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REFLEXÕES SOBRE A CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA MUNDIAL DE 2008,
SEUS POSSÍVEIS CENÁRIOS E PROVÁVEIS MUDANÇAS GEOPOLÍTICAS


Fernando Alcoforado1


RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar os fatores que contribuíram para a eclosão da crise
econômica e financeira mundial de 2008, suas reais causas e as conseqüências dela
resultantes, o futuro da crise mundial de 2008, os cenários da economia mundial e as
mudanças geopolíticas futuras. A metodologia adotada consistiu na análise de publicações
relacionadas com a crise econômica e financeira mundial e seus desdobramentos e a evolução
futura do capitalismo mundial. O resultado dos estudos indicou que a crise econômica e
financeira mundial de 2008 será prolongada e que dela deve resultar uma nova ordem mundial
que deve organizar não apenas as relações entre os homens na face da Terra e suas relações
com a natureza com a celebração de um contrato social planetário entre as nações que
possibilite o desenvolvimento econômico e social e o uso racional dos recursos da natureza.
.
ABSTRACT
This article has for objective to present the factors that contributed to the eruption of the
world economical and financial crisis of 2008, their real causes and consequences resultants,
the future of the world crisis of 2008, the scenario of the world economy and the changes
future geopolitics. The adopted methodology consisted of the analysis of publications related
with the world economical and financial crisis and their unfolding and the future evolution of
the world capitalism. The result of the studies indicated that the economical and financial
crisis of 2008 will be lingering and that it should result a new world order that should
organize the relationships among the men in the Earth, but also their relationships with the
nature with the celebration of a contract social planetarium among the nations that it makes
possible the economical and social development and the rational use of the resources of the
nature.
1
   FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO é doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha, em 2003, especialista em Engenharia
Econômica e Administração Industrial pela UFRJ- Universidade Federal de Rio de Janeiro em 1971, graduado
em Engenharia Elétrica pela UFBA - Universidade Federal de Bahia em 1966, professor universitário, consultor
de organizações públicas e privadas nacionais e internacionais nas áreas de planejamento econômico,
planejamento e desenvolvimento regional, planejamento de sistemas de energia e planejamento estratégico.
Exerceu os cargos de Secretário do Planejamento de Salvador (1986/1987), Subsecretário de Energia do Estado
da Bahia (1988/1991), Diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Empresas Estaduais de
Gás Canalizado (1990/1991), Presidente do Clube de Engenharia da Bahia (1992/1993), Diretor do Conselho
Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (1990/1993), Presidente do Instituto Rômulo Almeida de
Altos Estudos (1999/2000) e Diretor da Faculdade de Administração das Faculdades Integradas Olga Mettig
(2005/2007). É autor dos livros Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos
na Era Contemporânea (Empresa Gráfica da Bahia, Salvador, 2007), Globalização e Desenvolvimento (Editora
Nobel, São Paulo, 2007), Um projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), De Collor a FHC- o
Brasil e a nova (des)ordem mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998) e Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), entre outros. Há muitos anos é articulista de diversos jornais da imprensa brasileira (Folha de São
Paulo, Gazeta Mercantil, A Tarde e Tribuna da Bahia), publicando artigos versando sobre economia e política
mundial e brasileira, questão urbana, energia, meio ambiente e desenvolvimento, ciência e tecnologia,
administração, entre outros temas. Endereço: Rua do Benjoim, 209/1101, Caminho das Árvores, CEP 41820-
340, Salvador, Bahia. Telefone: (71) 33542967. E-mail: falcoforado@uol.com.br.


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Palavras chaves: Crise econômica e financeira mundial de 2008. O futuro da crise mundial
de 2008. Cenários da economia mundial. Mudanças geopolíticas futuras.


Keywords: World economical and financial crisis of 2008. The future of the world crisis of
2008. Scenario of the world economy. Changes future geopolitics.


1. Origens da crise econômica e financeira mundial de 2008


No início de agosto de 2008, surgiu uma crise financeira no setor dos empréstimos
hipotecários nos Estados Unidos que, imediatamente, se propagou para outras partes do
sistema financeiro mundial, com uma rapidez e uma amplitude que surpreenderam o mercado.
Segundo Gillian Tett (2009), PhD em antropologia social pela Universidade de Cambridge,
editor assistente do Financial Times que faz a cobertura global dos mercados financeiros, os
grandes bancos ocidentais jogaram o mundo em uma recessão. O Banco da Inglaterra diz que
os prejuízos dos bancos que tiveram que reajustar os seus investimentos para preços de
mercado são de US$ 3 trilhões, o equivalente a cerca de um ano de produção econômica do
Reino Unido. O Banco de Desenvolvimento Asiático estimou que os ativos financeiros em
todo o mundo podem ter sofrido uma queda, até o presente momento, de mais de US$ 50
trilhões - um número equivalente à produção global anual.


Segundo Gillian Tett (2009),


           a atual crise é um produto de mudanças que vêm se enraizando silenciosamente no Ocidente há
           vários anos. Há meio século, a atividade bancária parecia ser uma arte relativamente simples.
           Quando os bancos comerciais estendiam os empréstimos, eles tipicamente mantinham essas
           operações dentro de seus próprios sistemas contábeis - e utilizavam cálculos rudimentares
           (combinados com as informações sobre os seus clientes) quando decidiam se emprestariam ou não.
           Porém, da década de setenta em diante, duas revoluções ocorreram: os bancos passaram a vender o
           seu risco de crédito a outros investidores nos prósperos mercados de capital e adotaram complexos
           sistemas baseados em computadores para mensurar o risco de crédito que eram frequentemente
           importados do setor de ciências puras - e elaborados por luminares da estatística, como Den Braber
           do RBS.


Gillian Tett (2009) constata que,



                                                                                                           2
não só o sistema financeiro está amargando prejuízos em uma escala que ninguém jamais previu,
           mas os pilares da fé sobre os quais o novo capitalismo financeiro foi construído também
           praticamente desmoronaram. Isso fez com que todos, dos ministros das finanças aos banqueiros
           centrais, dos pequenos investidores aos pensionistas, ficassem destituídos de uma bússola
           intelectual, desnorteados e confusos. "O nosso mundo está quebrado - e eu honestamente não sei o
           que irá substituí-lo. A bússola segundo a qual conduzíamos os Estados Unidos desapareceu",
           afirma Bernie Sucher, diretor de operações em Moscou do Merrill Lynch. "A última vez em que vi
           algo desse tipo, em termos de sensação de desorientação e prejuízos, foi entre os meus amigos na
           Rússia, quando a União Soviética desmoronou".


Gillian Tett (2009) afirma que,


           até o verão de 2007, a maioria dos investidores, banqueiros e governos acreditava que essas
           revoluções representavam "progresso" real que beneficiava a economia como um todo. Os
           reguladores adoravam o fato de os bancos estarem ampliando as exposições de crédito, já que
           crises como a de poupanças e empréstimos nos Estados Unidos, na década de oitenta,
           demonstraram os perigos de os bancos serem expostos a um tipo concentrado de empréstimo. "A
           dispersão do risco de crédito ajudou a tornar o sistema bancário e financeiro mais resistente",
           proclamou em abril de 2006 o Fundo Monetário Internacional (FMI), expressando uma crença
           ocidental generalizada.


Gillian Tett (2009) afirma ainda que,


           à medida que a inovação no setor financeiro tornou-se mais intensa, ela também passou a ficar
           permeada de uma terrível ironia. Em público, os técnicos financeiros na vanguarda da revolução
           retratavam as mudanças como medidas que promoveriam uma forma superior de capitalismo de
           livre mercado. Quando uma equipe do JPMorgan criou derivativos de crédito na década de 1990
           (um contrato definido entre duas partes no qual se definem pagamentos futuros baseados no
           comportamento dos preços de um ativo de mercado, normalmente as chamadas “commodities”),
           uma palavra-chave favorita na sua literatura de mercado era a afirmação de que tais derivativos
           promoveriam "completitude de mercado" - ou mercados livres mais perfeitos.


Em julho de 2007, a fé cega começou a sofrer rachaduras. Nos Estados Unidos a
inadimplência passou a aumentar no setor de hipotecas “subprime” que é um crédito de risco,
concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de
juros mais vantajosa (prime rate) ou para designar uma forma de crédito hipotecário
(mortgage) para o setor imobiliário destinada a tomadores de empréstimos que representam
maior risco. Esse crédito imobiliário tem como garantia a residência do tomador e muitas
vezes era acoplado à emissão de cartões de crédito ou a aluguel de carros. Agências como a
                                                                                                         3
Standard & Poor's reduziram as classificações de produtos vinculados a hipotecas e admitiram
que os seus modelos matemáticos estavam apresentando defeitos.


Mas quando o índice de inadimplência das “subprime” aumentou, os contadores exigiram que
os bancos reavaliassem os instrumentos utilizados. Por volta da primavera de 2008, o Citi, o
Merrill e o UBS haviam amargado coletivamente um prejuízo de US$ 53 bilhões. Gillian Tett
(2009) afirma que os bancos tentaram tapar este buraco com a obtenção de mais de US$ 200
bilhões em capital novo. Mas o buraco continuou aprofundando-se. Como resultado, a fé na
capacidade dos reguladores de monitorar os bancos desmoronou. A fé nos bancos também
acabou. A seguir, quando os modelos matemáticos perderam a credibilidade, os investidores
desprezaram todas as formas de finanças complexas.


Em setembro do ano passado, o último pilar da fé veio abaixo. A maioria dos investidores
admitia que o governo dos Estados Unidos jamais deixaria um grande grupo financeiro
fracassar. Mas quando o Lehman Brothers faliu, a desconfiança e a perplexidade aumentaram
exponencialmente. A maior parte dos mercados de crédito desmoronou. Os preços
enlouqueceram. Os bancos e analistas de ativos descobriram que todos os seus modelos
financeiros fragmentaram-se. "Nos mercados de capital, nada mais funcionava", diz o
principal analista de riscos de um grande banco ocidental. Conforme observou algumas
semanas mais tarde Mervyn King, diretor do Banco da Inglaterra, "o sistema estava no
precipício".


Segundo Gillian Tett (2009),


           enquanto buscam atualmente novos pilares de confiança para as finanças, os governos estão
           intervindo para substituir muitas funções do mercado. O Tesouro dos Estados Unidos está
           realizando "testes de estresse" nos bancos, a fim de aumentar a confiança dos investidores. No
           Reino Unido o governo está fornecendo aos bancos garantias contra os ativos "tóxicos". Os bancos
           e as agências de crédito estão - tardiamente - reformulando os seus modelos. As financeiras e os
           reguladores também prometeram tornar a indústria mais transparente e padronizada.


Hoje, com a imensa crise financeira global e uma desaceleração sincronizada na atividade
econômica, o mundo está mudando de novo. É impossível a esta altura saber para onde
estamos indo? Segundo Gillian Tett (2009), nos caóticos anos 70 do século passado, poucos
imaginavam que na década de 1980 veria a inflação ser domada, o avanço do capitalismo e a


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morte do comunismo. O que acontecerá agora dependerá das escolhas não feitas e de choques
desconhecidos. Mas a combinação de colapso financeiro com imensa recessão, se não algo
pior como a depressão, certamente mudará o mundo. A legitimidade do mercado
enfraquecerá. A credibilidade dos Estados Unidos será manchada. A autoridade da China
aumentará. A própria globalização poderá sucumbir. Este é um momento de levante.


Gillian Tett (2009) pergunta como o mundo chegou aqui?


           Uma grande parte da resposta é de que a era da liberalização continha as sementes de sua própria
           queda: esse também foi um período de enorme crescimento na escala e lucratividade do setor
           financeiro, de inovação financeira frenética, de crescentes desequilíbrios macroeconômicos globais,
           de grande endividamento dos lares e de bolhas de preços de ativos, isto é, um desvio no preço justo
           do mesmo ou um exagero por parte dos investidores que estariam dispostos a adquirir ativos por
           preços incompatíveis com o fluxo de caixa que estes ativos prometem gerar. Ao intervir para
           manter suas taxas cambiais baixas e acumular reservas de moeda estrangeira, os governos das
           economias emergentes geraram imensos superávits em conta corrente, que reciclaram, juntamente
           com os afluxos de capital privado, em fluxos de saída de capital oficial. Entre o final dos anos 90 e
           o pico em julho de 2008, apenas as reservas de moeda dos países emergentes cresceram em US$
           5,3 trilhão.


Estes fluxos imensos de capital, somados aos superávits tradicionais de vários países ricos e
os crescentes superávits dos exportadores de petróleo, foram parar em grande parte em um
pequeno número de países ricos e particularmente nos Estados Unidos. No pico, os Estados
Unidos absorveram cerca de 70% do superávit poupado do restante do mundo. Enquanto isso,
dentro dos Estados Unidos, a razão de endividamento dos lares em relação ao PIB saltou de
66%, em 1997, para 100% uma década depois. Saltos ainda maiores no endividamento dos
lares ocorreram no Reino Unido. Estes aumentos nas dívidas dos lares foram apoiados, por
sua vez, por sistemas financeiros altamente elásticos e inovadores e, nos Estados Unidos, por
programas do governo.


Gillian Tett (2009) afirma que


           estamos testemunhando a crise financeira mais profunda, ampla e perigosa desde os anos 1930.
           Como os professores Reinhart e Rogoff argumentam em outro trabalho, "as crises bancárias estão
           associadas a profundos declínios na produção e emprego". Isto se deve em parte aos balancetes
           estendidos além do limite: nos Estados Unidos, a dívida geral atingiu o pico recorde de pouco
           menos de 350% do PIB - 85% dela privada. Isto em comparação a pouco mais de 160% em 1980.


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Entre os resultados possíveis deste choque estão déficits fiscais imensos e prolongados nos países
           com grandes déficits externos, à medida que tentam manter a demanda, uma recessão mundial
           prolongada, um ajuste brutal da balança global de pagamentos, um colapso do dólar, alta da
           inflação e protecionismo. A transformação certamente será mais profunda no próprio setor
           financeiro.


Segundo Gillian Tett (2009), o brilhante novo sistema financeiro - apesar de todos seus
participantes talentosos, apesar de todas as suas ricas recompensas - fracassou no teste de
mercado. Em um recente trabalho, Andrew Haldane, o diretor executivo de estabilidade
financeira do Banco da Inglaterra, mostra quão pouco os bancos entendiam os riscos que
supostamente deveriam administrar. Ele atribui estes fracassos a uma "miopia de desastre" (a
tendência de subestimar os riscos), uma falta de consciência da "rede de externalidades"
(contaminações de uma instituição para outras) e "incentivos desalinhados" (o lado positivo
para os empregados e o lado negativo para os acionistas e contribuintes).


