Práticas sustentáveis e escolhas éticas, Jorge Moreira, Revista o Instalador jan/fev 2018

Jorge Moreira
Jorge MoreiraInvestigador em Centre for Functional Ecology, Science for People & the Planet da Universidade de Coimbra

Vivemos num planeta maravilhoso, onde a vida sorri em milhões de formas, cores, sons, paladares e perfumes. Dá-nos ainda mais sentidos e um sentido a tudo. Um planeta onde a vida floresce, evolui e desperta para mundos interiores de consciência infinita. A Terra dá-nos isso tudo, alimenta o nosso corpo, fascina-nos intelectualmente e preenche-nos com a magia da sua beleza. Haverá algo mais incrível? Então porque estamos a destruir este paraíso?

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Vivemos num planeta maravilhoso, onde
a vida sorri em milhões de formas, cores,
sons, paladares e perfumes. Dá-nos
ainda mais sentidos e um sentido a tudo.
Um planeta onde a vida floresce, evolui
e desperta para mundos interiores de
consciência infinita. A Terra dá-nos isso
tudo, alimenta o nosso corpo, fascina-nos
intelectualmente e preenche-nos com a
magia da sua beleza. Haverá algo mais
incrível? Então porque estamos a destruir
este paraíso?
Normalmente apontamos muitas razões
para a crise ecológica que vivemos: polí-
ticos e políticas, empresas e interesses,
lucro e consumismo, alienação e delin-
quência, mas temos alguma dificuldade
em vermo-nos no papel de contribuidores.
A fonte do problema reside quase sempre
fora do nosso seio, algures entre o Estado e
a economia vigente, a empresa de celulose
e o Donald Trump. Mas se fizermos uma
análise honesta sobre as nossas ações e o
impacto que isso acarreta para o jardim de
Éden, certamente que ficaríamos surpreen-
didos com a nossa pegada ecológica e a
quota-parte de responsabilidade na degra-
dação do Planeta. Se queremos continuar
a usufruir das condições excecionais que
este ‘berlinde azul’ nos dá, se queremos dar
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Práticas sustentáveis e
escolhas éticas
Texto e Fotos_Jorge Moreira [Ambientalista e Investigador]
Porque é que a compaixão não faz parte do nosso currículo oficial, uma parte integrante da nossa
educação?
A compaixão, o espanto, o maravilhamento, a curiosidade, a exaltação, a humildade - estes são
os próprios fundamentos de qualquer verdadeira civilização, não as prerrogativas de uma igreja
qualquer. Pertencem a todos, a cada criança, em cada casa, em cada escola.
Yehudi Menuhin, Just for Animals
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Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
aos nossos filhos e netos toda a abundân-
cia e a oportunidade de ver nascentes de
água pura, bosques encantadores, animais
e flores silvestres, o céu azul ou o simples
acto de respirar sem uma máscara, então
temos de fazer uma reflexão profunda so-
bre a nossa vida, sobre o que precisamos
para viver uma vida digna, autêntica e inte-
riormente preenchida, e libertarmo-nos do
consumo supérfluo e eticamente incorreto.
Não precisamos de esperar por novas leis
proibitivas ou políticas mais sustentáveis,
porque temos a capacidade de sermos a
diferença que queremos ver no mundo. Po-
demos começar a trabalhar nas escolhas
que fazemos diariamente e refletir sobre os
transporte que normalmente utilizamos, a
proveniência dos alimentos e da roupa que
usamos ou os produtos de limpeza e hi-
giene que escolhemos. Precisamos de ser
verdadeiramente sustentáveis. De seguida
vamos analisar o que é a sustentabilidade
e dar alguns exemplos eticamente mais
coerentes com a biosfera.
I - Antropoceno e
Sustentabilidade
A crise ecológica surgiu com a Revolução
Industrial, mas a Grande Aceleração deu-se
a partir dos anos 50 do século passado,
quando o impacto antropogénico foi de tal
ordem que se tornou uma força geológica
global. Com a Grande Aceleração, chegou
também a sexta extinção em massa. A
perda dos sistemas naturais que sustentam
a vida na Terra ameaça também a Huma-
nidade e as populações que habitam os
locais mais vulneráveis, são as primeiras a
sentir o drama que advém da irresponsa-
bilidade com que tratamos a nossa Casa.
