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Bernardete Angelina Gatti




Reflexão sobre os desafios da pós-graduação:
novas perspectivas sociais, conhecimento e
poder

Bernardete Angelina Gatti
Fundação Carlos Chagas e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação




                       Introdução                               esperadas nos anos vindouros. Análises estas que se-
                                                                jam realizadas por diferentes fontes e com perspecti-
     O momento pelo qual passa o sistema de pós-gra-            vas mais críticas, no sentido construtor que tem a ver-
duação no Brasil, neste início dos anos 2000, é inte-           dadeira crítica: aquela que é capaz de trazer novos
ressante e merecedor de atenções por parte de diferen-          fundamentos e dinâmica para a estrutura e o funciona-
tes segmentos sociais. Observadores mais aguçados               mento desses cursos; aquela capaz de trazer visões
têm percebido que, diante dos desafios históricos a en-         diversificadas que possam criar embates e busca de
frentar, a pós-graduação não pode ser mais assunto              consensos ampliados socialmente.
apenas do círculo restrito das universidades, ou ape-                Não é possível mais desconsiderar, nas discus-
nas do olhar de “pares” – o que cria uma perspectiva            sões sobre a pós-graduação, o fato de que o momento
endógena, em geral pouco renovadora. Os vários de-              histórico hoje mostra diferenças visíveis em relação
safios que hoje se colocam à pós-graduação dizem res-           ao momento histórico em que os primeiros programas
peito a questões sociais mais amplas, que transcen-             foram implementados e tiveram seus primeiros desen-
dem os muros do ensino superior. Não que as                     volvimentos nas décadas de 1970 e inícios dos de anos
necessidades qualitativas deste ensino e da pesquisa            1980. Naquele momento os cursos de pós-graduação
não sejam grandes e muito importantes. Mas, novas               – mestrados e doutorados – foram criados, apoiados e
questões vêm sendo trazidas no bojo da história social          sustentados em seu desenvolvimento sob um certo
que viemos construindo nos últimos quarenta anos.               modelo e vocação não discutidos amplamente, mas
     Diante do quadro sociocultural com que nos de-             gestados por setores da burocracia estatal em consen-
frontamos hoje, e as perspectivas de humanidade que             so com algumas lideranças acadêmicas, e, por isto
começamos a descortinar, o sistema de pós-graduação             mesmo, um modelo voltado ao desenvolvimentismo e
carece de análises quanto às suas finalidades e, por-           à formação de quadros para a pesquisa e para as uni-
tanto, quanto a qualidades relevantes a serem deles             versidades, dentro de uma certa concepção sobre ciên-


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Reflexão sobre os desafios da pós-graduação



cia, sobre seu papel e os das tecnologias e sua produ-     rior no país, que culmina com a ampla reforma univer-
ção/reprodução.                                            sitária implantada a partir de 1968. Seu escopo é a
      Mestrados e doutorados em nosso país origina-        modernização do ensino superior nos quadros do pro-
ram-se então, não do desenvolvimento da pesquisa           jeto de desenvolvimento econômico adotado” (Durham,
científica nas universidades ou outras instituições, mas   1996, p.11) Visando superar a estrutura tradicional
de uma política deliberada de organismos estatais, no      vigente no ensino superior, as mudanças, levadas a efei-
final da década de 1960 e inícios de 1970. No ensino       to na estrutura e currículos nas instituições atuantes
superior, à época, pouca pesquisa se desenvolvia, vez      nesse nível, e a introdução dos mestrados e doutora-
que sua vocação era dirigida sobretudo à formação de       dos buscavam a integração da pesquisa dentro dessas
profissionais liberais. As universidades nasceram da       instituições. Esses esforços tiveram alguns desdobra-
agregação de cursos e pouquíssimas tinham a pesqui-        mentos positivos. Resultados importantes nos quadros
sa como parte integrante do trabalho de seus docentes.     institucionais e nos horizontes tanto da vida científica
A grande expansão havida no ensino superior, no iní-       como nas áreas tecnológicas no país foram decorren-
cio dos anos de 1970, trouxe também a improvisação         tes dessa política. Mas, esses resultados, sem dúvida,
de professores, sem formação especializada e em pes-       ficaram vinculados a poucas instituições e regiões, se
quisa, os quais vieram a atuar em instituições com ins-    considerarmos a expansão demográfica do país, o vo-
talações também improvisadas, que levavam ao ensi-         lume do ensino superior e a demanda potencial de for-
no superior a idéia tradicional de que para esse ensino    mação de professores para atuar neste nível de ensino,
bastam as salas de aula e professores com algum ba-        e as necessidades de desenvolvimento de variadas áreas
charelado. Estamos falando de apenas vinte ou trinta       científicas. A concentração do “conhecimento” em re-
anos atrás e os traços dessa situação ainda estão pre-     lativamente poucos grupos foi notória. Sobre esta ques-
sentes em grande parcela dos cursos de nível superior.     tão, extremamente importante, voltaremos a falar
A precariedade de recursos, para este ensino, naquele      adiante.
período, é mostrada em vários estudos, ressaltando-              A integração da pesquisa como parte da vida uni-
se, por exemplo, o estado miserável das bibliotecas,       versitária, como processo induzido, via mestrados e
em especial a não disponibilidade de periódicos cien-      doutorados, acaba por criar uma vinculação excessiva
tíficos. Nestas condições, também a pesquisa vai ser       entre a pesquisa e a pós-graduação na maioria das ins-
induzida através da política de criação e apoio aos        tituições, quando o desejável seria um espalhamento
cursos de mestrado e doutorado, que passam a ser es-       das atividades de investigação científica dentro de toda
timulados e financiados em sua implementação em al-        a vida acadêmica. O que se assistiu na maioria das
gumas universidades que apresentavam maior solidez         instituições foi à concentração das atividades de pes-
institucional. Verbas substanciais de diferentes origens   quisa na pós-graduação, sendo aí o único espaço em
foram dirigidas a esse nível de formação como parte        que alguma pesquisa veio a ser realizada. Várias uni-
do esforço ligado ao “milagre brasileiro” . Bolsas para    versidades, especialmente públicas e algumas comu-
mestrado e doutorado no exterior são concedidas num        nitárias, caminharam lentamente para o desenvolvi-
esforço dirigido à formação nesse nível, especialmen-      mento de grupos científicos que se interligam com os
te em áreas como as da economia, ciências básicas e        cursos de mestrado e doutorado, mas que adquiriram
tecnológicas. Estes estímulos à pós-graduação stricto      vida própria e têm um espaço institucional específico
sensu e à pesquisa dirigiram-se à formação de qua-         conectando-se com diferentes atividades acadêmicas.
dros e grupos de pesquisa de alto nível, sob a perspec-    Porém, a grande maioria das instituições, especialmente
tiva do “capital humano” . Esta ação “obedecia a uma       as privadas, não integraram a pesquisa em seu cotidia-
decisão explícita, por parte do governo militar recém-     no, trabalhando praticamente só com professores-
estabelecido, de disciplinar e orientar o ensino supe-     horistas. Também não se empenharam quanto ao aper-


Revista Brasileira de Educação                                                                                 109
Bernardete Angelina Gatti



