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COLEÇÃO
HISTÓRIA LASSALISTA EM MOÇAMBIQUE N° 01
LASSALISTAS
DO BRASIL
EM MOÇAMBIQUE
Viagem dos Irmãos Provinciais brasileiros a Moçambique
03 a 11 de outubro de 1991
PUBLICADO ORIGINALMENTE EM CADERNOS LASSALIANOS 14
2ª edição
Província Lassalista Brasil – Chile
Setor de Moçambique
2015
1
COLEÇÃO
HISTÓRIA LASSALISTA EM MOÇAMBIQUE N° 01
LASSALISTAS
DO BRASIL
EM MOÇAMBIQUE
Viagem dos Irmãos Provinciais brasileiros a Moçambique
03 a 11 de outubro de 1991
PUBLICADO ORIGINALMENTE EM CADERNOS LASSALIANOS 14
2
DADOS DA PRIMEIRA EDIÇÃO
PROVÍNCIA LASSALISTA DE SÃO PAULO
Rua Avaré, 201 - Consolação
01.243 - SAO PAULO SP
Tel (011) 256 2517
Texto
Irmão Israel José Nery fsc
Irmão Marcos Antonio Corbellini fsc
Datilografia.
Maria Salete S. Amorim
Revisão
Irmão Benno Backes
DADOS DA SEGUNDA EDIÇÃO
PROVÍNCIA LASSALISTA BRASIL – CHILE
Setor de Moçambique
Reeditado por
Hno. Rodolfo Patricio Andaur Zamora
Revisão
Irmão Nelson Rabuske
Primeira edição: São Paulo, Brasil, 12 de outubro de 1991
Segunda edição: Beira, Moçambique, 15 de agosto de 2015
Com permissão do Superior
Irmão Lino Matias Jung
3
INTRODUÇÃO
Durante o ano 2014 pediu-se à Comunidade de Beira fazer um artigo
sobre a presença dos Irmãos das Escolas Cristãs em Moçambique. Ao
assumir o dito compromisso, procurei informação na revista
"Mensagem" que o Distrito de São Paulo publicava, que consegui
localizar na biblioteca da antiga Casa Provincial da Província de São
Paulo.
Alguns Irmãos que passaram por esta missão lassalista contribuíram
com informações e lembranças. Muitos recordavam um artigo escrito
pelos Irmãos Provinciais da época, aonde descreviam sua viagem de
avançada em 1991. Mais nenhum tinha o documento.
Em fevereiro de 2014, o Ir. Reinaldo Souza de Oliveira encontrou, na
biblioteca do Centro Educativo e Assistencial Lassalista (CEAL) uma
reprodução pouco legível deste documento. Além da falta de clareza,
tinha problemas de paginação e com correções manuscritas.
Como se aproxima a celebração dos 25 anos de presença lassalista
neste país, em 2017, me pareceu interessante recuperar e voltar a
difundir seu conteúdo. É uma maneira de recuperar a memória
histórica desta missão. Seu conhecimento, junto ao arquivo fotográfico
que está em preparação, como outros documentos que relatam o
acontecido entre os anos 1992 a 2014, será uma ocasião de agradecer
a tantos Irmãos e leigos vindos de muitas partes do mundo lassalista:
Brasil, México, Itália, Portugal, Espanha e Chile, que têm dado vida e
continuidade a esta aventura apostólica.
É evidente que este não é um trabalho acabado. Ainda faltam muitos
testemunhos e entrevistas bem como páginas para ler, que poderão
4
dar novas luzes sobre os momentos vividos na história ainda em
construção. Ter-se-á que pesquisar sobre os projetos em Anchilo e
Magunde. Conhecer mais as muitas ações empreendidas pelos Irmãos
junto a ESMABAMA, na formação de docentes em forma semi
presencial ou a distância (que hoje a Universidade Católica de
Moçambique continua), as visitas de acompanhamento e capacitação a
esses docentes-alunos em seus lugares de origem ou em ser pioneiros
na introdução da informática ou na organização da educação. O
efetuado tem conseguido que a Congregação seja altamente valorizada
e hoje outras dioceses gostariam de contar com seu apoio no trabalho
educativo que têm.
A leitura de suas páginas permitirá fazer uma avaliação do percorrido.
É preciso voltar a valorizar ou repensar os objetivos que se sonharam
outrora. Em especial uma pastoral vocacional que seja capaz de
mostrar, aos jovens moçambicanos, a oblação de si a Deus, do sentido
da renúncia pessoal por um bem maior: ajudar a salvação humana e
cristã de crianças e jovens de seu país. E a uma formação que convença
e permita a perseverança de quem põem a mão no arado. São alguns
dos desafios que se teve nos começos e que ainda estão pendentes.
Em Cristo, La Salle, São José, padroeiro do Instituto, e Maria.
Irmão Rodolfo Patricio Andaur Zamora fsc
Beira 15 de agosto de 2015, festa da Assunção da Virgem.
5
APRESENTAÇÃO
Com o impulso dado pelo 41° Capitulo Geral de 1986, pela Regra de
1987 e pelos insistentes apelos da Igreja (cf. João Paulo II ("Redemptoris
Missio”) e dos Superiores de nosso Instituto, a Missão "Ad Gentes" ou
"sem-fronteiras" vem se tornando cada vez mais realidade em todo o
Instituto Lassalista.
Os Irmãos do Brasil são devedores dos Lassalistas missionários vindos
da França, da Bélgica, da Áustria, da Alemanha e da Espanha, têm
alguns anos de experiência missionária no interior do norte do Brasil no
Pará (Altamira e Uruará-Km 180 da Transamazônica) e no Maranhão
(Cândido Mendes, Presidente Médici) e um ensaio missionário, de
pouca duração em Cuba.
Atentas às sugestões dos Superiores, as duas Províncias Lassalistas do
Brasil acolheram a proposta de Missão na África de língua portuguesa.
O fato de o Instituto já contar com jovens Irmãos angolanos no Zaire
despertou o interesse de uma primeira comunidade em Angola. Mas os
insistentes pedidos de dom Jaime Pedro Goncalves, Arcebispo da Beira,
em Moçambique, circundado com o pleno apoio dos Irmãos Superiores
em Roma, levaram as duas Províncias a optarem inicialmente por
Moçambique.
Para os necessários encaminhamentos da primeira Comunidade
naquele país, os Irmãos Provinciais Marcos Antônio Corbellini (Porto
Alegre) e Israel José Nery (São Paulo) visitaram Moçambique de 03 a 11
6
de outubro de 1991. Este livreto traz a "Crônica" desta importante
viagem e as perspectivas para a missão lassalista em Moçambique,
inicialmente na Arquidiocese da Beira. Na primeira parte colocamos um
resumo dos antecedentes da viagem situando a evolução do chamado
"Projeto Afríca".
Que a leitura deste trabalho desperte e confirme para nós a convicção
missionária, essencial à Igreja, portanto à nossa fé e à nossa vocação
lassalista.
Ir . Marcos A Corbellini fsc Ir. Israel J. Nery fsc
Provincial de Porto Alegre Provincial de S. Paulo
7
I PARTE
IRMÃOS LASSALISTAS DO BRASIL PARA ÁFRICA DE LÍNGUA
PORTUGUESA
1. ANTECEDENTES
Em 1987 o irmão Superior Geral John
Johnston enviou carta circular a todas as
Províncias da América Latina, no dia 07 de
abril, festa litúrgica de São João Batista de
La Salle, sobre o tema “Proposta Missionária
aos Irmãos da RELAL". Desejava ele motivar
as Irmãos a respeito das Missões em
conformidade com o 41° Capitulo Geral de
1986, a nova Regra e a preocupação do
Instituto especialmente ao longo das
últimas décadas. Relembra o Irmão Superior
a Declaração n° 24 e as proposições 2 e 3 do
Capítulo Geral e faz as aplicações à realidade da
América Latina, dando uma série de sugestões concretas no item
"realidade missionária na RELAL".
Na primeira página da referida Circular, no parágrafo "Contribuição
em pessoal" o Irmão Superior escreve textualmente: "Com esta
finalidade o Capítulo Geral convida a cada Conferência Regional a
estabelecer uma quantidade generosa que corresponda, pelo menos a
10% de seus Irmãos, para prestar serviço missionário nas regiões do
Ir. John Johnston
Superior Geral
8
mundo que tenham mais necessidade da presença e da competência
destes Irmãos". Em outros parágrafos dá orientações quanto à "partilha
de recursos econômicos" para se poder assumir este desafio
missionário. A sugestão de um território missionário, naquele
momento, também foi contemplada. Aparece na página da Circular
"constituir, a partir de 1988 e em um período de 3 anos e sob
coordenação do Irmão Provincial de Antilhas, uma equipe de 6 (seis)
Irmãos disponíveis para reiniciar a missão do Instituto em Cuba".
Na IV Assembleia da RELAL, janeiro de 1988, em Córdoba, Argentina,
com a presença do Superior Geral John Johnston, o assunto foi tratado
e alguns passos decididos. Em breve os Irmãos abririam uma primeira
comunidade em Cuba. Decidiu-se também por realizar uma pesquisa
junto a todos os Irmãos da RELAL para um outro território missionário
na América Latina. Feita a pesquisa optou-se por El Salvador. As
dificuldades foram aparecendo em relação ao Projeto Cuba de modo
que a V Assembleia da RELAL, Março 1991, na Guatemala, tomou a
decisão de postergar o Projeto El Salvador.
Mas, em abril de 1990, em Bogotá, algo novo começou a aparecer,
com mais clareza, na questão missionária da RELAL, para as Províncias
brasileiras. No encontro conjunto "Conselho Geral do Instituto e
Provinciais da América Latina", alguns Conselheiros sugeriam para os
brasileiros os países de fala portuguesa na África, reiterando algumas
conversas anteriores. Naquele encontro os dois Provinciais Irmão
Marcos Corbellini (Porto Alegre) e Irmão Israel Nery (São Paulo) tiveram
uma reunião específica com alguns Conselheiros Gerais sobre o
9
assunto, delineando-se que, talvez, fosse preferível, de fato, que o
Brasil atendesse a África (com vantagem da língua e de algumas
aproximações culturais) e as demais Províncias da RELAL, Cuba e El
Salvador, sendo que México já estava com Japão.
2. OS PASSOS DADOS ATÉ AGORA
Os dois Irmãos Provinciais brasileiros
voltaram de Bogotá com o propósito de aos
poucos traçarem um plano global em vista de
um Projeto Missionário para as Províncias do
Brasil em algum país de fala portuguesa na
África. Lentamente os Irmãos foram sendo
notificados deste possível Projeto. Enquanto
isso o diálogo prosseguia com
o Conselho Geral,
especialmente com os
Irmãos Genaro Saez de
Ugarte e Martin Corral,
que haviam tratado da
questão na visita que realizaram no Brasil em
1990 e na carta que enviaram apresentando as
orientações a partir da visita citada (20/09/90)
Por ocasião do encontro dos dois Conselhos
Lassalistas, no dia 26 de abril de 1991, em
Curitiba, o Projeto foi tratado com base num
10
texto em duas partes a) apresentação, b) cronograma. Os conselheiros,
após amplo diálogo, com argumentos a favor e contra decidiram, via
consenso, favoravelmente e acataram o cronograma proposto, que
inclui:
a) um trabalho de conscientização dos Irmãos e de nossas escolas,
b) levantamento de irmãos dispostos a irem para a África,
c) escolha e preparação dos Irmãos a serem enviados,
d) abertura da primeira Comunidade, do segundo semestre de
1993 em diante,
e) outros pasmos.
Este material foi enviado a todos os Irmãos no Boletim "La Salle São
Paulo" nº 09/91
No dia 08 de maio de 1991 o Irmão
Conselheiro Geral Vincent Rãbemahafaly
enviou aos Irmãos Provinciais do Brasil
carta com diversas propostas de obras em
Moçambique. Vinham de dom Jaime Pedro
Gonçalves (Arcebispo de Beira, em carta
enviada ao Irmão Superior Geral John
Johnston, dia 23 de abril de 1991:
a) Colégio João XXIII em São Benedito da
Manga,
b) Colégio Santo Antônio, na Paróquia de
Barada,
c) Colégio São Carlos Lwanga, em Murraça.
11
Pouco depois dom Jaime passou por Roma e visitou a Casa
Generalícia. Os Irmãos Genaro e Vincent escreveram novamente aos
Irmãos Provinciais do Brasil, sugerindo, com certa insistência, que a
Missão na África de língua portuguesa pudesse ser iniciada por
Moçambique e na Diocese da Beira, devido ao apoio concreto de dom
Jaime Pedro Gonçalves. Davam os Conselheiros a época de fevereiro de
1992, por causa do início do ano escolar.
Os Irmãos Provinciais Marcos Corbellini e Israel Nery responderam a
ambos os Conselheiros argumentando a dificuldade real de se atender
a solicitação para fevereiro de 1992:
a) Necessidade de se fazer o levantamento dos Irmãos;
b) Importância de um preparo suficiente dos Irmãos escolhidos;
c) Dúvidas a respeito do tipo de obra com que começar a Missão
na África.
Em resposta ambos os Conselheiros pediram aos Irmãos Provinciais
entabulassem diretamente o diálogo com dom Jaime Pedro Gonçalves,
inclusive informando da não viabilidade de uma viagem dos dois
Provinciais a Moçambique em fins de julho ou agosto de 1991, como
era esperado.
12
PROVÍNCIA LASSALISTA DE PORTO ALEGRE - PROVÍNCIA LASSALISTA
DE SÃO PAULO
PROJETO DE AÇÃO MISSIONÁRIA NA ÁFRICA
NOSSA SENHORA DA ÁFRICA NOS CHAMA
ETAPAS PASSOS * Responsável 91 92 93 94 95 96 97 98
1. CONSCIENTIZAÇÃO MISSIONÁRIA:
Irmãos, formandos, Família Lasallista
• Comissão de Ação Missionária
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1. CRIAÇÃO DE FUNDO MISSIONÁRIO
(com contribuições das comu-
nidades, a partir de renúncias...)
• Comunidades
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2. LEVANTAMENTO DE NOMES DE
IRMÃOS QUE DESEJAM SER
ENVIADOS
• Direção Provincial
**
**
**
3. DIÁLOGO COM OS IRMÃOS QUE
DESEJAM SER ENVIADOS E
DEFINICÃO DOS NOMES
• Irmão Provincial
** **
5. DEFINIÇÃO DO PAÍS (Local,
Missão Específica, Recurso) DE
COMUM ACORDO COM IRMÃO
SUPERIOR GERAL E CONSELHO GERAL
• Direção Provincial – Conselho
Provincial
**
**
**
**
13
6. PREPARAÇÃO DOS IRMÃOS A
SEREM ENVIADOS
** **
**
7. INÍCIO DA MISSÃO EM TERRAS DE
ÁFRICA
• Irmãos Missionados1
** **
8. ENVIO DE DOIS IRMÃOS
Irmãos Missionados.2
• Direção Provincial – Conselho
Provincial
** ** **
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9. CONFIAR A LEIGOS OBRAS
PARA PERMITIR A LIBERAÇÃO DE
IRMÃOS (se necessário)
• Direção Provincial – Conselho
Provincial
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10. AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO
• Direção Provincial – Conselho
Provincial
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O assunto "Projeto África" entrou no VI Capítulo Provincial da
Província de São Paulo (16-20/07/1991) merecendo um longo debate.
No final foi aprovado todo um Capítulo, com "Fundamentação" e com
"Propostas" ficando assim assumido pela instância mais alta da
1
Palavra adicionada na 2ª edição
2
ib.
14
Província. O levantamento iniciado com o Boletim "La Salle São Paulo"
n° 09/91 de maio, tabulado em agosto, revela um bom grupo de Irmãos
que se oferece para as Missões na África. O mesmo ocorre na Província
de Porto Alegre A escolha dos Irmãos acontecerá ao longo do segundo
semestre. A preparação conjunta de escolhidos de Porto Alegre e de
São Paulo, seria feita ao longo de 1992 e 1993.
3. OS DESAFIOS DO PROJETO ÁFRICA
Somente à luz da fé e do zelo se pode compreender e aceitar que na
situação dos dois Distritos do Brasil e diante das imensas necessidades
de nosso país, se obedeça ao chamado da Igreja, do 41° Capítulo Geral,
da nova Regra e de nossos Superiores atuais. É também compreensível
que alguns Irmãos não estejam aceitando a decisão tomada. E este é o
primeiro desafio que o Projeto encontra dificuldade séria quanto à sua
aceitação por alguns, dentre os quais uns poucos chegam a fazer
oposição.
Além do desafio da escolha dos voluntários que se apresentaram, há
também o da preparação psicológica, cultural e espiritual dos referidos
Irmãos. Mas é preciso levar em conta também a questão do tipo de
compromisso com o qual iniciar na África. Estamos concretamente com
propostas de três colégios, inclusive um deles em regime de internato.