Os mais desfavorecidos ficarão ainda
mais desamparados e prevê-se grandes
migrações e lutas pelos territórios e recur-
sos. A crise ecológica profetiza uma crise
humanitária. Isto tudo porque a dimensão
ambiental e até social da sustentabilidade
ficou diminuída face à económica. Mas
que economia estamos a falar? De uma
economia que traz prosperidade a todos
os seres, ou de uma economia que impõe
exploração, desigualdade, ecocídio? Se-
gundo a Oxfam, 1% da população global
detém a mesma riqueza dos restantes
99% e somente 8 pessoas concentram a
mesma riqueza que a metade mais pobre
da população mundial. Quando os ricos
estão cada vez mais ricos e os pobres
ainda mais pobres, quando as pessoas,
os animais e a Natureza são explorados
e colocados à mercê de poderosos, sem
incluírem as externalidades sociais e
ambientais negativas na sua economia, o
resultado é a injustiça e a desigualdade.
O PIB não traduz o bem-estar, nem a
felicidade de uma nação, nem tampouco
um ambiente sadio. O sistema económico
globalizado, com uma forte tendência
para o capitalismo neoliberal, incentiva o
consumo e isso acarreta impactos nos
recursos naturais: focos de poluição, esgo-
tamento de stocks, desflorestação, etc. "É
uma economia baseada nos combustíveis
fósseis, que perturba o sistema climático
e favorece o grande capital, as grandes
potências e as multinacionais. Promove
desigualdades, destrói as economias
locais e de subsistência e explora seres
humanos, animais e a Natureza. É uma
economia antropocêntrica e utilitarista – só
se importa com a sociedade humana que
está em sintonia com ela e tudo o resto fica
subjugado à sua mercê exclusiva.
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
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Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
a Terra; Paz, justiça e instituições fortes e;
Parcerias em prol das Metas (da ONU). As
questões económicas encontram-se muito
bem diluídas nas questões sociais.
II - Práticas Sustentáveis e
Escolhas Éticas
Política dos 4R
Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Reparar.
Há políticas que incluem ou substituem o
vector Reparar pelo Repensar. Todavia,
sou da opinião que o Repensar deve estar
incluído em todos os outros vectores.
Com esta política dos 4R podemos dar os
primeiros passos no sentido da sustenta-
bilidade. Reduzir o consumo de bens não
essenciais é também uma forma de reduzir
os resíduos, porque muita coisa que é
adquirida, pouca ou nenhuma utilidade tem
e é descartada facilmente. A redução do
consumo de eletricidade e de água, para
além de ser bom para o ambiente, também
é bom para a economia das famílias. Pode
poupar-se centenas de euros anuais com
escolhas tão simples, como mudar a
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
destas três dimensões? Não será que em
primeiro lugar tem de existir uma dimensão
ambiental suficientemente grande onde
caiba a dimensão social? De igual forma,
a economia não deveria estar ao serviço
da sociedade? Então, porque é que a
dimensão económica é superior à social?
Todos estes conceitos que temos sobre a
sustentabilidade têm de ser reformulados.
Não há economia sem sociedade, nem
esta sem a Natureza. Mais recentemente,
a ONU lançou 17 Objetivos do Desenvolvi-
mento Sustentável, onde foca as questões
sociais de uma forma holística, questões
essas que há muito já deveriam estar
resolvidas em todo o mundo. Os Objetivos
são: Erradicação da pobreza; Fome zero;
Boa saúde e bem-estar; Educação de qua-
lidade; Igualdade de gênero; Água limpa
e saneamento; Energia acessível e limpa;
Emprego digno e crescimento económi-
co; Indústria, inovação e infraestruturas;
Redução das desigualdades; Cidades
e comunidades sustentáveis; Consumo
e produção responsáveis; Combate às
alterações climáticas; (cuidado com a) Vida
debaixo d’àgua; (cuidado com a) Vida sobre
A ideia básica de sustentabilidade surgiu
com o famoso Relatório Brundtland,
intitulado Nosso Futuro Comum, publi-
cado em 1987, onde o desenvolvimento
sustentável foi definido como o desenvol-
vimento que satisfaz as necessidades das
gerações presentes, sem comprometer
a capacidade das gerações futuras em
satisfazer as suas próprias necessidades.
Daqui partiu-se para uma realidade, onde
a sustentabilidade de um determinado
território aparecia quando as dimensões
social, económica e ambiental estavam
equilibradas. Contudo, a dimensão econó-
mica tem imperado em relação às outras.