feiçoamento dos seus quadros, a não ser mais recente-      os de mestrado, começam a tomar contornos que extra-
mente, por pressão de normatizações legais.                vasam o âmbito dos laboratórios de pesquisa e da car-
     Desde sua origem, mestrados e doutorados foram        reira docente no ensino superior.
destinados a uma elite. A seletividade para ingressar            Assim, conforme analisa Guadilla (1997, p. 105-
era altíssima; na ausência de parâmetros, pela inexis-     106), diferentemente de alterações em níveis de edu-
tência desses cursos no país e o estímulo inicial aos      cação superior realizadas em outros momentos deste
mestrados especialmente, as dissertações de mestrado       século,
exigidas eram quase sempre equivalentes a teses de
                                                             [...] quando os atores responsáveis por elas foram agentes
doutorado, se comparadas internacionalmente. Na ver-
                                                             endógenos – estudantes algumas vezes, pesquisadores e diri-
dade, adotaram-se em várias áreas, para o mestrado,
                                                             gentes das instituições outras vezes -, a agenda de transfor-
padrões que em outros países encontravam-se nos dou-
                                                             mações na década de 90 está sendo construída, como se
torados. Além da seletividade inicial, a evasão tam-
                                                             indicou antes, com novos agentes, alguns deles de fora da
bém se mostrava alta. Hoje ainda, em círculos domi-
                                                             universidade. Isso tem sido interpretado de diferentes manei-
nantes da vida científica no país, há um discurso,
                                                             ras. Uma delas se refere ao papel primordial do conhecimento
repetido, sobre a pós-graduação stricto sensu, que tra-
                                                             nos novos sistemas produtivos, o que significa que hoje os
duz a perspectiva de uma elite que identifica os
                                                             agentes externos têm um interesse maior pelos sistemas de
mestrados como formadores de pesquisadores, como
                                                             produção de conhecimento e de formação.(grifo nosso)
se este nível de ensino pudesse prover toda esta forma-
ção e somente esta formação. Concebem-se os cursos               Além disso, simultaneamente, e considerando a
de mestrado e doutorado para uma elite pensante, para      emergência de mudanças substanciais que caracteri-
a formação dos pesquisadores por excelência e, por         zam, segundo a autora, na passagem de uma etapa
isso, sua expansão é tratada como devendo ser conti-       civilizatória a outra, um grande número de institui-
da, e sua avaliação centralizada para melhor controle.     ções de educação superior, com seus diversos níveis,
Outras funções, inicialmente também propostas como         encontra-se em condições de enclausuramento. Esta
parte das atribuições de mestrados e doutorados, fo-       condição gera reações de paralisia e de defesa “pois, a
ram minimizadas e deixadas de lado, por exemplo, a         perplexidade diante das mudanças, às vezes, é muito
de formar professores para o ensino superior, o que é      grande. Na vida dos acadêmicos, sobretudo, a passa-
muito diferente de formar pesquisadores. Este é um         gem de uma etapa civilizatória a outra implica, em
dos desafios que vêm sendo colocados à pós-gradua-         muitos casos, a desvalorização repentina de um capi-
ção e que se agudizará cada vez mais. Mesmo que os         tal cultural que se esteve acumulando durante toda vida
dois tipos de formação possam e até devam ser desen-       profissional” (Idem, ibidem). Implica também, altera-
volvidos simultaneamente, com a camisa de força dos        ções de relações de poder, com uma dinamização dife-
prazos de conclusão para esses cursos, não é difícil       rente de estruturas já bem instituídas, com papéis as-
pensar que é preciso fazer opções quanto à vocação         segurados.
dos programas de mestrado e doutorado, e repensar                Os atores desta transformação serão as pessoas que
suas estruturas e currículos. Agregando-se, também, às     possuem sensibilidade ao social e que por isso se preo-
duas finalidades já mencionadas, o objetivo de formar      cupam com a falta de eqüidade social e incorporam po-
quadros para o trabalho em nível maior de sofisticação     sitivamente os avanços da nova etapa civilizatória.
em relação às graduações – demanda clara dos profissio-
nais e de vários setores comunitários – e outras funções      Papel social e estruturas da pós-graduação
que passam a ser esperadas desses cursos, associadas a
aprofundamento e ampliação culturais, a questão da fi-          Em atmosfera de intenso debate quanto ao papel
nalidade dos cursos e de seus objetivos, especialmente     e às finalidades da pós-graduação e da qualidade de


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Reflexão sobre os desafios da pós-graduação



suas propostas acadêmicas, num tempo em que se de-         mestrados, três perspectivas: a primeira, é a de que o
manda desses cursos que respondam à grande varie-          mestrado é uma iniciação à pesquisa; a segunda, é a
dade de desafios sociais, tecnológicos, políticos e eco-   de que o mestrado cumpre a função de dar formação
lógicos, é de grande importância refletir sobre as         acadêmica básica para docência, porém é o doutorado
condições atuais e o futuro desejável para os mesmos.      que inicia o discente na pesquisa; a terceira, que vê
O futuro da pós-graduação está ancorado em sua his-        como finalidades do mestrado a formação de docentes
tória específica em nosso país e em como se apresenta      para o ensino superior e a de assessores, afastada da
no presente momento. Nesse sentido, várias questões        preocupação de formar pesquisadores. Observa-se que
precisam ser respondidas: Qual o propósito e a nature-     nas instituições onde predomina a primeira concep-
za dos estudos na pós-graduação, em um momento de          ção, os mestrados geralmente vêm sendo equivalentes
aceleradas mudanças? Que valor têm para as pessoas         a minidoutorados, e neles predomina o pensamento de
e a sociedade? Respostas devem ser buscadas junto a        que se perde qualidade ao colocar sua terminalidade
diversificados grupos de interesse e com diferentes re-    em dois anos, como vêm impondo os órgãos avaliado-
ferenciais.                                                res e de fomento.
      Embora tenhamos nessa modalidade um reduto                 Outros estudos identificam dois tipos de mestrado
conservador que o enquadra em rígidos moldes, em           que se diferenciariam pelos seus objetivos. Um deles
nível das instituições não se tem claros os objetivos      teria como objetivo estudos avançados em uma disci-
aos quais seus cursos atendem, ficando os propósitos       plina específica, sem preocupação com suas aplica-
da pós-graduação interpretados isoladamente por este       ções; outro visaria à aplicação e extensão de conheci-
ou aquele professor, pesquisador ou aluno, mantendo-       mentos a finalidades profissionais ou vocacionais. Isto
se, no entanto, apenas propósitos gerais como              nos leva à questão dos mestrados profissionais. Con-
intencionalidade institucional, no que se refere ao seu    forme se encontra colocado em alguns documentos ofi-
desenvolvimento.                                           ciais, a necessidade desta modalidade de estudos pós-
      Questionam-se, neste momento, portanto, aspectos     graduados voltados para áreas de trabalho corresponde
relativos às finalidades, propostas, estruturas, currí-    à própria evolução dos conhecimentos, seus impactos
culos, formas de desempenho e tipos de qualidades          no mundo do trabalho, às mudanças dos mercados, o
socialmente relevantes esperadas dos cursos de             que induz a procura de recursos humanos que facili-
mestrado e doutorado. Estes pontos vêm sendo postos        tem a transferência mais rápida dos conhecimentos
em questão à luz de discussões sobre o papel social        gerados na universidade para a sociedade. Em todo o
dessa modalidade educacional na atualidade, atuali-        mundo procuram-se formas mais eficazes de estabele-
dade que se mostra com características novas diante        cer relações entre as universidades e setores governa-
da própria história construída nesses anos todos, des-     mentais, não-governamentais e sobretudo empresariais.
de o início da implementação da pós-graduação brasi-       São fatos sociais, não há como negá-los.
leira. Não há consenso sobre essas questões, quando              Mais uma vez aqui a polêmica se instala entre
se dá voz a profissionais diversificados e não apenas      nós sobre questão internacionalmente superada, já que
aos direta ou indiretamente comprometidos com o sis-       ainda se defende em círculos importantes nos setores
tema vigente. Sistema este que, na verdade, não sofreu     da pós-graduação a formação estrita para a vida cien-
transformações desde sua origem, mas apenas ajustes        tífica em termos de mestrados acadêmicos, propugnan-
ou adaptações que não alteraram o eixo da exclusão         do-se a não implantação dos mestrados profissionali-
de vários setores interessados.                            zantes. Ante a sua existência, volta-se o combate para
      O debate sobre as questões acima apontadas está      sua não expansão ou depreciação.
aberto. Em pesquisa que realizou, Peixoto (1995) iden-           Com pressões sociais evidentes, que correspon-
tificou, quanto às concepções sobre as finalidades dos     dem a necessidades de setores do trabalho, sobretudo


Revista Brasileira de Educação                                                                                111
Bernardete Angelina Gatti



de novos setores como os da comunicação, parece que      portante hoje e necessita ser enfrentada dentro daque-
será necessária a construção de um novo tipo de com-     la consciência social ampliada que vimos colocando
preensão quanto ao papel dos mestrados e doutorados,     como necessária às transformações neste nível educa-
entendendo que conhecimento aprofundado pode con-        cional. Mais um desafio: criar alternativas formativas
viver com problemas de trabalho mais ou menos ime-       diferenciadas em seus objetivos, mas com qualidade
diatos, e que as diferenças entre modalidades            consistente à luz de padrões de referência diversifica-
formativas podem situar-se quanto à perspectiva          dos e adequados a cada alternativa, e abrir brechas
temática e não necessariamente em uma desqualifica-      para que isto seja possível. Não se trata de rebaixar
ção no nível formativo. A rigidez existente em certos    padrões de formação, mas de criar novos padrões tam-
círculos acadêmicos não tem permitido discussão real-    bém com boa qualidade.
mente construtiva, em algumas áreas, para este tipo de        Se esses programas devem se constituir em lugar
demanda social: qual seu sentido, como e onde pode-      de construção de aprendizagens, de exercício da in-
ria desenvolver-se, qual seu papel. Essa modalidade      vestigação científica, de maturação quanto a teorias e
de pós-graduação vem sendo implementada ao largo         tecnologias e de preparação para o exercício da
do eixo hegemônico que define os rumos de mestrados      docência em nível superior, novas relações educacio-
e doutorados e dos padrões definidos para sua avalia-    nais internas a eles devem ser construídas. Isto requer
ção. Esse tipo de curso vem encontrando abertura den-    alterações em papéis consagrados, criação de
tro dos órgãos normativos oficiais, mas sempre com a     ambiências de aprendizagem para além das aulas e
presença de ressalvas, como legitimação ante a pers-     atividades estruturadas, criação de opções para estu-
pectiva acadêmica dominante, pela promessa de “ava-      do independente e possibilidade de desenvolvimento
liação rigorosa” , “avaliação no mesmo nível dos         de programas exploratórios ou experimentais. Temos
mestrados acadêmicos” etc., encontradas nos documen-     de enfrentar o conformismo ao modelo único, de fina-
tos oficiais. Revelam-se claramente a desconfiança na    lidade única, e buscar formas organizacionais que tor-
qualidade e a diferença de nível implícitas.             nem o espaço da pós-graduação espaço no qual de fato
     O desafio está na busca de um equilíbrio entre a    se exercite a exploração intelectual de problemas e te-
preparação de professores para o ensino superior, a de   mas, em tempo adequado a variados tipos de alunos,
pesquisadores e a de profissionais diversos que bus-     permitindo a eles a gestão desse tempo em limites ra-
cam seu aprofundamento teórico, cultural, científico     zoáveis, propiciando o acesso a conhecimentos e à
ou tecnológico. Com flexibilização de tempos e de        ampliação cultural, a grupos diferenciados e a profissio-
possibilidades nas trajetórias dentro dos cursos, este   nais que trabalham.
equilíbrio talvez possa ser atingido. A convivência de        Todos os aspectos trazidos até aqui e mais o pró-
modalidades diferentes numa mesma instituição, que       prio desenvolvimento das áreas de conhecimento de-
se qualifica também pela pesquisa e produção cultural    safiam-nos, também, quanto à necessidade de rever
de outras naturezas, pode dar sustentação a um am-       organizações que fragmentam setores de conhecimen-
biente adequado à não banalização de certas modali-      to, buscando arranjos cooperativos para o desenvolvi-
dades curriculares nesse nível formativo, e propiciar    mento de estudos entre áreas e mesmo interinstitucio-
aos alunos convivência com formas diversificadas de      nalmente. Criar condições de promover conhecimentos
produzir e utilizar conhecimentos. Mas, a exclusão de    interconectados, facilitando acesso de professores e
qualquer modalidade em favor de uma só pode resul-       estudantes a outras áreas disciplinares, fora de sua es-
tar em empobrecimento de cursos e empobrecimento         pecialidade específica; estabelecer intercomunicações
dos horizontes institucionais.                           entre áreas; facilitar caminhos para que se desenvol-
     As diversas modalidades ou estruturas formativas    vam em métodos de análise interdisciplinares, promo-
na pós-graduação constituem questão socialmente im-      vendo seminários conjuntos, projetos de pesquisa


