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O compromisso do design de Lina Bo Bardi com a tradição artesanal
                 Lina Bo Bardi’s design and its commitment to artisanship tradition

                                              MAASS, Marisa Cobbe
                                            M.Sc, Universidade de Brasília


Palavras-chave: estética, design, tradição artesanal

A proposta desta comunicação é situar o design brasileiro do século XX como objeto de conhecimento sensitivo, à luz
do artesanato utilitário, das artes plásticas e da arquitetura tomando como estudo de caso a obra de Lina Bo Bardi.
O objetivo é, a partir do confronto de objetos artesanais da sua coleção (Museu de Arte Popular da Bahia) com seus
projetos de objetos utilitários, verificar a repercussão das formas tradicionais nos mesmos. Neste percurso o objeto de
conhecimento estético será confrontado com suas origens históricas e seus objetivos práticos.

key words: esthetics, design, artisanship tradition

The proposal of this study is to situate the XX century Brazilian design as an object of sensitive knowledge, in the light
of useful artisanship, fine arts and architecture, based on Lina Bo Bardi’s work. The objective is to compare the artisan
artifacts of her collection (Museum of Popular Arts of Bahia) with the utilitarian objects created by her and verify the
repercussion of the traditional forms on her work. In this process the object of esthetic knowledge will be confronted
with its origins, as well as with the historic and practical knowledge.



As repercussões das formas tradicionais na produção de Lina Bo Bardi:
uma apreciação estética do objeto industrial brasileiro.

- Introdução

Face à tardia industrialização, o design no Brasil, divergindo do europeu e americano, se desenvolveu
desvinculado das técnicas artesanais por um lado, mas servindo-se delas por outro. A busca da consciência
histórica e artística deste processo motiva a presente pesquisa.

A indústria aqui não foi implantada como uma conseqüência natural da ampliação dos mercados e do
desenvolvimento cultural, social e econômico, como nos países desenvolvidos mas, importada diretamente
num movimento forçado1, em detrimento da formação da consciência do design como algo passível de
expressar o caráter brasileiro, no dizer de Dijon De Moraes, “o design brasileiro, assim como a tecnologia, se
conserva dependente, isto é, chega aos anos oitenta ainda não reconhecido como soberano” (DE MORAES,
2006, p.140)

O mesmo não se observa no objeto utilitário artesanal, onde o caráter brasileiro, está associado ao fazer
manual: em pedra, cerâmica, tecelagem, cestaria. Além desta referência, o design brasileiro é tributário das
articulações com as artes visuais em suas diversas modalidades, e em particular com a arquitetura.

- Objetivos da investigação

A proposta desta pesquisa é situar o design brasileiro do século XX como objeto de conhecimento sensível, à
luz do artesanato utilitário e das artes, pintura, escultura e arquitetura, e verificar as repercussões das formas
tradicionais na produção de Lina Bo Bardi.

Como ponto de partida a análise considerará os artifícios de conectividade que estruturam plasticamente o
objeto, em outros termos, o partido: modo livre e desinteressado como são reunidas as partes constituindo
um todo.
Pressupõe-se que este todo contém todos os dados necessários e suficientes para fundamentar o juízo que
arbitra sobre o belo. Sobre o processo de apreensão da obra de arte, Adorno nos explica:
“A construção, numa obra de arte, diz respeito à sua lógica interna, que não é a
                         dos conceitos [...] Ao contrário da construção conceitual, a estética diz respeito à
                         singularidade do artefato, de sua inteireza como algo único. A construção estética
                         é semelhante, em seu princípio, ao processo de síntese que leva ao conhecimento
                         conceitual. Entretanto, diferentemente deste último, aquela não tem como objetivo
                         algo externo à própria relação entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre o fruidor e a
                         obra [...] sua coerência, sua identidade, não deve ser buscada a partir de um ponto
                         externo à própria obra, pois ela surge a partir da própria experiência com a coisa.”
                         (ADORNO, 2003, p. 55)

Neste percurso o objeto de conhecimento estético (sensitivo) será confrontado com suas origens, e também
como objeto de conhecimento histórico e prático.

A pesquisa também visa a resgatar o esforço da intelectualidade brasileira no entendimento de suas raízes, e
como hipótese inicial, reconhecer no design brasileiro a mesma intenção de imprimir ao objeto
industrializado uma identidade.

Essa intenção será identificada a partir do confronto de objetos artesanais recolhidos na coleção de Lina Bo
Bardi com seus projetos de objetos utilitários objetivando nesta comparação verificar a repercussão das
formas tradicionais dos primeiros, nas formas propostas por ela.

Outro objetivo é repertoriar categorias capazes de auxiliar no entendimento da linguagem do objeto do
cotidiano no âmbito da estética, e assim instrumentar o ensino e crítica do design.

