hasan (1995:212) esse processo é constituído por duas partes: na primeira, a experiência e as relações interpessoais são transformadas em significado, no estrato da semântica. Em seguida, o significado é transformado em palavreado, no estrato da léxico-gramática, em uma relação entre estratos denominado realização. A figura 1 apresenta uma representação da relação entre as variáveis de registro, as metafunções e os principais sistemas gramaticais. 
contexto (variáveis de contexto) 
modo 
relações 
campo 
metafunções (significados) 
textual 
interpessoal 
ideacional 
sistemas gramaticais (fraseados) 
tema 
modo 
transitividade 
Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática Essa figura mostra que o aspecto funcional da linguagem perpassa toda a relação entre o texto e contexto. Dessa maneira: 
 a variável de campo tende a ser realizada por significados da metafunção ideacional, que tende a ser realizada pelo sistema gramatical de Transitividade; 
 a variável de relações tende a ser realizada por significados da metafunção interpessoal, que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Modo; e 
 a variável de modo tende a ser realizada por significados da metafunção textual, que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Tema. 
4 Os termos da LSF utilizados neste trabalho foram traduzidos conforme a lista de termos de sistêmica disponível em http://www2.lael.pucsp.br/~tony/sistemica/
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A relação entre os diferentes tipos de linguagem usados nas diversas situações é representada pelo conceito de registro. Segundo Halliday e Hasan: “o registro é um conceito semântico, definido como uma configuração de significados que estão tipicamente associados, por um lado, a uma determinada configuração situacional formada pelas variáveis de campo, relações e modo descritas acima; e por outro, às características léxico-gramaticais que realizam esses significados”. (Halliday e Hasan, 1989:38) Dessa maneira, o conceito de registro parece expressar um mapeamento entre um contexto de uso e as características dos textos usados nesse contexto, realizadas por recursos léxico-gramaticais. O termo léxico-gramática expressa a união do léxico e da gramática em um único estrato, em um continuum do qual o léxico e a gramática são pontos extremos. Esse continuum expressa a realização de significados pelas operações simultâneas da escolha de léxico e a escolha de estruturas gramaticais. Em termos simples, ao expressarmos um significado, construímos orações escolhendo determinadas palavras e determinadas estruturas gramaticais, como em o homem andou rapidamente / O homem correu. Aqui, temos significados próximos expressos por uma estrutura gramatical, na qual a expressão do significado de “movimento” (no processo andou) é modificada pela expressão de significado de “alta velocidade” (na circunstância de modo rapidamente) no primeiro exemplo. No segundo exemplo, esses dois significados estão expressos por um único item lexical (o processo correu) no estrato do fraseado. Segundo Halliday (1972:351), o conceito de sistemas gramaticais nos permite mostrar como as funções da linguagem estão incorporadas à gramática como “componentes funcionais”. Por essa perspectiva, (Halliday, 1978:148), o texto é um produto dos componentes funcionais do sistema semântico, que operam em conjunto no texto de forma integrada, sendo “realizados simultaneamente na oração em inglês, mas não de forma discreta de forma que possamos apontar um segmento da oração e dizer que pertence a um significado e outro segmento como que pertencendo a outro” (Halliday, 1973:317). Assim, não é possível “dizer que uma determinada palavra ou sintagma tenha apenas um significado experiencial e que outra tenha apenas significado interpessoal” (Halliday e Hasan, 1989:23). O quadro 1 apresenta classificações gramaticais (descritas mais à frente) de uma mesma oração sob o ponto de vista das três metafunções.
I. Fundamentação teórica 
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Desde 1815 
o país 
não tem sido 
perturbado 
por nenhuma guerra 
Experiencial 
Circunstância 
Meta 
Processo 
Ator 
Interpessoal 
Adjunto 
Sujeito 
Finito 
Predicador 
Adjunto 
Textual 
Tema 
Rema 
Quadro 1. Análise sob as três metafunções (adaptado de Thompson, 1996a:34) Dessa maneira, podemos atribuir uma função a um elemento da oração quando fazemos a análise sob o ponto de vista de uma metafunção, mas isso não impede que atribuamos outra função à mesma palavra ou sintagma quando analisada sob o ponto de vista de outra metafunção. Em termos práticos, essa flexibilidade nos permite analisar a função de cada oração inicialmente por uma única metafunção para depois analisar as maneiras pelas quais esses recursos atuam em conjunto na criação de significados. 1.3. Estratificação e metáforas gramaticais Para Halliday (1998:189), o significado é criado em um espaço semiótico definido pelo estrato semântico (que faz interface com o mundo dos fenômenos experienciais) e o estrato léxico-gramatical (que faz interface com os sistemas de fonologia e grafologia). Nesse sistema estratificado, a experiência é transformada em significado por um mapeamento entre significados e formas, que pode ser feito por diversas maneiras diferentes. Essas diferentes maneiras de realização guardam entre si uma relação de agnação (agnation, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:31), pela qual expressões agnatas entre si têm significados próximos, realizados de maneiras diferentes. Segundo Halliday (1998:188), os significados podem ser expressos, ou realizados por diferentes formas por um processo de metáfora gramatical. As metáforas gramaticais diferem das metáforas lexicais, cujo conceito é mais próximo da metáfora tradicional (Halliday, 1998:191), e que normalmente fazem a oposição entre dois termos. No exemplo os frutos de seu esforço, temos uma oposição entre frutos/resultados, onde uma construção mais literal seria os resultados de seu esforço. Esse exemplo mostra que houve apenas a substituição do léxico, sem alterações na estrutura gramatical (Halliday, 1998:213). 
Na metáfora gramatical, segundo Halliday (1998:213), há uma mudança de uma categoria gramatical para outra, que envolve operações complexas, com a mudança vertical de nível de constituência e uma mudança horizontal, de classe e função. Essas operações são apresentadas em maiores detalhes nas descrições das metáforas gramaticais ideacionais e interpessoais, incluídas nas próximas seções, que descrevem as realizações léxico-
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gramaticais das metafunções ideacional e interpessoal. Como este trabalho não analisou em detalhes a metafunção textual, os sistemas gramaticais relacionados a essa metafunção não serão descritos aqui. Entre as fontes de referência que descrevem tais sistemas gramaticais estão, além do próprio Halliday (1994) e Halliday e Matthiessen (2004), os trabalhos de outros sistemicistas como Fries (1993) e Matthiessen (1995). No idioma português, as primeiras descrições dos sistemas textuais podem ser encontradas em Barbara e Gouveia (2001), Gouveia e Barbara (2001, 2003) e Ventura e Lima-Lopes (2002). 1.4. A metafunção ideacional A metafunção ideacional reúne os significados usados para criar representações de mundo. Essas representações são modelos ou padrões de experiência que, segundo Halliday (1994:106), constroem “um quadro mental da realidade, para fazer sentido do que acontece ao redor e no interior do falante”. Criando essa representação de mundo, o falante impõe uma ordem no fluxo infinito e contínuo de eventos, segmentando esse fluxo em acontecimentos distintos (Halliday e Matthiessen, 2004:170). Nessa representação, cada acontecimento identificado pelo falante é modelado na oração por um construto denominado figura, cujos elementos são “um processo que se desenrola no tempo, participantes diretamente envolvidos neste processo de alguma maneira e opcionalmente, circunstâncias de tempo, espaço, causa, maneira e alguns outros tipos” (Halliday e Matthiessen, 2004:170). As seqüências de figuras são realizadas por seqüências de complexos oracionais (Halliday e Matthiessen, 2004:364) para expressar diversos tipos de relações lógico- temporais entre os fragmentos de realidade percebidos pelo falante, como relações de causa e efeito ou seqüências de acontecimentos no tempo. As figuras podem ser combinadas pelo falante em seqüências, que são séries de figuras que podem ser expandidas indefinidamente por relações de expansão e projeção. Nas relações de expansão, uma figura expande outra, explicando-a em outras palavras, somando-se a ela ou enriquecendo-a com detalhes; enquanto que nas relações de projeção, uma figura pode projetar outra como fala ou pensamento (Halliday e Matthiessen, 1999:50-51). A representação da experiência humana em termos semânticos, segundo Halliday (1979:211), pode ser descrita por dois modos distintos, o lógico e o experiencial. 
No modo experiencial, segundo Halliday (1979:211), a realidade é realizada mais concretamente, na forma de construtos cujos elementos fazem referência a coisas. As
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estruturas lingüísticas atuariam como metáforas para as relações entre coisas e os elementos que participam dessas relações e são definidos por elas, sendo esses elementos identificados como Processo, Ator, Meta, Extensão, Maneira e outros. Estes, por sua vez, são interpretados como “papéis” “ocupados por” diversas classes de fenômenos, e essas classes de fenômenos têm nomes, nomes como lua e brilho e sombrio. No modo lógico, a realidade é representada em termos mais abstratos, na forma de relações que são independentes da natureza das coisas. Para Halliday (1979:215), as estruturas lógicas são de tipo diferente das estruturas experienciais, interpessoais e textuais. Em termos da teoria sistêmica, onde esses três tipos de estrutura – particulada (elementar), prosódica e periódica – geram simplexos (orações, grupos, palavras, unidades de informação, ou seja, funções atribuídas a elementos individuais), as estruturas lógicas geram complexos (complexos oracionais, complexos de grupos, etc., ou seja, funções atribuídas à relação entre dois ou mais elementos). Segundo Halliday e Matthiessen (2004:61), a função experiencial tende a ser realizada por estruturas segmentais, baseada na constituência, e a função lógica tende a ser realizada por estruturas iterativas. A função lógica e a experiencial da metafunção ideacional são descritas em mais detalhes nas próximas subseções. 1.4.1. A função lógica Para expressar a interpretação de sua experiência, o falante organiza os fenômenos, em seus vários níveis de complexidade, em relações de expansão e projeção (Halliday e Matthiessen, 1999: 106). Essas relações lógicas são descritas abaixo: Expansão: Elaboração (i.e, por exemplo, viz) – uma oração expande a outra elaborando outra (ou parte desta), dizendo a mesma coisa em outras palavras, especificando em maiores detalhes, comentando ou exemplificando. Extensão (“e”, “ou”) – uma oração estende a outra quando inclui algum elemento novo, dando uma exceção ou oferecendo uma alternativa. Intensificação (então, ainda, dessa forma) – uma oração intensifica a outra enriquecendo está última, qualificando-a com algum elemento circunstancial de tempo, lugar, causa ou condição.
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Projeção: Locução: “diz” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma locução, uma construção de fraseado Idéia: “pensa” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma idéia, uma construção de significado. (Halliday e Matthiessen, 2004:378) Deve-se destacar que, embora as definições acima estejam aplicadas à oração, as relações lógicas podem ser expressas entre elementos de todos os níveis, da palavra ao complexo oracional (Halliday e Matthiessen, 2004:367). Um sistema importante na construção de complexos lógicos é o de Conjunção (Halliday e Matthiessen, 2004:541), que estabelecem relações de elaboração, extensão e intensificação entre elementos e que em trabalhos anteriores (Halliday e Matthiessen, 1999:58) era realizado por um elemento denominado relator. Alguns exemplos de conjunções são: Elaboração: em outras palavras (expositório), por exemplo (explicativo), etc. Extensão: ainda assim, mas (adversativo), por outro lado (variativo), etc. Intensificação: portanto (causal), da mesma forma (maneira), etc Um sistema detalhado de Conjunção pode ser encontrado em Halliday e Matthiessen (2004:541). Além da relação lógico-semântica entre as orações, a função lógica também é descrita pela interdependência, também chamada de taxe, entre as orações (Halliday e Matthiessen, 2004:373). Segundo Halliday e Matthiessen (2004:374-75), quando as duas orações são de mesmo status, temos uma relação paratática com uma oração iniciadora e outra continuadora, o que na gramática tradicional é conhecido como coordenação. Quando as duas orações forem de status diferentes, temos uma relação hipotática com uma oração dominante e outra dependente, o que na gramática tradicional é descrito como subordinação.
I. Fundamentação teórica 
31 
1.4.2. A função experiencial Para Halliday e Matthiessen (2004:177), as figuras que representam a representação de mundo do falante são realizadas em orações compostas por elementos denominados processo, participante e circunstância. Os elementos que formam o “centro” da oração – o processo e os participantes envolvidos – expressam facetas complementares da mudança, a transiência e a permanência. A transiência é a experiência de mudança no tempo, expressa no grupo verbal que tem a função de processo. A permanência é a experiência de estabilidade no tempo, tendo uma localização no espaço (concreto ou abstrato), expressa no grupo nominal que tem a função de participante. O quadro 2 mostra os sistemas ideacionais de TEMPO VERBAL e DETERMINAÇÃO. O sistema de tempo verbal permite relacionar os fenômenos observados pelo falante no tempo (um processo aconteceu antes ou depois de outro processo), enquanto que o sistema de determinação permite posicionar uma entidade com relação a outra ou com relação a um grupo de entidades (onde, por exemplo, aquele homem diferencia um indivíduo em particular dos outros). 
tipo de elemento 
localização 
sistema 
termos 
processo (realizado pelo grupo verbal) 
tempo referencial 
TEMPO VERBAL 
passado (era) presente (é) futuro (será) 
participante (realizado pelo grupo nominal) 
espaço referencial 
DETERMINAÇÃO 
específica (o, esse, este, aquilo, etc.) não específica (um, algum, qualquer, etc.) 
Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais (adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004:178) As próximas subseções descrevem em maiores detalhes os elementos da transitividade: A) Participantes 
Segundo Halliday e Matthiessen (1999:54), o participante é um elemento inerente ao processo, que causa a sua ocorrência ou que medeia este processo, havendo muitas maneiras pelas quais o participante pode tomar parte de um processo: “executando o processo, sentindo-o, recebendo-o, sendo afetado por ele, dizendo-o e assim por diante”. Em Halliday e Matthiessen (1999:60), os participantes são classificados como coisas
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32 
(things) com qualidades (qualities). Um sistema de taxonomia de Coisas é apresentado na figura 2: Figura 2. Taxonomia de participantes Alguns exemplos destes elementos são (traduzido de Halliday e Matthiessen, 1999:61): 
 Consciente: pessoa, homem, mulher, criança, etc. 
 Animal: cavalo, cachorro, formiga, etc. 
 Objeto: casa, pedra, martelo, etc. 
 Substância: água, ar, areia, etc. 
 Abstração material: história, matemática, calor, sabor, cor, etc. 
 Instituição: governo, escola, empresa, etc. 
 Objeto semiótico: livro, documento, pintura, receita, etc. 
 Abstração semiótica: noção, idéia, fato, princípio, etc. 
A identificação da natureza dos participantes é importante para a análise, pois determinados tipos de participante estarão associados a determinados processos e, como discutido na seção de Avaliação, também a interpretação dos tipos de Atitude que podem ser associados a determinados tipos de participantes. As descrições das funções dos participantes no sistema de Transitividade são apresentadas na seção B, como parte das descrições dos processos aos quais esses participantes estão associados. A.1) Qualidades 
Como visto acima, os participantes são realizados por grupos nominais, compostos por uma Coisa (Thing), que é o núcleo semântico do grupo nominal. Esses participantes
I. Fundamentação teórica 
33 
podem ser modificados por vários tipos de elementos, como mostrado em Halliday e Matthiessen (2004:312-324): 
 Dêitico – usado para especificar a coisa expressa no grupo nominal, como esse, esta, aquele, meu, seu. Em inglês, essa função também é cumprida pelo genitivo „s, que não existe em português. 
 Pós-Dêitico – usado em conjunto com o Dêitico, para especificar ainda mais a coisa, fazendo referência “à sua fama ou familiaridade, status no texto ou similaridade/dissimilaridade com outro subconjunto de coisas” (Halliday e Matthiessen, 2004:316). 
 Numerativo – que indica uma característica numérica, como por exemplo: o governador nomeou | sete ministros |. 
 Epíteto – destaca uma característica da Coisa, como bonita, velho, rápido. 
 Classificador – indica uma categoria na qual podemos classificar a Coisa, como por exemplo, (trens) elétricos 
 Qualificador – sintagmas e orações deslocadas em nível (rankshift), encaixadas no grupo nominal, referidas por Halliday como pós-modificadores (post- modifiers)5, como em: a criança com o chapéu azul e a criança que usava um chapéu azul. 
