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HOJE EM DIA - BELO HORIZONTE, SEGUNDA-FEIRA, 27/6/2011

                                                                                                                                                                                   Cultura 3

   Concorrênciaaumenta                                                                                                                    TIÃO
                                                                                                                                          MARTINS

    eforçaàsadaptações
                                                                                                                                          E-mail: colunasm@hojemdia.com.br




                                                                                                                                                          Ensaio sobre a
       Donos de estúdios investem em trilhas e publicidade para sobreviver
        VIVIANE MORENO
                                    CARLOS ROBERTO
                                                                                                                                                            cegueira
            REPÓRTER
                                                                                                                                               Hoje, vamos a São Leopol-        gos às escolas, acrescida de ju-
     SEGUE CAPA – O produ-                                                                                                                do, no distante Rio Grande do         ros de mora e multa por “atra-
tor, compositor, instrumen-                                                                                                               Sul, onde há menos analfabe-          so no pagamento ao INSS”.
tista e cantor Flávio Henri-                                                                                                              tos e mendigos que na maio-                “Boquiaberto” é pouco,
que calcula que, quando mon-                                                                                                              ria dos municípios brasilei-          para descrever a reação do
tou o estúdio Via Sonora, em                                                                                                              ros. Os empresários locais            empresário, ao saber que terá
1996, havia outros cinco em                                                                                                               acreditam que, em um país sé-         de pagar 26 mil reais por ofere-
BH. Hoje, de acordo com o                                                                                                                 rio, analfabetismo e pobreza          cer educação gratuita aos em-
músico, seriam mais de 100,                                                                                                               são males que têm cura. E,            pregados. Ele já recorreu à Jus-
de todos os tipos. “Com for-                                                                                                              por ousarem apressar essa             tiça, não só pelo valor que ex-
mato comercial, que é só estú-                                                                                                            cura, são punidos pela buro-          torquido, mas por considerar
dio, com infra-estrutura, tem                                                                                                             cracia federal, mais cega e           essa tributação um atentado
uns 15”, estima ele.                                                                                                                      sem rumo que os persona-              à inteligência.
     O melhor momento para                                                                                                                gens de Saramago.                          - Estou revoltado. Mesmo
esse mercado, na avaliação                                                                                                                     Silvino Geremia, um des-         multadomilvezesnãovoureco-
de Flávio Henrique, teria sido                                                                                                            ses empresários, descreveu re-        lherumcentavo–elepromete.
há dez anos. “Os estúdios ain-                                                                                                            centemente, para a revista                 Nem teria que apresentar
da eram poucos e aparece-                                                                                                                 Exame, um sintoma da ce-              outros argumentos, de tão
ram as leis de incentivo, que                                                                                                             gueira federal: “Acabo de des-        grosseiro que é o achaque,
aumentaram a produção. Foi                                                                                                                cobrir mais um desses absur-          mas faz questão de esclarecer
uma injeção muito boa de re-                                                                                                              dos que só servem para atra-          sua posição, coisa que o gover-
cursos no mercado. Peguei                                                                                                                 sar a vida das pessoas que to-        no raramente faz:
uma época muito boa, não ti-                                                                                                              cam e fazem este país: inves-              - Mais da metade das
nha nem como atender tanta                                                                                                                tir em educação é contra a            crianças que iniciam a 1ª sé-
gente”.                                                                                                                                   lei”. Se você não acredita, leia      rie não concluem o ciclo bási-
     Já o André Melo, diretor                                                                                                             o que se segue.                       co. A Constituição diz que
executivo da Serrassônica              Flávio Henrique, do Via Sonora: “Meu estúdio foi dos primeiros a ter um bom piano acústico”             A empresa dele, a Gere-          educação é direito do cida-
Produtora de Áudio (empre-                                                                                                                mia, fundada há 25 anos, fabri-       dão e dever do Estado. E
sa surgida em 2000 da união         EMMANUEL PINHEIRO                                                                                     ca equipamentos para extra-           quem é o Estado? Somos nós,
do estúdio Polifonia com a                                                                                                                ção de petróleo, com tecnolo-         todos nós. E não aceito que o
produtora Estúdio B), avalia                                                                                                              gia de ponta e muita pesquisa,        Estado me penalize por fazer
que agora é o melhor momen-                                                                                                               disputando mercados com in-           o que ele não faz.