112                                                                                    Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18
Reflexão sobre os desafios da pós-graduação



interdisciplinares, colóquios; criando campos interde-     abstratamente. Não tem havido uma interlocução sufi-
pendentes de estudo ou outros mecanismos que alar-         cientemente ampliada dos acadêmicos com diversifi-
guem as possibilidades de insights em conhecimen-          cados setores que começam a exigir interfaces com
tos que são, ao mesmo tempo, básicos em uma                esse tipo de formação. Há um fato social ocorrendo:
especialidade mas que necessitam de aportes de ou-         cada vez mais os estudantes deste nível têm que arcar
tros campos.                                               com os custos deste ensino e dividir seu tempo entre
     Ponto que vem sendo freqüentemente trazido à          trabalho e estudo. Este é o horizonte que se descortina
consideração para os anos vindouros é o do favoreci-       no Brasil para os demandantes à pós-graduação. As-
mento de trabalhos de forma cooperativa, integrativa       sim, a questão de prazos rígidos para a conclusão dos
e menos individualista, propiciando espírito de grupo      cursos – e que afetam sua avaliação e os fomentos que
e trabalho em equipe. Espírito de colegiado, comuni-       podem receber – toma outra feição, pelo menos dentro
cações abertas. Isto também coloca questões à atual        de um pensar mais democrático de possibilidades de
forma de desenvolvimento dos trabalhos nos mestrados       acesso ao saber. Os mestrandos e doutorandos não-
e doutorados.                                              bolsistas, que aos poucos se tornam a maioria dos alu-
     Se, na pós-graduação, se atuar com uma cons-          nos desses cursos, obviamente têm outras condições
ciência social ampliada, atentos às condições para         quanto à dedicação de tempo aos estudos, mas nem
aprendizagens significativas e aos tempos humanos,         por isto são menos qualificados para aí estarem. Fe-
em que estudo e trabalho são dimensões que não se          char possibilidades a este tipo de pós-graduando é criar
excluem, os que nela atuam precisariam usar de suas        mais um espaço de exclusão. É preciso considerar tam-
competências para encontrar alternativas de transfor-      bém que, trabalhando em geral em áreas afins aos seus
mações, nos mestrados e doutorados, de tal forma que       estudos, os pós-graduandos emprestam a estes uma
sua contribuição à qualificação consistente dos novos      nova qualidade que advém da experiência no trabalho
e diversificados contingentes profissionais, cujas dife-   e do seu trato cotidiano com variados e concretos tipos
rentes demandas começam a se colocar, seja de fato         de problemas. A questão do aluno-trabalhador e dos
relevante.                                                 prazos de formação trazem um desafio e tanto para o
     Essas são questões das quais não se poderá fugir      modelo credencialista vigente e, diante das necessida-
nos próximos anos.                                         des e condições reais dos estudantes nesse nível, esse
                                                           modelo, com sua rigidez, parece colocar-se na contra-
          Flexibilidade e duração de cursos                mão da história social. Em artigo recentemente publi-
                                                           cado, Velloso e Velho (1997), analisando a pós-gradua-
      A partir das considerações que estamos tecendo       ção, discutem a questão do tempo imposto rigidamente
sobre os desafios da pós-graduação, a questão do tem-      para a realização destes cursos, ponderando que a “fi-
po de conclusão dos cursos de mestrado e doutorado         xação de prazos inadequados, segundo alguns auto-
precisa ser considerada em parâmetros bem diferentes       res, constitui não apenas fonte de frustração mas tam-
dos que têm sido postos pelas agências governamen-         bém de desperdício de tempo e dinheiro por parte dos
tais e alguns setores acadêmicos. Com um olhar social      estudantes e das instituições (Wilson, apud Stricker,
mais sensível, tendo questões de eqüidade como refe-       1994). Nos Estados Unidos da América, onde têm sido
rência, é necessário considerar as condições reais de      relativamente abundantes os estudos sobre os prazos
quem hoje procura esse nível formativo, dos que po-        de titulação, verificou-se que estes vêm aumentando
tencialmente virão a procurá-los, e dos objetivos que      desde os anos 60” (p.75).
em relação a ele começam a ter pessoas de diferentes             Estudos em diversos países apontam na mesma
segmentos sociais e setores do trabalho – objetivos que    direção. Os autores citados lembram que, em países
são socialmente construídos e não pré-determinados         cientificamente fortes, o mestrado tem um caráter re-


Revista Brasileira de Educação                                                                                 113
Bernardete Angelina Gatti



sidual e por essa razão os estudos sobre esta questão        qualidade, por certos grupos que confundem boa qua-
referem-se mais ao doutorado. Citando vários traba-          lidade com grau de exclusão. A manutenção desta pos-
lhos, mostram que o tempo gasto pelos estudantes ma-         tura vem desfavorecendo variados contingentes sociais
triculados neste nível passou de cerca de pouco mais         quanto às possibilidades de aprofundamento de sua
de cinco anos para aproximadamente sete anos.                formação. Os setores envolvidos com mestrados e dou-
     Também dentro da questão de acessibilidade, per-        torados precisam ampliar suas perspectivas sociais, sem
manência e terminalidade nos cursos de mestrado e            perder a ciência como referencial. Devem reconhecer,
doutorado, é preciso lembrar que, diferentemente das         no entanto, que, como processos educativos, com obje-
propostas desenvolvidas em outros países, no Brasil          tivos também diferenciados, mestrados e doutorados
as ofertas de atividades e disciplinas nesse nível man-      são meios de fazer ascender a padrões culturais dife-
têm o padrão semestral, sem ofertas diversificadas em        rentes segmentos sociais, à altura das conquistas hu-
épocas de verão ou inverno, períodos de férias escola-       manas em conhecimentos. Passa também por este ní-
res e outros, replicando disciplinas ou atividades já        vel formativo a socialização dos conhecimentos
oferecidas no “semestre padrão” . Não são oferecidas         acumulados pelo esforço e contribuição de todos os
também oportunidades de preenchimento de créditos            cidadãos que, em última instância, fornecem o dinhei-
em períodos alternativos, que podem ser estruturados         ro necessário ao financiamento de cursos e pesquisas,
no semestre mesmo, maximizando a utilização dos re-          por meio de impostos. Portanto, o papel social desse
cursos institucionais e flexibilizando as trajetórias dos    segmento educativo é também do interesse público.
alunos. A inflexibilidade curricular cerceia oportuni-             Sob o ângulo que vimos desenvolvendo, o desa-
dades, especialmente para os alunos-trabalhadores;           fio está em não comprometer a formação desses novos
mais um grande desafio a superar.                            contingentes que estão demandando este nível de cur-
     Tudo isto tem a ver com o papel social que se           sos, todos com direito a uma boa formação, com a con-
pode esperar destes cursos e sobre o qual será neces-        trapartida de sua própria responsabilidade em relação
sário discutir, envolvendo-se segmentos diversificados,      a essa formação. As dificuldades ante mudanças for-
internos, inclusive os próprios alunos, e externos aos       çam a manutenção da visão dominante, mas estamos
quadros do ensino superior. Propugnam-se como me-            alijando pessoas e profissionais que teriam nesses cur-
tas para a educação superior, no discurso, flexibilida-      sos oportunidade de desenvolvimento pessoal, profis-
de em estruturas e currículos, formação com flexibili-       sional, social e científico de todo relevantes para os
dade cognitiva, mas a rigidez estrutural dos cursos e        desafios dos anos vindouros. Estamos, em nível dos
dos prazos, a homogeneização dos diferentes segmen-          mestrados e doutorados, de certa forma, criando di-
tos do alunado, com diferenciadas condições para de-         ques contra a ampliação social de potencialidades hu-
dicação aos estudos, bolsistas e não-bolsistas etc. mos-     manas. Democratizar acesso, flexibilizar currículos,
tram um sistema de mão única e via estreita, no qual         formatos e tempos, construir diferentes trajetórias pos-
oportunidades são restringidas e flexibilidade, inexis-      síveis nesses cursos, com formas de terminalidade
tente. Este fato não permite aos estudantes experimen-       diversificadas, não quer dizer “perda de qualidade” .
tar essa qualidade concretamente e apreendê-la pelo          A boa qualidade das aprendizagens não passa certa-
exercício de escolhas. Este é um paradoxo educacio-          mente por formatos fechados e padrões pré-estabele-
nal claro.                                                   cidos, quando se trata de formação de pessoas e do
     Superar essas condições é desafio. Reconhecer           desenvolvimento e ampliação de suas potencialidades.
suas raízes pode ajudar nesse processo de transforma-        Tem faltado criatividade e ousadia na busca de rotas
ção. Estas raízes estão vinculadas às origens de voca-       diversificadas e alternativas para dar respostas às de-
ção elitista de nosso ensino superior, transferidas à pós-   mandas que são feitas nesse nível educacional, deman-
graduação, que é tomada como último reduto da                das que aumentarão em muito. O desafio será atender