Não seria melhor trabalhar na formação de professores e de agentes
de pastoral vocacional? Outros grandes desafios que aparecem são,
por exemplo, Irmãos brasileiros para a África por alguns anos
15
subseqüentes, financiamento do Projeto, envolvimento de nossas
escolas do Brasil e de leigos voluntários.
É fundamental que, agora, uma vez tomada a decisão de se obedecer
ao Espírito Santo, as Províncias, COMO
UM SÓ CORPO, "Juntos e por
Associação", com fé, zelo, coragem
e generosidade, tornemos
realidade este Projeto. Iniciemos,
Irmãos, colocando-o fortemente
em nossa oração e em nosso
trabalho de pastoral escolar.
D. JAIME PEDRO GONÇALVES
Arcebispo da Beira
Fotos em preto e branco são do original
– Fotos em cor são da 2ª edição
16
II PARTE. A VIAGEM DOS PROVINCIAIS
1. O CONTEXTO
No ano da celebração do tricentenário
do Voto Heróico de São João Batista de La
Salle, comprometendo-se em 1691, com
os Irmãos Nicolau Vuyart e Gabriel Drolin,
a estabelecer e consolidar, por espírito de
fé e zelo, o Instituto dos Irmãos das
Escolas Cristãs, fundado em 1680, mas
naquele momento em grave crise, os
Irmãos Lassalistas do Brasil decidiram em
1991 pela abertura de uma comunidade
missionária na África de língua
portuguesa
Para concretizar a decisão tomada e
levando-se em conta a troca de
correspondência com os Superiores do
Instituto, os Irmãos Marcos Corbellini
(Provincial de Porto Alegre) e Israel José Nery (Provincial do São Paulo)
resolveram visitar a Arquidiocese da Beira, em Moçambique, em fins de
setembro de 1991 para ver " in locco" a situação da Igreja, do país e de
algumas obras, colocadas por dom Jaime Pedro Gonçalves à disposição
dos Irmãos.
17
Moçambique, hoje com 14 milhões e meio de habitantes, foi povoado
no século III d.C. por populações de língua Bantu. Nos séculos VIII e IX
mercadores asiáticos chegaram à costa moçambicana à procura de
ouro e marfim c influenciaram muito as populações em questões de
religião, língua e costumes, constituindo-se, assim, em Moçambique,
alguns sultanatos. No século XV chegaram os Europeus, em sua rota
para a Índia. Vasco da Gama passou por Moçambique em 1498,
exatamente em Beira, na costa, hoje situada na metade da extensão do
país. Portugal, percebendo a importância de Moçambique, por causa
do ouro e da rota para a Índia, resolveu ocupar a Ilha de Moçambique
em 1507 e invadir o sultanato de Angoche em 1511. Em 1560 aconteceu
a primeira expedição missionária chefiada pelo Padre Gonçalo da
Silveira, que foi assassinado. O governo português, em 1572, declarou
guerra ao governo local de Monomopata, mas foi derrotado. Mais
tarde, em 1627, Portugal transformou Moçambique num Estado
vassalo, devido ao enfraquecimento do império local por guerras
internas e que pediu ajuda ao governo português.
A colonização portuguesa durou até 1974. A concessão da
independência a diversos países africanos por parte de França, Bélgica,
Inglaterra e Holanda nas décadas de 50 e 60 incentivou profundamente
forças nacionalistas de Moçambique à luta pela independência.
Portugal, entretanto, não admitiu a possibilidade do fim da colonização
em seus territórios de além-mar. Além disso, os portugueses de
Moçambique, contrários ao governo Salazar, queriam fazer de
Moçambique o verdadeiro Portugal e investiam no país o mais que
podiam. Em 1962 nasceu a FRELIMO (Frente de Libertação de
18
Moçambique) sob direção do Eduardo Chivambo Modlane e em 1961
teve início a luta armada pela independência, com imensos estragos no
país até a vitória em 1974, com os acordos de Lusaka. FRELIMO
organizou então o governo nacional colocando como presidente
Samora Moisés Machel e adotando o sistema comunista para o país.
Uma parte da FRELIMO, não suficientemente contemplada pelo
governo, se separou formando a RENAMO (Resistência Nacional de
Moçambique) que está em todo o pais, principalmente no norte,
fixando-se em Gorongosa. Surgiu, então a Guerrilha contra a FRELIMO,
ou seja, contra o governo, com o apoio dos países vizinhos, também de
Portugal e outros países capitalistas.
19
O governo revolucionário encampou imediatamente todos os
templos, escolas, fábricas e bancos num nacionalismo e estatização
radicais. “É preciso destruir tudo e começar de novo", dizia Mache1. Os
estrangeiros tiveram de abandonar tudo, assim como a Igreja. Sem
condições de assumir o que havia confiscado, aos poucos o país se
transformou numa imensa sucata. A guerrilha piorou ainda mais a
situação, consumindo as forças do país. Com a morte de Samora
Machel, em 1986, a crise do regime comunista no Leste Europeu e a
retirada das forças cubanas, a FRELIMO se viu órfã e sem a mínima
condição de levar à frente seu projeto para Moçambique,
O novo Presidente Chissano começou a abrandar o regime. Os dois
grupos rivais aceitaram discutir termos para a paz com mediação de
alguns países e da Igreja e já realizaram 8 rodadas de negociações. Em
1991 começou a abertura para empresas particulares e a devolução de
prédios confiscados e até mesmo algumas escolas. Alguns acordos
firmados entre FRELIMO e RENAMO já possibilitaram algumas
condições para a reconstrução do país.
A Igreja, apesar de todo o ocorrido contra ela nestes 16 anos de
regime comunista, é agora uma instância de confiança do atual governo
de Moçambique, e por isso, é força nas conversações pela paz e está
recebendo lentamente a liberdade e os prédios encampados. Estes
prédios, porém, na sua totalidade, estão em ruínas, é para este
recomeço de Moçambique que a Igreja está pedindo ajuda missionária,
também ao Brasil.
20
2. DE BRASIL A MOÇAMBIQUE (2 a 4/10/91)
De 02 a 11 de outubro de 1991, mês das missões, os Irmãos Provinciais
Marcos Corbellini (Porto Alegre) e Israel José Nery (São Paulo) fizeram
uma viagem a Moçambique em vista da concretização de uma missão
lassalista brasileira naquele país. A viagem, marcada para o dia 26 de
setembro, teve de ser adiada por atrasos na concessão do visto de
entrada a Moçambique de Irmão Nery, por causa de falhas no envio da
documentação. Irmã Eduarda, secretária da Conferência Episcopal
Mocambicana (CLM), se dedicou exemplarmente na tramitação
requerida para os vistos de entrada.
No dia 02 de outubro à noite, chegou à Casa Provincial de São Paulo o
Ir. Marcos Corbellini, procedente de Porto Alegre. De madrugada, às
4h30, Irmão Benno Backes, secretário da Província de São Paulo, levou
os dois Provinciais ao Aeroporto de Guarulhos para o vôo RG 790 com
decolagem prevista para as 06h30 e chegada no Rio as 07h30. Houve
troca de aeronave no Rio e o vôo marcado para as 9h00 teve uma hora
de atraso, por problemas técnicos.
A viagem transcorreu normal, com leves balanços do avião algumas
vezes. O número de passageiros era pequeno para uma aeronave tão
grande, um DC/10. Às 11h30 foi servido um prato frio com bebida à
escolha. Alguns filmes entretiveram os passageiros. Antes da chegada
a Johannesburg, foi servido o jantar. O avião aterrissou no Aeroporto
Jan Smuts às 22h40. Procuramos imediatamente o Hotel Airport Sun.
Soubemos depois que podíamos ter ficado dentro do Aeroporto num
21
Hotel para transito. Nem RAPTIM, Varig, South African Airline e nem o
Consulado nos informaram sobre isso. E teria sido gratuito.
Durante a viagem de São Paulo a Johannesburg, da conversa dos dois
Provinciais, foram importantes os seguintes assuntos:
a) É, por fé e obediência ao Senhor e ao Instituto, que estamos
indo à África,
b) Estamos indo para ver, ouvir, dialogar, levantar dados para o
necessário discernimento quanto à missão lassalista brasileira na
África de língua portuguesa,
c) Teremos contatos em Maputo, onde dispomos de dois dias antes
de ir a Beira. Desejamos visitar a Conferência Episcopal de
Moçambique, a Conferência dos Religiosos e alguns brasileiros
missionários (Irmãs, Irmãos, Sacerdotes) que lá vivem,
d) Estamos indo a Beira, a convite do senhor Arcebispo dom Jaime
Pedro Gonçalves e insistência de nossos Superiores maiores, para
visitarmos obras que a Igreja se prontifica a confiar aos Irmãos
Lassalistas já para fevereiro de 1992. Estamos disponíveis ao
diálogo para discutirmos sobre este compromisso, sem a suficiente
preparação dos Irmãos, se for para 1992,
e) De acordo com o tipo de atividade concreta na África,
escolheremos os Irmãos entre os que se ofereceram para esta
missão. Será uma tarefa complicada, sem dúvida, sobretudo se for
efetivamente necessário abrir a primeira comunidade em começos
de 1992.
22
3. EM MAPUTO, CAPITAL DE MOÇAMBIQUE (1° dia 4/10/91)
No dia 01 de outubro, Festa do São Francisco do Assis, deixamos o
Hotel Airport Sun às 6h30min e viajamos para Moçambique às 8h00 por
SAA. Houve dúvidas, por parte do funcionário que nos atendeu, quanto
a termos o visto de entrada no Aeroporto do Maputo. Confiantes,
viajamos e de fato houve demora por parte da Polícia do Aeroporto a
encontrar os vistos.
Para nos receber estava o Irmão Marista gaúcho Justino Hartmann,
com 40 anos de missionário na África. Estava acompanhado pelo
motorista da Conferência Episcopal Moçambicana senhor Alberto.
Irmão Marcos havia combinado com o Ir. Justino a nossa chegada.
Fomos levados ao Hotel Turismo, no centro da Cidade, por falta de lugar
nas casas religiosas da cidade, segundo Ir. Justino.
Cidade Maputo: centro e Catedral
23
Descansamos e almoçamos no Hotel e às 15h30 Irmão Justino nos
veio buscar. Visitamos a cidade, diversos bairros e praias da belíssima
baía, a Catedral e a igreja dos Padres Sacramentinos. Passamos na
Conferência Episcopal. Irmã Eduarda havia viajado para um Retiro.
Atendeu-nos a Ir. Celestina. Às 18h00 participamos da Santa Missa,
festa de São Francisco, na Paróquia Santo Antônio de Polana, dos Freis
Franciscanos. Terminamos a jornada oferecendo, no Hotel, um jantar
ao atencioso e fraterno Irmão Justino Hartmann.
Do diálogo com Irmão Justino, enquanto nos mostrava Maputo, é de
se destacar:
a) "A revolução destruiu o país com a introdução do comunismo e a
guerra interna. A Igreja perdeu suas obras e bens. A paz ainda não
aconteceu. Estamos em trégua. Dom Jaime Gonçalves é um dos
mediadores e por isso está continuamente na Itália, pais que
abriga e patrocina as conversações.
b) Estamos em nova fase. A vinda de vocês, Irmãos Lassalistas, é
promissora. Há muito campo de ação. Mas estamos realmente
sem recursos financeiros. O custo da vida é muito alto e tudo é
muito caro. Há muita exploração. O que falta nos supermercados
está nas feiras, mas bem mais caro.
c) Necessitamos sangue novo, novos sonhos, novo impulso. Vejam,
consultem e escolham um tipo de compromisso apostólico que,
efetivamente, seja uma ajuda significativa à Igreja e ao país neste
início de reconstrução de tudo aqui.
24
d) A escola está toda nas mãos do governo socialista. A religião é
proibida. Agora o governo vai permitir novamente a escola
particular. Mas não vai repercutir bem na Igreja que os religiosos
abramos escolas para classes melhor situadas.
e) A meu ver, confessa o Ir. Justino, é prioritária a formação de
agentes multiplicadores: catequistas, professores, líderes. Como
estamos tendo um bom número de vocações, é importantíssimo
fazer algo para a boa formação dos seminaristas e dos que se
preparam para a Vida Religiosa.
f) Não vejo como prioridade o internato que em muitos casos é
pensionato. E aqui a dificuldade é maior por causa do custo de
vida. Conseguir alimentar uma certa quantidade de internos é
uma proeza.
g) O clero diocesano é muito reduzido. A maior parte das Paróquias
está com religiosos. Isso nos forçou a desenvolver um ministério
laical variado. Durante o regime comunista as Igrejas se
esvaziaram, agora começam a encher novamente.
h) O povo é muito bom. Profundamente religioso. Predominam os
Católicos. Em segundo lugar estão os Muçulmanos. Anglicanos e
Presbiterianos também há, mas poucos.
i) Tínhamos, antes da independência, muitas escolas católicas.
Foram confiscadas pelo Estado. Todo o primário estava nas mãos
da Igreja. Hoje as escolas estão em péssimas condições. Os
professores, em maioria portugueses, foram embora com a
revolução. O ensino, portanto, caiu vertiginosamente em
qualidade. Muitos religiosos sobreviveram como professores do
25
Estado. O Estado está devolvendo Igrejas o Templos e alguns,
prédios (seminários) que estão em péssimas condições.
j) É conveniente que prevejam uma Comunidade em Maputo, por
ser a capital e centro de referência principal do país.
k) Como nem a Igreja e nem o Estado podem ajudá-los
financeiramente, sinceramente não sei como os Irmãos em
pouco tempo poderão se auto sustentar. Ainda mais que o abrir
uma escola paga, como disse, não repercutiria nada bem.
l) Vocações há e bastantes. Há problemas que necessitam de
atenção: dois principalmente. A busca de Casas de Formação e
Seminários por causa da qualidade de ensino. O celibato não
entra no esquema cultural do africano. É preciso trabalhar esse
assunto na verdade da fé e não com justificativas humanas de
disponibilidade, mais tempo etc. É por causa do Reino.
m) É importante, porém, não vir com projetos prontos, nem com
pressa. É necessário ouvir, contatar, ter visão ampla".
4. EM MAPUTO, CAPITAL DE MOÇAMBIQUE (2° dia 5/10/91)
Às 9h00 do dia 05 de outubro, sábado, o Irmão Justino veio nos buscar
no Hotel Turismo. Ele nos mostrou primeiramente o Centro Cultural
Brasileiro que está em frente do Hotel. Depois nos conduziu à nova
residência das Irmãs Paulinas ("Paulistas" como são denominadas em
Portugal e em Moçambique). É uma mansão muito bem construída e
ampla, ao lado da embaixada da União Soviética.
26
Foi uma alegria conviver umas horas com as Irmãs brasileiras e de
grande utilidade para nós o que nos informaram:
a) “O diploma universitário brasileiro é reconhecido e bem-vindo a
Moçambique. Em alguns casos o pagamento é feito pelo governo
em dólares. Se os Irmãos que vierem têm nível universitário é
possível emprego em cargos do governo ou em escolas
internacionais para classes altas.
b) A proposta de "formar multiplicadores" é excelente e deveria ser
prioritária, sobretudo no nível de catequese, agentes de pastoral
e professores. O mesmo com relação à alfabetização de adultos.
c) Quanto à Pastoral Vocacional. É fundamental para as
Congregações que desejam se estabelecer em Moçambique para
logo terem religiosos autóctones. Mas muitos bispos são contra a
Pastoral Vocacional para a Vida Religiosa e Congregações não
diocesanas. Numa das Assembléias Diocesanas um bispo propôs,
há poucos meses, proibir a P.V. que não fosse para o clero
diocesano, pelo menos por 5 anos. É importantíssimo falar cum o
senhor Bispo da Beira direta e francamente sobre o assunto".
d) Com relação ao trabalho apostólico, também as Irmãs Paulinas
são reticentes quanto a internatos e escolas pagas. Dizem que
"em Beira há agora a proposta de criar, por iniciativa da Igreja,
uma Universidade Particular em união com outras forças. O
Estado está devolvendo, em precárias condições, o prédio do
Centro Catequético. Esta é uma alternativa boa para os Irmãos
formar Catequistas e Agentes de Pastoral.
e) Em Maputo é urgente a criação de um Instituto de Ciências
Religiosas para Religiosos e Leigos. O currículo do Seminário se
27
torna, por exigência das autoridades eclesiásticas, cada vez mais
clerical e não se coaduna com as necessidades dos religiosos,
especialmente religiosas e leigos.
f) A alternativa de começar a missão por Angola não deve ser
descartada. Há muito boas perspectivas de apoio. O fato de já
haver Irmãos Lassalistas em Angola facilita o começo do Projeto
Moçambique ficaria para um segundo momento.
g) É conveniente levar em consideração no discernimento, a Igreja
como um todo e não tanto uma determinada Igreja particular que
convidou e oferece algumas alternativas concretas.
h) Na hipótese de o governo devolver os Colégios dos Irmãos
Maristas em Beira e em Maputo, seria conveniente analisar, em
termos de visão de Igreja, como ajudar os Irmãos Maristas a
retomarem os Colégios deles.
i) A Congregação, estabelecendo-se em Moçambique, necessitará
em breve tempo de uma casa em Maputo".
