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Revolução Francesa: ela inventou nossos sonhos
                                                   Desde a madrugada de 14 de julho de 1789, uma terça-feira,
                                                pelo menos 8 mil parisienses irados estavam reunidos na
                                                esplanada dos Inválidos. Eles queriam armas para enfrentar os
                                                soldados que, acreditavam, o rei Luís XVI estava mandando de
“Os homens nascem livres e iguais em            Versalhes. O administrador não sabia o que fazer. A multidão,
direitos; as distinções sociais não             então, arrombou os portões e se apoderou de 40 mil fuzis e
podem ser fundadas a não ser na                 doze canhões. Mas e a pólvora para eles? Estava na formidável
utilidade comum”.                               fortaleza da Bastilha, transformada em depósito e prisão. Para
Pela Declaração dos Direitos do Homem           lá correram todos, em busca de munição. Quem teria, naquele
e do Cidadão, a Assembléia Constituinte         momento, pensado em se apoderar daquela fortaleza
estabelece os direitos básicos dos franceses:   inexpugnável?
igualdade perante a lei e a obrigação do
                                                   Pois antes do anoitecer a fortaleza caiu e com ela veio abaixo
Estado de defender os direitos “naturais” dos
cidadãos, como a liberdade e a propriedade.     todo o Antigo Regime, representado na figura do rei e em sua
A modernidade chega definitivamente à vida      corte de aristocratas inúteis. A multidão que cercou a Bastilha
social.                                         era muito maior que os 8 mil reunidos de madrugada na praça
                                                dos Inválidos. Mas, conforme cuidadoso recenseamento feito
                                                depois pela Assembléia Nacional, os "vencedores da Bastilha"
                                                foram não mais que oitocentos, registrados e cadastrados, com
                                                nome, endereço e profissão.

                                                Em dois dias, construíram-se 50 mil
                                                lanças para a milícia

                                                   Assim, pode-se saber, com segurança, que entre eles
   “Quando um povo é obrigado a                 estavam alguns raros burgueses (três industriais, quatro
obedecer e o faz, age acertadamente;            comerciantes, um cervejeiro), muitos pequenos produtores
assim que pode sacudir esse jugo e o            independentes, artesãos, oficiais de corporação, militares em
faz,   age    melhor    ainda,   porque,        profusão. Um terço, pelo menos, era de assalariados da manu-
recuperando a liberdade pelo mesmo              fatura e da construção. O mais jovem tinha 8 anos. Uma única
direito por que lha arrebataram, ou tem         mulher, uma lavadeira, impedira com sua presença que a queda
ele o direito de retoma-la ou não               da Bastilha entrasse para a História como uma aventura vivida
tinham o direito de subtraí-la.”                apenas pelos homens.
Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês,           A multidão estava inquieta desde o dia 12, quando a
1712-1778                                       demissão do ministro das Finanças, Jacques Necker, foi re-
                                                cebida como prenúncio de que o pão se tornaria mais raro e
                                                mais caro. Foi formada uma milícia cidadã para defender a
                                                cidade, cujo objetivo era também defender os burgueses
                                                proprietários contra os ataques do rei e contra as ameaças das
                                                classes julgadas perigosas — os trabalhadores e os miseráveis.
                                                De saída, a milícia alistou 48 mil voluntários. Como não havia
                                                armas, ordenou-se a construção de lanças — e 50 mil ficaram
                                                prontas em dois dias.
                                                   As reuniões sucediam-se, e havia sempre alguém propondo o
                                                recurso à força. "As armas, às armas, cidadãos", era o que mais
                                                se ouvia nos comícios. No Palais-Royal, espécie de território
                                                livre onde tudo se podia dizer, Camila Desmoulins, orador gago
Números                                         que empolgava como ninguém a multidão inquieta, tentava
Em 1789, a população da França                  ordenar o caos. Por sua sugestão, adotou-se o verde com
alcança 25 milhões de habitantes,               emblema. A multidão desfilou pelas ruas, praticamente engoliu
sendo 20 milhões de camponeses. A               as tropas que tentaram detê-la. As barreiras que simbolizavam
nobreza constitui 1,5% da população             a cobrança de impostos foram destruídas; suspeitos de serem
total. Paris conta com 500 000                  açambarcadores (entre estes o convento de Saint-Lazare)
habitantes, dos quais 110 000 são               foram atacados.
indigentes.                                        Assim, a multidão que na manhã do dia 14 correu para a
                                                Bastilha não tinha quem a enfrentasse, a não ser a obstinação
                                                do administrador da fortaleza, De Launay, que recusou todos os
                                                apelos (inclusive de quatro comissões enviadas pela Prefeitura)
                                                para que entregasse a munição. O primeiro disparo aconteceu
                                                por volta de 13 horas. Os mais valentes romperam as correntes
                                                da ponte levadiça, que caiu. O pátio da administração foi
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                                              invadido, mas ali os revoltosos ficaram expostos.

