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Universo
Frusciante
Anthony Kiedis: o vocalista, o poeta, o deus do sexo. Você já ouviu a sua voz. Hipnotizado por
suas letras e maravilhado com seu charme, agora leia a Soul to Squeeze, uma biografia não
oficial de Anthony Kiedis.
Primeiramente, eu gostaria de agradecer: Pascalle e Maria, que me deram as
informações que eu requisitei.
Em segundo lugar, gostaria de agradecer a todos os fãs do Red Hot Chili Peppers no
mundo e em particular, àqueles que estiveram comigo nessa aventura que já
vai fazer anos, ao Jason, Yvette, Michelle, Zoe a todos os meus amigos do
The Red Hot Chili Peppers Forum/Ezboard e do Forum One Hot Globe.
E em último, mas não menos importante, meu editor, o grande Ardnac e Ken.
NOTA DO AUTOR:
Essa biografia é baseada principalmente nas entrevistas e nos fatos que eu li na imprensa, e na minha opinião, é
realmente confiável; Eu apenas resumi as coisas que eu ouvi dele mesmo ou de suas pessoas próximas. É claro que
algumas coisas podem ser imprecisas, mas nada foi inventado. Enquanto estiver lendo, você vai perceber que eu
escrevi alguns diálogos entre Anthony e Flea, Anthony e Hillel, e outras pessoas. É óbvio que os diálogos foram
criados por mim, porque mesmo que eu estivesse lá, eu precisaria no mínimo de um gravador para reproduzir tudo
fielmente. No entanto, coloquei esses diálogos apenas para dar mais luz às histórias que todos nós conhecemos
(você verá que os diálogos são inseridos naqueles pontos que nós já conhecemos da história). E essas conversas
também são baseadas em fatos reais e escritas baseadas no estilo típico de expressão das pessoas envolvidas.
Dave Thompson também colocou alguns diálogos baseados em sua intuição, no seu livro sobre o Red Hot Chili
Peppers. Eu apenas segui o mesmo exemplo.
Penny Lane
Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy?
As origens da família Kiedis são estranhas e não são claras nem mesmo para os próprios
membros. Uma vez, quando perguntado sobre o assunto em 2000, por um grupo de fãs, o pai de
Anthony respondeu:
"Bem, eu sei um pouco desde quando eu nasci John Michael Kiedis e eu sou o pai do mais
famoso dos Kiedises. Meu avô Anton Kiedis (que originou o nome de Anthony), veio da Lituânia
para a América por volta de 1910 e se fixou no Michigan, onde eu e Anthony nascemos. Alguns
dizem que Anthony tem origem indígena, por causa das suas tatuagens e devido ao seu fervor
pelos direitos dos índios. Somado a esse lado lituano, tem o lado francês da minha avó materna;
alemão, irlandês, escocês e um pouco de espanhol do meu avô materno (Vanderveen); e Inglês,
irlandês, escocês e um pouco de alemão por parte da mãe dele. Recentemente, quando
pesquisamos sobre nossa origem dos Vanderveens alemães, descobrimos que alguns deles se
casaram com índios Moicanos".
Por outro lado, apesar das informações difundidas, Anthony Kiedis ainda tem orgulho em dizer
que é "1/4 Apache". Até que Anthony tem vários motivos que podem sustentar essa sua teoria;
começando pelos seus traços faciais, ainda mais na época de seus "longos cabelos castanhos
que tocavam a bunda", sem dúvidas lembra os nativos da América. Em segundo, como seu pai
disse, suas duas tatuagens, o Sitting Bull (braço direito), o principal líder da tribo dos Sioux, e o
Chief Joseph (braço esquerdo), líder da tribo dos Nez Perce, conhecido como "O Trovão Viajando
No Topo das Montanhas Mais Altas". Mais a sua fenomenal tatuagem das costas, um grande
totem indígena. E por último, seu sincero apoio aos esforços dos nativos da América, que ele
mostra claramente na música "Johnny, kick a hole in the sky", última faixa do "Mother's Milk", de
1989. Todos esses ingredientes contribuem para pintarmos a figura desse homem que tem um
pesado componente indígena em seu sangue, e se orgulha muito disso.
"Anthony é um nativo americano", disse um fã, real descendente dos nativos.
"Pode-se dizer isso por causa do jeito com que ele sente as coisas". Algum
tempo atrás, Anthony costumava dizer por aí que tem um "pênis indígena". Na
verdade, nenhuma das 125.847 mulheres que já se relacionaram com ele fez
qualquer comentário sobre essa peculiaridade do seu órgão reprodutor.
Anthony não tem vergonha de ser descendente de lituanos. Ele nunca negou
que essa é a sua principal origem.
Atualmente, a únicacoisa que o
envergonha é o fato de nunca ter
visitado a terra de seus antepassados.
Lituânia é o maior dos três países Bálticos. Sua
população é de aproximadamente 3.700.000 habitantes,
na sua maioria, lituanos e russos. Mas a Lituânia,
normalmente está longe do circuito das mais famosas
bandas do mundo. Provavelmente, o mais perto que
Anthony já esteve de lá, foi durante um festival de verão
Turku, na Finlândia, em 1996. Contudo, ele faz questão
de mostrar que não esquece de suas origens.
"Eu sonho em ir lá algum dia", disse certa vez. "E eu vou encontrar a mulher dos meus sonhos. E
vou envelhecer". Oh, Anthony!
Seu lado escocês, por parte de sua mãe, não é muito bem conhecido. Quando Julie, irmã de
Anthony, casou-se, no verão de 2000, uma banda de "gaiteiros" escoceses foi chamad para
abrilhantar os procedimentos, mas talvez, o episódio que mostre melhor os componentes
escoceses no sangue de Anthony, seja algo que aconteceu em 1999, em Grand Rapids, quando
uma garçonete irada disse a um grupo de repórteres que Anthony Kiedis, o rockstar bilionário,
vocalista do Red Hot Chili Peppers, banda mega-famosa, deixou pra ela como gorjeta um pouco
mais que míseros 50 centavos.
Grand Rapids, Michigan, 700.000 habitantes. Uma cidade
de médio porte, a oeste do lago Michigan, que cresceu
nas sombras da grande Detroit. Quentíssima no verão e
com um frio polar no inverno. Uma cidade Americana
como outra qualquer. Mas foi nessa cidadezinha pacata,
que no final dos anos 50, algo aconteceu, para hoje
estarmos ligando para esse lugar.
O fato em questão foi a fatal e subseqüente paixão entre
John Kiedis e a doce e sensual Peggy Noble. John Kiedis
era um cara normal, não era alto, nem muito elegante
(malhar não era tão comum naquele tempo), no entanto, tinha um rosto bonito, e seu ar arrogante
era mais uma arma para atrair a juventude feminina local.
De todas aquelas adolescentes, Peggy Noble não era a mais bonita, não era a mais sexy, mas
também era muito bonita, com um doce sorriso. John e Peggy eram muito jovens quando
começaram a ficar juntos. As fotos que datam do final dos anos 50, mostram um típico casal de
jovens americanos da época: "rabo-de-cavalo" e meias brancas para ela; visual atlético e cabelos
curtos para ele. John tinha 18 anos, Peggy com 16. Eles vieram de famílias de classe média, e
seus parentes eram muito rigorosos. Certa vez, John falou: "Meu pai nunca me deixou fazer nada
do que eu quisesse. Era extremamente rigoroso, e acreditava que bater era a melhor punição.
Enquanto eu crescia, pensava que aquele não era o jeito certo de se criar um garoto. E coloquei
na minha cabeça que se algum dia eu tivesse um filho, o deixaria livre para fazer qualquer coisa
que quisesse, a qualquer custo".
John Kiedis não gostava daquele estilo de vida do centro-oeste. Seus planos não envolviam um
emprego do estilo "nove as cinco", uma casa pequena com um quintal e duas crianças gritando
na sala de estar. Ele era um jovem ambicioso e acreditava que tinha algum talento. Ele era
apaixonado por filmes e seu sonho era ser um grande diretor de cinema. Mas, que esperanças
ele poderia alimentar vivendo em Grand Rapids, com uma família rígida e sem dinheiro para
realizar seus sonhos? Nenhuma. Antes de qualquer coisa, ele deveria começar a caminhar com
suas próprias pernas. Um casamento precoce poderia ser a solução, pelo menos naquele
momento. John e Peggy casaram-se em 1960. Eles eram jovens e inexperientes, mas felizes com
o amor. A família de Peggy era católica, então, casaram-se em uma igreja católica. Peggy vestia
um clássico vestido branco de noivas, e John, terno e gravata também brancos. Eles foram morar
em uma pequena casa, em Grand Rapids, e voltaram para a universidade.
Mas enquanto John era um ambicioso e impaciente jovem, Peggy era calma, caseira. Ela sabia
dos sonhos de seu marido, de deixar Grand Rapids e fazer fortuna em Hollywood, mas não dava
muita importância. Aquilo eram apenas sonhos, enquanto sua casa, seu casamento, sua futura
vida a dois eram a realidade. Tudo isso e as futuras crianças, já que agora, depois de dois anos
de casamento, Peggy estava grávida.
Para John, ser pai não representava uma quebra de seus sonhos. Seu filho seria muito feliz e
livre, isso era tudo o que ele sabia. Mas John nunca desistiu de suas ambições, como Peggy
acreditava. Ele apenas aprendeu a ficar mais quieto, esperando pela hora certa. Sua família fazia
parte de seus planos futuros, mas Peggy não estava convencida disso. Ela sabia que aqueles
planos não envolviam Grand Rapids, e achava que também não a envolviam totalmente.
Apesar disso tudo, no meio do curso, a criança em questão veio ao mundo às 4 horas da manhã,
do dia 1º de novembro de 1962, no Hospital Grand Rapid's St. Mary's. O nome, Anthony, nada
mais era do que uma versão americana do nome de seu bisavô lituano, Anton. Seu nome médio...
bem, nunca existiu. Muitas pessoas perguntaram sobre esse assunto, por muitas vezes. A
verdade é que Anthony Kiedis não tem nenhum outro nome. John queria dar-lhe algum nome
como "Courage" ou "Freedom"; Peggy gostava do segundo nome de John: Michael. Mas o
resultado foi que seria apenas Anthony. Eternamente.
As fotos dos primeiros meses e também dos primeiros anos de vida de Anthony, mostram um
pequeno menino americano como qualquer outro. Nenhum acontecimento destacável aconteceu
nesse período. A única coisa que se pode dizer daquela época, é que a impaciência de John
crescia cada vez mais.
John estava louco com aquela criança, mas estava finalmente decidido que aquele tipo de vida
não servia para ele, ou que ele o homem certo para aquela vida. Ele tinha de sair daquele lugar,
porque seu futuro não poderia se concretizar ali. Ele sentia que seria alguém. Sempre foi um cara
atraente, gostava de grandes carros, belas roupas, e agora estava deixando seus cabelos
crescerem, como os Beatles. John era fortemente atraído por mulheres bonitas, assim como as
mulheres bonitas eram atraídas por ele. Então, que diabos estava fazendo em Grand Rapids? Ele
simplesmente não tinha nenhuma chance ficando ali. Precisava sair.
