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AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Opinião
As Potencialidades
e os Perigos
do Algarve Natural
"Quando a aurora chega, dorme e guarda como avaro o seu perfume;
Quando cai a noite, espalha-o e exalta-o".
Ibn Darraj Al-Qastalli
(Poeta islâmico que nasceu em Cacela Velha no ano de 958)
Texto e Fotos_Jorge Moreira (Ambientalista)
Opinão
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
O Algarve é uma região que apresenta
condições climatéricas, morfológicas e
estéticas muito aprazíveis e interessantes,
com praias de areias finas e águas mansas,
quentes e translúcidas, que potencia um
turismo veraneante e um vasto conjunto de
serviços subjacentes, tais como a hotela-
ria, a restauração, o comércio, o golfe, os
parques de diversões e os resorts.
Estas peculiaridades lapidaram par-
cialmente esta belíssima zona, com uma
explosão imobiliária capaz de alimentar o
turismo de massas, aliado, em muitos dos
casos, a um péssimo ordenamento do ter-
ritório. Mas nem tudo se perdeu e o Algarve
ainda preserva vastas zonas naturais de
ímpar interesse ambiental, algumas com
instrumentos de proteção nacionais bem
delineados, como são os casos do Parque
Natural da Ria Formosa, do Parque Natural
do Sudoeste Alentejano e Costa Vincentina
e da Reserva Natural do Sapal de Castro
Marim e de Vila Real de Santo António.
Para além destes instrumentos, há ainda a
considerar as áreas classificadas pela Rede
Natura 2000: zonas da Serra de Monchique
e Caldeirão, Ribeira da Quarteira, Barrocal,
Cerro da Cabeça, Arade/Odelouca, Alvor,
Leixão da Gaivota e Piçarras; e as áreas flo-
restais: de Conceição de Tavira, de Vila do
Bispo, do Barão de São João, da Quinta de
Marim e as Matas Nacionais da Parra, das
Dunas de Vila Real de Santo António e das
Terras de Ordem. Estas áreas albergam
uma riquíssima biodiversidade com alguns
endemismos que devem ser acautelados.
Para além do mar, esta Região desfruta
de uma geomorfologia muito variada, com
praias, zonas dunares, sapais, montanha,
bacias hidrográficas, etc., que encerra
paisagens lindíssimas, praias douradas,
ilhotas selvagens, campos e matas floridas
e perfumadas, golfinhos, camaleões, pou-
pas ou flamingos que acalentam o nosso
imaginário mais belo. Não será esta a maior
riqueza do Algarve?
É verdade que muitas das maravilhas
desta Região não constam nos cardápios
turísticos comuns e é necessário sair um
pouco da zona de conforto e da piscina do
hotel para procurar esta Natureza deslum-
brante. Mas, acreditem que vale mesmo a
pena. De bicicleta, a pé, de cavalo, de carro
ou mesmo de barco, descobrir o “outro”
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Opinião
Algarve, o interior e pouco povoado, as al-
deias rurais e históricas, as praias desertas
e fluviais, as lagoas e quedas de água, os
rebanhos, as perdizes e os coelhos selva-
gens, as garças, os patos e as andorinhas,
escutar o silêncio da montanha e o canto
das aves ou deliciar-se com as fragâncias
que se libertam suavemente da flora sil-
vestre. E se se esqueceu das horas e do
farnel, não há problema! Vastos laranjais,
figueiras alfarrobeiras, amendoeiras, vinhas
e oliveiras encontram-se frequentemente,
bem como uma deliciosa pastelaria que
incorpora muitos dos frutos regionais.
Poderá ainda encontrar gente afável ou
estrangeiros que fugiram do stress citadino
e escolheram o Algarve natural para viver
ou passar parte das suas vidas. Até co-
munidades de permacultura ou de cultura
alternativa, que vivem em contato estrito
com a Natureza, podemos, em muitos
casos, visitar. São imensos os locais a
descobrir, onde pode fotografar ou pintar
pormenores da fauna e flora ou encantar-se
com o reflexo da paisagem. O conceito de
turismo da Natureza, um produto com fran-
co crescimento mundial, que em Portugal
encontra nichos excelentes com condições
de amplo desenvolvimento económico, en-
caixa que nem uma luva no Algarve natural.
Trata-se de um turismo que pretende ser
sustentável, culturalmente e naturalmente
rico, com uma capacidade de carga que
respeita os ecossistemas, e, em muitos
casos, remediador de zonas degradadas.
Potencia-se o natural e a harmonia entre o
Ser Humano e a Natureza.