Se a economia está eventualmente mal, a
solução é trabalhar mais horas pelo mesmo
salário ou inferior. Da mesma forma, as zo-
nas naturais protegidas, pelo seu interesse
turístico, imobiliário ou mineiro, ficam mais
vulneráveis à cobiça das corporações do
costume e a poluição passa, em muitos
dos casos, a ser justificada por questões
económicas. As dimensões social e am-
biental são sempre preteridas em relação
à económica. Mas será que a verdadeira
sustentabilidade encontra-se no cerne
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iluminação incandescente ou fluorescente
para tecnologia LED ou utilizar sistemas
de aquecimento solar, ar condicionado,
bomba de calor e pellets de resíduos. Uma
casa devidamente isolada, por exemplo
com capoto, fenol e janelas de PVC com
vidro duplo, tem menores perdas térmicas
e, por conseguinte, menor consumo para
aquecimento e dificilmente precisa de ar-
refecimento. A microgeração pode ser uma
mais valia, mas tem custos de instalação
ainda grandes. No que concerne à água,
uma simples garrafa de plástico dentro do
autoclismo, pode poupar muitos litros de
água potável que é indevidamente desper-
diçada. Para quem tem jardins ou hortas,
optar por rega gota a gota é mais eficaz e
com menor consumo. E porque não captar
e armazenar a água da chuva para rega ou
para ser utilizada na casa de banho? Tam-
bém podemos reutilizar para os mesmo
fins as águas provenientes da lavagem de
hortícolas ou de outros elementos, que não
contenham detergentes.
Quantos alimentos são desperdiçados
diariamente, ou porque passam da vali-
dade ou porque já foram confecionados e
pensamos que já não são mais úteis. Agora
existem organizações, como a Re-Food,
que se dedicam a resgatar toneladas de
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
comida boa e a encaminhá-la para quem
mais precisa dela. Normalmente a comida
é proveniente de estabelecimentos de
restauração, mas a que sobra nas nossas
casas é normalmente colocada no lixo.
Será que temos uma imaginação tão parca
e descartamos arroz que pode ser reutili-
zado para fazer, por exemplo, bolinhos?
Há muita coisa que podemos fazer com as
sobras. Haja imaginação. Precisamos rein-
ventar na cozinha para reutilizar alimentos e
diminuir os desperdícios.
Muitos produtos são deitados fora por-
que pensa-se que já passou a validade.
Mas se olharmos bem, muitos desses
produtos ainda estão bons para serem
consumidos. O facto de dizer consumir
preferencialmente até, não é sinónimo que
depois desse prazo o produto não esteja
ainda em excelentes condições e com toda
a segurança para ser consumido. Devemos
estar atentos se a embalagem diz consumir
preferencialmente até ou consumir até.
Uma prática cada vez mais generalizada é
a reciclagem do vidro, papel e plástico/metal/
embalagem. Há ecopontos por quase todo o
lado e só a falta de civismo é que teima em
não colaborar nesta separação. Mas pode-
mos fazer mais. Muitas folhas de papel A4,
só escritas numa página, são descartadas,
quando poderiam ser utilizadas para rascu-
nho ou apontamentos do outro lado. Cada
folha tem um impacto nas nossas florestas,
com as espécies nativos a darem lugar às
plantações de eucalipto e toda a problemáti-
ca potenciada dos fogos florestais e a perda
da biodiversidade. Deveríamos repensar a
desmaterialização dos documentos. Outros
elementos que podem ser reciclados são
os óleos alimentares, cujo fim principal é a
produção de biocombustível. As roupas e
o calçado podem ser colocados nos eco-
pontos específicos ou dados a instituições
de solidariedade social, que encaminham
ou revendem a preços modestos para se
auto-financiarem. Há contudo três tipos
de produtos que devem merecer a nossa
especial atenção: as pilhas, as lâmpadas e
os equipamentos elétricos e eletrónicos, que
são altamente poluentes e cujos elementos
da sua reciclagem podem minorar o consu-
mo energético do transporte e da extração,
como recurso natural, cada vez mais escas-
so. Há pilhões e REEE (Pontos de recolha
de equipamentos elétricos e eletrónicos)
normalmente junto às grandes superfícies
ou, na compra de um novo, caso seja mesmo
necessário e não tenha reparação, peça ao
vendedor para recolher o equipamento velho.
Quando for comprar uma lâmpada nova, leve
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Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Simplicidade voluntária e
ecosofia
A simplicidade voluntária é um termo
cunhado pelo filósofo Richard Gregg, que
envolve tanto uma condição interior como
exterior. Para ele isso significa identidade
de propósitos, sinceridade e honestidade
interior. A desordem exterior deve ser
evitada, bem como as posses irrelevan-
tes para o propósito principal da vida. A
simplicidade voluntária envolve assim
um crescimento interior que se traduz
numa condição exterior desapegada dos
bens materiais. Uma vida mais autêntica
e imersa nos mistérios mais profundos
do universo, não se coaduna com a
acumulação de objetos e poder sobre
os outros, mas numa riqueza interior, do
espírito humano. Há uma filosofia prática,
que cada indivíduo pode desenvolver, que
vai ao encontro da simplicidade voluntária.