- Metodologia da Pesquisa

Referenciais primários

Das primeiras tentativas de compreender a identidade brasileira materializada na expressão artística, fizeram
parte os estudos de Mario de Andrade, que empreendeu viagens de estudos pelo norte do Brasil em 1927 e
pesquisou as manifestações artísticas expressas na música, dança, artes visuais e artesanato2. Estas pesquisas
sedimentaram as questões levantadas pelos modernistas de 1922, questões tratadas no livro Macunaíma de
sua autoria.

A cultura material não era o interesse principal de Mario de Andrade, tendo ele centrado sua atenção mais na
documentação da cultura imaterial.

                          “ Quanto à coleta de objetos, seria mais tardia e realizada com menor
                         empenho. Não se pode esquecer que os estudos disponíveis tratando de
                         folclore no Brasil, na época, eram obra de escritores que se interessavam
                         pelos costumes, lendas, poesias e cantos, raramente considerando a
                         cultura material. O artefato pouco entrava em consideração
                         (BATISTA, 2004, p. 26)

Outra iniciativa do gênero foi a feita pela arquiteta Lina Bo Bardi, que na década de cinqüenta e sessenta,
realizou viagens ao nordeste do Brasil com intenção de recolher e analisar objetos capazes de documentar as
referências consideradas autênticas da expressão da identidade brasileira. Diferente da pesquisa de Mario de
Andrade, seu interesse era marcadamente pelos objetos de uso cotidiano.

O conjunto de objetos reunido por ela foi exposto na década de sessenta, inaugurando o Museu de Artes e
Artesanato Populares da Bahia – Museu do Unhão, em Salvador, iniciativa coibida pelo regime militar.
Atualmente é acervo do Museu de Arte Popular da Bahia – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
Bahia, e está sendo preparado para a abertura do mesmo, depois de ter feito parte do Museu de Arte Moderna
da Bahia – MAM-BA. (BARDI, 1994, p.36).

                                                                                                                   2
Este acervo foi escolhido como a principal fonte de dados para as análises e leituras de objetos artesanais
neste trabalho.

Na década de setenta, o designer Aloísio Magalhães, foi outro a se ocupar do mesmo tema, tendo
documentado objetos utilitários e criado o CNRC – Centro Nacional de Referência Cultural, na Universidade
de Brasília, no intuito de valorizar e preservar a alma brasileira expressa na cultura material.
(MAGALHÃES, 1997)

Acrescenta-se a estas iniciativas, a contribuição seminal de Lucio Costa do qual lembramos o estudo sobre o
mobiliário luso-brasileiro. (COSTA, 1995)

O denominador comum destes protagonistas é o interesse pelos saberes populares bem como a vontade de
valorizar e preservar a intenção artística presente nas manifestações e materializações que se referem ao
cotidiano do brasileiro. Todos eles, além da contribuição teórica são artistas e enquanto tal, capazes de
apreciar e identificar a poesia presente no cotidiano, as qualidades artísticas presentes nesta produção, fato
que os legitima como curadores das coleções por eles reunidas. O compromisso de todos eles com as
questões de ensino e a formação artística os tornam referencias importantes para os objetivos desta pesquisa.
Lina Bo Bardi e Aloísio Magalhães, além do vínculo com as questões ligadas ao design, são fundadores de
escolas de design.3

O design pressupõe um diálogo entre a beleza e a adequação; a beleza expressa a porção livre do processo e
a adequação o comprometimento com os aspectos necessários e contingentes das condições que dão origem à
criação. A identidade e o caráter num objeto – a intenção – está estampada na beleza, apesar dos
compromissos com a adequação.

O ato de ajuizar o belo em um objeto utilitário está diretamente ligado à capacidade de reconhecer a parcela
de arte que este objeto carrega em si. “No juízo estético, a razão empresta sua autonomia ao mundo sensível
e é por isso que se pode afirmar que o belo é a liberdade no fenômeno. (SCHILLER, 1995, p. 17)

- Primeira etapa – análise formal das matrizes

A primeira parte da pesquisa consistirá na seleção e análise formal dos objetos do cotidiano presentes na
coleção de Lina Bo Bardi no Museu de Arte Popular da Bahia, nas figuras 1 e 2 exemplos de objetos deste
acervo, em fotografias da documentação feita pela arquiteta encontrada no Instituto Bardi em São Paulo.




