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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
BACHARELADO EM CINEMA E AUDIOVISUAL
Gabriel Muniz de Souza Queiroz
CINECLUBE BAMAKO
Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de
Cinema e Audiovisual, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Cinema e
Audiovisual.
Orientadora: Profa
. Mannuela Costa
Maio
2013
2
SUMÁRIO
1. Apresentação.......................................................................................................................3
2. Desenvolvimento.................................................................................................................6
3. Programação.......................................................................................................................8
4. Sessões................................................................................................................................17
5. Divulgação / Mídia............................................................................................................36
6. Público...............................................................................................................................39
7. Patrocínio / Apoio............................................................................................................41
8. Parceiros............................................................................................................................42
9. Conclusão..........................................................................................................................47
10. Referências........................................................................................................................49
11. Anexos........................................................................................................................51
3
RELATÓRIO 2012.2
APRESENTAÇÃO
A idealização do projeto do Cineclube Bamako veio de uma observação do contexto da
difusão das cinematografias mundiais no Brasil, muito influenciada por um interesse pessoal –
sempre gostei de apreciar filmes de diversos países, na maioria das vezes de maneira aleatória –,
mas também como resultado dos estudos específicos de algumas disciplinas do Bacharelado em
Cinema e Audiovisual desta universidade.
Disciplinas como a de Cinema Mundial, dedicada a uma abordagem histórica, porém com
recortes sobre os cinemas periféricos; Cinema Latino-Americano, onde pude me aprofundar em
cinematografias que já me interessavam e das quais tinha alguma referência; Teorias do Cinema,
com a qual tomei gosto e pratiquei a reflexão sobre aspectos fora do universo da estética e da
práxis cinematográfica; Cinemas Africanos Contemporâneos, dos quais tinha pouquíssimas
referências, partindo a buscá-las cada vez mais, e onde o debate era recurso chave na construção
coletiva do conhecimento; A Imaterialidade do Cinema Asiático, de onde pude observar o cinema
e sua relação com a cultura e a religião do ponto de vista filosófico.
No decorrer desta experiência acadêmica e a partir de um aprofundamento do interesse
específico em cinematografias de países africanos, somados aos conteúdos das disciplinas de
Estética e Cultura Visual e Economia da Cultura, comecei a questionar o porquê de, por
exemplo, termos uma maior inserção de cinematografias de países asiáticos no Brasil, do que de
filmes africanos. Claro que não forçando um juízo de valor estético – até porque considero que o
melhor cinema da atualidade está na Ásia –, mas por observar que dos pontos de vista cultural,
histórico, social e político estamos obviamente muito mais próximos dos países africanos do que
dos asiáticos.
4
Então porque quase não temos referências – fora do âmbito acadêmico – de filmes do
Senegal, Burkina Faso, Mali, até mesmo da Nigéria com sua Nollywood1
, uma das maiores
indústrias do audiovisual no mundo em volume de produção? Após algum estudo em relação ao
mercado cinematográfico, comecei a compreender as diversas dificuldades que os cinemas
africanos têm no que se refere à produção, formação de público e principalmente distribuição de
seus filmes. Sabemos que a maior parte das nações do continente africano tem uma série de
problemáticas herdadas dos vários séculos de colonialismo. Mesmo em meio a guerras civis entre
grupos étnicos tradicionalmente rivais, fome e os diversos males de saúde resultantes de situações
de extrema pobreza, existe uma necessidade de auto-representação desses países africanos por
meios audiovisuais e também de consumo desses produtos por parte do público. Nollywood é o
exemplo máximo, com a proliferação do vídeo em formato VHS.
Todavia, o cinema na maioria dos países africanos, em termos de produção industrial,
distribuição e mercado consumidor, ainda é bastante dependente da relação econômica com a
Comunidade Europeia. Boa parte dos filmes dos principais cineastas do continente que visam
uma representação audiovisual engajada com a realidade sociopolítica e econômica segue um
viés autoral, sendo mais vistos nos circuitos de festivais, no cineclubismo e no mercado
alternativo europeu. Os mercados nacionais do continente raramente são alcançados por filmes
que não seguem a lógica comercial de padrão norte-americano. O que é perceptível em algumas
cenas do filme Bamako (2006), de Abderrahmane Sissako, longa metragem que dá nome ao
cineclube objeto deste relatório.
Dentro deste contexto, é bem possível imaginar a enorme dificuldade de distribuição que
essas cinematografias com mercado tão restrito têm fora dos circuitos acima citados. Sendo
assim, diante das discussões levantadas no segundo módulo da disciplina de Economia Cultural,
comecei a refletir sobre a possibilidade prática de se criar uma janela para exibição destes filmes,
tão raros de se ver aqui no Brasil. Já tinha certo conhecimento dos filmes, a partir das referências
da disciplina sobre cinemas africanos e também de alguns livros. Gosto de colecionar filmes,
1
Nollywood é um termo que se refere ao mercado de produção audiovisual da Nigéria, que desde a década de 1990
produz mais de mil filmes por ano no formato de video. Em volume de produção é o terceiro maior mercado do
mundo, atrás apenas de Hollywood e Bollywood (Índia), respectivamente.
5
algumas cópias eu consegui através da internet, outras através de meu pai, Amarino Queiroz,
também estudioso sobre culturas africanas, na área da literatura.
Realizei uma pesquisa sobre espaços de exibição de filmes africanos no país e vi que estes
ainda eram muito poucos. Havia uma pequena circulação virtual por aqui, disponível para
download em sites e blogs; algumas iniciativas em Salvador-BA (Mostra de Cinema Africano),
São Paulo (Cineclube Afro Sembène); e mostras esporádicas em São Paulo, Rio de Janeiro,
Niterói-RJ, João Pessoa-PB, Curitiba-PR e Florianópolis-SC. Aqui no Recife-PE ocorreu em
2007, mês de agosto, a Mostra Novo Olhar sobre o Cinema Africano, no Teatro Apolo. No
entanto, uma iniciativa com exibições regulares ainda era inédita.
Procurando somar a esta pesquisa sobre referências de espaço no âmbito nacional, a
notória influência que as culturas de matriz africana sempre exerceram e ainda exercem na
formação e no imaginário popular pernambucano; e aliando a este contexto a Lei de nº 10.639
que trata do ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira”, tornando-o obrigatório em escolas
públicas, o formato de intervenção escolhido para o presente projeto de difusão foi o
cineclubismo, por ser uma prática de democratização da cultura ao dar visibilidade a estas
diversas cinematografias, destes diversos países (por isso destacamos o termo “cinemas
africanos”, no plural), filmes com grande potencial de discussão não apenas estética como
também sociopolítica e cultural. Além de colocar o audiovisual como meio para a formação não
apenas de público para o cinema, como também para a formação de cidadãos (jovens estudantes,
educadores, possíveis multiplicadores) conscientes da importância da cultura negra na construção
da identidade do povo brasileiro.
Com esta perspectiva em mente e colocando-nos também abertos a filmes de países de
outros continentes além de África, ampliamos a proposta para a discussão de temáticas
relacionadas à cultura e identidade negra; além da inserção da experiência da equipe com o
audiovisual na educação. Na descrição essencial da proposta temos: “Cineclube Bamako –
Cinemas Africanos, Cultura Negra e Audiovisual na Educação”. Outro motivo para a escolha do
cineclubismo foi justamente o viés político desta prática, que afirma a difusão da cultura a partir
de meios audiovisuais sem fins lucrativos, o que justifica eticamente também a legitimidade do
6
fato de exibirmos filmes sem os direitos de exibição. Assim destacamos também na própria
escrita do projeto a intenção de parceria com a Federação Pernambucana de Cineclubes (FEPEC),
para uma melhor compreensão sobre o movimento cineclubista.
A partir de então – estava ainda na disciplina de Economia Cultural II (2011.2) – comecei
a pensar as possibilidades de parceria, inicialmente com o Museu da Abolição, por acreditarmos
na época ser um espaço com abertura para iniciativas que promovessem a valorização da cultura
negra; e com a Aliança Francesa do Recife, que imaginamos ter interesse na difusão de
cinematografias africanas principalmente nas de países francófonos, pelo papel do país europeu
na promoção cultural no continente africano. Como atividade final da disciplina foi finalizado o
projeto do Cineclube Bamako, cujo nome vêm da capital do Mali e do filme homônimo de um
dos maiores cineastas da produção contemporânea no continente; e realizada uma pesquisa de
mercado, na qual pude ter uma noção mais concreta de qual seria o público do cineclube.
DESENVOLVIMENTO
No semestre seguinte (2012.1) iniciei a disciplina de TCC1, quando me dediquei à pré-
produção do Cineclube Bamako. Inicialmente uma equipe básica foi definida (Coordenação
Geral, Coordenação Técnica, Coordenação de Produção, Coordenação Pedagógica), sendo
realizadas as primeiras reuniões de planejamento da produção. Fizemos uma atualização do
cronograma em relação à primeira proposta, elaborada em 2011, e definimos a execução das
atividades de produção para o segundo semestre de 2012. Também redigimos um primeiro plano
de ação pedagógica (disponível no anteprojeto) que foi amadurecido em 2012.2 com a parte
prática do projeto.
A ação pedagógica é uma das linhas de trabalho, juntamente com as sessões principais
(com debate) e as sessões especiais (itinerantes, em diversos espaços culturais). O trabalho com
educação do cineclube visa oferecer um suporte a educadores interessados em desenvolver o
ensino da História e Cultura Afro Brasileira. Na primeira etapa, semestre 2012.2, realizamos
atividades de orientação a profissionais da educação pública e popular, sugerindo materiais de
7
trabalho, dinâmicas com uso de mídias, principalmente audiovisuais. Além das sessões
pedagógicas, realizadas no Museu da Abolição, Aliança Francesa e cineCabeça, experimentamos
(Fabiana Maria, Coordenadora Pedagógica e eu, enquanto educadores) estas dinâmicas junto ao
projeto Telinha na Escola Recife. Desenvolvemos na prática a linha de ação pedagógica e no ano
presente 2013, a estamos trabalhando como projeto à parte, conforme destacado na proposta
inicial do Cineclube Bamako, como plano a médio prazo.
Nas reuniões também foram trabalhadas algumas das temáticas que foram abordadas nas
sessões dedicadas à educação (Identidade, Comunidade, Sociedade e Política) e pensadas as
primeiras sugestões de filmes para compor a programação de longa-metragem. Em seguida
saímos em busca de apoio institucional e material. Entramos em contato com o Museu da
Abolição, cuja diretoria, após reuniões de negociação, concordou em receber o Cineclube
Bamako enquanto projeto experimental (piloto a ser executado em 2012.2). Também fizemos
contato com algumas das bandas que entraram na programação da sessão especial, com
apresentação musical.
Paralelamente, a equipe se dirigiu a algumas instituições, como a Universidade Católica
(UNICAP), que, assim como o Museu, solicitou ofícios por parte da Coordenação de
Comunicação da UFPE. Também tentamos entrar em contato com o Núcleo de Estudos Afro
Brasileiros (NEAB – UFPE), o grupo de estudos de sociologia do cinema (CFCH – UFPE) e o
então recém-criado grupo de estudos étnico-raciais da UFRPE. Tentamos negociação com a
Secretaria de Juventude da Prefeitura do Recife, pois uma representante deste órgão se interessou
pelo projeto e o havia encaminhado para sua direção. Destes últimos citados, apenas o Museu da
Abolição firmou a parceria.
O Cineclube filiou-se à Federação Pernambucana de Cineclubes (FEPEC), que deu
suporte à nossa estrutura organizacional e na relação institucional com o Museu. Também
desenvolvemos nosso esquema de comunicação (plano de mídia e contrapartidas). Com tudo isso
sistematizado em um modelo de projeto comercial, entramos em contato com algumas
instituições em busca de apoio material, negociando a exposição dos parceiros nas peças de
mídia. Firmamos também parceria para o registro das atividades com o Centro de Comunicação e
8
Juventude do Recife (CCJ Recife), projeto que trabalha juventude e comunicação. Para impressão
do material gráfico, tivemos o apoio da Aliança Francesa.
Fechadas as parcerias, o semestre de 2012.2 dedicou-se a construção prática do Cineclube
Bamako. As atividades planejadas na etapa anterior foram realizadas com poucas alterações.
Pudemos constatar a variedade de público apontada pela pesquisa, desta vez de maneira prática e
de acordo com variáveis como horários, espaços de exibição e tipos de filme. Tivemos uma ótima
recepção em relação ao público e divulgação em diversas mídias. O Bamako de fato mostrou-se
como um espaço até então inédito no Grande Recife e despertou interesse sobre a discussão das
relações entre audiovisual, cultura negra e educação. A seguir um balanço mais detalhado de
nossas atividades por área.
PROGRAMAÇÃO
Cumprimos boa parte da programação de acordo com o planejado no projeto. Felizmente
conseguimos manter a maioria das datas e seguir à risca os horários. Apenas duas sessões foram
canceladas, mas em compensação fizemos várias exibições a mais, e em locais diferentes dos
espaços principais, o Museu da Abolição (Rua Benfica, 1150 – Madalena, Recife – PE) e a
Aliança Francesa (Rua Amaro Bezerra, 466 – Derby, Recife – PE). Em relação aos horários,
começamos exatamente às 19h e apenas 3 sessões tiveram atraso. Até o primeiro trimestre (julho
a setembro/2012) a programação se manteve sem alterações, o que foi bastante importante para a
equipe sentir o ritmo. Percebemos que três sessões ao mês eram difíceis de administrar (com
outros trabalhos a realizar e sem grandes recursos). Contudo, como já tínhamos fechado as
negociações, mantivemos o acordo, fazendo até mais do que o planejado, no segundo trimestre
(outubro a dezembro/2012).
No segundo trimestre fomos ficando mais habituados com o ritmo, o que nos permitiu
ousar um pouco mais, principalmente por conta de uma proposta da FEPEC. A essa altura o
nosso envolvimento com a entidade foi se fortalecendo e o Bamako foi convidado a organizar as
9
sessões do projeto cineCabeça2
do mês de novembro. Aceitamos, vendo a possibilidade de somar
ideias que já tínhamos sobre uma programação especial para o mês da consciência negra, o que
foi uma experiência muito enriquecedora. Pudemos experimentar outro espaço (Teatro Arraial,
Rua da Aurora, Centro do Recife), outra dinâmica, outros tipos de filme e uma projeção ainda
maior na cidade.
Em novembro fizemos nove sessões, em comemoração ao mês da consciência negra. Com
isso pudemos oferecer uma programação diferenciada. Pela primeira vez inserimos um filme de
gênero comercial. Com a temática da capoeira, Besouro (2009) levou a um debate interessante
sobre formas de representação cultural. Também fizemos um encontro de realizadores
pernambucanos que trabalham com cultura negra. Foi outro debate muito bonito, principalmente
pelo recorte pessoal que os realizadores trouxeram em relação às suas obras. Outra sessão
pedagógica (direcionada a educadores) foi realizada com mediação da própria equipe do Bamako.
E com o filme Pierre Verger – Mensageiro Entre Dois Mundos (1998) tivemos um dos debates
mais bonitos, mediado por Elvio Luiz, fotógrafo com grande experiência em trabalhos com
religiões de matriz africana.
Além das quatro sessões do cineCabeça, fizemos as três sessões nos espaços habituais e
também sessões extra em espaços culturais como o Bar e Restaurante Xinxin da Baiana, em
Olinda, e na sede do Afoxé Omô Nilé Ogunjá, no bairro do Ibura, Recife. No entanto, talvez por
conta da agitada programação do mês da consciência negra (e por ser véspera de feriado
prolongado) a sessão do dia 14/11, com o filme La Noire de... (1966), foi cancelada por falta de
público. A mesma sessão, com a mesma debatedora, foi realizada novamente no evento Fórum
Pontes de Cultura da UFPE, que aconteceu no mês de dezembro, com público do evento e debate
bastante participativo. Além desta sessão, também foi cancelada por conta da relação com o
Museu da Abolição (que será mais bem detalhada no tópico sobre parceiros) a sessão do dia
08/12, do filme Fela Kuti – A Música é a Arma (1982), que seria ao ar livre.
2
O Projeto CineCabeça, promovido pela Secretaria de Educação de Pernambuco, com apoio da Secult/Fundarpe,
gestão Centro de Atitudes e CinEscola, visa promover o diálogo entre o audiovisual e a prática pedagógica. Tem
como uma das suas linhas de atuação a ação cineclubista em parceria com a FEPEC com sessões cineclubistas em
equipamentos culturais do Estado, realizadas por cineclubes filiados à Federação e oficinas de formação cineclubista
em escolas publicas estaduais.
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Em relação ao projeto inicial, pensado apenas para o Museu, seriam duas sessões mensais.
Com o interesse da Aliança Francesa, incluímos mais uma sessão no mês, com filmes de países
francófonos. A partir desta inclusão, vimos que os filmes francófonos eram a grande maioria,
então resolvemos substituir alguns desses filmes por obras lusófonas e da África Saariana, o
árabe como idioma principal, junto ao francês. Para criar um diferencial nas sessões da Aliança,
inicialmente (primeiro trimestre) fizemos exibições de filmes de curta e média metragem, de
épocas diferentes, para instigar a reflexão sobre as semelhanças e diferenças estéticas e
ideológicas entre os filmes.
A programação contava com três tipos de sessão: As sessões comuns; sessões
pedagógicas e sessões especiais. Ao todo as sessões realizadas em 2012 foram as seguintes:
JULHO
Museu da Abolição:
11/07 - BAMAKO (Bamako, 2006) Direção: Abderrahmane Sissako / Gênero: Drama / Origem:
Mali, Estados Unidos, França / Duração: 115 minutos.
25/07 - NA CIDADE VAZIA (Na Cidade Vazia, 2004) Direção: Maria João Ganga / Gênero:
Drama / Origem: Angola, Portugal / Duração: 90 minutos.
Aliança Francesa:
12/07 - E NÃO HAVIA MAIS NEVE (Et La Neige n’Était Plus, 1965) Direção: Ababacar Samb-
Makharam / Gênero: Drama / Origem: Senegal, França / Duração: 22 minutos.
11
12/07 - EXPECTATIONS (Expectations, 2008) Direção: Mahamat-Saleh Haroun / Gênero:
Drama / Origem: Chade / Duração: 30 minutos.
AGOSTO
Museu da Abolição:
08/08 - A BATALHA DE ARGEL (La Battaglia di Algeri, 1965) Direção: Gillo Pontecorvo /
Gênero: Drama, Guerra / Origem: Argélia, Itália / Duração: 121 minutos.
22/08 - QUANTO VALE OU É POR QUILO? (Quanto Vale ou é Por Quilo?, 2005) Direção:
Sérgio Bianchi / Gênero: Drama / Origem: Brasil / Duração: 104 minutos.
Aliança Francesa:
09/08 - CONTRAS’ CITY (Contras’ City, 1969) Direção: Djibril Diop Mambéty / Gênero:
Documentário, Ficção / Origem: Senegal / Duração: 21 minutos.
09/08 - O ALFABETO DE MINHA MÃE (L’Alphabet de Ma Mère, 2008) Direção: Nacer
Khemir / Gênero: Drama / Origem: Tunísia / Duração: 30 minutos.
SETEMBRO
Museu da Abolição:
09/09 - FORA DA LEI (Hors La Loi, 2010) Direção: Rachid Bouchareb / Gênero: Drama,
Policial / Origem: França, Argélia, Bélgica / Duração: 138 minutos.
15/09 - ROCKERS (Rockers - It’s Dangerous, 1978) Direção: Theodorus Bafaloukos / Gênero:
Comédia, Drama, Musical / Origem: Jamaica / Duração: 100 minutos.
Aliança Francesa:
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13/09 – A PEQUENA VENDEDORA DE SOLEIL (La Petite Vendeuse de Soleil, 1999)
Direção: Djibril Diop Mambéty / Gênero: Drama / Origem: Senegal, França, Suíça, Alemanha /
Duração: 45 minutos.
OUTUBRO
Museu da Abolição:
17/10 – NHA FALA (Nha Fala, 2002) Direção: Flora Gomes / Gênero: Musical, Comédia /
Origem: Portugal, França, Luxemburgo, Guiné-Bissau, Cabo Verde / Duração: 110 minutos.
31/10 – TERRA SONÂMBULA (Terra Sonâmbula, 2001) Direção: Teresa Prata / Gênero:
Drama / Origem: Moçambique / Duração: 96 minutos.
Aliança Francesa:
11/10 – KIRIKOU E OS ANIMAIS SELVAGENS (Kirikou et les Bêtes Sauvages, 2005)
Direção: Michel Ocelot / Gênero: Animação / Origem: França / Duração: 75 minutos.
NOVEMBRO
Museu da Abolição:
14/11 – A NEGRA DE... (La Noire de..., 1966) Direção: Ousmane Sembène / Gênero: Drama /
Origem: Senegal / Duração: 65 minutos.
21/11 – BARRAVENTO (Barravento, 1962) Direção: Glauber Rocha / Gênero: Drama / Origem:
Brasil / Duração: 78 minutos.
Aliança Francesa:
13
08/11 – EU, UM NEGRO (Moi, un Noir, 1959) Direção: Jean Rouch / Gênero: Documentário /
Origem: França / Duração: 73 minutos.
cineCabeça:
05/11 – BESOURO (Besouro, 2005) Direção: João Daniel Thikomiroff / Gênero: Ação, Aventura
/ Origem: Brasil / Duração: 95 minutos.
12/11 – PIERRE VERGER – MENSAGEIRO ENTRE DOIS MUNDOS (Pierre Verger –
Mensageiro Entre Dois Mundos, 1998) Direção: Lula Buarque de Holanda / Gênero:
Documentário / Origem: Brasil / Duração: 84 minutos.
19/11 – ENCONTRO COM REALIZADORES:
A IGREJA EVANGÉLICA E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA (2010) Direção: Willamy
Tenório / Gênero: Documentário / Origem: Brasil / Duração: 20 minutos;
HISTÓRIAS DO LADO DE LÁ (2004) Direção: Tila Chitunda, Juliana Araújo / Gênero:
Documentário / Origem: Brasil / Duração: 29 minutos.
26/11 – SESSÃO PEDAGÓGICA (RACISMO NA ESCOLA) - Vídeos Publicitários, Vista
Minha Pele (Joel Zito Araújo), Cores e Botas (Juliana Vicente)
Direção: Vários / Gênero: Propaganda, Campanha de Publicidade, Ficção / Origem: Vários /
Duração: 20 minutos / Facilitadora: Fabiana Maria (Coordenadora Pedagógica – Cineclube
Bamako).
Outros espaços:
24/11 – Sede do Afoxé Omô Nilé Ogunjá (Rua Concongi, 155 - Ibura, Recife-PE)
MALUNGUINHO (2012) Direção: Felipe Peres Calheiros / Gênero: Documentário / Origem:
Brasil / Duração: 48 minutos;
Curta IKOMÓJADÈ
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29/11 – SESSÃO EM PARCERIA COM O COLETIVO CABELAÇO (vários curtas em
celebração ao mês da consciência negra) / Bar e Restaurante Xinxin da Baiana (Av. Sigismundo
Gonçalves, 742 Olinda – PE).
DEZEMBRO
Fórum Pontes de Cultura (Auditório Manuel Correia de Andrade, 3º Andar (CFCH/UFPE):
05/12 – A NEGRA DE... (La Noire de..., 1966) Direção: Ousmane Sembène / Gênero: Drama /
Origem: Senegal / Duração: 65 minutos.