No final de 1964, a oportunidade que ele esperava há tanto
tempo: John foi aprovado na Escola de cinema da UCLA, em
Los Angeles. Ele não podia acreditar: estava indo para
Hollywood!!! Ele tinha de fazer isso, ele realizaria todos os
seus sonhos! Isso era mais do que John podia esperar. Ele
olhou para seu sorridente filho, que começara a aprender a
andar, vindo em sua direção, olhou para sua jovem esposa,
sentada em um sofá, pacientemente esperando por uma
decisão, e finalmente, John tinha a certeza: é hora de dar
adeus a Grand Rapids. O Paraíso não pode esperar.
John pegou seu filho, que estava com 2 anos de idade, e
sua esposa, e a pequena e feliz família partiu para a terra
dos sonhos. John Kiedis era um cara otimista e aplicado,
mas Los Angeles não era um lugar fácil para se viver, ainda mais para um jovem provinciano,
aspirante a astro no mundo dos filmes. Competição era (e ainda é) extremamente dura, amizade,
rara como ouro, e qualquer um, até o seu vizinho mais calmo deveria ser considerado uma
ameaça, porque ele poderia pegar uma grande chance antes de você.
Em meados dos anos 60, Los Angeles não era a capital do rock, nem mundial, tampouco da
California. São Francisco estava bem à frente, também porque tinha capturado as vibrações de
alguns anos e concentrado em lugares como as Universidades de Berkeley e Stanford, e áreas
de cultura hippie, como Haight-Asbury. Duas das maiores bandas Americanas daquele tempo,
Jefferson Airplane e Grateful Dead, eram de São Francisco. Los Angeles se resumia a capital do
surf e da surf music, e uma das maiores bandas desse gênero, os Beach Boys, veio de lá. Los
Angeles não era um lugar interessante naqueles anos. Mas algo estava para mudar. Um homem,
Frank Zappa, e uma banda, The Doors, estavam prontos para mostrar para o mundo que havia
algo mais em Los Angeles do que aquilo que as pessoas da cultura hippie pensavam. O líder dos
Doors, Jim Morrison era estudante da UCLA, assim como o tecladista da banda, Ray Manzarek.
Eles também eram muito interessados em cinema e música, mas John Kiedis nunca os
mencionou como conhecidos. Eles apenas estudavam na mesma universidade.
Os filmes daqueles anos estavam passando por algumas
mudanças. Eram filmes alternativos, falando da vida real.
Los Angeles era uma cidade assassina, cheia de reas
miseráveis que Hollywood nunca tinha mostrado.
Hollywood estava caindo aos pedaços e ninguém tinha
coragem de andar pelas ruas à noite.
Turistas paravam no Teatro Chinês, tiravam algumas
fotos, olhavam ao redor e não podiam acreditar no que
viam: é essa, a fabulosa Hollywood? Filmes sempre
distorciam a realidade. Uma nova onde de jovens
diretores começou a fazer filmes diferentes, que não
falavam de famílias felizes, loiras e seus maridos, cheios de problemas, porque não podiam ir ao
futebol porque seus primos estavam se casando. E depois de tudo, alguém deixava de concluir
que Rock Hudson era homossexual?
John Kiedis entrou nessa onda de novos diretores, com entusiasmo. Ele mesmo começou os
experimentos, com sua câmera e alguns filmes em preto e branco, e em todas as suas primeiras
produções, mostrava claramente que estava virando um perfeito "realista". Seus curtas eram
gravados nas áreas mais degradadas de Los Angeles, e seus principais atores eram pessoas
comuns, velhos bêbados, mendigos. Uma figura é constante em todos os seus filmes. Uma pura
criança, em sinal de redenção, quase um anjo em sinal de esperança.
John não havia procurado por um ator ideal. Aquela criança era sempre seu filho Anthony, de 3
anos de idade. Um de seus filmes, ainda existe. Chama-se "The Hooligans" e mostra a criança
acordando um desabrigado de seu sono alcoólico e deixando-o em um banheiro. O pequeno
Anthony não se mostrava intimidado diante da câmera. Ele tira a camisa, e seus cabelos
castanhos cortados a la Beatles. Em um frame, ele usa um boné Los Angeles Lakers!
Ninguém podia dizer se John Kiedis se tornaria um novo Orson Welles ou ao menos diretor de
TV. Ninguém poderia imaginar nada, mesmo porque, em um momento, John parecia não estar
mais ligando para nada. Hollywood estava lhe devorando. É aquela velha e conhecida história: o
jovem do interior que parte para a cidade grande, carregado de esperanças e boas intenções, e
rapidamente é devorado pela mesma cidade grande. John era muito elegante, muito atraente e
muito impaciente. As tentações da vida já haviam arruinado muitos outros jovens antes. Porque
seria diferente com ele? Hollywood era cheia de garotas, festas e diversão. Quem era John para
dizer não? Ninguém! E a família? Esqueça! Peggy foi muito paciente no começo. Não se sabe
sobre como ela reagiu ao impacto da grande Los Angeles, ela, aquela garota calma e tranqüila do
Michigan. Apesar das aparências, Peggy não era tão doce e calma. Anthony sempre disse que
sua mãe tem uma personalidade genuína e forte. Ela não se acostumou com as luzes da cidade
grande, como seu marido.
Peggy passava suas noites em casa com a criança, enquanto John ia para as festas. Ela ficava
pensando se aquela era a vida que seu marido tanto queria. Então, um casamento em meio a
tudo isso poderia durar? Claro que não. E em 1968, Peggy pegou suas coisas, seu filho de 5
anos de idade, e disse adeus a Hollywood, voltando para Grand Rapids. Ela não tinha se
acostumado, e seu filho também não se acostumaria. Ou pelo menos, ela achava que não.
Tony era muito pequeno quando sua mãe deixou a Cidade dos Anjos e voltou para sua cidade
natal. Talvez, muito pequeno para ficar traumatizado, mas certamente, a transição da brilhante
cidade grande para a cidade interiorana, somada à separação de seus adorados pais, não foi
uma boa experiência. Tão logo voltaram para Grand Rapids, Peggy se apaixonou novamente. E
seu namorado não era um cara tão legal.
Mas a vida continua, e no mesmo ano, Anthony começou a estudar. A escola chamava-se
Stocking Elementary School. Peggy começou a trabalhar, e a pequena família parecia estar
voltando ao seu estilo de vida simples e pacato, de uma família de classe média. L.A. era outro
planeta. Mas será que para o Anthony também? Não parecia. Seu pai sempre o visitava, e essas
visitas eram algo que Anthony esperava muito ansiosamente. John teve uma cômica mudança de
visual durante esse tempo.
Seus cabelos ultrapassavam os ombros, e um bigode decorava seu rosto. Como o próprio
Anthony já disse: "Ele costumava usar umas grandes botas, na altura dos joelhos e cheio de
"enfeites", e todas as pessoas nos olhavam quando andávamos juntos. Eu gostava, eu pensava:
'sei que vocês acham que somos loucos, mas esse aqui é o meu pai'".
Peggy ficou grávida novamente, e teria de se casar. Seu segundo marido era uma pessoa
horrível, muito pior que John, segundo Anthony: "Ele chegava em casa às 5 da manhã, com olhos
pretos e começava a destruir tudo em volta". Peggy deu à luz Julie, mas as coisas não iam nada
bem. O padrasto de Anthony estava transformando sua vida em Grand Rapids num inferno. O
garoto escrevia muitas cartas para seu pai,- implorando para que ele o levasse para a Califórnia.
"Por favor, trabalhe duro", ele escrevia, "então, eu poderei voltar para a Califórnia".
Mas qual era exatamente o trabalho de seu pai? John tinha desistido
dos seus planos de ser um diretor. Agora, estava decidido a ser um
ator. Mudou seu nome, escolhendo como nome artístico, Blackie
Dammett. A do nome é questionável. Dammett soa como Dashiel
Hammett, um famoso escritor de histórias de detetive, nos anos 20. E
Blackie, poderia ser facilmente um nome de cachorro, mas John
gostava, e isso foi o suficiente. Com esse novo nome, John/Blackie se
lançou na carreira de ator. Algumas vezes tinha sorte, outras vezes,
jovens garotas, gostava de algumas drogas leves, e amava farrear
todas as noites. Não é difícil de se notar, que de tão amigável e
determinado que era, ele gostava de dividir seus prazeres com os
amigos próximos. E às vezes, pagava por isso. Em 1969, Anthony
escreveu para ele: "Estou tão feliz por você não ter sido preso. Você deveria tomar mais cuidado".
Naquele momento, as coisas pioravam mais e mais em Grand Rapids. "Eu resolvi
que ninguém ia intimidar mais a minha família", disse Anthony. "Ninguém vai machucar minha
mãe nem minha irmã". Peggy se divorciou novamente, e a vida foi voltando à sua normalidade.
Anthony não era nenhum "anjinho". Na escola, fazia fama por estar sempre arranjando
encrencas.
"Eu fui para uma escola de surdos e deficientes mentais", disse. "E eu era uma espécie de
defensor daquelas crianças. Eu sempre era expulso das escolas por me envolver em brigas em
defesa das crianças deficientes, e minha mãe sempre me apoiava. Era bom saber que havia
alguém atrás de mim quando fazia algo que eu julgava certo". Se tinha algo em que Anthony não
acreditava, era religião. Sendo descendente direta de escoceses, Peggy o criou conforme a
tradição católica, mas desde bem cedo, Anthony rejeitava a religião. Ele considerava que as
religiões tinham com Deus uma relação como o juiz de uma corte. "Eu queria uma relação com
Deus baseada no amor". Um belo dia, ao chegar em casa de volta do catecismo, Anthony disse
para Peggy que não voltaria nunca mais. Alguns anos depois, Anthony falaria sobre sua rejeição
ao Catolicismo em uma música, "Shallow be thy game". Há algum tempo, depois de tantos
problemas, Anthony está perto de algo semelhante à espiritualidade.
O verão era a melhor época. Tão logo terminava os estudos, arrumava suas coisas e dizia adeus
à sua mãe e deixava o Michigan, com destino à Califórnia. A carreira de Blackie como ator não
estava indo bem. Para cada ponta que ele conseguia, 100 eram perdidas. Estava claro que seu
futuro não era aquele. Mas Blackie era carismático e amigável, um cara que adorafa farras, e em
alguns anos, cultivou amizades com muitas pessoas em Los Angeles, incluindo do meio artístico.
Um desses caras era Sonny Bono, do dueto "Sonny and Cher". Depois de récordes de vendas, o
casal partiu para a tv, no "Saturday Night TV Show". Em 1999, quando os Red Hot Chili Peppers
foram estavam gravando o clipe de "Around The World", Anthony observou o cenário e comentou:
"Parece que esse cenário foi tirado de um dos shows da tv de Sonny e Cher". Sonny e Cher se
divorciaram em 1972, e Sonny começou um relacionamento com uma jovem garota.