Fruto da ecologia profunda, uma ética am-
biental holística, a ecosofia é fundada no
autoconhecimento, num questionar cada
vez mais penetrante sobre as relações
ecológicas, que leva o indivíduo a expandir
a sua consciência e a identificar-se como
parte de um todo. Isto é, à sua Autorrea-
lização – a compreensão da teia da vida,
interconectividade e interdependência
ecológica. A Natureza é compreendida
e responsáveis. Quando não conhecemos
a origem, podemos escolher bens que
incluam ecodesign ou certificados com
chancelas verdes. As nossas deslocações
também podem ser mais ecológicas, quan-
do escolhemos andar a pé, de bicicleta ou
de transportes públicos.
Devemos evitar produtos relacionados
com as alterações climáticas - de ori-
gem animal, processados, de longe e
que requerem um grande consumo de
combustíveis fósseis. Também devemos
evitar produtos relacionados com a
diminuição da diversidade biológica e a
desflorestação – animais exóticos, bens
sobreexplorados, oriundos de alguma
atividade mineira altamente poluente,
da pecuária e agricultura que utiliza
organismos geneticamente modificados
ou químicos nocivos. Nunca deveríamos
aceitar produtos ligados à exploração
humana - trabalho infantil, mal pago
ou em condições miseráveis; produtos
relacionado com o sofrimento animal
– pecuária intensiva, ovos de galinhas
criadas em gaiolas ou lacticínios de pro-
dução industrial, cosméticos testados
em animais, roupas e calçado de pele.
Descartar produtos que induzem inse-
gurança alimentar e que não respeitam
os direitos dos consumidores.
a velha consigo e deixe-a ficar no estabeleci-
mento onde vai adquirir a nova. Eles têm um
sistema obrigatório de recolha de lâmpadas
para reciclagem. Para além da reparação
já citada dos equipamentos elétricos e
eletrónicos, cuja produção de novos gera
um enorme impacto ambiental, deve sempre
equacionar a reparação dos móveis. Está a
dar primazia à arte das oficinas tradicionais,
que estão cada vez mais com dificuldades
de sobrevivência, face às grandes empresas.
Por fim, pode sempre reaproveitar os resí-
duos de hortícolas e restos de comida para
adubar naturalmente os seus vasos, jardim
ou horta, com a aquisição de um compostor
que algumas autarquias disponibilizam
gratuitamente.
Consumo responsável
O Consumo Responsável consiste na
escolha de bens e serviços, que durante a
sua produção, distribuição e venda tiveram
cuidados sociais e ambientais especiais
para com as presentes e futuras gerações,
não envolveram a exploração de seres hu-
manos, o sofrimento animal, o esgotamento
dos recursos e não colocaram o lucro à
frente das pessoas e do ambiente. Entre
estas escolhas estão os produtos locais e
da época, os produtos de origem biológica,
de comércio justo e de economias solidárias
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Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
como uma unidade indivisível, que inclui
o Ser Humano. Assim, a proteção da
Natureza é apercebida como a ‘minha
proteção’. Tanto a simplicidade voluntária
como a ecosofia requerem escolhas éti-
cas, porque só estas se preocupam com
o ambiente e os outros. Os seguidores
destas correntes filosóficas têm uma
vivência cuidada, em harmonia com a sua
Natureza interior e com o mundo Natural e
um respeito por toda a vida, que se traduz
numa compaixão universal. São realmente
ricos e livres, porque retiram tudo o que
precisam da Natureza, sem a destruir ou
explorar seres sencientes, nem tampouco
ficam escravos das imposições da socie-
dade de consumo. A riqueza que possuem
é uma riqueza mais profunda, porque é do
espírito, da alegria de viver em serenidade
e em partilha constante. Preocupam-se
com os seres humanos e com toda a outra
família terrestre constituída por milhões
de formas diferentes. Há uma beleza e
uma subtil leveza nas suas ações. São
inspiradores e promotores de sociedades
mais justas, equitativas e verdadeiramente
sustentáveis.
III - Desejos num Início de
Ano
Neste início do ano, podemos começar a
sermos verdadeiramente a diferença que
queremos para o mundo. E o mundo pre-
cisa urgentemente dela! Plantar as nossas
próprias hortas, escolher mercados locais
e biológicos ou mandar consertar um ele-
trodoméstico que avariou ou uma mobília
que se partiu, em vez de comprar novo.
Podemos ir um bocadinho mais longe e
parar de contribuir para as condições in-
suportáveis que 56 mil milhões de animais,
que são submetidos e abatidos em cada
ano para alimentar o nosso vício de carne.