                                              A Bastilha não era um inferno; a vida
“Nobres, vós sois o flagelo da                dos presos era bem boa
sociedade, como sois também o inimigo
da Pátria. Vossos exemplos e vossa               Às 15:30h chegou um reforço providencial: o chefe da
moral levaram os costumes a um grau           lavanderia da rainha Maria Antonieta, um certo Hulin, reunira
de corrupção nunca antes atingido.            36 granadeiros, 21 fuzileiros, 400 cidadãos armados e alguns
Para satisfazer, não vossas paixões,          canhões e comandou o primeiro ataque organizado à fortaleza.
mas     vossas    fantasias,  vós   os        De Launay ainda pensou em atear fogo ao depósito de pólvora
transgredistes ao ponto de vos permitir       e mandar tudo pelos ares. Foi impedido por seus próprios
comportamentos cujo preço é o                 soldados, que preferiram capitular e passar para o lado da
cadafalso.”                                   Revolução. Os invasores então entraram de uma vez, desar-
Panfleto anônimo, igual a milhares de         maram os soldados, saquearam tudo, apoderaram-se da
outros em circulação, acusando a nobreza de
                                              pólvora e libertaram os prisioneiros. Estes eram apenas sete:
corrupção, amoralidade, decadência.
                                              quatro falsários, dois loucos e um filho de família rica que
                                              desonrara seu nome. Definitivamente, a Bastilha não era o
                                              inferno criado pela imaginação popular, onde se jogavam os
                                              inimigos do rei para morrer em meio a terríveis sofrimentos. Na
                                              verdade, quem podia pagar contava ali com uma vida bem
                                              razoável, com direito a boa comida, bebida e até criados.
                                                 Uma prévia do que viria a ser a violência revolucionária foi
Os sans-culottes são os                       encenada com o pobre De Launay. Na praça da Prefeitura ele
novos personagens                             foi agredido, recebeu um golpe de baioneta, um tiro e teve a
da cena política.                             cabeça cortada, porque a multidão queria vê-la. Contra todos os
Sem os “culottes” e                           prognósticos, o movimento começava a andar fora dos trilhos.
os perfumes dos                               Apenas dois anos antes, em 1787, o pavio da mais clássica das
nobres, eles são os                           revoluções burguesas, a Revolução Francesa, fora aceso por
amigos            da                          mãos nobres. Em outros tempos, tudo não passaria de um
Revolução:                                    levante palaciano; no final do século XVIII, porém, a rebelião
humildes artesãos,                            da nobreza foi o sinal esperado por outro protagonista
empregados                                    poderoso, a burguesia, para subir ao palco da História. O pe-
pobres           do                           ríodo inicial da Revolução Francesa, que vai de 1787 a 1791, é
“fauborg”, usam a                             a crônica desse esforço da burguesia para passar à frente dos
lança, o sabre e o                            atores antigos.
fuzil para livrar a                              As finanças reais estavam combalidas há muito tempo, mas
Revolução       dos                           nos dez anos anteriores haviam chegado à beira da bancarrota
seus inimigos e                               porque o governo francês empenhou-se em ajudar os Estados
exigir            a                           Unidos na luta pela independência.
verdadeira
igualdade     entre                           O governo estava falido. Então, pensou
os cidadãos.                                  em taxar clero e nobreza

                                                 O relatório financeiro de março de 1788 mostrava que as
                                              despesas somavam 629 milhões de libras, mas a receita
                                              alcançava apenas 503 milhões. Só os juros da dívida pública,
                                              ampliada pela guerra, devoravam 318 milhões de libras. Mais
                                              da metade dos gastos, que se agravavam ainda com a
                                              necessidade de abastecer o luxo da nobreza, na corte, com
                                              supérfluos de toda ordem. O governo precisava aumentar sua
                                              receita, mas sabia que não era possível lançar nenhum novo
Números                                       imposto sobre a massa da população, já exaurida. Pensou,
No início da Revolução, a posse útil da       então, em acabar com os privilégios do clero e da nobreza, que
terra    na   França    estava    assim       não pagavam nenhum imposto, embora fossem grandes pro-
distribuída: 45%, camponeses; 20%,            prietários. A França tinha então pouco mais de 25 milhões de
burguesia; 35%, nobreza e clero.              habitantes, dos quais 80 por cento eram camponeses. Os 20
Porém, em razão dos direitos feudais, a       por cento restantes amontoavam-se precariamente em
aristocracia  detém    a    propriedade       povoações que mal chegavam aos 2 mil habitantes.