Segundo Halliday e Matthiessen (2004:486), podem ser formados grupos nominais complexos, formados por mais de um participante, segundo as relações lógicas de expansão e projeção (como em meu irmão e eu, onde “meu irmão” e “eu” guardam entre si uma relação lógica de expansão: extensão). Além disso, podem ser formadas expressões de Faceta (Facet) no grupo nominal (2004:334), nas quais um participante representa uma parte ou característica de outro (como em o topo da montanha). B) Processo 
O processo é o núcleo da transitividade, que realiza a metafunção ideacional (Halliday, 1994:106). Usando os recursos do sistema ideacional, o falante interpreta o mundo da experiência por meio de um conjunto de tipos de processos, representados na 
5 No idioma português, os elementos Epítetos e Classificadores, diferentemente do inglês, tipicamente são colocados após o núcleo do grupo nominal, o que parece tornar o conceito de pré e pós-modificador do grupo nominal impróprio em nosso idioma. Desconheço a existência de estudos sobre essa questão.
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figura 3. A representação dos tipos de processos por um círculo mostra, segundo Halliday (1994:107) e Halliday e Matthiessen (2004:172), que (i) não há prioridade de um processo sobre o outro e que (ii) embora haja áreas centrais, relacionadas a significados prototípicos dos processos, essas regiões são contínuas, com fronteiras indistintas entre si. Os principais tipos de processos estudados pela LSF são os processos Material (que acontecem no mundo material), Mental (que descrevem experiências internas do ser humano) e Relacional (processos de classificação e identificação). Halliday (1994:107) descreve também outros processos, que estariam nas fronteiras dos processos principais, o Comportamental (manifestações exteriores dos processos mentais), Verbal (relações simbólicas construídas na consciência humana e desempenhadas na forma de linguagem) e o Existencial (pelo qual os fenômenos existem ou acontecem). Figura 3. Representação dos tipos de processos Alguns exemplos desses processos são mostrados a seguir: 
 Processo Material: Eles construíram uma casa. Nesse exemplo, temos um participante (eles) responsável por uma ação material (construíram) e um participante que foi criado fisicamente a partir dessa ação (casa). 
 Processo Mental: Ela gostou do presente. Esse exemplo mostra uma manifestação da consciência (gostou) de um participante (ela) provocada por outro participante (presente). 
 Processo Relacional: A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil. Esse processo estabelece uma relação entre dois participantes, no qual um deles (Tele_A)
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é representado (é) como um participante que ocupa uma determinada posição (a provedora de telecomunicações premium do Brasil) 
 Processo Verbal: Ele disse: “olá”. Nesse exemplo, temos um participante (ele) que cria uma locução (“olá”) 
 Processo Comportamental: A moça sorriu. Esse processo apresenta uma reação física (sorriu) resultante de uma manifestação da consciência de um participante (a moça) 
 Processo Existencial: Há uma árvore na montanha. Esse processo representa a existência de um participante (a árvore). 
Os Processos Materiais expressam variações provocadas por ações físicas, como a criação ou transformação de algo (Halliday e Matthiessen, 2004:179). Os principais participantes de processos materiais são: 
 Ator (Actor): O participante responsável pela entrada de energia no processo, por exemplo, João, em João chutou a bola. 
 Meta (Goal): O participante que é modificado pelo processo. No exemplo acima, a Meta seria a bola. 
 Escopo (Scope): Uma entidade que existe independentemente do processo e que não é afetada por este (HALLIDAY E MATTHIESSEN, 2004:192). Esse participante representa um domínio dentro do qual ocorre o processo (por exemplo, tênis, em João joga tênis) ou expressa o processo propriamente dito (por exemplo, banho, em João toma banho) 
 Recebedor (Recipient): Participante que recebe um produto, por exemplo, João, em João levou um soco. 
 Cliente6 (Client): Participante que recebe um serviço. Ele recebeu elogios 
 Atributo (Attribute): Especifica o estado resultante da meta (por exemplo, branca, em deixou a roupa branca) (Halliday e Matthiessen, 2004:194) 
Processos Mentais: Processos relacionados à experiência da consciência do falante, causados por algo que altere a consciência ou que nela seja originado (Halliday e Matthiessen, 2004:197). Os principais participantes desses processos são: 
6 Nas análises, optei por manter a categoria de Beneficiário (Halliday 1994:144), para identificar o Recebedor e o Cliente, como aquele “a quem ou para quem o processo ocorre”.
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 Experienciador (Senser): Um participante consciente ou representado como dotado de consciência, que sinta, pense, queira ou perceba (Halliday e Matthiessen, 2004:201), como Maria, no exemplo: Maria gostou do presente. 
 Fenômeno (Phenomenon): O participante externo ao falante que provoca a reflexão, sentimento, desejo ou percepção (Halliday e Matthiessen, 2004:203), como presente, no exemplo, Maria gostou do presente 
Processos Relacionais: Processos que caracterizam e identificam (Halliday e Matthiessen, 2004:210). Os processos relacionais são mostrados no quadro 3: 
atributivo “y é um atributo de x” 
identificador “y é a identidade de x” 
(1) intensivo “x é y” 
Maria é inteligente 
Maria é a líder; A líder é Maria 
(2) possessivo “x tem y” 
Maria tem um piano 
O piano é de Maria 
(3) circunstancial “x está em y” 
A festa é em uma terça-feira 
Amanhã é dia 10; Dia 10 é amanhã 
Quadro 3. Tipos de processos relacionais Os participantes dos processos relacionais são: Portador (Carrier): Entidade à qual foi atribuída uma classe (Halliday e Matthiessen, 2004:219), como em Maria é bonita, que coloca Maria entre a classe de pessoas bonitas. Em processos relacionais possessivos, o Portador é o participante Possuidor (Possessor), como em Maria tem um piano, onde Maria é caracterizada como alguém (Possuidor) que tem um piano. Atributo (Attribute): Classe atribuída ao Portador. Nos exemplos acima, o Atributo de Maria é bonita. Em processos relacionais possessivos, o Atributo é o participante Possuído (Possessed), que no exemplo acima, seria o piano. Identificado (Identified): O elemento ao qual é atribuída uma identificação (Halliday e Matthiessen, 2004:227), como as baleias em as baleias são os maiores mamíferos da Terra. Identificador (Identifier): O elemento que identifica um participante. No exemplo acima, o Identificador seria os maiores mamíferos da Terra.
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Adicionalmente aos participantes acima, temos os participantes Atribuidor (Attributor) e Designador (Assigner) que, respectivamente, são os participantes identificados no texto como os responsáveis pela atribuição e identificação (Halliday e Matthiessen, 2004:237), como eles, em Eles tornaram Maria feliz (atribuição) e Maria é vista por eles como bonita (identificação). Em Halliday e Matthiessen (2004:230), é discutida a interoperação entre as categorias Identificador/Identificado e Característica/Valor (Token/Value), relacionada à codificação e decodificação da identificação do participante na oração, que não será tratada aqui por não ter sido considerada relevante para as análises. Processos Comportamentais: Processos de comportamento fisiológico ou psicológico (Halliday e Matthiessen, 2004:248). Tem como participantes: Comportante (Behaver): O participante que expressa o comportamento, como Maria, em Maria riu. Comportamento (Behaviour): O comportamento observado, por exemplo, o sonho, em Maria teve um sonho, sendo um participante abstrato. Processos Verbais: Processos que expressam um dizer (Halliday e Matthiessen, 2004:252), transformando, assim uma locução ou idéia em participante. Tem como participantes: Dizente (Sayer): O participante identificado como o responsável pelo que foi dito, como João, em João disse: “Estou com fome”. Verbiagem (Verbiage): O participante que identifica o que foi dito; no exemplo acima, “Estou com fome”, sendo um participante semiótico. Receptor (Receiver): Um participante afetado pelo que foi dito, por exemplo, Maria em João acusou Maria de fraude. Processos Existenciais: Processos de existir (Halliday e Matthiessen, 2004:256), que representam algo que existe ou acontece. Nesses processos, o participante envolvido é o Existente (Existent) (Halliday e Matthiessen, 2004:258), como roubo em Houve um roubo.
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C) Circunstâncias Os processos podem ser expandidos por circunstâncias, consideradas por Halliday e Matthiessen (2004:263) como um processo “menor” (por não conter um verbo) subsidiário ao processo da oração principal. Segundo Halliday e Matthiessen (2004:261), o sintagma preposicional é uma construção híbrida, estando entre um grupo e uma oração, por ser formado por uma preposição, que atua quase como um verbo, e um grupo nominal, que não é diferente do participante da oração principal. Dessa forma, é feita a distinção entre participantes “diretos” e “indiretos”, sendo estes últimos participantes que participam “circunstancialmente” do processo. Os principais tipos de circunstância são descritos a seguir: As circunstâncias de Extensão e Localização expressam o desenrolar do processo no espaço e tempo. (Halliday e Matthiessen, 2004:264). Extensão (Extent): expressa a extensão do processo no tempo e espaço: a distância na qual o processo ocorreu ou a duração no tempo do processo. Inclui também a categoria de freqüência, que diz quantas vezes ocorre o processo. Localização (Location): expressa a localização do processo no tempo e espaço: o local onde o processo ocorreu ou o tempo (data/hora) em que ele ocorreu, como mostrado no quadro 4: 
Circunstâncias 
espacial 
temporal 
Extensão (inclui intervalo) 
Distância (Distance) andou (por) sete milhas parou a cada dez jardas 
Duração (Duration) parou (por) duas horas parou a cada dez minutos Freqüência (Frequency) bateu três vezes 
Localização 
Lugar (Place) trabalhou na cozinha 
Tempo (Time) levantou às seis da manhã 
Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização (traduzido de Halliday e Matthiessen, 2004:264) As circunstâncias de Maneira (Manner) expressam a maneira pela qual o processo ocorre, compreendendo as subcategorias de Meio, Qualidade, Comparação e Grau. As circunstâncias de Meio (Means) expressam os meios pelos quais o processo ocorre: as ligações para a Embratel em São Paulo podem ser feitas pelo número novo da operadora
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As circunstâncias de Qualidade (Quality) destacam uma característica do processo: O cartão telefônico tem se mostrado uma opção de mídia atraente para empresas que desejam colocar, de uma forma diferenciada, suas marcas em evidência. As circunstâncias de Comparação (Comparison) expressam uma semelhança ou diferença: O plano, lançado há sete meses, tem 100 mil usuários e funciona da mesma forma que a internet a cabo. (semelhança) Diferentemente das linhas fixas tradicionais, o Livre não cobra a assinatura mensal do usuário. (diferença) As circunstâncias de Grau (Degree) caracterizam a intensidade de uma característica associada ao processo. Agora, com a oferta das linhas para o público em geral, a tendência da demanda é aumentar ainda mais. As circunstâncias de Causa (Cause) expressam um motivo ou objetivo pelo qual ocorre o processo. Contém três subcategorias: As circunstâncias de Razão (Reason), que expressam condições existentes que levaram o processo a ocorrer. A Telefônica São Paulo economizará, só neste ano, cerca de R$ 1,5 milhão com postagem nos Correios, devido à redução do peso dos envelopes. As circunstâncias de Propósito (Purpose), que são as condições desejadas pelas quais o processo ocorre Para mais informações, é só acessar o site www.telefonica.com.br/midiaemcartao.
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As circunstâncias de Benefício (Behalf), que expressam tipicamente uma pessoa em favor da qual o processo ocorre. Além desta, para os clientes residenciais também estão disponíveis as versões 300, 450 e 600 Kbps. As circunstâncias de Contingência (Contingency) especificam um elemento do qual depende a ocorrência do processo. Essa categoria abrange os sub-tipos de Condição, Concessão e Falta. As circunstâncias de Condição (Condition) expressam circunstâncias que precisam ser obtidas para que o processo ocorra. Foi o que declarou à agência Reuters um tenente-coronel da Aeronáutica, ligado à administração da base aérea, sob a condição de anonimato. As circunstâncias de Concessão (Concession) expressam uma causa frustrada, com o sentido de “apesar” Mesmo com as tarifas promocionais, as ligações entre São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, podem sair mais baratas por outras operadoras. As circunstâncias de Falta (Default) têm o sentido de uma condição negativa, como em “se não houver” “a menos que”. Na ausência de tais agências, não ocorrerá o investimento privado necessário. As circunstâncias de Acompanhamento (Accompaniment) expressam uma forma de participação conjunta no processo, podendo ser comitativa (como em Fred veio com/sem Tom) ou aditiva (como em Fred veio, assim como/em vez de Tom) Isto inclui um ambiente de serviços de contingência para aplicações críticas, bem como um ambiente de testes e homologação de novos sistemas.
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As circunstâncias de Papel (Role) têm os subtipos de Guisa (Guise) e Produto (Product). As circunstâncias de Guisa expressam o significado de ser (atributo ou identidade) na forma de circunstância. Uma nova versão do serviço de banda larga da Telefônica, o Speedy, tem como alvo o usuário que faz "uso básico" da internet. As circunstâncias de Produto têm o significado de “tornou-se”, de forma similar a um atributo ou identidade. Em 1998, a instituição transformou-se em fundo de pensão fechado multipatrocinado. As circunstâncias de Assunto (Matter) são relacionadas a processos verbais, sendo equivalentes à Verbiagem, ao que está sendo descrito, referido ou narrado. Em relação ao ranking do Procon, é preciso entender que ele mostra números absolutos, sem levar em conta as dimensões da base de clientes das empresas que constam da lista. As circunstâncias de Ângulo (Angle) são relacionadas ao Dizente de uma oração “verbal” ou ao Experienciador de uma oração “mental”. As circunstâncias de Fonte (Source) são usadas para representar a fonte da informação. Segundo a empresa, a extensão dos prazos da dívida irá assegurar que a Embratel continue a investir para atender o mercado corporativo, governo e clientes residenciais. De acordo com o presidente da Anhembi Turismo, Caio Luiz de Carvalho, o evento não terá custo para a prefeitura ou para o Estado. As circunstâncias de Ponto de Vista (Viewpoint) são usadas para representar a informação dada pela oração como o ponto de vista de alguém. Para a Telemar, o comercial da Embratel é "propaganda enganosa".
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Halliday e Matthiessen (2004:262) estabelecem as seguintes relações entre os tipos de conjunções e as relações lógicas: 
 Intensificação: Circunstâncias de Extensão, Localização, Maneira, Causa e Contingência 
 Extensão: Circunstância de Companhia 
 Elaboração: Circunstância de Papel 
 Projeção: Circunstâncias de Assunto e Ângulo 
Deve-se destacar que essa é apenas uma breve descrição de toda a complexidade envolvida na identificação de participantes, processos e circunstâncias, que é uma das áreas que mais provocam discussões entre os sistemicistas. A próxima seção apresenta o conceito de metáforas gramaticais ideacionais, que descreve outras formas de realização dos significados ideacionais. 1.4.3. Metáforas ideacionais Como comentado acima, os significados podem ser expressos pelo uso de diferentes recursos léxico-gramaticais por um processo metafórico. Ao falar de metáforas, podemos distinguir formas congruentes e formas não congruentes, onde o conceito de congruência está relacionado, segundo Halliday (1998:208) à maneira pela qual a relação entre o significado e a classe gramatical começou a ser desenvolvida ao longo da evolução da linguagem. Segundo Halliday (1998:208), temos os seguintes padrões de congruência entre os significados associados à metafunção ideacional e as classes gramaticais: 
função semântica 
[expressa por] 
classe gramatical 
relator (em seqüências) 
conjunção 
processo menor (na circunstância) 
preposição 
processo 
verbo 
qualidade 
adjetivo 
entidade (“coisa”) 
substantivo 
Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais (Halliday, 1998:208) 
Dessa maneira, por exemplo, a forma congruente de se representar uma relação entre duas orações seria pelo uso de um relator, expresso por uma conjunção, a forma congruente de uma circunstância seria uma preposição; um processo teria como realização
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típica um verbo e um participante, um substantivo. Em Halliday e Matthiessen (2004:177), a descrição das realizações típicas dos elementos da transitividade na oração utiliza o conceito de grupos de palavras, onde os processos são realizados tipicamente por grupos verbais, os participantes, por grupos nominais, e as circunstâncias, por sintagmas preposicionais ou grupos adverbiais. Entretanto, esses mesmos significados podem ser expressos por formas não congruentes, que seriam variações nas formas de realização dos significados. Um exemplo dessas variações pode ser visto no quadro 6, que mostra uma relação de causa e efeito (você estudou, assim foi aprovado) realizada de maneiras diferentes: 
mudança de status 
mudança de nível 
exemplo 
De: relator: conjunção 
De: complexo oracional 
Você estudou, assim foi aprovado 
Para: circunstância 
Para: oração 
Você foi aprovado pelo estudo 
Para: processo 
Para: oração 
Sua aprovação resultou do estudo 
Para: qualidade 
Para: grupo nominal 
A aprovação decorrente de seu estudo ... 