114                                                                                       Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18
Reflexão sobre os desafios da pós-graduação



a todo um novo contingente que começa a procurar          agir, conhecimentos que estão na base de ações que
esse nível educacional, com heterogêneas necessida-       podem trazer melhores condições de acesso a bens
des, suplantando a idéia de que boa qualidade se faz      sociais valorizados. Contemporaneamente e nos anos
criando reservas de domínio em áreas de conhecimento.     vindouros, cada vez mais o acesso a e o domínio de
                                                          conhecimentos relevantes socialmente associam-se a
                 Conhecimento e poder                     domínio de linguagens, ciências, tecnologias, domínio
                                                          de estruturas que regulam direitos e relações de dife-
      Voltemos agora à questão já levantada sobre con-    rentes naturezas. Nessa perspectiva, não só a educa-
centração de “conhecimento” em poucos círculos. Este      ção básica e superior das pessoas entram em jogo, mas
aspecto é importante, pois está na base de concepções     também a pós-graduação, na medida mesma da sofis-
sobre o papel da pós-graduação e dos desafios que vi-     ticação das sociedades, dos tipos de conhecimento e
mos colocando.                                            suas formas de produção, e dos recursos necessários à
      O grande dilema a ser enfrentado por mestrados e    sobrevivência humana.
doutorados é o de abrir-se a novas perspectivas, mo-           Embora a concepção, em geral, de conhecimento
dalidades curriculares e tipos de discentes, ou manter-   que têm os autores que tratam dessa questão seja uma
se como área reservada a poucos, com critérios de se-     concepção ampliada, pois não diz respeito ao conheci-
letividade definidos segundo um único padrão. Na base     mento científico ou instrumental estrito, referindo-se a
deste desafio está a questão de uma perspectiva relati-   um conjunto mais amplo de meios de construção de
va ao princípio de eqüidade, como valor social e ético,   habilidades e competências sociais, que se revelam em
que se apresenta como fundamental ao futuro das so-       formas novas de agir e mediações que abrem perspec-
ciedades humanas e até como condição de sustentação       tivas diferenciadas de sucesso na vida cotidiana, na
de um processo de sobrevivência civilizada.               base destas possibilidades está o saber buscar e inter-
      Estudos e ensaios que discutem a relação entre      pretar informações e tipos de conhecimento que, em
conhecimento e poder têm sido produzidos com certa        última instância, derivam, direta ou indiretamente, de
intensidade nas duas últimas décadas. Assinalam que       avanços científicos e culturais em vários setores. O
uma das transformações que vêm se produzindo nas          domínio destes saberes constitui-se em poder, poder
sociedades avançadas aparece nos determinantes de         que pode ser exercido de diferentes maneiras.
desigualdades sociais. Entre estes surge o conhecimento        De acordo com Stehr (2000), a
como princípio diferenciador de pessoas e grupos hu-
                                                            [...] condição que possibilita obter bases de ação mais am-
manos. Deter certos conhecimentos é poder obter van-
                                                            plas e mais numerosas é o conhecimento, ou seja, um con-
tagens e facilidades no movente mundo atual. Na ex-
                                                            junto de competências sociais de acesso mais geral, cujo
pressão de Stehr (2000) a “emancipação de amplos
                                                            impacto sobre as estruturas sociais de desigualdade acelera
segmentos da população de uma condição de
                                                            as oportunidades dos atores de reformular as construções
vulnerabilidade e subordinação econômica – que não
                                                            sociais (p.108). [Então, no compasso em que] o conheci-
se realiza na mesma extensão e em velocidade seme-
                                                            mento vai tomando o lugar da propriedade e do trabalho
lhante em todos os países industrializados – propor-
                                                            como mecanismo constitutivo da desigualdade, a relação dos
ciona as bases materiais para novas formas de desi-
                                                            indivíduos e dos grupos com o conhecimento passa a ter
gualdade” (p.102).
                                                            uma importância fundamental para os padrões de desigual-
      À medida que as sociedades industriais vão sen-
                                                            dade social nas sociedades contemporâneas (p. 109).
do impregnadas por uma sociedade do conhecimento e
por ela substituída, considerar as novas formas de pro-        Sob esta ótica, para quem tem no seu horizonte
dução de desigualdades é necessário. Uma delas é a        idéias como eqüidade social, oportunidades distribuí-
posse de conhecimentos necessários para formas de         das, relações cooperativas, o sistema de pós-gradua-


Revista Brasileira de Educação                                                                                        115
Bernardete Angelina Gatti



ção de hoje deverá ser merecedor de profundas altera-                jan.-abr. 1999, publicado em jan. 2001, p. 148-155); Implicações e
ções na direção de abertura de oportunidades, de acesso              perspectivas da pesquisa educacional no Brasil contemporâneo,
ao conhecimento que aí pode ser oferecido a diferen-                 Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas & Autores Asso-

ciados segmentos sociais. Este nível formativo come-                 ciados, nº 113, jul. 2001, p.65-81). Pesquisa atual: “Aspectos
                                                                     psicossocioeducacionais em programas de formação continuada e
ça a ser requisitado a oferecer respostas, a curto pra-
                                                                     à distância de professores”. E-mail: gatti@fcc.org.br
zo, a pressões que não tardarão a mostrar-se com força,
entre elas a das condições de sobrevivência humana e
                                                                                     Referências Bibliográficas
da qualidade de vida e das relações sociais. Mas, não
só. Na perspectiva de quem defende a construção de
uma sociedade mais igualitária, a forma como hoje vem                DURHAM, Eunice R., (1996). A pós-graduação no Brasil: pro-

sendo desenvolvida a pós-graduação deve sofrer algu-                    blemas e perspectivas. NUPES/USP, Documento de Trabalho

mas mudanças radicais. As concepções dominantes                         8, 21p.

hoje estão entrando em crise. Os contrastes entre co-                GUADILLA, Carmen García, (1997). Universidade latino-ameri-
nhecimento científico, conhecimento ético e eqüidade                    cana: da casela vazia ao cenário socialmente sustentável. Ca-
social deverão ser merecedores de uma ampla e públi-                    dernos de Pesquisa, Fundação Carlos Chagas & Cortez Edito-
ca discussão, se os que atuam neste nível de ensino                     ra, nº 101, p. 82-112, jul.
desejarem ser partícipes das transformações que des-
                                                                     LOUREIRO, Maria Rita, DURAND, José Carlos. (1995). A pós-
pontam no horizonte desses cursos. Esta participação
                                                                        graduação profissional em Administração comparada à pós-gra-
será essencial à medida que se reconhecer que
                                                                        duação acadêmica. Cadernos de Pesquisa, Fundação Carlos
mestrados e doutorados devem estar envolvidos com
                                                                        Chagas & Cortez Editora, nº 94, p.5-14, ago.
uma ética da vida que implique a superação de proces-
                                                                     PEIXOTO, Maria do Carmo. (1995). Formação do pesquisador na
sos que alimentam a excessiva desigualdade entre pes-
                                                                        pós-graduação: análise da estrutura organizacional em duas
soas e grupos. Isto conduz à necessidade de
                                                                        áreas do conhecimento. Conselho de Reitores das Universida-
rearticulação dos domínios do conhecimento com a
                                                                        des Brasileiras. Educação Brasileira, vol. 17, nº 34, p.125-144,
responsabilidade social. Um novo tipo de consciência
                                                                        jan.-jun.
humano-social-científica será requerido para encami-
nhar estas transformações.                                           STEHR, Nico. (2000). Da desigualdade de classe à desigualdade
                                                                        do conhecimento. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.15,

      BERNARDETE ANGELINA GATTI é docente do Programa                   nº 42, p.101-112.

de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da PUC/SP e coor-         STRICKER, L.J. (1994). Institutional factors in time for the doctorate.
denadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da Funda-            Research in Higter Education, v. 35, nº 5, p. 569-587.
ção Carlos Chagas. Publicou recentemente: A new model for teacher
                                                                     VELLOSO, Jacques, VELHO, Lea. (1997). Política de bolsas, pro-
training, Texts from Brazil nº 7: Education for human and social
                                                                        gressão e titulação nos mestrados e doutorados Cadernos de
development in Brazil, (Ministry of Foreign Relations, 2000, p.39-
                                                                        Pesquisa, nº 101, Fundação Carlos Chagas & Autores Associa-
43); Ensino superior e avaliação institucional, Revista Brasileira
de Estudos Pedagógicos (Brasília: INEP/MEC, nº 194, vol. 80,            dos, p. 50-81.