   Fig.1 – Documentação Nordeste –                    Fig.2 - Documentação Nordeste –
   Instituto Bardi - Lamparina –                      Instituto Bardi - Balde de duas alças -
                                                      Feira de Santana,BA

                                                                                                               3
Os objetos selecionados como estudos de caso, serão apreciados e descritos, em uma primeira instância, pelo
partido plástico, que, no dizer de Lucio Costa consiste na: “escolha e fixação do sentido geral a prevalecer na
disposição dos pontos, das linhas, dos planos, dos volumes ou das cores” (COSTA, 1995). Escolha que, após
considerados os condicionantes práticos e históricos, define o momento onde o artista exerce sua
prerrogativa de escolha livre, escolha livre mas não arbitrária, pois o conjunto assim constituído se qualifica
como sistema, as partes interagem entre si e todas elas com o todo, nada sendo supérfluo ou dispensável. É
deste modo que o objeto se qualifica como forma significativa4: os significados podem ser decodificados
pela leitura sensível da forma.

Os fatores que permitem reunir as partes do sistema são os artifícios artísticos da composição, definida por
Lucio Costa como: “Conjunto de pontos, linhas, planos, volumes ou cores dispostos de acordo com certas
normas e visando a um determinado objetivo plástico”. É ainda Lucio Costa que repertoria os elementos de
conectividade5. Será também objeto de análise, a presença ou ausência de ornamento como fator de
expressividade.

Finalmente serão considerados os vínculos da forma com os aspectos funcionais e das técnicas de fabricação
como fatores de expressividade.

A leitura do objeto enquanto estrutura plástica fornecerá as relações que embasarão o juízo de gosto.
Esta leitura terá como objetivo final, subsumir da particularidade os aspectos que constituem “conteúdos”
universais.

- Segunda etapa – Verificação da repercussão da tradição

A segunda parte consistirá no confronto dos dados da primeira etapa com objetos projetados por Lina Bo
Bardi, visando identificar a homologia de caráter.

As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Design – aprovadas em 2004 pela resolução
no 5 do Conselho Nacional de Educação, no seu artigo 3º , indica como parte do perfil desejado do formando
a “capacitação para a apropriação do pensamento reflexivo e da sensibilidade artística, para que o designer
seja apto a produzir projetos que envolvam sistemas de informações visuais, artísticas, estéticas, culturais e
tecnológicas”.

A importância da pesquisa reside em atender aquelas diretrizes curriculares e nos subsídios ao
aperfeiçoamento dos cursos de design nos aspectos que tangem a linguagem, com a criação de disciplinas
que facultem a leitura, análise e crítica do design. O estímulo para o desenvolvimento da pesquisa advém da
consciência da importância de educar a sensibilidade artística no processo projetual em design.

Também destaca-se como oportuno o resgate dos acervos do Instituto Bardi e do Museu de Arte Popular da
Bahia, para a realização destas pesquisas, o que gera um movimento favorável no sentido da sua recuperação
e visibilidade.

- Referencial teórico – autores que fundamentarão a pesquisa

Os estudos de teóricos da arquitetura e artes visuais fundamentarão a pesquisa, e os conhecimentos
adquiridos serão rebatidos para o objeto específico. A literatura em teoria do design ainda é escassa dado que
a disciplina é nova. A primeira referência de escola de design é a Bauhaus de Weimar – 1919 (HESKETT,
1997. p. 103), e “o marco histórico do design no Brasil é sem dúvida a criação da Escola Superior de
Desenho Industrial (ESDI), no então Estado da Guanabara, em 1962.” (NIEMEYER,1998. p. 17) precedida
pelo curso de design do Instituto de Arte Contemporânea - IAC em São Paulo – 1951 e pela seqüência
Desenho Industrial da FAU-USP na década de 60.

A formação em design no Brasil está historicamente comprometida com a tradição empírica na ESDI por
influência da Bauhaus e da Escola de Ulm: a cultura do aprendizado calcado na experiência - aprender a

                                                                                                               4
fazer, fazendo. (NIEMEYER,1998. p.21) Isto se reflete na oferta de textos e teorias específicos da disciplina,
que são ainda raros no Brasil pela ainda pequena tradição de pesquisa associada à atividade no país.

Então, a literatura crítica existente sobre arquitetura e artes plásticas trará subsídios preciosos para a leitura
dos artefatos da produção industrial.

Num levantamento preliminar, as referências que poderão servir de balizamento para esta pesquisa podem
ser agrupadas por natureza do conhecimento:

    •    Estética e teoria da arte - Theodor Adorno, Walter Benjamin, Martin Heidegger, Immanuel Kant,
         Frederich Schiller, Wladislaw Tatatarkiewicz, W. Worringer,
    •    Teoria da arte e história da arquitetura no Brasil - Mário de Andrade, Mario Barata, Marta
         Rossetti Batista, Lucio Costa, Julio Katinsky, Carlos Lemos, Flávio Mota,Vicente Salles,
    •    Estética do projeto - Giulio Argan, Matheus Gorovitz, Alois Riegl, W. Wolfflin,
    •    História do design em geral - Bernard Bürdeck, John Heskett, Nikolaus Pevsner,
         e no Brasil - Lina Bo Bardi, Rafael Cardoso Denis, Dijon De Moraes, Maria Cecília Loschiavo,
         Lucy Niemeyer,
    •    Fontes primárias constituídas pelos acervos citados a saber, Museu de Arte Popular da Bahia -
         Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, Instituto Pietro Maria e Lina Bo Bardi,
         Instituto de Estudos Brasileiros - IEB – USP, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
         IPHAN, Centro Nacional de Referência Cultural - CNRC, Casa da Cultura da América Latina –
         CAL.