O Algarve pode oferecer tudo isto,
conjuntamente com a praia, o golfe e os
desportos ligados à Natureza - pedes-
trianismo, orientação, escalada, hipismo,
rapel, balonismo, BTT, observação de
aves, fotografia da natureza, vela, surf,
windsurf, kitesurf, canoagem, remo,
mergulho e muitas outras que se poderão
acrescentar, que no seu conjunto podem
arrecadar vastas receitas para a região e
para o país. Então, porque se continua a
querer destruir a harmonia natural com a
construção de mais um aldeamento caó-
tico que perturba fortemente a natureza
envolvente? Mais! Porquê colocar em risco
parte deste vasto património natural, com
a concessão de direitos de prospeção,
pesquisa e produção de petróleo que o
Governo Português assinou com a Repsol
para as áreas designadas por Lagosta
e Lagostim, áreas marinhas em frente
ao Parque Natural da Ria Formosa e ao
Parque Natural do Sapal de Castro Marim
e Vila Real de Santo António? Será esta a
política que todos pretendemos? Continuar
a apostar nos combustíveis fósseis que
contribuem amplamente para as alterações
climáticas e são potencialmente perigosos
para a Natureza envolvente e toda a ativi-
dade humana compreendida – turismo,
pesca, aquacultura, etc. – em detrimento
das energias renováveis mais limpas? Será
sensato atribuir uma licença de conceção
de uma atividade deste tipo sem a desejá-
vel Avaliação de Impacte Ambiental?
Provavelmente não se verá da praia o
complexo de prospeção. Seria catastrófico
para o Turismo estar na Praia Verde e ver
uma offshore petrolífera. Mas o impacto
da sua atividade poderá eventualmente
chegar à costa e não faltam exemplos
lamentáveis de derrames acidentais e ou-
tras catástrofes oriundas desta atividade.
O que acontecerá depois ao Turismo, às
atividades locais que vivem do mar e às
aves moribundas cobertas de crude? Será
que os riscos compensam o potencial
dano ambiental e humano? Será que os
pescadores e os Parques Naturais lucrarão
com a instalação da offshore?
Perante a postura miserável de muitas das
atividades económicas da atualidade, dos
acidentes e do colapso criminoso de tantas
outras, com consequências gravosas para
os mais desfavorecidos, que normalmente
pagam a fatura, será insensato continuar
a licenciar atividades altamente danosas
para o ambiente e potencialmente perigo-
sas. Terei muita dificuldade em perceber a
mais-valia que a offshore petrolífera trará
para o Algarve, bem como a perpetuação
da política do betão.
O turista está cada vez mais exigente e
o Algarve só terá futuro se for sustentável
e naturalmente belo. Isto é: não estragar e
potenciar aquilo que já o é.
Paz a todos os seres

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  • 1. AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Opinião As Potencialidades e os Perigos do Algarve Natural "Quando a aurora chega, dorme e guarda como avaro o seu perfume; Quando cai a noite, espalha-o e exalta-o". Ibn Darraj Al-Qastalli (Poeta islâmico que nasceu em Cacela Velha no ano de 958) Texto e Fotos_Jorge Moreira (Ambientalista)
  • 2. Opinão AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS O Algarve é uma região que apresenta condições climatéricas, morfológicas e estéticas muito aprazíveis e interessantes, com praias de areias finas e águas mansas, quentes e translúcidas, que potencia um turismo veraneante e um vasto conjunto de serviços subjacentes, tais como a hotela- ria, a restauração, o comércio, o golfe, os parques de diversões e os resorts. Estas peculiaridades lapidaram par- cialmente esta belíssima zona, com uma explosão imobiliária capaz de alimentar o turismo de massas, aliado, em muitos dos casos, a um péssimo ordenamento do ter- ritório. Mas nem tudo se perdeu e o Algarve ainda preserva vastas zonas naturais de ímpar interesse ambiental, algumas com instrumentos de proteção nacionais bem delineados, como são os casos do Parque Natural da Ria Formosa, do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vincentina e da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e de Vila Real de Santo António. Para além destes instrumentos, há ainda a considerar as áreas classificadas pela Rede Natura 2000: zonas da Serra de Monchique e Caldeirão, Ribeira da Quarteira, Barrocal, Cerro da Cabeça, Arade/Odelouca, Alvor, Leixão da Gaivota e Piçarras; e as áreas flo- restais: de Conceição de Tavira, de Vila do Bispo, do Barão de São João, da Quinta de Marim e as Matas Nacionais da Parra, das Dunas de Vila Real de Santo António e das Terras de Ordem. Estas áreas albergam uma riquíssima biodiversidade com alguns endemismos que devem ser acautelados. Para além do mar, esta Região desfruta de uma geomorfologia muito variada, com praias, zonas dunares, sapais, montanha, bacias hidrográficas, etc., que encerra paisagens lindíssimas, praias douradas, ilhotas selvagens, campos e matas floridas e perfumadas, golfinhos, camaleões, pou- pas ou flamingos que acalentam o nosso imaginário mais belo. Não será esta a maior riqueza do Algarve? É verdade que muitas das maravilhas desta Região não constam nos cardápios turísticos comuns e é necessário sair um pouco da zona de conforto e da piscina do hotel para procurar esta Natureza deslum- brante. Mas, acreditem que vale mesmo a pena. De bicicleta, a pé, de cavalo, de carro ou mesmo de barco, descobrir o “outro”