Gillian Tett (2009) afirma ainda que


           após a crise, nós certamente "veremos um setor financeiro menos orgulhoso". Os mercados
           imporão uma disciplina brutal, mesmo que temporária. A regulamentação governamental também
           endurecerá. Menos claro é se os autores de políticas contemplarão soluções estruturais com uma
           separação do sistema bancário comercial do sistema bancário de investimento ou uma redução
           forçada do tamanho e complexidade das instituições consideradas grandes demais ou
           interconectadas demais para falirem. Também é possível imaginar um retorno de grande parte da
           atividade bancária ao mercado doméstico, à medida que os governos cada vez mais dêem as cartas.
           Neste caso, haveria uma "desglobalização".


Outra conclusão de Gillian Tett (2009) é o de que o colapso financeiro está provocando uma
desaceleração industrial mundial. Ela também está se espalhando por todo setor significativo
da economia real, grande parte da qual está clamando por assistência e que a busca por
segurança fortalecerá o controle político sobre os mercados. Uma mudança das políticas
significa privilegiar uma mudança para o nacional e longe do global. Isto já está evidente nas
finanças. Também é visto na determinação de resgatar os produtores nacionais. Mas a
intervenção protecionista provavelmente se estenderá muito além dos casos vistos até agora
que é só o começo.




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Paul Krugman (2009), economista, colunista do The New York Times, professor de
Economia e Assuntos Internacionais da Universidade Princeton, detentor do Nobel de
Economia de 2008, afirma que,


           o fato é que os recentes números econômicos são assustadores, não apenas nos Estados Unidos,
           mas ao redor do mundo. O setor manufatureiro, em particular, está despencando em toda parte. Os
           bancos não estão emprestando, as empresas e os consumidores não estão gastando. Não vamos
           medir palavras: isto se parece muito com o início da segunda Grande Depressão.


O impacto da crise será particularmente duro sobre os países emergentes. O número de
pessoas em pobreza extrema aumentará, o tamanho da nova classe média encolherá e os
governos de alguns países emergentes endividados certamente darão calote. A confiança nas
elites locais e globais, no mercado e até mesmo na possibilidade de progresso material
enfraquecerá, com consequências sociais e políticas potencialmente devastadoras. Ajudar as
economias emergentes durante uma crise pela qual a maioria não tem nenhuma
responsabilidade é uma necessidade imperiosa.


François Chesnais (2008) afirma que o efeito da crise financeira sobre a economia real atingiu
os mercados emergentes mais duramente do que as economias desenvolvidas, com o colapso
dos fluxos de comércio e uma queda dramática nos preços das “commodities”. Está claro que
aqueles mais duramente atingidos serão os mais pobres -especialmente na África- que
possuem menos com que contar. Depois desses, os mais duramente atingidos serão os
produtores de “commodities” que sempre enfrentaram grandes problemas sociais e
demográficos, como os ricos em energia (Rússia, Irã, Nigéria e Venezuela). Até mesmo os
produtores de petróleo do Golfo foram afetados. Todos se acostumaram à exportação e
receitas inchadas e estão enfrentando ajustes.


Gillian Tett (2009) afirma que


           a capacidade do Ocidente em geral e dos Estados Unidos em particular de influenciar o curso dos
           eventos futuros será também comprometida. O colapso do sistema financeiro ocidental, enquanto a
           China floresce, marca um fim humilhante para o "momento unipolar", isto é, de dominação dos
           Estados Unidos. Enquanto os autores de políticas ocidentais enfrentam dificuldades, a credibilidade
           deles está arruinada. Quem ainda confia nos professores? Estas mudanças colocarão em risco a
           capacidade do mundo não apenas de administrar a economia global, mas também de lidar com os
           desafios estratégicos representado por Estados frágeis, terrorismo, mudança climática e a ascensão


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de novas grandes potências. No extremo, a integração da economia global da qual quase todos
             agora dependem pode ser revertida.


Gillian Tett (2009) afirma que a era da liberalização financeira acabou. Mas, diferente dos
anos 1930, não existe nenhuma alternativa à vista para a economia de mercado. Segundo Tett
(2009), para saber para onde o capitalismo está rumando, é imperativo entender mais
claramente o que ocorreu de tão errado com o sistema financeiro do século 21. Sem dúvida o
que não falta são potenciais culpados: ganância desbragada, regulações destituídas de rigor,
políticas monetárias excessivamente flexíveis, empréstimos fraudulentos e fracasso gerencial.


Tudo isso desempenhou um papel - conforme ocorreu em períodos anteriores de prosperidade
e crise. Um outro problema que influiu na crise foi a extraordinária complexidade e opacidade
do sistema financeiro moderno. Nas duas últimas décadas, uma onda de inovação remodelou a
forma como os mercados funcionam, de uma maneira que dava a impressão de resultar em
grandes benefícios para todas as partes. Mas essa inovação tornou-se tão intensa que
atropelou a capacidade de compreensão dos banqueiros mais comuns - isso para não
mencionar os reguladores.


2. As causas e consequências da crise econômica e financeira mundial


Michel Chossudovsky (2009), economista canadense, professor visitante de instituições
acadêmicas na Europa, América Latina e Sudeste da Ásia, que tem atuado como assessor
econômico de países em desenvolvimento e como consultor de organizações internacionais,
afirma que


             a leitura conjunta dos livros de Paul Jorion — Vers la crise du capitalisme américain? — e de
             Aglietta e Berrebi (Désordres dans le capitalisme mondial. Paris: Odile Jacob, 2007) é muito útil.
             O primeiro permite compreender por que era quase inevitável que o choque ocorresse no setor
             hipotecário norte-americano.


Segundo Chossudovsky (2009),

             Paul Jorion lança um olhar bem severo sobre práticas financeiras que ele não hesita em caracterizar
             como quase permanente e intrinsecamente fraudulentas, mesmo nos casos em que, como no da
             Enron, não se abriu nenhum processo penal. Aglietta e Berrebi, por seu turno, explicam de que




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modo a atual fase do capitalismo só pode gerar, em intervalos próximos, crises financeiras cujo
           epicentro é os Estados Unidos.


Um dos grandes problemas enfrentados pelo sistema capitalista mundial é o da necessidade de
expansão da demanda para dar sustentação à produção de bens e serviços. Chossudovsky
(2009) afirma que


           para manter um nível de atividade elevado no planeta, “é necessária uma demanda dinâmica”. Ao
           menos por enquanto, ela não provém dos países emergentes (China, Índia, Brasil), onde a
           distribuição de renda e as relações entre cidade e campo freiam o crescimento do consumo interno
           e onde os excedentes externos asseguram o financiamento dos déficits dos Estados Unidos. A
           demanda também não pode ter como origem as rendas salariais, cujo crescimento é fraco. Ela
           provém das rendas distribuídas aos acionistas e à elite dirigente, mas sua massa global é
           insuficiente para sustentar uma demanda agregada em crescimento rápido. A resposta a esse dilema
           encontra-se no poder de expansão do crédito. É aí que o capitalismo contemporâneo encontra a
           demanda que permite realizar as exigências do valor acionário.


O economista francês François Chesnais (2008), especialista em economia industrial e
economia da inovação tecnológica, que foi economista da Direção de Ciência, Tecnologia e
Indústria (DSTI) da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e é
membro do Laboratório de Pesquisa Larea-Cere, na Universidade de Paris-X Nanterre e
professor da Universidade de Paris-XIII Villetaneuse, afirma que


           um dos meios utilizados para superar os limites do capital das economias centrais foi que todas elas
           recorreram a criação de formas totalmente artificiais de ampliação da demanda efetiva, que,
           somando-se a outras formas de criação de capital fictício, geraram as condições para a crise
           financeira que está se desenvolvendo hoje.



François Chesnais (2008) afirma ainda que,


           para Marx, o capital fictício é a acumulação de títulos que são “sombra de investimentos” já feitas
           mas que, como títulos de bônus e de ações aparecem com o aspecto de capital aos seus possuidores.
           Não o são para o sistema como um todo, para o processo de acumulação, mas o são para os seus
           possuidores e, em condições normais de fechamento dos processos de valorização do capital,
           rendem aos seus donos dividendos e rendimentos. Mas seu caráter fictício se revela em situações de
           crise. Quando sobrevêm crises de superprodução, quebra de empresas, etc, se adverte que esse
           capital não existia.




                                                                                                             9
François Chesnais (2008) afirma que


          é devido ao capital fictício que se pode ler às vezes nos jornais que tal ou qual a quantidade de
          capital desapareceu em alguma “sacudida do mercado”. Essas somas nunca haviam existido como
          capital propriamente dito, apesar de que, para os donos dessas ações, representavam títulos que
          davam direito a dividendos. Um dos grandes problemas de hoje é que em muitos países os sistemas
          de aposentadoria estão baseados no capital fictício, com pretensões de participação nos resultados
          de uma produção capitalista que pode desaparecer em momentos de crise.


Segundo Chesnais (2008) ,


          o processo de liberalização e globalização financeira dos anos 1980 e 1990 esteve baseado na
          acumulação de capital fictício, sobretudo nas mãos de fundos de investimentos, fundo de pensões,
          fundos financeiros. E a grande novidade desde finais ou meados dos anos 1990 e ao longo dos anos
          2000 foi, nos Estados Unidos e na Grã Bretanha em particular, o impulso extraordinário que se deu
          à criação do capital fictício na forma de crédito. De crédito a empresas, mas também e, sobretudo,
          de crédito habitacional, créditos ao consumo e a maior parte em créditos hipotecários.


Chesnais (2008) afirma que


          isso contribuiu para dar um salto na massa de capital fictício criado, originando formas ainda mais
          agudas de vulnerabilidade e fragilidade, inclusive frente a choques menores, inclusive frente a
          episódios absolutamente previsíveis. Por exemplo, se sabia que um “boom” imobiliário termina
          inexoravelmente e que no mercado acionário existia a ilusão de que não havia limites para a alta no
          preço das ações. Com base em toda a história prévia se sabia que a expansão não seria sustentável
          nem no setor imobiliário nem no mercado de ações. Quando se trata de edifícios e casas e mercado
          de ações é inevitável que chegue o momento em que o “boom” acaba.


          O fim da prosperidade, que era um fato normal e previsível, se transformou numa crise tremenda.
          Acrescenta-se a tudo isto, o fato de que, durante os últimos dois anos, os empréstimos foram feitos
          nos Estados Unidos a famílias sem a menor capacidade de pagamento. E, além disso, tudo se
          combinou com as novas “técnicas” financeiras permitindo-se assim que os bancos vendessem
          bônus em condições tais que ninguém podia saber exatamente o que estava comprando até a forte
          explosão dos “subprime”em 2007. Chesnais afirma que agora estão no processo de “desmontagem”
          deste processo. Mas dentro desta “desmontagem” há processos de concentração de capital
          financeiro. Quando o Bank of America compra o Merryl Lynch, por exemplo, estamos diante de
          um processo de concentração clássico.




                                                                                                          10
François Chesnais (2008) levanta uma grande indagação se, a curto prazo, a demanda interna
da China poderá passar a ser o lugar que garanta esse momento de realização da mais-valia
(taxa de exploração, segundo Marx, que corresponde à diferença entre o valor produzido pelo
trabalho e o salário pago ao trabalhador) que se dava nos Estados Unidos. A acumulação de
capital na China se fez com base em processos internos, mas também com base em algo que
está perfeitamente documentado, mas pouco comentado: o deslocamento de uma parte
importantíssima do Setor II da economia, o setor da produção de bens de consumo, dos
Estados Unidos para a China. E isto tem muito a ver com o volume dos déficits americanos (o
comercial e o fiscal), que só poderiam reverter-se por meio de uma reindustrialização dos
Estados Unidos.


Isto significa dizer que se estabeleceram novas relações entre os Estados Unidos e China. Não
se trata já mais das relações de uma potência imperialista com um país semicolonial. Os
Estados Unidos criaram relações de novo tipo, que agora têm dificuldades de reconhecer e
assumir. Com base no superávit comercial, a China acumula milhões e milhões de dólares,
que logo empresta aos Estados Unidos. São relações internacionais de um tipo totalmente
novo.


Na Europa é evidente a tendência a uma aceleração da destruição de forças produtivas e de
postos de trabalho para deslocar-se para o único paraíso do mundo capitalista hoje que é a
China. Na China se deu internamente um processo de competição entre capitais, que se
combinou com processos de competição no aparato político chinês, e de competição para
atrair empresas estrangeiras, o que resultou num processo de criação de imensas capacidades
de produção. Além da capacidade de violentar a natureza em enorme escala, também na
China se concentra uma superacumulação de capital que em um dado momento se tornará
insustentável.


Segundo Chesnais (2008), as fases desta crise são distintas das de 1929, porque a crise de
superprodução dos Estados Unidos se constatou desde os primeiros momentos. Da mesma
forma que ocorreu com a crise de 1929 e nos anos 1930, ainda que em condições e formas
distintas, a crise se combinará com a necessidade, para o capitalismo, de uma reorganização
total da expressão de suas relações de forças econômicas no contexto mundial, marcando o
momento em que os Estados Unidos verão que sua superioridade militar é somente um
elemento, e um elemento bastante subordinado, para renegociar suas relações com a China e


                                                                                           11
outras partes do mundo. Ou chegará o momento no qual se dará o salto a uma aventura militar
de imprevisíveis consequências.


Chesnais (2008) constata também que


           estamos diante do risco de uma catástrofe, mas já não do capitalismo, e sim de uma catástrofe da
           humanidade. De certa forma, se levarmos em conta a crise climática, possivelmente já existe algo
           deste tipo. Chesnais opina que estamos diante de um perigo iminente. O fato de que tudo isto
           ocorra depois de uma tão longa fase, sem paralelos na história do capitalismo, de 50 anos de
           acumulação ininterrupta (salvo uma pequeníssima ruptura em 1974/1975), assim como também
           tudo o que os círculos capitalistas dirigentes, e em particular os bancos centrais, aprenderam da
           crise de 1929, tudo isso faz com que a crise avance de maneira bastante lenta.


O jornal Estado de São Paulo (2008) informou que


           O Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos, parte do aparato de segurança de
           Washington, publicou uma previsão impressionante. O sistema internacional como elaborado após
           a Segunda Guerra Mundial estaria, como previsto, "irreconhecível" em 2025, graças à globalização,
           a ascensão dos poderes emergentes e "uma transferência histórica de riqueza relativa e poder
           econômico do Ocidente para o Oriente". Nesta publicação constata-se que "os próximos 20 anos de
           transição para um novo sistema serão repletos de riscos". "As rivalidades estratégicas
           provavelmente girarão em torno do comércio, investimentos e inovação e aquisição tecnológica,
           mas não podemos descartar um cenário do século 19 de corrida armamentista, expansão territorial e
           rivalidades militares".



Este relatório foi escrito antes da força plena da crise financeira e econômica se tornar real.
Todavia, seus autores estavam convencidos de que o "momento unipolar" da hegemonia não
desafiada americana pós-queda do Muro de Berlim já estava chegando ao fim. A futura ordem
mundial seria multipolar. O colapso do sistema financeiro global, causado não apenas pelo
estouro da bolha do mercado de hipotecas de risco americano, mas também pela explosão da
especulação financeira por todos os mercados do mundo, rapidamente se transformou em uma
recessão na economia real. Ninguém foi poupado. O crédito congelou em mercados da África
até o Leste Europeu.