Aliança Francesa:
13/12 – KADIAMOR (Kadiamor, L’Entente, 2012) Direção: Renata Azambuja / Gênero:
Documentário / Origem: França, Senegal / Duração: 73 minutos
TotoArtdRua 2012 (Rua do Manduzinho, Totó):
19/12 – UMA ONDA NO AR (2002) Direção: Helvécio Ratton / Gênero: Drama / Origem: Brasil
/ Duração: 92 minutos
Procuramos fazer uma programação variada em relação às nacionalidades e idiomas dos
filmes, dispúnhamos de mais filmes francófonos, seguidos (em número) de filmes lusófonos,
bilíngues e um anglófono. De acordo com a pesquisa de público realizada para o projeto na
disciplina de Economia da Cultura, as respostas davam preferência a filmes de arte,
documentários, e do gênero drama. Priorizamos os dados desta pesquisa na escolha das obras,
porém, mesmo assim, procuramos fazer uma programação diversificada (como detalharemos no
tópico sobre as sessões) no intuito de experimentar como seria a resposta do público.
15
A grande maioria dos filmes da programação entrou porque já eram filmes por mim
conhecidos e que eu já dispunha de cópias (até então o conhecimento da equipe em relação a
filmes africanos era limitado). No momento da definição dos títulos que seriam exibidos eu não
tinha muito tempo para assistir filmes, por conta de trabalho e estudo. Por mais que tivesse outras
opções, preferi incluir o que já era conhecido, para não arriscar demais. De lá para cá fomos
assistindo outros, que pudemos incluir no segundo trimestre. Como esse material é bastante
difícil de chegar ao Brasil em cópias originais, recorri ao meu acervo. A maioria dos filmes
africanos foi obtida via download da internet ou copiados de outras pessoas. No momento
estamos viabilizando com os parceiros a busca de contatos com produtores e realizadores do
continente africano ou a ele ligados, para a obtenção de cópias e direitos de exibição.
No decorrer da temporada o Cineclube Bamako foi conseguindo cópias de filmes de
diversas fontes: Recebemos DVD’s de produtoras interessadas na exibição de seus produtos,
como no caso do filme O Céu Sobre os Ombros (2011), do diretor Sérgio Borges (produtora
Teia). Também a partir do contato com a FEPEC, conseguimos títulos como o pernambucano A
Vida Plural de Layka (2012), do realizador Neco Tabosa, entre outros. A partir do contato com a
Cooperação Internacional da UFPE, conseguimos alguns vídeos em DVD, filmes de curta
metragem e séries. Produções moçambicanas, que planejamos incluir na temporada 2013.
Ao todo foram exibidas nove produções francófonas, filmes franceses inclusos; dez
lusófonas (entre elas, produções brasileiras); Entre as bilíngues tivemos: três de idiomas francês e
árabe; um de idiomas francês e crioulo bissau-guineense; um anglófono e crioulo jamaicano,
parceria Jamaica / EUA; e uma produção brasileira em idiomas português e francês. Mesmo com
a presença majoritária da língua francesa, esta ainda seria maior se no segundo trimestre não
decidíssemos por substituir alguns francófonos árabes (em cujas sessões não tivemos muito
público) por filmes de países africanos de língua portuguesa, que geralmente chamavam um bom
número de espectadores, principalmente estudantes universitários africanos, que geralmente
vinham em grupo. Para 2013 pretendemos ter um foco maior nesse público. Logo abaixo, a lista
de filmes exibidos por idioma falado:
MUSEU DA ABOLIÇÃO
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FILME IDIOMAS
Bamako Francês
Na Cidade Vazia Português
A Batalha de Argel Francês / Árabe
Quanto Vale ou é Por Quilo? Português
Fora da Lei Francês / Árabe
Rockers Inglês / Crioulo Jamaicano (Patois)
Nha Fala Francês / Crioulo Bissau-guineense
Terra Sonâmbula Português
A Negra de... Francês
Barravento Português
ALIANÇA FRANCESA
FILME IDIOMAS
E Não Havia Mais Neve Francês
Expectations Francês
Contras’ City Francês
O Alfabeto de Minha Mãe Francês / Árabe
A Pequena Vendedora de Soleil Francês
Kirikou e Os Animais Selvagens Francês / Dublado em Português
Eu, Um Negro Francês
Kadiamor Francês
PROJETO CINECABEÇA
FILMES IDIOMAS
17
Besouro Português
Pierre Verger - Mensageiro Entre Dois
Mundos
Português / Francês
Encontro Realizadores - A Igreja
Evangélica e A Cultura Afro Brasileira /
Histórias do Lado de Lá
Português / Português
Sessão Pedagógica Vários
OUTROS ESPAÇOS
FILMES IDIOMAS
Malunguinho / Ikomójadè - Sede Omô Nilé
Ogunjá
Português / Português
Curtas - Cabelaço / Xinxin da Baiana Português
A Negra de... - Fórum Pontes de Cultura Francês
Uma Onda no Ar - TotoArtdRua Português
SESSÕES
As sessões do Cineclube Bamako experimentaram situações diversas, em sua maioria
positivas. A sessão de estreia, com o filme que dá nome ao cineclube, levou mais de 80 pessoas
ao auditório do Museu da Abolição (ver imagens e ata nos anexos). Foi um acontecimento que
realmente despertou a curiosidade do público, que aos poucos foi chegando e lotando o espaço.
Com o filme e o debate, muitas pessoas se manifestaram. De militantes a acadêmicos, estudantes
brasileiros e africanos, várias pessoas falaram com entusiasmo sobre a iniciativa.
Com outras sessões fomos percebendo certos recortes de público de acordo com o tipo de
filme. Filmes africanos de língua portuguesa chamaram atenção de estudantes universitários
africanos, principalmente. Alguns filmes de idioma francês trouxeram um público com interesse
18
mais ligados à estética cinematográfica e estudos acadêmicos. Os filmes brasileiros e a sessão
pedagógica (direcionada a alunos de EJA, imagens nos anexos), por sua vez, foram presenciados
por jovens estudantes brasileiros, professores, educadores e pessoas ligadas ao movimento negro.
Sentimos falta de uma maior presença de pessoas ligadas às religiões de matriz africana (para
2013 faremos sessões itinerantes em terreiros e comunidades, visando chegar a esse público). Os
filmes com temáticas ligadas à África Saariana foram os que menos atraíram público.
No geral tivemos maior presença de público no Museu da Abolição do que na Aliança
Francesa. Talvez pelo horário de pico (19h, no Derby, área central) a Aliança tenha sido
prejudicada. Também percebemos que neste espaço a presença maior era do público ligado ao
universo acadêmico, professores e estudantes. No entanto, tivemos lá uma ótima experiência com
a sessão especial de dia das crianças, com o filme Kirikou e Os Animais Selvagens (2005), com
público e dinâmicas educativas muito agradáveis, o que nos levou a repensar bastante as
estratégias nesse espaço (imagens nos anexos).
Em relação aos debatedores também buscamos experimentar bastante. Professores
universitários, militantes do movimento negro, representantes de coletivos e entidades políticas,
artistas, realizadores. Destacamos a presença do fotógrafo Elvio Luiz na sessão com o filme sobre
Pierre Verger. Muito carisma e a relação que traçou entre religiosidade, representação a partir da
fotografia e a própria referência que o etnógrafo francês é para o trabalho dele foram pontos
fortes que envolveram o público no debate.
Também o Encontro de Realizadores com a presença de Tila Chitunda e Willamy Tenório
levaram a debates marcantes por conta da relação pessoal dos convidados com as temáticas
(identidade e religião, respectivamente) e os olhares destes na construção dos filmes foi algo que
convidou os espectadores a debater. Naturalmente as pessoas iam participando, cada vez mais
interessados (fotografias nos anexos).
Tivemos também a presença do roteirista e realizador Hilton Lacerda que falou um pouco
sobre a construção narrativa e de mise-en-scène do filme La Petite Vendeuse de Soleil (1999). Foi
outro debate onde houve bastante participação do público, provavelmente também pelo fato de
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ser um cineasta conhecido e que na época estava lançando seu primeiro longa-metragem como
diretor (ver anexos).
Observamos que os debates fluíam melhor quando o público não era tão grande. Nas
sessões com cerca de 20 pessoas, os espectadores ficavam mais à vontade para se expressar.
Ocorria que nas sessões com maior público havia mais “falas” individuais, não tanto “opiniões”
interativas sobre os filmes.
A seguir, breves relatos de cada sessão:
Sessão 01 – 11/07 (Museu da Abolição) - BAMAKO (Bamako, 2006) Direção: Abderrahmane
Sissako / Debatedor: Paulo Cunha (Professor UFPE).
Inauguramos o cineclube no mês de julho no Museu da Abolição com o filme Bamako, de
Abderrahmane Sissako, uma coprodução Mali /EUA/ França. Um filme de ficção marcadamente
político, que apresenta uma mistura poética/realista entre possibilidades de representação
documental e de fabulação sobre temas como globalização, exílio, e o contraste social no
continente africano, herdado das diversas fases do sistema capitalista. Embora as dúvidas da
equipe quanto à presença de público (visto que são produções muito difíceis de aparecer no
Brasil), felizmente conseguimos lotar o auditório do Museu da Abolição.
Mais de 80 pessoas estiveram presentes, estudantes, cinéfilos, brasileiros, africanos,
militantes, representantes de instituições, acadêmicos. A diversidade de público esperada no
projeto foi contemplada logo nesta primeira exibição. A sessão fluiu de modo bastante positivo,
embora tenha acontecido um problema técnico: O software utilizado para reprodução do filme em
certo momento deixou de exibir as legendas. Mas tudo foi naturalmente contornado, em poucos
segundos, o próprio programa voltou a ler as legendas.
Após o filme, convidamos o público a continuar na sessão para o debate mediado por
Paulo Cunha, doutor em Artes e Ciências da Arte pela Universidade de Paris I - Panthéon-
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Sorbonne e professor do Bacharelado de Cinema e Audiovisual da UFPE. Paulo falou da
importância do cineclubismo de maneira geral, de um cineclube sobre cinemas africanos,
especificamente, passando em seguida a tecer comentários sobre a proposta estética do filme e as
relações entre documentário, ficção e realidade além de representação no cinema. Também sobre
a trajetória pessoal e profissional do diretor, traçando pontes com as escolhas estilísticas adotadas
para o filme. E dos momentos de olhar poético de Sissako mesmo diante da condução
“documental”, um traço das cinematografias contemporâneas no mundo, e da ideia de
interterritorialidade na sua temática.
Após a fala do debatedor, foi aberto o debate para o público, que parabenizou a proposta
do cineclube: Militantes do movimento negro, estudantes de áreas diversas, até mesmo jovens da
Guiné-Bissau comentaram, impressionados com a força do filme que dá nome ao cineclube e a
possibilidade de quebra dos clichês que geralmente rodeiam a ideia comum que se tem sobre
África.
Sessão 02 – 12/07(Aliança Francesa) - E NÃO HAVIA MAIS NEVE (Et La Neige n’Était Plus,
1965) Direção: Ababacar Samb-Makharam / EXPECTATIONS (Expectations, 2008) Direção:
Mahamat-Saleh Haroun / Debatedor: Bruno Monteiro (Artista Plástico, Estudioso da Cultura
Negra
Na segunda sessão, primeira na Aliança Francesa, exibimos dois filmes de curta
metragem, francófonos. O primeiro, dos anos 1960, apresentou o choque cultural de um estudante
senegalês recém-chegado da França. A partir de sua história (personagem coletivo), um dos
principais dilemas do pós-colonialismo, a necessidade da época de uma consciência individual e
coletiva do intelectual africano sobre o retorno às suas origens. Já o segundo, Expectations,
trouxe marcas estéticas (ambientes sonoros silenciosos, tempos mortos, metáforas) e ideológicas
da contemporaneidade: o olhar sobre o drama individual, o medo de uma travessia, não se sabe
de onde, nem para onde.
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O debatedor Bruno Monteiro, artista visual e estudioso de culturas africanas, fez conexões
históricas e do ponto de vista filosófico religioso (do pensamento africano) comparando as duas
propostas existenciais do filme, a partir de seus personagens principais. Fez referências à história
anterior às colonizações, à espiritualidade, presente principalmente no primeiro filme, e as
realidades políticas e sociais dos anos 1960 e da atualidade. Talvez por termos um público menor
do que a sessão anterior (cerca de dezesseis pessoas) a participação dos debatedores foi mais
intensa e a discussão foi seguindo diversos caminhos, desde o cultural, passando pela história, a
militância política nos dias de hoje, até as estéticas cinematográficas das duas produções.
Sessão 03 – 25/07 (Museu da Abolição) – NA CIDADE VAZIA (Na Cidade Vazia, 2006)
Direção: Maria João Ganga / Debatedora: Ceiça Axé (Militante Movimento Negro, Mestre em
Educação - UFPB).
Terceira sessão, segunda no Museu. Tivemos outra uma vez boa presença de público,
mais de 50 pessoas vieram prestigiar o Bamako. Exibimos o filme Na Cidade Vazia, de Maria
João Ganga, pontualmente às 19h. Esta sessão foi um pouco tensa, por motivos técnicos: No
meio da exibição, ocorreu um defeito de mau contato do projetor com o notebook que estava
reproduzindo o filme. Tentamos resolver o mais rápido possível. Tínhamos outro notebook e por
volta de 10 minutos após o início do problema conseguimos contorná-lo.
A exibição continuou normalmente, nenhum dos presentes deixou o auditório. Após o
filme, convidamos a debatedora Ceiça Axé, para falar sobre o filme. Ela, que além de ser
militante do movimento negro é mestre em educação pela UFPB, comentou sobre a questão da
guerra civil em Angola e a presença dos angolanos em PE, além de outros temas relacionados à
cultura negra e à militância.
Mais uma vez tivemos uma boa participação do público, que comentou bastante, diversas
opiniões e pontos de vista e cumprimentou a equipe pelo trabalho. Como a data era
comemorativa do dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, fizemos uma exibição
extra de um vídeo que estreou no mesmo dia, tratando desta temática.
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Sessão 04 – 08/08 (Museu da Abolição) – A BATALHA DE ARGEL (La Battaglia di Algeri,
1965) Direção: Gillo Pontecorvo / Debatedores: Revocultura (coletivo político-cultural).
O mês de agosto iniciou com uma proposta diferente. Além de exibirmos um filme da
chamada África branca, o argelino A Batalha de Argel, convidamos um grupo de intervenções
políticas e culturais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com quem
havíamos entrado em contato na época da pesquisa de público para o Cineclube Bamako. Esta
produção de 1966 é a obra prima do diretor italiano Gillo Pontecorvo e apresenta um panorama
dos conflitos que levaram à independência da Argélia do domínio francês a partir da sua capital
Argel. A ficção foi um dos primeiros experimentos de mistura com a linguagem documental, no
intuito de reforçar a ideia de realismo.
Foi uma das primeiras sessões que iniciou com poucas pessoas, outras foram chegando no
decorrer do filme. Tivemos uma média de 10 pessoas presentes. Ocorreu tudo bem desta vez, nas
outras tivemos problemas técnicos. Ao final, convidamos os representantes do Revocultura, Luís
e Diego, estudantes de Ciências Sociais da UFRPE (imagem nos anexos), que trouxeram um
recorte mais ligado às questões políticas da época, que eram bastante tensas. Após estes
comentários, traçaram um comparativo com as lutas políticas dos dias de hoje, refletindo sobre o
porquê da juventude não ter tanto envolvimento nas questões político-sociais. Abrindo a palavra
para o público, começamos a discutir esta reflexão, o que levou a uma conversa sobre as
principais movimentações populares no Grande Recife, como as greves de estudantes, greve de
policiais e a cultura de criminalização dos jovens negros na nossa sociedade.
Sessão 05 – 09/08 (Aliança Francesa) – CONTRAS’ CITY (Contras’ City, 1969) Direção: Djibril
Diop Mambéty / O ALFABETO DE MINHA MÃE (L’Alphabet de Ma Mère, 2008) Direção:
Nacer Khemir / Debatedor: Paulo Marcondes (Prof. Ciências Sociais UFPE, grupo de estudos
Sociologia do Cinema)
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Nossa segunda sessão na Aliança Francesa trouxe dois filmes de curta metragem que,
assim como os da sessão anterior no mesmo espaço, eram de épocas e construções estéticas
bastante diferentes. No entanto o que estes tinham em comum era o caráter experimental. O
primeiro, Contras’ City, trazia uma elaboração formal bastante ousada para a época, um
documentário que apresenta a cidade de Dakar, Senegal, de modo inusitado a partir dos diálogos
de um casal, ele senegalês, ela francesa. Os personagens não chegam a aparecer visualmente, mas
é a partir de seus comentários que se nota o contraste de visões de mundo e sobre os aspectos
físicos e culturais da cidade.
Já o segundo trata de uma experimentação ficcional, porém no plano da narrativa. O
Alfabeto de Minha Mãe é protagonizado pelo próprio diretor do filme (Nacer Khemir, enquanto
outro personagem, também diretor de cinema), um cineasta que escreve sobre as histórias que sua
mãe contava. Ele, que vive em Paris, preocupa-se mais com sua carreira, do que em atender ao
pedido de sua mãe para visitá-la, na Argélia. Os dois filmes tratando das proximidades entre
realidade e ficção. Após a exibição apresentamos nosso convidado.
O professor Paulo Marcondes (ver anexos) fez uma abordagem comparativa entre os dois
filmes, tocando em pontos como a influência do colonialismo, óbvio na proposta do primeiro,
sutil na do segundo; focou a ideia da cidade de contrastes, bastante comum em países do dito
terceiro mundo, onde nota-se com mais clareza o convívio entre pobreza extrema e a ideia de
desenvolvimento levada em conta por parâmetros europeus. A partir daí falou também sobre a
busca da identidade cultural em um mundo cada vez mais globalizado, onde as raízes de um
indivíduo podem se perder em um grande vazio, como o deserto apresentado em uma cena do
segundo filme. Tivemos um debate mais moderado que o anterior, porém mais aprofundado nos
focos conduzidos pelo debatedor.
Sessão 06 – 22/08 (Museu da Abolição) – Sessão Pedagógica QUANTO VALE OU É POR
QUILO? (2005) Direção: Sérgio Bianchi / Facilitadores: Equipe Cineclube Bamako).
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Esta sessão foi nossa primeira atividade essencialmente pedagógica. Marcada para as 18h
por conta dos horários da escola, devido a um atraso do ônibus que traziam os alunos convidados,
acabou começando no horário normal, às 19h. Em consideração às pessoas que chegaram às 18h,
exibimos alguns curtas antes da sessão principal: Tanza (2005), do argelino Mehdi Charef, Axé
do Acarajé (2007), do baiano Pola Ribeiro e Maracatu, Maracatus (1995) do pernambucano
Marcelo Gomes.
Escolhemos um filme de longa metragem bastante conhecido e que traz uma série de
reflexões sobre a condição dos negros e pobres no Brasil. Quanto Vale ou é Por Quilo?, dirigido
por Sérgio Bianchi, faz uma comparação direta entre o comércio de escravos no nosso passado
colonial com a exploração comercial da miséria nos dias de hoje, e as diversas consequências
desta lógica de mercado entre ONGs e empresas. Um filme bastante polêmico e que provocou
opiniões diversas entre o público. Convidamos professores e alunos de EJA (Educação de Jovens
e Adultos) da Escola Municipal Arraial Novo do Bom Jesus, localizada no bairro do Torrões,
Recife. Os estudantes em sua maioria eram adultos na faixa dos 35 a 70 anos.
Ao invés do debate, propomos uma dinâmica de gravação das opiniões sobre o filme a
partir do uso de câmeras de telefones celulares (ver anexos). Inicialmente os educandos ficaram
acanhados em participar utilizando os aparelhos e falando, mas após alguns instantes e com o
incentivo da equipe de educadores do cineclube e da escola foram começando a se manifestar.
Houve opiniões bastante diversas sobre o filme. Uns não aprovaram a violência com que eram
apresentadas algumas das cenas, outros enxergaram o lado político da abordagem. Geralmente
dividiam-se as opiniões entre aqueles que se manifestavam, uns apoiavam a proposta do filme,
outros não. Um dos educandos, senhor de idade avançada, fez um longo discurso sobre a política
na história do país, que foi bastante aplaudido pelos colegas.
Sessão 07 – 05/09 (Museu da Abolição) – FORA DA LEI (Hors La loi, 2010) Direção: Rachid
Bouchareb / Debatedores: Núcleo de Combate às Opressões – Faculdade Direito UFPE).
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Mais uma sessão sobre a África árabe. Iniciamos setembro com um filme que dialoga
diretamente com A Batalha de Argel, exibido no mês anterior. O longa Fora da Lei, de Rachid
Bouchareb, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, fala da mesma temática do
filme de Pontecorvo: a guerra de independência da nação argelina. Bouchareb apresenta a série
de conflitos do ponto de vista de três irmãos bastante diferentes entre si, mas que têm em comum
o amor pela mãe e o respeito às suas origens.
Procuramos traçar um comparativo entre as duas visões, de diferentes épocas, mas sobre o
mesmo tema, ao incluí-lo na programação. Desta vez convidamos estudantes de direito Ítalo
Lopes, Gabriela Pires e Nathalya Costa, do Núcleo de Combate às opressões da Faculdade de
Direito da UFPE. Sua contribuição para o debate envolveu uma ligação entre os acontecimentos,
personagens e relações que o filme sugeria com diversos tipos de opressão, seja contra a mulher,
contra o negro ou contra as classes menos favorecidas na estrutura social do capitalismo
contemporâneo.
Fizeram diversas citações a partir de trechos de livros e referências pessoais e abriram
uma roda de diálogo para o debate (ver anexo), que teve grande contribuição dos demais
espectadores, tal como uma conversa descontraída. Alguns que até boa parte do debate tinham
permanecido calados se animaram a falar. O debate foi bastante rico e fluiu naturalmente, até ter
que ser interrompido por conta do limite de horário da sessão.
Sessão 08 – 13/09 (Aliança Francesa) – A PEQUENA VENDEDORA DE SOLEIL (La Petite
Vendeuse de Soleil, 1999) Direção: Djibril Diop Mambéty / Debatedor: Hilton Lacerda
(realizador).
Nossa oitava sessão (terceira na Aliança), fechava o trimestre de curtas e médias-
metragens francófonos com o belo média A Pequena Vendedora de Soleil, de Djibril Diop
Mambéty. Um filme bastante diferente do que foi exibido na sessão anterior, Contras’ City,
apresenta um diretor que, trinta anos depois, parece buscar uma narrativa mais focada no drama
pessoal. A aparentemente frágil protagonista, uma garota portadora de deficiência nas pernas,
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mostra-se bastante determinada a mudar sua condição de vida e sai em busca de trabalho como
vendedora de jornal, profissão onde predominam os garotos.
Em meio a diversas dificuldades por ser menina e por sua deficiência, a garota vai
superando os obstáculos que encontra, conseguindo o dinheiro para ajudar a avó doente, livrando
a si mesma e a uma outra mulher da injustiça policial e ainda assim arranjando tempo para se
divertir e mesmo encontrar um possível namorado. Mambéty embora aparentando um
afastamento da crítica social, reforça sua militância ao mostrar uma personagem que em meio a
tanta dificuldade encara a vida com otimismo e dignidade.
Após o filme, bastante elogiado pelos presentes, chamamos o convidado Hilton Lacerda.
O roteirista / diretor estava no Recife para lançar seu filme de estreia em longa metragem de
ficção e também como homenageado da Mostra Play The Movie. Ainda assim aceitou o convite
para debate no Cineclube Bamako. Iniciou sua fala parabenizando a equipe pela iniciativa de dar
espaço a cinematografias africanas e passou a falar da construção estilística do filme. Falou
bastante sobre o aprofundamento do caráter da protagonista, enfrentando o machismo, superando
as dificuldades; a importância do olhar social no cinema. Falou também de diversas tendências
narrativas contemporâneas que pôde observar no filme como as elipses e a presença de outras
narrativas dentro da narrativa principal do filme. Em seguida abriu para o debate.