Naquele mesmo verão, Anthony foi ao primeiro show de rock'n roll de sua vida! A banda em
questão era Deep Purple, banda britânica de Hard Rock, imortalizada por seu cássico guitarrista
Ritchie Blackmore e pelo vocalista Ian Gillan. Naquele verão, a banda estava aproveitando seu
primeiro grande sucesso nos Estados Unidos, com o single "Black Night". Com oito anos de
idade, Anthony estava tão empolgado com o show, que voltou corrento pelo estacionamento, mas
tropeçou em uma barra de ferro e foi direto no chão. O resultado dessa desventura foi o
crescimento errado de um de seus dentesda frente, dando a seu sorriso aquela peculiaridade que
enlouquece muitas de suas fãs.
Passar o verão com Blackie era garantia de diversão inacabável. Blackie também lembra de outro
show de rock que Anthony foi, da banda Canned Heath. Essa banda ficou conhecida por causa
da clássica "On The Road Again", e Bob Hite, seu
vocalista, dançava no palco como um urso. Anthony ficou
tão impressionado com aquela imagem, que no meio do
show, invadiu o palco e começou a imitar Hite, sob o olhar
de seu pai... e de quase 10.000 pessoas.
Blackie dava festas todas as noites. Jovens atores,
rockstars, surfistas, garotas, sempre bem- vindos em sua
casa. Nenhum deles house. None of them paid too much
dava atenção àquela criança que andava pelo
apartamento. Mas ele não se intimidava com isso.
No final do verão, voltar para o Michigan era realmente algo muito chato. E naquele momento,
Peggy estava novamente apaixonada, e dessa vez, para sempre. O terceiro casamento estava
por vir. Anthony não se sentia como uma criança, e sabia que Michigan não tinha mais nada para
lhe oferecer. Ele pensou que sua mãe e sua irmã não precisavam mais dele, elas tinham alguém
novo, e então, ele poderia partir. Ele precisava ir. Queria ir.
No fundo de seu coração, Peggy já sabia que os dias de Anthony em Grand Rapids estavam
contados. e isso a preocupava. Anthony mostrava que queria seguir os passos de seu pai.
Blackie estava impaciente para ter seu filho em tempo integral. Tinha muito para
ensiná-lo, e Anthony parecia estar pronto para aprender!
"E quanto à escola?", perguntou Peggy
pelo telefone.
"Existem escolas em Los Angeles, querida",
espondeu Blackie.
Anthony estava ouvindo escondido em seu quarto, e rezando
para que sua mãe deixasse. "Eu vou matriculá-lo na Beverly
High", disse Blackie, "onde as jovens estrelas vão", completou.
"Não quero meu filho junto com essas estúpidas crianças do
cinema", dise Peggy. "Quero que ele estude em uma escola
séria. Não, eu não farei isso. Você é um idiota". Anthony sabia que algo dramático deveria ser
feito se quisesse ir. Na mesma noite então, arrumou suas malas e partiu a caminho de Hollywood.
Peggy sentiu, mas resignou-se a si mesma.
Capítulo 2: Breaking the Girl
Raised by my dad
he was my man
girl of the day
that was the way.
Blackie teve uma infância dura. Seu pai era muito duro, não o deixava fazer nada.
Agora que Anthony estava sob sua responsabilidade, estava disposto a fazer exatamente o
oposto, dando-lhe total liberdade para fazer o que quisesse.
Em 1973, Anthony começou sua nova vida em Los Angeles. Sua mãe fez Blackie prometer que
ele freqüentaria a escola e fazer todos os trabalhos de casa, sem nenhum tipo de distração, como
todas as outras crianças do mundo.
A escola na qual Anthony estudaria ainda estava sob questão. Blackie queria que ele fosse para a
Beverly High, mas havia um pequeno, porém, significativo detalhe: Anthony não morava em
Beverly Hills. Sonny Bono apareceu com a seguinte idéia: Blackie poderia usar um endereço de
Beverly Hills, dizendo que Anthony morava em sua casa. Esse era um truque antigo. Muitas
pessoas usavam isso para matricular suas crianças em uma instituição prestigiada, mas dessa
vez, foram descobertos imediatamente. Blackie teve de matricular Anthony na Fairfax High
School, no cruzamento entre a Fairfax e a Melrose Avenue. A Fairfax High School era conhecida
em toda Los Angeles com a "rock 'n' roll high school" (escola do rock'n roll). Alguns de seus ex-
alunos são pessoas como Herb Alpert, Phill Spector, Ian e Dean, e o guitarrista do Guns'n Roses,
Slash. E ainda, em 1991 o ginásio foi o cenário do clipe de Smells Like a Teen Spirit, do Nirvana.
Agora, voltando a 1973... era uma escola onde a maioria dos jovens judeus de classe média
estudava.
Não há muita coisa conhecida a respeito dos primeiros dias de
Anthony na Fairfax High. Anthony não gostava muito. A vida em
casa era muito mais interessante.
"Tinham dois lados diferentes", disse Anthony uma vez, sobre seu
pai: "Em um lado, ele estava sempre por perto, certificando-se de
que meus trabalhos de casa estavam
feitos, me ajudando com sinônimos. Por
outro lado, ele tinha muita pressa para
farrear todas as noites".
Essas diferenças refletiam diretamente na vida de Anthony. Na Fairfax
High, não tinha um único amigo. Seus amigos eram os amigos de seu
pai: Keith Moon, baterista do The Who (um pirado, viciado em heroína e
cocaína); Alice Cooper (O Marilyn Manson dos anos 70, bissexual e
viciado em jogos); Sonny Bono, é claro, cuja paixão por meninas jovens
era conhecida de Norte a Sul.
"Eu me iniciei em suas fantasias", falou Anthony. "Eu era muito jovem.
Eu tinha aquela atitude, do tipo, 'o que você está fazendo? Eu também
quero. O que é isso?'".
À noite, Blackie e seus amigos levavam Anthony para os clubes mais populares de Hollywood.
Blackie conhecia todos e todos o conheciam.
Ele o iniciou com garotas e... substâncias. Jimmy Page, o lendário guitarrista do Led Zeppelin
disse, certa vez: "Toda vez que uma banda vem a Los Angeles, voltava a procura de Blackie.
Ele sabia onde estavam as garotas e outras coisas mais".
"Eu acho que o meu pai tinha um pensamento sobre o que era bom para mim, me iniciando em
tudo da vida adulta, mas uma mente tão jovem, tem problemas para digerir toda aquela
informação". Entender a vida adulta não era algo fácil para um garoto de 11 anos de idade, recém
chegado a uma nova cidade e um novo estilo de vida. Na escola, as outras crianças continuavam
evitando Anthony. "Meu pai era meu melhor amigo", admitiu Anthony. Em outra ocasião, ele falou:
"Eu era uma aberração da natureza quand criança".
Não se sabe com clareza quando foi que Anthony começou sua relação com o sexo e as drogas.
Anthony conheceu ambos por intermédio de seu pai, mas não se sabe em que ordem. A história
sobre a primeira experiência sexual de Anthony é conhecida no mundo inteiro e já foi dita mais de
mil vezes. Aos 12 anos, Anthony perdeu sua virgindade com uma namorada de seu pai, Kimberly
Smith, que tinha 18 anos. Anthony mesmo já deu várias versões dessa história, apesar de não
modificá-la em alguns pontos. Em primeiro lugar, havia 1/4 de um tablete de calmante circulando
em seu sangue, o deixando relaxado, o que nos leva a crer que ele já estava de certa forma
familiarizado com algum tipo de droga. "Eu estava doidão, e meu pai estava com uma garota lá
em casa, e ela estava sem camisa. Eu pensei comigo mesmo: 'algum garoto poderia ser mais
sortudo?' Naquele momento eu me sentia o garoto mais sortudo do mundo". O que as pessoas
sabem sobre Kimberly Smith, além de seu nome e sua idade, é que ela tinha cabelos vermelhos.
Ninguém sabe o que ela fazia antes, nem o que fez depois. Ela apenas entrou na nossa história,
como a primeira parceira sexual de Anthony.
A primeira experiência química de Anthony não é tão bem conhecida. Também nesse caso, tem
uma mão de Blackie. "Nós começamos juntos com as drogas", disse Anthony. "Maconha,
qualquer substância que abrisse a mente". Atualmente, Blackie se sente um pouco arrependido
por ter iniciado seu filho nas drogas. "Ele acabou se viciando".
Algumas pessoas acusam Balckie abertamente por ter arruinado a
vida de seu filho por causa das drogas, enquanto outros dizem que
ele é culpado apenas em partes. O certo é que em nenhuma família
de classe média daquele tempo, isso acontecia, o que fazia Anthony
ainda mais reservado.
Blackie não teve sua realização para se tornar um astro do cinema,
e agora que estava com Anthony, decidiu fazê-lo seguir seus
passos. Até então, Anthony só havia atuado em peças da escola,
mas Blackie tinha outros planos para ele. Começou mudando seu
nome. Um sujeito chamado Anthony Kiedis não teria nenhuma
chance no mundo do cinema. Precisava de um nome artístico.
Blackie deu-lhe seu sobrenome, Dammet. O primeiro nome, foi Cole,
cuja origem, não é conhecida. Com seu novo nome, Anthony/Cole
Dammett foi para uma audição, para um pequeno papel em um filme
de Sylvester Stallone, F.I.S.T., e foi o escolhido. O ano era 1976.
F.I.S.T. é um bom filme. Os fãs que quiserem comprar o home video para assistir e aproveitar
apenas alguns segundos da primeira aparição em público de Anthony Kiedis em ação, ficarão
desapon- tados: na versão em home video, a parte em que "Cole Dammett" aparece, foi cortada.
Os poucos que viram o filme em algum cinema, contam que Anthony aparece apenas sentado na
mesa de um bar. Apenas uma curiosidade: a atriz que viveu a esposa de Stallone (mãe de
Anthony) era uma lituana.
O primeiro contato de Anthony com um set de cinema
o deixou triste: "Eu não tinha a menor idiea do quão
insignificante era o meu papel. Tudo o que eu sabia era
que seria o filho de Sylvester Stallone. Eu tinha 14
anos e achava que aquilo seria algo grande para mim.
Eu fui até o trailer do Stallone e disse: 'Hey, estou indo
atuar como seu filho, vamos passar um minuto juntos,
então, podemos conversar um pouco sobre o que está
acon- tecendo aqui'. Ele veio até a porta e falou: 'O que
você quer, garoto?' Ele não queria fazer nada junto
comigo".
Outros pequenos papéis estavam por vir em alguns
filmes de TV ("Jokes my folks never told me"; "It's a mile from here to glory") e algumas comédias,
como "Jenny and Chachi", "Happy Days", com Scott Baio. Naquela época, Anthony estava na flor
da adole- scência. Ele ficava andando "por aí", com aquele engraçado bob (supõe-se que seja um
cão. :), e com seu olhar míope. Seu novo amigo, Michael, o descreveu: "Ele parecia um maluco,
com aqueles cabelos em cima dos olhos e o visual robusto. Ele parecia um lunático".
