O documento discute o comportamento do consumidor durante a pandemia de COVID-19 à luz da neurociência do consumo. Aborda como o sistema defensivo do cérebro é ativado durante períodos de estresse, levando a mudanças irracionais de comportamento, e como a desinformação pode piorar a crise. Também examina os impactos do isolamento social no bem-estar e como as marcas podem fornecer apoio social neste momento difícil.
2. 1. A mente sob ameaças
2. As mudanças de comportamento
3. O novo coronavirus
4. Consequências para o consumo
5. O papel das marcas neste cenário
Sumário
4. Sistema defensivo
e respostas inconscientes
O Sistema Defensivo é ativado em resposta a
contextos e estímulos desagradáveis, que
normalmente envolvem ameaça direta ou indireta, e
provocam emoções negativas, como o medo,
normalmente associadas a comportamentos de luta,
fuga, afastamento e evitação.
A ativação desse sistema induz a uma série de reações
corporais, como a secreção de hormônios e a
aceleração dos batimentos cardíacos, preparando o
organismo para reagir adequadamente frente às
situações de estresse e perigo.
Situações de estresse recorrentes, como as
vivenciadas durante esse período de crise provocado
pela Covid-19, podem prejudicar nossas habilidades
de realizar decisões coerentes e assertivas.
Ainda que as reações fisiológicas aumentem nossas
performances atencionais, quando o estresse se
torna exacerbado ou prolongado, a racionalização
das nossas decisões é prejudicada por escolhas
apressadas e incertas (compras desenfreada de
mantimentos e produção de estoque em casa).
6. Irracionalidades
e atalhos mentais
O coronavirus traz um padrão de pânico ou negação.
As pessoas pensam “O mundo está acabando!!” ou
“Será que o problema é tão grande assim?”
O problema é que a verdade está no meio do caminho.
Individualmente, a maioria de nós não corre muito
risco. Sistematicamente, corremos grande risco. São
exatamente esses cenários, onde há uma grande
incompatibilidade entre riscos individuais e sistêmicos
que nosso comportamento se torna irracional. Isso
ocorre porque nossa mente considera as coisas como
elas nos afetam, não como elas afetam o país, a
comunidade ou o mundo.
Junto a isto, não temos habilidade para pensar de
forma exponencial, pensamos de forma linear.
As pessoas não ficam surpresas se você diz que há
milhares de casos de Covid-19 fora da China ou
quando se diz que esse número duplica a cada três
dias. Mas quando dizemos que, se o crescimento
continuar nesse ritmo, teremos quase dois milhões de
casos em 3 semanas, elas ficam surpresas.
7. Heurísticas e
Vieses Cognitivos
O Inconsciente não é bom em matemática
Simplificamos probabilidades e números para facilitar pensar sobre os mesmos. Nossa mente
inconsciente é terrível em matemática e geralmente comete todo tipo de erros sobre a chance de algo
acontecer se faltar algum dado. Veja: Contabilidade mental, Viés da normalidade, Falácia do apelo à
probabilidade, Lei de Murphy, Falácia da conjunção, Viés do sobrevivente, Viés de soma zero, Efeito da
denominação, Lei de Miller (número mágico 7+-2).
8. Heurísticas e
Vieses Cognitivos
Estereótipos e Generalizações
Preenchemos características de estereótipos, generalizações e histórias pregressas sempre que há
novas instâncias ou vácuos de informação. Quando temos informações parciais, sobre uma coisa
específica que pertence a um grupo de coisas com as quais estamos familiarizados, nosso cérebro
não tem problema em preencher as lacunas com palpites ou o que outras fontes confiadas
providenciam. Convenientemente, esquecemos então quais partes eram reais e quais foram
preenchidas. Veja: Erro de atribuição de grupo, Favoritismo intragrupo, Estereotipação,
Essencialismo, Fixação funcional, Efeito de credibilidade moral, Hipótese do mundo-justo, Falácia da
falácia, Viés da autoridade, Viés da automação, Efeito adesão, Efeito placebo.
9. Heurísticas e
Vieses Cognitivos
Imediatistas: preferência pelo que é concreto
Para nos mantermos focados, favorecemos o que está imediato, ou com que nos relacionamos,
sobre o que está distante ou atrasado. Valorizamos mais o que está no presente do que no futuro e
nos conectamos mais a histórias de indivíduos específicos do que anônimos ou grupos.
Veja: Desconto hiperbólico, Apelo à novidade, Efeito da vítima identificável.