Os espectadores inicialmente comentaram o filme, mas logo as falas foram caminhando
para a trajetória de Hilton como cineasta. Ele falou de diversos aspectos de sua carreira em
resposta às perguntas dos espectadores, principalmente de um senhor que declarou ser escritor e
aparentava bastante entusiasmo em falar. Fechamos o debate mais cedo, por conta do horário do
convidado, que ainda deveria ir para o Cinema São Luiz, onde seria homenageado.
Sessão 09 – 15/09 (Museu da Abolição) – ROCKERS (Rockers, It’s Dangerous, 1978) Direção:
Theodorus Bafaloukos / Atrações: Bandas Awupathwa e N’zambi.
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A primeira sessão especial que fizemos trouxe a música e a religião como temáticas
principais. Em um dia da semana, horário e local diferentes – sábado às 16h no estacionamento
do Museu da Abolição – tivemos um dia bastante trabalhoso, mas que felizmente deu certo e sem
prejuízos (como se comprovou no mês de novembro, com o apoio financeiro do cineCabeça). Em
meio às várias dificuldades para a realização de um evento musical ao ar livre, contamos com o
apoio de diversos amigos.
A única coisa que não saiu como planejado foi a ausência do DJ que iniciaria as
atividades. Ele simplesmente não compareceu, nem ao menos deu satisfações. No entanto no
horário de abertura ainda tinha poucas pessoas e ficamos em dúvida sobre a vinda do público,
pois ao mesmo tempo ocorriam outros eventos e o Museu não era um espaço muito conhecido.
Porém aos poucos as pessoas foram chegando e ficando à vontade no espaço arborizado do
estacionamento. Tivemos alguns problemas com a administração do museu, em relação ao
comércio dentro de suas dependências. Mas nada que não pôde ser conversado e resolvido (pelo
menos naquele momento).
Conforme planejado, iniciamos a exibição do filme Rockers, uma comédia musical com
diversos nomes do reggae e da cultura jamaicana. Como o telão era muito pequeno, para a
dimensão do espaço, pedimos ao público que ficasse mais perto. Felizmente a exibição fluiu
tranquilamente, embora o medo constante da chuva, que ameaçava cair. Ao fim do filme, o
público, que aumentava cada vez mais, aplaudiu e ficou à espera das atrações musicais.
Após um momento de som mecânico enquanto as bandas se preparavam, subiu ao palco a
banda Awupathwa, que tocou por volta de 40 minutos. Depois da apresentação, paramos um
pouco por conta do som descoberto, começava a cair algumas gotas de chuva. Felizmente foi um
momento passageiro e logo a banda principal, N’Zambi, subiu para fazer sua apresentação. Foi
uma ótima apresentação, mesmo com a banda incompleta, sem os instrumentistas de sopro (ver
anexo). O público gostou bastante e quando anunciamos o fim, por conta do horário com o
museu, pediram mais algumas músicas. A equipe falou com a administração do espaço, que
autorizou mais meia hora de apresentação da banda. Porém, bem no momento em que iria
continuar, a chuva começou a vir com mais força e tivemos que dar o evento por encerrado.
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Sessão 10 – 11/10 (Aliança Francesa) – KIRIKOU E OS ANIMAIS SELVAGENS (Kirikou et les
Bêtes Sauvages, 2005) Direção: Michel Ocelot / Facilitadores: Equipe Cineclube Bamako.
Começamos o segundo trimestre do Cineclube Bamako com uma programação especial.
Mais uma vez exploramos o caráter pedagógico do projeto, aproveitando a ocasião do dia das
crianças com a exibição do filme Kirikou e os Animais Selvagens, segundo filme do garoto
minúsculo e de bom coração que faz uso da inteligência para ajudar sua tribo. Foi uma sessão que
para a nossa surpresa trouxe um grande público de pais com seus filhos, tivemos uma média de
25 pessoas entre adultos e crianças.
Neste dia pela primeira vez não começamos pontualmente. Devido a problemas no
trânsito de nossa cidade a equipe teve um pouco de atraso, pouco mais de 20 minutos. No
entanto, o público foi bastante paciente. Ninguém deixou o auditório da Aliança Francesa. A
exibição aconteceu sem problemas e Kirikou encantou as crianças.
Após a sessão, as educadoras da equipe trouxeram alguns materiais, canetas coloridas,
lápis, papéis e sugeriram que os pequenos espectadores desenhassem o que acharam de mais
interessante no filme. As crianças tiveram a opção de escolher os quadros em pausa do vídeo. Em
seguida fizeram dinâmicas recreativas, que animaram bastante a criançada. Finalizamos a sessão
com o sorteio de uma cópia do filme para uma das espectadoras mirins.
Sessão 11 – 17/10 (Museu da Abolição) – NHA FALA (Nha Fala, 2002) Direção: Flora Gomes
Outubro foi um mês difícil. Na programação do Museu da Abolição incluímos dois filmes
de países africanos de língua portuguesa e dirigidos por mulheres. Embora neste primeiro, Nha
Fala, de Flora Gomes fala-se em francês e crioulo guineense. Experimentamos este musical
(gênero diferente do usual) que fala de uma antiga tradição da família de uma garota que gosta de
cantar, o que lhe é impedido por conta de uma maldição que passa de mãe para filha. Acredita-se
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que a garota morrerá se fizer isso. A jovem passa a morar na França, onde arruma um namorado
produtor musical, que pede para ela gravar. No entanto, sem o consentimento da protagonista, o
francês lança suas canções em CD.
Resultado: a garota volta para a Guiné-Bissau e prepara seu próprio funeral. Porém um
funeral em tom de alegria. Alegria que foi confirmada pelos africanos espectadores da sessão,
que mesmo sem debatedor para o filme, se manifestaram falando um pouco de sua cultura.
Tivemos dificuldades para conseguir um debatedor, devido a crises internas e pessoais da equipe
e também pelos preparativos para novembro. Porém neste período a própria equipe do cineclube
instigou o debate, a partir dos aspectos cinematográficos e culturais observados. Sendo assim, as
sessões foram continuando e o público continuou a vir.
Sessão 12 – 31/10 (Museu da Abolição) – TERRA SONÂMBULA (Terra Sonâmbula, 2001)
Direção: Teresa Prata.
Fechamos o mês de outubro com o filme Terra Sonâmbula, baseado no romance
homônimo do moçambicano Mia Couto. Para esta sessão tentamos contatar a professora
santomense Inocência Mata, da Universidade de Lisboa, que estava na UFPE como professora
visitante. Embora a boa vontade dela em querer participar, infelizmente sua agenda estava
bastante agitada por conta dos minicursos que ofereceu na UFPE, UFRPE e em faculdades no
Rio de Janeiro.
Interessante a coincidência de o próprio Mia Couto estar em um evento na UFPE na
semana em que foi exibido o filme. A partir de suas considerações sobre diversos aspectos
presentes na narrativa de seus livros, puxamos nós mesmos o debate sobre o filme, que tinha uma
autonomia narrativa bastante marcada em relação ao livro. Obviamente por serem linguagens
diferentes, mas a partir do evento pudemos perceber o quão ousada a diretora Teresa Prata foi na
releitura do livro em seu filme. Contamos com uma boa presença de público, os estudantes
africanos mais uma vez marcaram presença e a partir das considerações de outras pessoas que
foram ao evento com o autor do livro, o debate na nossa sessão foi bastante enriquecedor.
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Sessão 13 – 05/11 (Teatro Arraial) – BESOURO (Besouro, 2005) Direção: João Daniel
Thikomiroff / Debatedor: Joab Jó – Mestre de Capoeira.
No primeiro dia das sessões do Cineclube Bamako no cineCabeça tivemos a exibição do
filme Besouro, de João Daniel Tikhomiroff, cineasta baiano, e convidamos o mestre Joab Jó para
facilitar o debate cuja temática foi o universo da capoeira.
A sessão começou com atraso por conta do trânsito do Recife. A equipe do cineCabeça,
responsável pelo equipamento de projeção, ficou presa em um engarrafamento e chegou por volta
das 19h20.
Sendo assim, iniciamos a sessão às pressas. Como não pudemos testar as duas versões do
filme, exibimos uma versão com problemas no áudio. Ficou bastante nítido um ruído que
atrapalhava o entendimento dos diálogos e demais recursos sonoros do filme.
A equipe do Cineclube Bamako, subiu à cabine de projeção e foi regulando o áudio até
que o problema foi amenizado, embora não totalmente resolvido, pois optamos por não
interromper a exibição para colocar a outra versão do filme (que após um teste no fim da sessão
percebemos que tinha o áudio em perfeitas condições).
Finalizado o filme, logo convidamos o debatedor a fazer suas considerações. Joab
começou esquentando o debate ao trazer um ponto de vista bastante crítico em relação à forma
como a capoeira era representada pelo filme. Com isso, houve uma forte participação do público
nas falas, alguns defendiam a proposta do filme, outros criticavam incisivamente.
No entanto, a naturalidade da discussão foi bruscamente interrompida por uma
funcionária do Teatro Arraial, que simplesmente deu por fechada a sessão, sem ao menos
consultar a equipe do Cineclube Bamako.
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O pessoal do cineCabeça nos tinha avisado que deveríamos fechar a sessão, isso às 21h15.
Como já havíamos iniciado a sessão com atraso e o regulamento da ação cineclubista indicava
que poderíamos ficar até às 21h30, preferimos não abrir mão do nosso direito, previsto no acordo
do regulamento.
Com isso, a representante do Teatro Arraial achou por bem encerrar a sessão sem ao
menos se dirigir a qualquer dos representantes do Bamako, o que causou uma situação
desconfortável para a nossa equipe e para o público, que estava entretido no debate.
Sessão 14 – 08/11 (Aliança Francesa) – EU, UM NEGRO (Moi, Um Noir, 1958) Direção: Jean
Rouch / Debatedor: Renato Athias – Professor Antropologia Visual (UFPE).
Na nossa sessão mensal de novembro da Aliança Francesa escolhemos um filme de
grande importância histórica. Obra chave na construção da linguagem do documentário
contemporâneo, Eu, Um Negro tinha que estar na nossa programação. Como quase sempre, no
auditório da Aliança tudo aconteceu dentro dos conformes. Embora fosse no mês da consciência
negra, tivemos um público pequeno, menos de 10 pessoas (imagem no anexo).
Mesmo assim fizemos um debate bastante rico. O convidado para esta sessão foi o
professor do Departamento de Antropologia Visual da UFPE, Renato Athias. Ele ressaltou a
importância do filme a partir de dois enfoques: o da construção cinematográfica e do olhar
antropológico, embora tenha apresentado mais informações sobre o segundo. Falou também da
trajetória do diretor Jean Rouch que na época, poder-se-ia dizer que era um profissional
deslocado.
Enquanto os cineastas chamavam o que ele fazia de antropologia, os antropólogos
chamavam de cinema. Mesmo assim, foi uma mente que inovou ao aproximar duas áreas do
conhecimento até então distintas, introduzindo os meios audiovisuais como forma de registro
etnográfico, criando, além disso, uma nova relação com o que seria o “objeto” de estudo,
tornando-o também ator (literalmente), sujeito criador de sua própria representação. Desta vez o
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público teve uma participação menor, talvez pelo número reduzido, apenas algumas pessoas se
animaram a falar.
Sessão 15 – 12/11 (Teatro Arraial) – PIERRE VERGER – MENSAGEIRO ENTRE DOIS
MUNDOS (1998) Direção: Lula Buarque de Holanda / Debatedor: Elvio Luiz - Fotógrafo
No segundo dia das sessões do Cineclube Bamako no cineCabeça tivemos a exibição do
filme Pierre Fatumbi Verger – Mensageiro Entre Dois Mundos, de Lula Buarque de Hollanda, e
convidamos o fotógrafo Elvio Luiz para facilitar o debate, cuja temática foram as relações entre a
figura pública que dá nome ao filme, a religião, a fotografia e o registro etnográfico.
As equipes chegaram ao Teatro Arraial pontualmente às 18h, assim pudemos fazer os
testes de enquadramento de imagem e regulagem de som sem problemas. Desta vez a sessão
começou pontualmente às 19h.
Com essa exibição correu tudo bem e pudemos observar uma presença de público ainda
maior que a da primeira sessão, 25 a 30 pessoas presentes, fora as equipes de trabalho. Tudo bem
até que nos últimos minutos do filme, quase nos créditos, apareceu na tela uma mensagem de
baixa energia no computador que reproduzia o filme.
Um dos integrantes da equipe Bamako, responsável pela conexão entre os equipamentos
faltou à sessão sem nos informar. Tivemos que correr para a cabine de projeção para conectar o
carregador à tomada. Falamos com pessoas do público, que falaram que não foi algo grave, pois
já estava nos créditos finais da sessão.
Contornada a situação, convidamos o debatedor a fazer suas considerações. Elvio Luiz
começou apresentando um pouco da sua trajetória profissional, principalmente no que se referia
ao trabalho de registro de manifestações religiosas afro brasileiras. Com isso traçou uma ligação
com o filme mostrando como as referências da obra de Pierre Verger estavam presentes no seu
trabalho.
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O público se mostrou bastante interessado, principalmente pelo carisma do debatedor,
lançando perguntas relacionadas ao trabalho de Elvio com o candomblé e traçando relações com
a maneira que o protagonista do filme trabalhava.
Enquanto o debate ocorria, a equipe do Cineclube Bamako se reuniu com representantes
do cineCabeça e do Teatro Arraial para conversar sobre o ocorrido na sessão anterior. Foi uma
conversa calma, onde expusemos nossa insatisfação com o ocorrido, sobre o qual a pessoa do
Teatro expôs suas razões e firmamos um acordo de nos comunicarmos melhor, para que não
ocorressem novamente coisas daquele tipo. Embora o incidente da mensagem na tela, fechamos a
sessão tranquilamente. O público ficou bastante satisfeito com a sessão.
Sessão 16 – 14/11 (Museu da Abolição) – A NEGRA DE... (La Noire de... 1963) Direção:
Ousmane Sembéne / Debatedora: Ciani Sueli das Neves – professora de direito FOCCA.
Infelizmente esta sessão foi cancelada devido a ausência de público. Imaginamos que pelo
motivo de estarem acontecendo diversos eventos na cidade e por ser a véspera de um feriado
prolongado (15 de Novembro – Dia da Proclamação da República, uma quinta feira em 2012.).
Pela importância histórica e cultural do filme e por consideração ao compromisso de nossa
convidada, repetimos a sessão com a mesma debatedora no mês de dezembro.
Sessão 17 – 19/11 (Teatro Arraial) – ENCONTRO COM REALIZADORES: A IGREJA
EVANGÉLICA E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA (2010) Direção: Willamy Tenório /
HISTÓRIAS DO LADO DE LÁ (2004) Direção: Tila Chitunda, Juliana Araújo
No terceiro dia das sessões do Cineclube Bamako no cineCabeça, tivemos um encontro de
realizadores que trabalham temas relacionados à cultura negra a partir do audiovisual. Foram
exibidos os filmes A Igreja Evangélica e A Cultura Afrobrasileira, de Willamy Tenório, e
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Histórias do Lado de Lá, de Tila Chitunda. Obviamente foram convidados os realizadores destes
filmes.
Teríamos ainda o filme Cambinda Estrela – Maracatu de Festa e de Luta!, de Adriano
Lima. Não foi exibido, pois o realizador (que traria a cópia do filme) não compareceu à sessão
por motivos pessoais, mesmo com todo o esforço da equipe do Cineclube Bamako para entrar em
contato.
As equipes e os debatedores chegaram às 18h, fizemos os testes de imagem e som,
deixamos pronta a estrutura para iniciarmos pontualmente. No entanto, poucos minutos antes da
sessão só havia chegado uma pessoa para assistir o filme. Enquanto isso, no prédio da Fundarpe
(ao lado do Teatro Arraial) estava acontecendo a abertura de uma programação de comemoração
do mês da consciência negra.
Como havia pouca presença de público no teatro, achamos conveniente solicitar a
produção do evento da Fundarpe, um momento para anunciar nossa programação. Ao que
descobrimos que, além da sessão Cineclube Bamako / cineCabeça já constar na programação
oficial daquele evento, fomos por duas vezes anunciados. Como o evento já estava no momento
do coquetel, pedimos para anunciar pela terceira vez, o que os organizadores prontamente
atenderam.
Voltamos para o Teatro Arraial para começar a sessão, era por volta de 19h15, quando
uma das representantes do cineCabeça abordou uma pessoa de nossa equipe iniciando uma
discussão por conta do atraso da sessão. Dissemos a ela que não se preocupasse, pois, como um
dos filmes não mais seria exibido, sobraria tempo e terminaríamos dentro do horário acordado. A
partir daí a discussão tomou um rumo que não achamos adequado expor em um relatório, e sim,
presencialmente, quando for necessário.
Criou-se um ambiente tenso, bem na porta do Teatro, com pessoas já sentadas para ver o
filme, outras ainda entrando. Ou seja, presenciado pelo público e atrasando ainda mais a sessão.
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Algo que achamos totalmente desnecessário ocorrer naquele momento e (também) por motivos
outros que ao Cineclube Bamako não interessava. Por isso, resolvemos iniciar logo a sessão.
A exibição dos filmes ocorreu perfeitamente bem, sem problemas. Após os filmes
convidamos os realizadores, que proporcionaram ao público um debate bastante envolvente. As
pessoas participaram ativamente, lançaram perguntas e propostas, o debate fluiu por caminhos
diversos, religião, política, até mesmo a história pessoal da realizadora Tila. E ainda houve
espaço para divulgação de vários outros eventos que pessoas do público estavam realizando.
Enfim, um debate lindo, que compensou todo o desprazer do início da sessão.
Sessão 18 – 21/11 (Museu da Abolição) – BARRAVENTO... (Barravento, 1962) Direção:
Glauber Rocha / Debatedor: Renato Athias – professor Antropologia Visual UFPE
Esta sessão quase teria sido cancelada. Por conta de um evento do Museu da Abolição,
avisado de última hora, tivemos que buscar outro local para a sessão. Conversamos com o
professor da UFPE Renato Athias, que seria o debatedor, para ser exibido na universidade.
Mesmo assim não teria sido interessante, pois a mesma estava em período de greve.
No dia seguinte a confirmação, o Museu autorizou a exibição após o evento. Mesmo
assim não fizeram o menor esforço para a divulgação. Resultado: quando chegamos, o público já
havia ido embora. Mesmo assim, em consideração as pessoas presentes, poucas, mas presentes; e
pelo esforço e compromisso do professor, fizemos a sessão, exibimos o filme, porém o debate
rendeu pouco.
Sessão 20 – 13/12 (Teatro Arraial) – SESSÃO PEDAGÓGICA (RACISMO NA ESCOLA) -
Vídeos Publicitários, Vista Minha Pele (Joel Zito Araújo), Cores e Botas (Juliana Vicente)
Direção: Vários / Mediadora: Fabiana Maria – Coordenadora Pedagógica Cineclube Bamako.
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Desta vez tudo ocorreu nos conformes, no horário certo, com os devidos testes feitos com
êxito, dinâmica bastante saudável. Fechamos o cineCabeça com uma sessão muito prazerosa,
mesmo com poucas pessoas, porém que fizeram valer bastante a qualidade da discussão.
Ao invés de um debate propomos uma dinâmica sobre o uso do audiovisual como
ferramenta pedagógica em sala de aula para trabalhar a temática do racismo nas escolas. Fabiana
Maria (coordenadora pedagógica) utilizou vídeos publicitários e filmes curtos para falar das
experiências que foram realizadas em âmbito escolar. Embora o número de pessoas fosse pouco,
o debate com público e equipe foi bastante rico, a maioria já tinha experiências com educação,
que foram compartilhadas.
Sessão 21 – 21/11 (Aliança Francesa) – KADIAMOR... (Kadiamor, l’Entente, 2012) Direção:
Renata Azambuja
Nossa última sessão oficial da temporada (as outras foram em parceria com outros grupos
ou atendendo a convites) exibiu o documentário Kadiamor. O documentário com viés etnográfico
registrou uma trupe de músicos e dançarinos senegaleses em viagem pelo seu país. Trajetórias de
vida, aspirações, relações familiares e tradição foram algumas das abordagens do filme, além das
belíssimas imagens do país.
Nosso convidado para o debate foi o diretor de fotografia do filme, Camilo Soares, que
infelizmente não pôde comparecer, pois estava gravando. Para nossa surpresa, até mesmo pela
época de fim de ano, tivemos um público bom para as sessões na Aliança Francesa. De 15 a 20
pessoas estavam presentes. Talvez pela época, os eventos na cidade foram se tornando mais
escassos, o que eliminava a concorrência para o Cineclube Bamako.
DIVULGAÇÃO / MÍDIA
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A partir do mês de junho de 2012 os preparativos para a produção do lançamento do
Cineclube Bamako foram se desenvolvendo com maior ênfase. Definimos inicialmente as peças
gráficas de divulgação, o que se deu levando em conta a negociação com a Aliança Francesa.
Além de apoio financeiro para impressão das peças, a instituição nos pôs em contato com a
agência de comunicação deles, M&P - Assessoria e Consultoria. Tivemos reuniões sobre a
veiculação do Bamako em diversos veículos de mídia e sobre como seria o trabalho em conjunto.
Sendo assim, elaboramos inicialmente as primeiras peças impressas: um banner, 250
folders e 200 cartazes A3, com o conteúdo do primeiro trimestre; Fizemos também panfletos
virtuais com a programação mensal (inicialmente), para serem veiculados no nosso blog (ver
links nos anexos), na nossa página no Facebook e para enviar a outros veículos que se
interessaram em divulgar a programação. Abrimos uma conta no Flickr destinado a dispor ao
público os nossos registros fotográficos. Também fizemos comunicação através de listas de
correio eletrônico, enviando cartas-convite para instituições e público-alvo, além de cartas-
convite direcionadas aos debatedores (conferir anexos).
A assessoria da Aliança Francesa também elaborou algumas peças para divulgação no site
e em outros meios de comunicação. No entanto, achamos que o material gráfico que eles criaram
tinha pouca ligação com a identidade estruturada para o cineclube. Pedimos então que o layout
fosse revisto, enviando inclusive versões com as mesmos formatos utilizados por eles, porém
dentro da identidade do projeto. Nesse contexto achamos melhor complementar a divulgação com
panfletos virtuais para cada sessão, respeitando a unidade visual do projeto.
A divulgação inicial foi muito boa. Distribuímos os folders nas sessões e espalhamos os
cartazes, deixamos alguns com os parceiros. Em pouco tempo a divulgação nas mídias sociais foi
surtindo efeito, várias pessoas se interessaram pelo Cineclube. Recebemos diversos telefonemas
do público, de assessorias de imprensa, de órgãos públicos, ONGs, grupos culturais e outros
interessados em possíveis parcerias. Fizemos algumas reuniões para negociação de parcerias para
2013.
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Nossas ações foram divulgadas em vários sítios na internet, jornais impressos /
eletrônicos, e tivemos chamadas veiculadas em rádios locais (ver clipagem nos anexos). O
Bamako foi noticiado como uma nova janela, aberta para as cinematografias africanas em
Pernambuco. Esta boa repercussão foi um dos motivos para obtermos a presença de mais de 80
pessoas na sessão inaugural (ver atas nos anexos).