116                                                                                                       Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18

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Desafios da pós-graduação: novas perspectivas sociais, conhecimento e poder

  • 1. Bernardete Angelina Gatti Reflexão sobre os desafios da pós-graduação: novas perspectivas sociais, conhecimento e poder Bernardete Angelina Gatti Fundação Carlos Chagas e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação Introdução esperadas nos anos vindouros. Análises estas que se- jam realizadas por diferentes fontes e com perspecti- O momento pelo qual passa o sistema de pós-gra- vas mais críticas, no sentido construtor que tem a ver- duação no Brasil, neste início dos anos 2000, é inte- dadeira crítica: aquela que é capaz de trazer novos ressante e merecedor de atenções por parte de diferen- fundamentos e dinâmica para a estrutura e o funciona- tes segmentos sociais. Observadores mais aguçados mento desses cursos; aquela capaz de trazer visões têm percebido que, diante dos desafios históricos a en- diversificadas que possam criar embates e busca de frentar, a pós-graduação não pode ser mais assunto consensos ampliados socialmente. apenas do círculo restrito das universidades, ou ape- Não é possível mais desconsiderar, nas discus- nas do olhar de “pares” – o que cria uma perspectiva sões sobre a pós-graduação, o fato de que o momento endógena, em geral pouco renovadora. Os vários de- histórico hoje mostra diferenças visíveis em relação safios que hoje se colocam à pós-graduação dizem res- ao momento histórico em que os primeiros programas peito a questões sociais mais amplas, que transcen- foram implementados e tiveram seus primeiros desen- dem os muros do ensino superior. Não que as volvimentos nas décadas de 1970 e inícios dos de anos necessidades qualitativas deste ensino e da pesquisa 1980. Naquele momento os cursos de pós-graduação não sejam grandes e muito importantes. Mas, novas – mestrados e doutorados – foram criados, apoiados e questões vêm sendo trazidas no bojo da história social sustentados em seu desenvolvimento sob um certo que viemos construindo nos últimos quarenta anos. modelo e vocação não discutidos amplamente, mas Diante do quadro sociocultural com que nos de- gestados por setores da burocracia estatal em consen- frontamos hoje, e as perspectivas de humanidade que so com algumas lideranças acadêmicas, e, por isto começamos a descortinar, o sistema de pós-graduação mesmo, um modelo voltado ao desenvolvimentismo e carece de análises quanto às suas finalidades e, por- à formação de quadros para a pesquisa e para as uni- tanto, quanto a qualidades relevantes a serem deles versidades, dentro de uma certa concepção sobre ciên- 108 Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18
  • 2. Reflexão sobre os desafios da pós-graduação cia, sobre seu papel e os das tecnologias e sua produ- rior no país, que culmina com a ampla reforma univer- ção/reprodução. sitária implantada a partir de 1968. Seu escopo é a Mestrados e doutorados em nosso país origina- modernização do ensino superior nos quadros do pro- ram-se então, não do desenvolvimento da pesquisa jeto de desenvolvimento econômico adotado” (Durham, científica nas universidades ou outras instituições, mas 1996, p.11) Visando superar a estrutura tradicional de uma política deliberada de organismos estatais, no vigente no ensino superior, as mudanças, levadas a efei- final da década de 1960 e inícios de 1970. No ensino to na estrutura e currículos nas instituições atuantes superior, à época, pouca pesquisa se desenvolvia, vez nesse nível, e a introdução dos mestrados e doutora- que sua vocação era dirigida sobretudo à formação de dos buscavam a integração da pesquisa dentro dessas profissionais liberais. As universidades nasceram da instituições. Esses esforços tiveram alguns desdobra- agregação de cursos e pouquíssimas tinham a pesqui- mentos positivos. Resultados importantes nos quadros sa como parte integrante do trabalho de seus docentes. institucionais e nos horizontes tanto da vida científica A grande expansão havida no ensino superior, no iní- como nas áreas tecnológicas no país foram decorren- cio dos anos de 1970, trouxe também a improvisação tes dessa política. Mas, esses resultados, sem dúvida, de professores, sem formação especializada e em pes- ficaram vinculados a poucas instituições e regiões, se quisa, os quais vieram a atuar em instituições com ins- considerarmos a expansão demográfica do país, o vo- talações também improvisadas, que levavam ao ensi- lume do ensino superior e a demanda potencial de for- no superior a idéia tradicional de que para esse ensino mação de professores para atuar neste nível de ensino, bastam as salas de aula e professores com algum ba- e as necessidades de desenvolvimento de variadas áreas charelado. Estamos falando de apenas vinte ou trinta científicas. A concentração do “conhecimento” em re- anos atrás e os traços dessa situação ainda estão pre- lativamente poucos grupos foi notória. Sobre esta ques- sentes em grande parcela dos cursos de nível superior. tão, extremamente importante, voltaremos a falar A precariedade de recursos, para este ensino, naquele adiante. período, é mostrada em vários estudos, ressaltando- A integração da pesquisa como parte da vida uni- se, por exemplo, o estado miserável das bibliotecas, versitária, como processo induzido, via mestrados e em especial a não disponibilidade de periódicos cien- doutorados, acaba por criar uma vinculação excessiva tíficos. Nestas condições, também a pesquisa vai ser entre a pesquisa e a pós-graduação na maioria das ins- induzida através da política de criação e apoio aos tituições, quando o desejável seria um espalhamento cursos de mestrado e doutorado, que passam a ser es- das atividades de investigação científica dentro de toda timulados e financiados em sua implementação em al- a vida acadêmica. O que se assistiu na maioria das gumas universidades que apresentavam maior solidez instituições foi à concentração das atividades de pes- institucional. Verbas substanciais de diferentes origens quisa na pós-graduação, sendo aí o único espaço em foram dirigidas a esse nível de formação como parte que alguma pesquisa veio a ser realizada. Várias uni- do esforço ligado ao “milagre brasileiro” . Bolsas para versidades, especialmente públicas e algumas comu- mestrado e doutorado no exterior são concedidas num nitárias, caminharam lentamente para o desenvolvi- esforço dirigido à formação nesse nível, especialmen- mento de grupos científicos que se interligam com os te em áreas como as da economia, ciências básicas e cursos de mestrado e doutorado, mas que adquiriram tecnológicas. Estes estímulos à pós-graduação stricto vida própria e têm um espaço institucional específico sensu e à pesquisa dirigiram-se à formação de qua- conectando-se com diferentes atividades acadêmicas. dros e grupos de pesquisa de alto nível, sob a perspec- Porém, a grande maioria das instituições, especialmente tiva do “capital humano” . Esta ação “obedecia a uma as privadas, não integraram a pesquisa em seu cotidia- decisão explícita, por parte do governo militar recém- no, trabalhando praticamente só com professores- estabelecido, de disciplinar e orientar o ensino supe- horistas. Também não se empenharam quanto ao aper- Revista Brasileira de Educação 109
  • 3. Bernardete Angelina Gatti feiçoamento dos seus quadros, a não ser mais recente- os de mestrado, começam a tomar contornos que extra- mente, por pressão de normatizações legais. vasam o âmbito dos laboratórios de pesquisa e da car- Desde sua origem, mestrados e doutorados foram reira docente no ensino superior. destinados a uma elite. A seletividade para ingressar Assim, conforme analisa Guadilla (1997, p. 105- era altíssima; na ausência de parâmetros, pela inexis- 106), diferentemente de alterações em níveis de edu- tência desses cursos no país e o estímulo inicial aos cação superior realizadas em outros momentos deste mestrados especialmente, as dissertações de mestrado século, exigidas eram quase sempre equivalentes a teses de [...] quando os atores responsáveis por elas foram agentes doutorado, se comparadas internacionalmente. Na ver- endógenos – estudantes algumas vezes, pesquisadores e diri- dade, adotaram-se em várias áreas, para o mestrado, gentes das instituições outras vezes -, a agenda de transfor- padrões que em outros países encontravam-se nos dou- mações na década de 90 está sendo construída, como se torados. Além da seletividade inicial, a evasão tam- indicou antes, com novos agentes, alguns deles de fora da bém se mostrava alta. Hoje ainda, em círculos domi- universidade. Isso tem sido interpretado de diferentes manei- nantes da vida científica no país, há um discurso, ras. Uma delas se refere ao papel primordial do conhecimento repetido, sobre a pós-graduação stricto sensu, que tra- nos novos sistemas produtivos, o que significa que hoje os duz a perspectiva de uma elite que identifica os agentes externos têm um interesse maior pelos sistemas de mestrados como formadores de pesquisadores, como produção de conhecimento e de formação.