SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 10
Baixar para ler offline
Acadêmica: Cláudia Alessi
Perfil: Francisco Michielin
                                   O Chico é assim


Médico cardiologista e escritor apaixonado por futebol, Francisco Michielin, 67 anos,
     teve passagem marcante no jornalismo e na vida acadêmica, como professor
   universitário. Torcedor fiel do Esporte Clube Juventude, Chico, como prefere ser
 chamado, é casado, tem três filhos e dois netos. Apaixonado por literatura de ficção e
                 não ficção, escreveu 12 livros, nove deles publicados


       O ônibus partia às cinco da manhã da estação rodoviária de Caxias do Sul com

destino à Rondinha, pequena praia localizada próximo a Paraíso, no litoral norte do Rio

Grande do Sul. A viagem acontecia pela região costeira, sobre a areia. Depois de

inúmeras horas, esteiras de madeira precisaram ser utilizadas para que o ônibus saísse

do atoleiro. Com um livro na mão, um menino de sete anos observava os „marmanjos‟

trabalharem pesado para dar continuidade ao passeio.

       O destino reservava um hotel de madeira quente e abafado que seria o abrigo

daquele garoto que não desgrudava do “Ruth e Alberto resolveram ser turistas”, de

Cecília Meireles. O livro, por coincidência, contava a história de dois jovens que

também conheciam o mar pela primeira vez. Mais atenção lhe chamou a leitura do que o

oceano em si. O pequeno Chico foi ao mar duas ou três vezes durante suas férias que

duraram uma semana, tempo suficiente para ler e reler o romance cerca de dez vezes.

       Óculos pequeno e de armação arredonda, cabelos grisalhos, olhos azuis, a

barriga saliente escondendo-se por debaixo da malha e um sorriso no rosto. Apaixonado

pela literatura desde a infância, Chico, o Francisco Michielin, 67 anos, ainda se lembra

das páginas do livro que o acompanhara nas cerca de 14 horas de viagem em sua

primeira visita ao mar.
Nascido no dia 17 de julho de 1943, em Caxias do Sul, Chico conta sua história

de vida junto a acontecimentos importantes que marcaram o passado da cidade. No

sábado em que nasceu estreava no Cinema Guarany, em Caxias, Cidadão Kane,

considerado por ele o „filme do século‟. “Briguei com as enfermeiras que não me

liberaram para assisti-lo”, brinca. Outro acontecimento, porém, obrigaria Chico a

„abandonar‟ o hospital antes do tempo previsto de uma semana. Dois dias depois de seu

nascimento a empresa Gazola, que trabalhava com armação de reforço de guerra,

explodiu, matando algumas pessoas e deixando várias feridas. Ainda bebê, ele cedeu a

cama do hospital aos machucados.

Uma rua dentro de casa

       O pequeno Chico saiu do hospital direto para a casa onde ele costumava dizer

que nada lhe faltava. Ali ele cresceria em meio à vizinhança que até hoje se reúne para

lembrar a época. Estavam presentes seus pais e o casarão de madeira cor de marmelo

que abrigava os menores abandonados. “Os internos faziam um presépio fantástico todo

Natal, era uma obra que encantava”, lembra. Tinha também o cabaré da Tia Jovina,

velha senhora com aspectos de vovó que se debruçava na janela durante o dia para

brincar com os garotos.

       Aquele lugar despertaria em Chico uma paixão que viria antes mesmo da

literatura. O menino que morava próximo ao campo do Juventude tinha afeição pelo

clube e pelo futebol. Uma das atividades preferidas do garoto era atravessar o Rio Tega

equilibrando-se em cima das estacas de madeira que davam passagem de um lado a

outro. À tarde, ele e um grupo de amigos, seus vizinhos, costumavam reunir-se e fazer

da Rua Bento Gonçalves seu próprio estádio, gastando horas a praticar o esporte.

       Chico lembra que havia senhoras que não gostavam da brincadeira dos moleques

e escolhiam o horário dos jogos para ir à padaria comprar o pão do café da tarde. Dona
Celina era uma das que saiam à rua só para interromper a partida. “Quando elas

passavam, nós parávamos por respeito. Quando eram carros, nos achávamos no direito

de reclamar”, conta.

       Os garotos resolveram „fundar‟, em 1950, um time para jogar juntos, o Esporte

Clube Estrela. Como o grupo reunia, em sua essência, torcedores do Juventude, eles

fizeram um pacto de que a data de fundação seria a mesma do clube do coração, o dia

29 de junho. Embora tudo aquilo fosse fictício, o amor que sentiam pelo Ju os fez levar

a „mentira‟ adiante.

       Não bastasse o time com „fundação falsa‟, eles pensaram que o time precisava

de um jornal que divulgasse o que acontecia no mundo do Estrela. Como um único

garoto do grupo sabia utilizar a máquina de escrever, a ele delegaram a função de

transcrever as matérias. O jornal era produzido pelos amigos e distribuído na

comunidade, iniciativa que despertou o gosto de Chico pelas letras.