O primeiro trimestre de trabalho (julho a setembro de 2012) foi bem estruturado em
relação divulgação, o que nos trouxe boas médias de público no Museu da Abolição, e por vezes
na Aliança Francesa. Os folders e os cartazes não duraram muito, e começamos a preparar o
material para a divulgação virtual do segundo trimestre (outubro a dezembro de 2012). A essa
altura estávamos começando a sentir o ritmo das três sessões mensais e, juntamente com os
diversos trabalhos da equipe, foi ficando difícil nos concentrarmos na divulgação. Por um lado já
tínhamos uma boa aceitação ainda recente, no entanto, por outro, o tempo foi ficando limitado
para reuniões de equipe e estruturação da divulgação do segundo trimestre.
O resultado foi que as sessões de outubro foram prejudicadas tanto pela pouca força na
divulgação, quanto pela falta de tempo para contatar debatedores que pudessem estar presentes.
Na Aliança tivemos a sessão pedagógica de dia das crianças, que teve bons resultados. Porém no
Museu as sessões perderam o ritmo das anteriores. Ainda assim, tivemos uma noção da presença
de um perfil de público para determinado tipo de filmes. Neste caso a presença de jovens
africanos que vinham em grupo para participar das sessões de filmes africanos de língua
portuguesa.
Ainda com outra parte do orçamento da Aliança Francesa, resolvemos concentrar o
investimento na divulgação impressa para o mês de novembro. Juntamente com o auxílio
financeiro do cineCabeça, somamos a quantia para a impressão de 7 camisetas, 100 adesivos e
400 cartões postais. Só não fizemos mais peças porque não gostamos do serviço da gráfica que
contratamos. Serviço ruim e demorado. O tempo foi passando e não achamos interessante fazer
mais peças para novembro.
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Mesmo assim, tivemos uma boa divulgação, inclusive com mudanças na arte das peças,
para destacar a programação especial de novembro (ver anexo). Nossos melhores públicos foram
no cineCabeça. A esta altura o Museu se concentrava na própria programação para o mês e a
Aliança manteve o ritmo normal. Para o mês de dezembro achamos melhor concentrar a
divulgação nas mídias sociais, não valeria a pena investir em material impresso naquele
momento.
Tivemos enfim, um bom impacto no público e mídias do Grande Recife. Embora
perdendo um pouco do ritmo, esta divulgação inicial foi suficiente para manter a proposta na
memória do público, que até este momento continua a perguntar sobre o retorno do cineclube,
presencialmente ou visitando com frequência o nosso blog e as nossas redes sociais.
PÚBLICO
Em relação ao público o Cineclube Bamako experimentou diversas situações. Pudemos
perceber diferenças claras em relação aos espaços principais. Basicamente o Museu da Abolição
trouxe mais público, acreditamos que pelo simbolismo do espaço e a ligação desta simbologia
com a proposta do cineclube. Por mais que, até a nossa presença, o Museu fosse um espaço de
fato pouco visitado (isso nos foi dito pelo público e por pessoas ligadas à instituição), a
adequação da temática, da linguagem (audiovisual em um museu tradicional) e a localização
central foram fatores que se mostraram favoráveis para a presença de público.
As pessoas que frequentaram o museu eram em sua maioria, jovens estudantes
universitários brasileiros (em geral) e africanos (em sessões específicas), muitos deles das áreas
das ciências humanas, pouquíssimos de cinema; Havia pessoas ligadas ao movimento negro e
grupos culturais. Tivemos também nas sessões pedagógicas, pessoas ligadas a educação popular e
pública. Era notável também algumas pessoas mais velhas, na faixa dos 40 a 60 anos.
Imaginamos que o interesse destes últimos fosse cinéfilo, curiosidade por cinemas diferentes dos
mais comuns. Era um perfil de público que frequentava também as sessões da Aliança Francesa.
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Um deles, José, é advogado e veio a quase todas as sessões no Museu, na Aliança Francesa e
cineCabeça. Chegava cedo às sessões, comentava sobre os filmes, ótima pessoa.
Já na Aliança Francesa, tivemos uma média de público menor, o perfil era de pessoas
ligadas à academia (professores, pós-graduados), cinéfilos, artistas. A faixa etária um pouco mais
avançada do que no museu, 30 a 70 anos. A pretensão inicial era que alunos da Aliança Francesa
participassem das sessões, o que ocorreu raríssimas vezes. No entanto o grau de participação nos
debates era maior, talvez pelo perfil ligado à academia, e as discussões tinham maior
aprofundamento.
Neste espaço imaginamos que seria necessário um melhor estudo para acertarmos qual
seria o público, lembrando que a pesquisa feita para o projeto inicial contemplou apenas o Museu
da Abolição como espaço. Também o horário para este ano está sendo revisto, pois o horário de
pico foi bastante prejudicial para as sessões, principalmente em dias de chuva.
Interessante foi a experiência da sessão pedagógica de dia das crianças. Achamos que foi
um bom indicativo para acertamos um perfil melhor direcionado para a Aliança Francesa. Neste
ano conversamos com a direção da instituição sobre o foco no público infanto-juvenil, uma
ligação maior com a sua coordenação pedagógica e sessões no horário da tarde (16h), como
opção para esta faixa etária e para evitar o horário de pico.
Conforme já pincelado na descrição das sessões pudemos notar que: filmes africanos de
países de língua portuguesa tem boa recepção entre estudantes universitários de origem africana;
as sessões pedagógicas trazem pessoas interessadas no uso do audiovisual como recurso para
aplicações em aulas (o que estamos trabalhando no projeto pedagógico); os filmes de países
árabes não despertaram grande interesse de público; é necessário rever as estratégias para atingir
o público ligado a religiões de matriz africana (o que tentaremos com as sessões itinerantes em
2013); No mês de novembro temos bastante concorrência, não apenas com outros eventos ligados
ao mês da consciência negra, como também os eventos culturais da época de verão, que são
bastante comuns.
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PATROCÍNIO / APOIO
Além do apoio dos parceiros principais (Museu da Abolição e Aliança Francesa), saímos
em busca de outras formas de apoio ou patrocínio. Entramos em contato com instituições como a
Fundação Joaquim Nabuco. Fizemos algumas reuniões na unidade Apipucos. Mesmo não
conseguindo nenhuma forma de apoio por conta do planejamento interno da FUNDAJ, a partir
deles visitamos outras possibilidades. Com eles tivemos uma reunião com uma das representantes
do Fundo Baobá, que disse não terem nada específico para a área de audiovisual, porém se
interessaram bastante pelo foco pedagógico do projeto. Eles têm um edital na área de formação.
Apresentamos os planos para médio e longo prazo, onde teríamos (atualmente temos) um
foco específico no lado pedagógico. Desde então estivemos mantendo contato. Esta representante
no início deste ano, enviou um email, perguntando sobre nossa continuidade em 2013. Ficou de
nos informar quando saísse o edital deles.
Também entramos em contato com representantes da Prefeitura do Recife. Primeiramente
com o Núcleo de Cultura Afro, logo em seguida com a Diretoria de Promoção da Igualdade
Racial. Infelizmente a política partidária na cidade estava em crise e a gestão do PT bastante
instável. Cheguei a me reunir com o então diretor do Núcleo de Cultura Afro, que recebeu muito
bem a proposta, fiquei de deixar o projeto protocolado na secretaria deles. Fui por mais de uma
vez lá e encontrei o Núcleo de portas fechadas. Fiquei sabendo pouco depois, que este estava
fechado temporariamente e o diretor com quem falei tinha sido afastado do cargo por
divergências no partido.
Quando fui à primeira reunião com a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial,
lançamos nossa proposta, que foi analisada. A diretora já tinha conhecimento do projeto por
conta da via que deixei no Núcleo de Cultura Afro antes de seu fechamento. Marcamos outra
reunião, na qual foi apresentada a contraproposta da diretora. Seria um evento interno na PCR,
direcionado aos servidores do município. Em novembro, justamente no fim da gestão. Claro que
não aceitamos a proposta.
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Fora estes que foram citados, várias outras instituições mencionaram interesse em
determinados focos do projeto, principalmente no pedagógico, mas não vimos nenhuma ação
efetiva para concretizar esse interesse. Resolvemos realizar o cineclube com o que já tínhamos de
efetivo.
Conseguimos apoio financeiro (R$ 2.300,00) por parte da Aliança Francesa para
elaboração de material gráfico; Também apoio no reforço da divulgação das nossas atividades a
partir da sua assessoria de imprensa. Para o evento ao ar livre, com apresentações musicais, a
própria equipe financiou a estrutura de som e luz (R$ 500,00), porém conseguiu o retorno do
investimento com a venda de bebidas e alimentos (fora do museu). O lucro que tivemos no fim
das contas foi mínimo, (R$ 300,00).
Outro auxílio financeiro veio com as sessões do cineCabeça em novembro. O projeto
destinava a quantia de R$ 800,00 para os cineclubes que realizam as sessões mensais. Ao todo
foram quatro sessões. Além de retornamos o investimento da equipe, reforçamos a mesma com
mais três pessoas, a quem pagamos R$ 100,00 cada.
Enfim, não foram grandes os apoios materiais que tivemos. Porém, assim mesmo
conseguimos fazer uma boa temporada. Mas já sabemos ser inviável manter um ritmo tão pesado
sem uma remuneração para a equipe. Afinal, todos nós trabalhamos e torna-se cansativo manter
um cineclube com tanta frequência de sessões. Sabemos ser importante, mas também não
achamos viável a inscrição no edital de fomento à cultura do nosso estado. É uma quantia tão
pequena destinada ao cineclubismo, que não vale a pena o esforço para um cineclube com a
proporção do Bamako.
PARCEIROS
Museu da Abolição
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O projeto do Cineclube Bamako foi recebido de maneiras bem diferentes entre os dois
parceiros principais. Entramos em contato inicialmente com o Museu da Abolição, espaço
idealizado pelo projeto para receber nossas sessões. Após contatos iniciais por email, marcamos
uma reunião com a diretora e com a funcionária que mediou estes contatos. Esta última mostrou-
se muito animada com a proposta. A diretora falou bastante sobre a situação de transição
administrativa interna, enquanto entidade ligada ao governo federal e também sobre as
experiências anteriores à sua gestão, de cineclubismo e eventos musicais.
Em seguida informou que seria necessária uma documentação oficial por parte da UFPE,
da FEPEC (enquanto cineclube filiado) e de minha parte enquanto responsável pelo projeto, que,
teve que destacar na versão enviada ao Museu que era um projeto experimental de conclusão do
curso de Cinema e Audiovisual que aconteceria no segundo semestre de 2012. Sem previsão de
retorno em 2013, até porque a instituição tinha um planejamento de exibição regular de vídeos,
planejamento este que seria executado em diversos museus ligados ao IBRAM (Instituto
Brasileiro de Museus).
No decorrer da parceria tivemos momentos na maioria das vezes complicados. Embora a
animação e o compromisso em colaborar na organização das duas primeiras sessões, a relação foi
esfriando com o tempo. Fomos percebendo que para qualquer solicitação de nossa parte, até
mesmo as mais simples, precisávamos de um ofício para a instituição. Procurávamos relevar,
compreendendo os processos burocráticos de instituições públicas. Porém aos poucos fomos
percebendo um mal-estar entre o museu e a nossa presença. Em cada sessão precisávamos de
alguns cabos, extensões e um caixa de som do próprio museu. Sempre demorava bastante para
sermos atendidos.
Na sessão especial ao ar livre com bandas, tivemos diversos atritos com a equipe do
museu presente no dia de sábado. Havíamos solicitado, inclusive por ofício, uma das salas para
termos como base para a equipe e bandas. O que na hora nos foi negado. Alegaram que era
porque o Museu da Abolição deveria ficar fechado por que não havia ninguém da administração.
Ou seja, elas queriam ir embora. Não abrimos mão do que foi solicitado, até por que os
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seguranças patrimoniais estavam ali para isso, até que as funcionárias perceberam que iriam ter
que ficar.
Dias depois a equipe do Cineclube Bamako foi chamada para uma reunião com a diretora
do Museu, que informou que as sessões ao ar livre não poderiam mais acontecer no espaço. O
motivo que nos informaram foi o do uso de álcool e substâncias ilícitas, além da vendas de
artigos de artesanato. Todos estes pertences eram trazidos pelo público.
A partir de então a relação com o Museu da Abolição só piorou. Esta situação teve reflexo
nas sessões de outubro e novembro, cada vez mais esvaziadas neste espaço (que nem ao menos se
esforçava para a divulgação). Já na Aliança Francesa e durante o projeto cineCabeça
conseguimos manter o mesmo ritmo.
O resultado foi que a nossa última sessão no museu, de encerramento da temporada do
cineclube e que aconteceria em dezembro, foi cancelada. Ainda cogitamos procurar outro espaço,
mas estávamos tão cansados pelo ritmo das nove sessões do mês de novembro que consideramos
ser melhor não realizar a sessão cancelada neste momento. Um outro motivo teve relação com a
época de final de ano em que os eventos da cidade já não estavam sendo programados.
Também em relação à estrutura, a situação era mais difícil no Museu. A própria equipe do
Bamako tinha que carregar os equipamentos, trazer certos tipos de cabo de áudio. Por vezes o
projetor simplesmente apagava por alguns segundos no meio das sessões, o que se repetiu em
várias delas. Relatamos para a administração, mas me parece que não deram muita atenção.
Aconteceu que em um evento da própria instituição (lançamento de um curta-metragem), o
projetor deu esta mesma falha, além do aparelho do DVD que também deu erro na leitura do
disco. Acredito que só então devam ter levado em consideração o que falamos.
Neste ano de 2013, resolvemos convocar uma reunião com o Museu da Abolição.
Cancelamos a parceria, pois não achamos que, por mais que nos esforçássemos na divulgação e
no cumprimento dos processos burocráticos da instituição, fomos correspondidos em
profissionalismo. O Museu da Abolição desinteressou-se pelo projeto. Então não achamos viável
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continuar por lá. Fechamos esta etapa de maneira cordial, inclusive com a possibilidade de fazer
alguma sessão isolada futuramente, nas itinerâncias das novas temporadas.
Aliança Francesa
O contato com a Aliança Francesa foi, para minha surpresa na época, muito mais simples
do que com o museu. Iniciei com um simples telefonema no qual informei minhas intenções. A
atendente me passou um endereço de e-mail do gestor acadêmico da instituição. Enviado o e-mail
com o projeto comercial, logo recebi a resposta marcando uma visita na unidade Boa Viagem.
Apareci no dia marcado, apresentei o projeto, que foi muito bem visto pelo funcionário da
Aliança. Ele até perguntou sobre o porquê de não ter enviado o projeto antes. Marcamos mais
algumas reuniões, com a presença do diretor geral e em pouco tempo fechamos uma parceria na
qual incluímos a ideia deles de realizarmos sessões na própria Aliança. Foi tudo mais simples e
direto.
O decorrer da relação foi sempre muito cordial e profissional. Tudo que precisávamos,
desde uma simples solicitação de vaga de carro para um debatedor, como a viabilização de uma
parte do apoio financeiro (mesmo com o responsável por isso em período de recesso) era simples
e rápido de solucionar.
Praticamente não tivemos problemas com a Aliança Francesa, nada que não fosse
negociável para o interesse de ambas as partes. Tínhamos estrutura e pessoas para apoiar na
montagem da mesma. A assessoria de imprensa da instituição ajudou bastante na divulgação em
rádio, jornais, internet e outras mídias, apoio material e financeiro. Também conseguiram
algumas bolsas de estudo de francês para a equipe. Foi uma relação muito diferente da que
tivemos com o Museu.
Em relação a 2013, a própria Aliança entrou em contato com o Cineclube Bamako para
saber se tínhamos proposta de uma nova temporada. Fizemos algumas reuniões e ficamos de
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enviar um planejamento para esse ano. Partiu deles a ideia de exibições itinerantes nas unidades
Derby, Boa Viagem e Caruaru. No entanto, devido aos problemas políticos que envolvem
relações diplomáticas entre a França e o Mali (cuja capital chama-se Bamako) tivemos que dar
uma pausa no planejamento para o primeiro semestre.
Inicialmente, eles sugeriram mantermos o planejamento em 2013.1 e que
modificássemos o nome do Cineclube Bamako, para “Cineclube Afrique”. Eles falaram dos
motivos: a Aliança Francesa, sendo uma instituição “apolítica” temia que o debate político que
poderia ser levantado prejudicasse a imagem que a instituição cultural pretende manter. De fato
esta postura política nos foi informada desde o início da parceria, inclusive o próprio diretor
havia falado dos conflitos no Mali, antes mesmo da intervenção francesa.
Esta situação foi debatida em reunião interna da equipe do Cineclube Bamako, que, aliás,
desde o início assinava Bamako Produção. Respondemos à Aliança Francesa sobre a
inviabilidade da mudança do nome, porque além de ser o nome que adotamos para o grupo, nos
projetos que estamos desenvolvendo queremos manter a ligação com a proposta do Cineclube
Bamako. Os projetos desenvolvidos, mesmo que à parte da atividade cineclubista, são extensões
do planejamento (em médio prazo) que desde o início do projeto estávamos trabalhando. O
projeto em questão, e já em desenvolvimento, é um ciclo de oficinas sobre as temáticas de cultura
negra a partir do audiovisual.
Além disso, enquanto educadores e formadores de opinião a partir do audiovisual que
somos, por mais que quiséssemos – e não queremos – evitar a discussão política, esta acaba de
uma forma ou de outra entrando nos debates a partir das temáticas sobre consciência negra,
individual e coletiva. Fizemos uma reunião com a Aliança e explicamos estes motivos, que foram
compreendidos. Foi uma decisão de ambas as partes deixar as atividades do Cineclube Bamako
para o segundo semestre de 2013.2, tempo que imaginamos que será suficiente para uma
resolução dos conflitos internacionais, ou pelo menos da participação francesa nestes conflitos.
Embora discordemos em relação à política, entramos em acordo e não desfizemos a parceria.
Todavia, na incerteza, estamos procurando outras alternativas.
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A estrutura do Auditório André Maulraux, da Aliança Francesa, era muito bem equipada.
Bastava colocarmos os cabos de áudio, vídeo e energia para começarmos a sessão. No único
problema técnico que tivemos, com uma das caixas de áudio, informamos à administração através
do funcionário e prontamente a situação foi resolvida. Felizmente sempre havia um funcionário,
muito prestativo, que estava disponível para nos ajudar nas exibições dos filmes e nos debates.
Demais Parceiros
Além dos parceiros principais contamos com o apoio do Centro de Comunicação e
Juventude (CCJ Recife) que fez o registro fotográfico, na maioria das sessões. Foi simples a
parceria, até por que trabalho nesta instituição. Com a Federação Pernambucana de Cineclubes
(FEPEC) obtivemos uma orientação nas relações institucionais, com o museu principalmente, e
na organização interna do Bamako. Aos poucos fui me integrando com a Federação, ministrei
algumas oficinas da parceria que ela tem com a ação cineclubista do projeto cineCabeça e
também realizamos (enquanto cineclube convidado) a atividade de exibição também do referido
projeto, em novembro. Hoje faço parte da diretoria da FEPEC, enquanto coordenador de
memória interino.
Contamos também com o apoio da Cooperação Internacional da UFPE que, ao visitar
Moçambique a partir de uma de suas representantes, nos trouxe um material audiovisual e
contatos de produtores de lá. As bandas que tocaram na sessão especial tornaram-se parceiras e
atualmente pensamos produções de videoclipe enquanto pagamento por troca de serviços.
CONCLUSÃO
Foi uma experiência muito gratificante. Mesmo com toda a dificuldade foi bonito ver
pessoas cada vez mais interessadas em cinematografias de países africanos. A resposta do público
foi ótima, a maioria dos debates foi muito construtiva e os resultados foram bastante felizes. A
projeção que o Cineclube Bamako teve foi além do esperado. Pessoas de vários locais do país (e
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de outros países) ficaram encantados com a proposta. Achamos muito importante que esta janela
continue aberta para a difusão dos cinemas africanos e de outros cinemas que falem da cultura
negra e das questões relativas à mesma.
No entanto, sendo bastante realista, como já adiantamos neste relatório, é simplesmente
inviável manter uma produção do patamar que fizemos, sem retorno financeiro. Por mais que a
equipe tenha se esforçado para esta realização e por mais que os resultados tenham sido tão
positivos, na maioria das vezes, nos deparamos com a dificuldade de nos concentrarmos tanto,
nos dedicarmos tanto e, além disso, termos que nos preocupar com os outros afazeres das nossas
vidas pessoais e profissionais.
E como não achamos que o financiamento para o cineclubismo seja a solução (a
experiência com a FEPEC, nos mostrou que há vários entraves), queremos dar continuidade ao
Cineclube Bamako, com o apoio e estrutura que já temos. Porém pretendemos trabalhar outros
projetos, ligados ao cineclube, mas expandindo de modo que possamos garantir nossa
sustentabilidade profissional. Para isso estamos desenvolvendo projetos à parte, já citados, que
iremos submeter a alguns editais, como por exemplo os destinados a produtores negros, do
Ministério da Cultura e outros, de instituições privadas.
Para 2013 temos como foco o trabalho com a linha pedagógica do Bamako.
Desenvolvemos um projeto específico nesta área que vamos propor a instituições como o já
citado Fundo Baobá e também com a Casa da Árvore Projetos Sociais, com quem já conversamos
sobre essa possibilidade no ano passado e com quem já trabalhamos com o projeto Telinha na
Escola aqui no Recife.
O cineclube está previsto para 2013.2 na Aliança Francesa e itinerante em terreiros e
comunidades. Por conta da questão política com a instituição, dos trabalhos e problemas internos
entre a equipe e, pessoalmente, esta minha finalização de curso, considero que seja mesmo
melhor que façamos o retorno com mais calma no próximo semestre. Desta forma haverá mais
tempo de nos organizarmos e contatar os espaços de exibição.
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Nossa experiência do ano passado por um lado nos motivou a continuar com a proposta,
todavia teremos o desafio de fazer com que esta prática seja sustentável. Vimos que associarmos
às instituições públicas – pelo excesso de burocracia e interesses políticos partidários – não é um
bom caminho. Pelo menos não é uma prioridade. Então tentaremos dar continuidade a esse
processo a partir dos projetos paralelos e encaminhados por parceiros de iniciativa privada e não
governamentais. A iniciativa vale à pena, como valeu. No entanto, para uma próxima etapa,
sendo possível um sustentablilidade das pessoas que realizam o projeto.
REFERÊNCIAS:
Livro:
MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no Mundo – Indústria, Política e Mercado: África –
Volume 1. São Paulo: Escrituras Editora, 2007.
Online:
ÁFRICA E AFRICANIDADES - BLOG: Disponível em:
<http://africaeafricanidadenoja.blogspot.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013.
AFRICAN FILM LIBRARY – CANAL YOUTUBE: Disponível em:
<http://www.youtube.com/user/AfricanFilmLibrary?feature=watch>. Acesso em 31 Mar. 2013.
CENTRO AFRO CARIOCA DE CINEMA: Disponível em:
<http://www.afrocariocadecinema.org.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013.
CINE ÁFRICA - BLOG: Disponível em: <http://cine-africa.blogspot.com.br/>. Acesso em 31
Mar. 2013.
50
CINE ÁFRICA – EVENTO: Disponível em: <http://cineafricaunit2010.blogspot.com.br/>.
Acesso em 31 Mar. 2013.
CINE AFRO SEMBENE: Disponível em: <http://cineafrosembene.blogspot.com.br/>. Acesso
em 31 Mar. 2013.
CINECLUBE ATLÂNTICO NEGRO: Disponível em: <http://atlanticonegro.blogspot.com.br/>.