11. Pandemia X Infodemia
Um dos agentes estressores durante a quarentena é
o excesso de informações inadequadas, como
informações falsas e conflitantes. Há uma quantidade
impressionante de informações erradas que se
propagam on-line e os próprios vieses cognitivos
podem ser explorados para nos tornar ainda mais
suscetíveis à desinformação.
No geral, é possível que as pessoas que
compartilham essas informações erradas
superestimem sua própria capacidade de entender
problemas muito complexos, pois geralmente temos
mais confiança naquilo que conhecemos.
Nunca nesta geração se viu algo nesta magnitude e com os impactos consequentes.
Isso pode ser exacerbado ainda pela falta de
confiança nas instituições, sejam eles governos, a
indústria farmacêutica ou a mídia tradicional.
Hoje, temos uma sociedade que é excessivamente
crítica e superinformada, mas, infelizmente, pouco
apta a usar estas informações.
Ficamos doentes não só pelo excesso, mas pela
qualidade das informações. O agente etiológico da
infodemia são as fakenews e o sensacionalismo.
12. O efeito cascata da crise sanitária e econômica:
A crise social
Implementar um distanciamento social radical e
rápido antes que a crise seja inegável requer dois
recursos em falta: confiança social e solidariedade
social. Eventualmente, o pedágio da epidemia será
generalizado e as pessoas aceitarão medidas de
emergência como uma resposta necessária. Mas a
essa altura, estaremos além do ponto de contenção.
Se a confiança social é reduzida, a solidariedade
social é quase inexistente. Como escreve o sociólogo
Eric Klinenberg, “Solidariedade social ou a
interdependência entre indivíduos e entre grupos...
[é] uma ferramenta essencial para combater doenças
infecciosas e outras ameaças coletivas”.
É a solidariedade que nos convence e nos permite
sacrificar um pelo outro. É a solidariedade social que
"nos impede de acumular remédios, resistir a um
resfriado no local de trabalho ou enviar uma criança
doente para a escola".
O distanciamento social e a solidariedade social são
os dois lados da mesma moeda: na ausência dos
tipos de políticas que emergem da solidariedade
social, o distanciamento social não é
economicamente nem psicologicamente possível.
14. Isolamento e insegurança:
como reagimos a isto?
Está bem estabelecido na literatura de psicologia e
saúde pública que o isolamento social tem
consequências prejudiciais para o bem-estar, com
efeitos comparáveis a outros fatores de risco
conhecidos, como o tabagismo.
A solidão também está associada ao aumento do
risco de problemas de saúde mental, incluindo
depressão e ansiedade. Diversos estudos que
avaliaram indivíduos que estavam em quarentena
por durações que variavam de vários dias a várias
semanas, lançam luz sobre possíveis
consequências.
Embora se possa esperar angústia e irritabilidade por falta
de contato social, perda de liberdade e tédio durante a
quarentena, estes estudos indicam efeitos a longo prazo,
incluindo sintomas depressivos e dependência de
substâncias até três anos após o término da quarentena.
Os estudos já realizados sobre quarentena revelam certos
estressores chave:
01 02 03
Duração da
quarentena
Medo da
infecção
Frustração
e tédio
17. Uma sociedade
global e colaborativa
A ameaça de uma pandemia, no entanto - real ou
percebida -, aproveita todos os vieses cognitivos
corretos. Como muitos de nossos mecanismos
psicológicos e normas sociais co-evoluíram com
patógenos e prevenção de infecções, o pensamento
de uma pandemia fornece uma oportunidade
cativante, intuitiva e de mudança de vida para
reestruturar nossa atenção, prioridades e coalizões.
Assim, as pandemias oferecem uma oportunidade
tangível de unir toda a humanidade contra uma
ameaça real e, portanto, sem se envolver em
nenhuma ação sectarista, racista ou excludente.
A ansiedade em massa, medidas extremas e cobertura
maníaca da mídia em torno do evento COVID-19
reestruturaram drasticamente nossa atenção para
muitas características cruciais de nossas vidas. Agora
estamos mais conscientes de nossa saúde e
agradecidos por nossos corpos. Somos lembrados de
todas as populações vulneráveis em nossas sociedades
e o quanto nos importamos com elas, somos lembrados
de que temos e somos uma sociedade global.
18. O COVID-19 também nos lembrou que o próprio
tecido social que uma vez nos fortaleceu foi
quebrado e está nos mostrando o caminho para
corrigi-lo. Pessoas estão esperando pacientemente
sua vez e tomando precauções para proteger os
fracos e contínuos atos de bondade entre
estranhos. Em uma escala muito maior, os
governos mundiais estão agora coordenando
medidas preventivas com um grau de cooperação
nunca antes visto.