Um pouco antes de despedir-nos das Irmãs, chegaram dois sacerdotes
italianos da Congregação dos Padres da Consolata e o Padre Vicente,
dos Padres Brancos, Reitor do Seminário Maior. Estes sacerdotes
reafirmaram o que até o momento havíamos conversado com o Ir.
Justino e as Irmãs Paulinas. Expressaram que, em coerência com a
teologia e a pastoral no Brasil, a opção dos Lassalistas deveria ser por
Moçambique, onde a pobreza é extrema. A renda per capita é de 85
dólares por ano!
28
Ir. Justino, por algum motivo especial, não nos mostrou a residência
dos Irmãos Maristas, mas nos levou para ver a situação calamitosa em
que se encontrava o Colégio deles em Maputo, encampado pelo
Estado. Depois fomos visitar a cidade de Matola, onde diversas
Congregação têm suas casas de Formação. Ele nos aconselhou a
providenciar terreno no lugar para nossos futuros formandos.
Almoçamos às 12h00 no Hotel, às 14h00 para o Aeroporto. Ali nos
encontramos com a Irmã Celeste, da Congregação das Franciscanas
Missionaria de Nª Sª da Vitória, que se alegrou ao saber nossa vinda
para Moçambique e insistiu conosco para não colocar barreira alguma
a ação do Espírito quanto à missão em Moçambique.
5. EM BEIRA (1° dia. 6/10/91)
Viajamos para Beira, dia 05/10 às 16h30, onde chegamos às 17h30.
Padre Manuel Chiuanguira Machado, Vigário Geral, nos esperava. Dom
Jaime Pedro Gonçalves havia viajado dia 02/10 para Roma a fim de
participar de mais uma rodada de negociações (a 8ª) em busca de paz
em Moçambique entre as partes em guerra: FRELIMO, que está no
poder, e RENAMO. Fomos alojados no Palácio Episcopal, onde residem
os cinco sacerdotes diocesanos em Comunidade com o Bispo.
Conhecemos durante a janta os Padres Matias e Paulino e uma Irmã da
Congregação Diocesana Nª Sª da Anunciação. Ir. Marcos e Ir. Nery
visitaram a capela da Cúria e foram se recolher após falar por telefone
com os Irmãos Maristas de Beira.
29
No domingo, dia 6 de outubro, festa de Nª Sª do Rosário, e padroeira
da Arquidiocese da Beira, fomos participar da Missa às 9h00 na
Catedral. A celebração foi solene, cantada, com 2 horas de duração,
muito inculturada em termos de canto, dança, ritmo a língua. Foi para
nós de grande riqueza este contato com o povo. Visitamos as
dependências do Seminário Médio, junto à Catedral e o complexo de
construções pertencentes aos Padres Franciscanos. Tudo em precárias
condições pelos estragos feitos pelo descaso do governo.
Almoçamos às 12h30, após o momento de conversa informal e
aperitivo. Às 14h15 saímos
para acompanhar uma
"Caminhada pela Paz"
promovida pelos jovens, da
Catedral à Igreja Nª Sª de
Fátima. Levamos chapéu por
causa do tipo de calor do sol
que é causticante neste
período de início de verão
tropical, fim dos 6 meses de
seca e começo das chuvas. Havia um vento suave permanente que
amenizava o calor. Pelas informações recebidas, de dezembro a abril o
calor é intenso, úmido, com forte mormaço. A caminhada teve duas
paradas para reflexão e culminou no recinto da Igreja Nª Sª de Fátima,
que é muito espaçosa. Havia uns 1.600 jovens e adultos congregados.
Houve Celebração da Palavra com muitos cantos bem rítmicos e
animados, dirigidos pelo Padre Júlio, que é compositor. No final o Padre
Cidade da Beira: Casa de ferro
30
Manuel nos apresentou à multidão, que nos recebeu com muitas
palmas e ovação. Toda a Celebração da Paz durou 3 horas e meia, que
participamos de pé, mesmo dentro da Igreja, por falta de lugar.
Das conversações com os sacerdotes residentes no Palácio Episcopal,
principalmente com o Vigário Geral Padre Manuel Chiuanguira,
registramos alguns dados importantes.
a) "Há em Beira em 1991, na Arquidiocese, 10 Congregações
religiosas femininas e 5 masculinas, entre as quais os Irmãos
Maristas.
b) A Arquidiocese está gestionando a criação de uma Universidade
Católica. Padre Manuel nos informou que bastam 3 Faculdades
para se ter o status de Universidade. Pensa-se, no momento, em
Pedagogia, Agropecuária e Direito. Espera-se, também neste
campo, a ajuda dos Irmãos Lassalistas.
c) A cidade de Beira tem mais ou menos 1.000.000 habitantes, há
apenas 3 escolas secundárias. Em Moçambique há 7 anos de
primária (1ª a 7ª ) e três de secundária (8ª a 10ª) aos poucos, está-
se introduzindo a 11ª série, como reforço. O ensino em
Moçambique está em condições muito precárias
d) O governo vai devolver à Igreja o prédio do Colégio Marista que é
da Arquidiocese, que por sua vez o pede reformado. Como o
governo está interessado na criação da Universidade está
disposto a atender o pedido da Igreja.
31
e) Pelas conversações de dom Jaime
com os Superiores Lassalistas em
Roma, dá-se como certa a vinda
dos Irmãos Lassalistas do Brasil
em começos de 1992 para o
Colégio João XXIII, em São
Benedito, num complexo de
missões criado e construído
pelos Padres Brancos,
confiscado pelo governo.
Agora está sendo devolvido
completamente depredado. Os
Padres Brancos e a
Arquidiocese estão reformando
algumas partes deste complexo
f) Há em Beira, a uns 60 Km, uma espaçosa
construção já pronta para uma Escola Agrícola, mas que o
governo não tem condições de fazer funcionar lá será colocada a
faculdade de Agropecuária.
g) Mas o que se pede aos Irmãos Lassalistas, de concreto e imediato,
é assumir o Colégio João XXIII, com seis salas de aulas, como
escola particular católica. Iniciar ali a secundária (8ª série em
diante, com a 8ª série em 92). O Estado não ajudará em nada e
nem a Diocese. E se a Diocese ajudar em algo, será um salário
simbólico, pois não tem condições para mais. Os Irmãos
morariam na casa dos Padres Brancos (são três numa residência
muito espaçosa). O governo devolve apenas um pavilhão da
32
Escola. Os outros estão sendo ocupados para alunos de 1ª a 6ª
séries e por enquanto não há como devolver os prédios".
Argumentamos com o Padre Manuel algumas dificuldades
fundamentais que desejamos esclarecidas para nossa decisão. E ele,
dentro do possível, deu as explicações da Diocese:
a) Pastoral Vocacional. Se viermos colocaremos como uma das
prioridades a Pastoral Vocacional, também para Irmão Lassalista,
pois achamos imprescindível termos Irmãos autóctones. E como
leva muito tempo para se formar um Irmão, precisamos começar a
P V. logo. Padre Manuel respondeu que há conflitos sérios quanto
à P.V. A orientação dada é que se faça a P.V. para clero diocesano
e Congregações Diocesanas e não cada Congregação por conta
33
própria. Há uma Equipe Vocacional Diocesana que trabalha para
todas as vocações. Reconhece que há limitações neste campo.
b) Colocamos algumas dificuldades quanto a assumir escola já em
1992, fevereiro. Os Irmãos são brasileiros e nada conhecem da
legislação moçambicana de ensino e nem do que os alunos já
estudaram até a 7ª série. Não conhecem nada de cultura do país.
É inviável, portanto, respon-
sabilizar-se por algo tão sério
como uma Escola em outro
país. Se houve uma guerra
contra a colonização portu-
guesa não podemos em
hipótese alguma sequer dar a
impressão de colonização
brasileira em Moçambique.
Ora, se os Irmãos brasileiros
são obrigados a assumir em
fevereiro a direção de uma
escola, evidentemente eles
só podem fazer o que
aprenderam e sabem e tudo ao
estilo brasileiro. Padre Manuel concordou plenamente com nossa
reflexão. Disse que esta questão foi levantada. Dom Jaime pediu
que a Irmã Rosa, atualmente em Portugal, e que foi Diretora do
Colégio João XXIII, por alguns anos, viesse ajudar os Irmãos nesse
34
começo. Mas, de fato, a questão de um mínimo de inculturação é
fundamental.
c) Outra dificuldade levantada foi quanto à necessidade de se cobrar
dos alunos para se poder manter a escola. Isso resultará em
elitização econômica e cultural dos alunos e provocaria um choque
muito grande na população e na pastoral. Padre Manuel concordou
plenamente com a argumentação, mas não vê outra saída. No
começo o Estado, assim parece, aceita que os professores da
região trabalhem na escola da Igreja, o Estado pagando. Mas não
sabemos até quando.
d) Perguntamos se houve oferta da obra aos Irmãos Maristas. Padre
Manuel respondeu que sim, mas que eles não tinham condições de
assumir a obra. E o Colégio dos Maristas, como já foi dito, ficará
destinado para sediar a futura Universidade Católica da Beira.
Visita Arcebispo em 1992
35
Igreja de N. S. do Rosário Catedral da Beira
ARQUIDIOCESE DA BEIRA
Data da Criação: 4 de setembro
de 1940
Elevação a Arquidiocese: 20 de
junho de 1984
Padroeira: Nossa Senhora do
Rosário (7 de outubro)
Superfície: 129.851 Km2
DADOS ARQUIDIOCESE 1992
População: 1.700.000 Habitantes
Católicos: 92.500
Catecúmenos: 12.096
Paróquias: 40 (das quais, 7 em formação)
36
DADOS ARQUIDIOCESE 20083
População: 1.715.557
Habitantes4
Católicos: 1.381.3385
Catecúmenos: 12.096
Paróquias: 33 (das
quais, 7 em formação)
Sacerdotes diocesanos:
26
Diáconos diocesanos: 03
Congregações
femininas: 13 (com 101
membros)
Congregações
masculinas: 11
Sacerdotes 56
Irmãos: 11
Catequistas: 9.340
3 Cf. Anuário Católico de Moçambique 2008
http://www.fecongd.org/fec/anuarios_igrejas_lusofonas/anuario
_mz.pdf Consultado o 05de agosto 2015
4
Censo 2007
5
Ib,
37
6. EM BEIRA (2° dia: 7/10/91)
No dia 7 de outubro fomos visitar o complexo das missões, construído
e dinamizado pelos Padres Brancos. Iniciado em 1940, São Benedito do
Alto da Manga (assim chamado por estar no bairro das mangueiras), foi
evoluindo, chegando a ser um plano modelo de missões. Ali funcionava,
antes do golpe de estado, uma Igreja, a residência dos Padres (com 9
quartos e diversas dependências), a residência das Irmãs com 6 quartos
e diversas dependências, prédios escolares, campos para esportes
(futebol, tênis, vôlei), um salão de cinema, uma maternidade, dois
pavilhões para internato (o feminino e o masculino), a ala para
refeitórios e cozinha, terras para plantio de cereais, prédios para
oficinas etc.
O governo revolucionário encampou tudo e deixou ao léu. Todo o
complexo foi depredado e está em ruínas. O Estado mantém escola
para mais de 1.000 alunos e um centro de formação de professores (em
regime de internato) para 150 alunos. Tudo, porém, em situação de
ruína.
Com o acordo de devolução, um Irmão leigo da Congregação dos
Padres Brancos, e que é de família rica e influente na Alemanha, está
reconstruindo este complexo das missões. Iniciou em agosto 1991 e já
tem quase pronta a residência dos padres Como está chegando o
período das grandes chuvas, o Irmão está tentando recuperar o mais
possível os telhados dos vários prédios que tiveram os caibros
destruídos pelos cupins, e as calhas, que durante muitos anos ficaram
38
entupidas, estão com arbustos crescidos. A grande Igreja foi
transformada pelo governo em depósito de alimentos e está em
péssimas condições.
Irmão Günther garante que até janeiro estarão reconstruídos os
prédios da Residência e da Escola e se preciso também o da Residência
das Irmãs, que pode ficar para os Irmãos. Nesta residência está
atualmente a Secretaria da Escola de Professores e por isso o prédio
não foi arruinado. Mas Ir. Günther acha que se os Irmãos aceitarem
poderão morar na Casa dos Padres, que tem 9 quartos. A proposta da
Diocese é que os Irmãos Lassalistas assumam já para 1992 o 2° grau (8ª
serie em diante) no prédio que o Estado vai devolver. Ir. Günther
permanecerá por alguns anos ainda no Complexo São Benedito para
cuidar da reconstrução. Aos poucos o governo devolverá os prédios que
ocupa para o primário e a escola de professores, ficando apenas com a
maternidade. A grande propriedade do Complexo das Missões foi
ocupada até próximo aos prédios por refugiados de guerra e não vai ser
fácil removê-los dali.
Às 14h30, passamos na agência de viagens para antecipar o vôo de
Beira a Maputo de quinta-feira para quarta-feira, devido ao receio de
perda do vôo de 5ª, o que nos atrapalharia a volta ao Brasil. Em seguida
visitamos o Centro Nazaré, numa extensão de 15 hectares com 32 casas
de família e 7 prédios. Era um Centro de Formação de Catequese e
Pastoral. O governo havia encampado e transformado em centro de
treinamento do Partido Socialista. Alguns dos prédios estão destruídos,
outros bastante danificados.
39
Ao voltar, visitamos, ali perto, a nova paróquia dos Padres Brancos e
participamos da Missa às 18h00 no Seminário Médio em Beira. Após a
missa atendemos a algumas perguntas dos seminaristas. Às 20h00
fomos jantar na residência dos Irmãos Maristas a convite do Ir. Justino,
que havia chegado de Maputo, e dos Irmãos Ignácio, Ezequiel e Manuel
e dos 4 juvenistas. Estavam presentes um Irmão Franciscano, o 1° de
Moçambique, Frei Salvador, e um sacerdote Diocesano médico, Padre
Manuel, que havia recebido naquele dia uma carta comunicando o sim
de uma bolsa de estudos no Hospital da PUC de Porto Alegre.
Os Irmãos Maristas nos incentivaram muito a aceitarmos o trabalho
apostólico em São Benedito, a Escola João XXIII, como ponto de partida,
ainda mais com o apoio do Arcebispo, dos Padres Brancos e das Irmãs
Franciscanas. Aos poucos os Irmãos perceberão outras frentes e
escolherão as prioritárias. O importante é começar logo.
7. EM CHIMOIO - NOVA DIOCESE (8/10/91)
Passamos o dia 8 de outubro, terça-feira, em Chimoio, cidade próxima
a Zimbabwe, sede da recém-formada Diocese, distante 3 horas de carro
da cidade de Beira. Padre Manuel Chuanguira nos levou e nos mostrou
a cidade e arredores. Depois do almoço na improvisada cúria
episcopal (o centro social e pastoral da Paróquia dos Franciscanos, há
pouco devolvido pelo Estado), conversamos com o senhor Bispo dom
Francisco Silota.
40
Da conversa com
dom Francisco destaca-
se:
a) Ao ser criada a
nova Diocese, dom
Francisco, antes mesmo
da posse (1990), visitou
o Brasil em 1989 para
pedir ajuda missionária
em recursos humanos,
principalmente sacerdotes e
religiosos (as).
O Brasil deu a entender (CNBB Nacional e CNBB Sul 3) que
preferia realizar um projeto tipo "Igreja-Irmã". CNBB e
Conferência Episcopal de Moçambique (CEM). Dom Francisco
tentou explicar que não estava em nome da CEM e que um
projeto desse alcance, naquelas circunstâncias, era inviável. Ele
estava apenas em nome de uma nova Diocese, a de Chimoio,
que para começar precisava de sacerdotes e religiosos.
Não tendo sido compreendido nem pela CNBB Nacional e nem
pela CNBB Sul 3, até 1991 nada de concreto foi realizado pelo
Brasil quanto ao Projeto "Igreja-Irmã" com a CEM e com a nova
Diocese de Chimoio.
Chimoio hoje
41
Apenas agora em dezembro de 1991 é que haverá a visita a
Chimoio do Padre Eleutério, secretário do Sul 3 para Missões em
Moçambique. E a esperança de ajuda brasileira é retomada por
dom Francisco.