Acesso em 31 Mar. 2013.
CINECLUBE MACAÍBA: Disponível em: <http://macaibacineclube.blogspot.com.br/>. Acesso
em 31 Mar. 2013.
CINEMAFRICA: Disponível em: <http://cinemafrica.se/>. Acesso em 31 Mar. 2013.
CULTNE – ACERVO DIGITAL DE CULTURA NEGRA: Disponível em:
<http://www.cultne.com.br/index.php>. Acesso em 31 Mar. 2013.
DURBAN INTERNATIONAL FILM FESTIVAL (DIFF) 2011: Disponível em:
<http://www.africafilms.tv/en/news/307_DURBAN+INTERNATIONAL+FILM+FESTIVAL+(
DIFF)+2011>. Acesso em 31 Mar. 2013.
FESTFILMES – FESTIVAL DO AUDIOVISUAL LUSO AFRO BRASILEIRO: Disponível em:
<http://www.festfilmes.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013.
MUSEU DA ABOLIÇÃO: Disponível em: <http://www.museudaabolicao.com.br/>. Acesso em
31 Mar. 2013.
SECRETARIA DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL (SEPPIR):
Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013.

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TCC Cineclube Bamako - Gabriel Muniz

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL BACHARELADO EM CINEMA E AUDIOVISUAL Gabriel Muniz de Souza Queiroz CINECLUBE BAMAKO Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Cinema e Audiovisual, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Cinema e Audiovisual. Orientadora: Profa . Mannuela Costa Maio 2013
  • 2. 2 SUMÁRIO 1. Apresentação.......................................................................................................................3 2. Desenvolvimento.................................................................................................................6 3. Programação.......................................................................................................................8 4. Sessões................................................................................................................................17 5. Divulgação / Mídia............................................................................................................36 6. Público...............................................................................................................................39 7. Patrocínio / Apoio............................................................................................................41 8. Parceiros............................................................................................................................42 9. Conclusão..........................................................................................................................47 10. Referências........................................................................................................................49 11. Anexos........................................................................................................................51
  • 3. 3 RELATÓRIO 2012.2 APRESENTAÇÃO A idealização do projeto do Cineclube Bamako veio de uma observação do contexto da difusão das cinematografias mundiais no Brasil, muito influenciada por um interesse pessoal – sempre gostei de apreciar filmes de diversos países, na maioria das vezes de maneira aleatória –, mas também como resultado dos estudos específicos de algumas disciplinas do Bacharelado em Cinema e Audiovisual desta universidade. Disciplinas como a de Cinema Mundial, dedicada a uma abordagem histórica, porém com recortes sobre os cinemas periféricos; Cinema Latino-Americano, onde pude me aprofundar em cinematografias que já me interessavam e das quais tinha alguma referência; Teorias do Cinema, com a qual tomei gosto e pratiquei a reflexão sobre aspectos fora do universo da estética e da práxis cinematográfica; Cinemas Africanos Contemporâneos, dos quais tinha pouquíssimas referências, partindo a buscá-las cada vez mais, e onde o debate era recurso chave na construção coletiva do conhecimento; A Imaterialidade do Cinema Asiático, de onde pude observar o cinema e sua relação com a cultura e a religião do ponto de vista filosófico. No decorrer desta experiência acadêmica e a partir de um aprofundamento do interesse específico em cinematografias de países africanos, somados aos conteúdos das disciplinas de Estética e Cultura Visual e Economia da Cultura, comecei a questionar o porquê de, por exemplo, termos uma maior inserção de cinematografias de países asiáticos no Brasil, do que de filmes africanos. Claro que não forçando um juízo de valor estético – até porque considero que o melhor cinema da atualidade está na Ásia –, mas por observar que dos pontos de vista cultural, histórico, social e político estamos obviamente muito mais próximos dos países africanos do que dos asiáticos.
  • 4. 4 Então porque quase não temos referências – fora do âmbito acadêmico – de filmes do Senegal, Burkina Faso, Mali, até mesmo da Nigéria com sua Nollywood1 , uma das maiores indústrias do audiovisual no mundo em volume de produção? Após algum estudo em relação ao mercado cinematográfico, comecei a compreender as diversas dificuldades que os cinemas africanos têm no que se refere à produção, formação de público e principalmente distribuição de seus filmes. Sabemos que a maior parte das nações do continente africano tem uma série de problemáticas herdadas dos vários séculos de colonialismo. Mesmo em meio a guerras civis entre grupos étnicos tradicionalmente rivais, fome e os diversos males de saúde resultantes de situações de extrema pobreza, existe uma necessidade de auto-representação desses países africanos por meios audiovisuais e também de consumo desses produtos por parte do público. Nollywood é o exemplo máximo, com a proliferação do vídeo em formato VHS. Todavia, o cinema na maioria dos países africanos, em termos de produção industrial, distribuição e mercado consumidor, ainda é bastante dependente da relação econômica com a Comunidade Europeia. Boa parte dos filmes dos principais cineastas do continente que visam uma representação audiovisual engajada com a realidade sociopolítica e econômica segue um viés autoral, sendo mais vistos nos circuitos de festivais, no cineclubismo e no mercado alternativo europeu. Os mercados nacionais do continente raramente são alcançados por filmes que não seguem a lógica comercial de padrão norte-americano. O que é perceptível em algumas cenas do filme Bamako (2006), de Abderrahmane Sissako, longa metragem que dá nome ao cineclube objeto deste relatório. Dentro deste contexto, é bem possível imaginar a enorme dificuldade de distribuição que essas cinematografias com mercado tão restrito têm fora dos circuitos acima citados. Sendo assim, diante das discussões levantadas no segundo módulo da disciplina de Economia Cultural, comecei a refletir sobre a possibilidade prática de se criar uma janela para exibição destes filmes, tão raros de se ver aqui no Brasil. Já tinha certo conhecimento dos filmes, a partir das referências da disciplina sobre cinemas africanos e também de alguns livros. Gosto de colecionar filmes, 1 Nollywood é um termo que se refere ao mercado de produção audiovisual da Nigéria, que desde a década de 1990 produz mais de mil filmes por ano no formato de video. Em volume de produção é o terceiro maior mercado do mundo, atrás apenas de Hollywood e Bollywood (Índia), respectivamente.
  • 5. 5 algumas cópias eu consegui através da internet, outras através de meu pai, Amarino Queiroz, também estudioso sobre culturas africanas, na área da literatura. Realizei uma pesquisa sobre espaços de exibição de filmes africanos no país e vi que estes ainda eram muito poucos. Havia uma pequena circulação virtual por aqui, disponível para download em sites e blogs; algumas iniciativas em Salvador-BA (Mostra de Cinema Africano), São Paulo (Cineclube Afro Sembène); e mostras esporádicas em São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói-RJ, João Pessoa-PB, Curitiba-PR e Florianópolis-SC. Aqui no Recife-PE ocorreu em 2007, mês de agosto, a Mostra Novo Olhar sobre o Cinema Africano, no Teatro Apolo. No entanto, uma iniciativa com exibições regulares ainda era inédita. Procurando somar a esta pesquisa sobre referências de espaço no âmbito nacional, a notória influência que as culturas de matriz africana sempre exerceram e ainda exercem na formação e no imaginário popular pernambucano; e aliando a este contexto a Lei de nº 10.639 que trata do ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira”, tornando-o obrigatório em escolas públicas, o formato de intervenção escolhido para o presente projeto de difusão foi o cineclubismo, por ser uma prática de democratização da cultura ao dar visibilidade a estas diversas cinematografias, destes diversos países (por isso destacamos o termo “cinemas africanos”, no plural), filmes com grande potencial de discussão não apenas estética como também sociopolítica e cultural. Além de colocar o audiovisual como meio para a formação não apenas de público para o cinema, como também para a formação de cidadãos (jovens estudantes, educadores, possíveis multiplicadores) conscientes da importância da cultura negra na construção da identidade do povo brasileiro. Com esta perspectiva em mente e colocando-nos também abertos a filmes de países de outros continentes além de África, ampliamos a proposta para a discussão de temáticas relacionadas à cultura e identidade negra; além da inserção da experiência da equipe com o audiovisual na educação. Na descrição essencial da proposta temos: “Cineclube Bamako – Cinemas Africanos, Cultura Negra e Audiovisual na Educação”. Outro motivo para a escolha do cineclubismo foi justamente o viés político desta prática, que afirma a difusão da cultura a partir de meios audiovisuais sem fins lucrativos, o que justifica eticamente também a legitimidade do
  • 6. 6 fato de exibirmos filmes sem os direitos de exibição. Assim destacamos também na própria escrita do projeto a intenção de parceria com a Federação Pernambucana de Cineclubes (FEPEC), para uma melhor compreensão sobre o movimento cineclubista. A partir de então – estava ainda na disciplina de Economia Cultural II (2011.2) – comecei a pensar as possibilidades de parceria, inicialmente com o Museu da Abolição, por acreditarmos na época ser um espaço com abertura para iniciativas que promovessem a valorização da cultura negra; e com a Aliança Francesa do Recife, que imaginamos ter interesse na difusão de cinematografias africanas principalmente nas de países francófonos, pelo papel do país europeu na promoção cultural no continente africano. Como atividade final da disciplina foi finalizado o projeto do Cineclube Bamako, cujo nome vêm da capital do Mali e do filme homônimo de um dos maiores cineastas da produção contemporânea no continente; e realizada uma pesquisa de mercado, na qual pude ter uma noção mais concreta de qual seria o público do cineclube. DESENVOLVIMENTO No semestre seguinte (2012.1) iniciei a disciplina de TCC1, quando me dediquei à pré- produção do Cineclube Bamako. Inicialmente uma equipe básica foi definida (Coordenação Geral, Coordenação Técnica, Coordenação de Produção, Coordenação Pedagógica), sendo realizadas as primeiras reuniões de planejamento da produção. Fizemos uma atualização do cronograma em relação à primeira proposta, elaborada em 2011, e definimos a execução das atividades de produção para o segundo semestre de 2012. Também redigimos um primeiro plano de ação pedagógica (disponível no anteprojeto) que foi amadurecido em 2012.2 com a parte prática do projeto. A ação pedagógica é uma das linhas de trabalho, juntamente com as sessões principais (com debate) e as sessões especiais (itinerantes, em diversos espaços culturais). O trabalho com educação do cineclube visa oferecer um suporte a educadores interessados em desenvolver o ensino da História e Cultura Afro Brasileira. Na primeira etapa, semestre 2012.2, realizamos atividades de orientação a profissionais da educação pública e popular, sugerindo materiais de
  • 7. 7 trabalho, dinâmicas com uso de mídias, principalmente audiovisuais. Além das sessões pedagógicas, realizadas no Museu da Abolição, Aliança Francesa e cineCabeça, experimentamos (Fabiana Maria, Coordenadora Pedagógica e eu, enquanto educadores) estas dinâmicas junto ao projeto Telinha na Escola Recife. Desenvolvemos na prática a linha de ação pedagógica e no ano presente 2013, a estamos trabalhando como projeto à parte, conforme destacado na proposta inicial do Cineclube Bamako, como plano a médio prazo. Nas reuniões também foram trabalhadas algumas das temáticas que foram abordadas nas sessões dedicadas à educação (Identidade, Comunidade, Sociedade e Política) e pensadas as primeiras sugestões de filmes para compor a programação de longa-metragem. Em seguida saímos em busca de apoio institucional e material. Entramos em contato com o Museu da Abolição, cuja diretoria, após reuniões de negociação, concordou em receber o Cineclube Bamako enquanto projeto experimental (piloto a ser executado em 2012.2). Também fizemos contato com algumas das bandas que entraram na programação da sessão especial, com apresentação musical. Paralelamente, a equipe se dirigiu a algumas instituições, como a Universidade Católica (UNICAP), que, assim como o Museu, solicitou ofícios por parte da Coordenação de Comunicação da UFPE. Também tentamos entrar em contato com o Núcleo de Estudos Afro Brasileiros (NEAB – UFPE), o grupo de estudos de sociologia do cinema (CFCH – UFPE) e o então recém-criado grupo de estudos étnico-raciais da UFRPE. Tentamos negociação com a Secretaria de Juventude da Prefeitura do Recife, pois uma representante deste órgão se interessou pelo projeto e o havia encaminhado para sua direção. Destes últimos citados, apenas o Museu da Abolição firmou a parceria. O Cineclube filiou-se à Federação Pernambucana de Cineclubes (FEPEC), que deu suporte à nossa estrutura organizacional e na relação institucional com o Museu. Também desenvolvemos nosso esquema de comunicação (plano de mídia e contrapartidas). Com tudo isso sistematizado em um modelo de projeto comercial, entramos em contato com algumas instituições em busca de apoio material, negociando a exposição dos parceiros nas peças de mídia. Firmamos também parceria para o registro das atividades com o Centro de Comunicação e
  • 8. 8 Juventude do Recife (CCJ Recife), projeto que trabalha juventude e comunicação. Para impressão do material gráfico, tivemos o apoio da Aliança Francesa. Fechadas as parcerias, o semestre de 2012.2 dedicou-se a construção prática do Cineclube Bamako. As atividades planejadas na etapa anterior foram realizadas com poucas alterações. Pudemos constatar a variedade de público apontada pela pesquisa, desta vez de maneira prática e de acordo com variáveis como horários, espaços de exibição e tipos de filme. Tivemos uma ótima recepção em relação ao público e divulgação em diversas mídias. O Bamako de fato mostrou-se como um espaço até então inédito no Grande Recife e despertou interesse sobre a discussão das relações entre audiovisual, cultura negra e educação. A seguir um balanço mais detalhado de nossas atividades por área. PROGRAMAÇÃO Cumprimos boa parte da programação de acordo com o planejado no projeto. Felizmente conseguimos manter a maioria das datas e seguir à risca os horários. Apenas duas sessões foram canceladas, mas em compensação fizemos várias exibições a mais, e em locais diferentes dos espaços principais, o Museu da Abolição (Rua Benfica, 1150 – Madalena, Recife – PE) e a Aliança Francesa (Rua Amaro Bezerra, 466 – Derby, Recife – PE). Em relação aos horários, começamos exatamente às 19h e apenas 3 sessões tiveram atraso. Até o primeiro trimestre (julho a setembro/2012) a programação se manteve sem alterações, o que foi bastante importante para a equipe sentir o ritmo. Percebemos que três sessões ao mês eram difíceis de administrar (com outros trabalhos a realizar e sem grandes recursos). Contudo, como já tínhamos fechado as negociações, mantivemos o acordo, fazendo até mais do que o planejado, no segundo trimestre (outubro a dezembro/2012). No segundo trimestre fomos ficando mais habituados com o ritmo, o que nos permitiu ousar um pouco mais, principalmente por conta de uma proposta da FEPEC. A essa altura o nosso envolvimento com a entidade foi se fortalecendo e o Bamako foi convidado a organizar as
  • 9. 9 sessões do projeto cineCabeça2 do mês de novembro. Aceitamos, vendo a possibilidade de somar ideias que já tínhamos sobre uma programação especial para o mês da consciência negra, o que foi uma experiência muito enriquecedora. Pudemos experimentar outro espaço (Teatro Arraial, Rua da Aurora, Centro do Recife), outra dinâmica, outros tipos de filme e uma projeção ainda maior na cidade. Em novembro fizemos nove sessões, em comemoração ao mês da consciência negra. Com isso pudemos oferecer uma programação diferenciada. Pela primeira vez inserimos um filme de gênero comercial. Com a temática da capoeira, Besouro (2009) levou a um debate interessante sobre formas de representação cultural. Também fizemos um encontro de realizadores pernambucanos que trabalham com cultura negra. Foi outro debate muito bonito, principalmente pelo recorte pessoal que os realizadores trouxeram em relação às suas obras. Outra sessão pedagógica (direcionada a educadores) foi realizada com mediação da própria equipe do Bamako. E com o filme Pierre Verger – Mensageiro Entre Dois Mundos (1998) tivemos um dos debates mais bonitos, mediado por Elvio Luiz, fotógrafo com grande experiência em trabalhos com religiões de matriz africana. Além das quatro sessões do cineCabeça, fizemos as três sessões nos espaços habituais e também sessões extra em espaços culturais como o Bar e Restaurante Xinxin da Baiana, em Olinda, e na sede do Afoxé Omô Nilé Ogunjá, no bairro do Ibura, Recife. No entanto, talvez por conta da agitada programação do mês da consciência negra (e por ser véspera de feriado prolongado) a sessão do dia 14/11, com o filme La Noire de... (1966), foi cancelada por falta de público. A mesma sessão, com a mesma debatedora, foi realizada novamente no evento Fórum Pontes de Cultura da UFPE, que aconteceu no mês de dezembro, com público do evento e debate bastante participativo. Além desta sessão, também foi cancelada por conta da relação com o Museu da Abolição (que será mais bem detalhada no tópico sobre parceiros) a sessão do dia 08/12, do filme Fela Kuti – A Música é a Arma (1982), que seria ao ar livre. 2 O Projeto CineCabeça, promovido pela Secretaria de Educação de Pernambuco, com apoio da Secult/Fundarpe, gestão Centro de Atitudes e CinEscola, visa promover o diálogo entre o audiovisual e a prática pedagógica. Tem como uma das suas linhas de atuação a ação cineclubista em parceria com a FEPEC com sessões cineclubistas em equipamentos culturais do Estado, realizadas por cineclubes filiados à Federação e oficinas de formação cineclubista em escolas publicas estaduais.
  • 10. 10 Em relação ao projeto inicial, pensado apenas para o Museu, seriam duas sessões mensais. Com o interesse da Aliança Francesa, incluímos mais uma sessão no mês, com filmes de países francófonos. A partir desta inclusão, vimos que os filmes francófonos eram a grande maioria, então resolvemos substituir alguns desses filmes por obras lusófonas e da África Saariana, o árabe como idioma principal, junto ao francês. Para criar um diferencial nas sessões da Aliança, inicialmente (primeiro trimestre) fizemos exibições de filmes de curta e média metragem, de épocas diferentes, para instigar a reflexão sobre as semelhanças e diferenças estéticas e ideológicas entre os filmes. A programação contava com três tipos de sessão: As sessões comuns; sessões pedagógicas e sessões especiais. Ao todo as sessões realizadas em 2012 foram as seguintes: JULHO Museu da Abolição: 11/07 - BAMAKO (Bamako, 2006) Direção: Abderrahmane Sissako / Gênero: Drama / Origem: Mali, Estados Unidos, França / Duração: 115 minutos. 25/07 - NA CIDADE VAZIA (Na Cidade Vazia, 2004) Direção: Maria João Ganga / Gênero: Drama / Origem: Angola, Portugal / Duração: 90 minutos. Aliança Francesa: 12/07 - E NÃO HAVIA MAIS NEVE (Et La Neige n’Était Plus, 1965) Direção: Ababacar Samb- Makharam / Gênero: Drama / Origem: Senegal, França / Duração: 22 minutos.
  • 11. 11 12/07 - EXPECTATIONS (Expectations, 2008) Direção: Mahamat-Saleh Haroun / Gênero: Drama / Origem: Chade / Duração: 30 minutos. AGOSTO Museu da Abolição: 08/08 - A BATALHA DE ARGEL (La Battaglia di Algeri, 1965) Direção: Gillo Pontecorvo / Gênero: Drama, Guerra / Origem: Argélia, Itália / Duração: 121 minutos. 22/08 - QUANTO VALE OU É POR QUILO? (Quanto Vale ou é Por Quilo?, 2005) Direção: Sérgio Bianchi / Gênero: Drama / Origem: Brasil / Duração: 104 minutos. Aliança Francesa: 09/08 - CONTRAS’ CITY (Contras’ City, 1969) Direção: Djibril Diop Mambéty / Gênero: Documentário, Ficção / Origem: Senegal / Duração: 21 minutos. 09/08 - O ALFABETO DE MINHA MÃE (L’Alphabet de Ma Mère, 2008) Direção: Nacer Khemir / Gênero: Drama / Origem: Tunísia / Duração: 30 minutos. SETEMBRO Museu da Abolição: 09/09 - FORA DA LEI (Hors La Loi, 2010) Direção: Rachid Bouchareb / Gênero: Drama, Policial / Origem: França, Argélia, Bélgica / Duração: 138 minutos. 15/09 - ROCKERS (Rockers - It’s Dangerous, 1978) Direção: Theodorus Bafaloukos / Gênero: Comédia, Drama, Musical / Origem: Jamaica / Duração: 100 minutos. Aliança Francesa:
  • 12. 12 13/09 – A PEQUENA VENDEDORA DE SOLEIL (La Petite Vendeuse de Soleil, 1999) Direção: Djibril Diop Mambéty / Gênero: Drama / Origem: Senegal, França, Suíça, Alemanha / Duração: 45 minutos. OUTUBRO Museu da Abolição: 17/10 – NHA FALA (Nha Fala, 2002) Direção: Flora Gomes / Gênero: Musical, Comédia / Origem: Portugal, França, Luxemburgo, Guiné-Bissau, Cabo Verde / Duração: 110 minutos. 31/10 – TERRA SONÂMBULA (Terra Sonâmbula, 2001) Direção: Teresa Prata / Gênero: Drama / Origem: Moçambique / Duração: 96 minutos. Aliança Francesa: 11/10 – KIRIKOU E OS ANIMAIS SELVAGENS (Kirikou et les Bêtes Sauvages, 2005) Direção: Michel Ocelot / Gênero: Animação / Origem: França / Duração: 75 minutos. NOVEMBRO Museu da Abolição: 14/11 – A NEGRA DE... (La Noire de..., 1966) Direção: Ousmane Sembène / Gênero: Drama / Origem: Senegal / Duração: 65 minutos. 21/11 – BARRAVENTO (Barravento, 1962) Direção: Glauber Rocha / Gênero: Drama / Origem: Brasil / Duração: 78 minutos. Aliança Francesa:
  • 13. 13 08/11 – EU, UM NEGRO (Moi, un Noir, 1959) Direção: Jean Rouch / Gênero: Documentário / Origem: França / Duração: 73 minutos. cineCabeça: 05/11 – BESOURO (Besouro, 2005) Direção: João Daniel Thikomiroff / Gênero: Ação, Aventura / Origem: Brasil / Duração: 95 minutos. 12/11 – PIERRE VERGER – MENSAGEIRO ENTRE DOIS MUNDOS (Pierre Verger – Mensageiro Entre Dois Mundos, 1998) Direção: Lula Buarque de Holanda / Gênero: Documentário / Origem: Brasil / Duração: 84 minutos. 19/11 – ENCONTRO COM REALIZADORES: A IGREJA EVANGÉLICA E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA (2010) Direção: Willamy Tenório / Gênero: Documentário / Origem: Brasil / Duração: 20 minutos; HISTÓRIAS DO LADO DE LÁ (2004) Direção: Tila Chitunda, Juliana Araújo / Gênero: Documentário / Origem: Brasil / Duração: 29 minutos. 26/11 – SESSÃO PEDAGÓGICA (RACISMO NA ESCOLA) - Vídeos Publicitários, Vista Minha Pele (Joel Zito Araújo), Cores e Botas (Juliana Vicente) Direção: Vários / Gênero: Propaganda, Campanha de Publicidade, Ficção / Origem: Vários / Duração: 20 minutos / Facilitadora: Fabiana Maria (Coordenadora Pedagógica – Cineclube Bamako). Outros espaços: 24/11 – Sede do Afoxé Omô Nilé Ogunjá (Rua Concongi, 155 - Ibura, Recife-PE) MALUNGUINHO (2012) Direção: Felipe Peres Calheiros / Gênero: Documentário / Origem: Brasil / Duração: 48 minutos; Curta IKOMÓJADÈ
  • 14. 14 29/11 – SESSÃO EM PARCERIA COM O COLETIVO CABELAÇO (vários curtas em celebração ao mês da consciência negra) / Bar e Restaurante Xinxin da Baiana (Av. Sigismundo Gonçalves, 742 Olinda – PE). DEZEMBRO Fórum Pontes de Cultura (Auditório Manuel Correia de Andrade, 3º Andar (CFCH/UFPE): 05/12 – A NEGRA DE... (La Noire de..., 1966) Direção: Ousmane Sembène / Gênero: Drama / Origem: Senegal / Duração: 65 minutos. Aliança Francesa: 13/12 – KADIAMOR (Kadiamor, L’Entente, 2012) Direção: Renata Azambuja / Gênero: Documentário / Origem: França, Senegal / Duração: 73 minutos TotoArtdRua 2012 (Rua do Manduzinho, Totó): 19/12 – UMA ONDA NO AR (2002) Direção: Helvécio Ratton / Gênero: Drama / Origem: Brasil / Duração: 92 minutos Procuramos fazer uma programação variada em relação às nacionalidades e idiomas dos filmes, dispúnhamos de mais filmes francófonos, seguidos (em número) de filmes lusófonos, bilíngues e um anglófono. De acordo com a pesquisa de público realizada para o projeto na disciplina de Economia da Cultura, as respostas davam preferência a filmes de arte, documentários, e do gênero drama. Priorizamos os dados desta pesquisa na escolha das obras, porém, mesmo assim, procuramos fazer uma programação diversificada (como detalharemos no tópico sobre as sessões) no intuito de experimentar como seria a resposta do público.
