O grande desafio enfrentado pelos dirigentes empresariais e públicos na era contemporânea é representado pela necessidade de planejar o desenvolvimento de suas organizações em um ambiente de elevada complexidade e de mudanças muitas vezes caóticas. Os modelos de gestão convencionais consideram a administração uma atividade de “feedback” negativo, isto é, estabelece uma estratégia e conduz a organização na direção desejada com a correção dos desvios entre o plano traçado e os resultados alcançados. Numa época em que tudo muda rapidamente, pode-se afirmar que os princípios que regem esses modelos estão ultrapassados quando aplicados em um ambiente econômico como o atual caracterizado pela instabilidade. Para ser eficaz, o processo de planejamento empresarial e público precisa levar em conta, necessariamente, a instabilidade, a incerteza, com suas turbulências e seus riscos. Uma das grandes dificuldades do processo de planejamento é o de minimizar as incertezas quando se sabe que a mudança é a única regra estável no atual momento e que o passado serve cada vez menos como base para projetar o futuro.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A prevenção e a precaução na gestão empresarial e pública
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A PREVENÇÃO E A PRECAUÇÃO NA GESTÃO EMPRESARIAL E PÚBLICA
Fernando Alcoforado*
O grande desafio enfrentado pelos dirigentes empresariais e públicos na era
contemporânea é representado pela necessidade de planejar o desenvolvimento de suas
organizações em um ambiente de elevada complexidade e de mudanças muitas vezes
caóticas. Os modelos de gestão convencionais consideram a administração uma
atividade de “feedback” negativo, isto é, estabelece uma estratégia e conduz a
organização na direção desejada com a correção dos desvios entre o plano traçado e os
resultados alcançados. Numa época em que tudo muda rapidamente, pode-se afirmar
que os princípios que regem esses modelos estão ultrapassados quando aplicados em um
ambiente econômico como o atual caracterizado pela instabilidade. Além disso, as
decisões tomadas por seus dirigentes em um determinado momento pode não levar ao
resultado desejado porquanto será afetado inexoravelmente por mutações caóticas que
venham a ocorrer interna e externamente à organização ao longo do tempo.
Os sistemas entram em um estado de caos quando flutuações que eram, até então,
corrigidas por “feedback” negativo ficam fora de controle. A trajetória de
desenvolvimento torna-se não linear, tendências predominantes colapsam e em seu
lugar surgem vários desenvolvimentos complexos. Raramente o caos é uma condição
prolongada. Na maior parte dos casos, é apenas um período transitório entre estados
mais estáveis. Quando as flutuações no sistema atingem níveis de irreversibilidade, o
sistema atinge um ponto crítico (ponto de bifurcação) em que ele colapsa em seus
componentes individuais estáveis ou passa por uma evolução rápida em direção a um
estado de avanço resistente às flutuações que o desestabilizaram. Se esse caminho do
avanço é selecionado com a adoção do “feedback” positivo, o sistema dá um passo à
frente evoluindo para um estado no qual ele tem maior eficiência, bem como mais
flexibilidade, maior complexidade estrutural e níveis de organização adicionais.
Para ser eficaz, o processo de planejamento empresarial e público precisa levar em
conta, necessariamente, a instabilidade, a incerteza, com suas turbulências e seus riscos.
Uma das grandes dificuldades do processo de planejamento é o de minimizar as
incertezas quando se sabe que a mudança é a única regra estável no atual momento e
que o passado serve cada vez menos como base para projetar o futuro. As visões
clássicas a respeito da desordem foram todas depreciativas, pois a ciência esteve sempre
orientada para a descoberta de certezas. Todo conhecimento reduzia-se à ordem, e toda
aleatoriedade seria apenas aparência, fruto de nossa ignorância, a ser necessariamente
superada em algum momento futuro. O desenvolvimento da Teoria do Caos a partir da
década de 1970 contribuiu para a formulação de um modelo muito diferente do que
prevalecia até então que era basicamente determinista e linear. No modelo baseado na
Teoria do Caos, o mundo é mais complexo e fundamentalmente não determinista e não
linear.
A Teoria do Caos se impôs a partir do avanço no entendimento dos processos lineares e
não lineares e especialmente, com a ajuda dos computadores. Comumente o emprego do
termo "caos" está sempre associado à desordem. Caos, em ciência, não é desordem, "é
uma ordem mascarada de aleatoriedade", segundo Edward Norton Lorenz,
meteorologista, matemático e filósofo norte-americano que desenvolveu os primeiros
estudos sobre a Teoria do Caos. O advento da Teoria do Caos veio legitimar a desordem
e o acaso no campo científico. Doravante, pode-se continuar conceituando alguns
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fenômenos como estritamente deterministas, mas reconhece-se que tais fenômenos são
exceção no domínio dos eventos naturais. Ficou logo claro para alguns pensadores das
ciências sociais que a Teoria do Caos e a Ciência da complexidade lançariam muita luz
sobre as organizações humanas como empresas, mercados, economias e ecologia. As
coisas são mais do que a soma de suas partes, equilíbrio é morte, causas são efeitos e
efeitos são causas, desordem e paradoxo estão em toda parte.