Assim no esporte como no jornalismo
       A „brincadeira‟ de apurar informação e redigir matérias ganhou maior destaque

quando Chico começou a participar do jornal bimestral do Colégio Nossa Senhora do

Carmo. Aos 14 anos, depois de colaborar por um tempo com as publicações, o jovem

passou a ser editor do jornal da escola. Paralelo a esta atuação, ele recebeu um convite

para trabalhar num dos maiores jornais da cidade, o Pioneiro.

       No dia da entrevista, o chefe da redação de esportes, Artur Corrêa, que também

era linotipista e atendia pelo apelido de „Pioneiro‟, perguntou sobre o que Chico queria

escrever. “Futebol, respondi eu. Ele foi seco e direto: Todo mundo quer escrever sobre

futebol”, lembra. A saída encontrada foi cobrir um torneio de bochas que ocorreu

concomitante à Festa da Uva. O trabalho de Chico foi acompanhar os jogos e apresentar

os resultados no final, nada que o tenha cativado muito.
O crescimento dentro do jornal não demorou muito para aparecer. Depois de

um mês, o garoto ganhou a coluna „Apreciando e Comentando‟, que em pouco tempo se

tornaria „Ouvindo e Anotando‟. O trabalho durou de 1958 a 1961, tendo como resultado

mais de 100 crônicas, atuação em diferentes áreas e sua „conhecida‟ assinatura, que na

época levava somente as iniciais FM.

       Ainda com 15 anos, Chico foi convidado por Dante Andreis, da rádio Caxias,

para ser redator do programa de esportes. Ao assumir o emprego, uma vaga de locutor

apareceu e, quando se deu conta, estava escalado para atuar na jornada de esporte.

“Com minha voz rouca ia para o campo, me posicionava atrás das goleiras e dali fazia

minha função de rádio repórter”, lembra. Chico permaneceu na rádio por dois anos,

trabalhando também como comentarista esportivo quando os titulares não podiam.

       Mesmo jovem, ele era responsável e desenvolvia um trabalho sério e de

qualidade. A recompensa viria com sua indicação para ser correspondente de esporte em

Caxias, em 1959, para Cid Pinheiro Cabral, da Caldas Júnior, empresa semelhante ao

Grupo RBS. “Cabral era o „papa‟ do jornalismo esportivo, era o dono das páginas da

Folha de Esporte”, comenta Chico.

       Era uma manhã fria quando ele desembarcou em Porto Alegre para se apresentar

no jornal. Tudo o que lhe pediram era que sentasse na máquina e escrevesse a situação

atual dos times caxienses. Ele entregou o texto e ao chegar na rodoviária decidiu

comprar uma Folha da Tarde, jornal que saía sempre logo depois do almoço. “Fiquei

surpreso quando vi que eles tinham publicado o texto que acabara de escrever”, revela.

       Em 1960, o correspondente do Correio do Povo, que na época também pertencia

ao Caldas Júnior, abriu mão do serviço. Manuel Amorim de Albuquerque,

representando o Correio, chamou Francisco Michielin, então, para que assumisse a nova
vaga. Chico passou a enviar conteúdo para os dois veículos, além de assumir a função

de correspondente da Rádio Guaíba, emprego que manteria até metade de 1961.

        Ainda em 1960 um fato importante marcaria a história do Clube Flamengo, atual

Ser Caxias. Embora torcedor fanático do Juventude, Chico procurava manter a

neutralidade quando estava trabalhando. Naquele ano, o Caxias disputaria a vaga que

levaria um clube da segunda divisão do Campeonato Gaúcho para a primeira série com

o Guarani de Bagé. Com o jogo empatado, o Caxias garantiu a primeira colocação.

Porém, no final do jogo os torcedores do Flamengo atiraram um foguete que atingiu o

goleiro adversário, Gainete, que sofreu traumatismo craniano.

        Enquanto a mídia noticiava somente o incidente ocorrido e o risco do clube

perder os pontos que obtivera na partida, Lautério Peccini, presidente do Flamengo,

convidou Chico para uma conversa em seu hotel. O garoto se encontrou com a diretoria

do clube à meia-noite e permaneceu lá até às três da manhã, de onde o texto foi

encaminhado direto para a capital. “A matéria saiu fresquinha naquele mesmo dia,

exatamente como a enviei. Na foto, eu e a diretoria do clube discutindo o outro lado da

notícia”, relata.

        O acúmulo de empregos, porém, não duraria muito tempo. Chico estava prestes

a terminar o ensino médio e tinha o sonho de cursar medicina. Sem opções em Caxias

do Sul, ele precisava se preparar para o vestibular e a nova vida na capital gaúcha. “Fui

largando os empregos aos poucos e no fim fiquei só com a Folha da Tarde Esportiva, já

que ela era mais específica”, sustenta.