Se reduzirmos o consumo deste produto,
que já foi vida sensível, estamos a diminuir
o problema ético e todo o impacto que esta
indústria acarreta para a desflorestação e
para as alterações climáticas. Há muitas
alternativas mais sustentáveis, saudáveis
e saborosas. Quando comprarmos um
produto, devemos questionar se realmente
precisamos dele. No caso afirmativo, ques-
tionar se precisamos que ele seja novo ou
se pode ser usado. Podemos encontrar
muitos produtos usados em lojas da espe-
cialidade ou na Internet (OLX, Custo Justo,
Ebay, etc.). Se não existir usado, questionar
novamente se o produto que precisamos
teve origem ética. Se sim, avançar. Se não,
esperar se possível por uma alternativa.
Por fim, podemos repensar a nossa vida e
começar a orientá-la no sentido da harmo-
nia universal e sentir aquela Alegria inefável
de estarmos em sintonia com o Cosmos.
Experimentem! Vale a pena! Um bom ano
para todos os seres.

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Práticas sustentáveis e escolhas éticas, Jorge Moreira, Revista o Instalador jan/fev 2018

  • 1. 64 O Instalador Jan_Fev 2018 www.oinstalador.com Vivemos num planeta maravilhoso, onde a vida sorri em milhões de formas, cores, sons, paladares e perfumes. Dá-nos ainda mais sentidos e um sentido a tudo. Um planeta onde a vida floresce, evolui e desperta para mundos interiores de consciência infinita. A Terra dá-nos isso tudo, alimenta o nosso corpo, fascina-nos intelectualmente e preenche-nos com a magia da sua beleza. Haverá algo mais incrível? Então porque estamos a destruir este paraíso? Normalmente apontamos muitas razões para a crise ecológica que vivemos: polí- ticos e políticas, empresas e interesses, lucro e consumismo, alienação e delin- quência, mas temos alguma dificuldade em vermo-nos no papel de contribuidores. A fonte do problema reside quase sempre fora do nosso seio, algures entre o Estado e a economia vigente, a empresa de celulose e o Donald Trump. Mas se fizermos uma análise honesta sobre as nossas ações e o impacto que isso acarreta para o jardim de Éden, certamente que ficaríamos surpreen- didos com a nossa pegada ecológica e a quota-parte de responsabilidade na degra- dação do Planeta. Se queremos continuar a usufruir das condições excecionais que este ‘berlinde azul’ nos dá, se queremos dar Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Práticas sustentáveis e escolhas éticas Texto e Fotos_Jorge Moreira [Ambientalista e Investigador] Porque é que a compaixão não faz parte do nosso currículo oficial, uma parte integrante da nossa educação? A compaixão, o espanto, o maravilhamento, a curiosidade, a exaltação, a humildade - estes são os próprios fundamentos de qualquer verdadeira civilização, não as prerrogativas de uma igreja qualquer. Pertencem a todos, a cada criança, em cada casa, em cada escola. Yehudi Menuhin, Just for Animals
  • 2. O Instalador Jan_Fev 2018 www.oinstalador.com 65 Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS aos nossos filhos e netos toda a abundân- cia e a oportunidade de ver nascentes de água pura, bosques encantadores, animais e flores silvestres, o céu azul ou o simples acto de respirar sem uma máscara, então temos de fazer uma reflexão profunda so- bre a nossa vida, sobre o que precisamos para viver uma vida digna, autêntica e inte- riormente preenchida, e libertarmo-nos do consumo supérfluo e eticamente incorreto. Não precisamos de esperar por novas leis proibitivas ou políticas mais sustentáveis, porque temos a capacidade de sermos a diferença que queremos ver no mundo. Po- demos começar a trabalhar nas escolhas que fazemos diariamente e refletir sobre os transporte que normalmente utilizamos, a proveniência dos alimentos e da roupa que usamos ou os produtos de limpeza e hi- giene que escolhemos. Precisamos de ser verdadeiramente sustentáveis. De seguida vamos analisar o que é a sustentabilidade e dar alguns exemplos eticamente mais coerentes com a biosfera. I - Antropoceno e Sustentabilidade A crise ecológica surgiu com a Revolução Industrial, mas a Grande Aceleração deu-se a partir dos anos 50 do século passado, quando o impacto antropogénico foi de tal ordem que se tornou uma força geológica global. Com a Grande Aceleração, chegou também a sexta extinção em massa. A perda dos sistemas naturais que sustentam a vida na Terra ameaça também a Huma- nidade e as populações que habitam os locais mais vulneráveis, são as primeiras a sentir o drama que advém da irresponsa- bilidade com que tratamos a nossa Casa. Os mais desfavorecidos ficarão ainda mais desamparados e prevê-se grandes migrações e lutas pelos territórios e recur- sos. A crise ecológica profetiza uma crise humanitária. Isto tudo porque a dimensão ambiental e até social da sustentabilidade ficou diminuída face à económica. Mas que economia estamos a falar? De uma economia que traz prosperidade a todos