François Chesnais (2008) afirma que




                                                                                                         12
ocorreu em 2008, uma verdadeira ruptura que deixa para trás uma longa fase de expansão da
           economia capitalista mundial; e que essa ruptura marcou o início de um processo de crise com
           características que são comparáveis com a crise de 1929, ainda que venha a se desenvolver em um
           contexto muito distinto. Estamos frente a um destes momentos em que a crise vem expressar os
           limites históricos do sistema capitalista.


Tudo leva crer que no século XXI teremos a convergência entre a crise geral do sistema
capitalista mundial e a crise associada ao aquecimento global. Segundo Chesnais (2008),
nesta nova etapa, a crise vai desenvolver-se de tal modo que as primeiras e realmente brutais
manifestações da crise climática mundial que vimos vão combinar-se com a crise do capital
enquanto tal.


Chesnais (2008) afirma ainda que


           entramos numa fase onde está colocada a possibilidade real de uma crise da humanidade, dentro de
           complexas relações onde estão também os acontecimentos bélicos, mas o mais importante é que,
           mesmo excluindo a possibilidade de uma guerra de grande amplitude que no presente só poderia
           ser uma guerra atômica, estamos enfrentando um novo tipo de crise, a uma combinação desta crise
           econômica que se iniciou com uma situação na qual a natureza, tratada sem a menor consideração e
           golpeada pelo homem no marco do capitalismo, reage agora de forma brutal. Isto é algo quase
           excluído de nossas discussões, mas que vai se impor como um fato central.


Segundo Chesnais (2008),


           o processo de liberalização e desregulamentação levadas à cabo em escala mundial, com a
           incorporação do antigo campo soviético e a incorporação e modificação das relações de produção
           na China significou o desmantelamento dos poucos elementos regulatórios que se construíram no
           marco mundial ao sair da Segunda Guerra Mundial, para entrar em um capitalismo totalmente
           desregulamentado. Não somente desregulamentado, mas também um capitalismo que criou
           realmente o mercado mundial no sentido pleno da expressão, transformando em realidade o que era
           para Marx uma intuição ou uma antecipação.


Com o processo de liberalização e desregulamentação da economia mundial, criou-se,
segundo Chesnais (2008),


           um espaço livre de restrições para as operações do capital, para produzir e realizar mais-valia
           tomando este espaço como base e processo de centralização de lucros a escala verdadeiramente
           internacional. Esse espaço aberto, não homogêneo, mas com uma redução drástica de todos os


                                                                                                        13
obstáculos à mobilidade do capital, essa possibilidade para o capital de organizar em escala
           planetária o ciclo de valorização, está acompanhada por uma situação que permite pôr em
           competição entre si os trabalhadores de todos os países. Ou seja, se sustenta no fato de que o
           exército industrial de reserva é realmente mundial e que é o capital como um todo o que gere os
           fluxos de integração ou de repulsão, nas formas estudadas por Marx.


Os bancos centrais e os governos podem proclamar que acordarão entre si e colaborarão para
impedir a crise, mas Chesnais (2008) não crê que se possa introduzir a cooperação no espaço
mundial convertido em cenário de uma tremenda competição entre capitais. E agora, a
competição entre capitais vai muito além das relações entre os capitais das partes mais antigas
e desenvolvidas do sistema mundial com os setores menos desenvolvidos sob o ponto de vista
capitalista. Porque em formas particulares e inclusive muito parasitárias, no cenário mundial
se deram processos de centralização do capital por fora do marco tradicional dos centros
imperialistas: em relação com eles, mas em condições que também introduzem algo
totalmente novo na cena mundial.


Chesnais (2008) advoga a tese de que


           durante os últimos quinze anos se desenvolveram, em determinados pontos do sistema, grupos
           industriais capazes de integrarem-se como sócios de pleno direito aos oligopólios mundiais. Tanto
           na Índia como na China se conformaram verdadeiros e fortes grupos econômicos capitalistas. E no
           plano financeiro, como expressão do rentismo e do parasitismo puro, os chamados Fundos
           Soberanos (instrumento financeiro adotado por alguns países que administram as imensas reservas
           de divisas dos países exportadores que tiveram suas receitas multiplicadas de maneira formidável
           nos últimos anos e vem sendo utilizadas, na maioria das vezes, para adquirir participações em
           empresas estrangeiras, com objetivos financeiros e estratégicos) se converteram em importantes
           pontos de centralização do capital em forma de dinheiro, que são meros satélites dos Estados
           Unidos, têm estratégias e dinâmicas próprias e modificam de muitas maneiras as relações
           geopolíticas dos pontos chave em que a vida do capital se faz e se fará.



3. O futuro da crise econômica e financeira mundial


Há muita especulação quanto à evolução futura da economia mundial. Alguns analistas
advogam a tese de que a economia mundial terá uma evolução em “V”, isto é, apresentaria no
primeiro momento recessão com queda no crescimento cuja retomada aconteceria
imediatamente após atingir o ponto mais baixo. Outros consideram o crescimento em “U”,
isto é, haveria recessão com a queda no crescimento econômico seguida de um longo período

                                                                                                         14
de depressão após a qual ocorreria a retomada do crescimento. Finalmente, os mais
pessimistas, defendem uma evolução em “L”, isto é, haveria recessão seguida de depressão
sem perspectiva de crescimento. Neste último caso, a retomada do crescimento só aconteceria
com a edificação de uma nova ordem econômica mundial.


O jornal Folha de São Paulo (2009) informa que o Fundo Monetário Internacional (FMI)
afirma que o mundo já ensaia sair da pior recessão do pós-Segunda Guerra, mas que uma
recuperação mais firme poderá demandar mais tempo do que o previsto. Segundo o FMI a boa
notícia é que as forças que vinham empurrando a economia global para baixo estão perdendo
força. Mas a má notícia é que ainda é muito fraca a força que nos empurra para cima, disse o
economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, ao anunciar as novas previsões contidas no
relatório "Panorama da Economia Mundial". Isto significa dizer que o FMI defende uma
evolução entre “V” e “U” para a economia mundial.


O futuro da economia mundial depende da solução que seja dada à grande dependência
econômica recíproca entre os Estados Unidos e a China, à gigantesca dívida pública dos
Estados Unidos, à recuperação do sistema financeiro mundial, à regulação da economia
mundial, ao agravamento dos potenciais conflitos sociais e aos problemas do aquecimento
global. O primeiro problema que precisa ser solucionado é o da grande dependência
econômica recíproca dos Estados Unidos e da China. Esta dependência decorre, de um lado,
do fato das reservas monetárias chinesas estarem financiando decisivamente o crescimento do
déficit dos Estados Unidos e, de outro, o mercado dos Estados Unidos representar o principal
destino das exportações chinesas. Com a receita gerada por enormes excedentes comerciais
com os Estados Unidos - e as políticas que mantêm sua moeda artificialmente baixa - Pequim
é o maior investidor em títulos do Tesouro norte-americano.


O aparente controle financeiro da China sobre os Estados Unidos vem ganhando grande
destaque. Ressalte-se que o acúmulo por parte da China de uma enorme reserva em divisas
estrangeiras (US$ 2 trilhões) é efeito colateral de um modelo econômico demasiado
dependente das exportações. O enorme superávit comercial da China é fruto de um yuan
subvalorizado que vem permitindo que outros países consumam bens chineses às custas da
própria população chinesa.   A China não pode vender as reservas de seu Tesouro sem
desencadear o próprio colapso do dólar que supostamente teme. Um aspecto fundamental a



                                                                                          15
considerar é que se os Estados Unidos adotarem a política de reduzir seus déficits levaria o
país a comprar menos produtos chineses.


A recente cúpula entre os governos chinês e norte-americanos teve por objetivo iniciar
conversações para procurar soluções conjuntas, apesar das divergências sobre a moeda, para o
déficit orçamentário norte-americano e o fosso comercial (exportações – importações) entre
os dois países, entre outros. O governo Obama manteve a intenção de se centrar na diferença
na balança comercial frisando que a China não deve contar com os consumidores norte-
americanos para fazer a economia global sair da recessão, porque o consumo das famílias
norte-americanas está em contração. Isto significa dizer que a China teria que necessariamente
impulsionar o consumo interno para manter seu crescimento econômico e contribuir para uma
mais rápida, porém mais equilibrada e sustentável recuperação global.


Cabe observar que os Estados Unidos se defrontam com um pesado déficit em conta corrente,
tornando-se o maior detentor de dívida externa do mundo. Se os Estados Unidos não
apertarem o cinto, colocando em xeque o “american way of life”, e começarem a perseguir
déficits em conta corrente menores e balança comercial superavitária vão ter que decretar
moratória. Ressalte-se que as obrigações dos Estados Unidos devem somar um montante
superior a 3 trilhões de dólares. No entanto, se os Estados Unidos adotarem a política de
apertar o cinto, reduzir déficits e tornar superavitária sua balança comercial haveria o
comprometimento do comércio internacional dado o peso da economia norte-americana. Isto
significa dizer que, qualquer que seja a solução para a economia norte-americana, a crise
global atual terá continuidade avançando da recessão em que se encontra à depressão crônica.
A evolução da economia mundial seria, portanto, em “L”.


Martin Wolf (2009), articulista do Financial Times, pergunta se “a economia mundial está
saindo da crise? O mundo aprendeu as lições certas? A resposta para ambas as perguntas é:
até certo ponto. Nós fizemos algumas coisas acertadas e aprendemos algumas das lições
certas. Mas nem fizemos o suficiente e nem aprendemos o suficiente”. Wolf afirma ainda que
devemos colocar estas notícias, por mais bem-vindas que sejam, em contexto. O pior da crise
financeira pode ter ficado para trás, mas o sistema financeiro continua subcapitalizado e
carregando um fardo ainda desconhecido de ativos duvidosos. Pelo contrário, ele está
escorado por um imenso apoio explícito e implícito dos contribuintes. A probabilidade de
prejuízo à frente é próxima de 100%.


                                                                                           16
A subcapitalização do sistema financeiro impacta negativamente sobre a economia real
inibindo o financiamento do setor produtivo e do comércio internacional. Muitos países,
inclusive o Brasil, estão sofrendo quedas acentuadas em suas receitas de exportação devido à
redução da demanda mundial resultante da recessão global, mas também em conseqüência da
retração do crédito para exportação. Teme-se que, na tentativa de cada país estimular sua
própria economia na conjuntura atual associada à adoção de medidas protecionistas, leve a
uma reação em cadeia. Isso reduziria o comércio internacional, aumentaria o desemprego e
autoalimentaria a crise em cada país e em escala global. A busca de vantagens em cada país
levaria ao pior cenário para todos: a depressão da economia mundial. Muitos analistas temem
que se repita o que aconteceu durante a Grande Depressão, nos anos 1930. A volta do
protecionismo representaria um sério risco para a continuidade do processo de globalização.


Martin Wolf (2009) afirma também que por trás do excesso de capacidade e dos enormes
aumentos nos déficits fiscais está o desaparecimento do consumidor que gasta muito,
principalmente nos Estados Unidos. A prudência do setor privado provavelmente perdurará
em um mundo pós-bolha caracterizado por montanhas de dívida. Aqueles que esperam um
retorno rápido aos negócios de costume de 2006 estão fantasiando. Uma recuperação lenta e
difícil, dominada pela desalavancagem e riscos deflacionários, é a perspectiva mais provável.
Os déficits fiscais permanecerão imensos por anos. As alternativas -liquidação do excesso de
dívida por meio de um aumento da inflação ou falência em massa- não serão permitidas. A
alta dependência de uma expansão monetária imensa e déficits fiscais nos países que antes
consumiam muito serão insustentáveis no final. A visão de Wolf é a de que a evolução da
economia mundial ocorrerá em “U”.


Nouriel Roubini (2009) apresenta nova forma de evolução da economia mundial, em “W”, em
seu artigo “Cresce o risco de nova contração”. Neste artigo, Roubini afirma que,


     existem duas razões para que exista risco ascendente de uma recessão de duplo mergulho, em forma de
     W. Para começar, existem riscos associados às estratégias de saída para o grande relaxamento da política
     monetária e de estímulo fiscal: as autoridades serão criticadas por agir e também por não agir. Caso
     decidam levar a sério os grandes deficits fiscais e decretem aumento de impostos, corte de gastos e
     redução da liquidez excessiva, poderão solapar a recuperação e levar a economia a uma estagdeflação
     (recessão e deflação).




                                                                                                          17
Segundo Martin Wolf (2008),


           o mundo está sem tomadores de empréstimo privados dispostos e dignos de crédito. O colapso
           espetacular do sistema financeiro ocidental é um sintoma deste grande fato. A curto prazo, os
           governos substituirão os setores privados como tomadores de empréstimos. Mas isso não pode
           durar para sempre. A longo prazo, a economia global terá que se reequilibrar. Se os países com
           superávit não expandirem a demanda doméstica em relação à produção potencial, a economia do
           mundo aberto poderá até mesmo quebrar. Como nos anos 30, este agora é um risco real.


Analisando a economia mundial, Chesnais (2008) constatou que


           seria preciso encontrar remédios para a taxa de poupança. Ela é baixa demais em alguns países, alta
           demais em outros. Os Estados Unidos, onde ela se tornou negativa, e a China representam os pólos
           extremos dessa distorção. A reconstituição de uma taxa de poupança que deixasse de fazer dos
           Estados Unidos a sede, quando não o transmissor mais imediato, de crises financeiras sucessivas
           “requer uma consolidação orçamentária incompatível com as orientações políticas da maioria
           conservadora no poder. Implica, sobretudo, uma recuperação considerável da poupança das
           famílias. Isso supõe uma revisão dilacerante do consumo a crédito, combinado com o desperdício
           aterrorizante dos recursos não-renováveis, que constitui o modo de vida norte-americano.


Para Wolf (2009), quanto mais forte for o crescimento da demanda nos países com superávit,
em relação ao PIB potencial, e mais poderoso for reequilíbrio global, mais saudável será a
recuperação global. Isso vai acontecer? Wolf duvida. O alto desemprego persistente e um
baixo crescimento poderão até mesmo ameaçar a própria globalização. As fraquezas
fundamentais do setor financeiro ainda não foram tratadas. Dúvidas também permanecem
sobre o funcionamento do sistema monetário internacional baseado no dólar, os alvos corretos
para a política monetária, a gestão dos fluxos globais de capital, a vulnerabilidade das
economias emergentes, como demonstrado na Europa central e oriental, e, também, a
fragilidade financeira demonstrada com tanta frequência e tão dolorosamente ao longo das
últimas três décadas.


4. Cenários da economia mundial


Os ciclos longos de Kondratiev são descritos como ciclos senoidais de desenvolvimento da
economia capitalista mundial com uma freqüência média de 50 anos com uma variação de 40
a 60 anos. Os ciclos consistem de períodos alternados entre alto e baixo crescimento
econômico. O economista russo Nikolai Kondratieff foi o primeiro a fazer essas observações

                                                                                                           18
no seu livro The Major Economic Cycles, publicado em 1925. Mais tarde, Joseph Schumpeter
sugeriu em sua obra Business Cycles a denominação Ciclos de Kondratieff em honra do
economista russo.