Para: substantivo 
Para: grupo nominal 
O resultado de seu estudo foi a aprovação 
Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico (adaptado de Halliday 1998:212) Como podemos ver acima, a relação de causa/efeito da primeira oração, expressa pela conjunção (assim) está expressa por uma circunstância (pelo) na segunda oração, pelo processo (resultou) na terceira, por uma qualidade (decorrente) na quarta oração e por um participante (resultado) na última. Segundo Halliday (1998:211), qualquer elemento ideacional pode ser transformado em uma entidade, em um dos recursos mais poderosos de criação de significados, denominado nominalização (Halliday e Matthiessen, 2004:656). A transformação de ações e estados em participantes do discurso permite a atribuição de qualidades a ações (como em excelente defesa) e a composição de ações (como em o início da instalação), para que possamos atribuir papéis a ações e estados ou que omitamos o sujeito da ação (como em a implementação teve início em abril). A nominalização também tem um papel importante na avaliação, como mostrado em Martin (2006:180), permitindo que, por exemplo, “empacotemos” conjuntos de valores em uma palavra, como em promoção. 
Como já mencionado, na metáfora gramatical, há uma mudança de uma categoria gramatical para outra, que envolve a mudança vertical de nível de constituência e uma mudança horizontal, de classe e função (Halliday, 1998:213). Como as classes e funções gramaticais já estão descritas acima, a seguir são descritas as formas como os significados
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podem ser expressos em diferentes níveis da estrutura, que é a dimensão da LSF que se refere ao aspecto composicional da linguagem denominado constituência (Halliday e Matthiessen, 2004:9). Segundo Halliday e Matthiessen: (...) ao analisar a gramática, vemos que a estrutura de cada unidade é uma configuração orgânica, formada por unidades que têm funções distintas com relação ao todo. Essas unidades podem ser organizadas para formar complexos e seqüências iterativas, que trabalham juntas como uma única parte. Dessa forma, unidades menores podem formar unidades maiores, que podem ser reunidas para formar unidades maiores ainda. (Halliday e Matthiessen, 2004:9) Na teoria sistêmica, essa constituência é organizada em níveis (ranks) que organizam o modo como o significado é expresso na gramática. Em Halliday e Matthiessen (2004:9), são resumidos os cinco princípios da constituência, que mostram os modos pelos quais as unidades podem ser combinadas: 1. Há uma escala de nível na gramática de cada língua, que pode ser descrita por: complexo oracional, oração, grupo/sintagma, palavra e morfema (do maior para o menor nível). Como a análise gramatical analisa estruturas formadas por mais de uma palavra, os níveis usados na análise gramatical são o complexo oracional, oração e grupo de palavras. Esses níveis podem ser identificados pelo sistema de notação mostrado no quadro 7: 
||| 
complexo oracional 
[[[ ]]] 
complexo oracional deslocado 
<<< >>> 
complexo oracional encaixado 
|| 
oração 
[[ ]] 
oração deslocada 
<< >> 
oração encaixada 
| 
sintagma ou grupo 
[ ] 
sintagma ou grupo deslocado 
< > 
sintagma ou grupo encaixado 
Quadro 7. Convenção de notação para representar a constituência léxico-gramatical (adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004: 10) 2. Cada escala é formada por uma ou mais unidades do nível imediatamente inferior, como no exemplo abaixo: | A avenida | | será interditada | | para a festa | No exemplo acima, temos uma oração formada por três grupos de palavras: um grupo nominal (A avenida), um grupo verbal (será interditada) e um sintagma preposicional (para a festa).
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3. Unidades de mesmo nível podem formar complexos, como mostrado nos exemplos abaixo: Embratel indica | Weffort e Mendonça de Barros | para conselho Nesse exemplo, temos um grupo nominal complexo, formado por dois nomes próprios, Weffort e Mendonça de Barros. No exemplo abaixo, temos um complexo oracional formado por duas orações, uma iniciada por A Tele_B tem procurado (...) e a outra iniciada por sem esquecer a preocupação (...). ||| A Tele_B tem procurado patamares cada vez mais elevados de eficiência e produtividade, || sem esquecer a preocupação em atender os segmentos da sociedade de menor renda. ||| 4. Pode existir o deslocamento de nível (rank shift), pelo qual a unidade de um rank pode ser colocada em um nível inferior (downranked) para funcionar na estrutura de uma unidade de seu próprio nível ou de um nível inferior, como abaixo: As linhas da economia são voltadas para | um público [[[ que precisa de um telefone fixo, || mas quer controlar os gastos com chamadas para celulares ou interurbanos ]]] |. No exemplo acima, temos um grupo nominal que faz referência ao público-alvo da empresa. Esse grupo nominal contém um elemento de nível superior, um complexo oracional formado por duas orações (que precisa (...) e mas quer controlar (...)). 5. É possível que uma unidade seja encaixada dentro de outra, não como uma constituinte desta, mas de forma a dividi-la em duas partes separadas, como no exemplo abaixo: Amaral destacou |, no entanto, | que as empresas já praticam tarifas promocionais para DDD e DDI, menores que as autorizadas. Nesse exemplo, temos um sintagma preposicional (no entanto) encaixado, que divide em duas a oração principal (Amaral (...) destacou que). 
Após a apresentação dos principais recursos relacionados à metafunção ideacional utilizados na análise, a próxima seção analisa os recursos léxico-gramaticais que realizam a
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metafunção interpessoal, além dos desenvolvimentos baseados nessa teoria e os estudos de avaliação. 1.5. A metafunção interpessoal Além de interpretar a experiência, a linguagem também estabelece os papéis pessoais e sociais com os outros, pelos recursos da metafunção interpessoal. Como apontado por Halliday e Matthiessen: "a oração da gramática não é somente uma figura que representa um processo, mas também uma proposição ou proposta, pela qual informamos ou perguntamos, damos ordens ou fazemos ofertas e expressamos nossa avaliação ou atitude com relação ao que estamos tratando ou sobre o que estamos falando". (Halliday e Matthiessen, 2004:29) Uma das principais funções da linguagem é possibilitar a interação entre as pessoas, permitindo ao falante “entrar” em uma interação (Halliday, 1978:112) com outros falantes e agir sobre eles (Halliday 1994:xiii). Pelos recursos de criação de significados relacionados à metafunção interpessoal, o falante pode expressar status, atitudes sociais e individuais, avaliações e julgamentos (Halliday, 1970:189). Conforme Halliday (1994:68), “a oração é organizada como um evento interativo que envolve o falante, ou escritor, e o público”, no qual o falante assume uma função de fala e atribui uma função de fala ao ouvinte. Halliday (1994:68-69) utiliza dois critérios básicos para distinguir as funções de fala: se a linguagem é usada para dar ou pedir e a natureza do que está envolvido na troca, se bens e serviços ou informações. Com base nesses critérios, as funções de fala básicas são classificadas como oferta, comando, declaração ou pergunta, como mostrado no quadro 8. 
Papel na troca 
O que está sendo trocado 
bens e serviços 
informações 
dar 
oferta “você quer esta chaleira?” 
declaração “ele está dando a chaleira a ela” 
pedir 
comando “dê para mim esta chaleira!” 
pergunta o que ele está dando a ela? 
Quadro 8. Funções de fala (traduzido de Halliday, 1994:69) 
Segundo Halliday e Matthiessen (2004:110), as funções básicas de fala são “pontos de entrada para uma grande variedade de funções retóricas”, o que quer dizer que,
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combinando essas funções com outros recursos léxico-gramaticais que realizam a metafunção interpessoal, podemos fazer ofertas na forma de sugestões ou pedidos na forma de perguntas, por exemplo. No estrato da semântica, as trocas de bens e serviços são denominadas propostas e as trocas de informações são denominadas proposições (Halliday 1994:70-71, Halliday e Matthiessen, 2004:110). Os principais recursos lingüísticos relacionados à metafunção interpessoal são descritos a seguir. 1.5.1 O sistema de Modo Os significados relacionados à metafunção interpessoal são realizados na oração principalmente pelo sistema de Modo (Mood), que é a gramaticalização do sistema semântico das funções de fala (Halliday e Matthiessen, 2004:113). A estrutura do sistema de Modo é formada pelo Sujeito (Subject), Finito (Finite) e Resíduo (Residue). O Sujeito faz parte da proposição, sendo “sobre o que” a proposição pode ser afirmada ou negada (Halliday e Matthiessen, 2004:117). Esse elemento, realizado por um grupo nominal, pode ser identificado por uma pergunta de confirmação, por exemplo, na proposição João fez o bolo, João pode ser identificado como Sujeito pela pergunta de confirmação: Não fez (João)? O Finito, que faz parte de um grupo verbal, tem a função de tornar a proposição finita, torná-la algo sobre o que se pode argumentar, estabelecendo uma relação entre essa proposição e o contexto no evento de fala, pela referência ao momento em que essa fala ocorre e ao julgamento do falante. Essas duas características, segundo Halliday e Matthiessen (2004:116) têm em comum a dêixis interpessoal, por criarem entre o falante e o ouvinte uma região semântica de tempo e incerteza. O tempo interpessoal está relacionado à diferença do que é presente para o falante e o que é presente para o ouvinte; pela incerteza, o falante pode expressar ou pedir para o ouvinte expressar a certeza ou dúvida sobre a proposição. 
A referência entre a proposição e o contexto do evento da fala é expressa pelo tempo verbal primário – o passado, presente ou futuro. Em uma comparação com a metafunção ideacional, a expressão de tempo na metafunção ideacional refere-se ao tempo entre os fenômenos (processos) descritos, enquanto que na metafunção interpessoal, a expressão de tempo refere-se ao tempo entre a proposição e o momento da fala. Neste ponto, parece útil introduzir a distinção feita por Halliday e Matthiessen (2004:280) entre o
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  • 1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Mauro Tadeu Baptista Sobhie Análise comparativa de avaliação em press releases e notícias DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2008
  • 2. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Mauro Tadeu Baptista Sobhie Análise comparativa de avaliação em press releases e notícias Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra. Leila Barbara. DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2008
  • 3. Banca examinadora ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________
  • 4. Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos ou científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, por processos eletrônicos ou de fotocopiagem Assinatura: Data:
  • 5. AGRADECIMENTOS Agradeço às seguintes pessoas e instituições; peço desculpas antecipadamente por quaisquer omissões, totalmente indesculpáveis, mas totalmente involuntárias. Ao CPNq, pelo apoio financeiro indispensável para a realização desta pesquisa. À orientadora Leila Barbara, por seu enorme carinho e paciência infinita, que me apresentou o mundo acadêmico e ensinou a fazer pesquisa científica, além de muito me ensinar sobre a vida e sobre mim mesmo. À minha esposa Vilma, que sempre me apoiou e me compreendeu em todos os momentos difíceis e que soube suportar os momentos de distância. Os cuidados e seu carinho foram essenciais para que eu pudesse enfrentar todas as dificuldades e privações da vida e passado a ser uma pessoa melhor. Também ao Flávio, pela amizade e o incentivo constante. Aos meus pais, que sempre me deram apoio para que eu chegasse até aqui e que compreenderam os anos de distância. Às minhas irmãs e meus sobrinhos, pelo carinho. A toda a minha família, que também soube compreender a ausência e sempre me incentivou em minha jornada. Aos professores do LAEL, que muitas vezes me mostraram apoio e incentivo para ir em frente, especialmente os professores Rosinda Ramos, Tony Berber Sardinha, Orlando Vian Jr. e Taïs Bittencourt, que participaram de minhas bancas de qualificação e ofereceram sua contribuição valiosa ao desenvolvimento desta pesquisa, além de sua inestimável amizade. Agradeço também à professora Nina Célia Almeida de Barros pela contribuição à versão final desta tese e aos diversos professores de outras instituições estrangeiras, que deram orientações valiosas e desinteressadas, especialmente os professores Geoff Thompson, Kazuhiro Teruya, Jim Martin e Carlos Gouveia. Às funcionárias do LAEL, Maria Lúcia e Márcia, que apesar de todas as dificuldades, sempre me incentivaram e deram apoio indispensável nas atividades acadêmicas, sem falar na enorme amizade e carinho. Aos funcionários da PUC/SP, especialmente da Secretaria de Alunos, Secretaria de Teses e Biblioteca, pelo atendimento sempre simpático e solícito. Por último, e não menos importante, aos colegas de nosso grupo de orientação e demais colegas do LAEL, que, cada um de seu jeito, me auxiliaram a avançar nos estudos e me permitiram participar de suas vidas, dando provas de grande apreço e amizade, e ajudando a enfrentar a aridez da vida acadêmica.