Ir. Marcos Corbellini se prontificou a tentar transmitir ao Sul 3,
diretamente ao Padre Eleutério, o que dom Francisco se esforçou
por comunicar, mais não conseguiu se fazer entender.
b) Dom Francisco nos deu uma rápida visão panorâmica da nova
Diocese: 9 sacerdotes com ele, todos religiosos, 22 religiosas e
tudo por começar. Alimenta alguns sonhos sobre algumas
prioridades como Pastoral Vocacional para Clero Diocesano (não
há sacerdote Diocesano) e centro de formação de líderes,
catequistas e agentes de pastoral. Este momento de instalação da
Diocese coincide com a pior seca dos últimos anos, com uma
terrível fome, que vem afetando irremediavelmente a população,
principalmente as crianças. Não bastasse o flagelo da guerra!
c) Dom Francisco comentou conosco a necessidades do esforço de
inculturação dos missionários, para se atender ao que a igreja
local precisa e pede, e não impor esquemas trazidos de fora. Não
há melhor preparação do que viver no país um estágio de
observação, diálogo, contato, escuta, aprendizado. Felicitou-nos
por ter vindo ver, escutar.
d) Insistiu também dom Francisco na importância da prioridade de
formação de agentes de Pastoral, de Catequistas e de
42
Professores, neste momento que vive o país de começo de uma
nova fase da história do "pós regime comunista" e "pós-guerra".
Na volta à Beira nos acompanhou no carro um Frei franciscano.
Padre Manuel acelerou o carro pois precisava celebrar às 18h00
no Seminário. Após a janta nos recolhemos logo pois a jornada
havia sido muito cansativa.
8. ÚLTIMO DIA EM BEIRA (9/10/91)
Nosso último dia em Beira, 9 de outubro, foi dedicado à elaboração
de algumas perspectivas quanto à vinda dos Irmãos e ainda de
algumas perguntas à Diocese. Das 9h00 às 11h30 nos reunimos os dois
Provinciais, enquanto Padre Manuel coordenava uma reunião
diocesana.
Às 12h30 fomos almoçar na Casa das Irmãs do Sacré Coeur de Marie
(Irmãs do Sagrado Coração de Maria). Ao voltar, arrumamos as malas e
indo para o Aeroporto visitamos as Irmãs Franciscanas de Nossa
Senhora (Franciscanas de Calais) para receber uma lembrança da
Arquidiocese, uma toalha decorada com os motivos dos 50 anos da
Diocese da Beira. É desta Congregação a Irmã Rosa que o Arcebispo está
pedindo para ajudar os Irmãos no complexo missionário de São
Benedito da Manga.
No Aeroporto, antes do vôo às 17h00, fizemos uma reunião final com
o Padre Manuel Chiuanguira e agradecemos calorosamente a acolhida
43
e orientações recebidas. Deixamos para o Seminário um presente em
forma de ajuda financeira.
Deste último dia ficam as
seguintes principais reflexões a
respeito de uma primeira
Comunidade dos Irmãos
Lassalistas em Beira:
a) Padre Manuel nos
orientou que o Arcebispo pagará
mensalmente 18 dólares por
Irmão e colocará à
disposição, gratuitamente, a
casa para moradia. Será elaborado
um "Convênio" ou "Contrato" escrito entre a Arquidiocese e as
Províncias Lassalistas do Brasil O senhor Arcebispo gestionará,
junto ao governo, a possibilidade de o Curso Secundário, a ser
assumido pelo Irmãos, ser "magistério" (Escola Normal) devido a
permanente necessidade da formação de professores neste
momento do país. Far-se-ão também todos os esforços para que
a Irmã Rosa ou outro(a) religioso(a) assuma a escola no primeiro
ano, para que os Irmãos tenham um mínimo de conhecimento da
realidade do país, legislação, exigências, nível de ensino etc. Um
outro esforço é para se conseguir que o governo ceda os
professores, evitando assim a necessidade de cobrar
mensalidade dos alunos, e ao menos no 1º ano, não abrir o
Construção no meio do pátio em 1991.
Posteriormente se sacou.
44
internato. Padre Manuel conseguiu-nos uma cópia da nova lei
que possibilita a abertura de Escolas Particulares.
b) As Irmãs do Sagrado Coração, de Maria nos motivaram a quanto
antes fundarmos uma Comunidade Lassalista em Beira.
Prometeram dar todo o apoio, principalmente na área
vocacional, reforçando a importância de o Instituto se inculturar
no país.
Durante a viagem de Beira a Maputo, ambos os Provinciais trocamos
algumas reflexões complementares face à concretização da 1ª
Comunidade já em janeiro de 1992:
1) Realizar uma reunião do Conselho de cada Província para
repasse do que vimos e refletimos;
Irmã Rosa primeira Diretora em 1992
45
2) Tentar enviar em janeiro de 92 pelos menus 3 Irmãos
basicamente para Escola: aula, orientação, administração,
cursos vários.
3) Enviar até começos de novembro uma carta com as decisões das
duas Províncias ao senhor Arcebispo da Beira.
4) Enviar um relatório de nossa visita a todos os Irmãos e aos
Superiores em Roma.
5) Elaborar um folheto sobre missão em Moçambique para maior
envolvimento possível dos Irmãos e de nossas escolas.
6) Fazer um Projeto específico sobre a 1ª Comunidade em
Moçambique para SECOLI.
7) Comunicar à CNBB, à CRB e à CNBB Sul 3 algo de nossa viagem
a Moçambique com os critérios que recebemos a respeito da
ajuda missionária que o Brasil pode dar àquele país.
8) Os Irmãos verão "in locco" a necessidade ou não de um carro na
missão de São Benedito, pois é muito caro (113 mil dólares) já
que deve ser importado da Europa ou do Japão.
9) Um dos Provinciais deverá acompanhar os primeiros Irmãos
para Moçambique em janeiro 92.
10)A Promoção Vocacional é prioridade para nós em Moçambique.
9. ÚLTIMO DIA EM MAPUTO (10/10/91)
Aterrissamos em Maputo às 18h00 do dia 9/10. Esperava-nos no
Aeroporto, o senhor Alberto, motorista da Conferência Episcopal.
Levou-nos para o Convento dos Padres Franciscanos, junto à Igreja de
Santo Antônio de Polana e à sede da CEM. Fomos muito bem recebidos
46
e alojados pela Comunidade. É que na véspera havíamos telefonado às
Irmãs Paulinas para que nos fizessem o favor de nos conseguir um
alojamento em alguma casa de Religiosos, pois era-nos preferível do
que novamente um hotel. Após visitar a capela, participamos da janta
e da recreação, assistindo ao noticiário pela televisão. Às 21h30 nos
recolhemos para as anotações do dia, a oração da noite e o descanso.
Pela primeira vez usufruímos de ducha com água quente.
Às 08h00 do dia 10/10, quinta-feira, nos reunimos com o Frei Adriano
Langa, Franciscano, Provincial e Presidente da Conferência dos
Religiosos de Moçambique. Desta reunido destacamos:
a) "Há duas Conferências de Religiosos no país, uma feminina,
presidida por Ir. Auxiliadora, da Congregação das Vicentinas, a
outra masculina, presidida pelo próprio Frei Adriano. A masculina
realiza duas reuniões (conferências) por ano (+/- abril e +/-
novembro). Há no país ao redor de 700 religiosos e umas 700
religiosas.
b) Há boas perspectivas na área vocacional. Entretanto, existe uma
tensão entre os religiosos e a hierarquia quanto à Pastoral
Vocacional. A hierarquia insiste na promoção vocacional para o
clero diocesano e as Congregações diocesanas, ou nacionais.
c) As duas Conferências estão estudando a criação de um Instituto de
Ciências Religiosas. Algo já foi encaminhado neste sentido. Foi feita
uma coleta nas comunidades e se construiu em Matola um prédio
que, entretanto, está sendo destinado para Seminário. A CRM já
questiona a CEM sobre a finalidade do prédio, pois os que
ajudaram a construi-lo necessitam de uma explicação.
47
d) Com relação à Educação, os(as) religiosos(as) já dialogaram
bastante sobre o assunto. Permanecem, porém, muitos impasses
como financiar a reforma das Escolas depredadas pelo descaso do
Estado, como pagar os professores e, já que o Estado quer devolver
as Escolas à Igreja, como tornar o Estado obrigado a, pelo menos,
pagar os professores, como conseguir melhor formação para os
professores etc. Há uma comissão da Igreja encarregada de realizar
o diálogo com o Estado, apresentando as necessidades e critérios
da Igreja quanto a colaborar na educação de povo. A vinda para
Moçambique de uma Congregação especializada em Educação é
providencial e auspiciosa nesse momento de discernimento da
Igreja nesta questão, diz Frei Adriano, reconhecendo, porém, as
dificuldades específicas acenadas acima.
No final da manhã as Irmãs Paulinas nos levaram a almoçar na
residência delas. A secretária da CEM se encarregou de providenciar a
confirmação dos vôos da nossa viagem de volta ao Brasil. Passamos pela
Livraria das Irmãs. Após o lauto almoço, visitamos a espaçosa residência
das Paulinas. Irmã Clara Boff nos levou ao Mercado Central e depois a
um supermercado. Compramos presentes para as Irmãs o para os Freis
em gratidão pela acolhida. No final da tarde, tendo comprado alguns
livros, passamos pela Conferência Episcopal para agradecimentos.
Depois da janta na residência dos Franciscanos, vieram visitar-nos o
Padre jesuíta Giovane e a Irma Ilza, das Paulinas. Das conversas da tarde
destacamos:
a) A necessidade e oportunidade de maior comunicação entre as
Congregações no Brasil que têm religiosos(as) em Moçambique,
48
para apoio mútuo e aproveitamento de viagens de alguém a
Moçambique para contatos.
b) Estarem os missionários brasileiros atentos para evitar o
"colonialismo brasileiro" em Moçambique.
c) A situação no país é tensa (guerra, pobreza, violência e excesso de
trabalho) e isso esgota facilmente os missionários.
d) Há receio de que após o acordo de paz possam surgir e crescer
rivalidades tribais, camufladas agora pela situação de guerra.
10. DE MOÇAMBIQUE AO BRASIL (11/10/91)
Às 07h45 do dia 11 de outubro fomos levados ao Aeroporto pelo
motorista da CEM. Viajamos pela South African Airlines (SAA) às 10h00,
chegando a Johannesburg às 11h00. Aguardamos na sala de espera o
vôo da VARIG previsto para às 12h15. Houve escala na cidade do Cabo.
Às 15h15 decolamos rumo ao Rio.
Na viagem conhecemos um brasileiro residente em Harare,
Zimbabwe, Director de Caritas Norte-americana para a África Austral.
O senhor Palmari H. Lucena nos deu algumas informações e orientações
a partir de sua experiência:
a) É fundamental formar lideranças, agentes de pastoral,
professores.
b) Na atual situação é preciso trabalhar o modelo do mutirão e
evitar “paternalismo”.
c) Há em Moçambique uma certa reticência à pastoral libertadora
do Brasil e por isso é prudente ter calma nesta questão.
49
d) “Caritas” tem ajuda para projetos de Promoção Humana que
auxiliem a Comunidade a se virar por si mesma depois do
treinamento e do apoio inicial.
Passou-nos, o senhor Palmari, o endereço de algumas instituições no
Brasil que estão engajados na formação de lideranças e em diversos
cursos para o povo, também em Moçambique. Referiu-se
especialmente ao IATTERMUND (Instituto de Apoio Técnico aos países
do Terceiro Mundo), da UNB em Brasília e ao INED (Instituto de
Educação à Distância e Apoio Comunitário), também em Brasília. Estas
instituições trabalham com o chamado “Laboratório Organizacional”
com a “capacitação massiva” que favorecem a organização de
cooperativas, pequenas empresas, pela união das pessoas em projetos
comunitários.
A viagem da cidade de Cabo ao Rio de Janeiro durou oito horas e trinta
minutos. Aproveitamos o tempo para trocar impressões sobre a
experiência vivida, ver filmes, orar, ler, escutar música, dormir. Tivemos
almoço no começo da viagem e um lanche no final. Chegamos ao Rio às
l8h25, hora local. Tivemos de aguardar prosseguimento da viagem para
São Paulo prevista para às 20h00. Contatamos por telefone Curitiba e
soubemos pelo Irmão Egydio Busanello que o Encontro Plenário das
Vocacionadas a Irmã Lassalista teve seu primeiro dia muito bom.
Deixamos recado na Casa Provincial em São Paulo quanto à nossa
chegada em Guarulhos às 21h00, já que Ir. Benno Backes estava na Casa
de Encontros Rogate no Curso Provincial de Catequese, 2ª Etapa. E ele
foi ao aeroporto nos buscar.
50
Chegamos à Casa Provincial, onde se encontrava o Ir. Bernardo
Damke, trocamos algumas informações e nos apressamos em
descansar, pois estávamos excessivamente cansados.
No dia 12/10, festa de Nossa Senhora Aparecida, louvamos o Senhor
por esta primeira viagem de Irmãos brasileiros a Moçambique. Uma vez
mais, pelas mãos de Maria e por intercessão de São João Batista de La
Salle, colocamos no coração do Senhor o Projeto Missionário Lassalista
na África de língua portuguesa. Irmão Nery, tendo entrado em contato
com Irmão Pedro Ruedell e Ir. Stella Herrera, em Curitiba, decidiu
poupar-se devido ao cansaço da viagem e não ir ao Encontro das
Vocacionadas. Ir. Marcos A. Corbellini, viajou às 16h00 para Porto
Alegre.
51
Foto do relato original
A Escola hoje
52
III. PARTE.
ENCAMINHAMENTOS
Os dois Provinciais concordamos nos seguintes pontos, a serem
propostos aos respectivos Conselhos Províncias.
a) Enviar relatório da visita ao Irmão Superior Geral e ao Conselho
Geral.
b) Comunicar aos Irmãos das Províncias o relato da visita.
c) Motivar o envolvimento de todos os Irmãos e da família lassalista,
bem como dos alunos das escolas para ajudarem na implantação
desta primeira comunidade missionária em terras africanas.
d) Encaminhar projeto de ajuda financeira à SECOLI.
e) Através da Comissão de Ação Missionária ou de outro Irmão
designado para isso, estabelecer um esquema de apoio
permanente aos Irmãos enviados.
f) Designar os três primeiros Irmãos a serem enviados.
g) Enviar correspondência ao Sr. Arcebispo de Beira, dom Jaime Pedro
Gonçalves, com nossa proposta para aceitação da obra que nos
oferece, com cópia ao Conselho Geral.
h) Nessa proposta constariam os seguintes itens:
➢ Enviaremos três Irmãos no início do mês de janeiro de 1992 para
assumir a Escola João XXIII de São Benedito do Alto da Manga,
em Beira.
➢ Durante o primeiro ano, com o fim de tomarem consciência da
realidade do país e iniciarem processo de inculturação, os
53
Irmãos teriam o papel de assessoramento a uma pessoa
designada pelo Sr. Arcebispo para dirigir a Escola.
➢ A responsabilidade jurídica da escola diante do organismo
estatal responsável será a Arquidiocese de Beira.
➢ A Escola deverá ser gratuita para os alunos, no máximo
cobrando-se a mesma contribuição que as escolas estatais do
mesmo nível cobram das famílias. Para isso é indispensável que
a Arquidiocese obtenha do governo a cedência dos professores
necessários para o funcionamento da escola.
➢ No caso de haver necessidade de selecionar os alunos devido a
um excesso de procura em relação às vagas disponíveis, serão
escolhidos os alunos mais pobres prioritariamente.
➢ Os Irmãos, junto com a pessoa designada pelo Sr. Arcebispo
para dirigir a escola, definirão a série e a quantidade de turmas
que serão abertas inicialmente, bem como todas as normas
necessárias para o bom início do ano letivo.
➢ É interesse nosso dar à Escola a orientação de curso de
magistério (Escola Normal). O Sr. Arcebispo gestionará junto as
autoridades educacionais a necessária autorização.
➢ Na chegada dos Irmãos, no mês de janeiro, a Arquidiocese
pagará a quantia necessária para o sustento durante o primeiro
mês.
➢ É prioritário para a realização de nosso trabalho, a possibilidade
de realizar promoção vocacional para a vida religiosa lassalista,
de forma integrada à comissão arquidiocesana de vocações, e
com nosso compromisso formal de trabalhar para as vocações
54
sacerdotais. Não podemos, em hipótese nenhuma, aceitar
assumir esta obra sem esta possibilidade.
➢ Concordamos em assinar um convênio entre a arquidiocese e
a Congregação, onde constarão as responsabilidades e
compromissos mútuos.
