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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
 CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
          DEPARTAMENTO DE ARTES
   CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
            USO DA COR NO DESIGN
      PROFESSORA LUIZA BOUERI REBELO




ANÁLISE DA PINTURA DE JOSEPH WRIGHT OF DERBY




         EDSON NASCIMENTO DE LIMA




                   NATAL
                    2010
ANÁLISE DA PINTURA DE JOSEPH WRIGHT OF DERBY
       “Um experimento com um pássaro na bomba de ar” (1768)
       O objetivo deste trabalho é proceder a análise cromática de uma obra de arte. A
obra escolhida é An Experiment on a Bird in an Air Pump (1768) de Joseph Wright de
Derby, escolha motivada pela grande empatia com o barroco.
A análise cromática se dá a partir da observação das cores em determinada obra,
período histórico e autor. Para contextualizar melhor a obra dentro destes aspectos, foi
feita também a análise verbal de forma e conteúdo, com base em leituras de diferentes
autores.
       Existem vários pontos de vista de abordagem da obra visual. Podemos citar os
pontos de vista formal, factual, histórico, antropolítico, filosófico, entre outros.
Deteremos-nos na abordagem factual, formal e histórica da obra, segundo os princípios
de Heinrich Wolfllin, auxiliado pela classificação de Antônio Costella.




Composição em linhas diagonais, recessional, característica do barroco.


       ANÁLISE HISTÓRICA
       A cena descrita foi retratada pelo artista inglês, Joseph Wright of Derby, em seu
quadro intitulado Um experimento com um pássaro na bomba de ar (A experimento on
a bird in the air pump) em 1768, no período conhecido como o barroco e coincidindo
com a época da Revolução Industrial e do que ficou conhecido na Europa como a Era da
Razão. A obra possui características estilísticas típicas do barroco. Além da composição
em diagonais que ressalta a profundidade, a característica de ser uma obra de “forma
aberta” na terminologia de Wolfllin (p.91), ou seja, as figuras extrapolam os limites da
moldura, não são simplesmente enquadradas dentro dela, temos ainda a iluminação
dirigida, os contornos esmaecidos que fundem-se com o ambiente, ressaltando a
“unidade” da composição.     Fascinado    pelas   ciências   e   pelo   desenho,   Derby
homenageia a física nesta pintura, assim como a astronomia e a química em outras obras
do mesmo período.


       ANÁLISE FORMAL
       A obra analisada é composta de diagonais, como a formada pelo homem visto de
perfil à direita, a cabeça e o braço da criança com a gaiola, logo atrás dele, indo até a
janela onde aparece a lua. Outras diagonais são vistas no movimento do tronco/cabeça
do senhor com as crianças no centro à direita. Ainda outra diagonal formada pela altura
das cabeças dos personagens da esquerda: o homem, a mulher que o observa, o cientista
de vermelho com a bomba de ar, ao centro, formando um ângulo de 90° com a
outra,formada pelo senhor e as crianças, o que confere equilíbrio à composição.
       Essa prevalência de linhas diagonais dá à obra a característica de movimento e
ação, conforme a leitura de Costella (p.28). Wolfllin classifica esse tipo de construção
de “recessional”, já que os personagens são postos em linhas angulares em relação ao
plano do quadro, e retrocedem em perspectiva até o plano de fundo, ao contrário da
construção “planar”, construída em planos paralelos à moldura, característica das obras
renascentistas (p.91).
       O foco principal da imagem, formalmente falando, está na fonte de luz, ao
centro, a partir do recipiente com o crânio, que ilumina esparsamente a reação de pavor
das crianças, colocando-as em primeiro plano. Notamos que a iluminação mais forte no
centro da imagem propaga-se, tornando a cena sombria, dando a sensação de
estupefação, surpresa ou temor nas pessoas que compõem a mesma, e conferindo um
forte teor “expressional”, segundo a classificação de Antônio Costella (p.24). A lua,
envolta em nuvens, na janela, reforça esta sensação sombria. Essa expressividade pode
ser vista de maneiras diferentes nas outras personagens. O senhor que abraça a criança,
provavelmente o pai, parece querer tranquilizá-la. A criança cobre os olhos parecendo
não querer ver o que acontecerá com o pássaro da experiência. A criança menor parece
não entender bem o que está acontecendo, e tem uma expressão mais calma, serena.
Note que a posição da criança na composição, bem próxima da fonte de luz, iluminada
frontalmente, favorece essa sensação.