  • 6. Resumo Este trabalho tem como objetivo analisar a avaliação na linguagem empresarial. A avaliação é um aspecto da linguagem relacionado à interação, sendo um campo de estudos que pode trazer contribuições significativas para a área empresarial, pois as empresas são entidades que dependem de sistemas de comunicação para criar alianças entre seus elementos internos, com outros grupos e instituições. As análises lingüísticas foram baseadas no arcabouço teórico da Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), apresenta uma detalhada descrição de como os recursos ideacionais e interpessoais da linguagem descritos por Halliday (1978, 1994) podem ser usados com propósitos avaliativos em diferentes gêneros, conforme os estudos de Avaliação e Avaliatividade. Diferentemente de outras análises de avaliação baseadas na LSF, esta pesquisa faz uma análise comparativa baseada em corpus entre os press releases de duas empresas brasileiras de telecomunicações e notícias publicadas por um jornal sobre os mesmos assuntos, discutindo as avaliações explícitas e implícitas contidas nessas descrições e os valores envolvidos nelas à luz do contexto. Os resultados da análise mostraram quatro grupos principais de diferenças entre press releases e notícias: os press releases tendem a atribuir avaliações positivas aos serviços oferecidos aos clientes, à capacidade da própria empresa, a ações que aumentem essa capacidade e aos seus resultados positivos. As notícias, por sua vez, tendem a excluir essas avaliações positivas e incluir informações sobre limitações dos produtos e problemas internos das empresas. Os resultados permitiram também observar que as empresas e o jornal utilizam conjuntos de valores semelhantes ao fazerem suas avaliações, mesmo quando os pontos de vista são diferentes. Dessa forma, esta pesquisa pretende que seus resultados tragam subsídios para que as empresas possam se comunicar melhor com os seus diferentes públicos e para a educação de leitores críticos, que identifiquem os valores que estão por trás das escolhas lingüísticas dos textos. Palavras chave: avaliação, avaliatividade, press releases, notícias, análise comparativa
  • 7. Abstract This dissertation aims at analyzing evaluation in the business language. Evaluation is an aspect of language related to interaction, being a field of studies that may bring a significant contribution to business since companies are entities that depend on communication systems to construct alliances both between their internal elements and with external individuals and institutions. The linguistic analysis herein is based on the theoretical framework of the Systemic-Functional Linguistics (SFL) that provides us with a detailed description on how the ideational and interpersonal resources of language described by Halliday (1978, 1994) may be used with evaluative purposes in different genres based on Evaluation and Appraisal studies. Differently from other SFL-based analysis of evaluation, this research makes a corpus-based comparative analysis between press releases from two Brazilian telecommunication companies and news stories published by an online newspaper about the same topics, discussing the explicit and implicit evaluations embodied in these texts and the values involved on them at the light of the context. The analysis has shown four major groups of differences between Press Releases and News: Press Releases tend to assign positive evaluations to the benefits to the customer, the capacity of the company itself, their capacity improvements and positive results. On the other hand, the News tends to exclude such positive evaluations and include information on product‟s constraints and company‟s internal problems. The results also revealed that the companies and the newspaper use similar sets of values in their evaluations, even when expressing different points-of-view. Therefore, it is expected that the analysis herein provide resources to enable companies to communicate better with their different audiences and to the education of critical readers enabled to identify the values underlying the linguistic choices of the texts. Key-words: evaluation, appraisal, press releases, news, comparative analysis
  • 8. Sumário INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 13 I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ---------------------------------------------------------- 21 1.1. A visão funcional da linguagem da LSF ------------------------------------------------- 21 1.2. A relação entre texto e contexto ----------------------------------------------------------- 23 1.3. Estratificação e metáforas gramaticais --------------------------------------------------- 27 1.4. A metafunção ideacional -------------------------------------------------------------------- 28 1.4.1. A função lógica ------------------------------------------------------------------- 29 1.4.2. A função experiencial ---------------------------------------------------------- 31 1.4.3. Metáforas ideacionais ----------------------------------------------------------- 42 1.5. A metafunção interpessoal ------------------------------------------------------------------ 46 1.5.1. O sistema de Modo -------------------------------------------------------------- 47 1.5.2. Metáforas interpessoais --------------------------------------------------------- 50 1.6. Atribuição de papéis ------------------------------------------------------------------------- 52 1.7. Avaliação e avaliatividade ------------------------------------------------------------------ 53 1.7.1. O sistema de avaliação de Hunston ------------------------------------------- 55 1.7.2. O sistema da Avaliatividade --------------------------------------------------- 57 1.7.2.1. O subsistema de Atitude ------------------------------------------- 58 1.7.2.2. O subsistema de Engajamento ------------------------------------ 63 1.7.2.3. O subsistema de Gradação ----------------------------------------- 65 1.7.3. Considerações sobre os estudos de avaliação e avaliatividade ---------- 66 1.8. As empresas e o mercado ------------------------------------------------------------------- 68 1.9. O mercado de telecomunicações no Brasil ---------------------------------------------- 69 1.10. A comunicação empresarial, os press releases e as notícias ----------------------- 71 II. METODOLOGIA DE PESQUISA -------------------------------------------- 75 2.1. Descrição das empresas --------------------------------------------------------------------- 76 2.2. Procedimentos de coleta e organização dos dados ------------------------------------ 77 2.3. Descrição do corpus -------------------------------------------------------------------------- 78 2.4. Metodologia de análise --------------------------------------------------------------------- 81
  • 9. Sumário (cont.) 2.4.1. Estudos sobre análises computadorizadas ---------------------------------- 81 2.4.2. A abordagem usada nesta pesquisa ------------------------------------------ 84 2.5. Palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas ----------------------- 86 2.6. Instrumentos de análise --------------------------------------------------------------------- 88 2.6.1. Comparação lado a lado dos textos ------------------------------------------- 89 2.6.2. Listas de palavras significativamente exclusivas -------------------------- 91 2.7. Análise dos recursos ideacionais ---------------------------------------------------------- 94 2.7.1 Análise gramatical das linhas de concordância ---------------------------- 94 2.7.2. Análise dos participantes ------------------------------------------------------- 95 2.7.3. Análise das relações ideacionais nas quais os participantes estão envolvidos ------------------------------------------------------------------------- 95 2.8. Análise dos recursos avaliativos ---------------------------------------------------------- 96 III. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ------------------------ 99 3.1. Apresentação dos resultados --------------------------------------------------------------- 99 3.2. Relatos de linguagem ------------------------------------------------------------------------ 100 3.3. Representação das atividades da empresa ----------------------------------------------- 106 3.4. Análise da avaliação ------------------------------------------------------------------------- 112 3.4.1. Oferta de benefícios ------------------------------------------------------------- 113 3.4.1.1. Oferta de serviços pelos produtos -------------------------------- 114 3.4.1.2. Limitações e restrições dos produtos ---------------------------- 132 3.4.1.3. Divergências em press releases e notícias ---------------------- 140 3.4.2. Demonstração de capacidade -------------------------------------------------- 146 3.4.3. Aumento de capacidade da empresa ----------------------------------------- 158 3.4.3.1. Aumento de capacidade por ações da empresa ---------------- 158 3.4.3.2. Aumento de capacidade por ações de parceiros --------------- 160 3.4.3.3. Problemas internos -------------------------------------------------- 165 3.4.4. Resultados das ações das empresas ------------------------------------------- 169 3.4.4.1. Expressos por ações dos clientes --------------------------------- 169 3.4.4.2. Expressos por indicadores financeiros -------------------------- 173 3.5. Considerações sobre a discussão dos resultados---------------------------------------- 176
  • 10. Sumário (cont.) CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------- 181 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------- 189 ANEXO I – Títulos dos press releases e notícias ------------------------------------------- 197 ANEXO II – Quantidades de palavras --------------------------------------------------------- 201 ANEXO III – Palavras significativamente exclusivas -------------------------------------- 203 Índice de figuras Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática --------------------------------------- 25 Figura 2. Taxonomia de participantes --------------------------------------------------------- 32 Figura 3. Representação dos tipos de processos --------------------------------------------- 34 Figura 4. Relação entre modalidade, polaridade e modo ---------------------------------- 49 Figura 5. Sistemas interpessoais de Thompson e Thetela --------------------------------- 52 Figura 6. O sistema da Avaliatividade -------------------------------------------------------- 58 Figura 7. O subsistema de Engajamento ------------------------------------------------------ 64 Figura 8. O subsistema de Gradação ---------------------------------------------------------- 65 Figura 9. Elementos do sistema de marketing ----------------------------------------------- 69 Figura 10. Lista de comparação lado a lado -------------------------------------------------- 90 Figura 11. Sistema de bases de avaliação para os produtos ------------------------------- 178 Figura 12. Sistema de bases de avaliação para as empresas ------------------------------ 179 Índice de quadros Quadro 1. Análise sob as três metafunções -------------------------------------------------- 27 Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais ------------------------------------------------------ 29 Quadro 3. Tipos de processos relacionais ---------------------------------------------------- 36 Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização --------------------------------------- 38 Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais ---------- 42 Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico ------------------------------------------- 43 Quadro 7. Convenção de notação da constituência lexicogramatical ------------------- 44 Quadro 8. Funções de fala ----------------------------------------------------------------------- 46 Quadro 9. Modalização e modulação --------------------------------------------------------- 51
  • 11. Índice de quadros (cont.) Quadro 10. Exemplos de realizações metafóricas de propostas e proposições ------- 51 Quadro 11. Comparação entre Hunston e Martin ------------------------------------------- 67 Quadro 12. Tamanho do corpus ---------------------------------------------------------------- 78 Quadro 13. Atividades descritas nos press releases e notícias --------------------------- 79 Quadro 14. Funções ideacionais das palavras significativamente exclusivas --------- 99 Quadro 15. Quantidade de palavras e linhas de concordância --------------------------- 100 Quadro 16. Palavras exclusivas usadas em relatos de linguagem ----------------------- 101 Quadro 17. Números de press releases e notícias com relatos de linguagem --------- 104 Quadro 18. Ocorrência de participantes por número de textos --------------------------- 106 Quadro 19. Ocorrência das relações ideacionais por número de textos ---------------- 108 Quadro 20. Funções ideacionais do exemplo 33 -------------------------------------------- 114 Quadro 21. Funções ideacionais do exemplo 34 -------------------------------------------- 116 Quadro 22. Funções ideacionais do exemplo 35 -------------------------------------------- 117 Quadro 23. Funções ideacionais do exemplo 36 -------------------------------------------- 119 Quadro 24. Funções ideacionais do exemplo 38 -------------------------------------------- 121 Quadro 25. Funções ideacionais do exemplo 39 -------------------------------------------- 122 Quadro 26. Descrição dos clientes por processos mentais -------------------------------- 124 Quadro 27. Funções ideacionais do exemplo 44 -------------------------------------------- 125 Quadro 28. Funções ideacionais do exemplo 45 -------------------------------------------- 126 Quadro 29. Funções ideacionais do exemplo 62 -------------------------------------------- 134 Quadro 30. Funções ideacionais do exemplo 64 -------------------------------------------- 135 Quadro 31. Funções ideacionais do exemplo 65 -------------------------------------------- 136 Quadro 32. Funções ideacionais dos exemplos 67 e 68 ----------------------------------- 137 Quadro 33. Funções ideacionais do exemplo 70 -------------------------------------------- 138 Quadro 34. Funções ideacionais do exemplo 71 -------------------------------------------- 139 Quadro 35. Funções ideacionais do exemplo 72 -------------------------------------------- 140 Quadro 36. Estrutura ideacional do exemplo 73 -------------------------------------------- 141 Quadro 37. Funções ideacionais do exemplo 74 -------------------------------------------- 142 Quadro 38. Funções ideacionais do exemplo 76 -------------------------------------------- 143 Quadro 39. Funções ideacionais do exemplo 82 -------------------------------------------- 147 Quadro 40. Funções ideacionais do exemplo 83 -------------------------------------------- 147 Quadro 41. Estrutura de comparação dos exemplos 82 e 83 ----------------------------- 147 Quadro 42. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 99 --------------------- 156 Quadro 43. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 100 ------------------- 156 Quadro 44. Funções ideacionais do exemplo 107 ------------------------------------------ 159
  • 12. Índice de quadros (cont.) Quadro 45. Ações dos parceiros da empresa no evento ----------------------------------- 162 Quadro 46. Ações dos paulistas no evento --------------------------------------------------- 163 Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A ------------------------------ 197 Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B ------------------------------ 198 Quadro 49. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_A -------- 201 Quadro 50. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_B -------- 202 Quadro 51. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_A -- 203 Quadro 52. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_B --- 204 Quadro 53. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_A ---- 206 Quadro 54. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_B ----- 207
  • 13. Introdução 13 Introdução O presente trabalho faz parte do Projeto DIRECT – Em Direção à Linguagem dos Negócios, na linha de pesquisas de Linguagem e Trabalho do Programa de Pós- Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Como parte desse projeto, esta pesquisa se inclui entre outras que têm como objetivo geral analisar o uso da linguagem em atividades profissionais com base no arcabouço teórico da Lingüística Sistêmico- Funcional. A opção pelo estudo da linguagem empresarial veio de minha experiência profissional em empresas de diversos setores e cumprindo diversas funções, entre as quais o atendimento de clientes, treinamento de usuários, desenvolvimento de propostas técnico-comerciais e concorrências. Essa experiência prática mostrou a importância do uso apropriado da linguagem nas empresas para obter informações e colaboração, resolver conflitos, analisar problemas e persuadir; dessa maneira, considero o setor empresarial um campo de estudos relevante para os estudos lingüísticos, não apenas pela importância das empresas na economia, mas também no desenvolvimento das carreiras profissionais dos indivíduos. Dentro da linguagem empresarial, escolhi analisar materiais de comunicação relacionados a empresas brasileiras do mercado de telecomunicações para dar continuidade aos meus estudos na Lingüística Aplicada, devido à minha formação acadêmica e experiência profissional. Esta pesquisa está relacionada ao mercado de telecomunicações, no qual atuei como engenheiro eletrônico, à área de marketing, na qual tenho pós-graduação lato sensu e que fez parte de minhas atividades profissionais no atendimento de clientes e negociação de vendas, e à linguagem empresarial e técnica, na qual estou envolvido desde 1992, como tradutor. Dessa forma, procurei trazer para a interpretação dos dados esse conhecimento de mundo adquirido, assumindo, dentro de meus limites, o papel de especialista. O arcabouço teórico da lingüística sistêmico-funcional (doravante LSF), desenvolvida por Michael Halliday e outros estudiosos desde a década de 1950, foi escolhido para esta pesquisa por seu foco sociossemiótico e funcional, que mostra como os significados são criados pelos falantes para realizar determinadas funções em uma sociedade, em uma complexa relação entre o texto e o seu contexto de uso. A LSF oferece ao analista todo um arsenal de ferramentas de análise poderosas e flexíveis, com
  • 14. Introdução 14 as quais podemos analisar isoladamente cada aspecto do texto e as maneiras pelas quais os diferentes aspectos do texto operam em conjunto entre si, oferecendo classificações gramaticais bem definidas e aceitando interpretações alternativas, o que nos permite lidar com aspectos como a ambigüidade da linguagem. A LSF é uma teoria adotada por um grupo crescente de pesquisadores em todo o mundo. No Brasil, além do Grupo DIRECT, outros grupos de pesquisa que utilizam a LSF, como os grupos formados por pesquisadores da PUC/SP como o Edulang, voltado à pesquisa sobre o ensino e aprendizagem de línguas em contextos digitais, e o Grupo de Abordagem Instrumental e o Ensino-Aprendizagem de Línguas em Contextos Diversos. Em outras universidades, podemos citar o Grupo CORDIALL, da Faculdade de Letras da UFMG, que estuda a utilização de corpora em Estudos Cognitivos da Linguagem, dos Estudos da Tradução e da Análise Crítica do Discurso. O grupo de Texto, Discurso e Práticas Sociais (NUPDISCURSO) reúne pesquisadores da UFSC e da Universidade Federal de Santa Maria no estudo de gêneros textuais; temos também o grupo de Linguagem e Ideologia da UNB, que estuda o discurso em uma teoria social crítica e os grupos de Lingüística sistêmico-funcional, lingüística de corpus e análise do discurso e de Práticas discursivas em contextos pedagógicos da PUC/RJ. Aqui, abro um parêntese para justificar a escolha da principal fonte de referência sobre a LSF utilizada nas descrições gramaticais, a terceira edição do Introduction to Functional Grammar de Halliday e Matthiessen, edição de 2004. Pessoalmente considero que a descrição da teoria sistêmica introduzida nessa edição permite ao leitor compreender melhor do que as edições anteriores a lógica subjacente aos sistemas gramaticais propostos pela LSF. Dessa forma, as referências a essa obra vêm com a indicação de Halliday e Matthiessen (este último indicado como revisor da terceira edição), embora seja possível encontrar a maior parte das descrições gramaticais nas edições de 1985 e 1994 desse livro de Halliday. O problema a ser enfrentado neste estudo surgiu de uma preocupação que sempre me acompanhou durante toda a minha experiência profissional: identificar pela linguagem o que influencia as pessoas e o que podemos fazer com a linguagem de forma que elas colaborem com os nossos objetivos. Para lidar com questões como essas, a LSF oferece conceitos e modelos que nos permitem analisar as formas como as pessoas representam a sua experiência de mundo e interagem com os outros, respectivamente descritas pelas metafunções ideacional e interpessoal de Halliday (1978, 1994) e os desenvolvimentos desses sistemas propostos por outros estudiosos.
  • 15. Introdução 15 Entre esses desenvolvimentos, podemos citar a detalhada descrição dos sistemas ideacionais desenvolvida por Halliday e Matthiessen (1999, 2004), o sistema interpessoal proposto por Thompson e Thetela (1995) e questões de Avaliação e Avaliatividade1 discutidas por autores como Hunston (2000), Martin (2000) e Martin e White (2005). Esta pesquisa também se baseou em estudos não lingüísticos, como as descrições de materiais de comunicações de Bell (1991) e Fowler (1991), além de estudos de marketing e administração de estudiosos como Philip Kotler (1990) e Torquato (1986). Dessa maneira, esta pesquisa tem como objetivo teórico contribuir para os estudos de interação feitos dentro do arcabouço teórico da LSF, vindo, assim, a se reunir aos pioneiros que analisam a Avaliação e o sistema de Avaliatividade no idioma português brasileiro. Além disso, este trabalho é um dos primeiros voltado especificamente à linguagem empresarial. Em um levantamento das pesquisas de Avaliatividade feitas no Brasil, observei que a maior parte dos trabalhos encontrados nessa área em nosso idioma estuda o uso da linguagem no ensino, como Sartin (2007), textos de opinião, como Cabral e Barros (2007), ou políticos, como Souza (2007), para mencionar apenas alguns dos participantes do 33rd International Systemic Functional Congress, realizado na PUC/SP em 2006. A análise das atitudes dos falantes sobre o que falam está prevista nos estudos de Avaliação, como o de Hunston (2000) e o sistema de Avaliatividade (Martin, 2000; Martin e White, 2005). Para Martin e White, a Avaliatividade (Appraisal): “... refere-se ao lado interpessoal na linguagem, à presença subjetiva dos escritores/falantes nos textos, na medida em que eles adotam posições com relação ao material que eles apresentam e àqueles com quem eles se comunicam. Refere-se aos modos como escritores/falantes aprovam e desaprovam, ficam entusiasmados e repudiam, aplaudem e criticam e como posicionam seus leitores/ouvintes a fazerem o mesmo. Está relacionada à construção pelos textos de comunidades de sentimentos e valores compartilhados e com os mecanismos lingüísticos usados para compartilhar emoções, gostos e avaliações normativas. Refere-se aos modos como escritores/falantes constroem semanticamente identidades ou personas autorais, como entram em alinhamento/desalinhamento com respondentes existentes ou potenciais e como constroem para seus textos um público desejado ou ideal.” (Martin e White, 2005:1) 2 1 A tradução de Appraisal como Avaliatividade é discutida nos meios acadêmicos; em trabalhos de outras universidades, é usado o termo “Valoração”. 2 A menos que haja indicação em contrário, todas as traduções incluídas neste documento são de minha responsabilidade.