Um brinde à medicina

        Entre o jornalismo e a medicina, Chico optou por seguir carreira na profissão

que fazia seu coração bater mais forte desde os nove anos de idade. O tio Darwin

Gazzana, que fora criado pelos pais de Chico, era médico pediatra. No dia de sua
formatura ele convidara dona Diva, a mãe de Chico, já viúva, e ele para participarem.

De manhã, antes que as cerimônias tivessem início, o tio precisou passar no Hospital

Santa Casa e levou o menino consigo. “Aquele cheiro de remédio e doença me invadiu e

me fez tão bem que a partir daquele momento eu disse que queria ser médico”, conta.

       O emprego na Folha da Tarde foi largado no primeiro ano do curso na Fundação

Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, pois as matérias e as

disciplinas juntas começaram a pesar muito. “Gostava dos dois, mas pensei em escolher

um e fazer bem feito. Naquele momento a medicina era prioridade”, afirma. Ele, porém,

não abandonou o apego e a paixão pelas letras, participando e vencendo alguns

concursos literários abertos a todos os acadêmicos.

       Em 1970, já com residência em cardiologia, Chico voltou para Caxias do Sul.

Dois anos depois casou-se com a rainha da Festa da Uva de 1969, Elizabeth Maria

Menetrier, a Beti, com quem teve três filhos, Francisco Filho, 39, e João Henrique, 37,

hoje cardiologistas, e Letícia, 31, que atualmente vive em Buenos Aires e trabalha com

jornalismo e publicidade e propaganda.

       Como ainda não existia uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) na cidade e

sua especialização restringia seu trabalho, Chico fundou a primeira urgência médica do

município no Hospital Saúde, em 1973. Em 1975 fundou a PROCOR (Pronto Socorro

Clínico Cardiológico), o primeiro serviço de cardiologia oferecido fora de um

consultório e que até hoje funciona no Hospital Dr. Del Mese, onde os dois filhos

cardiologistas trabalham.

       Uma bolsa de estudos em Milão, na Itália, fez com que Chico deixasse a cidade

novamente, agora por seis meses, para aprimorar seu conhecimento no Centro de

Cardiologia de Bombardier, no Hospital Maggiore. Ao retornar, ele continuou atuando

na área da medicina cardiológica, mas não se envolveu mais com implantação de novos
serviços, pois esse já não era mais o seu objetivo. Além dos consultórios, as salas de

aula da Universidade de Caxias do Sul (UCS) também abrigariam Chico, que atuou

como professor durante 39 anos, encerrando suas atividades na instituição há dois.

          Da paixão que o une à medicina e também ao jornalismo brotam algumas de

suas aventuras. “Existem duas coisas que não posso deixar de visitar quando viajo:

hospitais e jornais”, revela. Chico foi para a Suíça em 2003 e, enquanto a mulher o

aguardava do lado de fora, entrou em um hospital de mansinho. Ao perceber que não

tinha sido notado pela recepção, seguiu as placas de indicação até o andar da

cardiologia. Bateu na porta de uma sala onde se encontravam médicos e algumas

enfermeiras. “Elas faziam sinal indicando que não podia entrar e eu insistia do lado de

fora”, conta. Quando conseguiu entrar, explicou que era cardiologista e passou a

conversar com os profissionais. “Saí de lá com um vasto material de literatura médica”,

revela.

Uma vez para sempre

          Chico continua exercendo sua profissão de cardiologista, embora o amor pela

literatura e o futebol ainda permaneçam. Prova dessa paixão verídica é a „segunda‟

profissão do médico atualmente: escritor. Depois de ter passagem como cronista no

Pioneiro, Chico partiu para a literatura de ficção e não ficção, escrevendo 12 livros até

hoje, nove deles publicados.

          Duas de suas obras foram dedicadas à turma de medicina que se formou com

Chico em 1969. Um deles contou a história de sua própria infância. Alguns reuniram

conhecimento científico sobre medicina e cardiologia. Entretanto, o que o escritor mais

gosta é de falar sobre futebol e é a ele que os últimos títulos fazem referência. “Sou

apaixonado pela escrita e por futebol. Resolvi unir as duas paixões em uma única

atividade”, diz.
O maior problema que Chico enfrenta como escritor é negociar com as editoras.

“Tenho três livros „engavetados‟ aguardando publicação. É difícil lidar com o sistema

das editoras”, afirma. O médico garante que a atividade é um „hobby‟ para ele e afirma

a dificuldade de se manter financeiramente com a profissão. “Temos a cultura, em

Caxias de pagar caro para „comer bem‟ e exibir „camionetões‟. Livros, ninguém

compra”, desabafa.