Kondratieff identificou 3 fases no ciclo: expansão, estagnação, recessão. Escrito em 1920,
Kondratieff propôs aplicar a teoria ao séculoXIX:

   1790 – 1849 com um “turning point” (colapso) em 1815.
   1850 – 1896 com um “turning point” (colapso) em 1873.
   Kondratieff supôs que em 1896, um novo ciclo teria início.


No esforço de expandir o ciclo de Kondratieff para o século XX, alguns economistas
propuseram que o terceiro ciclo iniciaria em 1896, alcançaria o ápice na 1a. Guerra Mundial
(1914) e terminaria com a 2a. Guerra Mundial em 1945 com um “turning point” (colapso) em
1929. O quarto ciclo coincidiria com Guerra Fria começando em 1949 e terminando em 1989
com a queda do Muro de Berlim atingindo o ápice em meados de 1960 com a escalada da
Guerra do Vietnam e um “turning point” em 1982.


O ciclo subseqüente começaria em 1989, alcançaria o ápice em 1999 e ocorreria o “turning
point” em 2008. Se levar em conta que Kondratieff considerava de 40 a 60 anos do início ao
fim de um ciclo, pode-se admitir que o ciclo atual iniciado em 1989 deverá terminar entre
2029 ou 2049. Em outras palavras, o fim da atual crise geral do sistema capitalista mundial só
terá um fim nos próximos 20 ou 40 anos.


Muitos teóricos concordam com o paradigma de 5 ciclos de Schumpeter-Freeman-Perez que
teve início a partir da Revolução Industrial descritos a seguir:

      A Revolução Industrial—1771
      A Era do Vapor e das Ferrovias—1829
      A Era do Aço, da Eletricidade e da Engenharia Pesada—1875
      A Era do Petróleo, do Automóvel e da Produção em Massa—1908
      A Era da Informação e das Telecomunicações—1971


Em cada um dos ciclos longos de Kondratieff existem 4 etapas sucessivas: 1) prosperidade; 2)
recessão; 3) depressão e, 4) retomada. De acordo com esta teoria, estamos no “turning point”

                                                                                            19
(colapso) ou ponto de não retorno do 5o. Kondratieff. Immanuel Wallerstein (1995) defende
a tese de que os ciclos de guerras mundiais estão ligadas aos Ciclos de Ondas Longas
Capitalistas. Guerras altamente destrutivas tendem a iniciar antes de um processo de reversão
econômica. Será que a humanidade se defrontará com um novo conflito mundial?


Foi tomando por base os ciclos de Kondratieff que Immanuel Wallerstein (1995) expôs que a
crise sistêmica que vivenciamos atualmente na economia mundial irá até 2050 ou 2075.
Segundo Wallerstein, durante este período de caos sistêmico teremos poucos momentos de
paz, estabilidade e legitimidade. Wallerstein (1995) defende a tese de que haverá um
agravamento das tensões sociais provocadas pelo aumento do desemprego e que a crise fiscal
que afetará todos os países impedirá os governos de atender as demandas sociais da população
o que fará com que haja a eclosão de uma luta incessante de massas que poderá tomar a forma
de guerra civil ao nível de cada Estado e global. A legitimidade das estruturas do Estado e,
portanto, de sua habilidade de manter a ordem será colocada em xeque. Já existem sintomas
desta situação, por exemplo, nos países da Europa Oriental.


Segundo Wallerstein (1995),


           após a “bifurcação” que poderá ocorrer em 2050 ou 2075, não deveremos estar vivendo em uma
           economia mundial capitalista. Ao invés da economia mundial capitalista estaremos vivendo em
           alguma nova ordem ou novas ordens, novo sistema ou novos sistemas históricos.


Em outras palavras, Wallerstein prevê o fim do sistema capitalista mundial da forma como
opera atualmente até 2050 ou 2075. Enganam-se, portanto, aqueles que pensam que a crise
atual será solucionada em poucos anos.


Os cenários traçados por Immanuel Wallerstein (1995) para o sistema capitalista mundial são
os seguintes:


1) Existe uma grande limitação sobre a taxa de acumulação de capital na economia mundial
   devido a dois fatores:
      O Estado não pode ao mesmo tempo expandir subsídios às empresas privadas e
       aumentar os investimentos em bem-estar-social para os cidadãos.




                                                                                                   20
   A combinação do aumento da consciência política da população e da crise fiscal dos
       Estados levará a uma luta de massas que poderá tomar a forma de guerra civil ao nível
       global e de cada Estado.
2) Há uma limitação do crescimento econômico mundial no período 2000-2025 em face das
   restrições ambientais.
3) Custos reais de produção devem crescer globalmente e, portanto, os lucros devem
   declinar.
4) Os três resultados possíveis associados à expansão econômica mundial são os seguintes:
      A expansão será abortada com o colapso político do sistema mundial.
      A base ecológica será debilitada mais do que fisicamente possível para a Terra dar-lhe
       sustentação, com a ocorrência de catástrofes tais como a do aquecimento global.
      Os custos sociais de limpeza, limitação de uso e regeneração ambiental poderão levar
       à redução do lucro global e da prosperidade nos países do Norte, além de ampliar as
       disparidades e tensões entre os países do Norte e do Sul.
5) Após a ‘bifurcação’ que poderá ocorrer entre 2050 e 2075, não deveremos estar vivendo
   em uma economia mundial capitalista. Ao invés da economia mundial capitalista
   estaremos vivendo em alguma nova ordem ou novas ordens, novo sistema ou novos
   sistemas históricos.
6) De 1990 a 2025/2050 teremos poucos momentos de paz, estabilidade e legitimidade.
7) A legitimidade das estruturas do Estado e, portanto, de sua habilidade de manter a ordem
   será colocada em xeque.
8) Declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica.
9) A estrutura de poder mundial, hoje monopolar sob a hegemonia dos Estados Unidos,
   passará a ser bipolar tendo de um lado o condomínio Estados Unidos- Japão ao qual se
   ligará economicamente com a China e do outro a União Européia que se articulará com a
   Rússia.
10) Quanto ao resto do mundo, o relacionamento dos países com essas duas zonas deste
   mundo bipolar se realizará de múltiplas maneiras.


5. As mudanças geopolíticas futuras


Segundo Chesnais (2008),




                                                                                            21
a experiência sugere que de todos os países afetados, os Estados Unidos são os mais resistentes e
             com maior capacidade de se recuperarem rapidamente. A União Europeia e o Japão parecem
             atolados em um fraco crescimento e declínio demográfico. Quanto à China, a exigência para que se
             adapte de um crescimento liderado pelas exportações para uma expansão radical da demanda
             doméstica poderia ser um desafio político imenso. O Partido Comunista terá que estimular um
             crescimento muito mais rápido da classe média do que está preparado. Uma nova ordem mundial
             pode estar substituindo a velha - mas será um trajeto turbulento.


Segundo Chesnais (2008), esta crise tem como outra de suas dimensões a de marcar o fim da
etapa em que os Estados Unidos puderam atuar como potência mundial sem paralelo. Em sua
opinião, saímos do momento que os Estados Unidos, serão submetidos à prova. Em um prazo
temporal muito curto, todas as suas relações mundiais se modificaram e deverá, na melhor das
hipóteses, renegociar e reordenar todas as suas relações com base no fato de que deverão
compartilhar o poder. É o que já está ocorrendo a partir do governo Barack Obama. E isto,
evidentemente, é algo que nunca se produziu de forma pacífica na história do capitalismo.
Então, um dos métodos escolhidos pelo capitalismo para superar seus limites se transformou
em fonte de novas tensões, conflitos e contradições, indicando que uma nova etapa histórica
se abrirá após essa crise.


Há uma suposição em muitas partes do mundo de que a crise do capitalismo, representada
pelo congelamento do sistema financeiro, acelerará a mudança geopolítica de longo prazo,
anunciando o declínio do poder americano e da influência europeia. A escolha no ano passado
do G20 como fórum para tratar da crise foi um reconhecimento tardio de que a China, Índia e
Brasil, no mínimo, precisam estar à mesa. Mas o G20 fornecerá uma liderança duradoura? Ele
cheira, segundo François Chesnais (2008), a uma solução de emergência, não uma construção
planejada.


É de Chesnais (2008) a afirmativa de que


             um imenso reequilíbrio está começando a ocorrer nos fluxos do comércio mundiais entre o déficit
             comercial americano insustentável e os superávits igualmente insustentáveis da China e outros
             grandes exportadores. Os consumidores americanos não serão mais os motores do crescimento
             chinês alimentado pela exportação assim como os poupadores chineses não mais continuarão
             financiando o crédito americano.




                                                                                                           22
"A crise enfatiza o fato de a China ser um agente mundial chave", disse Bobo Lo (2008), do
Centro para Reforma Europeia, em Londres. "Ela pode ainda não ser uma superpotência
mundial, mas acelerou esta tendência." Se a China é uma vencedora cautelosa, a Rússia é a
perdedora mais óbvia nesta sublevação. A escolha do G20 como fórum da crise em vez do G8
aboliu a posição privilegiada da Rússia como única forasteira à mesma mesa dos países ricos.
No G20, ela é apenas uma das muitas economias de médio porte, como a Coréia do Sul e a
Turquia.


Coincidindo com as conclusões de Paul Jorion — Vers la crise du capitalisme américain?,
Michel Aglietta e Laurent Berrebi (2007) acrescentam que


           “isso supõe também uma mudança na concepção que os dirigentes norte-americanos têm do lugar
           dominante e do papel hegemônico dos Estados Unidos no mundo”. Quanto à China, além dos
           reflexos de entesouramento que mergulham suas raízes na história, lida-se com “uma poupança de
           precaução ante a degradação dos sistemas públicos de proteção social, de educação, de
           aposentadoria, diante do risco de perda de emprego nas empresas estatais subsistentes”, problemas,
           portanto, que conduzem à liberdade de organização e de reivindicação.



A concentração dos mecanismos suscetíveis de conduzir a uma situação em que as mudanças
estruturais maiores sejam impostas por uma crise encontra-se na moeda internacional (as
divisas e suas taxas de câmbio). Em razão do caráter de bem público da moeda, sua regulação
só pode ser política. Para Aglietta e Berrebi (2007),


           “a responsabilidade de sua gestão é necessariamente intergovernamental”. Os Estados Unidos
           sempre se opuseram a isso por causa dos privilégios que tiram do regime de semipadrão dólar.
           Mas, atualmente, uma responsabilidade compartilhada seria de absoluta necessidade.



Segundo Chesnais (2008), não existe nenhum outro meio de criar uma estrutura ordenada das
taxas de câmbio, de um lado, e de regular a liquidez global em função da demanda de meios
de pagamentos internacionais, do outro. Ora, o que fizeram os bancos centrais desde meados
de agosto senão criar mais liquidez ainda e travar entre si uma espécie de guerra das moedas,
da qual o euro sofreu as piores conseqüências? Será necessário que o sistema capitalista
mundial passe por uma crise enorme antes de serem recriados os fundamentos de uma
regulação monetária e financeira? É preciso se preparar para isso? Seja como for, Aglietta e
Berrebi (2008) terão soado o alarme.



                                                                                                          23
Geoff Mulgan (2009), diretor da Young Foundation, Professor Visitante do University
College, London School of Economics e Melbourne University, afirma que,


           para entender no que o capitalismo poderá se transformar, nós primeiro temos que entender o que
           ele é. O historiador francês Fernand Braudel ofereceu talvez a melhor descrição do capitalismo
           quando escreveu sobre ele como sendo uma série de camadas construídas acima da economia de
           mercado. Estas camadas, local, regional, nacional e global, são caracterizadas por uma abstração
           ainda maior, até no topo se encontrar finanças sem corpo em busca de retorno em qualquer lugar,
           sem compromisso com qualquer lugar ou setor em particular, e transformando tudo e qualquer
           coisa em “commodity”.


A crise do capitalismo é global, e tem exibido as limitações das instituições globais que foram
moldadas há meio século. A China caminha para se tornar um agente dominante em um
Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial fortalecidos, seguida pela Índia e Brasil. O
G20 está superando o G8. E no aguardo estão possíveis novas instituições para policiamento e
gestão do meio ambiente. Os fatos da realidade estão a indicar que a gestão da economia
mundial e a solução dos problemas do aquecimento global requerem uma nova estrutura
organizacional em bases planetárias que seja capaz de assegurar a cooperação entre os
Estados-Nações.


A nova ordem mundial a ser edificada deve organizar não apenas as relações entre os homens
na face da Terra, mas também suas relações com a natureza. É preciso, portanto, que seja
elaborado um contrato social planetário que possibilite o desenvolvimento econômico e social
e o uso racional dos recursos da natureza em benefício de toda a humanidade. A edificação de
uma nova ordem mundial baseada nesses princípios é urgente não apenas para fazer frente ao
aquecimento global e suas catastróficas consequencias, mas também para mitigar ou superar
os problemas atuais e futuros resultantes da crise geral do sistema capitalista mundial.