to para se ter um estúdio.                                                                                                                dústrias dos Estados Unidos,               Se a moda pega, diz Silvi-
     “O estúdio vivia de alu-                                                                                                             Canadá e outros países. Por is-       no, as empresas que criam
guel para artista gravar de-                                                                                                              so, precisa de gente qualifica-       mais benefícios para funcio-
mo. Hoje, a gente grava disco                                                                                                             da. E qualificação, ainda que         nários vão recuar. E recomen-
também (principalmente os                                                                                                                 os ministros da Educação e da         da ao governo que investigue
artistas do selo Serrassônica,                                                                                                            Previdência não saibam, exi-          quem desvia dinheiro, sone-
casos de Rogermoore, Bluesa-                                                                                                              ge cursos inovadores, boas es-        ga impostos, rouba a Previ-
tan, OscilloID, Iconili, Casti-                                                                                                           colas e bons livros.                  dência ou contrata mão-de-
lho & Zimun), mas cria mais                                                                                                                    Silvino criou, em 1988,          obra sem registro.
conteúdo para publicidade,                                                                                                                um programa que custeia a                  - Não temos tempo a per-
cinema, televisão. Na época,                                                                                                              educação dos funcionários,            der. Leis ultrapassadas e fora
tinha como a empresa sobre-                                                                                                               em todos os níveis. Do varre-         da realidade devem ser revo-
viver alugando a estrutura.                                                                                                               dor do chão da fábrica até o          gadas. A legislação e a mentali-
Hoje, acho impossível, não va-                                                                                                            técnico de primeira linha, to-        dade dos homens públicos de-
le mais a pena”, avalia ele.                                                                                                              dos podem estudar o que qui-          vem se adequar aos novos
     A principal mudança nes-                                                                                                             serem. “Se a União não tem re-        tempos. E, por favor, deixem
sas duas décadas, na visão de                                                                                                             cursos e eu tenho, acho que           trabalhar em paz quem está
André Melo, é que, antes,                                                                                                                 devo pagar a escola dos meus          fazendo alguma coisa.
qualquer artista que quisesse                                                                                                             funcionários”.                             Silvino jura que não desis-
gravar qualquer coisa, por                                                                                                                     Jamais cobrou um centa-          tirá de investir no patrimônio
mais simples que fosse, tinha                                                                                                             vo da União por investir no de-       mais precioso da empresa: as
que ir para o estúdio. Hoje,                                                                                                              senvolvimento das pessoas e           pessoas. E reconhece: “Sou
ele pode fazer por conta pró-         Leo Moraes, do Estúdio Pato Multimídia: “Todo músico sonha ter estúdio, ter mais autonomia”         do País. Mas, este ano, apare-        teimoso e não tem jeito”.
pria ou com uma estrutura                                                                                                                 ceu na empresa um fiscal do                Tomara que outros apren-
menor; só procura um estú-                                                                                                                INSS e decretou que a escola          dam com ele. Mesmo que os
dio profissional quando vai                                                                                                               oferecida ao trabalhador é sa-        burocratas mostrem os den-
gravar disco, não gasta di-                                                                                                               lário indireto. Logo, a Geremia       tes, empresários corajosos e
nheiro com demo.                                                                                                                          terá que recolher a contribui-        de visão podem curar a ce-
     Ele diz que as pessoas co-                                                                                                           ção social sobre os valores pa-       gueira de Brasília.
meçaram a gravar em casa e
que demorou alguns anos pa-
raos própriosartistaspercebe-
rem que, dependendo do gê-
nero, podem fazer uma coisa
interessantecom estrutura pe-
quena, mas, em muitos casos,
não se consegue a qualidade
de um bom estúdio.