Pode ser difícil aceitar que a coisa mais importante e útil
que podemos fazer neste momento é ficar em casa. Mas
estamos fazendo isso para salvar vidas e cuidar um do
outro.
Uma sociedade
global e colaborativa
19. Seja um agente
transformador
A mudança no comportamento dos consumidores
impacta diretamente a forma como eles respondem
às diferentes estratégias de comunicação realizadas
pelas marcas.
É exatamente nesse momento que as estratégias
adotadas pelas marcas se tornam um diferencial
para combater as previsões pessimistas, de modo a
proporcionar soluções e suportes para seus
consumidores.
Tiago Mattos, futurista do laboratório de tendências
Aerolito: "Minha empresa, na posição que está, faz algo
relevante para o mundo? A vulgarização do termo
propósito trouxe um senso de urgência de se assumir
uma missão que vá além da própria organização.“
Pesquisas indicam que 59% dos brasileiros acreditam
que as marcas devem agir junto do governo, como uma
equipe, para combater o vírus enquanto apenas 19%
acham que isso é dever somente do Estado.
20. Não é hora de fazer
hardselling
Zoe Cheng, head of growth at Shanghai-based retail
tech firm Cosmose: “Community-building deve ser o
foco, enquanto equilibra vendas com branding. É
importante não fazer hard-selling insensível”
“Soft-selling é importante para manter a manter a
consciência e reconhecimento da marca da sua
empresa, para que seus clientes se tornem
familiares com o vocabulário de sua marca e
possam responder bem uma vez que eles estejam
prontos para gastar novamente”.
21. Suporte social gera
esperança
Quando a pressão é alta e os governos estão
sobrecarregados, cabe às empresas grandes e
pequenas fazer coisas que melhorem seus
funcionários, clientes e a comunidade em geral, até
que esse momento difícil passe. Marcas e empresas
também possuem responsabilidade no combate ao
novo coronavírus.
De acordo com o levantamento realizado pela
plataforma MindMiners a pedido do Meio&Mensagem,
quando a pergunta é sobre lembrança de marcas, 64%
apontam que lembram de uma marca associada ao
tema nos últimos dias e para 47,1%, a publicidade tem
um papel fundamental de informação e
conscientização.
22. Exemplos no Brasil
e no mundo
• Harvard, FGV, Sebrae, Udemy e outras instituições
estão oferecendo cursos gratuitos que além de
capacitar a população, ajudam a enfrentar esse
período de isolamento social;
• iFood cria fundo de R$ 50 milhões para restaurantes
e injeta R$ 600 milhões em capital de giro mantendo
assim a vida ativa desse setor da economia;
• O Google estabeleceu um fundo COVID-19 que
permite que todos os funcionários temporários e
fornecedores, em todo o mundo, tirem uma licença
médica paga se tiverem sintomas potenciais de
COVID-19 ou não puderem entrar em trabalho
porque estão em quarentena. Eles também
disponibilizaram seu serviço de videoconferência, o
Hangouts Meet, para todos os clientes do G-suite até
1º de julho de 2020.
• Ambev fabricando e distribuindo de álcool para
hospitais da rede pública;
• Burguer King Brasil destinando parte da sua receita
líquida para o SUS;
• Amazon contratou mais 100 mil trabalhadores e
está dando aumento para sua equipe atual para
lidar com as demandas devido ao coronavírus e
ainda liberou gratuitamente livros em versões
digitais
• Uber anunciou 14 dias de licença médica
remunerada para motoristas e entregadores com
coronavírus ou que precisam ficar de quarentena;
24. Histórias possuem muito poder em nossas mentes. Nesse
momento, nós também precisamos ouvir histórias de
pessoas que se recuperaram do vírus ou que não foram
infectadas, apesar de apresentar riscos familiares. Histórias
positivas acalmam a mente e nos ajudam a tomar decisões
melhores.
Um exemplo de mídia que traz esse contexto é um
comercial da Coca-Cola, veiculado na Copa do Mundo de
2014 que conta a história real de Fabio Gonçalves, um
senhor de 83 anos que viu o Brasil perder na copa de 1950.
Fabio revela aos mais jovens que eles ainda vão viver
momentos melhores do que os da Copa de 2014 e que
“com toda certeza, ainda vão ver o Brasil ser campeão“.
O filme reconhece o momento difícil vivido pelo
torcedor, mas transmite uma mensagem de
esperança, estimulando o espectador a pensar no
futuro e a valorizar as coisas boas da vida, como
estar com a família.
A análise do BRAIN indica que o comercial foi
efetivo em chamar a atenção do público,
principalmente devido ao storytelling utilizado, que
mostrou a preocupação da marca em transmitir
uma mensagem real, relevante e coerente com o
período vivido.
