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O Twitter é a vitória da relevância
Por Plinio Okamoto*

Artigo publicado no Jornal Propaganda e Marketing em 01 de Junho de 2009.
Escrito originalmente em 12 de Maio de 2009.



Alguns amam, a grande maioria torce o nariz. Se existe hoje uma rede social
que polariza as opiniões, ela se chama Twitter.

Quem poderia imaginar que esta ferramenta de comunicação limitada a 140
caracteres pudesse ter algum futuro? Pois bem, o uso do Twitter não para de
crescer e teve, só no ano passado, um assombroso crescimento de 700%.

Esse movimento se reflete no ranking das atividades on-line divulgado pelo
Ibope Nielsen Online que mostra, pela primeira vez, o tradicional uso do e-mail
sendo superado pelas atividades nas redes sociais. E o viés é de alta.

É a morte do e-mail?

O e-mail é vítima de suas próprias qualidades: facilidade de uso, rapidez,
alcance global e, principalmente, o baixíssimo custo de envio. Um prato cheio
para a disseminação das mensagens não solicitadas – mais conhecidas como
SPAMS – que hoje representam quase 94% do volume dos e-mails que
circulam pela internet.

Esses SPAMS, além de inundarem a caixa postal com informações
irrelevantes, trazem o risco de golpes através de arquivos executáveis que
roubam senhas de bancos dos mais incautos. Isso, somado à escassez de
tempo das pessoas, levou à valorização do subject (assunto) dos e-mails.

Olhar rapidamente sobre a lista de assuntos dos e-mails, na tentativa de
separar aquilo que é relevante, é uma defesa natural que desenvolvemos para
combater a avalanche de informações irrelevantes. E o auxílio dos filtros
automáticos de SPAM é insuficiente para diminuir o transtorno. Pior: é cada vez
mais comum descobrir mensagens importantes que foram parar na pasta de
lixo eletrônico. Às vezes, tarde demais. Caos.

O subject passou a ser equivalente ao post do Twitter.

Os smartphones trouxeram a possibilidade de acessar e-mails em qualquer
lugar e a qualquer hora. E essa vantagem proporcionada pela mobilidade
trouxe prejuízo ao design dos teclados. A maioria deles possui teclas
minúsculas e desconfortáveis que praticamente forçam a confecção de
respostas curtas e objetivas. Hoje, ser econômico nas palavras já é aceito com
naturalidade e não é confundido com mau humor. Para isto, basta constar a
assinatura “From my Blackberry” no rodapé do e-mail.

E já tem gente utilizando esse pretexto e adotando o rodapé típico de
smartphone para não ter que elaborar respostas mais complexas. Por absoluta
falta de tempo e paciência.

Sejamos sinceros: ao escrever um e-mail, após digitar o assunto do e-mail,
quantas vezes não paramos diante do corpo de e-mail sem saber o que mais
escrever? O subject já é a mensagem completa.

Essa tendência de encurtar mensagens não é exclusividade do Twitter. A
própria origem desse serviço está ligada a outro velho conhecido nosso: o
serviço de mensagens curtas, conhecido como SMS. Há quem diga que a
limitação de 160 caracteres veio de uma deficiência técnica da telefonia móvel.
Outra corrente defende que após estudos, ficou definido que tudo o que era
importante poderia ser comunicado dentro dessa limitação.

Quem diria: ao trocar torpedos pelo celular, sem querer, já estávamos twitando.


Sobre a suposta irrelevância

A origem do nome “Twitter” remete ao som do piar repetitivo do pássaro – daí
ele ser o ícone do serviço – que para a maioria das pessoas soa como uma
série de ruídos que não faz sentido algum. Para outros pássaros, entretanto,
esses sons formam uma conversa inteligível e relevante.

Essa metáfora ajuda a responder a uma das críticas mais comuns ao serviço
que é a quantidade de informação irrelevante gerada. A pergunta que deve ser
feita é: informação irrelevante para quem?

Através do Twitter, recebemos várias mensagens de pessoas com as quais
temos algum grau de relacionamento ou interesse. E por mais ridículas e
triviais que possam parecer, o conjunto dessas informações nos dá uma ideia
do universo que cerca essas pessoas e são insumos para suas atitudes e feitos
profissionais.

É possível comparar essas informações “de bastidores” aos conteúdos extras
de um DVD. Em vez de capítulos, recebemos frases sem uma prévia
organização. Elas são fragmentos de uma história maior na qual a narrativa
funciona como a internet, através de saltos, de hyperlinks. As temáticas são tão
variadas quanto a riqueza cultural daqueles que são seguidos.

Acompanhar os posts funciona também como um agregador social, no qual as
experiências divididas publicamente nos permitem, post a post, estar mais
próximos de amigos e celebridades.

E quando a relevância virar irrelevante?

Se escolhermos seguir uma pessoa é porque estamos interessados nela, pelo
menos naquele momento. Mas as relações humanas são dinâmicas, e o que
hoje gera interesse para você pode deixar de ser relevante. E aqui entra outra
vantagem do Twitter em relação ao e-mail: o opt-out é feito de maneira simples
e instantânea. Para isso, basta clicar no botão unfollow (deixar de seguir) e
parar de receber atualizações.

Simples assim.

E se um dia você enjoar do Twitter, dê um unfollow.