  • 16. Introdução 16 Esse mapeamento entre os significados ideacionais e interpessoais está alinhado à visão de Lemke (1992:87), que relaciona os significados ideacionais à ideologia, dizendo que "o ideacional pode ser visto como uma ferramenta ou pretexto para a sustentação, modificação, apoio ou contestação de uma estrutura de interesses sociais, valores e pontos de vista". Na mesma linha, Thompson (1996a:76) aponta uma relação íntima entre os significados ideacionais e interpessoais, dizendo haver “muitas formas alternativas que os falantes podem escolher para representar o mundo, e a escolha feita será em grande parte dependente de seus propósitos”. Essa posição também é assumida por Hunston (2000:195), para quem “as palavras escolhidas para descrever o mundo em um texto inevitavelmente refletem a ideologia do escritor, ou mais apropriadamente, a ideologia da parte da sociedade de onde vem o escritor”. Dessa maneira, ao criar as suas representações de mundo, os falantes transmitem também seus sistemas de valores, introduzindo diversos tipos de avaliações (Martin e White, 2005:28), de forma explícita ou implícita. Um exemplo de como os recursos de representação do mundo, que a priori estariam mais relacionados à metafunção ideacional de Halliday, podem ser utilizados com propósitos interpessoais é apresentado de forma sistêmica na proposta de função interacional de Thompson e Thetela (1995:107). Essa função mostra como papéis sociais podem ser projetados aos participantes do discurso por recursos de nomeação e atribuição, em seu conceito de papéis projetados, que são os “papéis atribuídos pelo falante/escritor aos participantes do evento da linguagem” (1995:108). Esse conceito foi posteriormente desenvolvido por Ramos em sua pesquisa sobre a construção da identidade dos participantes em prospectos institucionais pela “organização taxonômica dos itens lexicais (palavras chave-chave), que se configuram para representar os participantes no universo textual” (1997:41). Nesse trabalho, Ramos (1997:76) mostrou como a representação do mundo feita pelo falante afeta a interação entre os participantes, pois segundo ela “os itens lingüísticos usados num texto não são escolhas arbitrárias: elas nos dão importantes insights sobre a visão de um mundo que o escritor deseja transmitir”. Entretanto, a atitude do falante não é expressa apenas pelo modo como fala dos participantes de seu discurso. Van Leeuwen (1996:38) aponta a exclusão ou inclusão de atores sociais e das atividades destes na representação como um recurso que o escritor tem para adequar seus interesses ou propósitos com relação aos seus leitores, visão compartilhada por Fowler (1991:71), para o qual ao fazer escolhas de transitividade
  • 17. Introdução 17 sempre estamos suprimimos outras possibilidades. Para analisar a exclusão, segundo Van Leeuwen (1996:39) seria necessário comparar diferentes representações de uma mesma prática social, pois não haveria vestígios dessa exclusão na análise de um único texto. Para analisar algumas das informações que não foram incluídas nas representações de mundo feitas pelas empresas, utilizei a comparação entre as representações fornecidas em press releases emitidos por duas empresas brasileiras de telecomunicações (referenciadas neste trabalho como Tele_A e Tele_B) sobre suas atividades empresariais e as incluídas em notícias publicadas por um jornal online (Jornal_A) sobre os mesmos assuntos em datas próximas. Dessa maneira, foi possível analisar as descrições e avaliações incluídas nas notícias e não nos press releases e vice- versa. Os comunicados à imprensa, ou press releases, foram considerados apropriados para esta pesquisa por sua função de transmitir as informações que a empresa deseja que sejam publicadas nos veículos de comunicação e que necessariamente tenham algum interesse jornalístico para serem publicadas pelos jornais, não sendo, dessa forma, uma promoção explícita da empresa, como ocorre nos materiais institucionais ou nas propagandas. Outra característica é que, embora forneça as informações, a empresa não tem o poder de determinar como será texto que chegará aos leitores do jornal, dentre os quais estão os públicos que a empresa deseja atingir; dependendo de seus próprios interesses, o jornal pode incluir na notícia informações de outras fontes ou interpretar as informações fornecidas de uma forma desfavorável à empresa. Isso pode ocorrer porque, segundo Fowler (1991:10), a notícia é articulada a partir de uma posição ideológica, impondo uma estrutura de valores na representação de mundo construída no texto (:4). Fowler lembra que: “... a publicação de um jornal é um negócio e uma indústria, sendo esperado que os produtos do jornal sejam determinados por fatores decorrentes de sua atuação no mundo, como a necessidade de lucros e o relacionamento com outros agentes sociais, que determinarão a seleção dos eventos e tópicos que terão interesse jornalístico para serem publicados e também as maneiras como os eventos serão representados”. Fowler (1991:20) Considerando a distinção feita por Biber (1995:70) entre os conceitos de gênero e tipo de texto, pela qual os gêneros são identificados por critérios externos ao texto (como as relações entre os interactantes, por exemplo) e os tipos de texto são agrupados
  • 18. Introdução 18 por similaridades em suas formas lingüísticas, os press releases e as notícias pertenceriam a gêneros diferentes, independentemente de suas semelhanças. Enquanto o press release é dirigido aos veículos de comunicação, com o propósito de promover a imagem da empresa e de seus produtos junto a clientes em potencial e outros grupos que possam ter interesse nas atividades da empresa; a notícia é dirigida ao público geral, com o propósito de fornecer informações sobre as atividades da empresa. Dessa maneira, esta análise pode também ser vista como uma comparação entre dois gêneros diferentes de uma mesma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough, 1995:37), que divulgam as atividades a partir da empresa, passando pelo jornal e chegando aos públicos finais, em um estudo da intertextualidade (Halliday e Hasan, 1989:47) entre esses eventos comunicativos. Em suas notícias, o jornal discute as informações fornecidas no press release, “desconsiderando” e excluindo informações que não julga relevantes para os seus propósitos, e incluindo aquelas que considera relevantes sobre o assunto discutido no press release, em uma indicação da sua posição de leitura (Martin e White, 2005:25) do press release. Cabe aqui observar que o conceito de gênero foi utilizado neste trabalho apenas para a identificação dos materiais utilizados na pesquisa; dado o foco na análise das diferenças lingüísticas entre os textos, uma discussão mais aprofundada sobre as diversas teorias que estudam o gênero poderá ser feita em uma pesquisa posterior. Com base nos conceitos apresentados acima, foram definidas as perguntas de pesquisa abaixo para orientar essa pesquisa: 1. Quais são as diferenças nas formas como os press releases e as notícias descrevem as atividades da empresa? 2. Como as diferenças encontradas expressam diferentes formas de avaliação dessas atividades? 3. Quais são os valores que baseiam essas avaliações? A pergunta 1 está relacionada à representação de mundo (Halliday, 1994:106) construída nos textos; para responder essa pergunta, temos de identificar as diferenças entre press releases e notícias relacionadas aos participantes envolvidos nas descrições das atividades, as ações que esses participantes executam e as circunstâncias nas quais essas ações ocorrem, identificando também as formas como essas relações ideacionais estão expressas nos textos.
  • 19. Introdução 19 A pergunta 2 está relacionada à avaliação (Hunston e Thompson, 2000) e à avaliatividade (Martin e White, 2005), às maneiras pelas quais as relações ideacionais identificadas nos press releases ou nas notícias podem mostrar as posições do jornal e das empresas perante as atividades descritas em seus textos e criar laços de afinidade com os públicos aos quais esses materiais se destinam. A resposta à pergunta 3 está relacionada às bases que fundamentam as avaliações incluídas no texto (Hunston, 2000:200), ou seja, os critérios pelos quais podemos dizer que uma determinada relação ideacional pode expressar uma avaliação positiva ou negativa. Identificando os conceitos3 que servem como base para as avaliações, podemos analisar como os conjuntos de valores subjacentes às descrições das atividades e as estratégias usadas nos press releases e notícias para construir suas avaliações no texto. Seguindo a visão de Lemke (1992:83), isso envolve traçar relações intertextuais que nos permitam interpretar uma determinada ação ou característica e dizer se ela é apropriada ou significativa para uma determinada prática social. Para responder a estas perguntas, foi coletado um corpus formado por pares compostos por um press release e uma notícia que tratassem de uma mesma atividade da empresa. O motivo para o uso de pares de press releases e notícias em vez da comparação de dois corpora, um com todos os press releases da empresa e o outro com todas as notícias sobre a empresa no período, foi a possibilidade de comparar individualmente os recursos léxico-gramaticais usados para descrever cada tópico. Essa comparação individual foi considerada necessária devido a dois fatores: a variação de significado das palavras de acordo com o contexto e a diversidade dos recursos léxico- gramaticais que podem ser usados para realizar os significados ideacionais e interpessoais, conforme descrito nos capítulos de fundamentação teórica e metodologia deste trabalho. A análise comparativa dos recursos léxico-gramaticais presentes nos press releases e notícias foi baseada em ferramentas oferecidas pela Lingüística de Corpus, com o uso do aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004). A Lingüística de Corpus foi desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros de Sinclair e Leech, ambos publicados no ano de 1966 (citados em Berber-Sardinha, 2000:332), e estuda a linguagem como 3 O termo “conceito” é usado neste trabalho em seu sentido genérico, de “noção” e “idéia”, não utilizando o arcabouço teórico da Teoria do Conceito, descrita, entre outros, por Dahlberg (1978).
  • 20. Introdução 20 sistema probabilístico em uma abordagem empirista (Berber-Sardinha, 2000:349), em uma visão da linguagem alinhada à da LSF. A análise comparativa entre corpora de diferentes autores não é comum em análises de Avaliatividade, não sendo de meu conhecimento a existência de estudos com tal abordagem metodológica. Para lidar com as especificidades da análise comparativa de um aspecto lingüístico como a avaliação, que pode ser expressa nos textos por uma diversidade tão grande de recursos, utilizei procedimentos desenvolvidos com base no conceito de palavras significativamente exclusivas, apresentado no capítulo de fundamentação teórica deste trabalho. Dessa maneira, o presente estudo procura trazer uma contribuição tanto ao estudo da avaliação na linguagem empresarial quanto à metodologia de análise de Avaliatividade baseada em corpus em um balanço entre a análise quantitativa e a qualitativa que, segundo Martin e White (2005:260) “é um importante desafio à medida que procuramos aprofundar o nosso conhecimento da avaliação no discurso”. Além desta introdução, este trabalho compreende os seguintes capítulos: O Capítulo 1, de Fundamentação Teórica, apresenta um breve histórico e os conceitos básicos da Lingüística Sistêmico-Funcional, incluindo os modelos usados para descrever suas dimensões fundamentais, além das descrições das metafunções ideacional e interpessoal e os recursos léxico-gramaticais usados para realizar esses significados, incluindo os estudos relacionados à Avaliação e Avaliatividade. O Capítulo 2, de Metodologia de pesquisa, descreve os procedimentos usados na pesquisa, incluindo as perguntas de pesquisa, os procedimentos de coleta de corpus e a descrição do corpus coletado, os procedimentos e instrumentos de análise usados na análise comparativa do corpus e as listas de palavras resultantes dessas comparações. O Capítulo 3, de Apresentação e discussão dos resultados, inclui a apresentação dos resultados obtidos e a discussão desses resultados para responder as perguntas de pesquisa, compreendendo a identificação de padrões ideacionais, os recursos avaliativos utilizados e os valores envolvidos nessas avaliações. As Considerações Finais deste trabalho apresentam de forma resumida os principais resultados obtidos, as limitações da pesquisa e os sugerem possíveis desenvolvimentos nos procedimentos e análises realizadas no âmbito desta pesquisa.
  • 21. I. Fundamentação teórica 21 I. Fundamentação teórica Este capítulo apresenta a fundamentação teórica que baseia a metodologia e as análises descritas nos próximos capítulos. Como dissemos anteriormente, a teoria lingüística que baseia esta pesquisa é a Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), principalmente por seu foco na funcionalidade da linguagem e na interpretação dos textos em seus contextos de uso, além do poderoso ferramental analítico oferecido para a descrição da linguagem. A seguir, são apresentadas as teorias de comunicação e marketing utilizadas neste trabalho, que descrevem o sistema de marketing proposto por Kotler (1990:49), destacam a importância da comunicação nessas relações e apresentam os materiais de comunicação incluídos nesse trabalho, os press releases e as notícias. Este capítulo inclui também um breve histórico do mercado de telecomunicações no Brasil, que oferece informações de contexto para a interpretação dos dados no mercado brasileiro. As próximas seções descrevem a visão funcional da linguagem oferecida pela lingüística sistêmico-funcional, incluindo a descrição das metafunções ideacional e interpessoal, e de suas realizações léxico-gramaticais, os estudos de avaliação, como os publicados por Hunston e Thompson (2000), entre outros, e o sistema de Avaliatividade proposto por Martin (2000). 1.1. A visão funcional da linguagem da LSF A LSF estuda a linguagem a partir de um ponto de vista sócio-semiótico, considerando-a como um dos diversos sistemas de criação de significados que fazem parte da cultura de uma sociedade (Halliday e Hasan, 1989:03). Por essa visão, os membros de uma sociedade trocam significados uns com os outros para executar tarefas nas atividades reconhecidas como próprias dessa sociedade. A análise sistêmica mostra que a funcionalidade é uma característica intrínseca à linguagem. Segundo Halliday (1994:xiii), a linguagem seria o produto de um processo evolucionário, orientado “pelas maneiras como a linguagem foi usada por dezenas de milhares de gerações para satisfazer as necessidades do homem”. Dessa forma, para Halliday e Matthiessen (2004:31), “toda a arquitetura da linguagem segue linhas funcionais
  • 22. I. Fundamentação teórica 22 e a linguagem é como é devido às funções nas quais ela se desenvolveu na espécie humana”, onde por funções da linguagem podemos entender “as maneiras pelas quais as pessoas usam a linguagem” (Halliday e Hasan, 1989:15). Os aspectos funcional e semântico da linguagem são destacados por Eggins (1994:2) em quatro premissas básicas da LSF: (i) o uso da linguagem é funcional; (ii) a função da linguagem é criar significados; (iii) os significados são influenciados pelo contexto social e cultural no qual eles são trocados; e (iv) o processo de uso da linguagem é um processo semiótico, que envolve a criação de significados por escolhas. (Eggins (1994:2) Essas premissas destacam a importância do significado na LSF. Halliday (1992:353) explica o conceito de significado como sendo um produto do impacto da experiência do mundo externo ao falante em sua consciência interna. Isso quer dizer que o falante organiza em sua consciência na forma de significados todas as percepções captadas por seus sentidos das coisas do mundo ao seu redor e das relações sociais com os outros membros de seu grupo. Essa organização da experiência em significados depende, portanto, da forma como o falante vê o mundo, da cultura da sociedade da qual cada falante faz parte, incluindo as práticas sociais comuns e as formas como a linguagem é utilizada. A definição de texto na LSF também segue critérios funcionais, sendo “um instrumento para a troca de significados que constituem o sistema social” (Halliday 1978:182) e “uma instância de linguagem que está realizando alguma função em um contexto” (Halliday e Hasan, 1989:10). Assim, um texto pode ser visto como um evento interativo, uma troca social de significados (Halliday e Hasan, 1989:11), que “simultaneamente reflete a relação entre o falante e o mundo, interpretando a experiência, e a relação entre o falante e os outros, com o estabelecimento de relações sociais”. Eggins (1994:5) destaca a importância da funcionalidade, definindo texto como “uma interação lingüística completa (falada ou escrita), preferencialmente do início ao fim”. Dessa maneira, a questão do que é considerado texto parece estar relacionada ao cumprimento de uma função desejada pelo falante, mesmo que não possamos definir com certeza todo o alcance e complexidade do propósito comunicativo de um falante ao criar um texto.