A solução dos problemas relacionados com a regulação da economia mundial, o agravamento
dos conflitos sociais e os problemas do aquecimento global requerem a implantação de uma
nova ordem mundial diferente da atual e uma estrutura organizacional de caráter global. A
cooperação entre os Estados-Nações se impõe no âmbito do desenvolvimento econômico e
social tendo em vista, não apenas, a solução dos problemas engendrados pela crise financeira
e econômica mundial que atinge na atualidade todos os países do mundo e que já está levando
à exclusão social de amplas camadas de suas populações, especialmente aquelas situadas nos
países da periferia capitalista, mas também a superação dos problemas do aquecimento global.
                                                                                                        24
BIBLIOGRAFIA


AGLIETTA, Michel & BERREBI, Laurent. Désordres dans le capitalisme mondial. Paris:
Odile Jacob, 2007.
BOBO LO. Axis of Convenience: Moscow, Beijing, and the New Geopolitics. Kindle Edition,
2008.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CHESNAIS, François. Texto de François Chesnais sobre crise financeira. Blog IZB,
2/11/2008. Disponível em: http://blog.zequinhabarreto.org.br/2008/11/02/texto-de-francois-
chesnais-sobre-crise-financeira.
CHOSSUDOVSKY, Michel. A Grande Depressão do século XXI: Colapso da economia real.
14/03/2009.    Disponível    em:   <http://agal-gz.org/blogues/index.php/canta/2009/03/14/a-
grande-depressao-do-seculo-xxi-colapso>
ESTADO DE SÃO PAULO. Força dos EUA no mundo diminuirá, diz inteligência
americana. 21/11/2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,forca-dos-
eua-no-mundo-diminuira-diz-inteligencia-americana,281283,0.htm>.
FOLHA DE SÃO PAULO. Economia mundial tem reação fraca, diz FMI. Caderno Dinheiro,
09/07/2009. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0907200902.htm.
KRUGMAN, Paul. Combatendo a depressão. The New York Times, 06/01/2009.
MULGAN, Geoff. O que poderá vir após o capitalismo?. UOL Notícias Internacional,
19/04/2009.                                 Disponível                                  em:
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/prospect/2009/04/19/ult2678u213.jhtm
ROUBINI, Nouriel. Cresce o risco de nova contração. Folha de S. Paulo, 25 ago.2009.
TETT, Gilllian. Crise global foi causada por "criação destrutiva". UOL Noticias, 10/03/2009.
Disponível                                                                              em:
<http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/fintimes/2009/03/10/ult579u2728.jhtm)>.
WALLERSTEIN, Immanuel. Unthinking social science.Cambridge: Polity Press, 1995.
WOLF, Martin. Depois da tempestade começa uma dura escalada. 15/07/2009. Disponível
em: http://olicruz.wordpress.com/2009/07/15/martin-wolf-a-crise-e-o-fim-do-panico/
_____________. Desequilíbrios globais ameaçam a sobrevivência do livre comércio. UOL
Notícias         Internacional,                 03/12/2008.         Disponível          em:
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/fintimes/2008/12/03/ult579u2654.jhtm



                                                                                         25

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Reflexões sobre a crise econômica e financeira de 2008, seus possíveis cenários e prováveis mudanças geopolíticas