       ANÁLISE CROMÁTICA
       Todas essas ilusões de profundidade, luz, sombra, temor, serenidade, foram
conseguidas a partir do uso das cores. As cores estão intimamente ligadas com a análise
psicológica da pintura. As figuras das crianças, com suas roupas em tons de azul-claro,
dão uma sensação de inocência, serenidade e calma, enquanto as cores neutras do traje
do jovem casal do lado esquerdo da tela transmitem indiferença; em contrapartida, o
cientista da experiência é retratado vestindo um robe vermelho, indicando que ele é a
única figura ativa na cena. Na idade média, a cor vermelha era reservada às pessoas de
maior poder aquisitivo dadas às dificuldades de se conseguir tecidos tingidos. As cores
quentes da madeira da bomba de ar, da mesa e das cortinas assemelhando-se ao tom
acobreado, ressaltam a expressão de pânico da cacatua branca, como se o poder da
ciência fosse uma ameaça ao mundo como até então era conhecido. Isso tudo, aliado ao
tom predominantemente marrom-escuro das sombras reforça a sensação de melancolia.
ZONA NEUTRA
       ZONA QUENTE
       ZONA FRIA
Resumindo, classificaríamos a obra como expressional, formalmente diagonal, de forma
aberta, pinturesca e cromaticamente quente, que, segundo Wolfllin, são características
do barroco.
REFERÊNCIAS:
STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. 2 ed. Tradução Angela Lobo
de Andrade. Rio de Janeiro. Ediouro, 1999.

HOCKNEY, David. O conhecimento secreto – redescobrindo as técnicas perdidas dos grandes mestres.
Revisão Fábio Gonçalves. São Paulo. Cosac & Naify Edições, 2001.

COSTELLA, Antônio, Para apreciar a arte, Roteiro Didático. 1 Ed. São Paulo. SENAC SP, 1997.

HTTP://www.tms.org/pubs/journals/jom/0706/byko-0706.html

HTTP://www.nationalgallery.org.uk/cgi-
bin/WebObjects.dll/CollectionPublisher.woa/wa/loadApplet?workNumber=NG725&collectionPublisherS
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Análise da pintura de joseph wright of derby