       O amante das letras guarda um acervo incrível em sua biblioteca pessoal,

reunindo aproximadamente 5 mil livros e cerca de 500 diferentes exemplares de revistas

ilustradas. “Me considero um rato de livraria, feira do livro e sebo”, brinca. A coleção

de revistas reúne as melhores de esporte ilustradas do Brasil e do mundo. Prova disso é

a assinatura que Chico mantém há 76 anos da semanal italiana, agora mensal, Guerin

Sportivo.

       O Juventude é outra paixão que persiste na vida de Francisco. Com os olhos

brilhando, o avô da Valentina, 4 anos, e o Tiago, 8 meses, conta como foi a primeira ida

do neto ao Alfredo Jaconi. “Eu estava atrás das goleiras, meu lugar preferido, quando

meu filho Francisco chegou com a Valentina e o Tiago”, diz. A aventura do pequenino

durou pouco. Depois de 20 minutos o pai precisou abandonar o estádio. “Valeu a pena”.

As aventuras de Mr. Chico (Box 1)

       Ao voltar de uma viagem com sua esposa Bete, Chico degustou a cidade até o

fim e atrasou-se para embarcar no avião, precisando correr para não perder o voo. Ao

sentar-se e acomodar-se, ele pediu a aeromoça uma cerveja. Bete sentava na ponta, ele

no meio e na poltrona da janela estava um espanhol. Com muita sede, ele apressou-se a

abrir a lata de cerveja, ficando com o anel na mão e um pequeno furo na embalagem. A

ajuda que a esposa ofereceu foi recusada e Chico começou a apertar a latinha para o

líquido encher o copo. Vendo que o trabalho não progredia, resolveu erguer a cabeça e
verificar o que estava errado. “Quando me dei conta, o espanhol do meu lado estava

„lavado‟ de cerveja. Naquela hora, língua nenhuma me vinha à mente. Peguei um

guardanapo e passei a limpá-lo”, conta. Depois que o voo decolou, o homem ao seu

lado levantou-se e procurou outro lugar para se sentar. “Resultado: eu e a Bete ficamos

com mais espaço livre”, brinca. Outra grande confusão aconteceu no final de uma

partida de futebol em que o Juventude perdeu o jogo para o Internacional com um gol

de pênalti „arranjado‟ pelo juiz. Chico e mais alguns torcedores esperaram na porta do

estádio a saída dos árbitros. Em meio ao tumulto, ele foi agredido com um cassetete por

um dos seguranças. Já em casa, ao vestir seu pijama, a esposa notou o hematoma preto

em sua barriga. “Bati na torneira do banheiro enquanto tomava banho, menti a ela”,

confessa. No dia seguinte, seus amigos encontraram Beti e perguntaram se a agressão

que Chico havia sofrido tinha lhe ferido muito. “Eu nasci para ser Mr. Bean”, finaliza,

rindo.

Livros publicados (Box 2)

         Um misto de ficção e não ficção resumem a obra de Francisco Michielin. Seus

livros retomam a história do personagem que ainda menino foi jornalista e amante da

bola e do Juventude. Médico cardiologista, professor universitário e „dono‟ das letras,

Chico deixa um pedaço de si, de Caxias, da medicina e do futebol em suas obras.

Confira abaixo os nove livros já publicados pelo escritor:

- 1988: Nós éramos assim
- 1991: Uma rua dentro de casa
- 1994: Assim na terra como no céu
- 1997: Depois da última lua
- 2003: Doenças do coração
- 2007: Um brinde à saúde
- 2008: Para voar, voamos
- 2008: A primeira vez do Brasil
- 2009: Uma vez para sempre

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Perfil Francisco Michielin

Jb news informativo nr. 2217
Jb news   informativo nr. 2217Jb news   informativo nr. 2217
Jb news informativo nr. 2217JB News
 
Jb news informativo nr. 2217
Jb news   informativo nr. 2217Jb news   informativo nr. 2217
Jb news informativo nr. 2217JB News
 
Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.
Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.
Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.UniversoFrusciante
 
a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?
a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?
a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?Dragão Frusciante
 
Semana de leitura 9º ano
Semana de leitura 9º anoSemana de leitura 9º ano
Semana de leitura 9º anojunior santiago
 
JK (Juscelino Kubitscheck)
JK (Juscelino Kubitscheck)JK (Juscelino Kubitscheck)
JK (Juscelino Kubitscheck)Jane Reis
 
Guimaraes.rosa.primeiras.estorias
Guimaraes.rosa.primeiras.estoriasGuimaraes.rosa.primeiras.estorias
Guimaraes.rosa.primeiras.estoriasAriane Mafra
 
Jb news informativo nr. 1129
Jb news   informativo nr. 1129Jb news   informativo nr. 1129
Jb news informativo nr. 1129JBNews
 
Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018
Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018
Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018LOURIVAL AUGUSTO
 
Tabloide Itaúna nº1
Tabloide Itaúna nº1Tabloide Itaúna nº1
Tabloide Itaúna nº1Charles
 

Semelhante a Perfil Francisco Michielin (15)

Jb news informativo nr. 2217
Jb news   informativo nr. 2217Jb news   informativo nr. 2217
Jb news informativo nr. 2217
 
Jb news informativo nr. 2217
Jb news   informativo nr. 2217Jb news   informativo nr. 2217
Jb news informativo nr. 2217
 
Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.
Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.
Soul to squeeze, uma biografia não oficial de anthony kiedis.
 
a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?
a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?
a Soul to Squeeze - Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?
 