  • 1. REFLEXÕES SOBRE A CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA MUNDIAL DE 2008, SEUS POSSÍVEIS CENÁRIOS E PROVÁVEIS MUDANÇAS GEOPOLÍTICAS Fernando Alcoforado1 RESUMO Este artigo tem por objetivo apresentar os fatores que contribuíram para a eclosão da crise econômica e financeira mundial de 2008, suas reais causas e as conseqüências dela resultantes, o futuro da crise mundial de 2008, os cenários da economia mundial e as mudanças geopolíticas futuras. A metodologia adotada consistiu na análise de publicações relacionadas com a crise econômica e financeira mundial e seus desdobramentos e a evolução futura do capitalismo mundial. O resultado dos estudos indicou que a crise econômica e financeira mundial de 2008 será prolongada e que dela deve resultar uma nova ordem mundial que deve organizar não apenas as relações entre os homens na face da Terra e suas relações com a natureza com a celebração de um contrato social planetário entre as nações que possibilite o desenvolvimento econômico e social e o uso racional dos recursos da natureza. . ABSTRACT This article has for objective to present the factors that contributed to the eruption of the world economical and financial crisis of 2008, their real causes and consequences resultants, the future of the world crisis of 2008, the scenario of the world economy and the changes future geopolitics. The adopted methodology consisted of the analysis of publications related with the world economical and financial crisis and their unfolding and the future evolution of the world capitalism. The result of the studies indicated that the economical and financial crisis of 2008 will be lingering and that it should result a new world order that should organize the relationships among the men in the Earth, but also their relationships with the nature with the celebration of a contract social planetarium among the nations that it makes possible the economical and social development and the rational use of the resources of the nature. 1 FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO é doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha, em 2003, especialista em Engenharia Econômica e Administração Industrial pela UFRJ- Universidade Federal de Rio de Janeiro em 1971, graduado em Engenharia Elétrica pela UFBA - Universidade Federal de Bahia em 1966, professor universitário, consultor de organizações públicas e privadas nacionais e internacionais nas áreas de planejamento econômico, planejamento e desenvolvimento regional, planejamento de sistemas de energia e planejamento estratégico. Exerceu os cargos de Secretário do Planejamento de Salvador (1986/1987), Subsecretário de Energia do Estado da Bahia (1988/1991), Diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Gás Canalizado (1990/1991), Presidente do Clube de Engenharia da Bahia (1992/1993), Diretor do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (1990/1993), Presidente do Instituto Rômulo Almeida de Altos Estudos (1999/2000) e Diretor da Faculdade de Administração das Faculdades Integradas Olga Mettig (2005/2007). É autor dos livros Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (Empresa Gráfica da Bahia, Salvador, 2007), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2007), Um projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), De Collor a FHC- o Brasil e a nova (des)ordem mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998) e Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), entre outros. Há muitos anos é articulista de diversos jornais da imprensa brasileira (Folha de São Paulo, Gazeta Mercantil, A Tarde e Tribuna da Bahia), publicando artigos versando sobre economia e política mundial e brasileira, questão urbana, energia, meio ambiente e desenvolvimento, ciência e tecnologia, administração, entre outros temas. Endereço: Rua do Benjoim, 209/1101, Caminho das Árvores, CEP 41820- 340, Salvador, Bahia. Telefone: (71) 33542967. E-mail: falcoforado@uol.com.br. 1
  • 2. Palavras chaves: Crise econômica e financeira mundial de 2008. O futuro da crise mundial de 2008. Cenários da economia mundial. Mudanças geopolíticas futuras. Keywords: World economical and financial crisis of 2008. The future of the world crisis of 2008. Scenario of the world economy. Changes future geopolitics. 1. Origens da crise econômica e financeira mundial de 2008 No início de agosto de 2008, surgiu uma crise financeira no setor dos empréstimos hipotecários nos Estados Unidos que, imediatamente, se propagou para outras partes do sistema financeiro mundial, com uma rapidez e uma amplitude que surpreenderam o mercado. Segundo Gillian Tett (2009), PhD em antropologia social pela Universidade de Cambridge, editor assistente do Financial Times que faz a cobertura global dos mercados financeiros, os grandes bancos ocidentais jogaram o mundo em uma recessão. O Banco da Inglaterra diz que os prejuízos dos bancos que tiveram que reajustar os seus investimentos para preços de mercado são de US$ 3 trilhões, o equivalente a cerca de um ano de produção econômica do Reino Unido. O Banco de Desenvolvimento Asiático estimou que os ativos financeiros em todo o mundo podem ter sofrido uma queda, até o presente momento, de mais de US$ 50 trilhões - um número equivalente à produção global anual. Segundo Gillian Tett (2009), a atual crise é um produto de mudanças que vêm se enraizando silenciosamente no Ocidente há vários anos. Há meio século, a atividade bancária parecia ser uma arte relativamente simples. Quando os bancos comerciais estendiam os empréstimos, eles tipicamente mantinham essas operações dentro de seus próprios sistemas contábeis - e utilizavam cálculos rudimentares (combinados com as informações sobre os seus clientes) quando decidiam se emprestariam ou não. Porém, da década de setenta em diante, duas revoluções ocorreram: os bancos passaram a vender o seu risco de crédito a outros investidores nos prósperos mercados de capital e adotaram complexos sistemas baseados em computadores para mensurar o risco de crédito que eram frequentemente importados do setor de ciências puras - e elaborados por luminares da estatística, como Den Braber do RBS. Gillian Tett (2009) constata que, 2
  • 3. não só o sistema financeiro está amargando prejuízos em uma escala que ninguém jamais previu, mas os pilares da fé sobre os quais o novo capitalismo financeiro foi construído também praticamente desmoronaram. Isso fez com que todos, dos ministros das finanças aos banqueiros centrais, dos pequenos investidores aos pensionistas, ficassem destituídos de uma bússola intelectual, desnorteados e confusos. "O nosso mundo está quebrado - e eu honestamente não sei o que irá substituí-lo. A bússola segundo a qual conduzíamos os Estados Unidos desapareceu", afirma Bernie Sucher, diretor de operações em Moscou do Merrill Lynch. "A última vez em que vi algo desse tipo, em termos de sensação de desorientação e prejuízos, foi entre os meus amigos na Rússia, quando a União Soviética desmoronou". Gillian Tett (2009) afirma que, até o verão de 2007, a maioria dos investidores, banqueiros e governos acreditava que essas revoluções representavam "progresso" real que beneficiava a economia como um todo. Os reguladores adoravam o fato de os bancos estarem ampliando as exposições de crédito, já que crises como a de poupanças e empréstimos nos Estados Unidos, na década de oitenta, demonstraram os perigos de os bancos serem expostos a um tipo concentrado de empréstimo. "A dispersão do risco de crédito ajudou a tornar o sistema bancário e financeiro mais resistente", proclamou em abril de 2006 o Fundo Monetário Internacional (FMI), expressando uma crença ocidental generalizada. Gillian Tett (2009) afirma ainda que, à medida que a inovação no setor financeiro tornou-se mais intensa, ela também passou a ficar permeada de uma terrível ironia. Em público, os técnicos financeiros na vanguarda da revolução retratavam as mudanças como medidas que promoveriam uma forma superior de capitalismo de livre mercado. Quando uma equipe do JPMorgan criou derivativos de crédito na década de 1990 (um contrato definido entre duas partes no qual se definem pagamentos futuros baseados no comportamento dos preços de um ativo de mercado, normalmente as chamadas “commodities”), uma palavra-chave favorita na sua literatura de mercado era a afirmação de que tais derivativos promoveriam "completitude de mercado" - ou mercados livres mais perfeitos. Em julho de 2007, a fé cega começou a sofrer rachaduras. Nos Estados Unidos a inadimplência passou a aumentar no setor de hipotecas “subprime” que é um crédito de risco, concedido a um tomador que não oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de juros mais vantajosa (prime rate) ou para designar uma forma de crédito hipotecário (mortgage) para o setor imobiliário destinada a tomadores de empréstimos que representam maior risco. Esse crédito imobiliário tem como garantia a residência do tomador e muitas vezes era acoplado à emissão de cartões de crédito ou a aluguel de carros. Agências como a 3
  • 4. Standard & Poor's reduziram as classificações de produtos vinculados a hipotecas e admitiram que os seus modelos matemáticos estavam apresentando defeitos. Mas quando o índice de inadimplência das “subprime” aumentou, os contadores exigiram que os bancos reavaliassem os instrumentos utilizados. Por volta da primavera de 2008, o Citi, o Merrill e o UBS haviam amargado coletivamente um prejuízo de US$ 53 bilhões. Gillian Tett (2009) afirma que os bancos tentaram tapar este buraco com a obtenção de mais de US$ 200 bilhões em capital novo. Mas o buraco continuou aprofundando-se. Como resultado, a fé na capacidade dos reguladores de monitorar os bancos desmoronou. A fé nos bancos também acabou. A seguir, quando os modelos matemáticos perderam a credibilidade, os investidores desprezaram todas as formas de finanças complexas. Em setembro do ano passado, o último pilar da fé veio abaixo. A maioria dos investidores admitia que o governo dos Estados Unidos jamais deixaria um grande grupo financeiro fracassar. Mas quando o Lehman Brothers faliu, a desconfiança e a perplexidade aumentaram exponencialmente. A maior parte dos mercados de crédito desmoronou. Os preços enlouqueceram. Os bancos e analistas de ativos descobriram que todos os seus modelos financeiros fragmentaram-se. "Nos mercados de capital, nada mais funcionava", diz o principal analista de riscos de um grande banco ocidental. Conforme observou algumas semanas mais tarde Mervyn King, diretor do Banco da Inglaterra, "o sistema estava no precipício". Segundo Gillian Tett (2009), enquanto buscam atualmente novos pilares de confiança para as finanças, os governos estão intervindo para substituir muitas funções do mercado. O Tesouro dos Estados Unidos está realizando "testes de estresse" nos bancos, a fim de aumentar a confiança dos investidores. No Reino Unido o governo está fornecendo aos bancos garantias contra os ativos "tóxicos". Os bancos e as agências de crédito estão - tardiamente - reformulando os seus modelos. As financeiras e os reguladores também prometeram tornar a indústria mais transparente e padronizada. Hoje, com a imensa crise financeira global e uma desaceleração sincronizada na atividade econômica, o mundo está mudando de novo. É impossível a esta altura saber para onde estamos indo? Segundo Gillian Tett (2009), nos caóticos anos 70 do século passado, poucos imaginavam que na década de 1980 veria a inflação ser domada, o avanço do capitalismo e a 4
  • 5. morte do comunismo. O que acontecerá agora dependerá das escolhas não feitas e de choques desconhecidos. Mas a combinação de colapso financeiro com imensa recessão, se não algo pior como a depressão, certamente mudará o mundo. A legitimidade do mercado enfraquecerá. A credibilidade dos Estados Unidos será manchada. A autoridade da China aumentará. A própria globalização poderá sucumbir. Este é um momento de levante. Gillian Tett (2009) pergunta como o mundo chegou aqui? Uma grande parte da resposta é de que a era da liberalização continha as sementes de sua própria queda: esse também foi um período de enorme crescimento na escala e lucratividade do setor financeiro, de inovação financeira frenética, de crescentes desequilíbrios macroeconômicos globais, de grande endividamento dos lares e de bolhas de preços de ativos, isto é, um desvio no preço justo do mesmo ou um exagero por parte dos investidores que estariam dispostos a adquirir ativos por preços incompatíveis com o fluxo de caixa que estes ativos prometem gerar. Ao intervir para manter suas taxas cambiais baixas e acumular reservas de moeda estrangeira, os governos das economias emergentes geraram imensos superávits em conta corrente, que reciclaram, juntamente com os afluxos de capital privado, em fluxos de saída de capital oficial. Entre o final dos anos 90 e o pico em julho de 2008, apenas as reservas de moeda dos países emergentes cresceram em US$ 5,3 trilhão. Estes fluxos imensos de capital, somados aos superávits tradicionais de vários países ricos e os crescentes superávits dos exportadores de petróleo, foram parar em grande parte em um pequeno número de países ricos e particularmente nos Estados Unidos. No pico, os Estados Unidos absorveram cerca de 70% do superávit poupado do restante do mundo. Enquanto isso, dentro dos Estados Unidos, a razão de endividamento dos lares em relação ao PIB saltou de 66%, em 1997, para 100% uma década depois. Saltos ainda maiores no endividamento dos lares ocorreram no Reino Unido. Estes aumentos nas dívidas dos lares foram apoiados, por sua vez, por sistemas financeiros altamente elásticos e inovadores e, nos Estados Unidos, por programas do governo. Gillian Tett (2009) afirma que estamos testemunhando a crise financeira mais profunda, ampla e perigosa desde os anos 1930. Como os professores Reinhart e Rogoff argumentam em outro trabalho, "as crises bancárias estão associadas a profundos declínios na produção e emprego". Isto se deve em parte aos balancetes estendidos além do limite: nos Estados Unidos, a dívida geral atingiu o pico recorde de pouco menos de 350% do PIB - 85% dela privada. Isto em comparação a pouco mais de 160% em 1980. 5
  • 6. Entre os resultados possíveis deste choque estão déficits fiscais imensos e prolongados nos países com grandes déficits externos, à medida que tentam manter a demanda, uma recessão mundial prolongada, um ajuste brutal da balança global de pagamentos, um colapso do dólar, alta da inflação e protecionismo. A transformação certamente será mais profunda no próprio setor financeiro. Segundo Gillian Tett (2009), o brilhante novo sistema financeiro - apesar de todos seus participantes talentosos, apesar de todas as suas ricas recompensas - fracassou no teste de mercado. Em um recente trabalho, Andrew Haldane, o diretor executivo de estabilidade financeira do Banco da Inglaterra, mostra quão pouco os bancos entendiam os riscos que supostamente deveriam administrar. Ele atribui estes fracassos a uma "miopia de desastre" (a tendência de subestimar os riscos), uma falta de consciência da "rede de externalidades" (contaminações de uma instituição para outras) e "incentivos desalinhados" (o lado positivo para os empregados e o lado negativo para os acionistas e contribuintes). Gillian Tett (2009) afirma ainda que após a crise, nós certamente "veremos um setor financeiro menos orgulhoso". Os mercados imporão uma disciplina brutal, mesmo que temporária. A regulamentação governamental também endurecerá. Menos claro é se os autores de políticas contemplarão soluções estruturais com uma separação do sistema bancário comercial do sistema bancário de investimento ou uma redução forçada do tamanho e complexidade das instituições consideradas grandes demais ou interconectadas demais para falirem. Também é possível imaginar um retorno de grande parte da atividade bancária ao mercado doméstico, à medida que os governos cada vez mais dêem as cartas. Neste caso, haveria uma "desglobalização". Outra conclusão de Gillian Tett (2009) é o de que o colapso financeiro está provocando uma desaceleração industrial mundial. Ela também está se espalhando por todo setor significativo da economia real, grande parte da qual está clamando por assistência e que a busca por segurança fortalecerá o controle político sobre os mercados. Uma mudança das políticas significa privilegiar uma mudança para o nacional e longe do global. Isto já está evidente nas finanças. Também é visto na determinação de resgatar os produtores nacionais. Mas a intervenção protecionista provavelmente se estenderá muito além dos casos vistos até agora que é só o começo. 6
  • 7. Paul Krugman (2009), economista, colunista do The New York Times, professor de Economia e Assuntos Internacionais da Universidade Princeton, detentor do Nobel de Economia de 2008, afirma que, o fato é que os recentes números econômicos são assustadores, não apenas nos Estados Unidos, mas ao redor do mundo. O setor manufatureiro, em particular, está despencando em toda parte. Os bancos não estão emprestando, as empresas e os consumidores não estão gastando. Não vamos medir palavras: isto se parece muito com o início da segunda Grande Depressão. O impacto da crise será particularmente duro sobre os países emergentes. O número de pessoas em pobreza extrema aumentará, o tamanho da nova classe média encolherá e os governos de alguns países emergentes endividados certamente darão calote. A confiança nas elites locais e globais, no mercado e até mesmo na possibilidade de progresso material enfraquecerá, com consequências sociais e políticas potencialmente devastadoras. Ajudar as economias emergentes durante uma crise pela qual a maioria não tem nenhuma responsabilidade é uma necessidade imperiosa. François Chesnais (2008) afirma que o efeito da crise financeira sobre a economia real atingiu os mercados emergentes mais duramente do que as economias desenvolvidas, com o colapso dos fluxos de comércio e uma queda dramática nos preços das “commodities”. Está claro que aqueles mais duramente atingidos serão os mais pobres -especialmente na África- que possuem menos com que contar. Depois desses, os mais duramente atingidos serão os produtores de “commodities” que sempre enfrentaram grandes problemas sociais e demográficos, como os ricos em energia (Rússia, Irã, Nigéria e Venezuela). Até mesmo os produtores de petróleo do Golfo foram afetados. Todos se acostumaram à exportação e receitas inchadas e estão enfrentando ajustes. Gillian Tett (2009) afirma que a capacidade do Ocidente em geral e dos Estados Unidos em particular de influenciar o curso dos eventos futuros será também comprometida. O colapso do sistema financeiro ocidental, enquanto a China floresce, marca um fim humilhante para o "momento unipolar", isto é, de dominação dos Estados Unidos. Enquanto os autores de políticas ocidentais enfrentam dificuldades, a credibilidade deles está arruinada. Quem ainda confia nos professores? Estas mudanças colocarão em risco a capacidade do mundo não apenas de administrar a economia global, mas também de lidar com os desafios estratégicos representado por Estados frágeis, terrorismo, mudança climática e a ascensão 7
  • 8. de novas grandes potências. No extremo, a integração da economia global da qual quase todos agora dependem pode ser revertida. Gillian Tett (2009) afirma que a era da liberalização financeira acabou. Mas, diferente dos anos 1930, não existe nenhuma alternativa à vista para a economia de mercado. Segundo Tett (2009), para saber para onde o capitalismo está rumando, é imperativo entender mais claramente o que ocorreu de tão errado com o sistema financeiro do século 21. Sem dúvida o que não falta são potenciais culpados: ganância desbragada, regulações destituídas de rigor, políticas monetárias excessivamente flexíveis, empréstimos fraudulentos e fracasso gerencial. Tudo isso desempenhou um papel - conforme ocorreu em períodos anteriores de prosperidade e crise. Um outro problema que influiu na crise foi a extraordinária complexidade e opacidade do sistema financeiro moderno. Nas duas últimas décadas, uma onda de inovação remodelou a forma como os mercados funcionam, de uma maneira que dava a impressão de resultar em grandes benefícios para todas as partes. Mas essa inovação tornou-se tão intensa que atropelou a capacidade de compreensão dos banqueiros mais comuns - isso para não mencionar os reguladores. 2. As causas e consequências da crise econômica e financeira mundial Michel Chossudovsky (2009), economista canadense, professor visitante de instituições acadêmicas na Europa, América Latina e Sudeste da Ásia, que tem atuado como assessor econômico de países em desenvolvimento e como consultor de organizações internacionais, afirma que a leitura conjunta dos livros de Paul Jorion — Vers la crise du capitalisme américain? — e de Aglietta e Berrebi (Désordres dans le capitalisme mondial. Paris: Odile Jacob, 2007) é muito útil. O primeiro permite compreender por que era quase inevitável que o choque ocorresse no setor hipotecário norte-americano. Segundo Chossudovsky (2009), Paul Jorion lança um olhar bem severo sobre práticas financeiras que ele não hesita em caracterizar como quase permanente e intrinsecamente fraudulentas, mesmo nos casos em que, como no da Enron, não se abriu nenhum processo penal. Aglietta e Berrebi, por seu turno, explicam de que 8