senhorial de 97% sobre todas as terras.          Paris, com 650 mil, era uma exceção — e uma das maiores
                                              cidades do mundo. Todas as outras eram modestas, pelos
                                              padrões modernos Lyon tinha 135 mil habitantes; Marselha, 90
                                              mil; Bordéus, 84 mil; Nantes, 57 mil. Essa sociedade estava
                                              dividida em estados, a forma feudal de estratificação social, em
                                              que cada classe tinha seus estatutos, privilégios, obrigações e
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                                           modo de vida definidos legalmente.
                                              O Primeiro Estado era formado pelo clero, mais ou menos 1
                                           por cento da população. Estava dividido em clero superior,
                                           formado pelos bispos, arcebispos e cardeais, tinha vida
                                           faustosa, como a nobreza, e possuía cerca de 20 por cento de
                                           todas as terras do país. O baixo clero, ao contrário, embora
                                           partilhasse dos privilégios do seu estado (por exemplo, não
Brasil                                     pagar impostos), era formado por padres muitas vezes tão
                                           pobres quanto seus paroquianos.
É enforcado no Rio de Janeiro, a 21 de
                                              O Segundo Estado era formado pela nobreza, dividida em
abril de 1789, Joaquim José da Silva
                                           nobreza de espada, tradicional e orgulhosa de linhagens que
Xavier, o Tiradentes. Único condenado
                                           remontavam muitas vezes à alta Idade Média, e nobreza
à morte entre os participantes da
                                           togada, formada por plebeus enriquecidos, que compraram
Inconfidência Mineira, revolta contra a
                                           títulos de nobreza, e seus descendentes. Compreendia 2 por
dominação     portuguesa,     fortemente
                                           cento da população, algo entre 250 e 400 mil pessoas.
influenciada pelas idéias francesas,
                                           Apropriava-se de um terço de todas as rendas do país e tinha o
pelas “luzes” do século XVIII.
                                           monopólio dos mais altos cargos do Judiciário, da burocracia, do
                                           clero e do Exército.

                                           Os burgueses tinham dinheiro e sonhavam
                                           conquistar o poder

                                              O Terceiro Estado compreendia, formalmente, todo o
                                           restante da população, mas sua facção mais destacada era a
                                           burguesia, uma classe economicamente poderosa. Apesar de
                                           participar do poder, mediante a compra de cargos e títulos,
                                           seus negócios eram tolhidos pela existência de aduanas in-
                                           ternas e pedágios, que impediam e oneravam a circulação de
                                           mercadorias dentro do país. Ressentia-se, ainda, da existência
                                           de companhias comerciais monopolistas, controladas pelo
                                           Estado, que dificultavam sua participação no comércio externo,
                                           de um lado; e de outro havia as limitações corporativas à
                                           liberdade de trabalho que impediam a livre contratação de
                                           trabalhadores. As camadas inferiores do terceiro estado eram
                                           formadas pela plebe das cidades, um conjunto de artesãos,
                                           operários, pequenos comerciantes e pequenos empresários.
                                           Eram os sans-culottes, que teriam, mais tarde, um papel
                                           decisivo na Revolução, da qual seriam, segundo o historiador
                                           inglês Eric Hobsbawn, "a principal força de choque". Ao seu lado
                                           acumulava-se, principalmente em Paris, uma formidável e
                                           explosiva massa de miseráveis.
                                              Os camponeses formavam a classe mais numerosa e eram a
                                           base da sociedade francesa. A pobreza, entre eles, era
                                           generalizada, atingindo níveis dramáticos. O historiador
                                           Georges Lefebvre calcula que 10 por cento deles mendigavam,
                                           durante o ano todo, de propriedade em propriedade. Eram
                                           oprimidos, ainda, por mais de trezentas obrigações feudais que
                                           tolhiam completamente sua liberdade.
                                              Na metade do século XVIII, reforçou-se o direito exclusivo da
                                           nobreza aos altos cargos da administração e do Exército. A
                                           restrição pareceu intolerável ao Terceiro Estado —e foi um erro
                                           fatal cometido pelo rei Luís XVI.