José Lins do Rego
José Lins do RegoJosé Lins do Rego
José Lins do Rego
 
José Lins do Rego
José Lins do RegoJosé Lins do Rego
José Lins do Rego
 
Semana de leitura 9º ano
Semana de leitura 9º anoSemana de leitura 9º ano
Semana de leitura 9º ano
 
JK (Juscelino Kubitscheck)
JK (Juscelino Kubitscheck)JK (Juscelino Kubitscheck)
JK (Juscelino Kubitscheck)
 
Guimaraes.rosa.primeiras.estorias
Guimaraes.rosa.primeiras.estoriasGuimaraes.rosa.primeiras.estorias
Guimaraes.rosa.primeiras.estorias
 
Rachel de queiroz
Rachel de queirozRachel de queiroz
Rachel de queiroz
 
( Espiritismo) # - biografias # bezerra de menezes
( Espiritismo)   # - biografias # bezerra de menezes( Espiritismo)   # - biografias # bezerra de menezes
( Espiritismo) # - biografias # bezerra de menezes
 
Zai Gezunt 09
Zai Gezunt 09Zai Gezunt 09
Zai Gezunt 09
 
Jb news informativo nr. 1129
Jb news   informativo nr. 1129Jb news   informativo nr. 1129
Jb news informativo nr. 1129
 
Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018
Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018
Vida e obra de bezerra de menezes palestra lourival 18 08-2018
 