  • 23. I. Fundamentação teórica 23 Halliday (1972:350) diz que, apesar do imenso número de maneiras diferentes pelas quais usamos a linguagem, podemos identificar um conjunto finito de funções com características que são comuns a todos esses usos. As funções básicas da linguagem são expressar a experiência humana e desempenhar relacionamentos pessoais e sociais. Para Halliday (1994:xiii), os recursos semânticos que executam essas funções podem ser reunidos em três metafunções. O conceito de metafunção é definido por Halliday e Hasan (1989:44) como sendo “a parte do sistema de uma linguagem desenvolvida para executar uma função específica.” As três metafunções são: ideacional (a representação de experiências), interpessoal (associada às relações sociais entre os participantes do discurso) e textual (o modo como organizamos as mensagens). Neste modelo, a metafunção textual, pode ser considerada uma função que habilita as outras duas, pois organiza o fluxo discursivo e cria coesão e continuidade ao desenrolar do texto, segundo Matthiessen, (1995:20), é a metafunção que “expressa os significados ideacionais e interpessoais como informações que podem ser compartilhadas entre o falante e o ouvinte.” 1.2. A relação entre texto e contexto Para Halliday (Halliday e Hasan, 1989:47), “o relacionamento entre texto e contexto é dialógico; o texto cria o contexto na mesma medida em que o contexto cria o texto”. Esse é um conceito básico da LSF, que está alinhado à visão de Firth, para o qual “todo significado é função de um contexto”, ou seja, um mesmo texto em contextos diferentes daria origem à criação de significados diferentes (Halliday e Hasan, 1989:10). A LSF utiliza os conceitos de contexto de situação e contexto de cultura para descrever o ambiente em que os textos são utilizados. O contexto de cultura é um ambiente que vai além do contexto de situação, que compreende todo o retrospecto cultural dos participantes e das práticas em que estes estão envolvidos. Lemke destaca o papel do contexto de cultura na criação de significados: O “contexto de cultura” deve ser representado não apenas pelos sistemas de recursos semióticos que nos dizem o que pode ser significado, mas também a caracterização do que é significado recorrentemente: dito e feito em um texto após o outro e em uma ocasião de discurso após a outra. Somente dessa maneira podemos interconectar textos, contextos situacionais e os sistemas mais amplos de
  • 24. I. Fundamentação teórica 24 atitudes, crenças, valores e opiniões de uma comunidade social real. (Lemke, 1988:30) O contexto de situação é definido por Halliday e Hasan (1989:11) como o contexto no qual o texto se desenrola e o ambiente imediato no qual um texto está tendo uma função (1989:46). Para a LSF, o contexto de situação é um construto semiótico de natureza não lingüística que descreve a situação com base em princípios funcionais, seguindo a definição de Firth, sendo apropriado para a análise de eventos de linguagem (Hasan, 1995:186-190).. Para Hasan, esta é uma visão que difere do conceito original de Malinowski, para o qual o contexto faria referência a tudo significativo que acontece concorrentemente com a atividade de fala. O contexto de situação é formado por um conjunto de categorias que descreve uma realidade construída intersubjetivamente entre os interactantes. Segundo Halliday e Hasan (1989:12), os princípios que podemos usar para interpretar o contexto social de um texto, ou seja, o ambiente no qual os significados são trocados, são descritos pelas variáveis de contexto denominadas campo (field), relações (tenor) e modo (mode):  O campo do discurso refere-se ao que está acontecendo, à natureza da ação social que está sendo executada: no que é que os participantes estão envolvidos  As relações do discurso referem-se a quem está participando da interação, à natureza dos participantes, seus status e papéis: que tipos de relações entre papéis são obtidos entre os participantes, os tipos de papéis de fala que estão sendo aceitos no diálogo e todo o conjunto de relações socialmente significativas nas quais os falantes estão envolvidos.  O modo do discurso refere-se a que papel a linguagem está desempenhando, o que é que os participantes estão esperando que a linguagem faça por eles na situação: a organização simbólica do texto, o status que ele tem e a sua função no contexto, incluindo o canal (falado, escrito, etc.) e também o modo retórico, o que está sendo feito pelo texto, em termos de categorias como persuasivo, expositório, didático, etc. (Halliday e Hasan, 1989:12) Conforme Halliday e Hasan (1989:38), todo texto carrega informações sobre o seu contexto de uso; dessa forma, podemos recuperar as características de campo, relações e
  • 25. I. Fundamentação teórica 25 modo da situação a partir do texto. A LSF descreve essa relação entre texto e o contexto por um modelo que representa a linguagem (Halliday e Matthiessen, 2004:24), como um sistema semiótico complexo, com vários níveis, ou estratos. A representação do sistema da linguagem em estratos mostra como a gramática faz a interface entre o que acontece fora da linguagem (os acontecimentos e situações do mundo e os processos sociais que acontecem nele) e os fraseados (wordings)4 pelos quais os significados dessa experiência humana são organizados na linguagem. Como explica Hasan (1995:212) esse processo é constituído por duas partes: na primeira, a experiência e as relações interpessoais são transformadas em significado, no estrato da semântica. Em seguida, o significado é transformado em palavreado, no estrato da léxico-gramática, em uma relação entre estratos denominado realização. A figura 1 apresenta uma representação da relação entre as variáveis de registro, as metafunções e os principais sistemas gramaticais. contexto (variáveis de contexto) modo relações campo metafunções (significados) textual interpessoal ideacional sistemas gramaticais (fraseados) tema modo transitividade Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática Essa figura mostra que o aspecto funcional da linguagem perpassa toda a relação entre o texto e contexto. Dessa maneira:  a variável de campo tende a ser realizada por significados da metafunção ideacional, que tende a ser realizada pelo sistema gramatical de Transitividade;  a variável de relações tende a ser realizada por significados da metafunção interpessoal, que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Modo; e  a variável de modo tende a ser realizada por significados da metafunção textual, que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Tema. 4 Os termos da LSF utilizados neste trabalho foram traduzidos conforme a lista de termos de sistêmica disponível em http://www2.lael.pucsp.br/~tony/sistemica/
  • 26. I. Fundamentação teórica 26 A relação entre os diferentes tipos de linguagem usados nas diversas situações é representada pelo conceito de registro. Segundo Halliday e Hasan: “o registro é um conceito semântico, definido como uma configuração de significados que estão tipicamente associados, por um lado, a uma determinada configuração situacional formada pelas variáveis de campo, relações e modo descritas acima; e por outro, às características léxico-gramaticais que realizam esses significados”. (Halliday e Hasan, 1989:38) Dessa maneira, o conceito de registro parece expressar um mapeamento entre um contexto de uso e as características dos textos usados nesse contexto, realizadas por recursos léxico-gramaticais. O termo léxico-gramática expressa a união do léxico e da gramática em um único estrato, em um continuum do qual o léxico e a gramática são pontos extremos. Esse continuum expressa a realização de significados pelas operações simultâneas da escolha de léxico e a escolha de estruturas gramaticais. Em termos simples, ao expressarmos um significado, construímos orações escolhendo determinadas palavras e determinadas estruturas gramaticais, como em o homem andou rapidamente / O homem correu. Aqui, temos significados próximos expressos por uma estrutura gramatical, na qual a expressão do significado de “movimento” (no processo andou) é modificada pela expressão de significado de “alta velocidade” (na circunstância de modo rapidamente) no primeiro exemplo. No segundo exemplo, esses dois significados estão expressos por um único item lexical (o processo correu) no estrato do fraseado. Segundo Halliday (1972:351), o conceito de sistemas gramaticais nos permite mostrar como as funções da linguagem estão incorporadas à gramática como “componentes funcionais”. Por essa perspectiva, (Halliday, 1978:148), o texto é um produto dos componentes funcionais do sistema semântico, que operam em conjunto no texto de forma integrada, sendo “realizados simultaneamente na oração em inglês, mas não de forma discreta de forma que possamos apontar um segmento da oração e dizer que pertence a um significado e outro segmento como que pertencendo a outro” (Halliday, 1973:317). Assim, não é possível “dizer que uma determinada palavra ou sintagma tenha apenas um significado experiencial e que outra tenha apenas significado interpessoal” (Halliday e Hasan, 1989:23). O quadro 1 apresenta classificações gramaticais (descritas mais à frente) de uma mesma oração sob o ponto de vista das três metafunções.
  • 27. I. Fundamentação teórica 27 Desde 1815 o país não tem sido perturbado por nenhuma guerra Experiencial Circunstância Meta Processo Ator Interpessoal Adjunto Sujeito Finito Predicador Adjunto Textual Tema Rema Quadro 1. Análise sob as três metafunções (adaptado de Thompson, 1996a:34) Dessa maneira, podemos atribuir uma função a um elemento da oração quando fazemos a análise sob o ponto de vista de uma metafunção, mas isso não impede que atribuamos outra função à mesma palavra ou sintagma quando analisada sob o ponto de vista de outra metafunção. Em termos práticos, essa flexibilidade nos permite analisar a função de cada oração inicialmente por uma única metafunção para depois analisar as maneiras pelas quais esses recursos atuam em conjunto na criação de significados. 1.3. Estratificação e metáforas gramaticais Para Halliday (1998:189), o significado é criado em um espaço semiótico definido pelo estrato semântico (que faz interface com o mundo dos fenômenos experienciais) e o estrato léxico-gramatical (que faz interface com os sistemas de fonologia e grafologia). Nesse sistema estratificado, a experiência é transformada em significado por um mapeamento entre significados e formas, que pode ser feito por diversas maneiras diferentes. Essas diferentes maneiras de realização guardam entre si uma relação de agnação (agnation, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:31), pela qual expressões agnatas entre si têm significados próximos, realizados de maneiras diferentes. Segundo Halliday (1998:188), os significados podem ser expressos, ou realizados por diferentes formas por um processo de metáfora gramatical. As metáforas gramaticais diferem das metáforas lexicais, cujo conceito é mais próximo da metáfora tradicional (Halliday, 1998:191), e que normalmente fazem a oposição entre dois termos. No exemplo os frutos de seu esforço, temos uma oposição entre frutos/resultados, onde uma construção mais literal seria os resultados de seu esforço. Esse exemplo mostra que houve apenas a substituição do léxico, sem alterações na estrutura gramatical (Halliday, 1998:213). Na metáfora gramatical, segundo Halliday (1998:213), há uma mudança de uma categoria gramatical para outra, que envolve operações complexas, com a mudança vertical de nível de constituência e uma mudança horizontal, de classe e função. Essas operações são apresentadas em maiores detalhes nas descrições das metáforas gramaticais ideacionais e interpessoais, incluídas nas próximas seções, que descrevem as realizações léxico-
  • 28. I. Fundamentação teórica 28 gramaticais das metafunções ideacional e interpessoal. Como este trabalho não analisou em detalhes a metafunção textual, os sistemas gramaticais relacionados a essa metafunção não serão descritos aqui. Entre as fontes de referência que descrevem tais sistemas gramaticais estão, além do próprio Halliday (1994) e Halliday e Matthiessen (2004), os trabalhos de outros sistemicistas como Fries (1993) e Matthiessen (1995). No idioma português, as primeiras descrições dos sistemas textuais podem ser encontradas em Barbara e Gouveia (2001), Gouveia e Barbara (2001, 2003) e Ventura e Lima-Lopes (2002). 1.4. A metafunção ideacional A metafunção ideacional reúne os significados usados para criar representações de mundo. Essas representações são modelos ou padrões de experiência que, segundo Halliday (1994:106), constroem “um quadro mental da realidade, para fazer sentido do que acontece ao redor e no interior do falante”. Criando essa representação de mundo, o falante impõe uma ordem no fluxo infinito e contínuo de eventos, segmentando esse fluxo em acontecimentos distintos (Halliday e Matthiessen, 2004:170). Nessa representação, cada acontecimento identificado pelo falante é modelado na oração por um construto denominado figura, cujos elementos são “um processo que se desenrola no tempo, participantes diretamente envolvidos neste processo de alguma maneira e opcionalmente, circunstâncias de tempo, espaço, causa, maneira e alguns outros tipos” (Halliday e Matthiessen, 2004:170). As seqüências de figuras são realizadas por seqüências de complexos oracionais (Halliday e Matthiessen, 2004:364) para expressar diversos tipos de relações lógico- temporais entre os fragmentos de realidade percebidos pelo falante, como relações de causa e efeito ou seqüências de acontecimentos no tempo. As figuras podem ser combinadas pelo falante em seqüências, que são séries de figuras que podem ser expandidas indefinidamente por relações de expansão e projeção. Nas relações de expansão, uma figura expande outra, explicando-a em outras palavras, somando-se a ela ou enriquecendo-a com detalhes; enquanto que nas relações de projeção, uma figura pode projetar outra como fala ou pensamento (Halliday e Matthiessen, 1999:50-51). A representação da experiência humana em termos semânticos, segundo Halliday (1979:211), pode ser descrita por dois modos distintos, o lógico e o experiencial. No modo experiencial, segundo Halliday (1979:211), a realidade é realizada mais concretamente, na forma de construtos cujos elementos fazem referência a coisas. As
  • 29. I. Fundamentação teórica 29 estruturas lingüísticas atuariam como metáforas para as relações entre coisas e os elementos que participam dessas relações e são definidos por elas, sendo esses elementos identificados como Processo, Ator, Meta, Extensão, Maneira e outros. Estes, por sua vez, são interpretados como “papéis” “ocupados por” diversas classes de fenômenos, e essas classes de fenômenos têm nomes, nomes como lua e brilho e sombrio. No modo lógico, a realidade é representada em termos mais abstratos, na forma de relações que são independentes da natureza das coisas. Para Halliday (1979:215), as estruturas lógicas são de tipo diferente das estruturas experienciais, interpessoais e textuais. Em termos da teoria sistêmica, onde esses três tipos de estrutura – particulada (elementar), prosódica e periódica – geram simplexos (orações, grupos, palavras, unidades de informação, ou seja, funções atribuídas a elementos individuais), as estruturas lógicas geram complexos (complexos oracionais, complexos de grupos, etc., ou seja, funções atribuídas à relação entre dois ou mais elementos). Segundo Halliday e Matthiessen (2004:61), a função experiencial tende a ser realizada por estruturas segmentais, baseada na constituência, e a função lógica tende a ser realizada por estruturas iterativas. A função lógica e a experiencial da metafunção ideacional são descritas em mais detalhes nas próximas subseções. 1.4.1. A função lógica Para expressar a interpretação de sua experiência, o falante organiza os fenômenos, em seus vários níveis de complexidade, em relações de expansão e projeção (Halliday e Matthiessen, 1999: 106). Essas relações lógicas são descritas abaixo: Expansão: Elaboração (i.e, por exemplo, viz) – uma oração expande a outra elaborando outra (ou parte desta), dizendo a mesma coisa em outras palavras, especificando em maiores detalhes, comentando ou exemplificando. Extensão (“e”, “ou”) – uma oração estende a outra quando inclui algum elemento novo, dando uma exceção ou oferecendo uma alternativa. Intensificação (então, ainda, dessa forma) – uma oração intensifica a outra enriquecendo está última, qualificando-a com algum elemento circunstancial de tempo, lugar, causa ou condição.