Mais de 40 000 “Cahiers de
doléances”      foram     escritos  na
                                           A nobreza quis convocar os Estados Gerais.
campanha eleitoral para os Estados
                                           Suicidou-se
Gerais,     como     todo    tipo   de
reivindicações, como esta: “Que o
Terceiro Estado seja representado nos         Essa combinação de miséria popular e conflito entre os
Estados     Gerais    por    deputados     privilégios aristocráticos e os interesses da burguesia tornou-se
escolhidos por sua ordem”.                 explosiva quando combinada com a crise financeira da
                                           monarquia. Em 1787, o rei tentou criar um imposto a ser pago
                                           pela nobreza, que reagiu bravamente a esse ataque a seus
                                           privilégios. Foi convocada uma Assembléia de Notáveis,
                                           formado por representantes da aristocracia e do clero, os dois
                                           primeiros estados que desfrutavam as mesmas prerrogativas, e
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                                            ela decidiu que só a nação inteira, representada nos Estados
                                            Gerais, poderia criar novos impostos.
                                               O rei fez de tudo para revogar a decisão — prendeu
                                            parlamentares, exilou outros tantos — em vão. A rebelião
                                            cresceu e a nobreza ameaçada tornou-se porta-voz de uma
                                            nação que já não tolerava o poder real absoluto. Em julho de
                                            1788, isolado e pressionado de todos os lados, o governo
                                            capitulou e aceitou convocar os Estados Gerais para 1º de maio
                                            de 1789.
                                               Para infelicidade de Luís XVI, os debates e a exigência de
                                            mudanças já tinham ido tão longe que, inadvertida-mente, ele
                                            próprio levou o movimento reformista a um novo andamento ao
                                            convocar os Estados Gerais. Os deputados deviam ser eleitos
                                            em assembléias distritais, em todas as regiões da França;
                                            assim, a crise econômica, que desencadeou a crise política, pas-
                                            sou a ser discutida por toda a nação em uma campanha
“Primeiramente um cavalo deve ser           eleitoral cujo tom era a denúncia do absolutismo. Formou-se
escovado dez vezes com a almofaça de        então o Partido Nacional, uma frente contra a monarquia
ferro e somente então podeis vós            absolutista, que desejava implantar na França um regime
limpá-lo com a escova macia. Terei de       monárquico à moda inglesa, regulado por uma Constituição.
escovar-vos com violência, e quem           Sua organização foi eficaz, e seu comitê central, a Sociedade
sabe se chegarei jamais à escova            dos Trinta, reuniu-se desde outubro de 1788 em Paris,
macia.”                                     congregando homens unidos pela mesma vontade de mudança,
De um proprietário de terras russo a seus   como o abade Emmanuel-Joseph Sieyès; Georges-Jacques
servos, em 1780.                            Danton; marquês de La Fayette; François VI, duque de La
                                            Rochefoucauld; Marie-Jean-Antoine-Nicolas de Caritat, marquês
                                            de Condorcet; Jacques-Pierre Brissot de Waiville; Adrien-Jean-
                                            François Duport; e Honoré-Gabriel Rigueti, conde de Mirabeau.

                                            Com a Assembléia Nacional, o poder começou
                                            a trocar de mãos

                                               No dia 5 de maio de 1789, em sessão solene com a presença
                                            do rei, foram abertos os Estados Gerais. Na sala de cerimônias,
                                            em Versalhes — o palácio que Luís XIV, o avô de Luís XVI,
                                            também chamado Rei Sol, construíra fora de Paris —, o clero e
                                            a nobreza ocuparam seus lugares, à direita e à esquerda do rei.
Educação pública                            Para enfatizar a posição subalterna do Terceiro Estado, seus
O Marquês de Condorcet defende na           representantes foram amontoados em banquetas, separados
Assembléia seu projeto de “uma escola       das ordens privilegiadas por uma barreira. Luís XVI advertiu
universal, para meninos e meninas,          contra o "desejo exagerado de inovação". Inutilmente; abria-se
leiga e gratuita, capaz de respeitar a      ali o cenário do segundo ato do drama revolucionário.
liberdade individual e estimular os            Um novo tema logo somou-se ao debate: os critérios de
talentos”.                                  votação. Havia uma tendência clara de rejeição da forma
                                            tradicional de votação, como a adotada até a última vez que os
                                            Estados Gerais foram convocados, em 1614: um voto para cada
                                            estado. A nobreza e o clero insistiam no critério antigo que
                                            favorecia sua posição. O terceiro estado — que representava 95
                                            por cento da nação — exigiu por sua vez o voto por cabeça, que
                                            daria posição de destaque à massa da orquestra política.
