1. Jornal do Brasil | sábado e domingo, 5 e 6 de fevereiro de 2011 28
Luiz Orlando Carneiro
luizoc@jb.com.br
Pedrito Guzman/Divulgação
o ano passado, o incrível é formado pelos também cuba- cha-cha-chá, e desagua numa
N pianista cubano Chu-
cho Valdés, 69 anos, e
seu pai – o não menos formidá-
O mestre nos Carlos Miyares (sax tenor),
Reynaldo Melián (trompete),
Lázaro Rivero (baixo), Juan
longa improvisação do pianis-
ta-compositor, bem percussiva e
politonal. O trompetista Melián
vel Bebo, ainda vivo, aos 92 –
levaram o Grammy destinado
ao melhor disco de Latin jazz,
do piano Carlos Rojas (bateria), mais a
percussão de Yaroldi Abreu. O
vocalista Dreiser Durruthy
brilha especialmente em Begin
to be good (5m 10), que Valdés
escreveu pensando, ao mesmo
com Juntos para siempre (Red
Ink). No próximo domingo,
Chucho é o favorito dentre os
autêntico Bombalé é uma notável desco-
berta de Valdés e a estrela de
Yansá (ou Yansã) – peça fasci-
tempo, em Begin the beguine
(Cole Porter) e Lady be good
(Gershwin).
cinco indicados para receber o nante derivada do ritual da san- Ogrand finaledo álbum é mes-
mesmo prêmio, com o álbum teria (candomblé), na qual ele mo a faixa-título, assim explica-
Chucho’s steps/ The Afro-Cuban também toca o batá (tambor sa- da pelo autor: “Não há referên-
Messengers (Four Quarters). grado em forma de cone). cia harmônica propriamente di-
Ainda que ele não consiga re- A primeira e mais longa faixa ta a Giant steps. A conexão é que
petir a façanha, pela oitava vez, do CD, Zawinul’s mambo Giant era uma peça de 12 com-
na cerimônia a ser realizada no (11m20), é dedicada ao pianista passos harmonicamente com-
Staples Center, em Los Angeles, Joe Zawinul (1932–2007) que – plexa, enquanto esta é uma pe-
o CD lançado em setembro úl- NO TOPO – O cubano Chucho Valdés é o favorito, entre os cinco antes de ficar famoso ao lado do ça harmonicamente complexa
timo merece ser ouvido e apre- de sua categoria, para receber o Grammy no domingo que vem Miles Davis elétrico (Bitches de 50 compassos sem repeti-
ciado pelos jazzófilos. Não se brew) e como líder do grupo fu- ção”. O saxofonista Miyares de-
trata de jazz latino manufatura- sionista Weather Report – foi si- monstra, uma vez mais, no seu
do em Havana para consumo ex- “combinar, com muita eficiên- (1919–90), que comandou os deman do quinteto do saxofo- solo, que os críticos ainda lhe
terno, mas de jazz do bom, que cia, quatro linguagens musi- seus Jazz Messengers durante nista Julian Cannonball Adder- devem reconhecimento à altura
se alimenta das raízes afrocu- cais: hard bop, jazz modal, free mais de 30 anos. E a faixa-tí- ley (1928–75), heroi do soul jazz. de seu engenho e arte.
banas semeadas por Dizzy Gil- jazz e música ritual afro-cuba- tulo, de quase 11 minutos, par- Danzón (9m) começa com um Mas acima de tudo, em to-
lespie, Chano Pozo e George na”. A própria denominação te de um exercício harmônico belo solo de Miyares – saxofo- das as faixas de Chucho’s
Russell, lá se vão seis décadas. do quinteto básico de Chu- inspirado na modalidade de nista de fraseado melódico in- steps, reina o piano mágico e
Nas notas escritas para o dis- cho’s steps é uma referência Giant steps, pedra fundamen- cisivo e envolvente, adepto de a personalidade única do
co, o crítico e ensaísta Leonar- indireta ao patriarca do hard tal da obra de John Coltrane. Sonny Rollins – tem passagens grande virtuose e maestro Je-
do Acosta o recomenda por bop, o baterista Art Blakey O grupo liderado por Chucho rítmicas do danzón cubano e do sus Dionisio Valdés.