  • 15. 15 A grande maioria dos filmes da programação entrou porque já eram filmes por mim conhecidos e que eu já dispunha de cópias (até então o conhecimento da equipe em relação a filmes africanos era limitado). No momento da definição dos títulos que seriam exibidos eu não tinha muito tempo para assistir filmes, por conta de trabalho e estudo. Por mais que tivesse outras opções, preferi incluir o que já era conhecido, para não arriscar demais. De lá para cá fomos assistindo outros, que pudemos incluir no segundo trimestre. Como esse material é bastante difícil de chegar ao Brasil em cópias originais, recorri ao meu acervo. A maioria dos filmes africanos foi obtida via download da internet ou copiados de outras pessoas. No momento estamos viabilizando com os parceiros a busca de contatos com produtores e realizadores do continente africano ou a ele ligados, para a obtenção de cópias e direitos de exibição. No decorrer da temporada o Cineclube Bamako foi conseguindo cópias de filmes de diversas fontes: Recebemos DVD’s de produtoras interessadas na exibição de seus produtos, como no caso do filme O Céu Sobre os Ombros (2011), do diretor Sérgio Borges (produtora Teia). Também a partir do contato com a FEPEC, conseguimos títulos como o pernambucano A Vida Plural de Layka (2012), do realizador Neco Tabosa, entre outros. A partir do contato com a Cooperação Internacional da UFPE, conseguimos alguns vídeos em DVD, filmes de curta metragem e séries. Produções moçambicanas, que planejamos incluir na temporada 2013. Ao todo foram exibidas nove produções francófonas, filmes franceses inclusos; dez lusófonas (entre elas, produções brasileiras); Entre as bilíngues tivemos: três de idiomas francês e árabe; um de idiomas francês e crioulo bissau-guineense; um anglófono e crioulo jamaicano, parceria Jamaica / EUA; e uma produção brasileira em idiomas português e francês. Mesmo com a presença majoritária da língua francesa, esta ainda seria maior se no segundo trimestre não decidíssemos por substituir alguns francófonos árabes (em cujas sessões não tivemos muito público) por filmes de países africanos de língua portuguesa, que geralmente chamavam um bom número de espectadores, principalmente estudantes universitários africanos, que geralmente vinham em grupo. Para 2013 pretendemos ter um foco maior nesse público. Logo abaixo, a lista de filmes exibidos por idioma falado: MUSEU DA ABOLIÇÃO
  • 16. 16 FILME IDIOMAS Bamako Francês Na Cidade Vazia Português A Batalha de Argel Francês / Árabe Quanto Vale ou é Por Quilo? Português Fora da Lei Francês / Árabe Rockers Inglês / Crioulo Jamaicano (Patois) Nha Fala Francês / Crioulo Bissau-guineense Terra Sonâmbula Português A Negra de... Francês Barravento Português ALIANÇA FRANCESA FILME IDIOMAS E Não Havia Mais Neve Francês Expectations Francês Contras’ City Francês O Alfabeto de Minha Mãe Francês / Árabe A Pequena Vendedora de Soleil Francês Kirikou e Os Animais Selvagens Francês / Dublado em Português Eu, Um Negro Francês Kadiamor Francês PROJETO CINECABEÇA FILMES IDIOMAS
  • 17. 17 Besouro Português Pierre Verger - Mensageiro Entre Dois Mundos Português / Francês Encontro Realizadores - A Igreja Evangélica e A Cultura Afro Brasileira / Histórias do Lado de Lá Português / Português Sessão Pedagógica Vários OUTROS ESPAÇOS FILMES IDIOMAS Malunguinho / Ikomójadè - Sede Omô Nilé Ogunjá Português / Português Curtas - Cabelaço / Xinxin da Baiana Português A Negra de... - Fórum Pontes de Cultura Francês Uma Onda no Ar - TotoArtdRua Português SESSÕES As sessões do Cineclube Bamako experimentaram situações diversas, em sua maioria positivas. A sessão de estreia, com o filme que dá nome ao cineclube, levou mais de 80 pessoas ao auditório do Museu da Abolição (ver imagens e ata nos anexos). Foi um acontecimento que realmente despertou a curiosidade do público, que aos poucos foi chegando e lotando o espaço. Com o filme e o debate, muitas pessoas se manifestaram. De militantes a acadêmicos, estudantes brasileiros e africanos, várias pessoas falaram com entusiasmo sobre a iniciativa. Com outras sessões fomos percebendo certos recortes de público de acordo com o tipo de filme. Filmes africanos de língua portuguesa chamaram atenção de estudantes universitários africanos, principalmente. Alguns filmes de idioma francês trouxeram um público com interesse
  • 18. 18 mais ligados à estética cinematográfica e estudos acadêmicos. Os filmes brasileiros e a sessão pedagógica (direcionada a alunos de EJA, imagens nos anexos), por sua vez, foram presenciados por jovens estudantes brasileiros, professores, educadores e pessoas ligadas ao movimento negro. Sentimos falta de uma maior presença de pessoas ligadas às religiões de matriz africana (para 2013 faremos sessões itinerantes em terreiros e comunidades, visando chegar a esse público). Os filmes com temáticas ligadas à África Saariana foram os que menos atraíram público. No geral tivemos maior presença de público no Museu da Abolição do que na Aliança Francesa. Talvez pelo horário de pico (19h, no Derby, área central) a Aliança tenha sido prejudicada. Também percebemos que neste espaço a presença maior era do público ligado ao universo acadêmico, professores e estudantes. No entanto, tivemos lá uma ótima experiência com a sessão especial de dia das crianças, com o filme Kirikou e Os Animais Selvagens (2005), com público e dinâmicas educativas muito agradáveis, o que nos levou a repensar bastante as estratégias nesse espaço (imagens nos anexos). Em relação aos debatedores também buscamos experimentar bastante. Professores universitários, militantes do movimento negro, representantes de coletivos e entidades políticas, artistas, realizadores. Destacamos a presença do fotógrafo Elvio Luiz na sessão com o filme sobre Pierre Verger. Muito carisma e a relação que traçou entre religiosidade, representação a partir da fotografia e a própria referência que o etnógrafo francês é para o trabalho dele foram pontos fortes que envolveram o público no debate. Também o Encontro de Realizadores com a presença de Tila Chitunda e Willamy Tenório levaram a debates marcantes por conta da relação pessoal dos convidados com as temáticas (identidade e religião, respectivamente) e os olhares destes na construção dos filmes foi algo que convidou os espectadores a debater. Naturalmente as pessoas iam participando, cada vez mais interessados (fotografias nos anexos). Tivemos também a presença do roteirista e realizador Hilton Lacerda que falou um pouco sobre a construção narrativa e de mise-en-scène do filme La Petite Vendeuse de Soleil (1999). Foi outro debate onde houve bastante participação do público, provavelmente também pelo fato de
  • 19. 19 ser um cineasta conhecido e que na época estava lançando seu primeiro longa-metragem como diretor (ver anexos). Observamos que os debates fluíam melhor quando o público não era tão grande. Nas sessões com cerca de 20 pessoas, os espectadores ficavam mais à vontade para se expressar. Ocorria que nas sessões com maior público havia mais “falas” individuais, não tanto “opiniões” interativas sobre os filmes. A seguir, breves relatos de cada sessão: Sessão 01 – 11/07 (Museu da Abolição) - BAMAKO (Bamako, 2006) Direção: Abderrahmane Sissako / Debatedor: Paulo Cunha (Professor UFPE). Inauguramos o cineclube no mês de julho no Museu da Abolição com o filme Bamako, de Abderrahmane Sissako, uma coprodução Mali /EUA/ França. Um filme de ficção marcadamente político, que apresenta uma mistura poética/realista entre possibilidades de representação documental e de fabulação sobre temas como globalização, exílio, e o contraste social no continente africano, herdado das diversas fases do sistema capitalista. Embora as dúvidas da equipe quanto à presença de público (visto que são produções muito difíceis de aparecer no Brasil), felizmente conseguimos lotar o auditório do Museu da Abolição. Mais de 80 pessoas estiveram presentes, estudantes, cinéfilos, brasileiros, africanos, militantes, representantes de instituições, acadêmicos. A diversidade de público esperada no projeto foi contemplada logo nesta primeira exibição. A sessão fluiu de modo bastante positivo, embora tenha acontecido um problema técnico: O software utilizado para reprodução do filme em certo momento deixou de exibir as legendas. Mas tudo foi naturalmente contornado, em poucos segundos, o próprio programa voltou a ler as legendas. Após o filme, convidamos o público a continuar na sessão para o debate mediado por Paulo Cunha, doutor em Artes e Ciências da Arte pela Universidade de Paris I - Panthéon-
  • 20. 20 Sorbonne e professor do Bacharelado de Cinema e Audiovisual da UFPE. Paulo falou da importância do cineclubismo de maneira geral, de um cineclube sobre cinemas africanos, especificamente, passando em seguida a tecer comentários sobre a proposta estética do filme e as relações entre documentário, ficção e realidade além de representação no cinema. Também sobre a trajetória pessoal e profissional do diretor, traçando pontes com as escolhas estilísticas adotadas para o filme. E dos momentos de olhar poético de Sissako mesmo diante da condução “documental”, um traço das cinematografias contemporâneas no mundo, e da ideia de interterritorialidade na sua temática. Após a fala do debatedor, foi aberto o debate para o público, que parabenizou a proposta do cineclube: Militantes do movimento negro, estudantes de áreas diversas, até mesmo jovens da Guiné-Bissau comentaram, impressionados com a força do filme que dá nome ao cineclube e a possibilidade de quebra dos clichês que geralmente rodeiam a ideia comum que se tem sobre África. Sessão 02 – 12/07(Aliança Francesa) - E NÃO HAVIA MAIS NEVE (Et La Neige n’Était Plus, 1965) Direção: Ababacar Samb-Makharam / EXPECTATIONS (Expectations, 2008) Direção: Mahamat-Saleh Haroun / Debatedor: Bruno Monteiro (Artista Plástico, Estudioso da Cultura Negra Na segunda sessão, primeira na Aliança Francesa, exibimos dois filmes de curta metragem, francófonos. O primeiro, dos anos 1960, apresentou o choque cultural de um estudante senegalês recém-chegado da França. A partir de sua história (personagem coletivo), um dos principais dilemas do pós-colonialismo, a necessidade da época de uma consciência individual e coletiva do intelectual africano sobre o retorno às suas origens. Já o segundo, Expectations, trouxe marcas estéticas (ambientes sonoros silenciosos, tempos mortos, metáforas) e ideológicas da contemporaneidade: o olhar sobre o drama individual, o medo de uma travessia, não se sabe de onde, nem para onde.
  • 21. 21 O debatedor Bruno Monteiro, artista visual e estudioso de culturas africanas, fez conexões históricas e do ponto de vista filosófico religioso (do pensamento africano) comparando as duas propostas existenciais do filme, a partir de seus personagens principais. Fez referências à história anterior às colonizações, à espiritualidade, presente principalmente no primeiro filme, e as realidades políticas e sociais dos anos 1960 e da atualidade. Talvez por termos um público menor do que a sessão anterior (cerca de dezesseis pessoas) a participação dos debatedores foi mais intensa e a discussão foi seguindo diversos caminhos, desde o cultural, passando pela história, a militância política nos dias de hoje, até as estéticas cinematográficas das duas produções. Sessão 03 – 25/07 (Museu da Abolição) – NA CIDADE VAZIA (Na Cidade Vazia, 2006) Direção: Maria João Ganga / Debatedora: Ceiça Axé (Militante Movimento Negro, Mestre em Educação - UFPB). Terceira sessão, segunda no Museu. Tivemos outra uma vez boa presença de público, mais de 50 pessoas vieram prestigiar o Bamako. Exibimos o filme Na Cidade Vazia, de Maria João Ganga, pontualmente às 19h. Esta sessão foi um pouco tensa, por motivos técnicos: No meio da exibição, ocorreu um defeito de mau contato do projetor com o notebook que estava reproduzindo o filme. Tentamos resolver o mais rápido possível. Tínhamos outro notebook e por volta de 10 minutos após o início do problema conseguimos contorná-lo. A exibição continuou normalmente, nenhum dos presentes deixou o auditório. Após o filme, convidamos a debatedora Ceiça Axé, para falar sobre o filme. Ela, que além de ser militante do movimento negro é mestre em educação pela UFPB, comentou sobre a questão da guerra civil em Angola e a presença dos angolanos em PE, além de outros temas relacionados à cultura negra e à militância. Mais uma vez tivemos uma boa participação do público, que comentou bastante, diversas opiniões e pontos de vista e cumprimentou a equipe pelo trabalho. Como a data era comemorativa do dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, fizemos uma exibição extra de um vídeo que estreou no mesmo dia, tratando desta temática.
  • 22. 22 Sessão 04 – 08/08 (Museu da Abolição) – A BATALHA DE ARGEL (La Battaglia di Algeri, 1965) Direção: Gillo Pontecorvo / Debatedores: Revocultura (coletivo político-cultural). O mês de agosto iniciou com uma proposta diferente. Além de exibirmos um filme da chamada África branca, o argelino A Batalha de Argel, convidamos um grupo de intervenções políticas e culturais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com quem havíamos entrado em contato na época da pesquisa de público para o Cineclube Bamako. Esta produção de 1966 é a obra prima do diretor italiano Gillo Pontecorvo e apresenta um panorama dos conflitos que levaram à independência da Argélia do domínio francês a partir da sua capital Argel. A ficção foi um dos primeiros experimentos de mistura com a linguagem documental, no intuito de reforçar a ideia de realismo. Foi uma das primeiras sessões que iniciou com poucas pessoas, outras foram chegando no decorrer do filme. Tivemos uma média de 10 pessoas presentes. Ocorreu tudo bem desta vez, nas outras tivemos problemas técnicos. Ao final, convidamos os representantes do Revocultura, Luís e Diego, estudantes de Ciências Sociais da UFRPE (imagem nos anexos), que trouxeram um recorte mais ligado às questões políticas da época, que eram bastante tensas. Após estes comentários, traçaram um comparativo com as lutas políticas dos dias de hoje, refletindo sobre o porquê da juventude não ter tanto envolvimento nas questões político-sociais. Abrindo a palavra para o público, começamos a discutir esta reflexão, o que levou a uma conversa sobre as principais movimentações populares no Grande Recife, como as greves de estudantes, greve de policiais e a cultura de criminalização dos jovens negros na nossa sociedade. Sessão 05 – 09/08 (Aliança Francesa) – CONTRAS’ CITY (Contras’ City, 1969) Direção: Djibril Diop Mambéty / O ALFABETO DE MINHA MÃE (L’Alphabet de Ma Mère, 2008) Direção: Nacer Khemir / Debatedor: Paulo Marcondes (Prof. Ciências Sociais UFPE, grupo de estudos Sociologia do Cinema)
  • 23. 23 Nossa segunda sessão na Aliança Francesa trouxe dois filmes de curta metragem que, assim como os da sessão anterior no mesmo espaço, eram de épocas e construções estéticas bastante diferentes. No entanto o que estes tinham em comum era o caráter experimental. O primeiro, Contras’ City, trazia uma elaboração formal bastante ousada para a época, um documentário que apresenta a cidade de Dakar, Senegal, de modo inusitado a partir dos diálogos de um casal, ele senegalês, ela francesa. Os personagens não chegam a aparecer visualmente, mas é a partir de seus comentários que se nota o contraste de visões de mundo e sobre os aspectos físicos e culturais da cidade. Já o segundo trata de uma experimentação ficcional, porém no plano da narrativa. O Alfabeto de Minha Mãe é protagonizado pelo próprio diretor do filme (Nacer Khemir, enquanto outro personagem, também diretor de cinema), um cineasta que escreve sobre as histórias que sua mãe contava. Ele, que vive em Paris, preocupa-se mais com sua carreira, do que em atender ao pedido de sua mãe para visitá-la, na Argélia. Os dois filmes tratando das proximidades entre realidade e ficção. Após a exibição apresentamos nosso convidado. O professor Paulo Marcondes (ver anexos) fez uma abordagem comparativa entre os dois filmes, tocando em pontos como a influência do colonialismo, óbvio na proposta do primeiro, sutil na do segundo; focou a ideia da cidade de contrastes, bastante comum em países do dito terceiro mundo, onde nota-se com mais clareza o convívio entre pobreza extrema e a ideia de desenvolvimento levada em conta por parâmetros europeus. A partir daí falou também sobre a busca da identidade cultural em um mundo cada vez mais globalizado, onde as raízes de um indivíduo podem se perder em um grande vazio, como o deserto apresentado em uma cena do segundo filme. Tivemos um debate mais moderado que o anterior, porém mais aprofundado nos focos conduzidos pelo debatedor. Sessão 06 – 22/08 (Museu da Abolição) – Sessão Pedagógica QUANTO VALE OU É POR QUILO? (2005) Direção: Sérgio Bianchi / Facilitadores: Equipe Cineclube Bamako).
  • 24. 24 Esta sessão foi nossa primeira atividade essencialmente pedagógica. Marcada para as 18h por conta dos horários da escola, devido a um atraso do ônibus que traziam os alunos convidados, acabou começando no horário normal, às 19h. Em consideração às pessoas que chegaram às 18h, exibimos alguns curtas antes da sessão principal: Tanza (2005), do argelino Mehdi Charef, Axé do Acarajé (2007), do baiano Pola Ribeiro e Maracatu, Maracatus (1995) do pernambucano Marcelo Gomes. Escolhemos um filme de longa metragem bastante conhecido e que traz uma série de reflexões sobre a condição dos negros e pobres no Brasil. Quanto Vale ou é Por Quilo?, dirigido por Sérgio Bianchi, faz uma comparação direta entre o comércio de escravos no nosso passado colonial com a exploração comercial da miséria nos dias de hoje, e as diversas consequências desta lógica de mercado entre ONGs e empresas. Um filme bastante polêmico e que provocou opiniões diversas entre o público. Convidamos professores e alunos de EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Escola Municipal Arraial Novo do Bom Jesus, localizada no bairro do Torrões, Recife. Os estudantes em sua maioria eram adultos na faixa dos 35 a 70 anos. Ao invés do debate, propomos uma dinâmica de gravação das opiniões sobre o filme a partir do uso de câmeras de telefones celulares (ver anexos). Inicialmente os educandos ficaram acanhados em participar utilizando os aparelhos e falando, mas após alguns instantes e com o incentivo da equipe de educadores do cineclube e da escola foram começando a se manifestar. Houve opiniões bastante diversas sobre o filme. Uns não aprovaram a violência com que eram apresentadas algumas das cenas, outros enxergaram o lado político da abordagem. Geralmente dividiam-se as opiniões entre aqueles que se manifestavam, uns apoiavam a proposta do filme, outros não. Um dos educandos, senhor de idade avançada, fez um longo discurso sobre a política na história do país, que foi bastante aplaudido pelos colegas. Sessão 07 – 05/09 (Museu da Abolição) – FORA DA LEI (Hors La loi, 2010) Direção: Rachid Bouchareb / Debatedores: Núcleo de Combate às Opressões – Faculdade Direito UFPE).
  • 25. 25 Mais uma sessão sobre a África árabe. Iniciamos setembro com um filme que dialoga diretamente com A Batalha de Argel, exibido no mês anterior. O longa Fora da Lei, de Rachid Bouchareb, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, fala da mesma temática do filme de Pontecorvo: a guerra de independência da nação argelina. Bouchareb apresenta a série de conflitos do ponto de vista de três irmãos bastante diferentes entre si, mas que têm em comum o amor pela mãe e o respeito às suas origens. Procuramos traçar um comparativo entre as duas visões, de diferentes épocas, mas sobre o mesmo tema, ao incluí-lo na programação. Desta vez convidamos estudantes de direito Ítalo Lopes, Gabriela Pires e Nathalya Costa, do Núcleo de Combate às opressões da Faculdade de Direito da UFPE. Sua contribuição para o debate envolveu uma ligação entre os acontecimentos, personagens e relações que o filme sugeria com diversos tipos de opressão, seja contra a mulher, contra o negro ou contra as classes menos favorecidas na estrutura social do capitalismo contemporâneo. Fizeram diversas citações a partir de trechos de livros e referências pessoais e abriram uma roda de diálogo para o debate (ver anexo), que teve grande contribuição dos demais espectadores, tal como uma conversa descontraída. Alguns que até boa parte do debate tinham permanecido calados se animaram a falar. O debate foi bastante rico e fluiu naturalmente, até ter que ser interrompido por conta do limite de horário da sessão. Sessão 08 – 13/09 (Aliança Francesa) – A PEQUENA VENDEDORA DE SOLEIL (La Petite Vendeuse de Soleil, 1999) Direção: Djibril Diop Mambéty / Debatedor: Hilton Lacerda (realizador). Nossa oitava sessão (terceira na Aliança), fechava o trimestre de curtas e médias- metragens francófonos com o belo média A Pequena Vendedora de Soleil, de Djibril Diop Mambéty. Um filme bastante diferente do que foi exibido na sessão anterior, Contras’ City, apresenta um diretor que, trinta anos depois, parece buscar uma narrativa mais focada no drama pessoal. A aparentemente frágil protagonista, uma garota portadora de deficiência nas pernas,
  • 26. 26 mostra-se bastante determinada a mudar sua condição de vida e sai em busca de trabalho como vendedora de jornal, profissão onde predominam os garotos. Em meio a diversas dificuldades por ser menina e por sua deficiência, a garota vai superando os obstáculos que encontra, conseguindo o dinheiro para ajudar a avó doente, livrando a si mesma e a uma outra mulher da injustiça policial e ainda assim arranjando tempo para se divertir e mesmo encontrar um possível namorado. Mambéty embora aparentando um afastamento da crítica social, reforça sua militância ao mostrar uma personagem que em meio a tanta dificuldade encara a vida com otimismo e dignidade. Após o filme, bastante elogiado pelos presentes, chamamos o convidado Hilton Lacerda. O roteirista / diretor estava no Recife para lançar seu filme de estreia em longa metragem de ficção e também como homenageado da Mostra Play The Movie. Ainda assim aceitou o convite para debate no Cineclube Bamako. Iniciou sua fala parabenizando a equipe pela iniciativa de dar espaço a cinematografias africanas e passou a falar da construção estilística do filme. Falou bastante sobre o aprofundamento do caráter da protagonista, enfrentando o machismo, superando as dificuldades; a importância do olhar social no cinema. Falou também de diversas tendências narrativas contemporâneas que pôde observar no filme como as elipses e a presença de outras narrativas dentro da narrativa principal do filme. Em seguida abriu para o debate. Os espectadores inicialmente comentaram o filme, mas logo as falas foram caminhando para a trajetória de Hilton como cineasta. Ele falou de diversos aspectos de sua carreira em resposta às perguntas dos espectadores, principalmente de um senhor que declarou ser escritor e aparentava bastante entusiasmo em falar. Fechamos o debate mais cedo, por conta do horário do convidado, que ainda deveria ir para o Cinema São Luiz, onde seria homenageado. Sessão 09 – 15/09 (Museu da Abolição) – ROCKERS (Rockers, It’s Dangerous, 1978) Direção: Theodorus Bafaloukos / Atrações: Bandas Awupathwa e N’zambi.
