A fábula descreve como Cuidado moldou um homem de barro e pediu a Júpiter que desse espírito à criatura. A Terra também quis dar seu nome à criatura pois foi feita de seu material. Saturno decidiu que Cuidado ficaria responsável pelos cuidados do homem enquanto vivo, Júpiter receberia de volta o espírito após a morte e a Terra receberia o corpo. O cuidado é essencial e anterior ao espírito e corpo, dando a dimensão humana.
1. CUIDAR
Conta uma fábula-mito que “certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve
uma idéia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe a forma de uma criatura. Enquanto
contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado pediu a Júpiter que soprasse espírito na criatura que ele havia esculpido. O que Júpiter fez de
bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura, Júpiter o proibiu. Exigiu que o seu
nome fosse dado à criatura.
Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra que também quis dar o seu nome à
criatura, pois afinal, tinha sido feita de barro, material do corpo da Terra. Começou então uma discussão
generalizada. Como não chegavam a um consenso, decidiram de comum acordo pedir a Saturno que
funcionasse como árbitro. Saturno tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
Você, Júpiter, deu o espírito à criatura; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da sua morte.
Você, Terra, deu-lhe o corpo: receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura
morrer.
Mas como você, Cuidado, foi quem moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.
E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada
Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.”
Observem, o cuidado é tão essencial que é anterior ao espírito infundido por Júpiter e ao corpo
fornecido pela Terra. Ele está na origem da existência humana, nos dá a dimensão humana e estabelece
nosso modo de ser no mundo.
Pelo cuidado não vemos como objetos a natureza e tudo que nela existe. Vemos os seres como sujeitos e
escutamos a voz da natureza. Neste caso, a relação não é de domínio, mas de convivência, não existe
intervenção, mas interação.
Estar no mundo na forma de cuidado nos permite experimentar o valor real das coisas. A partir do
exercício do cuidado virão: o amor, a ternura, a cordialidade, a compaixão, entre outras.
A fábula foi reproduzida a partir do livro de Leonardo Boff, cujo título é: Saber Cuidar.