  • 9. modo a atual fase do capitalismo só pode gerar, em intervalos próximos, crises financeiras cujo epicentro é os Estados Unidos. Um dos grandes problemas enfrentados pelo sistema capitalista mundial é o da necessidade de expansão da demanda para dar sustentação à produção de bens e serviços. Chossudovsky (2009) afirma que para manter um nível de atividade elevado no planeta, “é necessária uma demanda dinâmica”. Ao menos por enquanto, ela não provém dos países emergentes (China, Índia, Brasil), onde a distribuição de renda e as relações entre cidade e campo freiam o crescimento do consumo interno e onde os excedentes externos asseguram o financiamento dos déficits dos Estados Unidos. A demanda também não pode ter como origem as rendas salariais, cujo crescimento é fraco. Ela provém das rendas distribuídas aos acionistas e à elite dirigente, mas sua massa global é insuficiente para sustentar uma demanda agregada em crescimento rápido. A resposta a esse dilema encontra-se no poder de expansão do crédito. É aí que o capitalismo contemporâneo encontra a demanda que permite realizar as exigências do valor acionário. O economista francês François Chesnais (2008), especialista em economia industrial e economia da inovação tecnológica, que foi economista da Direção de Ciência, Tecnologia e Indústria (DSTI) da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e é membro do Laboratório de Pesquisa Larea-Cere, na Universidade de Paris-X Nanterre e professor da Universidade de Paris-XIII Villetaneuse, afirma que um dos meios utilizados para superar os limites do capital das economias centrais foi que todas elas recorreram a criação de formas totalmente artificiais de ampliação da demanda efetiva, que, somando-se a outras formas de criação de capital fictício, geraram as condições para a crise financeira que está se desenvolvendo hoje. François Chesnais (2008) afirma ainda que, para Marx, o capital fictício é a acumulação de títulos que são “sombra de investimentos” já feitas mas que, como títulos de bônus e de ações aparecem com o aspecto de capital aos seus possuidores. Não o são para o sistema como um todo, para o processo de acumulação, mas o são para os seus possuidores e, em condições normais de fechamento dos processos de valorização do capital, rendem aos seus donos dividendos e rendimentos. Mas seu caráter fictício se revela em situações de crise. Quando sobrevêm crises de superprodução, quebra de empresas, etc, se adverte que esse capital não existia. 9
  • 10. François Chesnais (2008) afirma que é devido ao capital fictício que se pode ler às vezes nos jornais que tal ou qual a quantidade de capital desapareceu em alguma “sacudida do mercado”. Essas somas nunca haviam existido como capital propriamente dito, apesar de que, para os donos dessas ações, representavam títulos que davam direito a dividendos. Um dos grandes problemas de hoje é que em muitos países os sistemas de aposentadoria estão baseados no capital fictício, com pretensões de participação nos resultados de uma produção capitalista que pode desaparecer em momentos de crise. Segundo Chesnais (2008) , o processo de liberalização e globalização financeira dos anos 1980 e 1990 esteve baseado na acumulação de capital fictício, sobretudo nas mãos de fundos de investimentos, fundo de pensões, fundos financeiros. E a grande novidade desde finais ou meados dos anos 1990 e ao longo dos anos 2000 foi, nos Estados Unidos e na Grã Bretanha em particular, o impulso extraordinário que se deu à criação do capital fictício na forma de crédito. De crédito a empresas, mas também e, sobretudo, de crédito habitacional, créditos ao consumo e a maior parte em créditos hipotecários. Chesnais (2008) afirma que isso contribuiu para dar um salto na massa de capital fictício criado, originando formas ainda mais agudas de vulnerabilidade e fragilidade, inclusive frente a choques menores, inclusive frente a episódios absolutamente previsíveis. Por exemplo, se sabia que um “boom” imobiliário termina inexoravelmente e que no mercado acionário existia a ilusão de que não havia limites para a alta no preço das ações. Com base em toda a história prévia se sabia que a expansão não seria sustentável nem no setor imobiliário nem no mercado de ações. Quando se trata de edifícios e casas e mercado de ações é inevitável que chegue o momento em que o “boom” acaba. O fim da prosperidade, que era um fato normal e previsível, se transformou numa crise tremenda. Acrescenta-se a tudo isto, o fato de que, durante os últimos dois anos, os empréstimos foram feitos nos Estados Unidos a famílias sem a menor capacidade de pagamento. E, além disso, tudo se combinou com as novas “técnicas” financeiras permitindo-se assim que os bancos vendessem bônus em condições tais que ninguém podia saber exatamente o que estava comprando até a forte explosão dos “subprime”em 2007. Chesnais afirma que agora estão no processo de “desmontagem” deste processo. Mas dentro desta “desmontagem” há processos de concentração de capital financeiro. Quando o Bank of America compra o Merryl Lynch, por exemplo, estamos diante de um processo de concentração clássico. 10
  • 11. François Chesnais (2008) levanta uma grande indagação se, a curto prazo, a demanda interna da China poderá passar a ser o lugar que garanta esse momento de realização da mais-valia (taxa de exploração, segundo Marx, que corresponde à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador) que se dava nos Estados Unidos. A acumulação de capital na China se fez com base em processos internos, mas também com base em algo que está perfeitamente documentado, mas pouco comentado: o deslocamento de uma parte importantíssima do Setor II da economia, o setor da produção de bens de consumo, dos Estados Unidos para a China. E isto tem muito a ver com o volume dos déficits americanos (o comercial e o fiscal), que só poderiam reverter-se por meio de uma reindustrialização dos Estados Unidos. Isto significa dizer que se estabeleceram novas relações entre os Estados Unidos e China. Não se trata já mais das relações de uma potência imperialista com um país semicolonial. Os Estados Unidos criaram relações de novo tipo, que agora têm dificuldades de reconhecer e assumir. Com base no superávit comercial, a China acumula milhões e milhões de dólares, que logo empresta aos Estados Unidos. São relações internacionais de um tipo totalmente novo. Na Europa é evidente a tendência a uma aceleração da destruição de forças produtivas e de postos de trabalho para deslocar-se para o único paraíso do mundo capitalista hoje que é a China. Na China se deu internamente um processo de competição entre capitais, que se combinou com processos de competição no aparato político chinês, e de competição para atrair empresas estrangeiras, o que resultou num processo de criação de imensas capacidades de produção. Além da capacidade de violentar a natureza em enorme escala, também na China se concentra uma superacumulação de capital que em um dado momento se tornará insustentável. Segundo Chesnais (2008), as fases desta crise são distintas das de 1929, porque a crise de superprodução dos Estados Unidos se constatou desde os primeiros momentos. Da mesma forma que ocorreu com a crise de 1929 e nos anos 1930, ainda que em condições e formas distintas, a crise se combinará com a necessidade, para o capitalismo, de uma reorganização total da expressão de suas relações de forças econômicas no contexto mundial, marcando o momento em que os Estados Unidos verão que sua superioridade militar é somente um elemento, e um elemento bastante subordinado, para renegociar suas relações com a China e 11
  • 12. outras partes do mundo. Ou chegará o momento no qual se dará o salto a uma aventura militar de imprevisíveis consequências. Chesnais (2008) constata também que estamos diante do risco de uma catástrofe, mas já não do capitalismo, e sim de uma catástrofe da humanidade. De certa forma, se levarmos em conta a crise climática, possivelmente já existe algo deste tipo. Chesnais opina que estamos diante de um perigo iminente. O fato de que tudo isto ocorra depois de uma tão longa fase, sem paralelos na história do capitalismo, de 50 anos de acumulação ininterrupta (salvo uma pequeníssima ruptura em 1974/1975), assim como também tudo o que os círculos capitalistas dirigentes, e em particular os bancos centrais, aprenderam da crise de 1929, tudo isso faz com que a crise avance de maneira bastante lenta. O jornal Estado de São Paulo (2008) informou que O Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos, parte do aparato de segurança de Washington, publicou uma previsão impressionante. O sistema internacional como elaborado após a Segunda Guerra Mundial estaria, como previsto, "irreconhecível" em 2025, graças à globalização, a ascensão dos poderes emergentes e "uma transferência histórica de riqueza relativa e poder econômico do Ocidente para o Oriente". Nesta publicação constata-se que "os próximos 20 anos de transição para um novo sistema serão repletos de riscos". "As rivalidades estratégicas provavelmente girarão em torno do comércio, investimentos e inovação e aquisição tecnológica, mas não podemos descartar um cenário do século 19 de corrida armamentista, expansão territorial e rivalidades militares". Este relatório foi escrito antes da força plena da crise financeira e econômica se tornar real. Todavia, seus autores estavam convencidos de que o "momento unipolar" da hegemonia não desafiada americana pós-queda do Muro de Berlim já estava chegando ao fim. A futura ordem mundial seria multipolar. O colapso do sistema financeiro global, causado não apenas pelo estouro da bolha do mercado de hipotecas de risco americano, mas também pela explosão da especulação financeira por todos os mercados do mundo, rapidamente se transformou em uma recessão na economia real. Ninguém foi poupado. O crédito congelou em mercados da África até o Leste Europeu. François Chesnais (2008) afirma que 12
  • 13. ocorreu em 2008, uma verdadeira ruptura que deixa para trás uma longa fase de expansão da economia capitalista mundial; e que essa ruptura marcou o início de um processo de crise com características que são comparáveis com a crise de 1929, ainda que venha a se desenvolver em um contexto muito distinto. Estamos frente a um destes momentos em que a crise vem expressar os limites históricos do sistema capitalista. Tudo leva crer que no século XXI teremos a convergência entre a crise geral do sistema capitalista mundial e a crise associada ao aquecimento global. Segundo Chesnais (2008), nesta nova etapa, a crise vai desenvolver-se de tal modo que as primeiras e realmente brutais manifestações da crise climática mundial que vimos vão combinar-se com a crise do capital enquanto tal. Chesnais (2008) afirma ainda que entramos numa fase onde está colocada a possibilidade real de uma crise da humanidade, dentro de complexas relações onde estão também os acontecimentos bélicos, mas o mais importante é que, mesmo excluindo a possibilidade de uma guerra de grande amplitude que no presente só poderia ser uma guerra atômica, estamos enfrentando um novo tipo de crise, a uma combinação desta crise econômica que se iniciou com uma situação na qual a natureza, tratada sem a menor consideração e golpeada pelo homem no marco do capitalismo, reage agora de forma brutal. Isto é algo quase excluído de nossas discussões, mas que vai se impor como um fato central. Segundo Chesnais (2008), o processo de liberalização e desregulamentação levadas à cabo em escala mundial, com a incorporação do antigo campo soviético e a incorporação e modificação das relações de produção na China significou o desmantelamento dos poucos elementos regulatórios que se construíram no marco mundial ao sair da Segunda Guerra Mundial, para entrar em um capitalismo totalmente desregulamentado. Não somente desregulamentado, mas também um capitalismo que criou realmente o mercado mundial no sentido pleno da expressão, transformando em realidade o que era para Marx uma intuição ou uma antecipação. Com o processo de liberalização e desregulamentação da economia mundial, criou-se, segundo Chesnais (2008), um espaço livre de restrições para as operações do capital, para produzir e realizar mais-valia tomando este espaço como base e processo de centralização de lucros a escala verdadeiramente internacional. Esse espaço aberto, não homogêneo, mas com uma redução drástica de todos os 13
  • 14. obstáculos à mobilidade do capital, essa possibilidade para o capital de organizar em escala planetária o ciclo de valorização, está acompanhada por uma situação que permite pôr em competição entre si os trabalhadores de todos os países. Ou seja, se sustenta no fato de que o exército industrial de reserva é realmente mundial e que é o capital como um todo o que gere os fluxos de integração ou de repulsão, nas formas estudadas por Marx. Os bancos centrais e os governos podem proclamar que acordarão entre si e colaborarão para impedir a crise, mas Chesnais (2008) não crê que se possa introduzir a cooperação no espaço mundial convertido em cenário de uma tremenda competição entre capitais. E agora, a competição entre capitais vai muito além das relações entre os capitais das partes mais antigas e desenvolvidas do sistema mundial com os setores menos desenvolvidos sob o ponto de vista capitalista. Porque em formas particulares e inclusive muito parasitárias, no cenário mundial se deram processos de centralização do capital por fora do marco tradicional dos centros imperialistas: em relação com eles, mas em condições que também introduzem algo totalmente novo na cena mundial. Chesnais (2008) advoga a tese de que durante os últimos quinze anos se desenvolveram, em determinados pontos do sistema, grupos industriais capazes de integrarem-se como sócios de pleno direito aos oligopólios mundiais. Tanto na Índia como na China se conformaram verdadeiros e fortes grupos econômicos capitalistas. E no plano financeiro, como expressão do rentismo e do parasitismo puro, os chamados Fundos Soberanos (instrumento financeiro adotado por alguns países que administram as imensas reservas de divisas dos países exportadores que tiveram suas receitas multiplicadas de maneira formidável nos últimos anos e vem sendo utilizadas, na maioria das vezes, para adquirir participações em empresas estrangeiras, com objetivos financeiros e estratégicos) se converteram em importantes pontos de centralização do capital em forma de dinheiro, que são meros satélites dos Estados Unidos, têm estratégias e dinâmicas próprias e modificam de muitas maneiras as relações geopolíticas dos pontos chave em que a vida do capital se faz e se fará. 3. O futuro da crise econômica e financeira mundial Há muita especulação quanto à evolução futura da economia mundial. Alguns analistas advogam a tese de que a economia mundial terá uma evolução em “V”, isto é, apresentaria no primeiro momento recessão com queda no crescimento cuja retomada aconteceria imediatamente após atingir o ponto mais baixo. Outros consideram o crescimento em “U”, isto é, haveria recessão com a queda no crescimento econômico seguida de um longo período 14
  • 15. de depressão após a qual ocorreria a retomada do crescimento. Finalmente, os mais pessimistas, defendem uma evolução em “L”, isto é, haveria recessão seguida de depressão sem perspectiva de crescimento. Neste último caso, a retomada do crescimento só aconteceria com a edificação de uma nova ordem econômica mundial. O jornal Folha de São Paulo (2009) informa que o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que o mundo já ensaia sair da pior recessão do pós-Segunda Guerra, mas que uma recuperação mais firme poderá demandar mais tempo do que o previsto. Segundo o FMI a boa notícia é que as forças que vinham empurrando a economia global para baixo estão perdendo força. Mas a má notícia é que ainda é muito fraca a força que nos empurra para cima, disse o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, ao anunciar as novas previsões contidas no relatório "Panorama da Economia Mundial". Isto significa dizer que o FMI defende uma evolução entre “V” e “U” para a economia mundial. O futuro da economia mundial depende da solução que seja dada à grande dependência econômica recíproca entre os Estados Unidos e a China, à gigantesca dívida pública dos Estados Unidos, à recuperação do sistema financeiro mundial, à regulação da economia mundial, ao agravamento dos potenciais conflitos sociais e aos problemas do aquecimento global. O primeiro problema que precisa ser solucionado é o da grande dependência econômica recíproca dos Estados Unidos e da China. Esta dependência decorre, de um lado, do fato das reservas monetárias chinesas estarem financiando decisivamente o crescimento do déficit dos Estados Unidos e, de outro, o mercado dos Estados Unidos representar o principal destino das exportações chinesas. Com a receita gerada por enormes excedentes comerciais com os Estados Unidos - e as políticas que mantêm sua moeda artificialmente baixa - Pequim é o maior investidor em títulos do Tesouro norte-americano. O aparente controle financeiro da China sobre os Estados Unidos vem ganhando grande destaque. Ressalte-se que o acúmulo por parte da China de uma enorme reserva em divisas estrangeiras (US$ 2 trilhões) é efeito colateral de um modelo econômico demasiado dependente das exportações. O enorme superávit comercial da China é fruto de um yuan subvalorizado que vem permitindo que outros países consumam bens chineses às custas da própria população chinesa. A China não pode vender as reservas de seu Tesouro sem desencadear o próprio colapso do dólar que supostamente teme. Um aspecto fundamental a 15
  • 16. considerar é que se os Estados Unidos adotarem a política de reduzir seus déficits levaria o país a comprar menos produtos chineses. A recente cúpula entre os governos chinês e norte-americanos teve por objetivo iniciar conversações para procurar soluções conjuntas, apesar das divergências sobre a moeda, para o déficit orçamentário norte-americano e o fosso comercial (exportações – importações) entre os dois países, entre outros. O governo Obama manteve a intenção de se centrar na diferença na balança comercial frisando que a China não deve contar com os consumidores norte- americanos para fazer a economia global sair da recessão, porque o consumo das famílias norte-americanas está em contração. Isto significa dizer que a China teria que necessariamente impulsionar o consumo interno para manter seu crescimento econômico e contribuir para uma mais rápida, porém mais equilibrada e sustentável recuperação global. Cabe observar que os Estados Unidos se defrontam com um pesado déficit em conta corrente, tornando-se o maior detentor de dívida externa do mundo. Se os Estados Unidos não apertarem o cinto, colocando em xeque o “american way of life”, e começarem a perseguir déficits em conta corrente menores e balança comercial superavitária vão ter que decretar moratória. Ressalte-se que as obrigações dos Estados Unidos devem somar um montante superior a 3 trilhões de dólares. No entanto, se os Estados Unidos adotarem a política de apertar o cinto, reduzir déficits e tornar superavitária sua balança comercial haveria o comprometimento do comércio internacional dado o peso da economia norte-americana. Isto significa dizer que, qualquer que seja a solução para a economia norte-americana, a crise global atual terá continuidade avançando da recessão em que se encontra à depressão crônica. A evolução da economia mundial seria, portanto, em “L”. Martin Wolf (2009), articulista do Financial Times, pergunta se “a economia mundial está saindo da crise? O mundo aprendeu as lições certas? A resposta para ambas as perguntas é: até certo ponto. Nós fizemos algumas coisas acertadas e aprendemos algumas das lições certas. Mas nem fizemos o suficiente e nem aprendemos o suficiente”. Wolf afirma ainda que devemos colocar estas notícias, por mais bem-vindas que sejam, em contexto. O pior da crise financeira pode ter ficado para trás, mas o sistema financeiro continua subcapitalizado e carregando um fardo ainda desconhecido de ativos duvidosos. Pelo contrário, ele está escorado por um imenso apoio explícito e implícito dos contribuintes. A probabilidade de prejuízo à frente é próxima de 100%. 16