  • 27. 27 A primeira sessão especial que fizemos trouxe a música e a religião como temáticas principais. Em um dia da semana, horário e local diferentes – sábado às 16h no estacionamento do Museu da Abolição – tivemos um dia bastante trabalhoso, mas que felizmente deu certo e sem prejuízos (como se comprovou no mês de novembro, com o apoio financeiro do cineCabeça). Em meio às várias dificuldades para a realização de um evento musical ao ar livre, contamos com o apoio de diversos amigos. A única coisa que não saiu como planejado foi a ausência do DJ que iniciaria as atividades. Ele simplesmente não compareceu, nem ao menos deu satisfações. No entanto no horário de abertura ainda tinha poucas pessoas e ficamos em dúvida sobre a vinda do público, pois ao mesmo tempo ocorriam outros eventos e o Museu não era um espaço muito conhecido. Porém aos poucos as pessoas foram chegando e ficando à vontade no espaço arborizado do estacionamento. Tivemos alguns problemas com a administração do museu, em relação ao comércio dentro de suas dependências. Mas nada que não pôde ser conversado e resolvido (pelo menos naquele momento). Conforme planejado, iniciamos a exibição do filme Rockers, uma comédia musical com diversos nomes do reggae e da cultura jamaicana. Como o telão era muito pequeno, para a dimensão do espaço, pedimos ao público que ficasse mais perto. Felizmente a exibição fluiu tranquilamente, embora o medo constante da chuva, que ameaçava cair. Ao fim do filme, o público, que aumentava cada vez mais, aplaudiu e ficou à espera das atrações musicais. Após um momento de som mecânico enquanto as bandas se preparavam, subiu ao palco a banda Awupathwa, que tocou por volta de 40 minutos. Depois da apresentação, paramos um pouco por conta do som descoberto, começava a cair algumas gotas de chuva. Felizmente foi um momento passageiro e logo a banda principal, N’Zambi, subiu para fazer sua apresentação. Foi uma ótima apresentação, mesmo com a banda incompleta, sem os instrumentistas de sopro (ver anexo). O público gostou bastante e quando anunciamos o fim, por conta do horário com o museu, pediram mais algumas músicas. A equipe falou com a administração do espaço, que autorizou mais meia hora de apresentação da banda. Porém, bem no momento em que iria continuar, a chuva começou a vir com mais força e tivemos que dar o evento por encerrado.
  • 28. 28 Sessão 10 – 11/10 (Aliança Francesa) – KIRIKOU E OS ANIMAIS SELVAGENS (Kirikou et les Bêtes Sauvages, 2005) Direção: Michel Ocelot / Facilitadores: Equipe Cineclube Bamako. Começamos o segundo trimestre do Cineclube Bamako com uma programação especial. Mais uma vez exploramos o caráter pedagógico do projeto, aproveitando a ocasião do dia das crianças com a exibição do filme Kirikou e os Animais Selvagens, segundo filme do garoto minúsculo e de bom coração que faz uso da inteligência para ajudar sua tribo. Foi uma sessão que para a nossa surpresa trouxe um grande público de pais com seus filhos, tivemos uma média de 25 pessoas entre adultos e crianças. Neste dia pela primeira vez não começamos pontualmente. Devido a problemas no trânsito de nossa cidade a equipe teve um pouco de atraso, pouco mais de 20 minutos. No entanto, o público foi bastante paciente. Ninguém deixou o auditório da Aliança Francesa. A exibição aconteceu sem problemas e Kirikou encantou as crianças. Após a sessão, as educadoras da equipe trouxeram alguns materiais, canetas coloridas, lápis, papéis e sugeriram que os pequenos espectadores desenhassem o que acharam de mais interessante no filme. As crianças tiveram a opção de escolher os quadros em pausa do vídeo. Em seguida fizeram dinâmicas recreativas, que animaram bastante a criançada. Finalizamos a sessão com o sorteio de uma cópia do filme para uma das espectadoras mirins. Sessão 11 – 17/10 (Museu da Abolição) – NHA FALA (Nha Fala, 2002) Direção: Flora Gomes Outubro foi um mês difícil. Na programação do Museu da Abolição incluímos dois filmes de países africanos de língua portuguesa e dirigidos por mulheres. Embora neste primeiro, Nha Fala, de Flora Gomes fala-se em francês e crioulo guineense. Experimentamos este musical (gênero diferente do usual) que fala de uma antiga tradição da família de uma garota que gosta de cantar, o que lhe é impedido por conta de uma maldição que passa de mãe para filha. Acredita-se
  • 29. 29 que a garota morrerá se fizer isso. A jovem passa a morar na França, onde arruma um namorado produtor musical, que pede para ela gravar. No entanto, sem o consentimento da protagonista, o francês lança suas canções em CD. Resultado: a garota volta para a Guiné-Bissau e prepara seu próprio funeral. Porém um funeral em tom de alegria. Alegria que foi confirmada pelos africanos espectadores da sessão, que mesmo sem debatedor para o filme, se manifestaram falando um pouco de sua cultura. Tivemos dificuldades para conseguir um debatedor, devido a crises internas e pessoais da equipe e também pelos preparativos para novembro. Porém neste período a própria equipe do cineclube instigou o debate, a partir dos aspectos cinematográficos e culturais observados. Sendo assim, as sessões foram continuando e o público continuou a vir. Sessão 12 – 31/10 (Museu da Abolição) – TERRA SONÂMBULA (Terra Sonâmbula, 2001) Direção: Teresa Prata. Fechamos o mês de outubro com o filme Terra Sonâmbula, baseado no romance homônimo do moçambicano Mia Couto. Para esta sessão tentamos contatar a professora santomense Inocência Mata, da Universidade de Lisboa, que estava na UFPE como professora visitante. Embora a boa vontade dela em querer participar, infelizmente sua agenda estava bastante agitada por conta dos minicursos que ofereceu na UFPE, UFRPE e em faculdades no Rio de Janeiro. Interessante a coincidência de o próprio Mia Couto estar em um evento na UFPE na semana em que foi exibido o filme. A partir de suas considerações sobre diversos aspectos presentes na narrativa de seus livros, puxamos nós mesmos o debate sobre o filme, que tinha uma autonomia narrativa bastante marcada em relação ao livro. Obviamente por serem linguagens diferentes, mas a partir do evento pudemos perceber o quão ousada a diretora Teresa Prata foi na releitura do livro em seu filme. Contamos com uma boa presença de público, os estudantes africanos mais uma vez marcaram presença e a partir das considerações de outras pessoas que foram ao evento com o autor do livro, o debate na nossa sessão foi bastante enriquecedor.
  • 30. 30 Sessão 13 – 05/11 (Teatro Arraial) – BESOURO (Besouro, 2005) Direção: João Daniel Thikomiroff / Debatedor: Joab Jó – Mestre de Capoeira. No primeiro dia das sessões do Cineclube Bamako no cineCabeça tivemos a exibição do filme Besouro, de João Daniel Tikhomiroff, cineasta baiano, e convidamos o mestre Joab Jó para facilitar o debate cuja temática foi o universo da capoeira. A sessão começou com atraso por conta do trânsito do Recife. A equipe do cineCabeça, responsável pelo equipamento de projeção, ficou presa em um engarrafamento e chegou por volta das 19h20. Sendo assim, iniciamos a sessão às pressas. Como não pudemos testar as duas versões do filme, exibimos uma versão com problemas no áudio. Ficou bastante nítido um ruído que atrapalhava o entendimento dos diálogos e demais recursos sonoros do filme. A equipe do Cineclube Bamako, subiu à cabine de projeção e foi regulando o áudio até que o problema foi amenizado, embora não totalmente resolvido, pois optamos por não interromper a exibição para colocar a outra versão do filme (que após um teste no fim da sessão percebemos que tinha o áudio em perfeitas condições). Finalizado o filme, logo convidamos o debatedor a fazer suas considerações. Joab começou esquentando o debate ao trazer um ponto de vista bastante crítico em relação à forma como a capoeira era representada pelo filme. Com isso, houve uma forte participação do público nas falas, alguns defendiam a proposta do filme, outros criticavam incisivamente. No entanto, a naturalidade da discussão foi bruscamente interrompida por uma funcionária do Teatro Arraial, que simplesmente deu por fechada a sessão, sem ao menos consultar a equipe do Cineclube Bamako.
  • 31. 31 O pessoal do cineCabeça nos tinha avisado que deveríamos fechar a sessão, isso às 21h15. Como já havíamos iniciado a sessão com atraso e o regulamento da ação cineclubista indicava que poderíamos ficar até às 21h30, preferimos não abrir mão do nosso direito, previsto no acordo do regulamento. Com isso, a representante do Teatro Arraial achou por bem encerrar a sessão sem ao menos se dirigir a qualquer dos representantes do Bamako, o que causou uma situação desconfortável para a nossa equipe e para o público, que estava entretido no debate. Sessão 14 – 08/11 (Aliança Francesa) – EU, UM NEGRO (Moi, Um Noir, 1958) Direção: Jean Rouch / Debatedor: Renato Athias – Professor Antropologia Visual (UFPE). Na nossa sessão mensal de novembro da Aliança Francesa escolhemos um filme de grande importância histórica. Obra chave na construção da linguagem do documentário contemporâneo, Eu, Um Negro tinha que estar na nossa programação. Como quase sempre, no auditório da Aliança tudo aconteceu dentro dos conformes. Embora fosse no mês da consciência negra, tivemos um público pequeno, menos de 10 pessoas (imagem no anexo). Mesmo assim fizemos um debate bastante rico. O convidado para esta sessão foi o professor do Departamento de Antropologia Visual da UFPE, Renato Athias. Ele ressaltou a importância do filme a partir de dois enfoques: o da construção cinematográfica e do olhar antropológico, embora tenha apresentado mais informações sobre o segundo. Falou também da trajetória do diretor Jean Rouch que na época, poder-se-ia dizer que era um profissional deslocado. Enquanto os cineastas chamavam o que ele fazia de antropologia, os antropólogos chamavam de cinema. Mesmo assim, foi uma mente que inovou ao aproximar duas áreas do conhecimento até então distintas, introduzindo os meios audiovisuais como forma de registro etnográfico, criando, além disso, uma nova relação com o que seria o “objeto” de estudo, tornando-o também ator (literalmente), sujeito criador de sua própria representação. Desta vez o
  • 32. 32 público teve uma participação menor, talvez pelo número reduzido, apenas algumas pessoas se animaram a falar. Sessão 15 – 12/11 (Teatro Arraial) – PIERRE VERGER – MENSAGEIRO ENTRE DOIS MUNDOS (1998) Direção: Lula Buarque de Holanda / Debatedor: Elvio Luiz - Fotógrafo No segundo dia das sessões do Cineclube Bamako no cineCabeça tivemos a exibição do filme Pierre Fatumbi Verger – Mensageiro Entre Dois Mundos, de Lula Buarque de Hollanda, e convidamos o fotógrafo Elvio Luiz para facilitar o debate, cuja temática foram as relações entre a figura pública que dá nome ao filme, a religião, a fotografia e o registro etnográfico. As equipes chegaram ao Teatro Arraial pontualmente às 18h, assim pudemos fazer os testes de enquadramento de imagem e regulagem de som sem problemas. Desta vez a sessão começou pontualmente às 19h. Com essa exibição correu tudo bem e pudemos observar uma presença de público ainda maior que a da primeira sessão, 25 a 30 pessoas presentes, fora as equipes de trabalho. Tudo bem até que nos últimos minutos do filme, quase nos créditos, apareceu na tela uma mensagem de baixa energia no computador que reproduzia o filme. Um dos integrantes da equipe Bamako, responsável pela conexão entre os equipamentos faltou à sessão sem nos informar. Tivemos que correr para a cabine de projeção para conectar o carregador à tomada. Falamos com pessoas do público, que falaram que não foi algo grave, pois já estava nos créditos finais da sessão. Contornada a situação, convidamos o debatedor a fazer suas considerações. Elvio Luiz começou apresentando um pouco da sua trajetória profissional, principalmente no que se referia ao trabalho de registro de manifestações religiosas afro brasileiras. Com isso traçou uma ligação com o filme mostrando como as referências da obra de Pierre Verger estavam presentes no seu trabalho.
  • 33. 33 O público se mostrou bastante interessado, principalmente pelo carisma do debatedor, lançando perguntas relacionadas ao trabalho de Elvio com o candomblé e traçando relações com a maneira que o protagonista do filme trabalhava. Enquanto o debate ocorria, a equipe do Cineclube Bamako se reuniu com representantes do cineCabeça e do Teatro Arraial para conversar sobre o ocorrido na sessão anterior. Foi uma conversa calma, onde expusemos nossa insatisfação com o ocorrido, sobre o qual a pessoa do Teatro expôs suas razões e firmamos um acordo de nos comunicarmos melhor, para que não ocorressem novamente coisas daquele tipo. Embora o incidente da mensagem na tela, fechamos a sessão tranquilamente. O público ficou bastante satisfeito com a sessão. Sessão 16 – 14/11 (Museu da Abolição) – A NEGRA DE... (La Noire de... 1963) Direção: Ousmane Sembéne / Debatedora: Ciani Sueli das Neves – professora de direito FOCCA. Infelizmente esta sessão foi cancelada devido a ausência de público. Imaginamos que pelo motivo de estarem acontecendo diversos eventos na cidade e por ser a véspera de um feriado prolongado (15 de Novembro – Dia da Proclamação da República, uma quinta feira em 2012.). Pela importância histórica e cultural do filme e por consideração ao compromisso de nossa convidada, repetimos a sessão com a mesma debatedora no mês de dezembro. Sessão 17 – 19/11 (Teatro Arraial) – ENCONTRO COM REALIZADORES: A IGREJA EVANGÉLICA E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA (2010) Direção: Willamy Tenório / HISTÓRIAS DO LADO DE LÁ (2004) Direção: Tila Chitunda, Juliana Araújo No terceiro dia das sessões do Cineclube Bamako no cineCabeça, tivemos um encontro de realizadores que trabalham temas relacionados à cultura negra a partir do audiovisual. Foram exibidos os filmes A Igreja Evangélica e A Cultura Afrobrasileira, de Willamy Tenório, e
  • 34. 34 Histórias do Lado de Lá, de Tila Chitunda. Obviamente foram convidados os realizadores destes filmes. Teríamos ainda o filme Cambinda Estrela – Maracatu de Festa e de Luta!, de Adriano Lima. Não foi exibido, pois o realizador (que traria a cópia do filme) não compareceu à sessão por motivos pessoais, mesmo com todo o esforço da equipe do Cineclube Bamako para entrar em contato. As equipes e os debatedores chegaram às 18h, fizemos os testes de imagem e som, deixamos pronta a estrutura para iniciarmos pontualmente. No entanto, poucos minutos antes da sessão só havia chegado uma pessoa para assistir o filme. Enquanto isso, no prédio da Fundarpe (ao lado do Teatro Arraial) estava acontecendo a abertura de uma programação de comemoração do mês da consciência negra. Como havia pouca presença de público no teatro, achamos conveniente solicitar a produção do evento da Fundarpe, um momento para anunciar nossa programação. Ao que descobrimos que, além da sessão Cineclube Bamako / cineCabeça já constar na programação oficial daquele evento, fomos por duas vezes anunciados. Como o evento já estava no momento do coquetel, pedimos para anunciar pela terceira vez, o que os organizadores prontamente atenderam. Voltamos para o Teatro Arraial para começar a sessão, era por volta de 19h15, quando uma das representantes do cineCabeça abordou uma pessoa de nossa equipe iniciando uma discussão por conta do atraso da sessão. Dissemos a ela que não se preocupasse, pois, como um dos filmes não mais seria exibido, sobraria tempo e terminaríamos dentro do horário acordado. A partir daí a discussão tomou um rumo que não achamos adequado expor em um relatório, e sim, presencialmente, quando for necessário. Criou-se um ambiente tenso, bem na porta do Teatro, com pessoas já sentadas para ver o filme, outras ainda entrando. Ou seja, presenciado pelo público e atrasando ainda mais a sessão.
  • 35. 35 Algo que achamos totalmente desnecessário ocorrer naquele momento e (também) por motivos outros que ao Cineclube Bamako não interessava. Por isso, resolvemos iniciar logo a sessão. A exibição dos filmes ocorreu perfeitamente bem, sem problemas. Após os filmes convidamos os realizadores, que proporcionaram ao público um debate bastante envolvente. As pessoas participaram ativamente, lançaram perguntas e propostas, o debate fluiu por caminhos diversos, religião, política, até mesmo a história pessoal da realizadora Tila. E ainda houve espaço para divulgação de vários outros eventos que pessoas do público estavam realizando. Enfim, um debate lindo, que compensou todo o desprazer do início da sessão. Sessão 18 – 21/11 (Museu da Abolição) – BARRAVENTO... (Barravento, 1962) Direção: Glauber Rocha / Debatedor: Renato Athias – professor Antropologia Visual UFPE Esta sessão quase teria sido cancelada. Por conta de um evento do Museu da Abolição, avisado de última hora, tivemos que buscar outro local para a sessão. Conversamos com o professor da UFPE Renato Athias, que seria o debatedor, para ser exibido na universidade. Mesmo assim não teria sido interessante, pois a mesma estava em período de greve. No dia seguinte a confirmação, o Museu autorizou a exibição após o evento. Mesmo assim não fizeram o menor esforço para a divulgação. Resultado: quando chegamos, o público já havia ido embora. Mesmo assim, em consideração as pessoas presentes, poucas, mas presentes; e pelo esforço e compromisso do professor, fizemos a sessão, exibimos o filme, porém o debate rendeu pouco. Sessão 20 – 13/12 (Teatro Arraial) – SESSÃO PEDAGÓGICA (RACISMO NA ESCOLA) - Vídeos Publicitários, Vista Minha Pele (Joel Zito Araújo), Cores e Botas (Juliana Vicente) Direção: Vários / Mediadora: Fabiana Maria – Coordenadora Pedagógica Cineclube Bamako.
  • 36. 36 Desta vez tudo ocorreu nos conformes, no horário certo, com os devidos testes feitos com êxito, dinâmica bastante saudável. Fechamos o cineCabeça com uma sessão muito prazerosa, mesmo com poucas pessoas, porém que fizeram valer bastante a qualidade da discussão. Ao invés de um debate propomos uma dinâmica sobre o uso do audiovisual como ferramenta pedagógica em sala de aula para trabalhar a temática do racismo nas escolas. Fabiana Maria (coordenadora pedagógica) utilizou vídeos publicitários e filmes curtos para falar das experiências que foram realizadas em âmbito escolar. Embora o número de pessoas fosse pouco, o debate com público e equipe foi bastante rico, a maioria já tinha experiências com educação, que foram compartilhadas. Sessão 21 – 21/11 (Aliança Francesa) – KADIAMOR... (Kadiamor, l’Entente, 2012) Direção: Renata Azambuja Nossa última sessão oficial da temporada (as outras foram em parceria com outros grupos ou atendendo a convites) exibiu o documentário Kadiamor. O documentário com viés etnográfico registrou uma trupe de músicos e dançarinos senegaleses em viagem pelo seu país. Trajetórias de vida, aspirações, relações familiares e tradição foram algumas das abordagens do filme, além das belíssimas imagens do país. Nosso convidado para o debate foi o diretor de fotografia do filme, Camilo Soares, que infelizmente não pôde comparecer, pois estava gravando. Para nossa surpresa, até mesmo pela época de fim de ano, tivemos um público bom para as sessões na Aliança Francesa. De 15 a 20 pessoas estavam presentes. Talvez pela época, os eventos na cidade foram se tornando mais escassos, o que eliminava a concorrência para o Cineclube Bamako. DIVULGAÇÃO / MÍDIA
  • 37. 37 A partir do mês de junho de 2012 os preparativos para a produção do lançamento do Cineclube Bamako foram se desenvolvendo com maior ênfase. Definimos inicialmente as peças gráficas de divulgação, o que se deu levando em conta a negociação com a Aliança Francesa. Além de apoio financeiro para impressão das peças, a instituição nos pôs em contato com a agência de comunicação deles, M&P - Assessoria e Consultoria. Tivemos reuniões sobre a veiculação do Bamako em diversos veículos de mídia e sobre como seria o trabalho em conjunto. Sendo assim, elaboramos inicialmente as primeiras peças impressas: um banner, 250 folders e 200 cartazes A3, com o conteúdo do primeiro trimestre; Fizemos também panfletos virtuais com a programação mensal (inicialmente), para serem veiculados no nosso blog (ver links nos anexos), na nossa página no Facebook e para enviar a outros veículos que se interessaram em divulgar a programação. Abrimos uma conta no Flickr destinado a dispor ao público os nossos registros fotográficos. Também fizemos comunicação através de listas de correio eletrônico, enviando cartas-convite para instituições e público-alvo, além de cartas- convite direcionadas aos debatedores (conferir anexos). A assessoria da Aliança Francesa também elaborou algumas peças para divulgação no site e em outros meios de comunicação. No entanto, achamos que o material gráfico que eles criaram tinha pouca ligação com a identidade estruturada para o cineclube. Pedimos então que o layout fosse revisto, enviando inclusive versões com as mesmos formatos utilizados por eles, porém dentro da identidade do projeto. Nesse contexto achamos melhor complementar a divulgação com panfletos virtuais para cada sessão, respeitando a unidade visual do projeto. A divulgação inicial foi muito boa. Distribuímos os folders nas sessões e espalhamos os cartazes, deixamos alguns com os parceiros. Em pouco tempo a divulgação nas mídias sociais foi surtindo efeito, várias pessoas se interessaram pelo Cineclube. Recebemos diversos telefonemas do público, de assessorias de imprensa, de órgãos públicos, ONGs, grupos culturais e outros interessados em possíveis parcerias. Fizemos algumas reuniões para negociação de parcerias para 2013.