    Notas
1
  “Um processo que nas nações industrializadas demorou séculos para se processar, leva aqui poucos anos. A
industrialização abrupta não planificada, estruturalmente importada, leva o país à experiência de um incontrolável
acontecimento natural, e não de um processo criado pelos homens.” (BARDI, 1994, p. 11)
2 Acervo adquirido pela Universidade de São Paulo em 1968 e reunido no IEB –USP - Instituto de Estudos Brasileiros.
3
  Ver NIEMEYER, 1998, p. 63 e 89.
4
  Esclarecendo melhor, podemos distinguir as dimensões do objeto da seguinte maneira:
A forma significativa, estabelece uma linguagem, através do seu sistema plástico na relação sujeito-objeto; linguagem
esta que é a materialização ou exteriorização de uma consciência e que pode ser de ordem - coloquial, lógica, poética.
Os objetos têm várias dimensões. Suas dimensões prática (técnica e funcional) e histórica não são desprendidas, são
coagidas por fatores contingentes e necessários, enquanto que a dimensão estética é livre (objeto de escolha).
A relação estética acontece entre sujeito e objeto, e o objeto é passível de qualificação estética, (é belo) na medida em
que estabelece um sistema plástico coerente e inteligível, decodificável – uma linguagem, tornando-se assim um objeto
de conhecimento sensitivo.
Esta decodificação do objeto pode-se dar de várias maneiras, (em geral simultaneamente) com o indivíduo utilizando-se
de filtros diferentes, por exemplo:
I) um objeto de conhecimento prático, é apreendido como detentor de valor utilitário (é bom), ou seja, pelo seu
desempenho frente às contingências e necessidades com as quais se relaciona e para as quais foi concebido (fatores
externos ao objeto - juízo heterônomo).
II) um objeto de conhecimento lógico ou teórico, (é verdadeiro), vai ser apreendido como detentor de valor científico,
ou seja, pela sua validação empírica constatável universalmente pelas relações de causa e efeito - ou seja, necessárias
(fatores externos ao objeto - juízo heterônomo).
III) um objeto de conhecimento sensitivo (é belo), vai ser apreendido através do que é próprio do objeto em si
(imanente) – relacionado com sua lógica formal, interna ao objeto e não associada a nenhum fator externo a ele (juízo
autônomo).
A decodificação da linguagem poética possibilita a relação estética do sujeito com o mundo e com outros sujeitos.
(MAASS, 2005. p. 35)
5
 Cadência – espaçamentos iguais repetidos uniformemente;
Ritmo – espaçamentos ou alturas desiguais uniformemente repetidos ou alternados;
Relação – confronto entre duas partes;

                                                                                                                       5
Proporção – equivalência ou o equilíbrio de duas relações;
Comodulação – o conjunto das proporções das partes entre si e com relação ao todo;
Harmonia – a subordinação de todas as partes a uma determinada lei;
Dissonância – rompimento da harmonia;
Euritimia – comodulação harmônica integrada em ritmo perfeito;
Modenatura – modo particular como é tratada plasticamente cada uma das partes da composição;
Simetria / assimetria


- Bibliografia
  ADORNO, TH. W. Experiência e criação artística, Lisboa: Edições 70; 2003
  ANDRADE, M. Anteprojeto para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, Revista do
       Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, no 30, 2002.
  ANDRADE, M. Brazil Builds. “O Estado de S. Paulo” , São Paulo: Depoimentos 1 – Centro de Estudos
       Brasileiros – GFAU, 1943.
  BARDI, L.B. Tempos de grossura: O design no impasse. São Paulo: Inst. Lina Bo & P M Bardi, 1994.
  BATISTA, M.R.; LIMA, Y. S. Coleção Mario de Andrade: São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros,
       1984.
  COSTA, L. Lucio Costa - Registros de uma vivência , São Paulo, Empresa das Artes, 1995.
  DE MORAES, D. Análise do design brasileiro: entre mimese e mestiçagem, São Paulo: Edgard Blücher,
       2006
  HESKETT, J. Desenho Industrial, Rio de Janeiro: EdUnB, José Olympio, 1997
  MAASS, M.C. Da natureza e da natureza do ornamento: ensaio sobre a dimensão estética do objeto. 2005
       Dissertação (mestrado), Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
  MAGALHÃES, A. E Triunfo? A questão dos bens culturais no Brasil, Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
       Fundação Roberto Marinho, 1997
  NIEMEYER, L. Design no Brasil: origens e instalação, Rio de Janeiro: 2AB, 1998
  SCHILLER, F. A educação estética do homem, São Paulo: Editora Iluminura Ltda., 1995