Pré-escola João XXIII 2014
55
CEAL 2014
56
INDICE
Introdução............................................................................3
Apresentação ...........................................................................5
I PARTE: Irmãos Lassalistas do Brasil para África de língua
portuguesa ...............................................................................7
1. Antecedentes ..............................................................7
2. Os passos dados até agora ..........................................9
3. Os desafios do projeto África...................................14
II PARTE: A viagem dos Provinciais....................................16
1. O contexto.....................................................................16
2. Do Brasil a Moçambique (2 a 4/10/91).........................20
3. Em Maputo, capital de Moçambique (1° dia 4/10/91)..22
4. Em Maputo, capital de Moçambique (2° dia 5/10/91)..25
5. Em Beira (l° dia. 6/10/91).............................................28
6. Em Beira (2° dia: 7/10/91)............................................37
7. Em Chimoio - Nova Diocese (8/10/91) ........................39
8. Último dia em Beira (9/10/91)......................................42
9. Último dia em Maputo (10/10/91)................................45
10. De Mocambique ao Brasil (11/10/91).........................48
III. PARTE. Encaminhamentos.............................................52
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  • 1. COLEÇÃO HISTÓRIA LASSALISTA EM MOÇAMBIQUE N° 01 LASSALISTAS DO BRASIL EM MOÇAMBIQUE Viagem dos Irmãos Provinciais brasileiros a Moçambique 03 a 11 de outubro de 1991 PUBLICADO ORIGINALMENTE EM CADERNOS LASSALIANOS 14 2ª edição Província Lassalista Brasil – Chile Setor de Moçambique 2015
  • 2.
  • 3. 1 COLEÇÃO HISTÓRIA LASSALISTA EM MOÇAMBIQUE N° 01 LASSALISTAS DO BRASIL EM MOÇAMBIQUE Viagem dos Irmãos Provinciais brasileiros a Moçambique 03 a 11 de outubro de 1991 PUBLICADO ORIGINALMENTE EM CADERNOS LASSALIANOS 14
  • 4. 2 DADOS DA PRIMEIRA EDIÇÃO PROVÍNCIA LASSALISTA DE SÃO PAULO Rua Avaré, 201 - Consolação 01.243 - SAO PAULO SP Tel (011) 256 2517 Texto Irmão Israel José Nery fsc Irmão Marcos Antonio Corbellini fsc Datilografia. Maria Salete S. Amorim Revisão Irmão Benno Backes DADOS DA SEGUNDA EDIÇÃO PROVÍNCIA LASSALISTA BRASIL – CHILE Setor de Moçambique Reeditado por Hno. Rodolfo Patricio Andaur Zamora Revisão Irmão Nelson Rabuske Primeira edição: São Paulo, Brasil, 12 de outubro de 1991 Segunda edição: Beira, Moçambique, 15 de agosto de 2015 Com permissão do Superior Irmão Lino Matias Jung
  • 5. 3 INTRODUÇÃO Durante o ano 2014 pediu-se à Comunidade de Beira fazer um artigo sobre a presença dos Irmãos das Escolas Cristãs em Moçambique. Ao assumir o dito compromisso, procurei informação na revista "Mensagem" que o Distrito de São Paulo publicava, que consegui localizar na biblioteca da antiga Casa Provincial da Província de São Paulo. Alguns Irmãos que passaram por esta missão lassalista contribuíram com informações e lembranças. Muitos recordavam um artigo escrito pelos Irmãos Provinciais da época, aonde descreviam sua viagem de avançada em 1991. Mais nenhum tinha o documento. Em fevereiro de 2014, o Ir. Reinaldo Souza de Oliveira encontrou, na biblioteca do Centro Educativo e Assistencial Lassalista (CEAL) uma reprodução pouco legível deste documento. Além da falta de clareza, tinha problemas de paginação e com correções manuscritas. Como se aproxima a celebração dos 25 anos de presença lassalista neste país, em 2017, me pareceu interessante recuperar e voltar a difundir seu conteúdo. É uma maneira de recuperar a memória histórica desta missão. Seu conhecimento, junto ao arquivo fotográfico que está em preparação, como outros documentos que relatam o acontecido entre os anos 1992 a 2014, será uma ocasião de agradecer a tantos Irmãos e leigos vindos de muitas partes do mundo lassalista: Brasil, México, Itália, Portugal, Espanha e Chile, que têm dado vida e continuidade a esta aventura apostólica. É evidente que este não é um trabalho acabado. Ainda faltam muitos testemunhos e entrevistas bem como páginas para ler, que poderão
  • 6. 4 dar novas luzes sobre os momentos vividos na história ainda em construção. Ter-se-á que pesquisar sobre os projetos em Anchilo e Magunde. Conhecer mais as muitas ações empreendidas pelos Irmãos junto a ESMABAMA, na formação de docentes em forma semi presencial ou a distância (que hoje a Universidade Católica de Moçambique continua), as visitas de acompanhamento e capacitação a esses docentes-alunos em seus lugares de origem ou em ser pioneiros na introdução da informática ou na organização da educação. O efetuado tem conseguido que a Congregação seja altamente valorizada e hoje outras dioceses gostariam de contar com seu apoio no trabalho educativo que têm. A leitura de suas páginas permitirá fazer uma avaliação do percorrido. É preciso voltar a valorizar ou repensar os objetivos que se sonharam outrora. Em especial uma pastoral vocacional que seja capaz de mostrar, aos jovens moçambicanos, a oblação de si a Deus, do sentido da renúncia pessoal por um bem maior: ajudar a salvação humana e cristã de crianças e jovens de seu país. E a uma formação que convença e permita a perseverança de quem põem a mão no arado. São alguns dos desafios que se teve nos começos e que ainda estão pendentes. Em Cristo, La Salle, São José, padroeiro do Instituto, e Maria. Irmão Rodolfo Patricio Andaur Zamora fsc Beira 15 de agosto de 2015, festa da Assunção da Virgem.
  • 7. 5 APRESENTAÇÃO Com o impulso dado pelo 41° Capitulo Geral de 1986, pela Regra de 1987 e pelos insistentes apelos da Igreja (cf. João Paulo II ("Redemptoris Missio”) e dos Superiores de nosso Instituto, a Missão "Ad Gentes" ou "sem-fronteiras" vem se tornando cada vez mais realidade em todo o Instituto Lassalista. Os Irmãos do Brasil são devedores dos Lassalistas missionários vindos da França, da Bélgica, da Áustria, da Alemanha e da Espanha, têm alguns anos de experiência missionária no interior do norte do Brasil no Pará (Altamira e Uruará-Km 180 da Transamazônica) e no Maranhão (Cândido Mendes, Presidente Médici) e um ensaio missionário, de pouca duração em Cuba. Atentas às sugestões dos Superiores, as duas Províncias Lassalistas do Brasil acolheram a proposta de Missão na África de língua portuguesa. O fato de o Instituto já contar com jovens Irmãos angolanos no Zaire despertou o interesse de uma primeira comunidade em Angola. Mas os insistentes pedidos de dom Jaime Pedro Goncalves, Arcebispo da Beira, em Moçambique, circundado com o pleno apoio dos Irmãos Superiores em Roma, levaram as duas Províncias a optarem inicialmente por Moçambique. Para os necessários encaminhamentos da primeira Comunidade naquele país, os Irmãos Provinciais Marcos Antônio Corbellini (Porto Alegre) e Israel José Nery (São Paulo) visitaram Moçambique de 03 a 11
  • 8. 6 de outubro de 1991. Este livreto traz a "Crônica" desta importante viagem e as perspectivas para a missão lassalista em Moçambique, inicialmente na Arquidiocese da Beira. Na primeira parte colocamos um resumo dos antecedentes da viagem situando a evolução do chamado "Projeto Afríca". Que a leitura deste trabalho desperte e confirme para nós a convicção missionária, essencial à Igreja, portanto à nossa fé e à nossa vocação lassalista. Ir . Marcos A Corbellini fsc Ir. Israel J. Nery fsc Provincial de Porto Alegre Provincial de S. Paulo
  • 9. 7 I PARTE IRMÃOS LASSALISTAS DO BRASIL PARA ÁFRICA DE LÍNGUA PORTUGUESA 1. ANTECEDENTES Em 1987 o irmão Superior Geral John Johnston enviou carta circular a todas as Províncias da América Latina, no dia 07 de abril, festa litúrgica de São João Batista de La Salle, sobre o tema “Proposta Missionária aos Irmãos da RELAL". Desejava ele motivar as Irmãos a respeito das Missões em conformidade com o 41° Capitulo Geral de 1986, a nova Regra e a preocupação do Instituto especialmente ao longo das últimas décadas. Relembra o Irmão Superior a Declaração n° 24 e as proposições 2 e 3 do Capítulo Geral e faz as aplicações à realidade da América Latina, dando uma série de sugestões concretas no item "realidade missionária na RELAL". Na primeira página da referida Circular, no parágrafo "Contribuição em pessoal" o Irmão Superior escreve textualmente: "Com esta finalidade o Capítulo Geral convida a cada Conferência Regional a estabelecer uma quantidade generosa que corresponda, pelo menos a 10% de seus Irmãos, para prestar serviço missionário nas regiões do Ir. John Johnston Superior Geral
  • 10. 8 mundo que tenham mais necessidade da presença e da competência destes Irmãos". Em outros parágrafos dá orientações quanto à "partilha de recursos econômicos" para se poder assumir este desafio missionário. A sugestão de um território missionário, naquele momento, também foi contemplada. Aparece na página da Circular "constituir, a partir de 1988 e em um período de 3 anos e sob coordenação do Irmão Provincial de Antilhas, uma equipe de 6 (seis) Irmãos disponíveis para reiniciar a missão do Instituto em Cuba". Na IV Assembleia da RELAL, janeiro de 1988, em Córdoba, Argentina, com a presença do Superior Geral John Johnston, o assunto foi tratado e alguns passos decididos. Em breve os Irmãos abririam uma primeira comunidade em Cuba. Decidiu-se também por realizar uma pesquisa junto a todos os Irmãos da RELAL para um outro território missionário na América Latina. Feita a pesquisa optou-se por El Salvador. As dificuldades foram aparecendo em relação ao Projeto Cuba de modo que a V Assembleia da RELAL, Março 1991, na Guatemala, tomou a decisão de postergar o Projeto El Salvador. Mas, em abril de 1990, em Bogotá, algo novo começou a aparecer, com mais clareza, na questão missionária da RELAL, para as Províncias brasileiras. No encontro conjunto "Conselho Geral do Instituto e Provinciais da América Latina", alguns Conselheiros sugeriam para os brasileiros os países de fala portuguesa na África, reiterando algumas conversas anteriores. Naquele encontro os dois Provinciais Irmão Marcos Corbellini (Porto Alegre) e Irmão Israel Nery (São Paulo) tiveram uma reunião específica com alguns Conselheiros Gerais sobre o
  • 11. 9 assunto, delineando-se que, talvez, fosse preferível, de fato, que o Brasil atendesse a África (com vantagem da língua e de algumas aproximações culturais) e as demais Províncias da RELAL, Cuba e El Salvador, sendo que México já estava com Japão. 2. OS PASSOS DADOS ATÉ AGORA Os dois Irmãos Provinciais brasileiros voltaram de Bogotá com o propósito de aos poucos traçarem um plano global em vista de um Projeto Missionário para as Províncias do Brasil em algum país de fala portuguesa na África. Lentamente os Irmãos foram sendo notificados deste possível Projeto. Enquanto isso o diálogo prosseguia com o Conselho Geral, especialmente com os Irmãos Genaro Saez de Ugarte e Martin Corral, que haviam tratado da questão na visita que realizaram no Brasil em 1990 e na carta que enviaram apresentando as orientações a partir da visita citada (20/09/90) Por ocasião do encontro dos dois Conselhos Lassalistas, no dia 26 de abril de 1991, em Curitiba, o Projeto foi tratado com base num
  • 12. 10 texto em duas partes a) apresentação, b) cronograma. Os conselheiros, após amplo diálogo, com argumentos a favor e contra decidiram, via consenso, favoravelmente e acataram o cronograma proposto, que inclui: a) um trabalho de conscientização dos Irmãos e de nossas escolas, b) levantamento de irmãos dispostos a irem para a África, c) escolha e preparação dos Irmãos a serem enviados, d) abertura da primeira Comunidade, do segundo semestre de 1993 em diante, e) outros pasmos. Este material foi enviado a todos os Irmãos no Boletim "La Salle São Paulo" nº 09/91 No dia 08 de maio de 1991 o Irmão Conselheiro Geral Vincent Rãbemahafaly enviou aos Irmãos Provinciais do Brasil carta com diversas propostas de obras em Moçambique. Vinham de dom Jaime Pedro Gonçalves (Arcebispo de Beira, em carta enviada ao Irmão Superior Geral John Johnston, dia 23 de abril de 1991: a) Colégio João XXIII em São Benedito da Manga, b) Colégio Santo Antônio, na Paróquia de Barada, c) Colégio São Carlos Lwanga, em Murraça.
  • 13. 11 Pouco depois dom Jaime passou por Roma e visitou a Casa Generalícia. Os Irmãos Genaro e Vincent escreveram novamente aos Irmãos Provinciais do Brasil, sugerindo, com certa insistência, que a Missão na África de língua portuguesa pudesse ser iniciada por Moçambique e na Diocese da Beira, devido ao apoio concreto de dom Jaime Pedro Gonçalves. Davam os Conselheiros a época de fevereiro de 1992, por causa do início do ano escolar. Os Irmãos Provinciais Marcos Corbellini e Israel Nery responderam a ambos os Conselheiros argumentando a dificuldade real de se atender a solicitação para fevereiro de 1992: a) Necessidade de se fazer o levantamento dos Irmãos; b) Importância de um preparo suficiente dos Irmãos escolhidos; c) Dúvidas a respeito do tipo de obra com que começar a Missão na África. Em resposta ambos os Conselheiros pediram aos Irmãos Provinciais entabulassem diretamente o diálogo com dom Jaime Pedro Gonçalves, inclusive informando da não viabilidade de uma viagem dos dois Provinciais a Moçambique em fins de julho ou agosto de 1991, como era esperado.
  • 14. 12 PROVÍNCIA LASSALISTA DE PORTO ALEGRE - PROVÍNCIA LASSALISTA DE SÃO PAULO PROJETO DE AÇÃO MISSIONÁRIA NA ÁFRICA NOSSA SENHORA DA ÁFRICA NOS CHAMA ETAPAS PASSOS * Responsável 91 92 93 94 95 96 97 98 1. CONSCIENTIZAÇÃO MISSIONÁRIA: Irmãos, formandos, Família Lasallista • Comissão de Ação Missionária ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** 1. CRIAÇÃO DE FUNDO MISSIONÁRIO (com contribuições das comu- nidades, a partir de renúncias...) • Comunidades ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** 2. LEVANTAMENTO DE NOMES DE IRMÃOS QUE DESEJAM SER ENVIADOS • Direção Provincial ** ** ** 3. DIÁLOGO COM OS IRMÃOS QUE DESEJAM SER ENVIADOS E DEFINICÃO DOS NOMES • Irmão Provincial ** ** 5. DEFINIÇÃO DO PAÍS (Local, Missão Específica, Recurso) DE COMUM ACORDO COM IRMÃO SUPERIOR GERAL E CONSELHO GERAL • Direção Provincial – Conselho Provincial ** ** ** **
  • 15. 13 6. PREPARAÇÃO DOS IRMÃOS A SEREM ENVIADOS ** ** ** 7. INÍCIO DA MISSÃO EM TERRAS DE ÁFRICA • Irmãos Missionados1 ** ** 8. ENVIO DE DOIS IRMÃOS Irmãos Missionados.2 • Direção Provincial – Conselho Provincial ** ** ** ** ** ** 9. CONFIAR A LEIGOS OBRAS PARA PERMITIR A LIBERAÇÃO DE IRMÃOS (se necessário) • Direção Provincial – Conselho Provincial ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** 10. AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO • Direção Provincial – Conselho Provincial ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** O assunto "Projeto África" entrou no VI Capítulo Provincial da Província de São Paulo (16-20/07/1991) merecendo um longo debate. No final foi aprovado todo um Capítulo, com "Fundamentação" e com "Propostas" ficando assim assumido pela instância mais alta da 1 Palavra adicionada na 2ª edição 2 ib.