                                               Era o impasse: a nobreza e o clero queriam uma assembléia
                                            com poderes limitados, enquanto a burguesia queria
                                            transformá-la em Assembléia Nacional para escrever uma
                                            Constituição e impor limites ao poder do rei. Assim, decidiu
                                            tocar música própria e transformou os Estados Gerais em
                                            Assembléia Nacional, em 15 de junho de 1789, para a qual
                                            convocou solene-mente os deputados dos estados privilegiados.
                                            Era a rebelião aberta contra a autoridade real.
                                               O círculo íntimo dos colaboradores do rei aconselhou-o a
                                            tornar medidas de força, mas dividia-se quanto ao que fazer em
                                            seguida. 0 ministro Jacques Necker, um reformista da corte,
                                            recomendava algumas concessões para atrair a Assembléia
                                            Nacional.
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Revolução Francesa: a queda da Bastilha e o início da Revolução

  • 1. CLIO História – Textos e Documentos Revolução Francesa: ela inventou nossos sonhos Desde a madrugada de 14 de julho de 1789, uma terça-feira, pelo menos 8 mil parisienses irados estavam reunidos na esplanada dos Inválidos. Eles queriam armas para enfrentar os soldados que, acreditavam, o rei Luís XVI estava mandando de “Os homens nascem livres e iguais em Versalhes. O administrador não sabia o que fazer. A multidão, direitos; as distinções sociais não então, arrombou os portões e se apoderou de 40 mil fuzis e podem ser fundadas a não ser na doze canhões. Mas e a pólvora para eles? Estava na formidável utilidade comum”. fortaleza da Bastilha, transformada em depósito e prisão. Para Pela Declaração dos Direitos do Homem lá correram todos, em busca de munição. Quem teria, naquele e do Cidadão, a Assembléia Constituinte momento, pensado em se apoderar daquela fortaleza estabelece os direitos básicos dos franceses: inexpugnável? igualdade perante a lei e a obrigação do Pois antes do anoitecer a fortaleza caiu e com ela veio abaixo Estado de defender os direitos “naturais” dos cidadãos, como a liberdade e a propriedade. todo o Antigo Regime, representado na figura do rei e em sua A modernidade chega definitivamente à vida corte de aristocratas inúteis. A multidão que cercou a Bastilha social. era muito maior que os 8 mil reunidos de madrugada na praça dos Inválidos. Mas, conforme cuidadoso recenseamento feito depois pela Assembléia Nacional, os "vencedores da Bastilha" foram não mais que oitocentos, registrados e cadastrados, com nome, endereço e profissão. Em dois dias, construíram-se 50 mil lanças para a milícia Assim, pode-se saber, com segurança, que entre eles “Quando um povo é obrigado a estavam alguns raros burgueses (três industriais, quatro obedecer e o faz, age acertadamente; comerciantes, um cervejeiro), muitos pequenos produtores assim que pode sacudir esse jugo e o independentes, artesãos, oficiais de corporação, militares em faz, age melhor ainda, porque, profusão. Um terço, pelo menos, era de assalariados da manu- recuperando a liberdade pelo mesmo fatura e da construção. O mais jovem tinha 8 anos. Uma única direito por que lha arrebataram, ou tem mulher, uma lavadeira, impedira com sua presença que a queda ele o direito de retoma-la ou não da Bastilha entrasse para a História como uma aventura vivida tinham o direito de subtraí-la.” apenas pelos homens. Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês, A multidão estava inquieta desde o dia 12, quando a 1712-1778 demissão do ministro das Finanças, Jacques Necker, foi re- cebida como prenúncio de que o pão se tornaria mais raro e mais caro. Foi formada uma milícia cidadã para defender a cidade, cujo objetivo era também defender os burgueses proprietários contra os ataques do rei e contra as ameaças das classes julgadas perigosas — os trabalhadores e os miseráveis. De saída, a milícia alistou 48 mil voluntários. Como não havia armas, ordenou-se a construção de lanças — e 50 mil ficaram prontas em dois dias. As reuniões sucediam-se, e havia sempre alguém propondo o recurso à força. "As armas, às armas, cidadãos", era o que mais se ouvia nos comícios. No Palais-Royal, espécie de território livre onde tudo se podia dizer, Camila Desmoulins, orador gago Números que empolgava como ninguém a multidão inquieta, tentava Em 1789, a população da França ordenar o caos. Por sua sugestão, adotou-se o verde com alcança 25 milhões de habitantes, emblema. A multidão desfilou pelas ruas, praticamente engoliu sendo 20 milhões de camponeses. A as tropas que tentaram detê-la. As barreiras que simbolizavam nobreza constitui 1,5% da população a cobrança de impostos foram destruídas; suspeitos de serem total. Paris conta com 500 000 açambarcadores (entre estes o convento de Saint-Lazare) habitantes, dos quais 110 000 são foram atacados. indigentes. Assim, a multidão que na manhã do dia 14 correu para a Bastilha não tinha quem a enfrentasse, a não ser a obstinação do administrador da fortaleza, De Launay, que recusou todos os apelos (inclusive de quatro comissões enviadas pela Prefeitura) para que entregasse a munição. O primeiro disparo aconteceu por volta de 13 horas. Os mais valentes romperam as correntes da ponte levadiça, que caiu. O pátio da administração foi
  • 2. CLIO História – Textos e Documentos invadido, mas ali os revoltosos ficaram expostos. A Bastilha não era um inferno; a vida “Nobres, vós sois o flagelo da dos presos era bem boa sociedade, como sois também o inimigo da Pátria. Vossos exemplos e vossa Às 15:30h chegou um reforço providencial: o chefe da moral levaram os costumes a um grau lavanderia da rainha Maria Antonieta, um certo Hulin, reunira de corrupção nunca antes atingido. 36 granadeiros, 21 fuzileiros, 400 cidadãos armados e alguns Para satisfazer, não vossas paixões, canhões e comandou o primeiro ataque organizado à fortaleza. mas vossas fantasias, vós os De Launay ainda pensou em atear fogo ao depósito de pólvora transgredistes ao ponto de vos permitir e mandar tudo pelos ares. Foi impedido por seus próprios comportamentos cujo preço é o soldados, que preferiram capitular e passar para o lado da cadafalso.” Revolução. Os invasores então entraram de uma vez, desar- Panfleto anônimo, igual a milhares de maram os soldados, saquearam tudo, apoderaram-se da outros em circulação, acusando a nobreza de pólvora e libertaram os prisioneiros. Estes eram apenas sete: corrupção, amoralidade, decadência. quatro falsários, dois loucos e um filho de família rica que desonrara seu nome. Definitivamente, a Bastilha não era o inferno criado pela imaginação popular, onde se jogavam os inimigos do rei para morrer em meio a terríveis sofrimentos. Na verdade, quem podia pagar contava ali com uma vida bem razoável, com direito a boa comida, bebida e até criados. Uma prévia do que viria a ser a violência revolucionária foi Os sans-culottes são os encenada com o pobre De Launay. Na praça da Prefeitura ele novos personagens foi agredido, recebeu um golpe de baioneta, um tiro e teve a da cena política. cabeça cortada, porque a multidão queria vê-la. Contra todos os Sem os “culottes” e prognósticos, o movimento começava a andar fora dos trilhos. os perfumes dos Apenas dois anos antes, em 1787, o pavio da mais clássica das nobres, eles são os revoluções burguesas, a Revolução Francesa, fora aceso por amigos da mãos nobres. Em outros tempos, tudo não passaria de um Revolução: levante palaciano; no final do século XVIII, porém, a rebelião humildes artesãos, da nobreza foi o sinal esperado por outro protagonista empregados poderoso, a burguesia, para subir ao palco da História. O pe- pobres do ríodo inicial da Revolução Francesa, que vai de 1787 a 1791, é “fauborg”, usam a a crônica desse esforço da burguesia para passar à frente dos lança, o sabre e o atores antigos. fuzil para livrar a As finanças reais estavam combalidas há muito tempo, mas Revolução dos nos dez anos anteriores haviam chegado à beira da bancarrota seus inimigos e porque o governo francês empenhou-se em ajudar os Estados exigir a Unidos na luta pela independência. verdadeira igualdade entre O governo estava falido. Então, pensou os cidadãos. em taxar clero e nobreza O relatório financeiro de março de 1788 mostrava que as despesas somavam 629 milhões de libras, mas a receita alcançava apenas 503 milhões. Só os juros da dívida pública, ampliada pela guerra, devoravam 318 milhões de libras. Mais da metade dos gastos, que se agravavam ainda com a necessidade de abastecer o luxo da nobreza, na