  Marisa Cobbe Maass – mmaass@unb.br




                                                                                                     6

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O Compromisso do Design de Lina Bo Bardi com a Tradição Artesanal

  • 1. O compromisso do design de Lina Bo Bardi com a tradição artesanal Lina Bo Bardi’s design and its commitment to artisanship tradition MAASS, Marisa Cobbe M.Sc, Universidade de Brasília Palavras-chave: estética, design, tradição artesanal A proposta desta comunicação é situar o design brasileiro do século XX como objeto de conhecimento sensitivo, à luz do artesanato utilitário, das artes plásticas e da arquitetura tomando como estudo de caso a obra de Lina Bo Bardi. O objetivo é, a partir do confronto de objetos artesanais da sua coleção (Museu de Arte Popular da Bahia) com seus projetos de objetos utilitários, verificar a repercussão das formas tradicionais nos mesmos. Neste percurso o objeto de conhecimento estético será confrontado com suas origens históricas e seus objetivos práticos. key words: esthetics, design, artisanship tradition The proposal of this study is to situate the XX century Brazilian design as an object of sensitive knowledge, in the light of useful artisanship, fine arts and architecture, based on Lina Bo Bardi’s work. The objective is to compare the artisan artifacts of her collection (Museum of Popular Arts of Bahia) with the utilitarian objects created by her and verify the repercussion of the traditional forms on her work. In this process the object of esthetic knowledge will be confronted with its origins, as well as with the historic and practical knowledge. As repercussões das formas tradicionais na produção de Lina Bo Bardi: uma apreciação estética do objeto industrial brasileiro. - Introdução Face à tardia industrialização, o design no Brasil, divergindo do europeu e americano, se desenvolveu desvinculado das técnicas artesanais por um lado, mas servindo-se delas por outro. A busca da consciência histórica e artística deste processo motiva a presente pesquisa. A indústria aqui não foi implantada como uma conseqüência natural da ampliação dos mercados e do desenvolvimento cultural, social e econômico, como nos países desenvolvidos mas, importada diretamente num movimento forçado1, em detrimento da formação da consciência do design como algo passível de expressar o caráter brasileiro, no dizer de Dijon De Moraes, “o design brasileiro, assim como a tecnologia, se conserva dependente, isto é, chega aos anos oitenta ainda não reconhecido como soberano” (DE MORAES, 2006, p.140) O mesmo não se observa no objeto utilitário artesanal, onde o caráter brasileiro, está associado ao fazer manual: em pedra, cerâmica, tecelagem, cestaria. Além desta referência, o design brasileiro é tributário das articulações com as artes visuais em suas diversas modalidades, e em particular com a arquitetura. - Objetivos da investigação A proposta desta pesquisa é situar o design brasileiro do século XX como objeto de conhecimento sensível, à luz do artesanato utilitário e das artes, pintura, escultura e arquitetura, e verificar as repercussões das formas tradicionais na produção de Lina Bo Bardi. Como ponto de partida a análise considerará os artifícios de conectividade que estruturam plasticamente o objeto, em outros termos, o partido: modo livre e desinteressado como são reunidas as partes constituindo um todo. Pressupõe-se que este todo contém todos os dados necessários e suficientes para fundamentar o juízo que arbitra sobre o belo. Sobre o processo de apreensão da obra de arte, Adorno nos explica:
  • 2. “A construção, numa obra de arte, diz respeito à sua lógica interna, que não é a dos conceitos [...] Ao contrário da construção conceitual, a estética diz respeito à singularidade do artefato, de sua inteireza como algo único. A construção estética é semelhante, em seu princípio, ao processo de síntese que leva ao conhecimento conceitual. Entretanto, diferentemente deste último, aquela não tem como objetivo algo externo à própria relação entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre o fruidor e a obra [...] sua coerência, sua identidade, não deve ser buscada a partir de um ponto externo à própria obra, pois ela surge a partir da própria experiência com a coisa.” (ADORNO, 2003, p. 55) Neste percurso o objeto de conhecimento estético (sensitivo) será confrontado com suas origens, e também como objeto de conhecimento histórico e prático. A pesquisa também visa a resgatar o esforço da intelectualidade brasileira no entendimento de suas raízes, e como hipótese inicial, reconhecer no design brasileiro a mesma intenção de imprimir ao objeto industrializado uma identidade. Essa intenção será identificada a partir do confronto