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS USO DA COR NO DESIGN PROFESSORA LUIZA BOUERI REBELO ANÁLISE DA PINTURA DE JOSEPH WRIGHT OF DERBY EDSON NASCIMENTO DE LIMA NATAL 2010
  • 2. ANÁLISE DA PINTURA DE JOSEPH WRIGHT OF DERBY “Um experimento com um pássaro na bomba de ar” (1768) O objetivo deste trabalho é proceder a análise cromática de uma obra de arte. A obra escolhida é An Experiment on a Bird in an Air Pump (1768) de Joseph Wright de Derby, escolha motivada pela grande empatia com o barroco. A análise cromática se dá a partir da observação das cores em determinada obra, período histórico e autor. Para contextualizar melhor a obra dentro destes aspectos, foi feita também a análise verbal de forma e conteúdo, com base em leituras de diferentes autores. Existem vários pontos de vista de abordagem da obra visual. Podemos citar os pontos de vista formal, factual, histórico, antropolítico, filosófico, entre outros. Deteremos-nos na abordagem factual, formal e histórica da obra, segundo os princípios de Heinrich Wolfllin, auxiliado pela classificação de Antônio Costella. Composição em linhas diagonais, recessional, característica do barroco. ANÁLISE HISTÓRICA A cena descrita foi retratada pelo artista inglês, Joseph Wright of Derby, em seu quadro intitulado Um experimento com um pássaro na bomba de ar (A experimento on
  • 3. a bird in the air pump) em 1768, no período conhecido como o barroco e coincidindo com a época da Revolução Industrial e do que ficou conhecido na Europa como a Era da Razão. A obra possui características estilísticas típicas do barroco. Além da composição em diagonais que ressalta a profundidade, a característica de ser uma obra de “forma aberta” na terminologia de Wolfllin (p.91), ou seja, as figuras extrapolam os limites da moldura, não são simplesmente enquadradas dentro dela, temos ainda a iluminação dirigida, os contornos esmaecidos que fundem-se com o ambiente, ressaltando a “unidade” da composição. Fascinado pelas ciências e pelo desenho, Derby homenageia a física nesta pintura, assim como a astronomia e a química em outras obras do mesmo período. ANÁLISE FORMAL A obra analisada é composta de diagonais, como a formada pelo homem visto de perfil à direita, a cabeça e o braço da criança com a gaiola, logo atrás dele, indo até a janela onde aparece a lua. Outras diagonais são vistas no movimento do tronco/cabeça do senhor com as crianças no centro à direita. Ainda outra diagonal formada pela altura das cabeças dos personagens da esquerda: o homem, a mulher que o observa, o cientista de vermelho com a bomba de ar, ao centro, formando um ângulo de 90° com a outra,formada pelo senhor e as crianças, o que confere equilíbrio à composição. Essa prevalência de linhas diagonais dá à obra a característica de movimento e ação, conforme a leitura de Costella (p.28). Wolfllin classifica esse tipo de construção de “recessional”, já que os personagens são postos em linhas angulares em relação ao plano do quadro, e retrocedem em perspectiva até o plano de fundo, ao contrário da construção “planar”, construída em planos paralelos à moldura, característica das obras renascentistas (p.91). O foco principal da imagem, formalmente falando, está na fonte de luz, ao centro, a partir do recipiente com o crânio, que ilumina esparsamente a reação de pavor das crianças, colocando-as em primeiro plano. Notamos que a iluminação mais forte no centro da imagem propaga-se, tornando a cena sombria, dando a sensação de estupefação, surpresa ou temor nas pessoas que compõem a mesma, e conferindo um forte teor “expressional”, segundo a classificação de Antônio Costella (p.24). A lua, envolta em nuvens, na janela, reforça esta sensação sombria. Essa expressividade pode ser vista de maneiras diferentes nas outras personagens. O senhor que abraça a criança, provavelmente o pai, parece querer tranquilizá-la. A criança cobre os olhos parecendo
  • 4. não querer ver o que acontecerá com o pássaro da experiência. A criança menor parece não entender bem o que está acontecendo, e tem uma expressão mais calma, serena. Note que a posição da criança na composição, bem próxima da fonte de luz, iluminada frontalmente, favorece essa sensação. ANÁLISE CROMÁTICA Todas essas ilusões de profundidade, luz, sombra, temor, serenidade, foram conseguidas a partir do uso das cores. As cores estão intimamente ligadas com a análise psicológica da pintura. As figuras das crianças, com suas roupas em tons de azul-claro, dão uma sensação de inocência, serenidade e calma, enquanto as cores neutras do traje do jovem casal do lado esquerdo da tela transmitem indiferença; em contrapartida, o cientista da experiência é retratado vestindo um robe vermelho, indicando que ele é a única figura ativa na cena. Na idade média, a cor vermelha era reservada às pessoas de maior poder aquisitivo dadas às dificuldades de se conseguir tecidos tingidos. As cores quentes da madeira da bomba de ar, da mesa e das cortinas assemelhando-se ao tom acobreado, ressaltam a expressão de pânico da cacatua branca, como se o poder da ciência fosse uma ameaça ao mundo como até então era conhecido. Isso tudo, aliado ao tom predominantemente marrom-escuro das sombras reforça a sensação de melancolia.
  • 5. ZONA NEUTRA ZONA QUENTE ZONA FRIA Resumindo, classificaríamos a obra como expressional, formalmente diagonal, de forma aberta, pinturesca e cromaticamente quente, que, segundo Wolfllin, são características do barroco.
  • 6. REFERÊNCIAS: STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. 2 ed. Tradução Angela Lobo de Andrade. Rio de Janeiro. Ediouro, 1999. HOCKNEY, David. O conhecimento secreto – redescobrindo as técnicas perdidas dos grandes mestres. Revisão Fábio Gonçalves. São Paulo. Cosac & Naify Edições, 2001. COSTELLA, Antônio, Para apreciar a arte, Roteiro Didático. 1 Ed. São Paulo. SENAC SP, 1997. HTTP://www.tms.org/pubs/journals/jom/0706/byko-0706.html HTTP://www.nationalgallery.org.uk/cgi- bin/WebObjects.dll/CollectionPublisher.woa/wa/loadApplet?workNumber=NG725&collectionPublisherS ection=work