  • 17. A subcapitalização do sistema financeiro impacta negativamente sobre a economia real inibindo o financiamento do setor produtivo e do comércio internacional. Muitos países, inclusive o Brasil, estão sofrendo quedas acentuadas em suas receitas de exportação devido à redução da demanda mundial resultante da recessão global, mas também em conseqüência da retração do crédito para exportação. Teme-se que, na tentativa de cada país estimular sua própria economia na conjuntura atual associada à adoção de medidas protecionistas, leve a uma reação em cadeia. Isso reduziria o comércio internacional, aumentaria o desemprego e autoalimentaria a crise em cada país e em escala global. A busca de vantagens em cada país levaria ao pior cenário para todos: a depressão da economia mundial. Muitos analistas temem que se repita o que aconteceu durante a Grande Depressão, nos anos 1930. A volta do protecionismo representaria um sério risco para a continuidade do processo de globalização. Martin Wolf (2009) afirma também que por trás do excesso de capacidade e dos enormes aumentos nos déficits fiscais está o desaparecimento do consumidor que gasta muito, principalmente nos Estados Unidos. A prudência do setor privado provavelmente perdurará em um mundo pós-bolha caracterizado por montanhas de dívida. Aqueles que esperam um retorno rápido aos negócios de costume de 2006 estão fantasiando. Uma recuperação lenta e difícil, dominada pela desalavancagem e riscos deflacionários, é a perspectiva mais provável. Os déficits fiscais permanecerão imensos por anos. As alternativas -liquidação do excesso de dívida por meio de um aumento da inflação ou falência em massa- não serão permitidas. A alta dependência de uma expansão monetária imensa e déficits fiscais nos países que antes consumiam muito serão insustentáveis no final. A visão de Wolf é a de que a evolução da economia mundial ocorrerá em “U”. Nouriel Roubini (2009) apresenta nova forma de evolução da economia mundial, em “W”, em seu artigo “Cresce o risco de nova contração”. Neste artigo, Roubini afirma que, existem duas razões para que exista risco ascendente de uma recessão de duplo mergulho, em forma de W. Para começar, existem riscos associados às estratégias de saída para o grande relaxamento da política monetária e de estímulo fiscal: as autoridades serão criticadas por agir e também por não agir. Caso decidam levar a sério os grandes deficits fiscais e decretem aumento de impostos, corte de gastos e redução da liquidez excessiva, poderão solapar a recuperação e levar a economia a uma estagdeflação (recessão e deflação). 17
  • 18. Segundo Martin Wolf (2008), o mundo está sem tomadores de empréstimo privados dispostos e dignos de crédito. O colapso espetacular do sistema financeiro ocidental é um sintoma deste grande fato. A curto prazo, os governos substituirão os setores privados como tomadores de empréstimos. Mas isso não pode durar para sempre. A longo prazo, a economia global terá que se reequilibrar. Se os países com superávit não expandirem a demanda doméstica em relação à produção potencial, a economia do mundo aberto poderá até mesmo quebrar. Como nos anos 30, este agora é um risco real. Analisando a economia mundial, Chesnais (2008) constatou que seria preciso encontrar remédios para a taxa de poupança. Ela é baixa demais em alguns países, alta demais em outros. Os Estados Unidos, onde ela se tornou negativa, e a China representam os pólos extremos dessa distorção. A reconstituição de uma taxa de poupança que deixasse de fazer dos Estados Unidos a sede, quando não o transmissor mais imediato, de crises financeiras sucessivas “requer uma consolidação orçamentária incompatível com as orientações políticas da maioria conservadora no poder. Implica, sobretudo, uma recuperação considerável da poupança das famílias. Isso supõe uma revisão dilacerante do consumo a crédito, combinado com o desperdício aterrorizante dos recursos não-renováveis, que constitui o modo de vida norte-americano. Para Wolf (2009), quanto mais forte for o crescimento da demanda nos países com superávit, em relação ao PIB potencial, e mais poderoso for reequilíbrio global, mais saudável será a recuperação global. Isso vai acontecer? Wolf duvida. O alto desemprego persistente e um baixo crescimento poderão até mesmo ameaçar a própria globalização. As fraquezas fundamentais do setor financeiro ainda não foram tratadas. Dúvidas também permanecem sobre o funcionamento do sistema monetário internacional baseado no dólar, os alvos corretos para a política monetária, a gestão dos fluxos globais de capital, a vulnerabilidade das economias emergentes, como demonstrado na Europa central e oriental, e, também, a fragilidade financeira demonstrada com tanta frequência e tão dolorosamente ao longo das últimas três décadas. 4. Cenários da economia mundial Os ciclos longos de Kondratiev são descritos como ciclos senoidais de desenvolvimento da economia capitalista mundial com uma freqüência média de 50 anos com uma variação de 40 a 60 anos. Os ciclos consistem de períodos alternados entre alto e baixo crescimento econômico. O economista russo Nikolai Kondratieff foi o primeiro a fazer essas observações 18
  • 19. no seu livro The Major Economic Cycles, publicado em 1925. Mais tarde, Joseph Schumpeter sugeriu em sua obra Business Cycles a denominação Ciclos de Kondratieff em honra do economista russo. Kondratieff identificou 3 fases no ciclo: expansão, estagnação, recessão. Escrito em 1920, Kondratieff propôs aplicar a teoria ao séculoXIX:  1790 – 1849 com um “turning point” (colapso) em 1815.  1850 – 1896 com um “turning point” (colapso) em 1873.  Kondratieff supôs que em 1896, um novo ciclo teria início. No esforço de expandir o ciclo de Kondratieff para o século XX, alguns economistas propuseram que o terceiro ciclo iniciaria em 1896, alcançaria o ápice na 1a. Guerra Mundial (1914) e terminaria com a 2a. Guerra Mundial em 1945 com um “turning point” (colapso) em 1929. O quarto ciclo coincidiria com Guerra Fria começando em 1949 e terminando em 1989 com a queda do Muro de Berlim atingindo o ápice em meados de 1960 com a escalada da Guerra do Vietnam e um “turning point” em 1982. O ciclo subseqüente começaria em 1989, alcançaria o ápice em 1999 e ocorreria o “turning point” em 2008. Se levar em conta que Kondratieff considerava de 40 a 60 anos do início ao fim de um ciclo, pode-se admitir que o ciclo atual iniciado em 1989 deverá terminar entre 2029 ou 2049. Em outras palavras, o fim da atual crise geral do sistema capitalista mundial só terá um fim nos próximos 20 ou 40 anos. Muitos teóricos concordam com o paradigma de 5 ciclos de Schumpeter-Freeman-Perez que teve início a partir da Revolução Industrial descritos a seguir:  A Revolução Industrial—1771  A Era do Vapor e das Ferrovias—1829  A Era do Aço, da Eletricidade e da Engenharia Pesada—1875  A Era do Petróleo, do Automóvel e da Produção em Massa—1908  A Era da Informação e das Telecomunicações—1971 Em cada um dos ciclos longos de Kondratieff existem 4 etapas sucessivas: 1) prosperidade; 2) recessão; 3) depressão e, 4) retomada. De acordo com esta teoria, estamos no “turning point” 19
  • 20. (colapso) ou ponto de não retorno do 5o. Kondratieff. Immanuel Wallerstein (1995) defende a tese de que os ciclos de guerras mundiais estão ligadas aos Ciclos de Ondas Longas Capitalistas. Guerras altamente destrutivas tendem a iniciar antes de um processo de reversão econômica. Será que a humanidade se defrontará com um novo conflito mundial? Foi tomando por base os ciclos de Kondratieff que Immanuel Wallerstein (1995) expôs que a crise sistêmica que vivenciamos atualmente na economia mundial irá até 2050 ou 2075. Segundo Wallerstein, durante este período de caos sistêmico teremos poucos momentos de paz, estabilidade e legitimidade. Wallerstein (1995) defende a tese de que haverá um agravamento das tensões sociais provocadas pelo aumento do desemprego e que a crise fiscal que afetará todos os países impedirá os governos de atender as demandas sociais da população o que fará com que haja a eclosão de uma luta incessante de massas que poderá tomar a forma de guerra civil ao nível de cada Estado e global. A legitimidade das estruturas do Estado e, portanto, de sua habilidade de manter a ordem será colocada em xeque. Já existem sintomas desta situação, por exemplo, nos países da Europa Oriental. Segundo Wallerstein (1995), após a “bifurcação” que poderá ocorrer em 2050 ou 2075, não deveremos estar vivendo em uma economia mundial capitalista. Ao invés da economia mundial capitalista estaremos vivendo em alguma nova ordem ou novas ordens, novo sistema ou novos sistemas históricos. Em outras palavras, Wallerstein prevê o fim do sistema capitalista mundial da forma como opera atualmente até 2050 ou 2075. Enganam-se, portanto, aqueles que pensam que a crise atual será solucionada em poucos anos. Os cenários traçados por Immanuel Wallerstein (1995) para o sistema capitalista mundial são os seguintes: 1) Existe uma grande limitação sobre a taxa de acumulação de capital na economia mundial devido a dois fatores:  O Estado não pode ao mesmo tempo expandir subsídios às empresas privadas e aumentar os investimentos em bem-estar-social para os cidadãos. 20
  • 21. A combinação do aumento da consciência política da população e da crise fiscal dos Estados levará a uma luta de massas que poderá tomar a forma de guerra civil ao nível global e de cada Estado. 2) Há uma limitação do crescimento econômico mundial no período 2000-2025 em face das restrições ambientais. 3) Custos reais de produção devem crescer globalmente e, portanto, os lucros devem declinar. 4) Os três resultados possíveis associados à expansão econômica mundial são os seguintes:  A expansão será abortada com o colapso político do sistema mundial.  A base ecológica será debilitada mais do que fisicamente possível para a Terra dar-lhe sustentação, com a ocorrência de catástrofes tais como a do aquecimento global.  Os custos sociais de limpeza, limitação de uso e regeneração ambiental poderão levar à redução do lucro global e da prosperidade nos países do Norte, além de ampliar as disparidades e tensões entre os países do Norte e do Sul. 5) Após a ‘bifurcação’ que poderá ocorrer entre 2050 e 2075, não deveremos estar vivendo em uma economia mundial capitalista. Ao invés da economia mundial capitalista estaremos vivendo em alguma nova ordem ou novas ordens, novo sistema ou novos sistemas históricos. 6) De 1990 a 2025/2050 teremos poucos momentos de paz, estabilidade e legitimidade. 7) A legitimidade das estruturas do Estado e, portanto, de sua habilidade de manter a ordem será colocada em xeque. 8) Declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica. 9) A estrutura de poder mundial, hoje monopolar sob a hegemonia dos Estados Unidos, passará a ser bipolar tendo de um lado o condomínio Estados Unidos- Japão ao qual se ligará economicamente com a China e do outro a União Européia que se articulará com a Rússia. 10) Quanto ao resto do mundo, o relacionamento dos países com essas duas zonas deste mundo bipolar se realizará de múltiplas maneiras. 5. As mudanças geopolíticas futuras Segundo Chesnais (2008), 21
  • 22. a experiência sugere que de todos os países afetados, os Estados Unidos são os mais resistentes e com maior capacidade de se recuperarem rapidamente. A União Europeia e o Japão parecem atolados em um fraco crescimento e declínio demográfico. Quanto à China, a exigência para que se adapte de um crescimento liderado pelas exportações para uma expansão radical da demanda doméstica poderia ser um desafio político imenso. O Partido Comunista terá que estimular um crescimento muito mais rápido da classe média do que está preparado. Uma nova ordem mundial pode estar substituindo a velha - mas será um trajeto turbulento. Segundo Chesnais (2008), esta crise tem como outra de suas dimensões a de marcar o fim da etapa em que os Estados Unidos puderam atuar como potência mundial sem paralelo. Em sua opinião, saímos do momento que os Estados Unidos, serão submetidos à prova. Em um prazo temporal muito curto, todas as suas relações mundiais se modificaram e deverá, na melhor das hipóteses, renegociar e reordenar todas as suas relações com base no fato de que deverão compartilhar o poder. É o que já está ocorrendo a partir do governo Barack Obama. E isto, evidentemente, é algo que nunca se produziu de forma pacífica na história do capitalismo. Então, um dos métodos escolhidos pelo capitalismo para superar seus limites se transformou em fonte de novas tensões, conflitos e contradições, indicando que uma nova etapa histórica se abrirá após essa crise. Há uma suposição em muitas partes do mundo de que a crise do capitalismo, representada pelo congelamento do sistema financeiro, acelerará a mudança geopolítica de longo prazo, anunciando o declínio do poder americano e da influência europeia. A escolha no ano passado do G20 como fórum para tratar da crise foi um reconhecimento tardio de que a China, Índia e Brasil, no mínimo, precisam estar à mesa. Mas o G20 fornecerá uma liderança duradoura? Ele cheira, segundo François Chesnais (2008), a uma solução de emergência, não uma construção planejada. É de Chesnais (2008) a afirmativa de que um imenso reequilíbrio está começando a ocorrer nos fluxos do comércio mundiais entre o déficit comercial americano insustentável e os superávits igualmente insustentáveis da China e outros grandes exportadores. Os consumidores americanos não serão mais os motores do crescimento chinês alimentado pela exportação assim como os poupadores chineses não mais continuarão financiando o crédito americano. 22
  • 23. "A crise enfatiza o fato de a China ser um agente mundial chave", disse Bobo Lo (2008), do Centro para Reforma Europeia, em Londres. "Ela pode ainda não ser uma superpotência mundial, mas acelerou esta tendência." Se a China é uma vencedora cautelosa, a Rússia é a perdedora mais óbvia nesta sublevação. A escolha do G20 como fórum da crise em vez do G8 aboliu a posição privilegiada da Rússia como única forasteira à mesma mesa dos países ricos. No G20, ela é apenas uma das muitas economias de médio porte, como a Coréia do Sul e a Turquia. Coincidindo com as conclusões de Paul Jorion — Vers la crise du capitalisme américain?, Michel Aglietta e Laurent Berrebi (2007) acrescentam que “isso supõe também uma mudança na concepção que os dirigentes norte-americanos têm do lugar dominante e do papel hegemônico dos Estados Unidos no mundo”. Quanto à China, além dos reflexos de entesouramento que mergulham suas raízes na história, lida-se com “uma poupança de precaução ante a degradação dos sistemas públicos de proteção social, de educação, de aposentadoria, diante do risco de perda de emprego nas empresas estatais subsistentes”, problemas, portanto, que conduzem à liberdade de organização e de reivindicação. A concentração dos mecanismos suscetíveis de conduzir a uma situação em que as mudanças estruturais maiores sejam impostas por uma crise encontra-se na moeda internacional (as divisas e suas taxas de câmbio). Em razão do caráter de bem público da moeda, sua regulação só pode ser política. Para Aglietta e Berrebi (2007), “a responsabilidade de sua gestão é necessariamente intergovernamental”. Os Estados Unidos sempre se opuseram a isso por causa dos privilégios que tiram do regime de semipadrão dólar. Mas, atualmente, uma responsabilidade compartilhada seria de absoluta necessidade. Segundo Chesnais (2008), não existe nenhum outro meio de criar uma estrutura ordenada das taxas de câmbio, de um lado, e de regular a liquidez global em função da demanda de meios de pagamentos internacionais, do outro. Ora, o que fizeram os bancos centrais desde meados de agosto senão criar mais liquidez ainda e travar entre si uma espécie de guerra das moedas, da qual o euro sofreu as piores conseqüências? Será necessário que o sistema capitalista mundial passe por uma crise enorme antes de serem recriados os fundamentos de uma regulação monetária e financeira? É preciso se preparar para isso? Seja como for, Aglietta e Berrebi (2008) terão soado o alarme. 23
  • 24. Geoff Mulgan (2009), diretor da Young Foundation, Professor Visitante do University College, London School of Economics e Melbourne University, afirma que, para entender no que o capitalismo poderá se transformar, nós primeiro temos que entender o que ele é. O historiador francês Fernand Braudel ofereceu talvez a melhor descrição do capitalismo quando escreveu sobre ele como sendo uma série de camadas construídas acima da economia de mercado. Estas camadas, local, regional, nacional e global, são caracterizadas por uma abstração ainda maior, até no topo se encontrar finanças sem corpo em busca de retorno em qualquer lugar, sem compromisso com qualquer lugar ou setor em particular, e transformando tudo e qualquer coisa em “commodity”. A crise do capitalismo é global, e tem exibido as limitações das instituições globais que foram moldadas há meio século. A China caminha para se tornar um agente dominante em um Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial fortalecidos, seguida pela Índia e Brasil. O G20 está superando o G8. E no aguardo estão possíveis novas instituições para policiamento e gestão do meio ambiente. Os fatos da realidade estão a indicar que a gestão da economia mundial e a solução dos problemas do aquecimento global requerem uma nova estrutura organizacional em bases planetárias que seja capaz de assegurar a cooperação entre os Estados-Nações. A nova ordem mundial a ser edificada deve organizar não apenas as relações entre os homens na face da Terra, mas também suas relações com a natureza. É preciso, portanto, que seja elaborado um contrato social planetário que possibilite o desenvolvimento econômico e social e o uso racional dos recursos da natureza em benefício de toda a humanidade. A edificação de uma nova ordem mundial baseada nesses princípios é urgente não apenas para fazer frente ao aquecimento global e suas catastróficas consequencias, mas também para mitigar ou superar os problemas atuais e futuros resultantes da crise geral do sistema capitalista mundial. A solução dos problemas relacionados com a regulação da economia mundial, o agravamento dos conflitos sociais e os problemas do aquecimento global requerem a implantação de uma nova ordem mundial diferente da atual e uma estrutura organizacional de caráter global. A cooperação entre os Estados-Nações se impõe no âmbito do desenvolvimento econômico e social tendo em vista, não apenas, a solução dos problemas engendrados pela crise financeira e econômica mundial que atinge na atualidade todos os países do mundo e que já está levando à exclusão social de amplas camadas de suas populações, especialmente aquelas situadas nos países da periferia capitalista, mas também a superação dos problemas do aquecimento global. 24
  • 25. BIBLIOGRAFIA AGLIETTA, Michel & BERREBI, Laurent. Désordres dans le capitalisme mondial. Paris: Odile Jacob, 2007. BOBO LO. Axis of Convenience: Moscow, Beijing, and the New Geopolitics. Kindle Edition, 2008. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CHESNAIS, François. Texto de François Chesnais sobre crise financeira. Blog IZB, 2/11/2008. Disponível em: http://blog.zequinhabarreto.org.br/2008/11/02/texto-de-francois- chesnais-sobre-crise-financeira. CHOSSUDOVSKY, Michel. A Grande Depressão do século XXI: Colapso da economia real. 14/03/2009. Disponível em: <http://agal-gz.org/blogues/index.php/canta/2009/03/14/a- grande-depressao-do-seculo-xxi-colapso> ESTADO DE SÃO PAULO. Força dos EUA no mundo diminuirá, diz inteligência americana. 21/11/2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,forca-dos- eua-no-mundo-diminuira-diz-inteligencia-americana,281283,0.htm>. FOLHA DE SÃO PAULO. Economia mundial tem reação fraca, diz FMI. Caderno Dinheiro, 09/07/2009. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0907200902.htm. KRUGMAN, Paul. Combatendo a depressão. The New York Times, 06/01/2009. MULGAN, Geoff. O que poderá vir após o capitalismo?. UOL Notícias Internacional, 19/04/2009. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/prospect/2009/04/19/ult2678u213.jhtm ROUBINI, Nouriel. Cresce o risco de nova contração. Folha de S. Paulo, 25 ago.2009. TETT, Gilllian. Crise global foi causada por "criação destrutiva". UOL Noticias, 10/03/2009. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/fintimes/2009/03/10/ult579u2728.jhtm)>. WALLERSTEIN, Immanuel. Unthinking social science.Cambridge: Polity Press, 1995. WOLF, Martin. Depois da tempestade começa uma dura escalada. 15/07/2009. Disponível em: http://olicruz.wordpress.com/2009/07/15/martin-wolf-a-crise-e-o-fim-do-panico/ _____________. Desequilíbrios globais ameaçam a sobrevivência do livre comércio. UOL Notícias Internacional, 03/12/2008. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/fintimes/2008/12/03/ult579u2654.jhtm 25