Prigogine, químico russo naturalizado belga, ganhador do Prêmio Nobel de Química de
1977 pelos seus estudos em termodinâmica de processos irreversíveis com a formulação
da teoria das estruturas dissipativas, defende a tese de que pequenas perturbações
aleatórias podem ser rapidamente amplificadas, levando o sistema a uma ainda maior
instabilidade, até um limite denominado "ponto de bifurcação", a partir do qual é
rompida a estrutura do sistema (uma "quebra de simetria"). Após o ponto de bifurcação,
o comportamento do sistema torna-se errático por algum tempo, mas tende a estabilizar-
se em um novo equilíbrio - só que qualitativamente distinto do original. O sistema agora
apresenta novos modos de organização, estruturalmente mais complexos. Ele evoluiu. O
mais notável neste processo é, segundo Prigogine, o fato de ser impossível prever o
caminho evolutivo que o sistema irá tomar a partir do ponto de bifurcação. Durante a
fase de instabilidade, o sistema "experimenta" inúmeras variantes de "futuros
possíveis", antes de "decidir-se" por seu novo patamar estável de complexidade. Todo o
processo é, em suma, um processo de auto-organização, que resguarda o sistema de
ingressar no caminho da entropia, isto é, da inexorável decadência (PRIGOGINE, Ilya,
STENGERS, Isabelle. O Fim das Certezas - Tempo, Caos e as Leis da Natureza. São
Paulo: UNESP, 1996 e PRIGOGINE, Ilya, STENGERS, Isabelle. Entre o Tempo e a
Eternidade. São Paulo: Companhia das Letras, trad. brasileira 1992, 1988).
Para fazer frente às incertezas do futuro, as organizações públicas e privadas devem
utilizar a técnica de Cenários adotando como premissa que o futuro é múltiplo, muitos
futuros são possíveis e o caminho que conduz aos muitos futuros não é forçosamente
único (GODET, Michel. Manual de Prospectiva Estratégica. Lisboa: Dom Quixote,
1993). O propósito essencial de cenários é apresentar aos executivos das organizações
uma imagem significativa de futuros prováveis e, também, futuros inesperados ou
improváveis em horizontes de tempo diversos. Para lidar com as incertezas do futuro, é
fundamental que sejam adotados planos de prevenção e de precaução. Sem dúvida
nenhuma os futuros prováveis com grande probabilidade de ocorrer estão ligados à ideia
de prevenção que consistiria em elaborar planos a eles associados. O princípio da
prevenção se destinaria, em sentido restrito, a aproveitar oportunidades e
evitar ameaças de acordo com uma lógica prospectiva, de antecipação de
acontecimentos futuros prováveis de ocorrer. Em caso de futuros inesperados ou
improváveis, de dúvida ou de incerteza sobre sua ocorrência, é preciso agir também
prevenindo com base no princípio da precaução. Nesse processo, é necessário fazer
planos para fazer frente aos eventos inesperados ou improváveis do futuro. A precaução
é relativa a riscos potenciais e a prevenção a riscos comprovados (DUPUY, Jean-Pierre.
O tempo das catástrofes. São Paulo: Realizações Editora, 2011). O risco potencial
corresponde a um acontecimento que pode ou não ocorrer ao qual não se pode atribuir
probabilidade.
Deve-se atentar, portanto, para a distinção existente entre futuros inesperados ou
improváveis sobre os quais se assenta o princípio da precaução e os futuros prováveis
associados à lógica da prevenção. Prevenção neste caso significa ato de antecipar-se a
futuros prováveis de ocorrência e precaução, por sua vez, equivale à admissão
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antecipada de um cuidado em relação a futuros improváveis de ocorrência. O cálculo
econômico deve servir de base às decisões relacionadas com os planos de prevenção e
de precaução. Na tomada de decisão sobre a escolha de planos alternativos mais
adequados, podem ser adotados os critérios Maximin ou Minimax. O critério Maximin
se baseia em uma visão pessimista do problema. A alternativa a ser escolhida será
aquela que é a melhor entre as piores opções de todas as alternativas consideradas.
Aplicado ao âmbito empresarial, deve-se determinar o lucro mínimo proporcionado por
cada plano alternativo e, em seguida, escolher a alternativa com o maior lucro mínimo.
Se a decisão for tomada levando em conta os custos (ao invés de lucros), deve-se
minimizar o custo máximo.
Pode-se adotar, também, os critérios Maximax e Minimin. O critério Maximax se baseia
em uma visão otimista do problema. Supõe-se que ocorrerá o melhor evento possível. A
alternativa será escolhida como aquela que é a melhor entre as melhores opções de todas
as alternativas. Aplicado ao âmbito econômico deve-se determinar o lucro máximo para
cada alternativa e, em seguida, escolher a alternativa com o maior lucro máximo. Se a
decisão for tomada levando em conta os custos, deve-se minimizar o custo mínimo.
Utiliza-se então o critério análogo ao critério Maximax, que é o critério Minimin.
Finalmente, pode-se utilizar o critério de Hurwicz, intermediário entre o mais pessimista
(Maximin) e o mais otimista (Maximax).
* Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).