os seres, ou de uma economia que impõe exploração, desigualdade, ecocídio? Se- gundo a Oxfam, 1% da população global detém a mesma riqueza dos restantes 99% e somente 8 pessoas concentram a mesma riqueza que a metade mais pobre da população mundial. Quando os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres ainda mais pobres, quando as pessoas, os animais e a Natureza são explorados e colocados à mercê de poderosos, sem incluírem as externalidades sociais e ambientais negativas na sua economia, o resultado é a injustiça e a desigualdade. O PIB não traduz o bem-estar, nem a felicidade de uma nação, nem tampouco um ambiente sadio. O sistema económico globalizado, com uma forte tendência para o capitalismo neoliberal, incentiva o consumo e isso acarreta impactos nos recursos naturais: focos de poluição, esgo- tamento de stocks, desflorestação, etc. "É uma economia baseada nos combustíveis fósseis, que perturba o sistema climático e favorece o grande capital, as grandes potências e as multinacionais. Promove desigualdades, destrói as economias locais e de subsistência e explora seres humanos, animais e a Natureza. É uma economia antropocêntrica e utilitarista – só se importa com a sociedade humana que está em sintonia com ela e tudo o resto fica subjugado à sua mercê exclusiva. Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
  • 3. 66 O Instalador Jan_Fev 2018 www.oinstalador.com Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS a Terra; Paz, justiça e instituições fortes e; Parcerias em prol das Metas (da ONU). As questões económicas encontram-se muito bem diluídas nas questões sociais. II - Práticas Sustentáveis e Escolhas Éticas Política dos 4R Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Reparar. Há políticas que incluem ou substituem o vector Reparar pelo Repensar. Todavia, sou da opinião que o Repensar deve estar incluído em todos os outros vectores. Com esta política dos 4R podemos dar os primeiros passos no sentido da sustenta- bilidade. Reduzir o consumo de bens não essenciais é também uma forma de reduzir os resíduos, porque muita coisa que é adquirida, pouca ou nenhuma utilidade tem e é descartada facilmente. A redução do consumo de eletricidade e de água, para além de ser bom para o ambiente, também é bom para a economia das famílias. Pode poupar-se centenas de euros anuais com escolhas tão simples, como mudar a Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS destas três dimensões? Não será que em primeiro lugar tem de existir uma dimensão ambiental suficientemente grande onde caiba a dimensão social? De igual forma, a economia não deveria estar ao serviço da sociedade? Então, porque é que a dimensão económica é superior à social? Todos estes conceitos que temos sobre a sustentabilidade têm de ser reformulados. Não há economia sem sociedade, nem esta sem a Natureza. Mais recentemente, a ONU lançou 17 Objetivos do Desenvolvi- mento Sustentável, onde foca as questões sociais de uma forma holística, questões essas que há muito já deveriam estar resolvidas em todo o mundo. Os Objetivos são: Erradicação da pobreza; Fome zero; Boa saúde e bem-estar; Educação de qua- lidade; Igualdade de gênero; Água limpa e saneamento; Energia acessível e limpa; Emprego digno e crescimento económi- co; Indústria, inovação e infraestruturas; Redução das desigualdades; Cidades e comunidades sustentáveis; Consumo e produção responsáveis; Combate às alterações climáticas; (cuidado com a) Vida debaixo d’àgua; (cuidado com a) Vida sobre A ideia básica de sustentabilidade surgiu com o famoso Relatório Brundtland, intitulado Nosso Futuro Comum, publi- cado em 1987, onde o desenvolvimento sustentável foi definido como o desenvol- vimento que satisfaz as necessidades das gerações presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas próprias necessidades. Daqui partiu-se para uma realidade, onde a sustentabilidade de um determinado território aparecia quando as dimensões social, económica e ambiental estavam equilibradas. Contudo, a dimensão econó- mica tem imperado em relação às outras. Se a economia está eventualmente mal, a solução é trabalhar mais horas pelo mesmo salário ou inferior. Da mesma forma, as zo- nas naturais protegidas, pelo seu interesse turístico, imobiliário ou mineiro, ficam mais vulneráveis à cobiça das corporações do costume e a poluição passa, em muitos dos casos, a ser justificada por questões económicas. As dimensões social e am- biental são sempre preteridas em relação à económica. Mas será que a verdadeira sustentabilidade encontra-se no cerne