  • 3. AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Opinião Algarve, o interior e pouco povoado, as al- deias rurais e históricas, as praias desertas e fluviais, as lagoas e quedas de água, os rebanhos, as perdizes e os coelhos selva- gens, as garças, os patos e as andorinhas, escutar o silêncio da montanha e o canto das aves ou deliciar-se com as fragâncias que se libertam suavemente da flora sil- vestre. E se se esqueceu das horas e do farnel, não há problema! Vastos laranjais, figueiras alfarrobeiras, amendoeiras, vinhas e oliveiras encontram-se frequentemente, bem como uma deliciosa pastelaria que incorpora muitos dos frutos regionais. Poderá ainda encontrar gente afável ou estrangeiros que fugiram do stress citadino e escolheram o Algarve natural para viver ou passar parte das suas vidas. Até co- munidades de permacultura ou de cultura alternativa, que vivem em contato estrito com a Natureza, podemos, em muitos casos, visitar. São imensos os locais a descobrir, onde pode fotografar ou pintar pormenores da fauna e flora ou encantar-se com o reflexo da paisagem. O conceito de turismo da Natureza, um produto com fran- co crescimento mundial, que em Portugal encontra nichos excelentes com condições de amplo desenvolvimento económico, en- caixa que nem uma luva no Algarve natural. Trata-se de um turismo que pretende ser sustentável, culturalmente e naturalmente rico, com uma capacidade de carga que respeita os ecossistemas, e, em muitos casos, remediador de zonas degradadas. Potencia-se o natural e a harmonia entre o Ser Humano e a Natureza. O Algarve pode oferecer tudo isto, conjuntamente com a praia, o golfe e os desportos ligados à Natureza - pedes- trianismo, orientação, escalada, hipismo, rapel, balonismo, BTT, observação de aves, fotografia da natureza, vela, surf, windsurf, kitesurf, canoagem, remo, mergulho e muitas outras que se poderão acrescentar, que no seu conjunto podem arrecadar vastas receitas para a região e para o país. Então, porque se continua a querer destruir a harmonia natural com a construção de mais um aldeamento caó- tico que perturba fortemente a natureza envolvente? Mais! Porquê colocar em risco parte deste vasto património natural, com a concessão de direitos de prospeção, pesquisa e produção de petróleo que o Governo Português assinou com a Repsol para as áreas designadas por Lagosta e Lagostim, áreas marinhas em frente ao Parque Natural da Ria Formosa e ao Parque Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António? Será esta a política que todos pretendemos? Continuar a apostar nos combustíveis fósseis que contribuem amplamente para as alterações climáticas e são potencialmente perigosos para a Natureza envolvente e toda a ativi- dade humana compreendida – turismo, pesca, aquacultura, etc. – em detrimento das energias renováveis mais limpas? Será sensato atribuir uma licença de conceção de uma atividade deste tipo sem a desejá- vel Avaliação de Impacte Ambiental? Provavelmente não se verá da praia o complexo de prospeção. Seria catastrófico para o Turismo estar na Praia Verde e ver uma offshore petrolífera. Mas o impacto da sua atividade poderá eventualmente chegar à costa e não faltam exemplos lamentáveis de derrames acidentais e ou- tras catástrofes oriundas desta atividade. O que acontecerá depois ao Turismo, às atividades locais que vivem do mar e às aves moribundas cobertas de crude? Será que os riscos compensam o potencial dano ambiental e humano? Será que os pescadores e os Parques Naturais lucrarão com a instalação da offshore? Perante a postura miserável de muitas das atividades económicas da atualidade, dos acidentes e do colapso criminoso de tantas outras, com consequências gravosas para os mais desfavorecidos, que normalmente pagam a fatura, será insensato continuar a licenciar atividades altamente danosas para o ambiente e potencialmente perigo- sas. Terei muita dificuldade em perceber a mais-valia que a offshore petrolífera trará para o Algarve, bem como a perpetuação da política do betão. O turista está cada vez mais exigente e o Algarve só terá futuro se for sustentável e naturalmente belo. Isto é: não estragar e potenciar aquilo que já o é. Paz a todos os seres