     “Com a internet facilitan-
do um monte de coisa, as pes-
soas começaram a achar que
podiam fazer tudo sozinhas,
que eram livres, não precisa-
vam de gravadora. Mas, em
vez de ter mil bandas, agora
há 100 mil; se não tiver quali-
dade, ninguém vai querer te
escutar. Voltou a importância
de fazer a coisa bem feita. A di-
ferença é que antes se gravava
em estúdio grande porque
não havia opção. Hoje se gra-
va porque se a coisa é caseira
ninguém vai escutar”.




  “Maiorestúdio de Minas”acaba deser aberto
    O baterista Alex Ferreira e     dade e pôde observar de per-                                      lie Brown Jr. Se tem menos          um empreendedor, assim co-            blicitárias.
o baixista Ricardo “Gui” Mon-       to os defeitos e qualidades de                                    grana, pode gravar com a mi-        mo Gui, que teve três estú-               Funcionando há um mês
teiro também acreditam no           cada um. “Por isso fiz como       “O mercado é muito              nha banda, que é formada            dios em Santos (SP) e já tocou        e meio, o estúdio Mamute co-
mercado. Eles dizem ter inves-      fiz, tentando sair do comum.                                      por músicos muito bons, mas         e gravou muita gente, casos           meçou a ser montado dois
tido R$ 700 mil para criar o        O mercado fonográfico é mui-      concorrido, mas tem             não têm o mesmo prestígio           de Lobão, Dudu Nobre, Surto           anos e meio antes. “Rodamos
Mamute Estúdio, com um es-          to concorrido, mas tem muita                                      desses nomes, que acabam            e Detonautas.                         muito procurando lugar, con-
túdio de 205 metros quadra-         sala pequena e equipamen-         muita sala pequena e            tornando o disco mais vendá-            “O universo da música             siderando o tamanho e a
dos (que será ampliado para         tos de baixa qualidade. E para                                    vel”, diz Alex Ferreira que, de-    sempre me fascinou. Colocar           questão financeira”, conta
280m² até o final do ano), qua-     fazer uma gravação legal e         equipamentos de                pendendo do contrato, assu-         nosso talento e experiência à         Alex Ferreira, que optou pelo
tro salas, uma técnica de           conquistar uma clientela,                                         me a função de produtor, ou         disposição de pessoas que so-         Bairro Pirajá, num lote que
40m², sala de gravação de           tem que ter supra sumo”.            baixa qualidade”              seja, cabe a ele “ditar os arran-   nham gravar seria nossa con-          sua família tinha atrás do Mi-
42m², cabine de voz de 15m² e            Ensaiar no Mamute custa                                      jos, formatar a cara da banda,      tribuição para a música”,             nas Shopping.
sala de ensaio de 42m².             R$ 40 o período de duas horas                                     dizer o que excesso, como um        afiança Alex Ferreira, para               “Estúdio de gravação é co-
    “É o terceiro maior de Mi-      (preço promocional). Gravar                                       técnico de futebol. Varia mui-      quem seu público, até agora,          mo oficina mecânica: se for
nas em nível de sala indivi-        com a própria branda custa        sicos “de primeira grandeza”,   to, depende do artista”.            seja majoritariamente evan-           bom profissional, o cliente
dual – atrás do Diante do Tro-      R$ 110 a hora (captação e gra-    convidados especiais etc.            Ele é filho de músico (o fa-   gélico. “Somos evangélicos e          vai até você”, pontua.