A primeira coisa que Blackie pensou quando viu o novo amigo de Anthony foi: Merda! Eu sabia
que deveria ter mandado Anthony para a Beverly High!". Hoje em dia, Michael não parece com
aquele exuberante adolescente. Pequeno, magro, parecia muito mais novo do que era, e na
Fairfax High, não tinha amigos, assim como Anthony. "Nós éramos dois excluídos", disse
Anthony. A data desse fatal encontro não é conhecida. O ano era 1978. Segundo a lenda,
Michael Balzary estava brigando com o único amigo de Anthony na Fairfax High, Tony Sherr.
Anthony ordenou que ele parasse. Michael obedeceu, pois Anthony não parecia nem um pouco
calmo, mas gostou dele à primeira vista, e Anthony também, de primeira, gostou de Michael. Em
poucos dias, Anthony abandonou Tony Sherr e tornou-se amigo inseparável de Michael Balzary.
Michael era apenas duas semanas mais velho que Anthony, mas nasceu no outro lado do mundo,
em Melbourne, Austrália. Aos 5 anos, mudou-se para New York com sua mãe, sua irmã e seu
padrasto, um músico de jazz. Em 1973, mesmo ano em que Anthony foi morar com Blackie em
Los Angeles, Michael mudou-se para a Califórnia. Michael tinha cabelos médios, cacheados,
olhos azuis, e um engraçado espaço entre seus dentes frontais. Com seu padrasto, Michael
aprendeu a amar a música, principalmente jazz e blues. Na escola, conheceu Led Zeppelin e
ficou louco por seus riffs de guitarra, que tocava no trompete, e integrava a orquestra da escola.
Ele era um bom garoto, simpático e estudioso. O que ele viu em Anthony, para tornar-se grande
amigo e confidente, ninguém sabe, mas a teoria de que os opostos se atraem explica tudo.
Na verdade, na Fairfax, Michael tinha mais amigos que Anthony.
Michael não chegava ao colégio de manhã, com a cabeça cheia de
cerveja, maconha e orgias, como seu novo amigo. Michael era mais
normal, e isso pode explicar essa atração.
Anthony não era uma cópia fiel de seu pai na adolescência. "Dentro de
mim, havia a genuinidade que herdei de minha mãe. Eu me apaixonei
por uma garota, e fiquei com ela por 3 anos. Eu não queria fazer o que
meu pai fazia. Ao mesmo tempo, eu achava ótimo poder ter todas
aquelas mulheres bonitas que vinham na minha casa, e elas não
estavam preocupadas se eu quisesse conversar ou se eu quisesse
fazer sexo com elas".
A garota por quem Anthony estava apaixonado era uma estudante da
Fairfax High, e seu nome era Haya Handel. Por incrível que pareça,
esse foi um dos relacionamentos mais duradouros da vida de Anthony.
Haya era bonita, líder do time de ginástica da escola, e se conseguiu
segurar Anthony por três anos, devia ser muito atraente, como as
pessoas dizem.
Na escola, Anthony precisava apenas agradecer à sua grande inteligência. Do resto, vivia
brigando com todos os seus professores e na maioria das vezes, ficava "viajando"
Da maconha, ele passou rapidamente pelos mágicos e
ácidos, e em pouco tempo, estava usando cocaína. Ele
encontrava as drogas em casa, como alguns
adolescentes que caem no alcoolismo ao verem seus
pais bebendo no bar de casa.
Um dia, por volta de 1978, Anthony se encontrou cara a
cara com uma outra bela branca esperando por ele, e é
claro, não hesitou. O efeito era como uma pancada na
cabeça. Nada comparável com os 200 bpm's da
cocaína que ele havia experimentado algum tempo
atrás. Exatamente o oposto. Um calor. O mundo se
transformou em um lindo lugar, colorido, cheio de
sensações terrenas.
"WOW", ele voltou. "É demais! Que tipo de cocaína é esse?"
"Isso não é cocaína, garoto", disse o primeiro que conseguiu entender a sua fala quase inteligível.
"Isso é heroína!"
Michael Balzary era esperto, tinha muita energia, e não ficava parado, costumava pulando, então,
as pessoas passaram a chamá-lo de Flea (Pulga). Sua habilidade para a música e sua simpatia,
o ajudaram a passar por cima da timidez e assim, Flea fez amiza- des com algumas outras
crianças. Além de Anthony, seus amigos mais próximos eram dois meninos judeus, Jack Irons e
Hillel Slovak, e um cidadão do mundo, filho de artistas de circo, chamado Alain Johannes. Jack,
Hillel e Alain eram membros de uma banda de rock, chamada Chain Reaction. Michael Flea
Balzary ainda não havia se convertido ao rock, mas ser amigo de integrantes de banda facilitou a
aproximação.
Michael apresentou seus amigos a Anthony. Nosso garoto
amava música, mas apenas como um fã. Não sabia tocar
nada e ainda tinha uma vaga aspiração ao cinema.
Recentemente, quando perguntado sobre "o que pensava
em ser quando crescer", nos seus tempos de
adolescência, Anthony respondeu: "Um fora-da-lei que
seguisse apenas suas próprias regras".
A realidade se aproximou disso: uma noite, a polícia
invadiu o apartamento de Blackie, durante uma festa.
Drogas foram encontradas por toda parte.
Blackie foi algemado e levado para a central sob os olhos
do ainda menino Anthony.
Anthony não queria pedir a ajuda de sua mãe. Desde quando foi para Los Angeles, ligou para sua
mãe várias vezes, também a visitou muitas vezes, mas nunca lhe contou s verdade sobre Blackie.
Então ele poderia ligar para sua mãe e dizer "oi mãe, aconteceu um incidente e meu pai está na
cadeia, e se eu quiser que ele volte para casa, terei de pagar a fiança!"?
Lógico que não. Anthony já tinha 15 anos e havia feito e visto muitas coisas além de sua idade.
Não precisava mais de Blackie para nada, e não precisava de Peggy também. Com suas
economias, pagou a fiança de seu pai e deixou o apartamento. Ele não tinha a menor idéia de
para onde ia, mas não ligava para isso.
Entre Anthony, Michael, Hillel Slovak e Jack Irons, uma grande amizade havia nascido. Os quatro
se nomearam "Los Faces" e começaram a se divertir pelas ruas de Hollywood, vstidos como
skatistas e surfistas, fazendo seu melhor para arranjarem encrencas. Algumas dessas aventuras
fazem parte da lenda: Anthony saltou do telhado de uma construção, em uma piscina, mas
errando a água, bateu com as costas no concreto; Anthony e Flea foram esquiar no norte da
Califórnia e passavam as noites em uma lavanderia, se aquecendo perto das secadoras... e quem
não lembra do transexual que os levou de volta para Los angeles em seu carro? Algumas dessas
aventuras são contadas em uma das muitas músicas escritas com a parceria de Anthony e Flea,
a nostálgica "Deep Kick", do One Hot Minute (1995). A música também fala sobre uma viagem a
Londres, sobre a qual não se sabe muito.
Papa's proud and so he sent us
Pounding hearts full and relentless
Two boys in London, England Two boys in London, England
Climbing out of hostel windows
Wearing gears so out but in though
Come on kid and do the no no
Foi a primeira vez que os dois garotos visitaram a Europa, e a Inglaterra não os agradou.
"Podemos dizer que a Inglaterra não é o meu lugar favorito no mundo", disse Anthony a uma
revista inglesa, a Kerrang!, em 1990. "Em não gosto de como eles cozinham". Flea, falando para
a New Musical Express, em 1992, foi menos diplomático: "A comida é ruim, as pessoas são
chatas, o clima é um saco e todos ouvem a mesma porra de música".
Isso foi no final da década de setenta, e a música ainda não era a sensação. O movimento Punk
tinha acabado de explodir, e Londres estava incendiando. E enquanto andavam por Londres,
nossos dois heróis, ao passarem por um pub, ouviram uma banda tocando. O nome era "Chili
Willy and the Red Hot peppers".
Quando foi perguntado por um fã sobre qual a sua grande recordação da infância, Anthony
respondeu: "Eu, Flea e Hillel, em 1979, viajando de Los Angeles para o Michigan". Anthony e
seus amigos eram apaixonados por esportes, natureza e pela vida ao ar livre. Isso pode se
contrastar com as outras atividades deles, como passar as noites em clubes, cheios de drogas,
mas talvez esse contraste não seja tão profundo quanto parece a primeira vista. O que é certo
mesmo, é que nenhum dos "Faces" gostava da vida normal. Los Faces eram loucos, e não
tinham medo de nenhuma nova experiência.
Pelo contrário, qualquer experiência merecia ser vivida. Os que seguiam essa teoria mais a fundo
eram Anthony e Hillel. Flea ainda era um pouco travado por
sua timidez, e Jack era o mais regular dos quatro, era o único
que às vezes parava pra pensar em algum tipo de limite.
Apesar de Flea ter apresentado Anthony a Hillel, eles dois
estavam criando cada vez mais intimidade. Hillel Slovak era
um garoto judeu, alto, branco, com grandes pernas e longos
braços. Além de estudar na Fairfax High, tocava guitarra na
banda Chain Reaction, que havia acabado de trocar o nome
para Anthym. Hillel era um verdadeiro maníaco por guitarra e
seu herói era Jimi Hendrix, mas também era um artista. Sua
mãe, Esther, era pintora, e ele estava seguindo seus passos.
Anthony não sabia tocar nenhum instrumento, mas seu
esteriótipo de artista era fascinante. E quando Anthony se
encontrou perdido nas ruas, foi ao Hillel que ele pediu ajuda. "às vezes é difícil encontrar uma
dimensão para amizade, é apenas uma amizade inquebrável,amizade por amizade e quando
qualquer coisa entra em colapso, é isso que espera: amizade pura", disse Anthony, em 1998,
sobre sua amizade com Hillel Slovak. Esther Slovak o recebeu em sua casa, mas em poucas
semanas, Anthony teve de irembora.
Flea também estava tendo problemas em casa. Seu padrasto, Walter Urban Jr era um alcoólatra,
que começara a ser violento. "Eu presenciava algumascoisas que normal- mente as crianças não
devem ver", disse Flea. Los Faces eram o caminho entra a infância e a adolescência. Anthony,
Flea e Hillel se uniram e decidiram que o melhor a se fazer
naquele momento era partirem juntos para um pequeno apartamento. Nossos três heróis
encontraram um em Hollywood e foram para lá, com suas roupas e drogas. Jack Irons, que tinha
uma família feliz e normal, decidiu apenas assistir. Ele não estava preparado para isso.
Anthym estava tocando em festas da escola, mas não parecia nem de longe que se tornariam
famosos no futuro. Haviam várias bandas em Los Angeles, e eles nem eram os melhores. Eles
perderam seu primeiro baixista, então, Hillel e Jack pensaram no Flea. "Mas eu toco trompete!!",
protestou Flea. Hillel mandou ele parar de reclamar, ensinou- lhe como se tocava baixo e o
colocou na banda. E então, ele começou a tocar.
E Anthony? Anthony era o único fã verdadeiro do Anthyn. Não
perdia nenhuma apresentação. Desde quando foi morar com seus
amigos, Anthony passou a conhecer melhor o mundo underground
de Hollywood. Como ele conseguia ir para a escola nas noites
seguintes, é um mistério. Ou talvez
não, se algo chamado cocaína pudesse entrar em cena. À noite,
aprontava nos clubes de Hollywood, enganando a todos com seu
rosto angelical e roupas de estudante. Anthony ia levar Haya em
casa e saía denovo. Pela manhã, levantava, bufava várias vezes e
ia para a escola.