de objetos artesanais recolhidos na coleção de Lina Bo Bardi com seus projetos de objetos utilitários objetivando nesta comparação verificar a repercussão das formas tradicionais dos primeiros, nas formas propostas por ela. Outro objetivo é repertoriar categorias capazes de auxiliar no entendimento da linguagem do objeto do cotidiano no âmbito da estética, e assim instrumentar o ensino e crítica do design. - Metodologia da Pesquisa Referenciais primários Das primeiras tentativas de compreender a identidade brasileira materializada na expressão artística, fizeram parte os estudos de Mario de Andrade, que empreendeu viagens de estudos pelo norte do Brasil em 1927 e pesquisou as manifestações artísticas expressas na música, dança, artes visuais e artesanato2. Estas pesquisas sedimentaram as questões levantadas pelos modernistas de 1922, questões tratadas no livro Macunaíma de sua autoria. A cultura material não era o interesse principal de Mario de Andrade, tendo ele centrado sua atenção mais na documentação da cultura imaterial. “ Quanto à coleta de objetos, seria mais tardia e realizada com menor empenho. Não se pode esquecer que os estudos disponíveis tratando de folclore no Brasil, na época, eram obra de escritores que se interessavam pelos costumes, lendas, poesias e cantos, raramente considerando a cultura material. O artefato pouco entrava em consideração (BATISTA, 2004, p. 26) Outra iniciativa do gênero foi a feita pela arquiteta Lina Bo Bardi, que na década de cinqüenta e sessenta, realizou viagens ao nordeste do Brasil com intenção de recolher e analisar objetos capazes de documentar as referências consideradas autênticas da expressão da identidade brasileira. Diferente da pesquisa de Mario de Andrade, seu interesse era marcadamente pelos objetos de uso cotidiano. O conjunto de objetos reunido por ela foi exposto na década de sessenta, inaugurando o Museu de Artes e Artesanato Populares da Bahia – Museu do Unhão, em Salvador, iniciativa coibida pelo regime militar. Atualmente é acervo do Museu de Arte Popular da Bahia – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, e está sendo preparado para a abertura do mesmo, depois de ter feito parte do Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM-BA. (BARDI, 1994, p.36). 2
  • 3. Este acervo foi escolhido como a principal fonte de dados para as análises e leituras de objetos artesanais neste trabalho. Na década de setenta, o designer Aloísio Magalhães, foi outro a se ocupar do mesmo tema, tendo documentado objetos utilitários e criado o CNRC – Centro Nacional de Referência Cultural, na Universidade de Brasília, no intuito de valorizar e preservar a alma brasileira expressa na cultura material. (MAGALHÃES, 1997) Acrescenta-se a estas iniciativas, a contribuição seminal de Lucio Costa do qual lembramos o estudo sobre o mobiliário luso-brasileiro. (COSTA, 1995) O denominador comum destes protagonistas é o interesse pelos saberes populares bem como a vontade de valorizar e preservar a intenção artística presente nas manifestações e materializações que se referem ao cotidiano do brasileiro. Todos eles, além da contribuição teórica são artistas e enquanto tal, capazes de apreciar e identificar a poesia presente no cotidiano, as qualidades artísticas presentes nesta produção, fato que os legitima como curadores das coleções por eles reunidas. O compromisso de todos eles com as questões de ensino e a formação artística os tornam referencias importantes para os objetivos desta pesquisa. Lina Bo Bardi e Aloísio Magalhães, além do vínculo com as questões ligadas ao design, são fundadores de escolas de design.3 O design pressupõe um diálogo entre a beleza e a adequação; a beleza expressa a porção livre do processo e a adequação o comprometimento com os aspectos necessários e contingentes das condições que dão origem à criação. A identidade e o caráter num objeto – a intenção – está estampada na beleza, apesar dos compromissos com a adequação. O ato de ajuizar o belo em um objeto utilitário está diretamente ligado à capacidade de reconhecer a parcela de arte que este objeto carrega em si. “No juízo estético, a razão empresta sua autonomia ao mundo sensível e é por isso que se pode afirmar que o belo é a liberdade no fenômeno. (SCHILLER, 1995, p. 17) - Primeira etapa – análise formal das matrizes A primeira parte da pesquisa consistirá na seleção e análise formal dos objetos do cotidiano presentes na coleção de Lina Bo Bardi no Museu de Arte Popular da Bahia, nas figuras 1 e 2 exemplos de objetos deste acervo, em fotografias da documentação feita pela arquiteta encontrada no Instituto Bardi em São Paulo. Fig.1 – Documentação Nordeste – Fig.2 - Documentação Nordeste – Instituto Bardi - Lamparina – Instituto Bardi - Balde de duas alças - Feira de Santana,BA 3