no e do Concha Acústica, que        vação).                               O céu é o limite. “Posso    lecido Toninho do Violão,           acabamos trabalhando mais                 Ferreira se diz bem locali-
têm 70m² cada – e o maior em             Alex calcula que gravar      trazer o guitarrista Roger      que tocava violão de sete cor-      com esse público, mas nosso           zado: “Estou a 10 quilôme-
salas somadas”, garante Alex        um disco com dez faixas cus-      Franco, o baterista Pezão, o    das no grupo Minas ao Luar) e       alvo é qualquer pessoa que so-        tros do Centro, a 1,5 quilôme-
Ferreira.                           ta, no mínimo, R$ 15 mil. Não     trio de metais do Djavan, o     toca todo sábado na Rede Su-        nha gravar”. Inclui aí CD,            tro da Avenida Cristiano Ma-
    O músico conta que já en-       existe valor máximo, já que       guitarrista do Guilherme        per, a maior emissora gospel        DVD, videoclipe, ensaios,             chado, a cinco quilômetros
saiou em vários lugares da ci-      ele pode ter orquestra, ter mú-   Arantes, o Pinguim do Char-     do país. Diz que sempre foi         spots, jingles, campanhas pu-         da Pampulha”. (VM)

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  • 1. HOJE EM DIA - BELO HORIZONTE, SEGUNDA-FEIRA, 27/6/2011 Cultura 3 Concorrênciaaumenta TIÃO MARTINS eforçaàsadaptações E-mail: colunasm@hojemdia.com.br Ensaio sobre a Donos de estúdios investem em trilhas e publicidade para sobreviver VIVIANE MORENO CARLOS ROBERTO cegueira REPÓRTER Hoje, vamos a São Leopol- gos às escolas, acrescida de ju- SEGUE CAPA – O produ- do, no distante Rio Grande do ros de mora e multa por “atra- tor, compositor, instrumen- Sul, onde há menos analfabe- so no pagamento ao INSS”. tista e cantor Flávio Henri- tos e mendigos que na maio- “Boquiaberto” é pouco, que calcula que, quando mon- ria dos municípios brasilei- para descrever a reação do tou o estúdio Via Sonora, em ros. Os empresários locais empresário, ao saber que terá 1996, havia outros cinco em acreditam que, em um país sé- de pagar 26 mil reais por ofere- BH. Hoje, de acordo com o rio, analfabetismo e pobreza cer educação gratuita aos em- músico, seriam mais de 100, são males que têm cura. E, pregados. Ele já recorreu à Jus- de todos os tipos. “Com for- por ousarem apressar essa tiça, não só pelo valor que ex- mato comercial, que é só estú- cura, são punidos pela buro- torquido, mas por considerar dio, com infra-estrutura, tem cracia federal, mais cega e essa tributação um atentado uns 15”, estima ele. sem rumo que os persona- à inteligência. O melhor momento para gens de Saramago. - Estou revoltado. Mesmo esse mercado, na avaliação Silvino Geremia, um des- multadomilvezesnãovoureco- de Flávio Henrique, teria sido ses empresários, descreveu re- lherumcentavo–elepromete. há dez anos. “Os estúdios ain- centemente, para a revista Nem teria que apresentar da eram poucos e aparece- Exame, um sintoma da ce- outros argumentos, de tão ram as leis de incentivo, que gueira federal: “Acabo de des- grosseiro que é o achaque, aumentaram a produção. Foi cobrir mais um desses absur- mas faz questão de esclarecer uma injeção muito boa de re- dos que só servem para atra- sua posição, coisa que o gover- cursos no mercado. Peguei sar a vida das pessoas que to- no raramente faz: uma época muito boa, não ti- cam e fazem este país: inves- - Mais da metade das nha nem como atender tanta tir em educação é contra a crianças que iniciam a 1ª sé- gente”. lei”. Se você não acredita, leia rie não concluem o ciclo bási- Já o André Melo, diretor