Uma comerciante de Piçarras que teve seu estabelecimento assaltado seis vezes resolveu colocar um aviso na porta afirmando que atiraria para matar o próximo ladrão. Ela alega falta de segurança e descaso das polícias. O promotor condena a atitude da comerciante e diz que ela pode responder criminalmente. A polícia militar admite falta de efetivo para atender as ocorrências de forma rápida.
1. Expresso das Praias
24 de maio de 2014
21SEGURANÇA
Revoltada, comerciante assaltada mais de cinco
vezes quer fazer justiça com as próprias mãos
Em aviso na porta do estabelecimento ela diz que vai atirar pra matar
CRIME CONTRA O CRIME
Frota da PM fica parada por falta de efetivo para atuar na cidade
Piçarras-Depoisdeserfurtada
seis vezes em dois anos e ter
um prejuízo de mais de R$ 10
mil, uma comerciante resolveu
fazer justiça com as próprias
mãos. Por motivo de segurança
ela prefere não se identificar,
mas procurou a reportagem
do Expresso para avisar que
colocou um cartaz em frente do
estabelecimento avisando que
vai matar a primeira pessoa
que encontrar roubando o seu
estabelecimento. O Ministério
Público adverte que ela pode
ser processada criminalmente.
A mulher está decidida a
atirar em quem for flagrado
invandindo o comércio mesmo
ciente da possibilidade de ser
presa. “Eu vou atirar. Eu não
vou esperar atirar em mim ou
me atacar primeiro. Se for presa
eu pago fiança e respondo em
liberdade, mas vou matar”,
avisa. A revolta, segundo ela,
vem da falta de segurança
que enfrenta todos os dias.
“Entraram aqui seis vezes e em
todas elas esses ladrõezinhos
levam tudo que encontram
pela frente. Só de televisão eu
perdi a conta de quantas já me
roubaram. Isso é revoltante,
não temos segurança nenhuma
em Piçarras”, desabafa.
Ela acusa as polícias Civil e
Militar de descaso. “Todas
as vezes que entram no meu
comércio, o alarme dispara e
uma mensagem é enviada no
meu celular. Eu ligo e a PM diz
que só tem uma viatura e que
vai demorar. Na Polícia Civil
é a mesma coisa. Os policiais
civis sequer se preocupam em
verificar as imagens gravadas
dos ladrões pelas câmeras
de videomonitoramento que
instalei”, reclama.
A mulher contou que já se
desfez de uma arma e pretende
comprar outra. “Eu não tenho
porte. Já tentei fazer, mas é
muita burocracia. A arma que
estava usando era de família
e cheguei a fazer aulas de
tiro. A minha intenção agora
é comprar uma outra arma
para me defender. Por que
os bandidos podem andar
armados e eu não?”, compara.
MP condena atitude
O promotor de justiça Luís
Felipe de Oliveira Czesnat,
avisa que o que a comerciante
pretende fazer é crime.
“Primeiro responderia pelo
crime de porte ilegal de arma e,
se por acaso ela cumprir o que
está falando, pode responder
por homicídio”, esclarece.
Segundo Czesnat, fazer justiça
com as próprias mãos não
resolveoproblema.“Eladeveria
fazer um abaixo assinado,
conversar com o secretário de
segurança pública ou o político
[parlamentar] que ela elegeu e
pedir mais segurança. Agindo
como uma justiceira não vai
Rogério Pinheiro
ajudar em nada, ao contrário,
só vai piorar a sua situação”.
Falta efetivo
O subtenente da Polícia Militar
de Balneário Piçarras, Edson
Luís Saraiva Corrêa, admitiu
que o atraso para atender às
ocorrências se deve à falta de
efetivo. “Hoje apenas uma
viatura faz o plantão noturno
em Piçarras. Não é por falta
de veículos, mas sim por
falta de pessoal. Às vezes a
viatura precisa terminar um
atendimento para começar
outro”, explica.
Saraiva disse que a PM de
Piçarras precisa de mais
policiais com urgência. “Hoje
a PM conta com 23 policiais,
e muitos deles vão entrar
de férias em breve. Nosso
período de férias é de março a
novembro. Temos baixas com
o pessoal que pede licença
médica e também quem se
aposenta. Precisamos de mais
policiais, não só para repor
aqueles que estão saindo, pois
isso não resolveria a falta de
efetivo”, alerta o subtenente.
A reportagem tentou conversar
com o delegado interino da
Polícia Civil de Piçarras,
Wilson Masson, mas ele não
foi encontrado na delegacia
de Piçarras e nem de Barra
Velha, onde trabalha. Já o
diretor de Polícia do Litoral,
Artur Nitz, está de férias, e não
pode responder a acusação de
descaso feita pela comerciante.
Rogério Pinheiro