  • 4. O Instalador Jan_Fev 2018 www.oinstalador.com 67 iluminação incandescente ou fluorescente para tecnologia LED ou utilizar sistemas de aquecimento solar, ar condicionado, bomba de calor e pellets de resíduos. Uma casa devidamente isolada, por exemplo com capoto, fenol e janelas de PVC com vidro duplo, tem menores perdas térmicas e, por conseguinte, menor consumo para aquecimento e dificilmente precisa de ar- refecimento. A microgeração pode ser uma mais valia, mas tem custos de instalação ainda grandes. No que concerne à água, uma simples garrafa de plástico dentro do autoclismo, pode poupar muitos litros de água potável que é indevidamente desper- diçada. Para quem tem jardins ou hortas, optar por rega gota a gota é mais eficaz e com menor consumo. E porque não captar e armazenar a água da chuva para rega ou para ser utilizada na casa de banho? Tam- bém podemos reutilizar para os mesmo fins as águas provenientes da lavagem de hortícolas ou de outros elementos, que não contenham detergentes. Quantos alimentos são desperdiçados diariamente, ou porque passam da vali- dade ou porque já foram confecionados e pensamos que já não são mais úteis. Agora existem organizações, como a Re-Food, que se dedicam a resgatar toneladas de Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS comida boa e a encaminhá-la para quem mais precisa dela. Normalmente a comida é proveniente de estabelecimentos de restauração, mas a que sobra nas nossas casas é normalmente colocada no lixo. Será que temos uma imaginação tão parca e descartamos arroz que pode ser reutili- zado para fazer, por exemplo, bolinhos? Há muita coisa que podemos fazer com as sobras. Haja imaginação. Precisamos rein- ventar na cozinha para reutilizar alimentos e diminuir os desperdícios. Muitos produtos são deitados fora por- que pensa-se que já passou a validade. Mas se olharmos bem, muitos desses produtos ainda estão bons para serem consumidos. O facto de dizer consumir preferencialmente até, não é sinónimo que depois desse prazo o produto não esteja ainda em excelentes condições e com toda a segurança para ser consumido. Devemos estar atentos se a embalagem diz consumir preferencialmente até ou consumir até. Uma prática cada vez mais generalizada é a reciclagem do vidro, papel e plástico/metal/ embalagem. Há ecopontos por quase todo o lado e só a falta de civismo é que teima em não colaborar nesta separação. Mas pode- mos fazer mais. Muitas folhas de papel A4, só escritas numa página, são descartadas, quando poderiam ser utilizadas para rascu- nho ou apontamentos do outro lado. Cada folha tem um impacto nas nossas florestas, com as espécies nativos a darem lugar às plantações de eucalipto e toda a problemáti- ca potenciada dos fogos florestais e a perda da biodiversidade. Deveríamos repensar a desmaterialização dos documentos. Outros elementos que podem ser reciclados são os óleos alimentares, cujo fim principal é a produção de biocombustível. As roupas e o calçado podem ser colocados nos eco- pontos específicos ou dados a instituições de solidariedade social, que encaminham ou revendem a preços modestos para se auto-financiarem. Há contudo três tipos de produtos que devem merecer a nossa especial atenção: as pilhas, as lâmpadas e os equipamentos elétricos e eletrónicos, que são altamente poluentes e cujos elementos da sua reciclagem podem minorar o consu- mo energético do transporte e da extração, como recurso natural, cada vez mais escas- so. Há pilhões e REEE (Pontos de recolha de equipamentos elétricos e eletrónicos) normalmente junto às grandes superfícies ou, na compra de um novo, caso seja mesmo necessário e não tenha reparação, peça ao vendedor para recolher o equipamento velho. Quando for comprar uma lâmpada nova, leve
  • 5. 68 O Instalador Jan_Fev 2018 www.oinstalador.com Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Simplicidade voluntária e ecosofia A simplicidade voluntária é um termo cunhado pelo filósofo Richard Gregg, que envolve tanto uma condição interior como exterior. Para ele isso significa identidade de propósitos, sinceridade e honestidade interior. A desordem exterior deve ser evitada, bem como as posses irrelevan- tes para o propósito principal da vida. A simplicidade voluntária envolve assim um crescimento interior que se traduz numa condição exterior desapegada dos bens materiais. Uma vida mais autêntica e imersa nos mistérios mais profundos do universo, não se coaduna com a acumulação de objetos e poder sobre os outros, mas numa riqueza interior, do espírito humano. Há uma filosofia prática, que cada indivíduo pode desenvolver, que vai ao encontro da simplicidade voluntária. Fruto da ecologia profunda, uma ética am- biental holística, a ecosofia é fundada no autoconhecimento, num questionar cada vez mais penetrante sobre as relações ecológicas, que leva o indivíduo a expandir a sua consciência e a identificar-se como parte de um todo. Isto é, à sua Autorrea- lização – a compreensão da teia da vida, interconectividade e interdependência ecológica. A Natureza é compreendida e responsáveis. Quando não conhecemos a origem, podemos escolher bens que incluam ecodesign ou certificados com chancelas verdes. As