O punk rock estava explodindo em Los Angeles e Anthony estava
alucinado com o funk. O funk não era popular, era principal- mente
dos negros, e o som mais sexy que Anthony já tinha ouvido.
Anthony não tinha medo de andar pelos guetos durante a noite, e
passou a ir sozinho em busca de sua heroína. Os clubes dos
guetos de Los Angeles, de South Central a Bunker Hill, eram
diferentes dos clubes que ele havia visto antes. Os freqüentadores
eram negros em sua maioria, e eram muito mais baratos que os
de Hollywood.
Seus companheiros tinham de entender que não poderiam continuar tocando só aquele hard
rock"! Funk, aquilo era música! Funkadelik, Defunkt, Sly e Famyli Stone! Música feita para sexo.
Ele precisava colocar aquilo em suas cabeças!
Capítulo 3: Good Time Boys
O punk rock chegou em Los Angeles no final dos anos setenta, e com uma clara diferença do seu
primo britânico e mesmo do seu irmão de New York. O punk de Los Angeles tinha o som mais
violento e agressivo, e então, passou a ser chamado de hard core".
Das bandas daquele cenário, duas eram as mais importantes: Germs e Dead Kennedies. Os
Germs lançaram apenas uma gravação, "G.I.", em 1979. Um ano depois, seu líder Darby Crash
decretou o ponto final e mandou a banda para a história. Já os Dead Kennedies, de São
Francisco, foram mais sortudos, porém, não foram memos agressivos. Seu primeiro álbum,
"Fresh Fruits For Rotten Vegetables", de 1980, é um marco na história do punk e do hardcore
californiano. Ambas foram as mais expressivas bandas do cenário punk de Los Angeles, marcado
por drocas pesadas, principalmente a heroína. Outras bandas importantes de hardcore em Los
Angeles eram Circle Jerks, Black Flag, X, Social Distortion e Red Kross. Ainda ligados a esse
cenário, mesmo não sendo exatamente punks, estavam Minutemen, Butthole Surfers, TSOL,
Fishbone e Firehose.
Anthony recebeu com muito entusiasmo a explosão punk em Los Angeles. Apesar
de seu coração bater mais forte pelo funk, ele se via cada vez mais fascinado pela energia e força
do punk californiano. Ele e Hillel começaram a freqüentar clubes como o "00", o "Eldorado" e o
"Power Tools".
Comparado ao punk e ao hardcore, o estilo de música que seus amigos tocavam parecia ser de
outra era.
Anthony continuava apoiando, mas estava com a certeza de que se o Anthym não passasse por
uma mudança radical, logo seriam esquecidos. Ele começou a fazer seus amigos ouvirem o funk
e o hard core, olhando para um novo estilo. Apesar de não ser um membro da banda, Anthony
tinha forte influência no som do Anthym. Seus amigos o chamaram para ser o apresentador da
banda, e a forma como Anthony costumava abrir os shows deles, é parte da lenda: "Cal
Worthington os chama de os roqueiros mais quentes de Los Angeles. Seus parentes os chamam
de loucos, e as garotas o chamam a toda hora. Mas eu os chamo como os vejo, e eu os chamo
de AN-THY-M".
Os tempos de Fairfax High acabaram em junho de 1980 para Anthony, Flea, Hillel e Jack. Flea
estava certo de que viveria de música, então, não entrou na universidade. Passou a trabalhar
como assistente em um hospital, e à noite, tocava com sua banda. Anthony entrou na mesma
universidade onde seu pai estudou, a UCLA, e escolheu o curso de Ciências Políticas. Hillel e
Jack foram para o Norte. Durante seu primeiro (e único) ano na UCLA, Anthony parecia estar
colocando ordem na sua bagunçada vida. Deixou o apartamento que dividia com Flea e Hillel, e
mudou-se para o campus da universidade. Ele ainda estava com Haya, apesar de seu
relacionamento estar no final de sua existência. Como todos sabem, segundo a lenda, nesse ano,
aconteceu um episódio crucial em sua vida. Seu companheiro de quarto tinha uma amiga que
estava afim dele. Anthony alega que ela era muito obsessiva, mas ele não gostava dela. "Eu tinha
uma namorada, e eu não queria ficar com ela, mas ela era muito insistente. Ficava me mandando
pequenas mensagens, perguntando por mim o tempo inteiro e aparecia na porta do meu quarto a
qualquer momento".
Um dia, Anthony decidiu responder da única maneira que sabia. Como sempre, a garota bateu na
porta de seu quarto, como de costume. Anthony tirou toda a sua roupa e foi abrir a porta. A única
coisa que ele vestia era uma meia, no seu pênis e bolas.
Anthony planejava ficar na universidade por menos de um ano. Ele havia tentado, mas aquele
tipo de vida não era para ele. "Minha vida estava tomando uma direção totalmente diferente". Ele
estava perdendo seus amigos, suas noites nos clubes, aquela vida louca. Ele não tinha nada a
aprender na Universidade. Tudo o que ele precisava saber, havia aprendido na rua, apenas
vivendo. Não precisava de nada daquilo.
Na metade de 1981, ele e Haya terminaram. O fim de um namoro que durou por três longos anos
representou uma grande perda para Anthony. Em algumas semanas, ele abandonou a UCLA,
voltou para Hollywood, para viver com Flea e Hillel, começou a trabalhar em uma pequena
produtora de cinema, e sem nenhum medo ou hesitação, simplesmente se atirou em um abismo.
O histórico apartamento em Hollywood era o lugar mais sujo e fedido da região. Anthony, Flea e
Hillel acreditavam que para mostrar um ao outro sua afeição, eles teriam de dividir todas as suas
experiências, incluindo sexuais e corporais. "Nós éramos três garotos acostumados a dormir,
transar e nos drogar no mesmo chão", disse Anthony. Esse mesmo chão vivia cheio de
preservativos e seringas usados. Os amigos estavam interessados em passar o tempo fumando
maconha e bebendo cerveja, e ninguém estava interessado em colocar ordem. O síndico,
alarmado pelos vizinhos sobre o que acontecia no apartamento, tentava sempre descobrir, mas
era recebido por Anthony, pelado, na porta. As noites sempre acabavam com sexo, bebidas e
heroína. Anthony começava ali a se tornar um viciado em drogas.
Flea passou a ouvir punk. Como muitos outros adolescentes da época, Michael foi conquistado
pela força e pela agressividade do som punk, e só ouvia Germs e Circle Jerks; seu jeito de tocar
estava ganhando cada vez mais essa influência. A paixão de Anthony pelo punk hard core e pelo
funk estava influenciando fortemente seus amigos e companheiros.
Do apartamento de Hollywood, ecoavam os gritos de
Darby Crash e Jello Biafra, mas também, os ritmos de
Grand-master Flash e a primeira geração de rappers
de New York. A razão pela qual Anthony gostava de
rap é bem simples.
Apesar de não ter em mente o que seria de seu futuro,
ele sabia que era algo ligado a suas grandes paixões,
sexo e drogas: música. Mas de que jeito? Anthony não
sabia tocar nenhum instrumento e não parecia
interessado em aprender. Não sabia cantar. Apesar de
ter uma voz potente, tinha problemas com afinação.
Geralmente,
aproveitava suas
habilidades artísticas
escrevendo poemas e
contando piadas. As
frases que Anthony
usava par abrir os
shows do Anthym
estavam ficando cada
vez mais longas, e ele
começava a ser
conhecido nos clubes do circuito underground de Hollywood.
Sua personalidade extrovertida estava o ajudando, seu jeito de
comediante estava ficando mais popular que as
músicas de seus amigos. E agora, o rap oferecia
uma nova possibilidade: seus poemas e rimas
curtas poderiam virar um rap, com um background
musical. "O rap me deu a inspiração para que eu
pudesse fazer música sem ser um Marvin Gaye",
diz uma de suas famosas citações.
No verão de 1981, algumas coisas importante
aconteceram: Anthym mudou o nome para What Is
This, Flea saiu da banda, Anthony fez um moicano
e um novo canal de TV nascia. A transição do
Anthym para o what is This marcou uma evolução
natural.
Com o tempo, Anthony precisou fazer outra rima
para abrir os shows do agora, What is This. A
banda ainda era formada por Alain, Hillel, Flea e
Jack, mas Flea estava apaixonado pelo som punk,
que era muito contrastante com o som do What Is
This. Isso o levou a sair da banda. Depois de algum
tempo, Flea acabou entrando em uma banda punk,
chamada Fear.
Ele e Anthony continuavam vivendo várias aventuras pela Califórnia. Depois de um daqueles
inesquecíveis fins de semana, Anthony apareceu com um novo corte de cabelo, um moicano, e
Flea o imitou. A primeira conseqüência: foi demitido do hospital onde trabalhava. Mas não se
importou. Flae era um punk.
Anthony e Hillel usavam cada vezmais heroína, mas incrivelmente, Flea não.
Talvez porque Flea era mais frágil fisicamente do que seus dois amigos, ou porque
não tinha uma inclinação genética para esse tipo de coisa. O que é certo, é que apesar de
dividir praticamente tudo com Anthony e Hillel, Flea nunca foi um viciado em drogas desse
tipo. "Eu tentei, mas não gostei de como aquilo
fazia eu me sentir. Eu acordava de manhã me sentindo um bosta. Eu não conseguia tocar, não
conseguia pensar, não conseguia fazer nada. Então, resolvi que aquilo não era para mim", disse
Flea. Jack também preferiu ficar de fora disso, e essa foi o primeiro e inegável fato que foi
fazendo com que ele ficasse um pouco mais distante do grupo. Anthony e Hillel estavam ficando
cada vez mais fechados, e seu vício estava de alguma maneira, os separando dos outros dois.
Em uma noite quente, de agosto, Anthony estava em casa, vendo tv, com uma cerveja gelada em
uma das mãos e o controle remoto na outra, passando de canal em canal, até que encontrou um,
passando vídeos musicais. Aquilo era algo realmente novo! "Wow, música na TV, o que está
acontecendo?!", gritou.
A nova revolução estava começando, no início dos anos oitenta. O som da
banda não era mais o bastante. A maneira como elas viam a música tinha
mais importância. Um novo batalhão de ingleses começou a invadir as
ondas da MTV. Foi denominada de "A segunda invasão britânica". A
música agora tinha mais luz, e era influenciada pelo soul dos anos 70 e
pelos resquícios dos Beatles. "Naquela época, eu não tinha como ouvir
Duran Duran. Apenas alguns anos
depois que eu consegui, e percebi
que não era tão ruim", disse
Anthony recentemente.
Ouvir Duran Duran e Spandau Ballet estava fora de
questão para os punks de Hollypunk rockers. They
constituted a closed imwood. Eles constituíam
um ciclo fechado, e tudo que estivesse de fora, era visto
com superioridade e desprezo.
"Nossas bandas são consideradas underground, mas nós
temos muito mais a dizer do que todas as gravações do
top 40 juntas", disse Anthony.