Tabloide Itaúna nº1
Tabloide Itaúna nº1Tabloide Itaúna nº1
Tabloide Itaúna nº1
 

Perfil Francisco Michielin

  • 1. Acadêmica: Cláudia Alessi Perfil: Francisco Michielin O Chico é assim Médico cardiologista e escritor apaixonado por futebol, Francisco Michielin, 67 anos, teve passagem marcante no jornalismo e na vida acadêmica, como professor universitário. Torcedor fiel do Esporte Clube Juventude, Chico, como prefere ser chamado, é casado, tem três filhos e dois netos. Apaixonado por literatura de ficção e não ficção, escreveu 12 livros, nove deles publicados O ônibus partia às cinco da manhã da estação rodoviária de Caxias do Sul com destino à Rondinha, pequena praia localizada próximo a Paraíso, no litoral norte do Rio Grande do Sul. A viagem acontecia pela região costeira, sobre a areia. Depois de inúmeras horas, esteiras de madeira precisaram ser utilizadas para que o ônibus saísse do atoleiro. Com um livro na mão, um menino de sete anos observava os „marmanjos‟ trabalharem pesado para dar continuidade ao passeio. O destino reservava um hotel de madeira quente e abafado que seria o abrigo daquele garoto que não desgrudava do “Ruth e Alberto resolveram ser turistas”, de Cecília Meireles. O livro, por coincidência, contava a história de dois jovens que também conheciam o mar pela primeira vez. Mais atenção lhe chamou a leitura do que o oceano em si. O pequeno Chico foi ao mar duas ou três vezes durante suas férias que duraram uma semana, tempo suficiente para ler e reler o romance cerca de dez vezes. Óculos pequeno e de armação arredonda, cabelos grisalhos, olhos azuis, a barriga saliente escondendo-se por debaixo da malha e um sorriso no rosto. Apaixonado pela literatura desde a infância, Chico, o Francisco Michielin, 67 anos, ainda se lembra das páginas do livro que o acompanhara nas cerca de 14 horas de viagem em sua primeira visita ao mar.
  • 2. Nascido no dia 17 de julho de 1943, em Caxias do Sul, Chico conta sua história de vida junto a acontecimentos importantes que marcaram o passado da cidade. No sábado em que nasceu estreava no Cinema Guarany, em Caxias, Cidadão Kane, considerado por ele o „filme do século‟. “Briguei com as enfermeiras que não me liberaram para assisti-lo”, brinca. Outro acontecimento, porém, obrigaria Chico a „abandonar‟ o hospital antes do tempo previsto de uma semana. Dois dias depois de seu nascimento a empresa Gazola, que trabalhava com armação de reforço de guerra, explodiu, matando algumas pessoas e deixando várias feridas. Ainda bebê, ele cedeu a cama do hospital aos machucados. Uma rua dentro de casa O pequeno Chico saiu do hospital direto para a casa onde ele costumava dizer que nada lhe faltava. Ali ele cresceria em meio à vizinhança que até hoje se reúne para lembrar a época. Estavam presentes seus pais e o casarão de madeira cor de marmelo que abrigava os menores abandonados. “Os internos faziam um presépio fantástico todo Natal, era uma obra que encantava”, lembra. Tinha também o cabaré da Tia Jovina, velha senhora com aspectos de vovó que se debruçava na janela durante o dia para brincar com os garotos. Aquele lugar despertaria em Chico uma paixão que viria antes mesmo da literatura. O menino que morava próximo ao campo do Juventude tinha afeição pelo clube e pelo futebol. Uma das atividades preferidas do garoto era atravessar o Rio Tega equilibrando-se em cima das estacas de madeira que davam passagem de um lado a outro. À tarde, ele e um grupo de amigos, seus vizinhos, costumavam reunir-se e fazer da Rua Bento Gonçalves seu próprio estádio, gastando horas a praticar o esporte. Chico lembra que havia senhoras que não gostavam da brincadeira dos moleques e escolhiam o horário dos jogos para ir à padaria comprar o pão do café da tarde. Dona
  • 3. Celina era uma das que saiam à rua só para interromper a partida. “Quando elas passavam, nós parávamos por respeito. Quando eram carros, nos achávamos no direito de reclamar”, conta. Os garotos resolveram „fundar‟, em 1950, um time para jogar juntos, o Esporte Clube Estrela. Como o grupo reunia, em sua essência, torcedores do Juventude, eles fizeram um pacto de que a data de fundação seria a mesma do clube do coração, o dia 29 de junho. Embora tudo aquilo fosse fictício, o amor que sentiam pelo Ju os fez levar a „mentira‟ adiante. Não bastasse o time com „fundação falsa‟, eles pensaram que o time precisava de um jornal que divulgasse o que acontecia no mundo do Estrela. Como um único garoto do grupo sabia utilizar a máquina de escrever, a ele delegaram a função de transcrever as matérias. O jornal era produzido pelos amigos e distribuído na comunidade, iniciativa que despertou o gosto de Chico pelas letras. Assim no esporte como no jornalismo A „brincadeira‟ de apurar informação e redigir matérias ganhou maior destaque quando Chico começou a participar do jornal bimestral do Colégio Nossa Senhora do Carmo. Aos 14 anos, depois de colaborar por um tempo com as publicações, o jovem passou a ser editor do jornal da escola. Paralelo a esta atuação, ele recebeu um convite para trabalhar num dos maiores jornais da cidade, o Pioneiro. No dia da entrevista, o chefe da redação de esportes, Artur Corrêa, que também era linotipista e atendia pelo apelido de „Pioneiro‟, perguntou sobre o que Chico queria escrever. “Futebol, respondi eu. Ele foi seco e direto: Todo mundo quer escrever sobre futebol”, lembra. A saída encontrada foi cobrir um torneio de bochas que ocorreu concomitante à Festa da Uva. O trabalho de Chico foi acompanhar os jogos e apresentar os resultados no final, nada que o tenha cativado muito.