  • 16. 14 Província. O levantamento iniciado com o Boletim "La Salle São Paulo" n° 09/91 de maio, tabulado em agosto, revela um bom grupo de Irmãos que se oferece para as Missões na África. O mesmo ocorre na Província de Porto Alegre A escolha dos Irmãos acontecerá ao longo do segundo semestre. A preparação conjunta de escolhidos de Porto Alegre e de São Paulo, seria feita ao longo de 1992 e 1993. 3. OS DESAFIOS DO PROJETO ÁFRICA Somente à luz da fé e do zelo se pode compreender e aceitar que na situação dos dois Distritos do Brasil e diante das imensas necessidades de nosso país, se obedeça ao chamado da Igreja, do 41° Capítulo Geral, da nova Regra e de nossos Superiores atuais. É também compreensível que alguns Irmãos não estejam aceitando a decisão tomada. E este é o primeiro desafio que o Projeto encontra dificuldade séria quanto à sua aceitação por alguns, dentre os quais uns poucos chegam a fazer oposição. Além do desafio da escolha dos voluntários que se apresentaram, há também o da preparação psicológica, cultural e espiritual dos referidos Irmãos. Mas é preciso levar em conta também a questão do tipo de compromisso com o qual iniciar na África. Estamos concretamente com propostas de três colégios, inclusive um deles em regime de internato. Não seria melhor trabalhar na formação de professores e de agentes de pastoral vocacional? Outros grandes desafios que aparecem são, por exemplo, Irmãos brasileiros para a África por alguns anos
  • 17. 15 subseqüentes, financiamento do Projeto, envolvimento de nossas escolas do Brasil e de leigos voluntários. É fundamental que, agora, uma vez tomada a decisão de se obedecer ao Espírito Santo, as Províncias, COMO UM SÓ CORPO, "Juntos e por Associação", com fé, zelo, coragem e generosidade, tornemos realidade este Projeto. Iniciemos, Irmãos, colocando-o fortemente em nossa oração e em nosso trabalho de pastoral escolar. D. JAIME PEDRO GONÇALVES Arcebispo da Beira Fotos em preto e branco são do original – Fotos em cor são da 2ª edição
  • 18. 16 II PARTE. A VIAGEM DOS PROVINCIAIS 1. O CONTEXTO No ano da celebração do tricentenário do Voto Heróico de São João Batista de La Salle, comprometendo-se em 1691, com os Irmãos Nicolau Vuyart e Gabriel Drolin, a estabelecer e consolidar, por espírito de fé e zelo, o Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, fundado em 1680, mas naquele momento em grave crise, os Irmãos Lassalistas do Brasil decidiram em 1991 pela abertura de uma comunidade missionária na África de língua portuguesa Para concretizar a decisão tomada e levando-se em conta a troca de correspondência com os Superiores do Instituto, os Irmãos Marcos Corbellini (Provincial de Porto Alegre) e Israel José Nery (Provincial do São Paulo) resolveram visitar a Arquidiocese da Beira, em Moçambique, em fins de setembro de 1991 para ver " in locco" a situação da Igreja, do país e de algumas obras, colocadas por dom Jaime Pedro Gonçalves à disposição dos Irmãos.
  • 19. 17 Moçambique, hoje com 14 milhões e meio de habitantes, foi povoado no século III d.C. por populações de língua Bantu. Nos séculos VIII e IX mercadores asiáticos chegaram à costa moçambicana à procura de ouro e marfim c influenciaram muito as populações em questões de religião, língua e costumes, constituindo-se, assim, em Moçambique, alguns sultanatos. No século XV chegaram os Europeus, em sua rota para a Índia. Vasco da Gama passou por Moçambique em 1498, exatamente em Beira, na costa, hoje situada na metade da extensão do país. Portugal, percebendo a importância de Moçambique, por causa do ouro e da rota para a Índia, resolveu ocupar a Ilha de Moçambique em 1507 e invadir o sultanato de Angoche em 1511. Em 1560 aconteceu a primeira expedição missionária chefiada pelo Padre Gonçalo da Silveira, que foi assassinado. O governo português, em 1572, declarou guerra ao governo local de Monomopata, mas foi derrotado. Mais tarde, em 1627, Portugal transformou Moçambique num Estado vassalo, devido ao enfraquecimento do império local por guerras internas e que pediu ajuda ao governo português. A colonização portuguesa durou até 1974. A concessão da independência a diversos países africanos por parte de França, Bélgica, Inglaterra e Holanda nas décadas de 50 e 60 incentivou profundamente forças nacionalistas de Moçambique à luta pela independência. Portugal, entretanto, não admitiu a possibilidade do fim da colonização em seus territórios de além-mar. Além disso, os portugueses de Moçambique, contrários ao governo Salazar, queriam fazer de Moçambique o verdadeiro Portugal e investiam no país o mais que podiam. Em 1962 nasceu a FRELIMO (Frente de Libertação de
  • 20. 18 Moçambique) sob direção do Eduardo Chivambo Modlane e em 1961 teve início a luta armada pela independência, com imensos estragos no país até a vitória em 1974, com os acordos de Lusaka. FRELIMO organizou então o governo nacional colocando como presidente Samora Moisés Machel e adotando o sistema comunista para o país. Uma parte da FRELIMO, não suficientemente contemplada pelo governo, se separou formando a RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique) que está em todo o pais, principalmente no norte, fixando-se em Gorongosa. Surgiu, então a Guerrilha contra a FRELIMO, ou seja, contra o governo, com o apoio dos países vizinhos, também de Portugal e outros países capitalistas.
  • 21. 19 O governo revolucionário encampou imediatamente todos os templos, escolas, fábricas e bancos num nacionalismo e estatização radicais. “É preciso destruir tudo e começar de novo", dizia Mache1. Os estrangeiros tiveram de abandonar tudo, assim como a Igreja. Sem condições de assumir o que havia confiscado, aos poucos o país se transformou numa imensa sucata. A guerrilha piorou ainda mais a situação, consumindo as forças do país. Com a morte de Samora Machel, em 1986, a crise do regime comunista no Leste Europeu e a retirada das forças cubanas, a FRELIMO se viu órfã e sem a mínima condição de levar à frente seu projeto para Moçambique, O novo Presidente Chissano começou a abrandar o regime. Os dois grupos rivais aceitaram discutir termos para a paz com mediação de alguns países e da Igreja e já realizaram 8 rodadas de negociações. Em 1991 começou a abertura para empresas particulares e a devolução de prédios confiscados e até mesmo algumas escolas. Alguns acordos firmados entre FRELIMO e RENAMO já possibilitaram algumas condições para a reconstrução do país. A Igreja, apesar de todo o ocorrido contra ela nestes 16 anos de regime comunista, é agora uma instância de confiança do atual governo de Moçambique, e por isso, é força nas conversações pela paz e está recebendo lentamente a liberdade e os prédios encampados. Estes prédios, porém, na sua totalidade, estão em ruínas, é para este recomeço de Moçambique que a Igreja está pedindo ajuda missionária, também ao Brasil.
  • 22. 20 2. DE BRASIL A MOÇAMBIQUE (2 a 4/10/91) De 02 a 11 de outubro de 1991, mês das missões, os Irmãos Provinciais Marcos Corbellini (Porto Alegre) e Israel José Nery (São Paulo) fizeram uma viagem a Moçambique em vista da concretização de uma missão lassalista brasileira naquele país. A viagem, marcada para o dia 26 de setembro, teve de ser adiada por atrasos na concessão do visto de entrada a Moçambique de Irmão Nery, por causa de falhas no envio da documentação. Irmã Eduarda, secretária da Conferência Episcopal Mocambicana (CLM), se dedicou exemplarmente na tramitação requerida para os vistos de entrada. No dia 02 de outubro à noite, chegou à Casa Provincial de São Paulo o Ir. Marcos Corbellini, procedente de Porto Alegre. De madrugada, às 4h30, Irmão Benno Backes, secretário da Província de São Paulo, levou os dois Provinciais ao Aeroporto de Guarulhos para o vôo RG 790 com decolagem prevista para as 06h30 e chegada no Rio as 07h30. Houve troca de aeronave no Rio e o vôo marcado para as 9h00 teve uma hora de atraso, por problemas técnicos. A viagem transcorreu normal, com leves balanços do avião algumas vezes. O número de passageiros era pequeno para uma aeronave tão grande, um DC/10. Às 11h30 foi servido um prato frio com bebida à escolha. Alguns filmes entretiveram os passageiros. Antes da chegada a Johannesburg, foi servido o jantar. O avião aterrissou no Aeroporto Jan Smuts às 22h40. Procuramos imediatamente o Hotel Airport Sun. Soubemos depois que podíamos ter ficado dentro do Aeroporto num
  • 23. 21 Hotel para transito. Nem RAPTIM, Varig, South African Airline e nem o Consulado nos informaram sobre isso. E teria sido gratuito. Durante a viagem de São Paulo a Johannesburg, da conversa dos dois Provinciais, foram importantes os seguintes assuntos: a) É, por fé e obediência ao Senhor e ao Instituto, que estamos indo à África, b) Estamos indo para ver, ouvir, dialogar, levantar dados para o necessário discernimento quanto à missão lassalista brasileira na África de língua portuguesa, c) Teremos contatos em Maputo, onde dispomos de dois dias antes de ir a Beira. Desejamos visitar a Conferência Episcopal de Moçambique, a Conferência dos Religiosos e alguns brasileiros missionários (Irmãs, Irmãos, Sacerdotes) que lá vivem, d) Estamos indo a Beira, a convite do senhor Arcebispo dom Jaime Pedro Gonçalves e insistência de nossos Superiores maiores, para visitarmos obras que a Igreja se prontifica a confiar aos Irmãos Lassalistas já para fevereiro de 1992. Estamos disponíveis ao diálogo para discutirmos sobre este compromisso, sem a suficiente preparação dos Irmãos, se for para 1992, e) De acordo com o tipo de atividade concreta na África, escolheremos os Irmãos entre os que se ofereceram para esta missão. Será uma tarefa complicada, sem dúvida, sobretudo se for efetivamente necessário abrir a primeira comunidade em começos de 1992.
  • 24. 22 3. EM MAPUTO, CAPITAL DE MOÇAMBIQUE (1° dia 4/10/91) No dia 01 de outubro, Festa do São Francisco do Assis, deixamos o Hotel Airport Sun às 6h30min e viajamos para Moçambique às 8h00 por SAA. Houve dúvidas, por parte do funcionário que nos atendeu, quanto a termos o visto de entrada no Aeroporto do Maputo. Confiantes, viajamos e de fato houve demora por parte da Polícia do Aeroporto a encontrar os vistos. Para nos receber estava o Irmão Marista gaúcho Justino Hartmann, com 40 anos de missionário na África. Estava acompanhado pelo motorista da Conferência Episcopal Moçambicana senhor Alberto. Irmão Marcos havia combinado com o Ir. Justino a nossa chegada. Fomos levados ao Hotel Turismo, no centro da Cidade, por falta de lugar nas casas religiosas da cidade, segundo Ir. Justino. Cidade Maputo: centro e Catedral
  • 25. 23 Descansamos e almoçamos no Hotel e às 15h30 Irmão Justino nos veio buscar. Visitamos a cidade, diversos bairros e praias da belíssima baía, a Catedral e a igreja dos Padres Sacramentinos. Passamos na Conferência Episcopal. Irmã Eduarda havia viajado para um Retiro. Atendeu-nos a Ir. Celestina. Às 18h00 participamos da Santa Missa, festa de São Francisco, na Paróquia Santo Antônio de Polana, dos Freis Franciscanos. Terminamos a jornada oferecendo, no Hotel, um jantar ao atencioso e fraterno Irmão Justino Hartmann. Do diálogo com Irmão Justino, enquanto nos mostrava Maputo, é de se destacar: a) "A revolução destruiu o país com a introdução do comunismo e a guerra interna. A Igreja perdeu suas obras e bens. A paz ainda não aconteceu. Estamos em trégua. Dom Jaime Gonçalves é um dos mediadores e por isso está continuamente na Itália, pais que abriga e patrocina as conversações. b) Estamos em nova fase. A vinda de vocês, Irmãos Lassalistas, é promissora. Há muito campo de ação. Mas estamos realmente sem recursos financeiros. O custo da vida é muito alto e tudo é muito caro. Há muita exploração. O que falta nos supermercados está nas feiras, mas bem mais caro. c) Necessitamos sangue novo, novos sonhos, novo impulso. Vejam, consultem e escolham um tipo de compromisso apostólico que, efetivamente, seja uma ajuda significativa à Igreja e ao país neste início de reconstrução de tudo aqui.
  • 26. 24 d) A escola está toda nas mãos do governo socialista. A religião é proibida. Agora o governo vai permitir novamente a escola particular. Mas não vai repercutir bem na Igreja que os religiosos abramos escolas para classes melhor situadas. e) A meu ver, confessa o Ir. Justino, é prioritária a formação de agentes multiplicadores: catequistas, professores, líderes. Como estamos tendo um bom número de vocações, é importantíssimo fazer algo para a boa formação dos seminaristas e dos que se preparam para a Vida Religiosa. f) Não vejo como prioridade o internato que em muitos casos é pensionato. E aqui a dificuldade é maior por causa do custo de vida. Conseguir alimentar uma certa quantidade de internos é uma proeza. g) O clero diocesano é muito reduzido. A maior parte das Paróquias está com religiosos. Isso nos forçou a desenvolver um ministério laical variado. Durante o regime comunista as Igrejas se esvaziaram, agora começam a encher novamente. h) O povo é muito bom. Profundamente religioso. Predominam os Católicos. Em segundo lugar estão os Muçulmanos. Anglicanos e Presbiterianos também há, mas poucos. i) Tínhamos, antes da independência, muitas escolas católicas. Foram confiscadas pelo Estado. Todo o primário estava nas mãos da Igreja. Hoje as escolas estão em péssimas condições. Os professores, em maioria portugueses, foram embora com a revolução. O ensino, portanto, caiu vertiginosamente em qualidade. Muitos religiosos sobreviveram como professores do
  • 27. 25 Estado. O Estado está devolvendo Igrejas o Templos e alguns, prédios (seminários) que estão em péssimas condições. j) É conveniente que prevejam uma Comunidade em Maputo, por ser a capital e centro de referência principal do país. k) Como nem a Igreja e nem o Estado podem ajudá-los financeiramente, sinceramente não sei como os Irmãos em pouco tempo poderão se auto sustentar. Ainda mais que o abrir uma escola paga, como disse, não repercutiria nada bem. l) Vocações há e bastantes. Há problemas que necessitam de atenção: dois principalmente. A busca de Casas de Formação e Seminários por causa da qualidade de ensino. O celibato não entra no esquema cultural do africano. É preciso trabalhar esse assunto na verdade da fé e não com justificativas humanas de disponibilidade, mais tempo etc. É por causa do Reino. m) É importante, porém, não vir com projetos prontos, nem com pressa. É necessário ouvir, contatar, ter visão ampla". 4. EM MAPUTO, CAPITAL DE MOÇAMBIQUE (2° dia 5/10/91) Às 9h00 do dia 05 de outubro, sábado, o Irmão Justino veio nos buscar no Hotel Turismo. Ele nos mostrou primeiramente o Centro Cultural Brasileiro que está em frente do Hotel. Depois nos conduziu à nova residência das Irmãs Paulinas ("Paulistas" como são denominadas em Portugal e em Moçambique). É uma mansão muito bem construída e ampla, ao lado da embaixada da União Soviética.
  • 28. 26 Foi uma alegria conviver umas horas com as Irmãs brasileiras e de grande utilidade para nós o que nos informaram: a) “O diploma universitário brasileiro é reconhecido e bem-vindo a Moçambique. Em alguns casos o pagamento é feito pelo governo em dólares. Se os Irmãos que vierem têm nível universitário é possível emprego em cargos do governo ou em escolas internacionais para classes altas. b) A proposta de "formar multiplicadores" é excelente e deveria ser prioritária, sobretudo no nível de catequese, agentes de pastoral e professores. O mesmo com relação à alfabetização de adultos. c) Quanto à Pastoral Vocacional. É fundamental para as Congregações que desejam se estabelecer em Moçambique para logo terem religiosos autóctones. Mas muitos bispos são contra a Pastoral Vocacional para a Vida Religiosa e Congregações não diocesanas. Numa das Assembléias Diocesanas um bispo propôs, há poucos meses, proibir a P.V. que não fosse para o clero diocesano, pelo menos por 5 anos. É importantíssimo falar cum o senhor Bispo da Beira direta e francamente sobre o assunto". d) Com relação ao trabalho apostólico, também as Irmãs Paulinas são reticentes quanto a internatos e escolas pagas. Dizem que "em Beira há agora a proposta de criar, por iniciativa da Igreja, uma Universidade Particular em união com outras forças. O Estado está devolvendo, em precárias condições, o prédio do Centro Catequético. Esta é uma alternativa boa para os Irmãos formar Catequistas e Agentes de Pastoral. e) Em Maputo é urgente a criação de um Instituto de Ciências Religiosas para Religiosos e Leigos. O currículo do Seminário se
  • 29. 27 torna, por exigência das autoridades eclesiásticas, cada vez mais clerical e não se coaduna com as necessidades dos religiosos, especialmente religiosas e leigos. f) A alternativa de começar a missão por Angola não deve ser descartada. Há muito boas perspectivas de apoio. O fato de já haver Irmãos Lassalistas em Angola facilita o começo do Projeto Moçambique ficaria para um segundo momento. g) É conveniente levar em consideração no discernimento, a Igreja como um todo e não tanto uma determinada Igreja particular que convidou e oferece algumas alternativas concretas. h) Na hipótese de o governo devolver os Colégios dos Irmãos Maristas em Beira e em Maputo, seria conveniente analisar, em termos de visão de Igreja, como ajudar os Irmãos Maristas a retomarem os Colégios deles. i) A Congregação, estabelecendo-se em Moçambique, necessitará em breve tempo de uma casa em Maputo". Um pouco antes de despedir-nos das Irmãs, chegaram dois sacerdotes italianos da Congregação dos Padres da Consolata e o Padre Vicente, dos Padres Brancos, Reitor do Seminário Maior. Estes sacerdotes reafirmaram o que até o momento havíamos conversado com o Ir. Justino e as Irmãs Paulinas. Expressaram que, em coerência com a teologia e a pastoral no Brasil, a opção dos Lassalistas deveria ser por Moçambique, onde a pobreza é extrema. A renda per capita é de 85 dólares por ano!