  • 4. Os objetos selecionados como estudos de caso, serão apreciados e descritos, em uma primeira instância, pelo partido plástico, que, no dizer de Lucio Costa consiste na: “escolha e fixação do sentido geral a prevalecer na disposição dos pontos, das linhas, dos planos, dos volumes ou das cores” (COSTA, 1995). Escolha que, após considerados os condicionantes práticos e históricos, define o momento onde o artista exerce sua prerrogativa de escolha livre, escolha livre mas não arbitrária, pois o conjunto assim constituído se qualifica como sistema, as partes interagem entre si e todas elas com o todo, nada sendo supérfluo ou dispensável. É deste modo que o objeto se qualifica como forma significativa4: os significados podem ser decodificados pela leitura sensível da forma. Os fatores que permitem reunir as partes do sistema são os artifícios artísticos da composição, definida por Lucio Costa como: “Conjunto de pontos, linhas, planos, volumes ou cores dispostos de acordo com certas normas e visando a um determinado objetivo plástico”. É ainda Lucio Costa que repertoria os elementos de conectividade5. Será também objeto de análise, a presença ou ausência de ornamento como fator de expressividade. Finalmente serão considerados os vínculos da forma com os aspectos funcionais e das técnicas de fabricação como fatores de expressividade. A leitura do objeto enquanto estrutura plástica fornecerá as relações que embasarão o juízo de gosto. Esta leitura terá como objetivo final, subsumir da particularidade os aspectos que constituem “conteúdos” universais. - Segunda etapa – Verificação da repercussão da tradição A segunda parte consistirá no confronto dos dados da primeira etapa com objetos projetados por Lina Bo Bardi, visando identificar a homologia de caráter. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Design – aprovadas em 2004 pela resolução no 5 do Conselho Nacional de Educação, no seu artigo 3º , indica como parte do perfil desejado do formando a “capacitação para a apropriação do pensamento reflexivo e da sensibilidade artística, para que o designer seja apto a produzir projetos que envolvam sistemas de informações visuais, artísticas, estéticas, culturais e tecnológicas”. A importância da pesquisa reside em atender aquelas diretrizes curriculares e nos subsídios ao aperfeiçoamento dos cursos de design nos aspectos que tangem a linguagem, com a criação de disciplinas que facultem a leitura, análise e crítica do design. O estímulo para o desenvolvimento da pesquisa advém da consciência da importância de educar a sensibilidade artística no processo projetual em design. Também destaca-se como oportuno o resgate dos acervos do Instituto Bardi e do Museu de Arte Popular da Bahia, para a realização destas pesquisas, o que gera um movimento favorável no sentido da sua recuperação e visibilidade. - Referencial teórico – autores que fundamentarão a pesquisa Os estudos de teóricos da arquitetura e artes visuais fundamentarão a pesquisa, e os conhecimentos adquiridos serão rebatidos para o objeto específico. A literatura em teoria do design ainda é escassa dado que a disciplina é nova. A primeira referência de escola de design é a Bauhaus de Weimar – 1919 (HESKETT, 1997. p. 103), e “o marco histórico do design no Brasil é sem dúvida a criação da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no então Estado da Guanabara, em 1962.” (NIEMEYER,1998. p. 17) precedida pelo curso de design do Instituto de Arte Contemporânea - IAC em São Paulo – 1951 e pela seqüência Desenho Industrial da FAU-USP na década de 60. A formação em design no Brasil está historicamente comprometida com a tradição empírica na ESDI por influência da Bauhaus e da Escola de Ulm: a cultura do aprendizado calcado na experiência - aprender a 4
  • 5. fazer, fazendo. (NIEMEYER,1998. p.21) Isto se reflete na oferta de textos e teorias específicos da disciplina, que são ainda raros no Brasil pela ainda pequena tradição de pesquisa associada à atividade no país. Então, a literatura crítica existente sobre arquitetura e artes plásticas trará subsídios preciosos para a leitura dos artefatos da produção industrial. Num levantamento preliminar, as referências que poderão servir de balizamento para esta pesquisa podem ser agrupadas por natureza do conhecimento: • Estética e teoria da arte - Theodor Adorno, Walter Benjamin, Martin Heidegger, Immanuel Kant, Frederich Schiller, Wladislaw Tatatarkiewicz, W. Worringer, • Teoria da arte e história da arquitetura no Brasil - Mário de Andrade, Mario Barata, Marta Rossetti Batista, Lucio Costa, Julio Katinsky, Carlos Lemos, Flávio Mota,Vicente Salles, • Estética do projeto - Giulio Argan, Matheus Gorovitz, Alois Riegl, W. Wolfflin, • História do design em geral - Bernard Bürdeck, John Heskett, Nikolaus