  • 4. O crescimento dentro do jornal não demorou muito para aparecer. Depois de um mês, o garoto ganhou a coluna „Apreciando e Comentando‟, que em pouco tempo se tornaria „Ouvindo e Anotando‟. O trabalho durou de 1958 a 1961, tendo como resultado mais de 100 crônicas, atuação em diferentes áreas e sua „conhecida‟ assinatura, que na época levava somente as iniciais FM. Ainda com 15 anos, Chico foi convidado por Dante Andreis, da rádio Caxias, para ser redator do programa de esportes. Ao assumir o emprego, uma vaga de locutor apareceu e, quando se deu conta, estava escalado para atuar na jornada de esporte. “Com minha voz rouca ia para o campo, me posicionava atrás das goleiras e dali fazia minha função de rádio repórter”, lembra. Chico permaneceu na rádio por dois anos, trabalhando também como comentarista esportivo quando os titulares não podiam. Mesmo jovem, ele era responsável e desenvolvia um trabalho sério e de qualidade. A recompensa viria com sua indicação para ser correspondente de esporte em Caxias, em 1959, para Cid Pinheiro Cabral, da Caldas Júnior, empresa semelhante ao Grupo RBS. “Cabral era o „papa‟ do jornalismo esportivo, era o dono das páginas da Folha de Esporte”, comenta Chico. Era uma manhã fria quando ele desembarcou em Porto Alegre para se apresentar no jornal. Tudo o que lhe pediram era que sentasse na máquina e escrevesse a situação atual dos times caxienses. Ele entregou o texto e ao chegar na rodoviária decidiu comprar uma Folha da Tarde, jornal que saía sempre logo depois do almoço. “Fiquei surpreso quando vi que eles tinham publicado o texto que acabara de escrever”, revela. Em 1960, o correspondente do Correio do Povo, que na época também pertencia ao Caldas Júnior, abriu mão do serviço. Manuel Amorim de Albuquerque, representando o Correio, chamou Francisco Michielin, então, para que assumisse a nova
  • 5. vaga. Chico passou a enviar conteúdo para os dois veículos, além de assumir a função de correspondente da Rádio Guaíba, emprego que manteria até metade de 1961. Ainda em 1960 um fato importante marcaria a história do Clube Flamengo, atual Ser Caxias. Embora torcedor fanático do Juventude, Chico procurava manter a neutralidade quando estava trabalhando. Naquele ano, o Caxias disputaria a vaga que levaria um clube da segunda divisão do Campeonato Gaúcho para a primeira série com o Guarani de Bagé. Com o jogo empatado, o Caxias garantiu a primeira colocação. Porém, no final do jogo os torcedores do Flamengo atiraram um foguete que atingiu o goleiro adversário, Gainete, que sofreu traumatismo craniano. Enquanto a mídia noticiava somente o incidente ocorrido e o risco do clube perder os pontos que obtivera na partida, Lautério Peccini, presidente do Flamengo, convidou Chico para uma conversa em seu hotel. O garoto se encontrou com a diretoria do clube à meia-noite e permaneceu lá até às três da manhã, de onde o texto foi encaminhado direto para a capital. “A matéria saiu fresquinha naquele mesmo dia, exatamente como a enviei. Na foto, eu e a diretoria do clube discutindo o outro lado da notícia”, relata. O acúmulo de empregos, porém, não duraria muito tempo. Chico estava prestes a terminar o ensino médio e tinha o sonho de cursar medicina. Sem opções em Caxias do Sul, ele precisava se preparar para o vestibular e a nova vida na capital gaúcha. “Fui largando os empregos aos poucos e no fim fiquei só com a Folha da Tarde Esportiva, já que ela era mais específica”, sustenta. Um brinde à medicina Entre o jornalismo e a medicina, Chico optou por seguir carreira na profissão que fazia seu coração bater mais forte desde os nove anos de idade. O tio Darwin Gazzana, que fora criado pelos pais de Chico, era médico pediatra. No dia de sua
  • 6. formatura ele convidara dona Diva, a mãe de Chico, já viúva, e ele para participarem. De manhã, antes que as cerimônias tivessem início, o tio precisou passar no Hospital Santa Casa e levou o menino consigo. “Aquele cheiro de remédio e doença me invadiu e me fez tão bem que a partir daquele momento eu disse que queria ser médico”, conta. O emprego na Folha da Tarde foi largado no primeiro ano do curso na Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, pois as matérias e as disciplinas juntas começaram a pesar muito. “Gostava dos dois, mas pensei em escolher um e fazer bem feito. Naquele momento a medicina era prioridade”, afirma. Ele, porém, não abandonou o apego e a paixão pelas letras, participando e vencendo alguns concursos literários abertos a todos os acadêmicos. Em 1970, já com residência em cardiologia, Chico voltou para Caxias do Sul. Dois anos depois casou-se com a rainha da Festa da Uva de 1969, Elizabeth Maria Menetrier, a Beti, com quem teve três filhos, Francisco Filho, 39, e João Henrique, 37, hoje cardiologistas, e Letícia, 31, que atualmente vive em Buenos Aires e trabalha com jornalismo e publicidade e propaganda. Como ainda não existia uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) na cidade e sua especialização restringia seu trabalho, Chico fundou a primeira urgência médica do município no Hospital Saúde, em 1973. Em 1975 fundou a PROCOR (Pronto Socorro Clínico Cardiológico), o primeiro serviço de cardiologia oferecido fora de um consultório e que até hoje funciona no Hospital Dr. Del Mese, onde os dois filhos cardiologistas trabalham. Uma bolsa de estudos em Milão, na Itália, fez com que Chico deixasse a cidade novamente, agora por seis meses, para aprimorar seu conhecimento no Centro de Cardiologia de Bombardier, no Hospital Maggiore. Ao retornar, ele continuou atuando na área da medicina cardiológica, mas não se envolveu mais com implantação de novos