O tempo se passava, e Anthony continua-va na mesma. A
heroína cada vez mais presente nos seus dias, e no
tempo que sobrava, ele andava de clube em clube, e
dormindo com várias mulheres diferentes. Depois de
Haya, Anthony teve muitas outras garotas. "Minha vida
sexual estava boa, e eu estava feliz".
Mas outra revolução estava por vir. Em 1982, os primeiros casos de AIDS nas comunidades gays
e entre usuários de drogas, foram divulgados pela imprensa, e começaram a ocupar as primeiras
páginas dos jornais americanos. Em 1983, todo o mundo falava sobra "a praga do século 21".
Apenas alguns meses depois, uma descoberta dramática: o vírus HIV não era somente
transmitido em relações homossexuais ou em seringas de drogas, mas também, em relações
sexuais de pessoas de sexos opostos.
Enquanto isso, Flea estava se sentindo muito frustrado com o Fear. O punk rock estava em seu
fim, é verdade, mas não era só isso. Devido ao comportamento de seu líder, Lee Ving, o Fear foi
considerado por muitos, uma banda homofóbica. Ving, que em 1983 estrelou um dos filmes mais
vistos do ano, o Flashdance, costumava xingar e ameaçar caras de cabelos compridos. Flea não
poderia ficar. Ele mesmo, pequeno e frágil, foi surpreendido por uma gang de caras homofóbicos,
quando estava no estacionamento de um supermercado, foi xingado e apanhou. Flea contou essa
história em Pea, do One Hot Minute. Ele não estava feliz no Fear, e também, não queria voltar
para o Whai Is This. E mesmo que quisesse, a banda já tinha um substituto em seu lugar. Para
ocupar seu tempo, Flea gravou um pequeno papel em um filme underground (cult), chamado
"Suburbia".
Flea, muito frustrado com o Fear, falou com Anthony sobre o que estava sentindo naquele
momento. "Eles que se danem", disse Anthony. "Eles não te mercecem. Você está desperdiçando
seu tempo". Flea pegou seu baixo e começou a tocar. Estava muito chateado. Na mesa, uma
tablatura do Defunkt. Ele começou a tocá-la, mas distorcendo, improvisando e modificando,
criando assim, uma nova melodia.
"Engraçado...", disse Anthony, ao ouvir a criação de seu amigo.
"O que?", perguntou Flea.
"Isso que você tocou. Eu escrevi algo que se encaixa perfeitamente", respondeu Anthony.
Flea parou de tocar: "O que você escreveu?"
"Não, não pare de tocar", disse Anthony, procurando em suas anotações. "Aqui está. Ouça-me".
"Isso é irreal. Insanidade. Perplexidade. É a mistura de tudo o que você faz na sua vida, e então,
você consegue. Sou feliz por ter feito isso acontecer".
Anthony falou, em 1998, falando sobre o dia em que tudo mudou. O início dos Red Hot Chili
Peppers, em abril de 1983, com o nome de "Tony Flow and the Miraculously Majestic Masters of
Mayhem" foi falado milhares de vezes. A banda nasceu subitamente, de uma idéia de Anthony.
Ele foi chamado para abrir uma apresentação do punk Gary Allen, recitando seus poemas e suas
piadas. Seria o começo, mas Anthony não queria começar sem os seus amigos. E a música que
ele escreveu em cima da linha de baixo criada por Flea o deixou muito entusiasmado. Então,
chamou Flea, Hillel e Jack, e pediu para que eles criassem um fundo musical, enquanto ele
recitava aquela letra, que agora, tinha um nome, "Out in L.A."
Antwan the Swan, from the pretty fish pond
Was a bad mother jumper, you could tell he was strong
He war a cold paisley jacket and a hellified hat
And between his legs was a sweat young lass
He threw a hundred women up against the wall
And he swore to fear that he'd love 'em all
By the time he got to ninety nine, he had to stop
Because that's when he thought that he heard a phone
Last night and the night before, I heard a
Fop outside, then I came in doors
Freak out!
Como todos sabem, "Out in L.A." foi tão bem aceita pelo promoter do clube, que
ele implorou para que Anthony e seus amigos repetissem o show... "se vocês quiserem, todem
até tocar mais músicas...". O único problema era que eles não tinham nenhuma outra música.
Eles na realidade, nem eram uma banda.
Escrever "Get up and Jump" em poucos dias, foi fácil. É um funk com a letra convidando todos a
"levantar e pular", e ainda mais, coisas faladas sem sentido, que não representam nenhuma
palavra, como por exemplo, em "Soul To Squeeze" e "Around The World".
Para uma banda nascida de um improviso, também não é difícil encontrar um nome. "Eu estava
caminhando em Hollywood Hills e vi esse nome, "piscando em um arbusto psicodélico". Segundo
Anthony, ele viu um arbusto de pimenta, com o nome 'RED HOT CHILI PEPPERS" escrito.
Também, os garotos adoravam comida mexicana, que é repleta de pimenta (chili). E também,
The Red Hot Peppers, era o nome da banda de apoio de Louis Armstrong, e Flea, que adorava
jazz e blues não poderia deixar isso em branco.
E finalizando, Anthony e Flea não haviam esquecido
aquela banda que viram tocar no pub em Londres, o
Chili Willy and the Red Hot Peppers. A propósito, o
nome era bom, e teve a aprovação de todos, então,
ficou.
Com o nome Red Hot Chili Peppers, os ex-Los
Faces fizeram seu segundo show, no Rhythm
Lounge, poucas semanas depois do primeiro. "Havia
muitas pessoas esperan- do", disse Flea. A terceira
música escrita por Anthony e seus amigos, foi
"Green Heaven".
Olhando o título, já dava para perceber um passo a frente.
Antes de qualquer coisa, alguns dos temas que viriam a ser inspiração de várias músicas futuras
estavam ali: amor pela natureza e animais, principalmente golfinhos; ataques ao sistema
americano; e algumas no estilo "new age". Com essas três músicas, e várias covers super
populares, os Red Hot Chili Peppers começaram a tocar pelos clubes de Hollywood, na primavera
e verão de 1983.
Mas...
O que exatamente eram os Red Hot Chili Peppers? Basicamente, uma banda punk/funk, formada
por quatro jovens amigos: Anthony, o vocalista; Hillel, o guitarrista; Flea, o baixista; e Jack, o
baterista. Mas para três dos quatro, aquilo não passava de um hobby. Hillel e Jack ainda eram do
What Is This, e eles acreditavam na banda, banda que eles criaram, na qual já tocavam ha alguns
anos. Flea, apesar de estar frustrado e insatisfeito, ainda era o baixista do Fear. Apenas Anthony
não tinha nada nas mãos. Inicialmente, isso não era problema algum. Hillel, Jack e Flea
continuavam tocando no Red Hot Chili Peppers e
em suas respectivas bandas, mas para todos que
assistiam os shows das bandas, consideravam o
Red Hot Chili Peppers anos luz a frente do What Is
This e do Fear. E algumas dessas pessoas eram
executivos de gravadoras, que começaram a
aparecer mais e mais.
Anthony tinha quase perdido contato com sua
família. Ele e Blackie se viam algumas vezes, mas as coisas já não eram as mesmas. Anthony só
acreditava em seus amigos, eles eram a sua real família. Por outro lado, toda vez que Blackie via
seu filho e percebia o que estava acontecendo, era devorado por um sentimento de
arrependimento.
Ocasionalmente, Blackie ainda tinha alguns papéis em uns filmes de TV, e também, tinha
começado uma "PR company".
Incrivelmente, ele sempre pegava personagens errados, e enquanto Anthony
estava descendo direto para o abismo, seu pai era forçado a viver interpretando um desses caras
que um dia ou outro pode ter assassinado seu filho.
No entanto, durante as gravações de um desses filmes, o diretor ouviu pela primeira vez os Red
Hot Chili Peppers. Ele tinha um amigo que trabalhava na indústria fonográfica, seu nome era
Mark Richardson, e um dia, sugeriu a seu amigo que fosse assistir a banda da qual todos
estavam falando. Richardson foi e imediatamente ficou incrédulo. Mas não é difícil de se saber o
motivo. Durante esses meses em que a banda passou fazendo shows, uma transformação
espetacular aconteceu. Basicamente, os Red Hot Chili Peppers eram quatro "animais" roqueiros,
fazendo shows devastadores. Flea não era mais aquele garoto tímido, com grandes olhos azuis.
No palco, parecia um selvagem, mostrando toda a força e a agressividade que conheceu com o
punk rock. Hillel, de tão virtuoso que era, parecia ter nascido no palco, com uma guitarra nas
mãos. Até Jack, o mais reservado do quarteto, quando sentava atrás de uma bateria, sofria uma
transformação milagrosa e inexplicável. E Anthony era o "frontman", o líder, vocalista que toda
banda sempre sonhou. Nos últimos meses, Anthony parecia estar fazendo florescer um novo
homem. Nada no seu físico fazia lembrar que ele era um viciado em heroína. Deixou os cabelos
crescerem e os clareava mais e mais. Ele era apenas um pouco mais alto que Flea, mas seu
físico era perfeito. Nos shows, algumas garotas mostravam-lhe os seios, e Anthony nunca recuou.
Os shows sempre acabavam em quase nudismo total, e a lendária apresentação no Kit Kat Club,
em setembro, quando eles apareceram no palco usando as famosas meias nos paus, veio para
coroar aquele inesquecível verão.
Desde quando Anthony colocou em prática pela primeira vez a
idéia da meia no pênis, ainda na UCLA, o mito começou a
nascer entre seus amigos também, que até então, tinham
usado as meias apenas para divertir suas parceiras em seu
apartamento. Mas naquela noite, no clube de strip, a tentação
para tocarem daquele jeito, pela primeira vez em público, foi
irresistível.
"Nós estávamos no backstage, no final de um show, e as
pessoas estavam nos chamando, querendo bis, e nós,
maravilhados com aquilo. Precisávamos fazer algo diferente,
então, fomos lá. Eu falei: 'vamos fazer isso, vamos fazer
isso!'", disse Anthony, em 1999.
Os Red Hot Chili Peppers voltaram para o palco, totalmente
pelados, se não fossem as meias em seus paus, e começaram a tocar "Fire", de Jimi Hendrix. A
performance foi assistida, sob um silêncio de perplexidade da platéia, que ao final, explodiu em
gritos e aplausos. A lenda havia nascido.
"Nós começamos tocando em pequenos clubes, e depois, percebemos que as
pessoas estavam prestando mais atenção no que estávamos fazendo e nós gostamos do fato de
estarmos criando arte, era um bom sentimento", disse Anthony. Mark Richard- son levou os
Peppers para um estúdio de gravação, gravou uma demo, e apresentou os garotos a um amigo,
um judeu chamado Lindy Goetz, que tinha um certo conhecimento no showbizz, e logo se propôs
a ser o manager da banda. Os rapazes disseram sim, Goetz começou levando a demo para as
principais gravadoras. A demo tinha cinco músicas: Out in L.A., Get Up And Jump, Green
Heaven, Sex Rap e Baby Appeal.