25. Ocupar um tempo que não existia:
educação, entretenimento e conexão
26. Ocupar um tempo que não existia:
educação, entretenimento e conexão
Você está em casa 24/7, trabalhando remotamente,
ou sem trabalhar. O que é provável que aconteça?
Você vai ter muito mais tempo livre. E o que fazer
com esse tempo livre?
Não é surpresa que, na China, dados sobre o hábito
dos consumidores durante o confinamento em suas
casas, devido ao coronavírus, mostrou aumento no
consumo de mídia de qualquer tipo - desde jogos a
assistir filmes e shows em casa. O gráfico ao lado
demonstra o salto na audiência na
televisão durante esse período de tempo.
27. Novas hábitos na
transformação digital
Em contraste com o sofrimento do comércio
tradicional, impactado pelo confinamento da
população, aplicativos e plataformas digitais
apresentaram um salto de demanda.
Plataformas online para educação, trabalho remoto
e entretenimento online, como vídeo, música e
jogos apresentaram aumento de usuários. Até
mesmo consultas médicas online via aplicativo
recebeu 100.000 pedidos de consulta em apenas
um dia.
A transformação digital é imperativa para toda
companhia transformar todo o seu modelo de negócio
digital, abrangendo todas as áreas de uma empresa. Isso
é necessário para atender às constantes mudanças nas
necessidades dos consumidores, coletar informações de
consumo, centralizar databases para operações rápidas
e integradas. A transformação digital é uma estratégia a
longo prazo.
“Há muitos aprendizados que as lideranças podem tirar
deste momento atípico. Uma reflexão que podemos
fazer é: em razão do surto, há a clara necessidade de
flexibilização de horários, de processos e da presença
física no escritório. Se as empresas conseguirem operar
de maneira eficiente dentro deste contexto mais fluido,
ela devem se perguntar: por que não mantemos assim
quando o coronavírus passar?” (Tiago Mattos, futurista
do laboratório de tendências Aerolito).
28. Fortalecimento da
Economia de Transformação
Segundo Erica Carranza, vice-presidente de
psicologia do consumidor da empresa de pesquisa
de mercado Chadwick Martin Bailey (CMB), “No
momento, estamos todos andando com esse
estado elevado de saliência da mortalidade e isso
cria uma sensação de ansiedade existencial.
Embora os efeitos sejam mais difíceis de prever, ele
tende a aumentar a probabilidade das pessoas
gastarem de maneiras que apoiam seus valores
essenciais e sustentam sua autoestima ou gastam
das maneiras que consideram dizer algo importante
sobre quem são.”
Já o professor de psicologia do consumidor da
Universidade do Sul da Califórnia, Jorge Barraza,
acha que agora é o momento de varejistas e
profissionais de marketing alavancarem os
consumidores em busca de escolhas mais
sustentáveis e saudáveis.
“Esta é uma oportunidade de mudar nosso foco na
sustentabilidade e que isso não é apenas bom para
o meio ambiente, mas também especificamente
para nós. Assim, por exemplo, é tempo de
mensagens claras em torno da noção de compra e
fornecimento de produtos localmente. ”
29. Um novo olhar
para realidade
Após esse momento conturbado de consumo e
modo de viver, as marcas na China estão
esperançosas de que os consumidores voltarão a
consumir normalmente. Os chineses, porém, estão
descobrindo novas realidades: muitas pessoas
estão discutindo online como a quarentena, por
exemplo, os fez reavaliar os prazeres simples da
vida como amigos e pessoas amadas. Essa
transformação no consumidor pode resultar em um
cenário diferente para setores como os produtos de
luxo.
Jing Daily escreveu que, mesmo antes da crise,
os chineses mais ricos já estavam se afastando
do consumo exagerado e desenvolvendo uma
visão mais equilibrada de consumismo. Essa crise,
uma vez que terminada, pode acelerar esse
processo. Os consumidores mais sofisticados
acharão outras formas de demonstrar seu status e
influência, se aproximando da influência ocidental
de luxo “responsável”.
30. 3 dicas para a
sua marca
01.
As marcas estão com
medo de dizer algo errado
durante esse período,
mas mostrar empatia
durante a crise é melhor
do que ficar em silêncio.
02. 03.
Evolua seu modelo
de negócio
McDonald's aprimorou
pick-ups e deliveries.
Boates estão fazendo
festas virtuais através de
live-streaming.
Pense na transmídia
storytelling
Utilize diferentes canais
de comunicação
simultâneos para falar
com os clientes
Vá além
do produto