(grifo nosso) se este nível de ensino pudesse prover toda esta forma- ção e somente esta formação. Concebem-se os cursos Além disso, simultaneamente, e considerando a de mestrado e doutorado para uma elite pensante, para emergência de mudanças substanciais que caracteri- a formação dos pesquisadores por excelência e, por zam, segundo a autora, na passagem de uma etapa isso, sua expansão é tratada como devendo ser conti- civilizatória a outra, um grande número de institui- da, e sua avaliação centralizada para melhor controle. ções de educação superior, com seus diversos níveis, Outras funções, inicialmente também propostas como encontra-se em condições de enclausuramento. Esta parte das atribuições de mestrados e doutorados, fo- condição gera reações de paralisia e de defesa “pois, a ram minimizadas e deixadas de lado, por exemplo, a perplexidade diante das mudanças, às vezes, é muito de formar professores para o ensino superior, o que é grande. Na vida dos acadêmicos, sobretudo, a passa- muito diferente de formar pesquisadores. Este é um gem de uma etapa civilizatória a outra implica, em dos desafios que vêm sendo colocados à pós-gradua- muitos casos, a desvalorização repentina de um capi- ção e que se agudizará cada vez mais. Mesmo que os tal cultural que se esteve acumulando durante toda vida dois tipos de formação possam e até devam ser desen- profissional” (Idem, ibidem). Implica também, altera- volvidos simultaneamente, com a camisa de força dos ções de relações de poder, com uma dinamização dife- prazos de conclusão para esses cursos, não é difícil rente de estruturas já bem instituídas, com papéis as- pensar que é preciso fazer opções quanto à vocação segurados. dos programas de mestrado e doutorado, e repensar Os atores desta transformação serão as pessoas que suas estruturas e currículos. Agregando-se, também, às possuem sensibilidade ao social e que por isso se preo- duas finalidades já mencionadas, o objetivo de formar cupam com a falta de eqüidade social e incorporam po- quadros para o trabalho em nível maior de sofisticação sitivamente os avanços da nova etapa civilizatória. em relação às graduações – demanda clara dos profissio- nais e de vários setores comunitários – e outras funções Papel social e estruturas da pós-graduação que passam a ser esperadas desses cursos, associadas a aprofundamento e ampliação culturais, a questão da fi- Em atmosfera de intenso debate quanto ao papel nalidade dos cursos e de seus objetivos, especialmente e às finalidades da pós-graduação e da qualidade de 110 Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18
  • 4. Reflexão sobre os desafios da pós-graduação suas propostas acadêmicas, num tempo em que se de- mestrados, três perspectivas: a primeira, é a de que o manda desses cursos que respondam à grande varie- mestrado é uma iniciação à pesquisa; a segunda, é a dade de desafios sociais, tecnológicos, políticos e eco- de que o mestrado cumpre a função de dar formação lógicos, é de grande importância refletir sobre as acadêmica básica para docência, porém é o doutorado condições atuais e o futuro desejável para os mesmos. que inicia o discente na pesquisa; a terceira, que vê O futuro da pós-graduação está ancorado em sua his- como finalidades do mestrado a formação de docentes tória específica em nosso país e em como se apresenta para o ensino superior e a de assessores, afastada da no presente momento. Nesse sentido, várias questões preocupação de formar pesquisadores. Observa-se que precisam ser respondidas: Qual o propósito e a nature- nas instituições onde predomina a primeira concep- za dos estudos na pós-graduação, em um momento de ção, os mestrados geralmente vêm sendo equivalentes aceleradas mudanças? Que valor têm para as pessoas a minidoutorados, e neles predomina o pensamento de e a sociedade? Respostas devem ser buscadas junto a que se perde qualidade ao colocar sua terminalidade diversificados grupos de interesse e com diferentes re- em dois anos, como vêm impondo os órgãos avaliado- ferenciais. res e de fomento. Embora tenhamos nessa modalidade um reduto Outros estudos identificam dois tipos de mestrado conservador que o enquadra em rígidos moldes, em que se diferenciariam pelos seus objetivos. Um deles nível das instituições não se tem claros os objetivos teria como objetivo estudos avançados em uma disci- aos quais seus cursos atendem, ficando os propósitos plina específica, sem preocupação com suas aplica- da pós-graduação interpretados isoladamente por este ções; outro visaria à aplicação e extensão de conheci- ou aquele professor, pesquisador ou aluno, mantendo- mentos a finalidades profissionais ou vocacionais. Isto se, no entanto, apenas propósitos gerais como nos leva à questão dos mestrados profissionais. Con- intencionalidade institucional, no que se refere ao seu forme se encontra colocado em alguns documentos ofi- desenvolvimento. ciais, a necessidade desta modalidade de estudos pós- Questionam-se, neste momento, portanto, aspectos graduados voltados para áreas de trabalho corresponde relativos às finalidades, propostas, estruturas, currí- à própria evolução dos conhecimentos, seus impactos culos, formas de desempenho e tipos de qualidades no mundo do trabalho, às mudanças dos mercados, o socialmente relevantes esperadas dos cursos de que induz a procura de recursos humanos que facili- mestrado e doutorado. Estes pontos vêm sendo postos tem a transferência mais rápida dos conhecimentos em questão à luz de discussões sobre o papel social gerados na universidade para a sociedade. Em todo o dessa modalidade educacional na atualidade, atuali- mundo procuram-se formas mais eficazes de estabele- dade que se mostra com características novas diante cer relações entre as universidades e setores governa- da própria história construída nesses anos todos, des- mentais, não-governamentais e sobretudo empresariais. de o início da implementação da pós-graduação brasi- São fatos sociais, não há como negá-los. leira. Não há consenso sobre essas questões, quando Mais uma vez aqui a polêmica se instala entre se dá voz a profissionais diversificados e não apenas nós sobre questão internacionalmente superada, já que aos direta ou indiretamente comprometidos com o sis- ainda se defende em círculos importantes nos setores tema vigente. Sistema este que, na verdade, não sofreu da pós-graduação a formação estrita para a vida cien- transformações desde sua origem, mas apenas ajustes tífica em termos de mestrados acadêmicos, propugnan- ou adaptações que não alteraram o eixo da exclusão do-se a não implantação dos mestrados profissionali- de vários setores interessados. zantes. Ante a sua existência, volta-se o combate para O debate sobre as questões acima apontadas está sua não expansão ou depreciação. aberto. Em pesquisa que realizou, Peixoto (1995) iden- Com pressões sociais evidentes, que correspon- tificou, quanto às concepções sobre as finalidades dos dem a necessidades de setores do trabalho, sobretudo Revista Brasileira de Educação 111
  • 5. Bernardete Angelina Gatti de novos setores como os da comunicação, parece que portante hoje e necessita ser enfrentada dentro daque- será necessária a construção de um novo tipo de com- la consciência social ampliada que vimos colocando preensão quanto ao papel dos mestrados e doutorados, como necessária às transformações neste nível educa- entendendo que conhecimento aprofundado pode con- cional. Mais um desafio: criar alternativas formativas viver com problemas de trabalho mais ou menos ime- diferenciadas em seus objetivos, mas com qualidade diatos, e que as diferenças entre modalidades consistente à luz de padrões de referência diversifica- formativas podem situar-se quanto à perspectiva dos e adequados a cada alternativa, e abrir brechas temática e não necessariamente em uma desqualifica- para que isto seja possível. Não se trata de rebaixar ção no nível formativo. A rigidez existente em certos padrões de formação, mas de criar novos padrões tam- círculos acadêmicos não tem permitido discussão real- bém com boa qualidade. mente construtiva, em algumas áreas, para este tipo de Se esses programas devem se constituir em lugar demanda social: qual seu sentido, como e onde pode- de construção de aprendizagens, de exercício da in- ria desenvolver-se, qual seu papel. Essa modalidade vestigação científica, de maturação quanto a teorias e de pós-graduação vem sendo implementada ao largo tecnologias e de preparação para o exercício da do eixo hegemônico que define os rumos de mestrados docência em nível superior, novas relações educacio- e doutorados e dos padrões definidos para sua avalia- nais internas a eles devem ser construídas. Isto requer ção. Esse tipo de curso vem encontrando abertura den- alterações em papéis consagrados, criação de tro dos órgãos normativos oficiais, mas sempre com a ambiências de aprendizagem para além das aulas e presença de ressalvas, como legitimação ante a pers- atividades estruturadas, criação de opções para estu- pectiva acadêmica dominante, pela promessa de “ava- do independente e possibilidade de desenvolvimento liação rigorosa” , “avaliação no mesmo nível dos de programas exploratórios ou experimentais. Temos mestrados acadêmicos” etc., encontradas nos documen- de enfrentar o conformismo ao modelo único, de fina- tos oficiais. Revelam-se claramente a desconfiança na lidade única, e buscar formas organizacionais que tor- qualidade e a diferença de nível implícitas. nem o espaço da pós-graduação espaço no qual de fato O desafio está na busca de um