Depois de apenas seis meses de existência, em outubro de 1983, os Red Hot Chili
Peppers se viram em uma gravadora, com um contrato pronto para ser assinado. Então, todos os
problemas que durante aquele verão haviam sido jogados para debaixo do tapete, explodiram
dramaticamente.
Capítulo 4: Freaky Styley
"Quem são os Red Hot Chili Peppers?", perguntou o executivo da EMI.
"Eu, Flea, Hillel e Jack", disse Anthony, apontando para seu amigo: "Ele é o Flea". "Ótimo. E onde
estão os outros dois?", perguntou o executivo.
"Em alguma droga de escritório da MCA. Eles vão assinar um contrato idiota". "O-O quê??",
gaguejou, espantado o executivo. "Algum problema, cara?", retrucou Anthony.
Ninguém, exceto Flea, Anthony e o executivo da EMI, sabe exatamente quais foram as palavras
ditas naquele momento. Mas isso está realmente muito próximo do que foi dito naquele dia, em
novembro de 1983. Enquanto os Red Hot Chili Peppers recebiam uma proposta de contrato com
a EMI, um contrato semelhante era proposto ao What Is This, na MCA. Naquele momento, o
tempo de diversão havia terminado. A possibilidade de Jack e Hillel assinarem dois contratos
diferentes, como membros de duas diferentes bandas era inaceitável, ilegal. Tinham de escolher
uma. Hillel e Jack sentaram um de frente para o outro. Eles eram amigos desde a adolescência.
O What Is This era uma criação deles, mais que isso, era suas vidas por quase seis anos. Todas
as suas esperanças e ambições haviam sido depositadas naquela banda. E agora, depois de
trabalharem tão duro, e confiarem, a banda que eles começaram praticamente quando crianças,
tinha a chance de ser ouvida e conhecida em todos os lugares. Era mais do que eles poderiam
esperar. Conseguir um contrato com uma gravadora é um sonho de todas as bandas. Obter isso
depois de seis anos, é como chegar ao céu. O Red Hot Chili Peppers era apenas uma aventura
de um louco verão, um engraçado hobby. O What Is This era suas vidas.
"Isso vai machucar o Anthony por dentro", comentou Jack. "Eu sei. Mas nós não temos escolha",
disse Hillel.
Naquela noite, os dois comunicaram sua decisão as amigos. Anthony foi para casa e ficou
chorando, soluçando a noite inteira. Flea bateu a porta de seu quarto, e gritou: "EU NÃO LIGO
PRA ESSA DROGA!!!".
"Eu estou tentando entender", disse o executivo da EMI. "Nós oferecemos um contrato para uma
banda de quatro pessoas e vocês vêm me dizendo que agora são apenas dois. Isso está certo?".
Anthony balançou os ombros em sinal de indiferença. Aqueles executivos eram uns chatos. "E
que diferença isso faz?", perguntou Anthony.
"Porquê você não diz?" Flea falou enquanto o executivo parecia que ia dizer algo: "Vamos lá. Não
é difícil de entender: depois do dia em que vocês ofereceram a droga do contrato, a banda se
separou. Agora somos só nós dois".
O executivo não conseguia acreditar naquilo. "Quem é você?", perguntou ao Flea. "O que você
faz na banda? Toca alguma coisa?".
"Sou o baixista!", respondeu Flea.
"E quanto a você?", perguntou ao Anthony.
"Sou o vocalista e o sex symbol da banda!", respondeu Anthony.
"Ótimo. Então temos aqui uma droga de baixista e uma droga de um vocalista sex symbol.", disse
o executivo.
"Ei, eu não sou qualquer droga!", protestou Flea.
"Qual é o problema?", perguntou Anthony, coçando a cabeça.
"Isso é insanidade total.", disse o cara. "Onde diabos está o manager de vocês? É preciso falar
com os meus superiores".
A fita demo que tanto interessou a EMI não era a única gravada por eles naquele verão. Outras
foram gravadas em vários estúdios de Hollywood, e em todas as músicas gravadas, somente
algumas apareceram no primeiro álbum. Algumas eram apenas esboço de músicas como "Police
Helicopter", "You Always Sing The Same" e a famosa "Stranded", mas já tinham um grande
impacto nos shows. A EMI lançou aquelas demos na compilação "Out In L.A.", em 1994.
As gravações do álbum inicial estavam marcadas para janeiro de 1984. Lindy Goetz falou para os
remanescentes da banda, que procurassem um guitarrista e um baterista, o mais rápido possível.
Faltavam apenas dois meses.
Apesar dos ressentimentos no começo, a decisão de Hillel e Jack de não seguir com os Peppers
não arruinou sua amizade com Flea e Anthony. Negócios à parte, os ex- Los Faces continuavam
grandes amigos. Os quatro se juntavam nos finais de semana com muitas histórias para contar,
aventuras para planejar, e falar de seus relacionamentos amorosos. Hillel estava fivando com
uma bela loira, chamada Caroline Brick, que todos costumavam chamar de "Addie". Flea estava
começando a ficar com uma punk, estudante do segundo grau - ensino médio -, chamada Louisa
Zeviar, mas todos a chamavam de "Loesha". Anthony... bem, Anthony tinha várias mulheres, mas
naquele verão, passava as noites com Nina Hagen, cantora punk alemã que havia ido para Los
Angeles alguns anos antes. Apesar de ser muito mais velha que Anthony, Nina não resistiu ao
charme do vocalista dos Peppers. Dez anos depois, em Woodstock, Anthony a homenageou,
dizendo na frente de 200.000 pessoas: "Eu fiz amor com Nina Hagen. Ela é uma mulher doce
fazendo amor".
Em 1984, Anthony começou outro namoro durador. O nome de sua namorada era Jennifer Bruce,
uma bela viciada em heroína. Seu relacionamento com Anthony, que durou por quase dois anos,
não era diferente de outras histórias entre viciados. Apesar de um ser importantíssimo para o
outro, a heroína estava sempre em primeiro lugar.
Hillel e Jack ajudaram os amigos a reconstruírem a banda, apresentando-lhes dois amigos,
também músicos locais: Jack Sherman, guitarrista e Cliff Martinez, baterista. Não havia muito
tempo. No começo de 1984, os novos Chili Peppers
entraram no estúdio junto com o produtor Andy Gill e
começaram os trabalhos.
Andy Gill havia sido o guitarrista da banda Gang Of Four,
uma banda britânica, pós-punk, e no início dos anos 80,
mudou-se para Los Angeles, pensando em se tornar
produtor. Encontrou quatro garotos californianos que não
tinham a menor idéia de como ele trabalhava em estúdio.
As relações não foram
das melhores. Andy quis
colocar sua influência a
peso, no som dos Chili
Peppers. "Ele apenas falava: Dane-se, faça isso. Vai soar legal".
Anthony foi mais resumido: "Ele era britânico demais para nós".
"The Red Hot Chili Peppers" é considerado por todos um dos
piores álbuns da banda. Algumas outras nem pensam no álbum
como sendo parte da discografia dos Peppers.
Foi lançado em agosto de 1984, e vendeu muito pouco. Além das músicas já conhecidas há
algum tempo em seus shows, apenas uma música poderia ser comercializada: "True Men Don't
Kill Coyotes", que se tornou o primeiro single da banda.
MTV apresentou os Chili Peppers no MTV News no verão de 1984. É claro que os únicos
membros entrevistados foram Anthony e Flea. Anthony tinha clareado o cabelo, usava um boné
azul e vestia uma camiseta branca. Flea fez a entrevista segurando um cachorro.
"Nós estamos indo rumo ao mundo, vamos espalhar a nossa vibração em qualquer lugar onde
estivermos", disse Anthony. Quando perguntado sobre sua música, Flea respondeu: "Nós
tocamos bone-crunching mayhem para o paraízo. Anthony disse: "Eu e Flea somos os melhores
amigos. E Flea concluiu: "Nossa música é uma explosão de luz e som".
E uma explosão de luz e som era o vídeo de "True Men Don't Kill Coyotes", exibido pela MTV e
um pouco esquecido depois. Anthony e Flea estavam muito escitados, e até Jack Sherman, com
uma cômica roupa, finalmente parecia um guitarrista do Red Hot Chili Peppers. O vídeo também
tinha algumas cenas dos rapazes pintados com uma tinta em cores neon. Em 1999, um jornalista
perguntou ao Anthony se ele ainda se lembrava que nos primeiros vídeos costumava usar tintas
de neon. Anthony respondeu: "Claro, eu lembro. Eu mudei muito desde aquela época. Sinto falta
daquele jovem Anthony. Mas ele continua aqui, em algum lugar".
Os Chili Peppers começaram a tocar pelo mundo, ou talvez, apenas pela América, ou então,
apenas pela costa oeste e médio-oeste, em outubro de 1984. Os rapazes, em um micro ônibus
Chevy, e enquanto viajavam de cidade em cidade, passavam o tempo com atividades culturais.
Anthony nunca deixou de provar as "delícias locais", mas não se referindo às especialidades da
cozinha. Era constante a presença de vendedores de drogas no backstage. Um desses, anônimo,
de L.A. falou certa vez: "Todas as vezes que os Chili Peppers chegavam em alguma cidade, logo
aparecia um vendedor. Eles eram dos melhores fregueses".
Flea estava certo de que seu melhor amigo estava indo por um caminho errado. Por outro lado,
todos os seus amigos eram mais, ou menos viciados nessas drogas. Ele, dizia não a todos os
tipos de poções de cogumelos ou cocaína. Já Anthony, parecia estar pronto para dividir sua vida
na estrada com seu vício. Flea decidiu deixar de lado todas as suas preocupações.
Mas a vida na estrada é difícil, e o contato próximo entre quatro pessoas, durante 24 horas por
dia, facilmente cria irritação e ressentimentos. Quando estava cansado e nervoso, Anthony
costumava descontar em Jack Sherman. Ele estava sentindo a falta de Hillel e não podia crer que
tinha Sherman ao invés de Hillel ao seu lado. Cliff Martinez era um cara legal, mas Sherman era
um chato! Enquanto os garotos faziam suas farras e bagunças com os roadies, Sherman abria as
janelas do ônibus com um olhar de quem não estava gostando. E ele sempre se dizia cansado e
com sono quando os outros estavam se divertindo e compartilhando os momentos alegres. Usar
drogas na frente dele
estava totalmente fora de questão. Aquelke mala poderia chamar os policiais a qualquer
momento! E sempre que colocava a meia no pênis, parecia estar fazendo aquilo com se estivesse
sendo forçado.
E por último, como guitarrista, não tinha a habilidade de Hillel.
O que Hillel e Jack estavam fazendo naquele momento? Eles tinham perdido o contrato de
gravação, e aquele futuro rosa, em alguns meses transformou-se em um cinza pesado. Até então,
o What is This tinha gravado apenas um EP, chamado "Squeezed". Todas as pessoas que
ouviam, julgavam melhor que o álbum "The Red Hot Chili Peppers". Mas Hillel não estava feliz.