  • 7. serviços, pois esse já não era mais o seu objetivo. Além dos consultórios, as salas de aula da Universidade de Caxias do Sul (UCS) também abrigariam Chico, que atuou como professor durante 39 anos, encerrando suas atividades na instituição há dois. Da paixão que o une à medicina e também ao jornalismo brotam algumas de suas aventuras. “Existem duas coisas que não posso deixar de visitar quando viajo: hospitais e jornais”, revela. Chico foi para a Suíça em 2003 e, enquanto a mulher o aguardava do lado de fora, entrou em um hospital de mansinho. Ao perceber que não tinha sido notado pela recepção, seguiu as placas de indicação até o andar da cardiologia. Bateu na porta de uma sala onde se encontravam médicos e algumas enfermeiras. “Elas faziam sinal indicando que não podia entrar e eu insistia do lado de fora”, conta. Quando conseguiu entrar, explicou que era cardiologista e passou a conversar com os profissionais. “Saí de lá com um vasto material de literatura médica”, revela. Uma vez para sempre Chico continua exercendo sua profissão de cardiologista, embora o amor pela literatura e o futebol ainda permaneçam. Prova dessa paixão verídica é a „segunda‟ profissão do médico atualmente: escritor. Depois de ter passagem como cronista no Pioneiro, Chico partiu para a literatura de ficção e não ficção, escrevendo 12 livros até hoje, nove deles publicados. Duas de suas obras foram dedicadas à turma de medicina que se formou com Chico em 1969. Um deles contou a história de sua própria infância. Alguns reuniram conhecimento científico sobre medicina e cardiologia. Entretanto, o que o escritor mais gosta é de falar sobre futebol e é a ele que os últimos títulos fazem referência. “Sou apaixonado pela escrita e por futebol. Resolvi unir as duas paixões em uma única atividade”, diz.
  • 8. O maior problema que Chico enfrenta como escritor é negociar com as editoras. “Tenho três livros „engavetados‟ aguardando publicação. É difícil lidar com o sistema das editoras”, afirma. O médico garante que a atividade é um „hobby‟ para ele e afirma a dificuldade de se manter financeiramente com a profissão. “Temos a cultura, em Caxias de pagar caro para „comer bem‟ e exibir „camionetões‟. Livros, ninguém compra”, desabafa. O amante das letras guarda um acervo incrível em sua biblioteca pessoal, reunindo aproximadamente 5 mil livros e cerca de 500 diferentes exemplares de revistas ilustradas. “Me considero um rato de livraria, feira do livro e sebo”, brinca. A coleção de revistas reúne as melhores de esporte ilustradas do Brasil e do mundo. Prova disso é a assinatura que Chico mantém há 76 anos da semanal italiana, agora mensal, Guerin Sportivo. O Juventude é outra paixão que persiste na vida de Francisco. Com os olhos brilhando, o avô da Valentina, 4 anos, e o Tiago, 8 meses, conta como foi a primeira ida do neto ao Alfredo Jaconi. “Eu estava atrás das goleiras, meu lugar preferido, quando meu filho Francisco chegou com a Valentina e o Tiago”, diz. A aventura do pequenino durou pouco. Depois de 20 minutos o pai precisou abandonar o estádio. “Valeu a pena”. As aventuras de Mr. Chico (Box 1) Ao voltar de uma viagem com sua esposa Bete, Chico degustou a cidade até o fim e atrasou-se para embarcar no avião, precisando correr para não perder o voo. Ao sentar-se e acomodar-se, ele pediu a aeromoça uma cerveja. Bete sentava na ponta, ele no meio e na poltrona da janela estava um espanhol. Com muita sede, ele apressou-se a abrir a lata de cerveja, ficando com o anel na mão e um pequeno furo na embalagem. A ajuda que a esposa ofereceu foi recusada e Chico começou a apertar a latinha para o líquido encher o copo. Vendo que o trabalho não progredia, resolveu erguer a cabeça e
  • 9. verificar o que estava errado. “Quando me dei conta, o espanhol do meu lado estava „lavado‟ de cerveja. Naquela hora, língua nenhuma me vinha à mente. Peguei um guardanapo e passei a limpá-lo”, conta. Depois que o voo decolou, o homem ao seu lado levantou-se e procurou outro lugar para se sentar. “Resultado: eu e a Bete ficamos com mais espaço livre”, brinca. Outra grande confusão aconteceu no final de uma partida de futebol em que o Juventude perdeu o jogo para o Internacional com um gol de pênalti „arranjado‟ pelo juiz. Chico e mais alguns torcedores esperaram na porta do estádio a saída dos árbitros. Em meio ao tumulto, ele foi agredido com um cassetete por um dos seguranças. Já em casa, ao vestir seu pijama, a esposa notou o hematoma preto em sua barriga. “Bati na torneira do banheiro enquanto tomava banho, menti a ela”, confessa. No dia seguinte, seus amigos encontraram Beti e perguntaram se a agressão que Chico havia sofrido tinha lhe ferido muito. “Eu nasci para ser Mr. Bean”, finaliza, rindo. Livros publicados (Box 2) Um misto de ficção e não ficção resumem a obra de Francisco Michielin. Seus livros retomam a história do personagem que ainda menino foi jornalista e amante da bola e do Juventude. Médico cardiologista, professor universitário e „dono‟ das letras, Chico deixa um pedaço de si, de Caxias, da medicina e do futebol em suas obras. Confira abaixo os nove livros já publicados pelo escritor: - 1988: Nós éramos assim - 1991: Uma rua dentro de casa - 1994: Assim na terra como no céu - 1997: Depois da última lua - 2003: Doenças do coração - 2007: Um brinde à saúde - 2008: Para voar, voamos - 2008: A primeira vez do Brasil
  • 10. - 2009: Uma vez para sempre