nossas deslocações também podem ser mais ecológicas, quan- do escolhemos andar a pé, de bicicleta ou de transportes públicos. Devemos evitar produtos relacionados com as alterações climáticas - de ori- gem animal, processados, de longe e que requerem um grande consumo de combustíveis fósseis. Também devemos evitar produtos relacionados com a diminuição da diversidade biológica e a desflorestação – animais exóticos, bens sobreexplorados, oriundos de alguma atividade mineira altamente poluente, da pecuária e agricultura que utiliza organismos geneticamente modificados ou químicos nocivos. Nunca deveríamos aceitar produtos ligados à exploração humana - trabalho infantil, mal pago ou em condições miseráveis; produtos relacionado com o sofrimento animal – pecuária intensiva, ovos de galinhas criadas em gaiolas ou lacticínios de pro- dução industrial, cosméticos testados em animais, roupas e calçado de pele. Descartar produtos que induzem inse- gurança alimentar e que não respeitam os direitos dos consumidores. a velha consigo e deixe-a ficar no estabeleci- mento onde vai adquirir a nova. Eles têm um sistema obrigatório de recolha de lâmpadas para reciclagem. Para além da reparação já citada dos equipamentos elétricos e eletrónicos, cuja produção de novos gera um enorme impacto ambiental, deve sempre equacionar a reparação dos móveis. Está a dar primazia à arte das oficinas tradicionais, que estão cada vez mais com dificuldades de sobrevivência, face às grandes empresas. Por fim, pode sempre reaproveitar os resí- duos de hortícolas e restos de comida para adubar naturalmente os seus vasos, jardim ou horta, com a aquisição de um compostor que algumas autarquias disponibilizam gratuitamente. Consumo responsável O Consumo Responsável consiste na escolha de bens e serviços, que durante a sua produção, distribuição e venda tiveram cuidados sociais e ambientais especiais para com as presentes e futuras gerações, não envolveram a exploração de seres hu- manos, o sofrimento animal, o esgotamento dos recursos e não colocaram o lucro à frente das pessoas e do ambiente. Entre estas escolhas estão os produtos locais e da época, os produtos de origem biológica, de comércio justo e de economias solidárias
  • 6. O Instalador Jan_Fev 2018 www.oinstalador.com 69 Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS como uma unidade indivisível, que inclui o Ser Humano. Assim, a proteção da Natureza é apercebida como a ‘minha proteção’. Tanto a simplicidade voluntária como a ecosofia requerem escolhas éti- cas, porque só estas se preocupam com o ambiente e os outros. Os seguidores destas correntes filosóficas têm uma vivência cuidada, em harmonia com a sua Natureza interior e com o mundo Natural e um respeito por toda a vida, que se traduz numa compaixão universal. São realmente ricos e livres, porque retiram tudo o que precisam da Natureza, sem a destruir ou explorar seres sencientes, nem tampouco ficam escravos das imposições da socie- dade de consumo. A riqueza que possuem é uma riqueza mais profunda, porque é do espírito, da alegria de viver em serenidade e em partilha constante. Preocupam-se com os seres humanos e com toda a outra família terrestre constituída por milhões de formas diferentes. Há uma beleza e uma subtil leveza nas suas ações. São inspiradores e promotores de sociedades mais justas, equitativas e verdadeiramente sustentáveis. III - Desejos num Início de Ano Neste início do ano, podemos começar a sermos verdadeiramente a diferença que queremos para o mundo. E o mundo pre- cisa urgentemente dela! Plantar as nossas próprias hortas, escolher mercados locais e biológicos ou mandar consertar um ele- trodoméstico que avariou ou uma mobília que se partiu, em vez de comprar novo. Podemos ir um bocadinho mais longe e parar de contribuir para as condições in- suportáveis que 56 mil milhões de animais, que são submetidos e abatidos em cada ano para alimentar o nosso vício de carne. Se reduzirmos o consumo deste produto, que já foi vida sensível, estamos a diminuir o problema ético e todo o impacto que esta indústria acarreta para a desflorestação e para as alterações climáticas. Há muitas alternativas mais sustentáveis, saudáveis e saborosas. Quando comprarmos um produto, devemos questionar se realmente precisamos dele. No caso afirmativo, ques- tionar se precisamos que ele seja novo ou se pode ser usado. Podemos encontrar muitos produtos usados em lojas da espe- cialidade ou na Internet (OLX, Custo Justo, Ebay, etc.). Se não existir usado, questionar novamente se o produto que precisamos teve origem ética. Se sim, avançar. Se não, esperar se possível por uma alternativa. Por fim, podemos repensar a nossa vida e começar a orientá-la no sentido da harmo- nia universal e sentir aquela Alegria inefável de estarmos em sintonia com o Cosmos. Experimentem! Vale a pena! Um bom ano para todos os seres.