  • 38. 38 Nossas ações foram divulgadas em vários sítios na internet, jornais impressos / eletrônicos, e tivemos chamadas veiculadas em rádios locais (ver clipagem nos anexos). O Bamako foi noticiado como uma nova janela, aberta para as cinematografias africanas em Pernambuco. Esta boa repercussão foi um dos motivos para obtermos a presença de mais de 80 pessoas na sessão inaugural (ver atas nos anexos). O primeiro trimestre de trabalho (julho a setembro de 2012) foi bem estruturado em relação divulgação, o que nos trouxe boas médias de público no Museu da Abolição, e por vezes na Aliança Francesa. Os folders e os cartazes não duraram muito, e começamos a preparar o material para a divulgação virtual do segundo trimestre (outubro a dezembro de 2012). A essa altura estávamos começando a sentir o ritmo das três sessões mensais e, juntamente com os diversos trabalhos da equipe, foi ficando difícil nos concentrarmos na divulgação. Por um lado já tínhamos uma boa aceitação ainda recente, no entanto, por outro, o tempo foi ficando limitado para reuniões de equipe e estruturação da divulgação do segundo trimestre. O resultado foi que as sessões de outubro foram prejudicadas tanto pela pouca força na divulgação, quanto pela falta de tempo para contatar debatedores que pudessem estar presentes. Na Aliança tivemos a sessão pedagógica de dia das crianças, que teve bons resultados. Porém no Museu as sessões perderam o ritmo das anteriores. Ainda assim, tivemos uma noção da presença de um perfil de público para determinado tipo de filmes. Neste caso a presença de jovens africanos que vinham em grupo para participar das sessões de filmes africanos de língua portuguesa. Ainda com outra parte do orçamento da Aliança Francesa, resolvemos concentrar o investimento na divulgação impressa para o mês de novembro. Juntamente com o auxílio financeiro do cineCabeça, somamos a quantia para a impressão de 7 camisetas, 100 adesivos e 400 cartões postais. Só não fizemos mais peças porque não gostamos do serviço da gráfica que contratamos. Serviço ruim e demorado. O tempo foi passando e não achamos interessante fazer mais peças para novembro.
  • 39. 39 Mesmo assim, tivemos uma boa divulgação, inclusive com mudanças na arte das peças, para destacar a programação especial de novembro (ver anexo). Nossos melhores públicos foram no cineCabeça. A esta altura o Museu se concentrava na própria programação para o mês e a Aliança manteve o ritmo normal. Para o mês de dezembro achamos melhor concentrar a divulgação nas mídias sociais, não valeria a pena investir em material impresso naquele momento. Tivemos enfim, um bom impacto no público e mídias do Grande Recife. Embora perdendo um pouco do ritmo, esta divulgação inicial foi suficiente para manter a proposta na memória do público, que até este momento continua a perguntar sobre o retorno do cineclube, presencialmente ou visitando com frequência o nosso blog e as nossas redes sociais. PÚBLICO Em relação ao público o Cineclube Bamako experimentou diversas situações. Pudemos perceber diferenças claras em relação aos espaços principais. Basicamente o Museu da Abolição trouxe mais público, acreditamos que pelo simbolismo do espaço e a ligação desta simbologia com a proposta do cineclube. Por mais que, até a nossa presença, o Museu fosse um espaço de fato pouco visitado (isso nos foi dito pelo público e por pessoas ligadas à instituição), a adequação da temática, da linguagem (audiovisual em um museu tradicional) e a localização central foram fatores que se mostraram favoráveis para a presença de público. As pessoas que frequentaram o museu eram em sua maioria, jovens estudantes universitários brasileiros (em geral) e africanos (em sessões específicas), muitos deles das áreas das ciências humanas, pouquíssimos de cinema; Havia pessoas ligadas ao movimento negro e grupos culturais. Tivemos também nas sessões pedagógicas, pessoas ligadas a educação popular e pública. Era notável também algumas pessoas mais velhas, na faixa dos 40 a 60 anos. Imaginamos que o interesse destes últimos fosse cinéfilo, curiosidade por cinemas diferentes dos mais comuns. Era um perfil de público que frequentava também as sessões da Aliança Francesa.
  • 40. 40 Um deles, José, é advogado e veio a quase todas as sessões no Museu, na Aliança Francesa e cineCabeça. Chegava cedo às sessões, comentava sobre os filmes, ótima pessoa. Já na Aliança Francesa, tivemos uma média de público menor, o perfil era de pessoas ligadas à academia (professores, pós-graduados), cinéfilos, artistas. A faixa etária um pouco mais avançada do que no museu, 30 a 70 anos. A pretensão inicial era que alunos da Aliança Francesa participassem das sessões, o que ocorreu raríssimas vezes. No entanto o grau de participação nos debates era maior, talvez pelo perfil ligado à academia, e as discussões tinham maior aprofundamento. Neste espaço imaginamos que seria necessário um melhor estudo para acertarmos qual seria o público, lembrando que a pesquisa feita para o projeto inicial contemplou apenas o Museu da Abolição como espaço. Também o horário para este ano está sendo revisto, pois o horário de pico foi bastante prejudicial para as sessões, principalmente em dias de chuva. Interessante foi a experiência da sessão pedagógica de dia das crianças. Achamos que foi um bom indicativo para acertamos um perfil melhor direcionado para a Aliança Francesa. Neste ano conversamos com a direção da instituição sobre o foco no público infanto-juvenil, uma ligação maior com a sua coordenação pedagógica e sessões no horário da tarde (16h), como opção para esta faixa etária e para evitar o horário de pico. Conforme já pincelado na descrição das sessões pudemos notar que: filmes africanos de países de língua portuguesa tem boa recepção entre estudantes universitários de origem africana; as sessões pedagógicas trazem pessoas interessadas no uso do audiovisual como recurso para aplicações em aulas (o que estamos trabalhando no projeto pedagógico); os filmes de países árabes não despertaram grande interesse de público; é necessário rever as estratégias para atingir o público ligado a religiões de matriz africana (o que tentaremos com as sessões itinerantes em 2013); No mês de novembro temos bastante concorrência, não apenas com outros eventos ligados ao mês da consciência negra, como também os eventos culturais da época de verão, que são bastante comuns.
  • 41. 41 PATROCÍNIO / APOIO Além do apoio dos parceiros principais (Museu da Abolição e Aliança Francesa), saímos em busca de outras formas de apoio ou patrocínio. Entramos em contato com instituições como a Fundação Joaquim Nabuco. Fizemos algumas reuniões na unidade Apipucos. Mesmo não conseguindo nenhuma forma de apoio por conta do planejamento interno da FUNDAJ, a partir deles visitamos outras possibilidades. Com eles tivemos uma reunião com uma das representantes do Fundo Baobá, que disse não terem nada específico para a área de audiovisual, porém se interessaram bastante pelo foco pedagógico do projeto. Eles têm um edital na área de formação. Apresentamos os planos para médio e longo prazo, onde teríamos (atualmente temos) um foco específico no lado pedagógico. Desde então estivemos mantendo contato. Esta representante no início deste ano, enviou um email, perguntando sobre nossa continuidade em 2013. Ficou de nos informar quando saísse o edital deles. Também entramos em contato com representantes da Prefeitura do Recife. Primeiramente com o Núcleo de Cultura Afro, logo em seguida com a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial. Infelizmente a política partidária na cidade estava em crise e a gestão do PT bastante instável. Cheguei a me reunir com o então diretor do Núcleo de Cultura Afro, que recebeu muito bem a proposta, fiquei de deixar o projeto protocolado na secretaria deles. Fui por mais de uma vez lá e encontrei o Núcleo de portas fechadas. Fiquei sabendo pouco depois, que este estava fechado temporariamente e o diretor com quem falei tinha sido afastado do cargo por divergências no partido. Quando fui à primeira reunião com a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial, lançamos nossa proposta, que foi analisada. A diretora já tinha conhecimento do projeto por conta da via que deixei no Núcleo de Cultura Afro antes de seu fechamento. Marcamos outra reunião, na qual foi apresentada a contraproposta da diretora. Seria um evento interno na PCR, direcionado aos servidores do município. Em novembro, justamente no fim da gestão. Claro que não aceitamos a proposta.
  • 42. 42 Fora estes que foram citados, várias outras instituições mencionaram interesse em determinados focos do projeto, principalmente no pedagógico, mas não vimos nenhuma ação efetiva para concretizar esse interesse. Resolvemos realizar o cineclube com o que já tínhamos de efetivo. Conseguimos apoio financeiro (R$ 2.300,00) por parte da Aliança Francesa para elaboração de material gráfico; Também apoio no reforço da divulgação das nossas atividades a partir da sua assessoria de imprensa. Para o evento ao ar livre, com apresentações musicais, a própria equipe financiou a estrutura de som e luz (R$ 500,00), porém conseguiu o retorno do investimento com a venda de bebidas e alimentos (fora do museu). O lucro que tivemos no fim das contas foi mínimo, (R$ 300,00). Outro auxílio financeiro veio com as sessões do cineCabeça em novembro. O projeto destinava a quantia de R$ 800,00 para os cineclubes que realizam as sessões mensais. Ao todo foram quatro sessões. Além de retornamos o investimento da equipe, reforçamos a mesma com mais três pessoas, a quem pagamos R$ 100,00 cada. Enfim, não foram grandes os apoios materiais que tivemos. Porém, assim mesmo conseguimos fazer uma boa temporada. Mas já sabemos ser inviável manter um ritmo tão pesado sem uma remuneração para a equipe. Afinal, todos nós trabalhamos e torna-se cansativo manter um cineclube com tanta frequência de sessões. Sabemos ser importante, mas também não achamos viável a inscrição no edital de fomento à cultura do nosso estado. É uma quantia tão pequena destinada ao cineclubismo, que não vale a pena o esforço para um cineclube com a proporção do Bamako. PARCEIROS Museu da Abolição
  • 43. 43 O projeto do Cineclube Bamako foi recebido de maneiras bem diferentes entre os dois parceiros principais. Entramos em contato inicialmente com o Museu da Abolição, espaço idealizado pelo projeto para receber nossas sessões. Após contatos iniciais por email, marcamos uma reunião com a diretora e com a funcionária que mediou estes contatos. Esta última mostrou- se muito animada com a proposta. A diretora falou bastante sobre a situação de transição administrativa interna, enquanto entidade ligada ao governo federal e também sobre as experiências anteriores à sua gestão, de cineclubismo e eventos musicais. Em seguida informou que seria necessária uma documentação oficial por parte da UFPE, da FEPEC (enquanto cineclube filiado) e de minha parte enquanto responsável pelo projeto, que, teve que destacar na versão enviada ao Museu que era um projeto experimental de conclusão do curso de Cinema e Audiovisual que aconteceria no segundo semestre de 2012. Sem previsão de retorno em 2013, até porque a instituição tinha um planejamento de exibição regular de vídeos, planejamento este que seria executado em diversos museus ligados ao IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus). No decorrer da parceria tivemos momentos na maioria das vezes complicados. Embora a animação e o compromisso em colaborar na organização das duas primeiras sessões, a relação foi esfriando com o tempo. Fomos percebendo que para qualquer solicitação de nossa parte, até mesmo as mais simples, precisávamos de um ofício para a instituição. Procurávamos relevar, compreendendo os processos burocráticos de instituições públicas. Porém aos poucos fomos percebendo um mal-estar entre o museu e a nossa presença. Em cada sessão precisávamos de alguns cabos, extensões e um caixa de som do próprio museu. Sempre demorava bastante para sermos atendidos. Na sessão especial ao ar livre com bandas, tivemos diversos atritos com a equipe do museu presente no dia de sábado. Havíamos solicitado, inclusive por ofício, uma das salas para termos como base para a equipe e bandas. O que na hora nos foi negado. Alegaram que era porque o Museu da Abolição deveria ficar fechado por que não havia ninguém da administração. Ou seja, elas queriam ir embora. Não abrimos mão do que foi solicitado, até por que os
  • 44. 44 seguranças patrimoniais estavam ali para isso, até que as funcionárias perceberam que iriam ter que ficar. Dias depois a equipe do Cineclube Bamako foi chamada para uma reunião com a diretora do Museu, que informou que as sessões ao ar livre não poderiam mais acontecer no espaço. O motivo que nos informaram foi o do uso de álcool e substâncias ilícitas, além da vendas de artigos de artesanato. Todos estes pertences eram trazidos pelo público. A partir de então a relação com o Museu da Abolição só piorou. Esta situação teve reflexo nas sessões de outubro e novembro, cada vez mais esvaziadas neste espaço (que nem ao menos se esforçava para a divulgação). Já na Aliança Francesa e durante o projeto cineCabeça conseguimos manter o mesmo ritmo. O resultado foi que a nossa última sessão no museu, de encerramento da temporada do cineclube e que aconteceria em dezembro, foi cancelada. Ainda cogitamos procurar outro espaço, mas estávamos tão cansados pelo ritmo das nove sessões do mês de novembro que consideramos ser melhor não realizar a sessão cancelada neste momento. Um outro motivo teve relação com a época de final de ano em que os eventos da cidade já não estavam sendo programados. Também em relação à estrutura, a situação era mais difícil no Museu. A própria equipe do Bamako tinha que carregar os equipamentos, trazer certos tipos de cabo de áudio. Por vezes o projetor simplesmente apagava por alguns segundos no meio das sessões, o que se repetiu em várias delas. Relatamos para a administração, mas me parece que não deram muita atenção. Aconteceu que em um evento da própria instituição (lançamento de um curta-metragem), o projetor deu esta mesma falha, além do aparelho do DVD que também deu erro na leitura do disco. Acredito que só então devam ter levado em consideração o que falamos. Neste ano de 2013, resolvemos convocar uma reunião com o Museu da Abolição. Cancelamos a parceria, pois não achamos que, por mais que nos esforçássemos na divulgação e no cumprimento dos processos burocráticos da instituição, fomos correspondidos em profissionalismo. O Museu da Abolição desinteressou-se pelo projeto. Então não achamos viável
  • 45. 45 continuar por lá. Fechamos esta etapa de maneira cordial, inclusive com a possibilidade de fazer alguma sessão isolada futuramente, nas itinerâncias das novas temporadas. Aliança Francesa O contato com a Aliança Francesa foi, para minha surpresa na época, muito mais simples do que com o museu. Iniciei com um simples telefonema no qual informei minhas intenções. A atendente me passou um endereço de e-mail do gestor acadêmico da instituição. Enviado o e-mail com o projeto comercial, logo recebi a resposta marcando uma visita na unidade Boa Viagem. Apareci no dia marcado, apresentei o projeto, que foi muito bem visto pelo funcionário da Aliança. Ele até perguntou sobre o porquê de não ter enviado o projeto antes. Marcamos mais algumas reuniões, com a presença do diretor geral e em pouco tempo fechamos uma parceria na qual incluímos a ideia deles de realizarmos sessões na própria Aliança. Foi tudo mais simples e direto. O decorrer da relação foi sempre muito cordial e profissional. Tudo que precisávamos, desde uma simples solicitação de vaga de carro para um debatedor, como a viabilização de uma parte do apoio financeiro (mesmo com o responsável por isso em período de recesso) era simples e rápido de solucionar. Praticamente não tivemos problemas com a Aliança Francesa, nada que não fosse negociável para o interesse de ambas as partes. Tínhamos estrutura e pessoas para apoiar na montagem da mesma. A assessoria de imprensa da instituição ajudou bastante na divulgação em rádio, jornais, internet e outras mídias, apoio material e financeiro. Também conseguiram algumas bolsas de estudo de francês para a equipe. Foi uma relação muito diferente da que tivemos com o Museu. Em relação a 2013, a própria Aliança entrou em contato com o Cineclube Bamako para saber se tínhamos proposta de uma nova temporada. Fizemos algumas reuniões e ficamos de
  • 46. 46 enviar um planejamento para esse ano. Partiu deles a ideia de exibições itinerantes nas unidades Derby, Boa Viagem e Caruaru. No entanto, devido aos problemas políticos que envolvem relações diplomáticas entre a França e o Mali (cuja capital chama-se Bamako) tivemos que dar uma pausa no planejamento para o primeiro semestre. Inicialmente, eles sugeriram mantermos o planejamento em 2013.1 e que modificássemos o nome do Cineclube Bamako, para “Cineclube Afrique”. Eles falaram dos motivos: a Aliança Francesa, sendo uma instituição “apolítica” temia que o debate político que poderia ser levantado prejudicasse a imagem que a instituição cultural pretende manter. De fato esta postura política nos foi informada desde o início da parceria, inclusive o próprio diretor havia falado dos conflitos no Mali, antes mesmo da intervenção francesa. Esta situação foi debatida em reunião interna da equipe do Cineclube Bamako, que, aliás, desde o início assinava Bamako Produção. Respondemos à Aliança Francesa sobre a inviabilidade da mudança do nome, porque além de ser o nome que adotamos para o grupo, nos projetos que estamos desenvolvendo queremos manter a ligação com a proposta do Cineclube Bamako. Os projetos desenvolvidos, mesmo que à parte da atividade cineclubista, são extensões do planejamento (em médio prazo) que desde o início do projeto estávamos trabalhando. O projeto em questão, e já em desenvolvimento, é um ciclo de oficinas sobre as temáticas de cultura negra a partir do audiovisual. Além disso, enquanto educadores e formadores de opinião a partir do audiovisual que somos, por mais que quiséssemos – e não queremos – evitar a discussão política, esta acaba de uma forma ou de outra entrando nos debates a partir das temáticas sobre consciência negra, individual e coletiva. Fizemos uma reunião com a Aliança e explicamos estes motivos, que foram compreendidos. Foi uma decisão de ambas as partes deixar as atividades do Cineclube Bamako para o segundo semestre de 2013.2, tempo que imaginamos que será suficiente para uma resolução dos conflitos internacionais, ou pelo menos da participação francesa nestes conflitos. Embora discordemos em relação à política, entramos em acordo e não desfizemos a parceria. Todavia, na incerteza, estamos procurando outras alternativas.
  • 47. 47 A estrutura do Auditório André Maulraux, da Aliança Francesa, era muito bem equipada. Bastava colocarmos os cabos de áudio, vídeo e energia para começarmos a sessão. No único problema técnico que tivemos, com uma das caixas de áudio, informamos à administração através do funcionário e prontamente a situação foi resolvida. Felizmente sempre havia um funcionário, muito prestativo, que estava disponível para nos ajudar nas exibições dos filmes e nos debates. Demais Parceiros Além dos parceiros principais contamos com o apoio do Centro de Comunicação e Juventude (CCJ Recife) que fez o registro fotográfico, na maioria das sessões. Foi simples a parceria, até por que trabalho nesta instituição. Com a Federação Pernambucana de Cineclubes (FEPEC) obtivemos uma orientação nas relações institucionais, com o museu principalmente, e na organização interna do Bamako. Aos poucos fui me integrando com a Federação, ministrei algumas oficinas da parceria que ela tem com a ação cineclubista do projeto cineCabeça e também realizamos (enquanto cineclube convidado) a atividade de exibição também do referido projeto, em novembro. Hoje faço parte da diretoria da FEPEC, enquanto coordenador de memória interino. Contamos também com o apoio da Cooperação Internacional da UFPE que, ao visitar Moçambique a partir de uma de suas representantes, nos trouxe um material audiovisual e contatos de produtores de lá. As bandas que tocaram na sessão especial tornaram-se parceiras e atualmente pensamos produções de videoclipe enquanto pagamento por troca de serviços. CONCLUSÃO Foi uma experiência muito gratificante. Mesmo com toda a dificuldade foi bonito ver pessoas cada vez mais interessadas em cinematografias de países africanos. A resposta do público foi ótima, a maioria dos debates foi muito construtiva e os resultados foram bastante felizes. A projeção que o Cineclube Bamako teve foi além do esperado. Pessoas de vários locais do país (e
  • 48. 48 de outros países) ficaram encantados com a proposta. Achamos muito importante que esta janela continue aberta para a difusão dos cinemas africanos e de outros cinemas que falem da cultura negra e das questões relativas à mesma. No entanto, sendo bastante realista, como já adiantamos neste relatório, é simplesmente inviável manter uma produção do patamar que fizemos, sem retorno financeiro. Por mais que a equipe tenha se esforçado para esta realização e por mais que os resultados tenham sido tão positivos, na maioria das vezes, nos deparamos com a dificuldade de nos concentrarmos tanto, nos dedicarmos tanto e, além disso, termos que nos preocupar com os outros afazeres das nossas vidas pessoais e profissionais. E como não achamos que o financiamento para o cineclubismo seja a solução (a experiência com a FEPEC, nos mostrou que há vários entraves), queremos dar continuidade ao Cineclube Bamako, com o apoio e estrutura que já temos. Porém pretendemos trabalhar outros projetos, ligados ao cineclube, mas expandindo de modo que possamos garantir nossa sustentabilidade profissional. Para isso estamos desenvolvendo projetos à parte, já citados, que iremos submeter a alguns editais, como por exemplo os destinados a produtores negros, do Ministério da Cultura e outros, de instituições privadas. Para 2013 temos como foco o trabalho com a linha pedagógica do Bamako. Desenvolvemos um projeto específico nesta área que vamos propor a instituições como o já citado Fundo Baobá e também com a Casa da Árvore Projetos Sociais, com quem já conversamos sobre essa possibilidade no ano passado e com quem já trabalhamos com o projeto Telinha na Escola aqui no Recife. O cineclube está previsto para 2013.2 na Aliança Francesa e itinerante em terreiros e comunidades. Por conta da questão política com a instituição, dos trabalhos e problemas internos entre a equipe e, pessoalmente, esta minha finalização de curso, considero que seja mesmo melhor que façamos o retorno com mais calma no próximo semestre. Desta forma haverá mais tempo de nos organizarmos e contatar os espaços de exibição.
  • 49. 49 Nossa experiência do ano passado por um lado nos motivou a continuar com a proposta, todavia teremos o desafio de fazer com que esta prática seja sustentável. Vimos que associarmos às instituições públicas – pelo excesso de burocracia e interesses políticos partidários – não é um bom caminho. Pelo menos não é uma prioridade. Então tentaremos dar continuidade a esse processo a partir dos projetos paralelos e encaminhados por parceiros de iniciativa privada e não governamentais. A iniciativa vale à pena, como valeu. No entanto, para uma próxima etapa, sendo possível um sustentablilidade das pessoas que realizam o projeto. REFERÊNCIAS: Livro: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no Mundo – Indústria, Política e Mercado: África – Volume 1. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. Online: ÁFRICA E AFRICANIDADES - BLOG: Disponível em: <http://africaeafricanidadenoja.blogspot.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. AFRICAN FILM LIBRARY – CANAL YOUTUBE: Disponível em: <http://www.youtube.com/user/AfricanFilmLibrary?feature=watch>. Acesso em 31 Mar. 2013. CENTRO AFRO CARIOCA DE CINEMA: Disponível em: <http://www.afrocariocadecinema.org.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. CINE ÁFRICA - BLOG: Disponível em: <http://cine-africa.blogspot.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013.
  • 50. 50 CINE ÁFRICA – EVENTO: Disponível em: <http://cineafricaunit2010.blogspot.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. CINE AFRO SEMBENE: Disponível em: <http://cineafrosembene.blogspot.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. CINECLUBE ATLÂNTICO NEGRO: Disponível em: <http://atlanticonegro.blogspot.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. CINECLUBE MACAÍBA: Disponível em: <http://macaibacineclube.blogspot.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. CINEMAFRICA: Disponível em: <http://cinemafrica.se/>. Acesso em 31 Mar. 2013. CULTNE – ACERVO DIGITAL DE CULTURA NEGRA: Disponível em: <http://www.cultne.com.br/index.php>. Acesso em 31 Mar. 2013. DURBAN INTERNATIONAL FILM FESTIVAL (DIFF) 2011: Disponível em: <http://www.africafilms.tv/en/news/307_DURBAN+INTERNATIONAL+FILM+FESTIVAL+( DIFF)+2011>. Acesso em 31 Mar. 2013. FESTFILMES – FESTIVAL DO AUDIOVISUAL LUSO AFRO BRASILEIRO: Disponível em: <http://www.festfilmes.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. MUSEU DA ABOLIÇÃO: Disponível em: <http://www.museudaabolicao.com.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013. SECRETARIA DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL (SEPPIR): Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/>. Acesso em 31 Mar. 2013.