-----------------------
* Sobre o autor: Plinio Okamoto é diretor de criação digital da RAPP Brasil e
professor da Miami Ad School/ESPM.
E-mail: plinio@gmail.com

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  • 1. O Twitter é a vitória da relevância Por Plinio Okamoto* Artigo publicado no Jornal Propaganda e Marketing em 01 de Junho de 2009. Escrito originalmente em 12 de Maio de 2009. Alguns amam, a grande maioria torce o nariz. Se existe hoje uma rede social que polariza as opiniões, ela se chama Twitter. Quem poderia imaginar que esta ferramenta de comunicação limitada a 140 caracteres pudesse ter algum futuro? Pois bem, o uso do Twitter não para de crescer e teve, só no ano passado, um assombroso crescimento de 700%. Esse movimento se reflete no ranking das atividades on-line divulgado pelo Ibope Nielsen Online que mostra, pela primeira vez, o tradicional uso do e-mail sendo superado pelas atividades nas redes sociais. E o viés é de alta. É a morte do e-mail? O e-mail é vítima de suas próprias qualidades: facilidade de uso, rapidez, alcance global e, principalmente, o baixíssimo custo de envio. Um prato cheio para a disseminação das mensagens não solicitadas – mais conhecidas como SPAMS – que hoje representam quase 94% do volume dos e-mails que circulam pela internet. Esses SPAMS, além de inundarem a caixa postal com informações irrelevantes, trazem o risco de golpes através de arquivos executáveis que roubam senhas de bancos dos mais incautos. Isso, somado à escassez de tempo das pessoas, levou à valorização do subject (assunto) dos e-mails. Olhar rapidamente sobre a lista de assuntos dos e-mails, na tentativa de separar aquilo que é relevante, é uma defesa natural que desenvolvemos para combater a avalanche de informações irrelevantes. E o auxílio dos filtros automáticos de SPAM é insuficiente para diminuir o transtorno. Pior: é cada vez mais comum descobrir mensagens importantes que foram parar na pasta de lixo eletrônico. Às vezes, tarde demais. Caos. O subject passou a ser equivalente ao post do Twitter. Os smartphones trouxeram a possibilidade de acessar e-mails em qualquer lugar e a qualquer hora. E essa vantagem proporcionada pela mobilidade trouxe prejuízo ao design dos teclados. A maioria deles possui teclas minúsculas e desconfortáveis que praticamente forçam a confecção de respostas curtas e objetivas. Hoje, ser econômico nas palavras já é aceito com naturalidade e não é confundido com mau humor. Para isto, basta constar a assinatura “From my Blackberry” no rodapé do e-mail. E já tem gente utilizando esse pretexto e adotando o rodapé típico de
  • 2. smartphone para não ter que elaborar respostas mais complexas. Por absoluta falta de tempo e paciência. Sejamos sinceros: ao escrever um e-mail, após digitar o assunto do e-mail, quantas vezes não paramos diante do corpo de e-mail sem saber o que mais escrever? O subject já é a mensagem completa. Essa tendência de encurtar mensagens não é exclusividade do Twitter. A própria origem desse serviço está ligada a outro velho conhecido nosso: o serviço de mensagens curtas, conhecido como SMS. Há quem diga que a limitação de 160 caracteres veio de uma deficiência técnica da telefonia móvel. Outra corrente defende que após estudos, ficou definido que tudo o que era importante poderia ser comunicado dentro dessa limitação. Quem diria: ao trocar torpedos pelo celular, sem querer, já estávamos twitando. Sobre a suposta irrelevância A origem do nome “Twitter” remete ao som do piar repetitivo do pássaro – daí ele ser o ícone do serviço – que para a maioria das pessoas soa como uma série de ruídos que não faz sentido algum. Para outros pássaros, entretanto, esses sons formam uma conversa inteligível e relevante. Essa metáfora ajuda a responder a uma das críticas mais comuns ao serviço que é a quantidade de informação irrelevante gerada. A pergunta que deve ser feita é: informação irrelevante para quem? Através do Twitter, recebemos várias mensagens de pessoas com as quais temos algum grau de relacionamento ou interesse. E por mais ridículas e triviais que possam parecer, o conjunto dessas informações nos dá uma ideia do universo que cerca essas pessoas e são insumos para suas atitudes e feitos profissionais. É possível comparar essas informações “de bastidores” aos conteúdos extras de um DVD. Em vez de capítulos, recebemos frases sem uma prévia organização. Elas são fragmentos de uma história maior na qual a narrativa funciona como a internet, através de saltos, de hyperlinks. As temáticas são tão variadas quanto a riqueza cultural daqueles que são seguidos. Acompanhar os posts funciona também como um agregador social, no qual as experiências divididas publicamente nos permitem, post a post, estar mais próximos de amigos e celebridades. E quando a relevância virar irrelevante? Se escolhermos seguir uma pessoa é porque estamos interessados nela, pelo menos naquele momento. Mas as relações humanas são dinâmicas, e o que hoje gera interesse para você pode deixar de ser relevante. E aqui entra outra vantagem do Twitter em relação ao e-mail: o opt-out é feito de maneira simples
  • 3. e instantânea. Para isso, basta clicar no botão unfollow (deixar de seguir) e parar de receber atualizações. Simples assim. E se um dia você enjoar do Twitter, dê um unfollow. ----------------------- * Sobre o autor: Plinio Okamoto é diretor de criação digital da RAPP Brasil e professor da Miami Ad School/ESPM. E-mail: plinio@gmail.com