Pevsner, e no Brasil - Lina Bo Bardi, Rafael Cardoso Denis, Dijon De Moraes, Maria Cecília Loschiavo, Lucy Niemeyer, • Fontes primárias constituídas pelos acervos citados a saber, Museu de Arte Popular da Bahia - Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, Instituto Pietro Maria e Lina Bo Bardi, Instituto de Estudos Brasileiros - IEB – USP, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, Centro Nacional de Referência Cultural - CNRC, Casa da Cultura da América Latina – CAL. Notas 1 “Um processo que nas nações industrializadas demorou séculos para se processar, leva aqui poucos anos. A industrialização abrupta não planificada, estruturalmente importada, leva o país à experiência de um incontrolável acontecimento natural, e não de um processo criado pelos homens.” (BARDI, 1994, p. 11) 2 Acervo adquirido pela Universidade de São Paulo em 1968 e reunido no IEB –USP - Instituto de Estudos Brasileiros. 3 Ver NIEMEYER, 1998, p. 63 e 89. 4 Esclarecendo melhor, podemos distinguir as dimensões do objeto da seguinte maneira: A forma significativa, estabelece uma linguagem, através do seu sistema plástico na relação sujeito-objeto; linguagem esta que é a materialização ou exteriorização de uma consciência e que pode ser de ordem - coloquial, lógica, poética. Os objetos têm várias dimensões. Suas dimensões prática (técnica e funcional) e histórica não são desprendidas, são coagidas por fatores contingentes e necessários, enquanto que a dimensão estética é livre (objeto de escolha). A relação estética acontece entre sujeito e objeto, e o objeto é passível de qualificação estética, (é belo) na medida em que estabelece um sistema plástico coerente e inteligível, decodificável – uma linguagem, tornando-se assim um objeto de conhecimento sensitivo. Esta decodificação do objeto pode-se dar de várias maneiras, (em geral simultaneamente) com o indivíduo utilizando-se de filtros diferentes, por exemplo: I) um objeto de conhecimento prático, é apreendido como detentor de valor utilitário (é bom), ou seja, pelo seu desempenho frente às contingências e necessidades com as quais se relaciona e para as quais foi concebido (fatores externos ao objeto - juízo heterônomo). II) um objeto de conhecimento lógico ou teórico, (é verdadeiro), vai ser apreendido como detentor de valor científico, ou seja, pela sua validação empírica constatável universalmente pelas relações de causa e efeito - ou seja, necessárias (fatores externos ao objeto - juízo heterônomo). III) um objeto de conhecimento sensitivo (é belo), vai ser apreendido através do que é próprio do objeto em si (imanente) – relacionado com sua lógica formal, interna ao objeto e não associada a nenhum fator externo a ele (juízo autônomo). A decodificação da linguagem poética possibilita a relação estética do sujeito com o mundo e com outros sujeitos. (MAASS, 2005. p. 35) 5 Cadência – espaçamentos iguais repetidos uniformemente; Ritmo – espaçamentos ou alturas desiguais uniformemente repetidos ou alternados; Relação – confronto entre duas partes; 5
  • 6. Proporção – equivalência ou o equilíbrio de duas relações; Comodulação – o conjunto das proporções das partes entre si e com relação ao todo; Harmonia – a subordinação de todas as partes a uma determinada lei; Dissonância – rompimento da harmonia; Euritimia – comodulação harmônica integrada em ritmo perfeito; Modenatura – modo particular como é tratada plasticamente cada uma das partes da composição; Simetria / assimetria - Bibliografia ADORNO, TH. W. Experiência e criação artística, Lisboa: Edições 70; 2003 ANDRADE, M. Anteprojeto para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, no 30, 2002. ANDRADE, M. Brazil Builds. “O Estado de S. Paulo” , São Paulo: Depoimentos 1 – Centro de Estudos Brasileiros – GFAU, 1943. BARDI, L.B. Tempos de grossura: O design no impasse. São Paulo: Inst. Lina Bo & P M Bardi, 1994. BATISTA, M.R.; LIMA, Y. S. Coleção Mario de Andrade: São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, 1984. COSTA, L. Lucio Costa - Registros de uma vivência , São Paulo, Empresa das Artes, 1995. DE MORAES, D. Análise do design brasileiro: entre mimese e mestiçagem, São Paulo: Edgard Blücher, 2006 HESKETT, J. Desenho Industrial, Rio de Janeiro: EdUnB, José Olympio, 1997 MAASS, M.C. Da natureza e da natureza do ornamento: ensaio sobre a dimensão estética do objeto. 2005 Dissertação (mestrado), Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo MAGALHÃES, A. E Triunfo? A questão dos bens culturais no Brasil, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, Fundação Roberto Marinho, 1997 NIEMEYER, L. Design no Brasil: origens e instalação, Rio de Janeiro: 2AB, 1998 SCHILLER, F. A educação estética do homem, São Paulo: Editora Iluminura Ltda., 1995 Marisa Cobbe Maass – mmaass@unb.br 6