o que se segue. co. A Constituição diz que executivo da Serrassônica Flávio Henrique, do Via Sonora: “Meu estúdio foi dos primeiros a ter um bom piano acústico” A empresa dele, a Gere- educação é direito do cida- Produtora de Áudio (empre- mia, fundada há 25 anos, fabri- dão e dever do Estado. E sa surgida em 2000 da união EMMANUEL PINHEIRO ca equipamentos para extra- quem é o Estado? Somos nós, do estúdio Polifonia com a ção de petróleo, com tecnolo- todos nós. E não aceito que o produtora Estúdio B), avalia gia de ponta e muita pesquisa, Estado me penalize por fazer que agora é o melhor momen- disputando mercados com in- o que ele não faz. to para se ter um estúdio. dústrias dos Estados Unidos, Se a moda pega, diz Silvi- “O estúdio vivia de alu- Canadá e outros países. Por is- no, as empresas que criam guel para artista gravar de- so, precisa de gente qualifica- mais benefícios para funcio- mo. Hoje, a gente grava disco da. E qualificação, ainda que nários vão recuar. E recomen- também (principalmente os os ministros da Educação e da da ao governo que investigue artistas do selo Serrassônica, Previdência não saibam, exi- quem desvia dinheiro, sone- casos de Rogermoore, Bluesa- ge cursos inovadores, boas es- ga impostos, rouba a Previ- tan, OscilloID, Iconili, Casti- colas e bons livros. dência ou contrata mão-de- lho & Zimun), mas cria mais Silvino criou, em 1988, obra sem registro. conteúdo para publicidade, um programa que custeia a - Não temos tempo a per- cinema, televisão. Na época, educação dos funcionários, der. Leis ultrapassadas e fora tinha como a empresa sobre- em todos os níveis. Do varre- da realidade devem ser revo- viver alugando a estrutura. dor do chão da fábrica até o gadas. A legislação e a mentali- Hoje, acho impossível, não va- técnico de primeira linha, to- dade dos homens públicos de- le mais a pena”, avalia ele. dos podem estudar o que qui- vem se adequar aos novos A principal mudança nes- serem. “Se a União não tem re- tempos. E, por favor, deixem sas duas décadas, na visão de cursos e eu tenho, acho que trabalhar em paz quem está André Melo, é que, antes, devo pagar a escola dos meus fazendo alguma coisa. qualquer artista que quisesse funcionários”. Silvino jura que não desis- gravar qualquer coisa, por Jamais cobrou um centa- tirá de investir no patrimônio mais simples que fosse, tinha vo da União por investir no de- mais precioso da empresa: as que ir para o estúdio. Hoje, senvolvimento das pessoas e pessoas. E reconhece: “Sou ele pode fazer por conta pró- Leo Moraes, do Estúdio Pato Multimídia: “Todo músico sonha ter estúdio, ter mais autonomia” do País. Mas, este ano, apare- teimoso e não tem jeito”. pria ou com uma estrutura ceu na empresa um fiscal do Tomara que outros apren- menor; só procura um estú- INSS e decretou que a escola dam com ele. Mesmo que os dio profissional quando vai oferecida ao trabalhador é sa- burocratas mostrem os den- gravar disco, não gasta di- lário indireto. Logo, a Geremia tes, empresários corajosos e nheiro com demo. terá que recolher a contribui- de visão podem curar a ce- Ele diz que as pessoas co- ção social sobre os valores pa- gueira de Brasília. meçaram a gravar em casa e que demorou alguns anos pa- raos própriosartistaspercebe- rem que, dependendo do gê- nero, podem fazer uma coisa interessantecom estrutura pe- quena, mas, em muitos casos, não se consegue a qualidade de um bom estúdio. “Com a internet facilitan- do um monte de coisa, as pes- soas começaram a achar que podiam fazer tudo sozinhas, que eram livres, não precisa- vam de gravadora. Mas, em vez de ter mil bandas, agora há 