  • 30. I. Fundamentação teórica 30 Projeção: Locução: “diz” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma locução, uma construção de fraseado Idéia: “pensa” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma idéia, uma construção de significado. (Halliday e Matthiessen, 2004:378) Deve-se destacar que, embora as definições acima estejam aplicadas à oração, as relações lógicas podem ser expressas entre elementos de todos os níveis, da palavra ao complexo oracional (Halliday e Matthiessen, 2004:367). Um sistema importante na construção de complexos lógicos é o de Conjunção (Halliday e Matthiessen, 2004:541), que estabelecem relações de elaboração, extensão e intensificação entre elementos e que em trabalhos anteriores (Halliday e Matthiessen, 1999:58) era realizado por um elemento denominado relator. Alguns exemplos de conjunções são: Elaboração: em outras palavras (expositório), por exemplo (explicativo), etc. Extensão: ainda assim, mas (adversativo), por outro lado (variativo), etc. Intensificação: portanto (causal), da mesma forma (maneira), etc Um sistema detalhado de Conjunção pode ser encontrado em Halliday e Matthiessen (2004:541). Além da relação lógico-semântica entre as orações, a função lógica também é descrita pela interdependência, também chamada de taxe, entre as orações (Halliday e Matthiessen, 2004:373). Segundo Halliday e Matthiessen (2004:374-75), quando as duas orações são de mesmo status, temos uma relação paratática com uma oração iniciadora e outra continuadora, o que na gramática tradicional é conhecido como coordenação. Quando as duas orações forem de status diferentes, temos uma relação hipotática com uma oração dominante e outra dependente, o que na gramática tradicional é descrito como subordinação.
  • 31. I. Fundamentação teórica 31 1.4.2. A função experiencial Para Halliday e Matthiessen (2004:177), as figuras que representam a representação de mundo do falante são realizadas em orações compostas por elementos denominados processo, participante e circunstância. Os elementos que formam o “centro” da oração – o processo e os participantes envolvidos – expressam facetas complementares da mudança, a transiência e a permanência. A transiência é a experiência de mudança no tempo, expressa no grupo verbal que tem a função de processo. A permanência é a experiência de estabilidade no tempo, tendo uma localização no espaço (concreto ou abstrato), expressa no grupo nominal que tem a função de participante. O quadro 2 mostra os sistemas ideacionais de TEMPO VERBAL e DETERMINAÇÃO. O sistema de tempo verbal permite relacionar os fenômenos observados pelo falante no tempo (um processo aconteceu antes ou depois de outro processo), enquanto que o sistema de determinação permite posicionar uma entidade com relação a outra ou com relação a um grupo de entidades (onde, por exemplo, aquele homem diferencia um indivíduo em particular dos outros). tipo de elemento localização sistema termos processo (realizado pelo grupo verbal) tempo referencial TEMPO VERBAL passado (era) presente (é) futuro (será) participante (realizado pelo grupo nominal) espaço referencial DETERMINAÇÃO específica (o, esse, este, aquilo, etc.) não específica (um, algum, qualquer, etc.) Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais (adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004:178) As próximas subseções descrevem em maiores detalhes os elementos da transitividade: A) Participantes Segundo Halliday e Matthiessen (1999:54), o participante é um elemento inerente ao processo, que causa a sua ocorrência ou que medeia este processo, havendo muitas maneiras pelas quais o participante pode tomar parte de um processo: “executando o processo, sentindo-o, recebendo-o, sendo afetado por ele, dizendo-o e assim por diante”. Em Halliday e Matthiessen (1999:60), os participantes são classificados como coisas
  • 32. I. Fundamentação teórica 32 (things) com qualidades (qualities). Um sistema de taxonomia de Coisas é apresentado na figura 2: Figura 2. Taxonomia de participantes Alguns exemplos destes elementos são (traduzido de Halliday e Matthiessen, 1999:61):  Consciente: pessoa, homem, mulher, criança, etc.  Animal: cavalo, cachorro, formiga, etc.  Objeto: casa, pedra, martelo, etc.  Substância: água, ar, areia, etc.  Abstração material: história, matemática, calor, sabor, cor, etc.  Instituição: governo, escola, empresa, etc.  Objeto semiótico: livro, documento, pintura, receita, etc.  Abstração semiótica: noção, idéia, fato, princípio, etc. A identificação da natureza dos participantes é importante para a análise, pois determinados tipos de participante estarão associados a determinados processos e, como discutido na seção de Avaliação, também a interpretação dos tipos de Atitude que podem ser associados a determinados tipos de participantes. As descrições das funções dos participantes no sistema de Transitividade são apresentadas na seção B, como parte das descrições dos processos aos quais esses participantes estão associados. A.1) Qualidades Como visto acima, os participantes são realizados por grupos nominais, compostos por uma Coisa (Thing), que é o núcleo semântico do grupo nominal. Esses participantes
  • 33. I. Fundamentação teórica 33 podem ser modificados por vários tipos de elementos, como mostrado em Halliday e Matthiessen (2004:312-324):  Dêitico – usado para especificar a coisa expressa no grupo nominal, como esse, esta, aquele, meu, seu. Em inglês, essa função também é cumprida pelo genitivo „s, que não existe em português.  Pós-Dêitico – usado em conjunto com o Dêitico, para especificar ainda mais a coisa, fazendo referência “à sua fama ou familiaridade, status no texto ou similaridade/dissimilaridade com outro subconjunto de coisas” (Halliday e Matthiessen, 2004:316).  Numerativo – que indica uma característica numérica, como por exemplo: o governador nomeou | sete ministros |.  Epíteto – destaca uma característica da Coisa, como bonita, velho, rápido.  Classificador – indica uma categoria na qual podemos classificar a Coisa, como por exemplo, (trens) elétricos  Qualificador – sintagmas e orações deslocadas em nível (rankshift), encaixadas no grupo nominal, referidas por Halliday como pós-modificadores (post- modifiers)5, como em: a criança com o chapéu azul e a criança que usava um chapéu azul. Segundo Halliday e Matthiessen (2004:486), podem ser formados grupos nominais complexos, formados por mais de um participante, segundo as relações lógicas de expansão e projeção (como em meu irmão e eu, onde “meu irmão” e “eu” guardam entre si uma relação lógica de expansão: extensão). Além disso, podem ser formadas expressões de Faceta (Facet) no grupo nominal (2004:334), nas quais um participante representa uma parte ou característica de outro (como em o topo da montanha). B) Processo O processo é o núcleo da transitividade, que realiza a metafunção ideacional (Halliday, 1994:106). Usando os recursos do sistema ideacional, o falante interpreta o mundo da experiência por meio de um conjunto de tipos de processos, representados na 5 No idioma português, os elementos Epítetos e Classificadores, diferentemente do inglês, tipicamente são colocados após o núcleo do grupo nominal, o que parece tornar o conceito de pré e pós-modificador do grupo nominal impróprio em nosso idioma. Desconheço a existência de estudos sobre essa questão.
  • 34. I. Fundamentação teórica 34 figura 3. A representação dos tipos de processos por um círculo mostra, segundo Halliday (1994:107) e Halliday e Matthiessen (2004:172), que (i) não há prioridade de um processo sobre o outro e que (ii) embora haja áreas centrais, relacionadas a significados prototípicos dos processos, essas regiões são contínuas, com fronteiras indistintas entre si. Os principais tipos de processos estudados pela LSF são os processos Material (que acontecem no mundo material), Mental (que descrevem experiências internas do ser humano) e Relacional (processos de classificação e identificação). Halliday (1994:107) descreve também outros processos, que estariam nas fronteiras dos processos principais, o Comportamental (manifestações exteriores dos processos mentais), Verbal (relações simbólicas construídas na consciência humana e desempenhadas na forma de linguagem) e o Existencial (pelo qual os fenômenos existem ou acontecem). Figura 3. Representação dos tipos de processos Alguns exemplos desses processos são mostrados a seguir:  Processo Material: Eles construíram uma casa. Nesse exemplo, temos um participante (eles) responsável por uma ação material (construíram) e um participante que foi criado fisicamente a partir dessa ação (casa).  Processo Mental: Ela gostou do presente. Esse exemplo mostra uma manifestação da consciência (gostou) de um participante (ela) provocada por outro participante (presente).  Processo Relacional: A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil. Esse processo estabelece uma relação entre dois participantes, no qual um deles (Tele_A)
  • 35. I. Fundamentação teórica 35 é representado (é) como um participante que ocupa uma determinada posição (a provedora de telecomunicações premium do Brasil)  Processo Verbal: Ele disse: “olá”. Nesse exemplo, temos um participante (ele) que cria uma locução (“olá”)  Processo Comportamental: A moça sorriu. Esse processo apresenta uma reação física (sorriu) resultante de uma manifestação da consciência de um participante (a moça)  Processo Existencial: Há uma árvore na montanha. Esse processo representa a existência de um participante (a árvore). Os Processos Materiais expressam variações provocadas por ações físicas, como a criação ou transformação de algo (Halliday e Matthiessen, 2004:179). Os principais participantes de processos materiais são:  Ator (Actor): O participante responsável pela entrada de energia no processo, por exemplo, João, em João chutou a bola.  Meta (Goal): O participante que é modificado pelo processo. No exemplo acima, a Meta seria a bola.  Escopo (Scope): Uma entidade que existe independentemente do processo e que não é afetada por este (HALLIDAY E MATTHIESSEN, 2004:192). Esse participante representa um domínio dentro do qual ocorre o processo (por exemplo, tênis, em João joga tênis) ou expressa o processo propriamente dito (por exemplo, banho, em João toma banho)  Recebedor (Recipient): Participante que recebe um produto, por exemplo, João, em João levou um soco.  Cliente6 (Client): Participante que recebe um serviço. Ele recebeu elogios  Atributo (Attribute): Especifica o estado resultante da meta (por exemplo, branca, em deixou a roupa branca) (Halliday e Matthiessen, 2004:194) Processos Mentais: Processos relacionados à experiência da consciência do falante, causados por algo que altere a consciência ou que nela seja originado (Halliday e Matthiessen, 2004:197). Os principais participantes desses processos são: 6 Nas análises, optei por manter a categoria de Beneficiário (Halliday 1994:144), para identificar o Recebedor e o Cliente, como aquele “a quem ou para quem o processo ocorre”.
  • 36. I. Fundamentação teórica 36  Experienciador (Senser): Um participante consciente ou representado como dotado de consciência, que sinta, pense, queira ou perceba (Halliday e Matthiessen, 2004:201), como Maria, no exemplo: Maria gostou do presente.  Fenômeno (Phenomenon): O participante externo ao falante que provoca a reflexão, sentimento, desejo ou percepção (Halliday e Matthiessen, 2004:203), como presente, no exemplo, Maria gostou do presente Processos Relacionais: Processos que caracterizam e identificam (Halliday e Matthiessen, 2004:210). Os processos relacionais são mostrados no quadro 3: atributivo “y é um atributo de x” identificador “y é a identidade de x” (1) intensivo “x é y” Maria é inteligente Maria é a líder; A líder é Maria (2) possessivo “x tem y” Maria tem um piano O piano é de Maria (3) circunstancial “x está em y” A festa é em uma terça-feira Amanhã é dia 10; Dia 10 é amanhã Quadro 3. Tipos de processos relacionais Os participantes dos processos relacionais são: Portador (Carrier): Entidade à qual foi atribuída uma classe (Halliday e Matthiessen, 2004:219), como em Maria é bonita, que coloca Maria entre a classe de pessoas bonitas. Em processos relacionais possessivos, o Portador é o participante Possuidor (Possessor), como em Maria tem um piano, onde Maria é caracterizada como alguém (Possuidor) que tem um piano. Atributo (Attribute): Classe atribuída ao Portador. Nos exemplos acima, o Atributo de Maria é bonita. Em processos relacionais possessivos, o Atributo é o participante Possuído (Possessed), que no exemplo acima, seria o piano. Identificado (Identified): O elemento ao qual é atribuída uma identificação (Halliday e Matthiessen, 2004:227), como as baleias em as baleias são os maiores mamíferos da Terra. Identificador (Identifier): O elemento que identifica um participante. No exemplo acima, o Identificador seria os maiores mamíferos da Terra.
  • 37. I. Fundamentação teórica 37 Adicionalmente aos participantes acima, temos os participantes Atribuidor (Attributor) e Designador (Assigner) que, respectivamente, são os participantes identificados no texto como os responsáveis pela atribuição e identificação (Halliday e Matthiessen, 2004:237), como eles, em Eles tornaram Maria feliz (atribuição) e Maria é vista por eles como bonita (identificação). Em Halliday e Matthiessen (2004:230), é discutida a interoperação entre as categorias Identificador/Identificado e Característica/Valor (Token/Value), relacionada à codificação e decodificação da identificação do participante na oração, que não será tratada aqui por não ter sido considerada relevante para as análises. Processos Comportamentais: Processos de comportamento fisiológico ou psicológico (Halliday e Matthiessen, 2004:248). Tem como participantes: Comportante (Behaver): O participante que expressa o comportamento, como Maria, em Maria riu. Comportamento (Behaviour): O comportamento observado, por exemplo, o sonho, em Maria teve um sonho, sendo um participante abstrato. Processos Verbais: Processos que expressam um dizer (Halliday e Matthiessen, 2004:252), transformando, assim uma locução ou idéia em participante. Tem como participantes: Dizente (Sayer): O participante identificado como o responsável pelo que foi dito, como João, em João disse: “Estou com fome”. Verbiagem (Verbiage): O participante que identifica o que foi dito; no exemplo acima, “Estou com fome”, sendo um participante semiótico. Receptor (Receiver): Um participante afetado pelo que foi dito, por exemplo, Maria em João acusou Maria de fraude. Processos Existenciais: Processos de existir (Halliday e Matthiessen, 2004:256), que representam algo que existe ou acontece. Nesses processos, o participante envolvido é o Existente (Existent) (Halliday e Matthiessen, 2004:258), como roubo em Houve um roubo.
  • 38. I. Fundamentação teórica 38 C) Circunstâncias Os processos podem ser expandidos por circunstâncias, consideradas por Halliday e Matthiessen (2004:263) como um processo “menor” (por não conter um verbo) subsidiário ao processo da oração principal. Segundo Halliday e Matthiessen (2004:261), o sintagma preposicional é uma construção híbrida, estando entre um grupo e uma oração, por ser formado por uma preposição, que atua quase como um verbo, e um grupo nominal, que não é diferente do participante da oração principal. Dessa forma, é feita a distinção entre participantes “diretos” e “indiretos”, sendo estes últimos participantes que participam “circunstancialmente” do processo. Os principais tipos de circunstância são descritos a seguir: As circunstâncias de Extensão e Localização expressam o desenrolar do processo no espaço e tempo. (Halliday e Matthiessen, 2004:264). Extensão (Extent): expressa a extensão do processo no tempo e espaço: a distância na qual o processo ocorreu ou a duração no tempo do processo. Inclui também a categoria de freqüência, que diz quantas vezes ocorre o processo. Localização (Location): expressa a localização do processo no tempo e espaço: o local onde o processo ocorreu ou o tempo (data/hora) em que ele ocorreu, como mostrado no quadro 4: Circunstâncias espacial temporal Extensão (inclui intervalo) Distância (Distance) andou (por) sete milhas parou a cada dez jardas Duração (Duration) parou (por) duas horas parou a cada dez minutos Freqüência (Frequency) bateu três vezes Localização Lugar (Place) trabalhou na cozinha Tempo (Time) levantou às seis da manhã Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização (traduzido de Halliday e Matthiessen, 2004:264) As circunstâncias de Maneira (Manner) expressam a maneira pela qual o processo ocorre, compreendendo as subcategorias de Meio, Qualidade, Comparação e Grau. As circunstâncias de Meio (Means) expressam os meios pelos quais o processo ocorre: as ligações para a Embratel em São Paulo podem ser feitas pelo número novo da operadora
  • 39. I. Fundamentação teórica 39 As circunstâncias de Qualidade (Quality) destacam uma característica do processo: O cartão telefônico tem se mostrado uma opção de mídia atraente para empresas que desejam colocar, de uma forma diferenciada, suas marcas em evidência. As circunstâncias de Comparação (Comparison) expressam uma semelhança ou diferença: O plano, lançado há sete meses, tem 100 mil usuários e funciona da mesma forma que a internet a cabo. (semelhança) Diferentemente das linhas fixas tradicionais, o Livre não cobra a assinatura mensal do usuário. (diferença) As circunstâncias de Grau (Degree) caracterizam a intensidade de uma característica associada ao processo. Agora, com a oferta das linhas para o público em geral, a tendência da demanda é aumentar ainda mais. As circunstâncias de Causa (Cause) expressam um motivo ou objetivo pelo qual ocorre o processo. Contém três subcategorias: As circunstâncias de Razão (Reason), que expressam condições existentes que levaram o processo a ocorrer. A Telefônica São Paulo economizará, só neste ano, cerca de R$ 1,5 milhão com postagem nos Correios, devido à redução do peso dos envelopes. As circunstâncias de Propósito (Purpose), que são as condições desejadas pelas quais o processo ocorre Para mais informações, é só acessar o site www.telefonica.com.br/midiaemcartao.