corte, com supérfluos de toda ordem. O governo precisava aumentar sua receita, mas sabia que não era possível lançar nenhum novo Números imposto sobre a massa da população, já exaurida. Pensou, No início da Revolução, a posse útil da então, em acabar com os privilégios do clero e da nobreza, que terra na França estava assim não pagavam nenhum imposto, embora fossem grandes pro- distribuída: 45%, camponeses; 20%, prietários. A França tinha então pouco mais de 25 milhões de burguesia; 35%, nobreza e clero. habitantes, dos quais 80 por cento eram camponeses. Os 20 Porém, em razão dos direitos feudais, a por cento restantes amontoavam-se precariamente em aristocracia detém a propriedade povoações que mal chegavam aos 2 mil habitantes. senhorial de 97% sobre todas as terras. Paris, com 650 mil, era uma exceção — e uma das maiores cidades do mundo. Todas as outras eram modestas, pelos padrões modernos Lyon tinha 135 mil habitantes; Marselha, 90 mil; Bordéus, 84 mil; Nantes, 57 mil. Essa sociedade estava dividida em estados, a forma feudal de estratificação social, em que cada classe tinha seus estatutos, privilégios, obrigações e
  • 3. CLIO História – Textos e Documentos modo de vida definidos legalmente. O Primeiro Estado era formado pelo clero, mais ou menos 1 por cento da população. Estava dividido em clero superior, formado pelos bispos, arcebispos e cardeais, tinha vida faustosa, como a nobreza, e possuía cerca de 20 por cento de todas as terras do país. O baixo clero, ao contrário, embora partilhasse dos privilégios do seu estado (por exemplo, não Brasil pagar impostos), era formado por padres muitas vezes tão pobres quanto seus paroquianos. É enforcado no Rio de Janeiro, a 21 de O Segundo Estado era formado pela nobreza, dividida em abril de 1789, Joaquim José da Silva nobreza de espada, tradicional e orgulhosa de linhagens que Xavier, o Tiradentes. Único condenado remontavam muitas vezes à alta Idade Média, e nobreza à morte entre os participantes da togada, formada por plebeus enriquecidos, que compraram Inconfidência Mineira, revolta contra a títulos de nobreza, e seus descendentes. Compreendia 2 por dominação portuguesa, fortemente cento da população, algo entre 250 e 400 mil pessoas. influenciada pelas idéias francesas, Apropriava-se de um terço de todas as rendas do país e tinha o pelas “luzes” do século XVIII. monopólio dos mais altos cargos do Judiciário, da burocracia, do clero e do Exército. Os burgueses tinham dinheiro e sonhavam conquistar o poder O Terceiro Estado compreendia, formalmente, todo o restante da população, mas sua facção mais destacada era a burguesia, uma classe economicamente poderosa. Apesar de participar do poder, mediante a compra de cargos e títulos, seus negócios eram tolhidos pela existência de aduanas in- ternas e pedágios, que impediam e oneravam a circulação de mercadorias dentro do país. Ressentia-se, ainda, da existência de companhias comerciais monopolistas, controladas pelo Estado, que dificultavam sua participação no comércio externo, de um lado; e de outro havia as limitações corporativas à liberdade de trabalho que impediam a livre contratação de trabalhadores. As camadas inferiores do terceiro estado eram formadas pela plebe das cidades, um conjunto de artesãos, operários, pequenos comerciantes e pequenos empresários. Eram os sans-culottes, que teriam, mais tarde, um papel decisivo na Revolução, da qual seriam, segundo o historiador inglês Eric Hobsbawn, "a principal força de choque". Ao seu lado acumulava-se, principalmente em Paris, uma formidável e explosiva massa de miseráveis. Os camponeses formavam a classe mais numerosa e eram a base da sociedade francesa. A pobreza, entre eles, era generalizada, atingindo níveis dramáticos. O historiador Georges Lefebvre calcula que 10 por cento deles mendigavam, durante o ano todo, de propriedade em propriedade. Eram oprimidos, ainda, por mais de trezentas obrigações feudais que tolhiam completamente sua liberdade. Na metade do século XVIII, reforçou-se o direito exclusivo da nobreza aos altos cargos da administração e do Exército. A restrição pareceu intolerável ao Terceiro Estado —e foi um erro fatal cometido pelo rei Luís XVI. Mais de 40 000 “Cahiers de doléances” foram escritos na A nobreza quis convocar os Estados Gerais. campanha eleitoral para os Estados Suicidou-se Gerais, como todo tipo de reivindicações, como esta: “Que o Terceiro Estado seja representado nos Essa combinação de miséria popular e conflito entre os Estados Gerais por deputados privilégios aristocráticos e os interesses da burguesia tornou-se escolhidos por sua ordem”. explosiva quando combinada com a crise financeira da monarquia. Em 1787, o rei tentou criar um imposto a ser pago pela nobreza, que reagiu bravamente a esse ataque a seus privilégios. Foi convocada uma Assembléia de Notáveis, formado por representantes da aristocracia e do clero, os dois primeiros estados que desfrutavam as mesmas prerrogativas, e