  • 30. 28 Ir. Justino, por algum motivo especial, não nos mostrou a residência dos Irmãos Maristas, mas nos levou para ver a situação calamitosa em que se encontrava o Colégio deles em Maputo, encampado pelo Estado. Depois fomos visitar a cidade de Matola, onde diversas Congregação têm suas casas de Formação. Ele nos aconselhou a providenciar terreno no lugar para nossos futuros formandos. Almoçamos às 12h00 no Hotel, às 14h00 para o Aeroporto. Ali nos encontramos com a Irmã Celeste, da Congregação das Franciscanas Missionaria de Nª Sª da Vitória, que se alegrou ao saber nossa vinda para Moçambique e insistiu conosco para não colocar barreira alguma a ação do Espírito quanto à missão em Moçambique. 5. EM BEIRA (1° dia. 6/10/91) Viajamos para Beira, dia 05/10 às 16h30, onde chegamos às 17h30. Padre Manuel Chiuanguira Machado, Vigário Geral, nos esperava. Dom Jaime Pedro Gonçalves havia viajado dia 02/10 para Roma a fim de participar de mais uma rodada de negociações (a 8ª) em busca de paz em Moçambique entre as partes em guerra: FRELIMO, que está no poder, e RENAMO. Fomos alojados no Palácio Episcopal, onde residem os cinco sacerdotes diocesanos em Comunidade com o Bispo. Conhecemos durante a janta os Padres Matias e Paulino e uma Irmã da Congregação Diocesana Nª Sª da Anunciação. Ir. Marcos e Ir. Nery visitaram a capela da Cúria e foram se recolher após falar por telefone com os Irmãos Maristas de Beira.
  • 31. 29 No domingo, dia 6 de outubro, festa de Nª Sª do Rosário, e padroeira da Arquidiocese da Beira, fomos participar da Missa às 9h00 na Catedral. A celebração foi solene, cantada, com 2 horas de duração, muito inculturada em termos de canto, dança, ritmo a língua. Foi para nós de grande riqueza este contato com o povo. Visitamos as dependências do Seminário Médio, junto à Catedral e o complexo de construções pertencentes aos Padres Franciscanos. Tudo em precárias condições pelos estragos feitos pelo descaso do governo. Almoçamos às 12h30, após o momento de conversa informal e aperitivo. Às 14h15 saímos para acompanhar uma "Caminhada pela Paz" promovida pelos jovens, da Catedral à Igreja Nª Sª de Fátima. Levamos chapéu por causa do tipo de calor do sol que é causticante neste período de início de verão tropical, fim dos 6 meses de seca e começo das chuvas. Havia um vento suave permanente que amenizava o calor. Pelas informações recebidas, de dezembro a abril o calor é intenso, úmido, com forte mormaço. A caminhada teve duas paradas para reflexão e culminou no recinto da Igreja Nª Sª de Fátima, que é muito espaçosa. Havia uns 1.600 jovens e adultos congregados. Houve Celebração da Palavra com muitos cantos bem rítmicos e animados, dirigidos pelo Padre Júlio, que é compositor. No final o Padre Cidade da Beira: Casa de ferro
  • 32. 30 Manuel nos apresentou à multidão, que nos recebeu com muitas palmas e ovação. Toda a Celebração da Paz durou 3 horas e meia, que participamos de pé, mesmo dentro da Igreja, por falta de lugar. Das conversações com os sacerdotes residentes no Palácio Episcopal, principalmente com o Vigário Geral Padre Manuel Chiuanguira, registramos alguns dados importantes. a) "Há em Beira em 1991, na Arquidiocese, 10 Congregações religiosas femininas e 5 masculinas, entre as quais os Irmãos Maristas. b) A Arquidiocese está gestionando a criação de uma Universidade Católica. Padre Manuel nos informou que bastam 3 Faculdades para se ter o status de Universidade. Pensa-se, no momento, em Pedagogia, Agropecuária e Direito. Espera-se, também neste campo, a ajuda dos Irmãos Lassalistas. c) A cidade de Beira tem mais ou menos 1.000.000 habitantes, há apenas 3 escolas secundárias. Em Moçambique há 7 anos de primária (1ª a 7ª ) e três de secundária (8ª a 10ª) aos poucos, está- se introduzindo a 11ª série, como reforço. O ensino em Moçambique está em condições muito precárias d) O governo vai devolver à Igreja o prédio do Colégio Marista que é da Arquidiocese, que por sua vez o pede reformado. Como o governo está interessado na criação da Universidade está disposto a atender o pedido da Igreja.
  • 33. 31 e) Pelas conversações de dom Jaime com os Superiores Lassalistas em Roma, dá-se como certa a vinda dos Irmãos Lassalistas do Brasil em começos de 1992 para o Colégio João XXIII, em São Benedito, num complexo de missões criado e construído pelos Padres Brancos, confiscado pelo governo. Agora está sendo devolvido completamente depredado. Os Padres Brancos e a Arquidiocese estão reformando algumas partes deste complexo f) Há em Beira, a uns 60 Km, uma espaçosa construção já pronta para uma Escola Agrícola, mas que o governo não tem condições de fazer funcionar lá será colocada a faculdade de Agropecuária. g) Mas o que se pede aos Irmãos Lassalistas, de concreto e imediato, é assumir o Colégio João XXIII, com seis salas de aulas, como escola particular católica. Iniciar ali a secundária (8ª série em diante, com a 8ª série em 92). O Estado não ajudará em nada e nem a Diocese. E se a Diocese ajudar em algo, será um salário simbólico, pois não tem condições para mais. Os Irmãos morariam na casa dos Padres Brancos (são três numa residência muito espaçosa). O governo devolve apenas um pavilhão da
  • 34. 32 Escola. Os outros estão sendo ocupados para alunos de 1ª a 6ª séries e por enquanto não há como devolver os prédios". Argumentamos com o Padre Manuel algumas dificuldades fundamentais que desejamos esclarecidas para nossa decisão. E ele, dentro do possível, deu as explicações da Diocese: a) Pastoral Vocacional. Se viermos colocaremos como uma das prioridades a Pastoral Vocacional, também para Irmão Lassalista, pois achamos imprescindível termos Irmãos autóctones. E como leva muito tempo para se formar um Irmão, precisamos começar a P V. logo. Padre Manuel respondeu que há conflitos sérios quanto à P.V. A orientação dada é que se faça a P.V. para clero diocesano e Congregações Diocesanas e não cada Congregação por conta
  • 35. 33 própria. Há uma Equipe Vocacional Diocesana que trabalha para todas as vocações. Reconhece que há limitações neste campo. b) Colocamos algumas dificuldades quanto a assumir escola já em 1992, fevereiro. Os Irmãos são brasileiros e nada conhecem da legislação moçambicana de ensino e nem do que os alunos já estudaram até a 7ª série. Não conhecem nada de cultura do país. É inviável, portanto, respon- sabilizar-se por algo tão sério como uma Escola em outro país. Se houve uma guerra contra a colonização portu- guesa não podemos em hipótese alguma sequer dar a impressão de colonização brasileira em Moçambique. Ora, se os Irmãos brasileiros são obrigados a assumir em fevereiro a direção de uma escola, evidentemente eles só podem fazer o que aprenderam e sabem e tudo ao estilo brasileiro. Padre Manuel concordou plenamente com nossa reflexão. Disse que esta questão foi levantada. Dom Jaime pediu que a Irmã Rosa, atualmente em Portugal, e que foi Diretora do Colégio João XXIII, por alguns anos, viesse ajudar os Irmãos nesse
  • 36. 34 começo. Mas, de fato, a questão de um mínimo de inculturação é fundamental. c) Outra dificuldade levantada foi quanto à necessidade de se cobrar dos alunos para se poder manter a escola. Isso resultará em elitização econômica e cultural dos alunos e provocaria um choque muito grande na população e na pastoral. Padre Manuel concordou plenamente com a argumentação, mas não vê outra saída. No começo o Estado, assim parece, aceita que os professores da região trabalhem na escola da Igreja, o Estado pagando. Mas não sabemos até quando. d) Perguntamos se houve oferta da obra aos Irmãos Maristas. Padre Manuel respondeu que sim, mas que eles não tinham condições de assumir a obra. E o Colégio dos Maristas, como já foi dito, ficará destinado para sediar a futura Universidade Católica da Beira. Visita Arcebispo em 1992
  • 37. 35 Igreja de N. S. do Rosário Catedral da Beira ARQUIDIOCESE DA BEIRA Data da Criação: 4 de setembro de 1940 Elevação a Arquidiocese: 20 de junho de 1984 Padroeira: Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro) Superfície: 129.851 Km2 DADOS ARQUIDIOCESE 1992 População: 1.700.000 Habitantes Católicos: 92.500 Catecúmenos: 12.096 Paróquias: 40 (das quais, 7 em formação)
  • 38. 36 DADOS ARQUIDIOCESE 20083 População: 1.715.557 Habitantes4 Católicos: 1.381.3385 Catecúmenos: 12.096 Paróquias: 33 (das quais, 7 em formação) Sacerdotes diocesanos: 26 Diáconos diocesanos: 03 Congregações femininas: 13 (com 101 membros) Congregações masculinas: 11 Sacerdotes 56 Irmãos: 11 Catequistas: 9.340 3 Cf. Anuário Católico de Moçambique 2008 http://www.fecongd.org/fec/anuarios_igrejas_lusofonas/anuario _mz.pdf Consultado o 05de agosto 2015 4 Censo 2007 5 Ib,
  • 39. 37 6. EM BEIRA (2° dia: 7/10/91) No dia 7 de outubro fomos visitar o complexo das missões, construído e dinamizado pelos Padres Brancos. Iniciado em 1940, São Benedito do Alto da Manga (assim chamado por estar no bairro das mangueiras), foi evoluindo, chegando a ser um plano modelo de missões. Ali funcionava, antes do golpe de estado, uma Igreja, a residência dos Padres (com 9 quartos e diversas dependências), a residência das Irmãs com 6 quartos e diversas dependências, prédios escolares, campos para esportes (futebol, tênis, vôlei), um salão de cinema, uma maternidade, dois pavilhões para internato (o feminino e o masculino), a ala para refeitórios e cozinha, terras para plantio de cereais, prédios para oficinas etc. O governo revolucionário encampou tudo e deixou ao léu. Todo o complexo foi depredado e está em ruínas. O Estado mantém escola para mais de 1.000 alunos e um centro de formação de professores (em regime de internato) para 150 alunos. Tudo, porém, em situação de ruína. Com o acordo de devolução, um Irmão leigo da Congregação dos Padres Brancos, e que é de família rica e influente na Alemanha, está reconstruindo este complexo das missões. Iniciou em agosto 1991 e já tem quase pronta a residência dos padres Como está chegando o período das grandes chuvas, o Irmão está tentando recuperar o mais possível os telhados dos vários prédios que tiveram os caibros destruídos pelos cupins, e as calhas, que durante muitos anos ficaram
  • 40. 38 entupidas, estão com arbustos crescidos. A grande Igreja foi transformada pelo governo em depósito de alimentos e está em péssimas condições. Irmão Günther garante que até janeiro estarão reconstruídos os prédios da Residência e da Escola e se preciso também o da Residência das Irmãs, que pode ficar para os Irmãos. Nesta residência está atualmente a Secretaria da Escola de Professores e por isso o prédio não foi arruinado. Mas Ir. Günther acha que se os Irmãos aceitarem poderão morar na Casa dos Padres, que tem 9 quartos. A proposta da Diocese é que os Irmãos Lassalistas assumam já para 1992 o 2° grau (8ª serie em diante) no prédio que o Estado vai devolver. Ir. Günther permanecerá por alguns anos ainda no Complexo São Benedito para cuidar da reconstrução. Aos poucos o governo devolverá os prédios que ocupa para o primário e a escola de professores, ficando apenas com a maternidade. A grande propriedade do Complexo das Missões foi ocupada até próximo aos prédios por refugiados de guerra e não vai ser fácil removê-los dali. Às 14h30, passamos na agência de viagens para antecipar o vôo de Beira a Maputo de quinta-feira para quarta-feira, devido ao receio de perda do vôo de 5ª, o que nos atrapalharia a volta ao Brasil. Em seguida visitamos o Centro Nazaré, numa extensão de 15 hectares com 32 casas de família e 7 prédios. Era um Centro de Formação de Catequese e Pastoral. O governo havia encampado e transformado em centro de treinamento do Partido Socialista. Alguns dos prédios estão destruídos, outros bastante danificados.
  • 41. 39 Ao voltar, visitamos, ali perto, a nova paróquia dos Padres Brancos e participamos da Missa às 18h00 no Seminário Médio em Beira. Após a missa atendemos a algumas perguntas dos seminaristas. Às 20h00 fomos jantar na residência dos Irmãos Maristas a convite do Ir. Justino, que havia chegado de Maputo, e dos Irmãos Ignácio, Ezequiel e Manuel e dos 4 juvenistas. Estavam presentes um Irmão Franciscano, o 1° de Moçambique, Frei Salvador, e um sacerdote Diocesano médico, Padre Manuel, que havia recebido naquele dia uma carta comunicando o sim de uma bolsa de estudos no Hospital da PUC de Porto Alegre. Os Irmãos Maristas nos incentivaram muito a aceitarmos o trabalho apostólico em São Benedito, a Escola João XXIII, como ponto de partida, ainda mais com o apoio do Arcebispo, dos Padres Brancos e das Irmãs Franciscanas. Aos poucos os Irmãos perceberão outras frentes e escolherão as prioritárias. O importante é começar logo. 7. EM CHIMOIO - NOVA DIOCESE (8/10/91) Passamos o dia 8 de outubro, terça-feira, em Chimoio, cidade próxima a Zimbabwe, sede da recém-formada Diocese, distante 3 horas de carro da cidade de Beira. Padre Manuel Chuanguira nos levou e nos mostrou a cidade e arredores. Depois do almoço na improvisada cúria episcopal (o centro social e pastoral da Paróquia dos Franciscanos, há pouco devolvido pelo Estado), conversamos com o senhor Bispo dom Francisco Silota.