  • 40. I. Fundamentação teórica 40 As circunstâncias de Benefício (Behalf), que expressam tipicamente uma pessoa em favor da qual o processo ocorre. Além desta, para os clientes residenciais também estão disponíveis as versões 300, 450 e 600 Kbps. As circunstâncias de Contingência (Contingency) especificam um elemento do qual depende a ocorrência do processo. Essa categoria abrange os sub-tipos de Condição, Concessão e Falta. As circunstâncias de Condição (Condition) expressam circunstâncias que precisam ser obtidas para que o processo ocorra. Foi o que declarou à agência Reuters um tenente-coronel da Aeronáutica, ligado à administração da base aérea, sob a condição de anonimato. As circunstâncias de Concessão (Concession) expressam uma causa frustrada, com o sentido de “apesar” Mesmo com as tarifas promocionais, as ligações entre São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, podem sair mais baratas por outras operadoras. As circunstâncias de Falta (Default) têm o sentido de uma condição negativa, como em “se não houver” “a menos que”. Na ausência de tais agências, não ocorrerá o investimento privado necessário. As circunstâncias de Acompanhamento (Accompaniment) expressam uma forma de participação conjunta no processo, podendo ser comitativa (como em Fred veio com/sem Tom) ou aditiva (como em Fred veio, assim como/em vez de Tom) Isto inclui um ambiente de serviços de contingência para aplicações críticas, bem como um ambiente de testes e homologação de novos sistemas.
  • 41. I. Fundamentação teórica 41 As circunstâncias de Papel (Role) têm os subtipos de Guisa (Guise) e Produto (Product). As circunstâncias de Guisa expressam o significado de ser (atributo ou identidade) na forma de circunstância. Uma nova versão do serviço de banda larga da Telefônica, o Speedy, tem como alvo o usuário que faz "uso básico" da internet. As circunstâncias de Produto têm o significado de “tornou-se”, de forma similar a um atributo ou identidade. Em 1998, a instituição transformou-se em fundo de pensão fechado multipatrocinado. As circunstâncias de Assunto (Matter) são relacionadas a processos verbais, sendo equivalentes à Verbiagem, ao que está sendo descrito, referido ou narrado. Em relação ao ranking do Procon, é preciso entender que ele mostra números absolutos, sem levar em conta as dimensões da base de clientes das empresas que constam da lista. As circunstâncias de Ângulo (Angle) são relacionadas ao Dizente de uma oração “verbal” ou ao Experienciador de uma oração “mental”. As circunstâncias de Fonte (Source) são usadas para representar a fonte da informação. Segundo a empresa, a extensão dos prazos da dívida irá assegurar que a Embratel continue a investir para atender o mercado corporativo, governo e clientes residenciais. De acordo com o presidente da Anhembi Turismo, Caio Luiz de Carvalho, o evento não terá custo para a prefeitura ou para o Estado. As circunstâncias de Ponto de Vista (Viewpoint) são usadas para representar a informação dada pela oração como o ponto de vista de alguém. Para a Telemar, o comercial da Embratel é "propaganda enganosa".
  • 42. I. Fundamentação teórica 42 Halliday e Matthiessen (2004:262) estabelecem as seguintes relações entre os tipos de conjunções e as relações lógicas:  Intensificação: Circunstâncias de Extensão, Localização, Maneira, Causa e Contingência  Extensão: Circunstância de Companhia  Elaboração: Circunstância de Papel  Projeção: Circunstâncias de Assunto e Ângulo Deve-se destacar que essa é apenas uma breve descrição de toda a complexidade envolvida na identificação de participantes, processos e circunstâncias, que é uma das áreas que mais provocam discussões entre os sistemicistas. A próxima seção apresenta o conceito de metáforas gramaticais ideacionais, que descreve outras formas de realização dos significados ideacionais. 1.4.3. Metáforas ideacionais Como comentado acima, os significados podem ser expressos pelo uso de diferentes recursos léxico-gramaticais por um processo metafórico. Ao falar de metáforas, podemos distinguir formas congruentes e formas não congruentes, onde o conceito de congruência está relacionado, segundo Halliday (1998:208) à maneira pela qual a relação entre o significado e a classe gramatical começou a ser desenvolvida ao longo da evolução da linguagem. Segundo Halliday (1998:208), temos os seguintes padrões de congruência entre os significados associados à metafunção ideacional e as classes gramaticais: função semântica [expressa por] classe gramatical relator (em seqüências) conjunção processo menor (na circunstância) preposição processo verbo qualidade adjetivo entidade (“coisa”) substantivo Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais (Halliday, 1998:208) Dessa maneira, por exemplo, a forma congruente de se representar uma relação entre duas orações seria pelo uso de um relator, expresso por uma conjunção, a forma congruente de uma circunstância seria uma preposição; um processo teria como realização
  • 43. I. Fundamentação teórica 43 típica um verbo e um participante, um substantivo. Em Halliday e Matthiessen (2004:177), a descrição das realizações típicas dos elementos da transitividade na oração utiliza o conceito de grupos de palavras, onde os processos são realizados tipicamente por grupos verbais, os participantes, por grupos nominais, e as circunstâncias, por sintagmas preposicionais ou grupos adverbiais. Entretanto, esses mesmos significados podem ser expressos por formas não congruentes, que seriam variações nas formas de realização dos significados. Um exemplo dessas variações pode ser visto no quadro 6, que mostra uma relação de causa e efeito (você estudou, assim foi aprovado) realizada de maneiras diferentes: mudança de status mudança de nível exemplo De: relator: conjunção De: complexo oracional Você estudou, assim foi aprovado Para: circunstância Para: oração Você foi aprovado pelo estudo Para: processo Para: oração Sua aprovação resultou do estudo Para: qualidade Para: grupo nominal A aprovação decorrente de seu estudo ... Para: substantivo Para: grupo nominal O resultado de seu estudo foi a aprovação Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico (adaptado de Halliday 1998:212) Como podemos ver acima, a relação de causa/efeito da primeira oração, expressa pela conjunção (assim) está expressa por uma circunstância (pelo) na segunda oração, pelo processo (resultou) na terceira, por uma qualidade (decorrente) na quarta oração e por um participante (resultado) na última. Segundo Halliday (1998:211), qualquer elemento ideacional pode ser transformado em uma entidade, em um dos recursos mais poderosos de criação de significados, denominado nominalização (Halliday e Matthiessen, 2004:656). A transformação de ações e estados em participantes do discurso permite a atribuição de qualidades a ações (como em excelente defesa) e a composição de ações (como em o início da instalação), para que possamos atribuir papéis a ações e estados ou que omitamos o sujeito da ação (como em a implementação teve início em abril). A nominalização também tem um papel importante na avaliação, como mostrado em Martin (2006:180), permitindo que, por exemplo, “empacotemos” conjuntos de valores em uma palavra, como em promoção. Como já mencionado, na metáfora gramatical, há uma mudança de uma categoria gramatical para outra, que envolve a mudança vertical de nível de constituência e uma mudança horizontal, de classe e função (Halliday, 1998:213). Como as classes e funções gramaticais já estão descritas acima, a seguir são descritas as formas como os significados
  • 44. I. Fundamentação teórica 44 podem ser expressos em diferentes níveis da estrutura, que é a dimensão da LSF que se refere ao aspecto composicional da linguagem denominado constituência (Halliday e Matthiessen, 2004:9). Segundo Halliday e Matthiessen: (...) ao analisar a gramática, vemos que a estrutura de cada unidade é uma configuração orgânica, formada por unidades que têm funções distintas com relação ao todo. Essas unidades podem ser organizadas para formar complexos e seqüências iterativas, que trabalham juntas como uma única parte. Dessa forma, unidades menores podem formar unidades maiores, que podem ser reunidas para formar unidades maiores ainda. (Halliday e Matthiessen, 2004:9) Na teoria sistêmica, essa constituência é organizada em níveis (ranks) que organizam o modo como o significado é expresso na gramática. Em Halliday e Matthiessen (2004:9), são resumidos os cinco princípios da constituência, que mostram os modos pelos quais as unidades podem ser combinadas: 1. Há uma escala de nível na gramática de cada língua, que pode ser descrita por: complexo oracional, oração, grupo/sintagma, palavra e morfema (do maior para o menor nível). Como a análise gramatical analisa estruturas formadas por mais de uma palavra, os níveis usados na análise gramatical são o complexo oracional, oração e grupo de palavras. Esses níveis podem ser identificados pelo sistema de notação mostrado no quadro 7: ||| complexo oracional [[[ ]]] complexo oracional deslocado <<< >>> complexo oracional encaixado || oração [[ ]] oração deslocada << >> oração encaixada | sintagma ou grupo [ ] sintagma ou grupo deslocado < > sintagma ou grupo encaixado Quadro 7. Convenção de notação para representar a constituência léxico-gramatical (adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004: 10) 2. Cada escala é formada por uma ou mais unidades do nível imediatamente inferior, como no exemplo abaixo: | A avenida | | será interditada | | para a festa | No exemplo acima, temos uma oração formada por três grupos de palavras: um grupo nominal (A avenida), um grupo verbal (será interditada) e um sintagma preposicional (para a festa).
  • 45. I. Fundamentação teórica 45 3. Unidades de mesmo nível podem formar complexos, como mostrado nos exemplos abaixo: Embratel indica | Weffort e Mendonça de Barros | para conselho Nesse exemplo, temos um grupo nominal complexo, formado por dois nomes próprios, Weffort e Mendonça de Barros. No exemplo abaixo, temos um complexo oracional formado por duas orações, uma iniciada por A Tele_B tem procurado (...) e a outra iniciada por sem esquecer a preocupação (...). ||| A Tele_B tem procurado patamares cada vez mais elevados de eficiência e produtividade, || sem esquecer a preocupação em atender os segmentos da sociedade de menor renda. ||| 4. Pode existir o deslocamento de nível (rank shift), pelo qual a unidade de um rank pode ser colocada em um nível inferior (downranked) para funcionar na estrutura de uma unidade de seu próprio nível ou de um nível inferior, como abaixo: As linhas da economia são voltadas para | um público [[[ que precisa de um telefone fixo, || mas quer controlar os gastos com chamadas para celulares ou interurbanos ]]] |. No exemplo acima, temos um grupo nominal que faz referência ao público-alvo da empresa. Esse grupo nominal contém um elemento de nível superior, um complexo oracional formado por duas orações (que precisa (...) e mas quer controlar (...)). 5. É possível que uma unidade seja encaixada dentro de outra, não como uma constituinte desta, mas de forma a dividi-la em duas partes separadas, como no exemplo abaixo: Amaral destacou |, no entanto, | que as empresas já praticam tarifas promocionais para DDD e DDI, menores que as autorizadas. Nesse exemplo, temos um sintagma preposicional (no entanto) encaixado, que divide em duas a oração principal (Amaral (...) destacou que). Após a apresentação dos principais recursos relacionados à metafunção ideacional utilizados na análise, a próxima seção analisa os recursos léxico-gramaticais que realizam a
  • 46. I. Fundamentação teórica 46 metafunção interpessoal, além dos desenvolvimentos baseados nessa teoria e os estudos de avaliação. 1.5. A metafunção interpessoal Além de interpretar a experiência, a linguagem também estabelece os papéis pessoais e sociais com os outros, pelos recursos da metafunção interpessoal. Como apontado por Halliday e Matthiessen: "a oração da gramática não é somente uma figura que representa um processo, mas também uma proposição ou proposta, pela qual informamos ou perguntamos, damos ordens ou fazemos ofertas e expressamos nossa avaliação ou atitude com relação ao que estamos tratando ou sobre o que estamos falando". (Halliday e Matthiessen, 2004:29) Uma das principais funções da linguagem é possibilitar a interação entre as pessoas, permitindo ao falante “entrar” em uma interação (Halliday, 1978:112) com outros falantes e agir sobre eles (Halliday 1994:xiii). Pelos recursos de criação de significados relacionados à metafunção interpessoal, o falante pode expressar status, atitudes sociais e individuais, avaliações e julgamentos (Halliday, 1970:189). Conforme Halliday (1994:68), “a oração é organizada como um evento interativo que envolve o falante, ou escritor, e o público”, no qual o falante assume uma função de fala e atribui uma função de fala ao ouvinte. Halliday (1994:68-69) utiliza dois critérios básicos para distinguir as funções de fala: se a linguagem é usada para dar ou pedir e a natureza do que está envolvido na troca, se bens e serviços ou informações. Com base nesses critérios, as funções de fala básicas são classificadas como oferta, comando, declaração ou pergunta, como mostrado no quadro 8. Papel na troca O que está sendo trocado bens e serviços informações dar oferta “você quer esta chaleira?” declaração “ele está dando a chaleira a ela” pedir comando “dê para mim esta chaleira!” pergunta o que ele está dando a ela? Quadro 8. Funções de fala (traduzido de Halliday, 1994:69) Segundo Halliday e Matthiessen (2004:110), as funções básicas de fala são “pontos de entrada para uma grande variedade de funções retóricas”, o que quer dizer que,
  • 47. I. Fundamentação teórica 47 combinando essas funções com outros recursos léxico-gramaticais que realizam a metafunção interpessoal, podemos fazer ofertas na forma de sugestões ou pedidos na forma de perguntas, por exemplo. No estrato da semântica, as trocas de bens e serviços são denominadas propostas e as trocas de informações são denominadas proposições (Halliday 1994:70-71, Halliday e Matthiessen, 2004:110). Os principais recursos lingüísticos relacionados à metafunção interpessoal são descritos a seguir. 1.5.1 O sistema de Modo Os significados relacionados à metafunção interpessoal são realizados na oração principalmente pelo sistema de Modo (Mood), que é a gramaticalização do sistema semântico das funções de fala (Halliday e Matthiessen, 2004:113). A estrutura do sistema de Modo é formada pelo Sujeito (Subject), Finito (Finite) e Resíduo (Residue). O Sujeito faz parte da proposição, sendo “sobre o que” a proposição pode ser afirmada ou negada (Halliday e Matthiessen, 2004:117). Esse elemento, realizado por um grupo nominal, pode ser identificado por uma pergunta de confirmação, por exemplo, na proposição João fez o bolo, João pode ser identificado como Sujeito pela pergunta de confirmação: Não fez (João)? O Finito, que faz parte de um grupo verbal, tem a função de tornar a proposição finita, torná-la algo sobre o que se pode argumentar, estabelecendo uma relação entre essa proposição e o contexto no evento de fala, pela referência ao momento em que essa fala ocorre e ao julgamento do falante. Essas duas características, segundo Halliday e Matthiessen (2004:116) têm em comum a dêixis interpessoal, por criarem entre o falante e o ouvinte uma região semântica de tempo e incerteza. O tempo interpessoal está relacionado à diferença do que é presente para o falante e o que é presente para o ouvinte; pela incerteza, o falante pode expressar ou pedir para o ouvinte expressar a certeza ou dúvida sobre a proposição. A referência entre a proposição e o contexto do evento da fala é expressa pelo tempo verbal primário – o passado, presente ou futuro. Em uma comparação com a metafunção ideacional, a expressão de tempo na metafunção ideacional refere-se ao tempo entre os fenômenos (processos) descritos, enquanto que na metafunção interpessoal, a expressão de tempo refere-se ao tempo entre a proposição e o momento da fala. Neste ponto, parece útil introduzir a distinção feita por Halliday e Matthiessen (2004:280) entre o