  • 4. CLIO História – Textos e Documentos ela decidiu que só a nação inteira, representada nos Estados Gerais, poderia criar novos impostos. O rei fez de tudo para revogar a decisão — prendeu parlamentares, exilou outros tantos — em vão. A rebelião cresceu e a nobreza ameaçada tornou-se porta-voz de uma nação que já não tolerava o poder real absoluto. Em julho de 1788, isolado e pressionado de todos os lados, o governo capitulou e aceitou convocar os Estados Gerais para 1º de maio de 1789. Para infelicidade de Luís XVI, os debates e a exigência de mudanças já tinham ido tão longe que, inadvertida-mente, ele próprio levou o movimento reformista a um novo andamento ao convocar os Estados Gerais. Os deputados deviam ser eleitos em assembléias distritais, em todas as regiões da França; assim, a crise econômica, que desencadeou a crise política, pas- sou a ser discutida por toda a nação em uma campanha “Primeiramente um cavalo deve ser eleitoral cujo tom era a denúncia do absolutismo. Formou-se escovado dez vezes com a almofaça de então o Partido Nacional, uma frente contra a monarquia ferro e somente então podeis vós absolutista, que desejava implantar na França um regime limpá-lo com a escova macia. Terei de monárquico à moda inglesa, regulado por uma Constituição. escovar-vos com violência, e quem Sua organização foi eficaz, e seu comitê central, a Sociedade sabe se chegarei jamais à escova dos Trinta, reuniu-se desde outubro de 1788 em Paris, macia.” congregando homens unidos pela mesma vontade de mudança, De um proprietário de terras russo a seus como o abade Emmanuel-Joseph Sieyès; Georges-Jacques servos, em 1780. Danton; marquês de La Fayette; François VI, duque de La Rochefoucauld; Marie-Jean-Antoine-Nicolas de Caritat, marquês de Condorcet; Jacques-Pierre Brissot de Waiville; Adrien-Jean- François Duport; e Honoré-Gabriel Rigueti, conde de Mirabeau. Com a Assembléia Nacional, o poder começou a trocar de mãos No dia 5 de maio de 1789, em sessão solene com a presença do rei, foram abertos os Estados Gerais. Na sala de cerimônias, em Versalhes — o palácio que Luís XIV, o avô de Luís XVI, também chamado Rei Sol, construíra fora de Paris —, o clero e a nobreza ocuparam seus lugares, à direita e à esquerda do rei. Educação pública Para enfatizar a posição subalterna do Terceiro Estado, seus O Marquês de Condorcet defende na representantes foram amontoados em banquetas, separados Assembléia seu projeto de “uma escola das ordens privilegiadas por uma barreira. Luís XVI advertiu universal, para meninos e meninas, contra o "desejo exagerado de inovação". Inutilmente; abria-se leiga e gratuita, capaz de respeitar a ali o cenário do segundo ato do drama revolucionário. liberdade individual e estimular os Um novo tema logo somou-se ao debate: os critérios de talentos”. votação. Havia uma tendência clara de rejeição da forma tradicional de votação, como a adotada até a última vez que os Estados Gerais foram convocados, em 1614: um voto para cada estado. A nobreza e o clero insistiam no critério antigo que favorecia sua posição. O terceiro estado — que representava 95 por cento da nação — exigiu por sua vez o voto por cabeça, que daria posição de destaque à massa da orquestra política. Era o impasse: a nobreza e o clero queriam uma assembléia com poderes limitados, enquanto a burguesia queria transformá-la em Assembléia Nacional para escrever uma Constituição e impor limites ao poder do rei. Assim, decidiu tocar música própria e transformou os Estados Gerais em Assembléia Nacional, em 15 de junho de 1789, para a qual convocou solene-mente os deputados dos estados privilegiados. Era a rebelião aberta contra a autoridade real. O círculo íntimo dos colaboradores do rei aconselhou-o a tornar medidas de força, mas dividia-se quanto ao que fazer em seguida. 0 ministro Jacques Necker, um reformista da corte, recomendava algumas concessões para atrair a Assembléia Nacional.
  • 5. CLIO História – Textos e Documentos