equilíbrio entre a se exercite a exploração intelectual de problemas e te- preparação de professores para o ensino superior, a de mas, em tempo adequado a variados tipos de alunos, pesquisadores e a de profissionais diversos que bus- permitindo a eles a gestão desse tempo em limites ra- cam seu aprofundamento teórico, cultural, científico zoáveis, propiciando o acesso a conhecimentos e à ou tecnológico. Com flexibilização de tempos e de ampliação cultural, a grupos diferenciados e a profissio- possibilidades nas trajetórias dentro dos cursos, este nais que trabalham. equilíbrio talvez possa ser atingido. A convivência de Todos os aspectos trazidos até aqui e mais o pró- modalidades diferentes numa mesma instituição, que prio desenvolvimento das áreas de conhecimento de- se qualifica também pela pesquisa e produção cultural safiam-nos, também, quanto à necessidade de rever de outras naturezas, pode dar sustentação a um am- organizações que fragmentam setores de conhecimen- biente adequado à não banalização de certas modali- to, buscando arranjos cooperativos para o desenvolvi- dades curriculares nesse nível formativo, e propiciar mento de estudos entre áreas e mesmo interinstitucio- aos alunos convivência com formas diversificadas de nalmente. Criar condições de promover conhecimentos produzir e utilizar conhecimentos. Mas, a exclusão de interconectados, facilitando acesso de professores e qualquer modalidade em favor de uma só pode resul- estudantes a outras áreas disciplinares, fora de sua es- tar em empobrecimento de cursos e empobrecimento pecialidade específica; estabelecer intercomunicações dos horizontes institucionais. entre áreas; facilitar caminhos para que se desenvol- As diversas modalidades ou estruturas formativas vam em métodos de análise interdisciplinares, promo- na pós-graduação constituem questão socialmente im- vendo seminários conjuntos, projetos de pesquisa 112 Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18
  • 6. Reflexão sobre os desafios da pós-graduação interdisciplinares, colóquios; criando campos interde- abstratamente. Não tem havido uma interlocução sufi- pendentes de estudo ou outros mecanismos que alar- cientemente ampliada dos acadêmicos com diversifi- guem as possibilidades de insights em conhecimen- cados setores que começam a exigir interfaces com tos que são, ao mesmo tempo, básicos em uma esse tipo de formação. Há um fato social ocorrendo: especialidade mas que necessitam de aportes de ou- cada vez mais os estudantes deste nível têm que arcar tros campos. com os custos deste ensino e dividir seu tempo entre Ponto que vem sendo freqüentemente trazido à trabalho e estudo. Este é o horizonte que se descortina consideração para os anos vindouros é o do favoreci- no Brasil para os demandantes à pós-graduação. As- mento de trabalhos de forma cooperativa, integrativa sim, a questão de prazos rígidos para a conclusão dos e menos individualista, propiciando espírito de grupo cursos – e que afetam sua avaliação e os fomentos que e trabalho em equipe. Espírito de colegiado, comuni- podem receber – toma outra feição, pelo menos dentro cações abertas. Isto também coloca questões à atual de um pensar mais democrático de possibilidades de forma de desenvolvimento dos trabalhos nos mestrados acesso ao saber. Os mestrandos e doutorandos não- e doutorados. bolsistas, que aos poucos se tornam a maioria dos alu- Se, na pós-graduação, se atuar com uma cons- nos desses cursos, obviamente têm outras condições ciência social ampliada, atentos às condições para quanto à dedicação de tempo aos estudos, mas nem aprendizagens significativas e aos tempos humanos, por isto são menos qualificados para aí estarem. Fe- em que estudo e trabalho são dimensões que não se char possibilidades a este tipo de pós-graduando é criar excluem, os que nela atuam precisariam usar de suas mais um espaço de exclusão. É preciso considerar tam- competências para encontrar alternativas de transfor- bém que, trabalhando em geral em áreas afins aos seus mações, nos mestrados e doutorados, de tal forma que estudos, os pós-graduandos emprestam a estes uma sua contribuição à qualificação consistente dos novos nova qualidade que advém da experiência no trabalho e diversificados contingentes profissionais, cujas dife- e do seu trato cotidiano com variados e concretos tipos rentes demandas começam a se colocar, seja de fato de problemas. A questão do aluno-trabalhador e dos relevante. prazos de formação trazem um desafio e tanto para o Essas são questões das quais não se poderá fugir modelo credencialista vigente e, diante das necessida- nos próximos anos. des e condições reais dos estudantes nesse nível, esse modelo, com sua rigidez, parece colocar-se na contra- Flexibilidade e duração de cursos mão da história social. Em artigo recentemente publi- cado, Velloso e Velho (1997), analisando a pós-gradua- A partir das considerações que estamos tecendo ção, discutem a questão do tempo imposto rigidamente sobre os desafios da pós-graduação, a questão do tem- para a realização destes cursos, ponderando que a “fi- po de conclusão dos cursos de mestrado e doutorado xação de prazos inadequados, segundo alguns auto- precisa ser considerada em parâmetros bem diferentes res, constitui não apenas fonte de frustração mas tam- dos que têm sido postos pelas agências governamen- bém de desperdício de tempo e dinheiro por parte dos tais e alguns setores acadêmicos. Com um olhar social estudantes e das instituições (Wilson, apud Stricker, mais sensível, tendo questões de eqüidade como refe- 1994). Nos Estados Unidos da América, onde têm sido rência, é necessário considerar as condições reais de relativamente abundantes os estudos sobre os prazos quem hoje procura esse nível formativo, dos que po- de titulação, verificou-se que estes vêm aumentando tencialmente virão a procurá-los, e dos objetivos que desde os anos 60” (p.75). em relação a ele começam a ter pessoas de diferentes Estudos em diversos países apontam na mesma segmentos sociais e setores do trabalho – objetivos que direção. Os autores citados lembram que, em países são socialmente construídos e não pré-determinados cientificamente fortes, o mestrado tem um caráter re- Revista Brasileira de Educação 113
  • 7. Bernardete Angelina Gatti sidual e por essa razão os estudos sobre esta questão qualidade, por certos grupos que confundem boa qua- referem-se mais ao doutorado. Citando vários traba- lidade com grau de exclusão. A manutenção desta pos- lhos, mostram que o tempo gasto pelos estudantes ma- tura vem desfavorecendo variados contingentes sociais triculados neste nível passou de cerca de pouco mais quanto às possibilidades de aprofundamento de sua de cinco anos para aproximadamente sete anos. formação. Os setores envolvidos com mestrados e dou- Também dentro da questão de acessibilidade, per- torados precisam ampliar suas perspectivas sociais, sem manência e terminalidade nos cursos de mestrado e perder a ciência como referencial. Devem reconhecer, doutorado, é preciso lembrar que, diferentemente das no entanto, que, como processos educativos, com obje- propostas desenvolvidas em outros países, no Brasil tivos também diferenciados, mestrados e doutorados as ofertas de atividades e disciplinas nesse nível man- são meios de fazer ascender a padrões culturais dife- têm o padrão semestral, sem ofertas diversificadas em rentes segmentos sociais, à altura das conquistas hu- épocas de verão ou inverno, períodos de férias escola- manas em conhecimentos. Passa também por este ní- res e outros, replicando disciplinas ou atividades já vel formativo a socialização dos conhecimentos oferecidas no “semestre padrão” . Não são oferecidas acumulados pelo esforço e contribuição de todos os também oportunidades de preenchimento de créditos cidadãos que, em última instância, fornecem o dinhei- em períodos alternativos, que podem ser estruturados ro necessário ao financiamento de cursos e pesquisas, no semestre mesmo, maximizando a utilização dos re- por meio de impostos. Portanto, o papel social desse cursos institucionais e flexibilizando as trajetórias dos segmento educativo é também do interesse público. alunos. A inflexibilidade curricular cerceia oportuni- Sob o ângulo que vimos desenvolvendo, o desa- dades, especialmente para os alunos-trabalhadores; fio está em não comprometer a formação desses novos mais um grande desafio a superar. contingentes que estão demandando este nível de cur- Tudo isto tem a ver com o papel social que se sos, todos com direito a uma boa formação, com a con- pode esperar destes cursos e sobre o qual será neces- trapartida de sua própria responsabilidade em relação sário discutir, envolvendo-se segmentos diversificados, a essa formação. As dificuldades ante mudanças for- internos, inclusive os próprios alunos, e externos aos çam a manutenção da visão dominante, mas estamos quadros do ensino superior. Propugnam-se como me- alijando pessoas e profissionais que teriam nesses cur- tas para a educação superior, no discurso, flexibilida- sos oportunidade de desenvolvimento pessoal, profis- de em estruturas e currículos, formação com flexibili- sional, social e científico de todo relevantes para os dade cognitiva, mas a rigidez estrutural dos cursos e desafios dos anos vindouros. Estamos, em nível dos dos prazos, a homogeneização dos diferentes segmen- mestrados e