100 mil; se não tiver quali- dade, ninguém vai querer te escutar. Voltou a importância de fazer a coisa bem feita. A di- ferença é que antes se gravava em estúdio grande porque não havia opção. Hoje se gra- va porque se a coisa é caseira ninguém vai escutar”. “Maiorestúdio de Minas”acaba deser aberto O baterista Alex Ferreira e dade e pôde observar de per- lie Brown Jr. Se tem menos um empreendedor, assim co- blicitárias. o baixista Ricardo “Gui” Mon- to os defeitos e qualidades de grana, pode gravar com a mi- mo Gui, que teve três estú- Funcionando há um mês teiro também acreditam no cada um. “Por isso fiz como “O mercado é muito nha banda, que é formada dios em Santos (SP) e já tocou e meio, o estúdio Mamute co- mercado. Eles dizem ter inves- fiz, tentando sair do comum. por músicos muito bons, mas e gravou muita gente, casos meçou a ser montado dois tido R$ 700 mil para criar o O mercado fonográfico é mui- concorrido, mas tem não têm o mesmo prestígio de Lobão, Dudu Nobre, Surto anos e meio antes. “Rodamos Mamute Estúdio, com um es- to concorrido, mas tem muita desses nomes, que acabam e Detonautas. muito procurando lugar, con- túdio de 205 metros quadra- sala pequena e equipamen- muita sala pequena e tornando o disco mais vendá- “O universo da música siderando o tamanho e a dos (que será ampliado para tos de baixa qualidade. E para vel”, diz Alex Ferreira que, de- sempre me fascinou. Colocar questão financeira”, conta 280m² até o final do ano), qua- fazer uma gravação legal e equipamentos de pendendo do contrato, assu- nosso talento e experiência à Alex Ferreira, que optou pelo tro salas, uma técnica de conquistar uma clientela, me a função de produtor, ou disposição de pessoas que so- Bairro Pirajá, num lote que 40m², sala de gravação de tem que ter supra sumo”. baixa qualidade” seja, cabe a ele “ditar os arran- nham gravar seria nossa con- sua família tinha atrás do Mi- 42m², cabine de voz de 15m² e Ensaiar no Mamute custa jos, formatar a cara da banda, tribuição para a música”, nas Shopping. sala de ensaio de 42m². R$ 40 o período de duas horas dizer o que excesso, como um afiança Alex Ferreira, para “Estúdio de gravação é co- “É o terceiro maior de Mi- (preço promocional). Gravar técnico de futebol. Varia mui- quem seu público, até agora, mo oficina mecânica: se for nas em nível de sala indivi- com a própria branda custa sicos “de primeira grandeza”, to, depende do artista”. seja majoritariamente evan- bom profissional, o cliente dual – atrás do Diante do Tro- R$ 110 a hora (captação e gra- convidados especiais etc. Ele é filho de músico (o fa- gélico. “Somos evangélicos e vai até você”, pontua. no e do Concha Acústica, que vação). O céu é o limite. “Posso lecido Toninho do Violão, acabamos trabalhando mais Ferreira se diz bem locali- têm 70m² cada – e o maior em Alex calcula que gravar trazer o guitarrista Roger que tocava violão de sete cor- com esse público, mas nosso zado: “Estou a 10 quilôme- salas somadas”, garante Alex um disco com dez faixas cus- Franco, o baterista Pezão, o das no grupo Minas ao Luar) e alvo é qualquer pessoa que so- tros do Centro, a 1,5 quilôme- Ferreira. ta, no mínimo, R$ 15 mil. Não trio de metais do Djavan, o toca todo sábado na Rede Su- nha gravar”. Inclui aí CD, tro da Avenida Cristiano Ma- O músico conta que já en- existe valor máximo, já que guitarrista do Guilherme per, a maior emissora gospel DVD, videoclipe, ensaios, chado, a cinco quilômetros saiou em vários lugares da ci- ele pode ter orquestra, ter mú- Arantes, o Pinguim do Char- do país. Diz que sempre foi spots, jingles, campanhas pu- da Pampulha”. (VM)