  • 42. 40 Da conversa com dom Francisco destaca- se: a) Ao ser criada a nova Diocese, dom Francisco, antes mesmo da posse (1990), visitou o Brasil em 1989 para pedir ajuda missionária em recursos humanos, principalmente sacerdotes e religiosos (as). O Brasil deu a entender (CNBB Nacional e CNBB Sul 3) que preferia realizar um projeto tipo "Igreja-Irmã". CNBB e Conferência Episcopal de Moçambique (CEM). Dom Francisco tentou explicar que não estava em nome da CEM e que um projeto desse alcance, naquelas circunstâncias, era inviável. Ele estava apenas em nome de uma nova Diocese, a de Chimoio, que para começar precisava de sacerdotes e religiosos. Não tendo sido compreendido nem pela CNBB Nacional e nem pela CNBB Sul 3, até 1991 nada de concreto foi realizado pelo Brasil quanto ao Projeto "Igreja-Irmã" com a CEM e com a nova Diocese de Chimoio. Chimoio hoje
  • 43. 41 Apenas agora em dezembro de 1991 é que haverá a visita a Chimoio do Padre Eleutério, secretário do Sul 3 para Missões em Moçambique. E a esperança de ajuda brasileira é retomada por dom Francisco. Ir. Marcos Corbellini se prontificou a tentar transmitir ao Sul 3, diretamente ao Padre Eleutério, o que dom Francisco se esforçou por comunicar, mais não conseguiu se fazer entender. b) Dom Francisco nos deu uma rápida visão panorâmica da nova Diocese: 9 sacerdotes com ele, todos religiosos, 22 religiosas e tudo por começar. Alimenta alguns sonhos sobre algumas prioridades como Pastoral Vocacional para Clero Diocesano (não há sacerdote Diocesano) e centro de formação de líderes, catequistas e agentes de pastoral. Este momento de instalação da Diocese coincide com a pior seca dos últimos anos, com uma terrível fome, que vem afetando irremediavelmente a população, principalmente as crianças. Não bastasse o flagelo da guerra! c) Dom Francisco comentou conosco a necessidades do esforço de inculturação dos missionários, para se atender ao que a igreja local precisa e pede, e não impor esquemas trazidos de fora. Não há melhor preparação do que viver no país um estágio de observação, diálogo, contato, escuta, aprendizado. Felicitou-nos por ter vindo ver, escutar. d) Insistiu também dom Francisco na importância da prioridade de formação de agentes de Pastoral, de Catequistas e de
  • 44. 42 Professores, neste momento que vive o país de começo de uma nova fase da história do "pós regime comunista" e "pós-guerra". Na volta à Beira nos acompanhou no carro um Frei franciscano. Padre Manuel acelerou o carro pois precisava celebrar às 18h00 no Seminário. Após a janta nos recolhemos logo pois a jornada havia sido muito cansativa. 8. ÚLTIMO DIA EM BEIRA (9/10/91) Nosso último dia em Beira, 9 de outubro, foi dedicado à elaboração de algumas perspectivas quanto à vinda dos Irmãos e ainda de algumas perguntas à Diocese. Das 9h00 às 11h30 nos reunimos os dois Provinciais, enquanto Padre Manuel coordenava uma reunião diocesana. Às 12h30 fomos almoçar na Casa das Irmãs do Sacré Coeur de Marie (Irmãs do Sagrado Coração de Maria). Ao voltar, arrumamos as malas e indo para o Aeroporto visitamos as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora (Franciscanas de Calais) para receber uma lembrança da Arquidiocese, uma toalha decorada com os motivos dos 50 anos da Diocese da Beira. É desta Congregação a Irmã Rosa que o Arcebispo está pedindo para ajudar os Irmãos no complexo missionário de São Benedito da Manga. No Aeroporto, antes do vôo às 17h00, fizemos uma reunião final com o Padre Manuel Chiuanguira e agradecemos calorosamente a acolhida
  • 45. 43 e orientações recebidas. Deixamos para o Seminário um presente em forma de ajuda financeira. Deste último dia ficam as seguintes principais reflexões a respeito de uma primeira Comunidade dos Irmãos Lassalistas em Beira: a) Padre Manuel nos orientou que o Arcebispo pagará mensalmente 18 dólares por Irmão e colocará à disposição, gratuitamente, a casa para moradia. Será elaborado um "Convênio" ou "Contrato" escrito entre a Arquidiocese e as Províncias Lassalistas do Brasil O senhor Arcebispo gestionará, junto ao governo, a possibilidade de o Curso Secundário, a ser assumido pelo Irmãos, ser "magistério" (Escola Normal) devido a permanente necessidade da formação de professores neste momento do país. Far-se-ão também todos os esforços para que a Irmã Rosa ou outro(a) religioso(a) assuma a escola no primeiro ano, para que os Irmãos tenham um mínimo de conhecimento da realidade do país, legislação, exigências, nível de ensino etc. Um outro esforço é para se conseguir que o governo ceda os professores, evitando assim a necessidade de cobrar mensalidade dos alunos, e ao menos no 1º ano, não abrir o Construção no meio do pátio em 1991. Posteriormente se sacou.
  • 46. 44 internato. Padre Manuel conseguiu-nos uma cópia da nova lei que possibilita a abertura de Escolas Particulares. b) As Irmãs do Sagrado Coração, de Maria nos motivaram a quanto antes fundarmos uma Comunidade Lassalista em Beira. Prometeram dar todo o apoio, principalmente na área vocacional, reforçando a importância de o Instituto se inculturar no país. Durante a viagem de Beira a Maputo, ambos os Provinciais trocamos algumas reflexões complementares face à concretização da 1ª Comunidade já em janeiro de 1992: 1) Realizar uma reunião do Conselho de cada Província para repasse do que vimos e refletimos; Irmã Rosa primeira Diretora em 1992
  • 47. 45 2) Tentar enviar em janeiro de 92 pelos menus 3 Irmãos basicamente para Escola: aula, orientação, administração, cursos vários. 3) Enviar até começos de novembro uma carta com as decisões das duas Províncias ao senhor Arcebispo da Beira. 4) Enviar um relatório de nossa visita a todos os Irmãos e aos Superiores em Roma. 5) Elaborar um folheto sobre missão em Moçambique para maior envolvimento possível dos Irmãos e de nossas escolas. 6) Fazer um Projeto específico sobre a 1ª Comunidade em Moçambique para SECOLI. 7) Comunicar à CNBB, à CRB e à CNBB Sul 3 algo de nossa viagem a Moçambique com os critérios que recebemos a respeito da ajuda missionária que o Brasil pode dar àquele país. 8) Os Irmãos verão "in locco" a necessidade ou não de um carro na missão de São Benedito, pois é muito caro (113 mil dólares) já que deve ser importado da Europa ou do Japão. 9) Um dos Provinciais deverá acompanhar os primeiros Irmãos para Moçambique em janeiro 92. 10)A Promoção Vocacional é prioridade para nós em Moçambique. 9. ÚLTIMO DIA EM MAPUTO (10/10/91) Aterrissamos em Maputo às 18h00 do dia 9/10. Esperava-nos no Aeroporto, o senhor Alberto, motorista da Conferência Episcopal. Levou-nos para o Convento dos Padres Franciscanos, junto à Igreja de Santo Antônio de Polana e à sede da CEM. Fomos muito bem recebidos
  • 48. 46 e alojados pela Comunidade. É que na véspera havíamos telefonado às Irmãs Paulinas para que nos fizessem o favor de nos conseguir um alojamento em alguma casa de Religiosos, pois era-nos preferível do que novamente um hotel. Após visitar a capela, participamos da janta e da recreação, assistindo ao noticiário pela televisão. Às 21h30 nos recolhemos para as anotações do dia, a oração da noite e o descanso. Pela primeira vez usufruímos de ducha com água quente. Às 08h00 do dia 10/10, quinta-feira, nos reunimos com o Frei Adriano Langa, Franciscano, Provincial e Presidente da Conferência dos Religiosos de Moçambique. Desta reunido destacamos: a) "Há duas Conferências de Religiosos no país, uma feminina, presidida por Ir. Auxiliadora, da Congregação das Vicentinas, a outra masculina, presidida pelo próprio Frei Adriano. A masculina realiza duas reuniões (conferências) por ano (+/- abril e +/- novembro). Há no país ao redor de 700 religiosos e umas 700 religiosas. b) Há boas perspectivas na área vocacional. Entretanto, existe uma tensão entre os religiosos e a hierarquia quanto à Pastoral Vocacional. A hierarquia insiste na promoção vocacional para o clero diocesano e as Congregações diocesanas, ou nacionais. c) As duas Conferências estão estudando a criação de um Instituto de Ciências Religiosas. Algo já foi encaminhado neste sentido. Foi feita uma coleta nas comunidades e se construiu em Matola um prédio que, entretanto, está sendo destinado para Seminário. A CRM já questiona a CEM sobre a finalidade do prédio, pois os que ajudaram a construi-lo necessitam de uma explicação.
  • 49. 47 d) Com relação à Educação, os(as) religiosos(as) já dialogaram bastante sobre o assunto. Permanecem, porém, muitos impasses como financiar a reforma das Escolas depredadas pelo descaso do Estado, como pagar os professores e, já que o Estado quer devolver as Escolas à Igreja, como tornar o Estado obrigado a, pelo menos, pagar os professores, como conseguir melhor formação para os professores etc. Há uma comissão da Igreja encarregada de realizar o diálogo com o Estado, apresentando as necessidades e critérios da Igreja quanto a colaborar na educação de povo. A vinda para Moçambique de uma Congregação especializada em Educação é providencial e auspiciosa nesse momento de discernimento da Igreja nesta questão, diz Frei Adriano, reconhecendo, porém, as dificuldades específicas acenadas acima. No final da manhã as Irmãs Paulinas nos levaram a almoçar na residência delas. A secretária da CEM se encarregou de providenciar a confirmação dos vôos da nossa viagem de volta ao Brasil. Passamos pela Livraria das Irmãs. Após o lauto almoço, visitamos a espaçosa residência das Paulinas. Irmã Clara Boff nos levou ao Mercado Central e depois a um supermercado. Compramos presentes para as Irmãs o para os Freis em gratidão pela acolhida. No final da tarde, tendo comprado alguns livros, passamos pela Conferência Episcopal para agradecimentos. Depois da janta na residência dos Franciscanos, vieram visitar-nos o Padre jesuíta Giovane e a Irma Ilza, das Paulinas. Das conversas da tarde destacamos: a) A necessidade e oportunidade de maior comunicação entre as Congregações no Brasil que têm religiosos(as) em Moçambique,
  • 50. 48 para apoio mútuo e aproveitamento de viagens de alguém a Moçambique para contatos. b) Estarem os missionários brasileiros atentos para evitar o "colonialismo brasileiro" em Moçambique. c) A situação no país é tensa (guerra, pobreza, violência e excesso de trabalho) e isso esgota facilmente os missionários. d) Há receio de que após o acordo de paz possam surgir e crescer rivalidades tribais, camufladas agora pela situação de guerra. 10. DE MOÇAMBIQUE AO BRASIL (11/10/91) Às 07h45 do dia 11 de outubro fomos levados ao Aeroporto pelo motorista da CEM. Viajamos pela South African Airlines (SAA) às 10h00, chegando a Johannesburg às 11h00. Aguardamos na sala de espera o vôo da VARIG previsto para às 12h15. Houve escala na cidade do Cabo. Às 15h15 decolamos rumo ao Rio. Na viagem conhecemos um brasileiro residente em Harare, Zimbabwe, Director de Caritas Norte-americana para a África Austral. O senhor Palmari H. Lucena nos deu algumas informações e orientações a partir de sua experiência: a) É fundamental formar lideranças, agentes de pastoral, professores. b) Na atual situação é preciso trabalhar o modelo do mutirão e evitar “paternalismo”. c) Há em Moçambique uma certa reticência à pastoral libertadora do Brasil e por isso é prudente ter calma nesta questão.
  • 51. 49 d) “Caritas” tem ajuda para projetos de Promoção Humana que auxiliem a Comunidade a se virar por si mesma depois do treinamento e do apoio inicial. Passou-nos, o senhor Palmari, o endereço de algumas instituições no Brasil que estão engajados na formação de lideranças e em diversos cursos para o povo, também em Moçambique. Referiu-se especialmente ao IATTERMUND (Instituto de Apoio Técnico aos países do Terceiro Mundo), da UNB em Brasília e ao INED (Instituto de Educação à Distância e Apoio Comunitário), também em Brasília. Estas instituições trabalham com o chamado “Laboratório Organizacional” com a “capacitação massiva” que favorecem a organização de cooperativas, pequenas empresas, pela união das pessoas em projetos comunitários. A viagem da cidade de Cabo ao Rio de Janeiro durou oito horas e trinta minutos. Aproveitamos o tempo para trocar impressões sobre a experiência vivida, ver filmes, orar, ler, escutar música, dormir. Tivemos almoço no começo da viagem e um lanche no final. Chegamos ao Rio às l8h25, hora local. Tivemos de aguardar prosseguimento da viagem para São Paulo prevista para às 20h00. Contatamos por telefone Curitiba e soubemos pelo Irmão Egydio Busanello que o Encontro Plenário das Vocacionadas a Irmã Lassalista teve seu primeiro dia muito bom. Deixamos recado na Casa Provincial em São Paulo quanto à nossa chegada em Guarulhos às 21h00, já que Ir. Benno Backes estava na Casa de Encontros Rogate no Curso Provincial de Catequese, 2ª Etapa. E ele foi ao aeroporto nos buscar.
  • 52. 50 Chegamos à Casa Provincial, onde se encontrava o Ir. Bernardo Damke, trocamos algumas informações e nos apressamos em descansar, pois estávamos excessivamente cansados. No dia 12/10, festa de Nossa Senhora Aparecida, louvamos o Senhor por esta primeira viagem de Irmãos brasileiros a Moçambique. Uma vez mais, pelas mãos de Maria e por intercessão de São João Batista de La Salle, colocamos no coração do Senhor o Projeto Missionário Lassalista na África de língua portuguesa. Irmão Nery, tendo entrado em contato com Irmão Pedro Ruedell e Ir. Stella Herrera, em Curitiba, decidiu poupar-se devido ao cansaço da viagem e não ir ao Encontro das Vocacionadas. Ir. Marcos A. Corbellini, viajou às 16h00 para Porto Alegre.
  • 53. 51 Foto do relato original A Escola hoje
  • 54. 52 III. PARTE. ENCAMINHAMENTOS Os dois Provinciais concordamos nos seguintes pontos, a serem propostos aos respectivos Conselhos Províncias. a) Enviar relatório da visita ao Irmão Superior Geral e ao Conselho Geral. b) Comunicar aos Irmãos das Províncias o relato da visita. c) Motivar o envolvimento de todos os Irmãos e da família lassalista, bem como dos alunos das escolas para ajudarem na implantação desta primeira comunidade missionária em terras africanas. d) Encaminhar projeto de ajuda financeira à SECOLI. e) Através da Comissão de Ação Missionária ou de outro Irmão designado para isso, estabelecer um esquema de apoio permanente aos Irmãos enviados. f) Designar os três primeiros Irmãos a serem enviados. g) Enviar correspondência ao Sr. Arcebispo de Beira, dom Jaime Pedro Gonçalves, com nossa proposta para aceitação da obra que nos oferece, com cópia ao Conselho Geral. h) Nessa proposta constariam os seguintes itens: ➢ Enviaremos três Irmãos no início do mês de janeiro de 1992 para assumir a Escola João XXIII de São Benedito do Alto da Manga, em Beira. ➢ Durante o primeiro ano, com o fim de tomarem consciência da realidade do país e iniciarem processo de inculturação, os
  • 55. 53 Irmãos teriam o papel de assessoramento a uma pessoa designada pelo Sr. Arcebispo para dirigir a Escola. ➢ A responsabilidade jurídica da escola diante do organismo estatal responsável será a Arquidiocese de Beira. ➢ A Escola deverá ser gratuita para os alunos, no máximo cobrando-se a mesma contribuição que as escolas estatais do mesmo nível cobram das famílias. Para isso é indispensável que a Arquidiocese obtenha do governo a cedência dos professores necessários para o funcionamento da escola. ➢ No caso de haver necessidade de selecionar os alunos devido a um excesso de procura em relação às vagas disponíveis, serão escolhidos os alunos mais pobres prioritariamente. ➢ Os Irmãos, junto com a pessoa designada pelo Sr. Arcebispo para dirigir a escola, definirão a série e a quantidade de turmas que serão abertas inicialmente, bem como todas as normas necessárias para o bom início do ano letivo. ➢ É interesse nosso dar à Escola a orientação de curso de magistério (Escola Normal). O Sr. Arcebispo gestionará junto as autoridades educacionais a necessária autorização. ➢ Na chegada dos Irmãos, no mês de janeiro, a Arquidiocese pagará a quantia necessária para o sustento durante o primeiro mês. ➢ É prioritário para a realização de nosso trabalho, a possibilidade de realizar promoção vocacional para a vida religiosa lassalista, de forma integrada à comissão arquidiocesana de vocações, e com nosso compromisso formal de trabalhar para as vocações
  • 56. 54 sacerdotais. Não podemos, em hipótese nenhuma, aceitar assumir esta obra sem esta possibilidade. ➢ Concordamos em assinar um convênio entre a arquidiocese e a Congregação, onde constarão as responsabilidades e compromissos mútuos. Pré-escola João XXIII 2014
  • 58. 56 INDICE Introdução............................................................................3 Apresentação ...........................................................................5 I PARTE: Irmãos Lassalistas do Brasil para África de língua portuguesa ...............................................................................7 1. Antecedentes ..............................................................7 2. Os passos dados até agora ..........................................9 3. Os desafios do projeto África...................................14 II PARTE: A viagem dos Provinciais....................................16 1. O contexto.....................................................................16 2. Do Brasil a Moçambique (2 a 4/10/91).........................20 3. Em Maputo, capital de Moçambique (1° dia 4/10/91)..22 4. Em Maputo, capital de Moçambique (2° dia 5/10/91)..25 5. Em Beira (l° dia. 6/10/91).............................................28 6. Em Beira (2° dia: 7/10/91)............................................37 7. Em Chimoio - Nova Diocese (8/10/91) ........................39 8. Último dia em Beira (9/10/91)......................................42 9. Último dia em Maputo (10/10/91)................................45 10. De Mocambique ao Brasil (11/10/91).........................48 III. PARTE. Encaminhamentos.............................................52
  • 59.
  • 60. 57