doutorados, de certa forma, criando di- tos do alunado, com diferenciadas condições para de- ques contra a ampliação social de potencialidades hu- dicação aos estudos, bolsistas e não-bolsistas etc. mos- manas. Democratizar acesso, flexibilizar currículos, tram um sistema de mão única e via estreita, no qual formatos e tempos, construir diferentes trajetórias pos- oportunidades são restringidas e flexibilidade, inexis- síveis nesses cursos, com formas de terminalidade tente. Este fato não permite aos estudantes experimen- diversificadas, não quer dizer “perda de qualidade” . tar essa qualidade concretamente e apreendê-la pelo A boa qualidade das aprendizagens não passa certa- exercício de escolhas. Este é um paradoxo educacio- mente por formatos fechados e padrões pré-estabele- nal claro. cidos, quando se trata de formação de pessoas e do Superar essas condições é desafio. Reconhecer desenvolvimento e ampliação de suas potencialidades. suas raízes pode ajudar nesse processo de transforma- Tem faltado criatividade e ousadia na busca de rotas ção. Estas raízes estão vinculadas às origens de voca- diversificadas e alternativas para dar respostas às de- ção elitista de nosso ensino superior, transferidas à pós- mandas que são feitas nesse nível educacional, deman- graduação, que é tomada como último reduto da das que aumentarão em muito. O desafio será atender 114 Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18
  • 8. Reflexão sobre os desafios da pós-graduação a todo um novo contingente que começa a procurar agir, conhecimentos que estão na base de ações que esse nível educacional, com heterogêneas necessida- podem trazer melhores condições de acesso a bens des, suplantando a idéia de que boa qualidade se faz sociais valorizados. Contemporaneamente e nos anos criando reservas de domínio em áreas de conhecimento. vindouros, cada vez mais o acesso a e o domínio de conhecimentos relevantes socialmente associam-se a Conhecimento e poder domínio de linguagens, ciências, tecnologias, domínio de estruturas que regulam direitos e relações de dife- Voltemos agora à questão já levantada sobre con- rentes naturezas. Nessa perspectiva, não só a educa- centração de “conhecimento” em poucos círculos. Este ção básica e superior das pessoas entram em jogo, mas aspecto é importante, pois está na base de concepções também a pós-graduação, na medida mesma da sofis- sobre o papel da pós-graduação e dos desafios que vi- ticação das sociedades, dos tipos de conhecimento e mos colocando. suas formas de produção, e dos recursos necessários à O grande dilema a ser enfrentado por mestrados e sobrevivência humana. doutorados é o de abrir-se a novas perspectivas, mo- Embora a concepção, em geral, de conhecimento dalidades curriculares e tipos de discentes, ou manter- que têm os autores que tratam dessa questão seja uma se como área reservada a poucos, com critérios de se- concepção ampliada, pois não diz respeito ao conheci- letividade definidos segundo um único padrão. Na base mento científico ou instrumental estrito, referindo-se a deste desafio está a questão de uma perspectiva relati- um conjunto mais amplo de meios de construção de va ao princípio de eqüidade, como valor social e ético, habilidades e competências sociais, que se revelam em que se apresenta como fundamental ao futuro das so- formas novas de agir e mediações que abrem perspec- ciedades humanas e até como condição de sustentação tivas diferenciadas de sucesso na vida cotidiana, na de um processo de sobrevivência civilizada. base destas possibilidades está o saber buscar e inter- Estudos e ensaios que discutem a relação entre pretar informações e tipos de conhecimento que, em conhecimento e poder têm sido produzidos com certa última instância, derivam, direta ou indiretamente, de intensidade nas duas últimas décadas. Assinalam que avanços científicos e culturais em vários setores. O uma das transformações que vêm se produzindo nas domínio destes saberes constitui-se em poder, poder sociedades avançadas aparece nos determinantes de que pode ser exercido de diferentes maneiras. desigualdades sociais. Entre estes surge o conhecimento De acordo com Stehr (2000), a como princípio diferenciador de pessoas e grupos hu- [...] condição que possibilita obter bases de ação mais am- manos. Deter certos conhecimentos é poder obter van- plas e mais numerosas é o conhecimento, ou seja, um con- tagens e facilidades no movente mundo atual. Na ex- junto de competências sociais de acesso mais geral, cujo pressão de Stehr (2000) a “emancipação de amplos impacto sobre as estruturas sociais de desigualdade acelera segmentos da população de uma condição de as oportunidades dos atores de reformular as construções vulnerabilidade e subordinação econômica – que não sociais (p.108). [Então, no compasso em que] o conheci- se realiza na mesma extensão e em velocidade seme- mento vai tomando o lugar da propriedade e do trabalho lhante em todos os países industrializados – propor- como mecanismo constitutivo da desigualdade, a relação dos ciona as bases materiais para novas formas de desi- indivíduos e dos grupos com o conhecimento passa a ter gualdade” (p.102). uma importância fundamental para os padrões de desigual- À medida que as sociedades industriais vão sen- dade social nas sociedades contemporâneas (p. 109). do impregnadas por uma sociedade do conhecimento e por ela substituída, considerar as novas formas de pro- Sob esta ótica, para quem tem no seu horizonte dução de desigualdades é necessário. Uma delas é a idéias como eqüidade social, oportunidades distribuí- posse de conhecimentos necessários para formas de das, relações cooperativas, o sistema de pós-gradua- Revista Brasileira de Educação 115
  • 9. Bernardete Angelina Gatti ção de hoje deverá ser merecedor de profundas altera- jan.-abr. 1999, publicado em jan. 2001, p. 148-155); Implicações e ções na direção de abertura de oportunidades, de acesso perspectivas da pesquisa educacional no Brasil contemporâneo, ao conhecimento que aí pode ser oferecido a diferen- Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas & Autores Asso- ciados segmentos sociais. Este nível formativo come- ciados, nº 113, jul. 2001, p.65-81). Pesquisa atual: “Aspectos psicossocioeducacionais em programas de formação continuada e ça a ser requisitado a oferecer respostas, a curto pra- à distância de professores”. E-mail: gatti@fcc.org.br zo, a pressões que não tardarão a mostrar-se com força, entre elas a das condições de sobrevivência humana e Referências Bibliográficas da qualidade de vida e das relações sociais. Mas, não só. Na perspectiva de quem defende a construção de uma sociedade mais igualitária, a forma como hoje vem DURHAM, Eunice R., (1996). A pós-graduação no Brasil: pro- sendo desenvolvida a pós-graduação deve sofrer algu- blemas e perspectivas. NUPES/USP, Documento de Trabalho mas mudanças radicais. As concepções dominantes 8, 21p. hoje estão entrando em crise. Os contrastes entre co- GUADILLA, Carmen García, (1997). Universidade latino-ameri- nhecimento científico, conhecimento ético e eqüidade cana: da casela vazia ao cenário socialmente sustentável. Ca- social deverão ser merecedores de uma ampla e públi- dernos de Pesquisa, Fundação Carlos Chagas & Cortez Edito- ca discussão, se os que atuam neste nível de ensino ra, nº 101, p. 82-112, jul. desejarem ser partícipes das transformações que des- LOUREIRO, Maria Rita, DURAND, José Carlos. (1995). A pós- pontam no horizonte desses cursos. Esta participação graduação profissional em Administração comparada à pós-gra- será essencial à medida que se reconhecer que duação acadêmica. Cadernos de Pesquisa, Fundação Carlos mestrados e doutorados devem estar envolvidos com Chagas & Cortez Editora, nº 94, p.5-14, ago. uma ética da vida que implique a superação de proces- PEIXOTO, Maria do Carmo. (1995). Formação do pesquisador na sos que alimentam a excessiva desigualdade entre pes- pós-graduação: análise da estrutura organizacional em duas soas e grupos. Isto conduz à necessidade de áreas do conhecimento. Conselho de Reitores das Universida- rearticulação dos domínios do conhecimento com a des Brasileiras. Educação Brasileira, vol. 17, nº 34, p.125-144, responsabilidade social. Um novo tipo de consciência jan.-jun. humano-social-científica será requerido para encami- nhar estas transformações. STEHR, Nico. (2000). Da desigualdade de classe à desigualdade do conhecimento. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.15, BERNARDETE ANGELINA GATTI é docente do Programa nº 42, p.101-112. de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da PUC/SP e coor- STRICKER, L.J. (1994). Institutional factors in time for the doctorate. denadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da Funda- Research in Higter Education, v. 35, nº 5, p. 569-587. ção Carlos Chagas. Publicou recentemente: A new model for teacher VELLOSO, Jacques, VELHO, Lea. (1997). Política de bolsas, pro- training, Texts from Brazil nº 7: Education for human and social gressão e titulação nos mestrados e doutorados Cadernos de development in Brazil, (Ministry of Foreign Relations, 2000, p.39- Pesquisa, nº 101, Fundação Carlos Chagas & Autores Associa- 43); Ensino superior e avaliação institucional, Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (Brasília: INEP/MEC, nº 194, vol. 80, dos, p. 50-81. 116 Set/Out/Nov/Dez 2001 Nº 18