Estava sentindo falta de Anthnoy e Flea, e tinha muitas duvidas sobre a direção que o What Is
This estava seguindo. Também estava tendo problemas com sua namorada e com as drogas. Em
dezembro de 1984, ele escreveu em seu diário: "Logo eu irei diminuir o uso de drogas,
especialmente heroína. Ela age como uma cobra... sem problemas, mas em demasia é ruim". E
sobre sua banda, escreveu: "What Is This estava estranho para mim, mas não tenho certeza se
quero voltar para os Peppers e ser feliz. Tenho medo de arruinar valiosas amizades".
Anthony não tinha problemas quanto a isso. No final da primeira turnê dos Peppers, em janeiro de
1985, já estava com a paciência esgotada em relação ao Jack Sherman. Não poderia nem pensar
na hipótese de estar na mesma banda que ele, nem por um segundo.
"Aquele idiota está fora", disse Anthony ao Flea. Flea arregalou os olhos, mas não tentou mudar a
idéia de seu amigo.
"Certo", disse Flea. "Quem vai dizer isso a ele?", perguntou.
"Nós vamos", respondeu Anthony. "Amanhã de manhã nós iremos até a casa dele
mandá-lo ir se danar".
A manhã chegou, e os dois foram até o apartamento de Sherman, que estranhou, afinal, eles
nunca haviam feito nenhuma visita, ainda mais, àquela hora da manhã. Nem Flea nem Anthony
queria falar primeiro.
"O que vocês querem aqui?", perguntou Jack.
"Jack..." Anthobe começou a falar, mas uma risada o fez parar. "Flea, diga a ele". "Você está fora,
Jack", disse Flea, em lágrimas. "O QUE??" - Sherman não acreditava.
"Yeah!", disse Anthony, "Vá se danar!".
Hillel voltou para a banda. Agora, os Chili Peppers eram: Anthony Kiedis no vocal, Hillel Slovak na
guitarra, Flea no baixo e Cliff Martinez na bateria. Jack Irons continuava no What Is This. "Eu
sabia que eventualmente o Hillel voltaria para os Peppers. E depois de tudo, ele e Alain não
estavam mais se dando bem", disse Jack.
A principal razão de Hillel e Alain não estarem se dando bem,
é bem simples: Hillel estaba seguindo os passos de Anthony
e estava pronto para mergulhar no abismo junto com seu
melhor amigo. Agora, o Red Hot Chili Peppers tinha dois
viciados em drogas. Em pouco tempo, começaram a gravar
um novo álbum. Anthony estava tão feliz por ter de volta seu
melhor amigo, que não ligava para mais nada. Hillel o ouvia,
dava-lhe sugestões, o fazia rir. "Hillel me amava como
nenhum outro amigo", disse Anthony em 1996.
Hillel escreveu: "É muito fácil para nós (ele e Anthony) nos
alimentarmos um da energia do outro". Hillel costumava
importunar Anthony por causa de suas esquisitices: ele dizia
que enquanto um dos olhos de Anthony olhava para o quarto
andar, o outro olhava para o quinto.
Mas chegou uma hora em que usar drogas não era mais algo divertido. Em vez de
compartilharem diversão, se afundavam em tristeza. "Apenas porque nos amávamos. Um não
queria ver o outro naquele estado".
Depois da desastrosa experiência com o primeiro álbum, os Chili Peppers decidiram que
escolheriam o produtor ideal para sua próxima gravação e
impuseram sua escolha à gravadora. Eles não queriam um
outro Andy Gill. Então, quando foram comunicar sua decisão à
EMI, não hesitaram: "Nós queremos o George Clinton". Quem
tivesse o múnimo conhecimento sobre funk e black music,
sabia quem era George Clinton. O criador do Parliament e
Funkadelik e do seu funk psicodélico, estourado no mundo
inteiro com as bandas Sly e Family Stone, e o próprio clinton,
que estava vivendo em retiro, na sua cidade natal, Detroit, por
alguns anos. Era 1985. Ano do band aid, USA for Africa, Live
Aid. "Droga, olhe isso", comentou Anthony, com desgosto:
"Milionários contra a fome!". Isso fez com que naquela tarde,
ele escrevesse "Milionaires against hunger". "Vou colocar isso na próxima gravação", pensou. Os
Chili Peppers eram contra o sistema. Não imaginavam que ninguém estava os levando a sério.
Seu comportamento provocante estava dando nos nervos de algumas pessoas.
Os trabalhos de pré-produção do álbum começaram em março, em um estúdio de Los Angeles. A
banda tinha material novo, mas agora, precisava do toque de um expert. George Clinton
conheceu os garotos em Los Angeles, e ficou bem impressionado com a simpatia e o
conhecimento musical deles. Mas Clinton era um viciado em cocaína recuperado, o que o tornou
totalmente contra drogas, e não cansava de dizer que Hillel e Anthony estavam inpo por um
caminho errado. George Clintonn achava
que deixar os rapazes longes de Los
Angeles e das tentações pudesse ajudá-
los, e então, propôs que a banda fosse
gravar em seus estúdios, chamados
"United Sounds", localizados em Detroit,
Michigan. Anthony estava em casa.
Em 16 de março de 1985, Hillel escreveu:
"Sábado, anoitecendo no estúdio... longo
dia, longa noite, longo dia. Tudo está legal,
Peppers fazendo bom som, gravando.
Terça-feira deixaremos Detroit". O que é
certo mesmo é que Anthony estava
escrevendo letras para as novas músicas,
falando de sua lendária sexualidade.
"George Clinton nos disse para tocarmos
levando totalmente para isso. Funk é a música hardcore expressando as emoções. Guerra e paz,
amor e ódio".
OK, então, deixe o sexo então! "Black-eyed blonde", "Lovin and Touchin", "Catholice School Girls
Rule", "Sex Rap", "Thirdy Little Birds". Todas essas pareciam abrir caminho para o "Renascimento
Musical", fundado pela esposa do então senador Al Gore, Tipper.
George Clinton tinha uma boa imprensão dos garotos. Acima de tudo, por Hillele, um jovem e
promissor garoto, que junto com seu amigo Anthony, estava se destruindo. sua idéia de afastá-los
de Los Angeles para desviá-los das drogas havia fracassado. À noite, quando as sessões de
gravação acabavam, eles saíam por Detroit, procurando cocaína para cheirar.
"Enquanto estávamos em Detroit gravando o Freaky Styley, eu, Flea e Hillel consumimos
cocaína. Sob efeito dela, poderíamos nos sentir como miseráveis ou dançar, sermos absurdos",
disse Anthony.
Clinton conhecia uma pequena lagoa perto dos estúdios, e descobriu que Anthony adorava
pescar, então, todas as manhãs o tirava da cama e o levava para pescar, com a esperança de
afastá-lo do vício, mas em vão. Para Clinton, ele podia terminar alguma coisa. Ele levantava,
vestia-se, gravava e ia para a lagoa com George, os dois felizes, armados com linha e vara de
pesca.
Freaky Styley foi lançado em setembro de 1985. Dessa vez, todos
concordaram que o segundo álbum dos Chili Peppers era melhor que o
primeiro. Mas... o resultado ainda não foi completamente satisfatório. A
banda costumava dar o máximo de si em suas performances ao vivo e
todas as pessoas que assistiam pelo menos um dos devastadores
shows, e depois ouviam a gravação, inevitavelmente percebia a
diferença.
Então, tão logo o álbum foi lançado, os Peppers partiram para a estrada.
A tour do Freaky Styley foi a maior e mais ambiciosa dos álbuns mais
antigos. Durou praticamente seis meses, de setembro de 1985 a março
de 1986, incluindo shows em festivais, muito maiores que os de costume. Agora que Hillele
estava de volta, os caras estavam livres para festas, celebrações e nenhum deles parecia sentir-
se contrariado. Em 1989, falando à revista "Alternative Press", Anthony e Flea discutiram sobre
um dos primeiros shows daquela tour, em Pitsburgo, em outubro de 1985.
Anthony: Aquele foi o nosso melhor show em Pitsburgo de todos os tempos.
O entrevistador, Jason Pettigrew, comentou: "É, foi o que eu ouvi falar. Um cara que estava lá me
disse que foi o melhor show. Eu acho que o nome dele era Ben..." Flea (Gritando): Beeeeennnn!
Ele era tão louco quanto nós!" "Tá brincando?", perguntou o jornalista.
Flea: "Ele nos disse que nunca seríamos capazes de fazer tours novamente se continuássemos a
tocar daquele jeito. (Para Anthony) Lembra da grande conversa que tivemos? Nós fizemos nosso
show e fomos embora... Anthony pegou um pacote de pipocas, colocou na boca, mastigou, e
vomitou no lugar inteiro. Ficamos lá e fizemos uma comédia de duas horas".
A banda estava viajando no ônibus, como de costume, com os roadies e com Lindy Goetz, mas
agora que Jack Sherman não estava lá para controlar, os caras faziam loucuras o tempo inteiro.
As comidas também geravam episódios curiosos dentro daquele ônibus. Uma vez, depois de
tanto comer biscoitos, Anthony precisou correr para o banheiro do ônibus, colocando o estômago
para fora.
"Nós parávamos nas lanchonetes pelas highways e comprávamos porções de 'tudo o que tivesse
pimenta', e comíamos no ônibus. Mas as pimentas pareciam nos dar uma complicada atividade
intestinal, e então, o ônibus não cheirava como rosas. As sessões no banheiro eram muito
intensas".
No meio da turnê, um show em Grand Rapids. Era a primeira vez que Anthony estava tocando
em sua cidade natal, e Peggy não podia perder a oportunidade de ver seu bebê controlando a
multidão. Anthony convenceu os outros a tocarem com as lendárias meias nos pênis. No dia
seguinte, nas manchetes dos jornais locais: "Se eu tivesse um filho assim, eu o matava".
Nos primeiros meses de 1986, a tour chegou ao estado final. No dia primeiro de fevereiro, Hillel
escreveu: "No Hilton, em Chicago. Foi um belo show. Dividindo o quarto com Swan, estamos os
dois, doidos de heroína".
Flea não podia mais suportar isso. Anthony e Hillel
estavam fora de controle.
No final da turnê, Flea viu que Cliff Martinez e Lindy
Goetz não tinham nenhum poder sobre os dois
amigos. Flea estava completamente sozinho.
Quando a turnê acabou, Anthoy foi para o Havaí
com Jennifer e Hillel foi para a sua bela casa, a qual
chamava de "O Castelo". Flea voltou a ver Jack
Irons. Ele não estava feliz, What Is This estava no
fim de seus dias e ele estava de saco cheio.
"Eu preciso de você. Não posso fazer isso sozinho.
Anthony está se destruindo e Hillele está tentando
imitá- lo. Não sei mais o que fazer, só você pode me
ajudar. Por favor, volte".
Cliff Martinez era um cara legal e um ótimo baterista, mas os Chili Peppers, naquele momento,
precisavam de muito mais que isso. Jack disse a Flea que pensaria no assunto. Anthony voltou
para Los Angeles, e foi quanto Jack chamou Flea e lhe disse que estava de volta aos Peppers.
Os Chili Peppers fizeram uma pequena tour pela Flórida e foram para a Europa, onde tocaram
com George Clinton para uma Televisão Alemã. Alguns dias antes, um single havia sido lançado,
"Catholic School Girls Rule", cujo videoclipe não fes muito sucesso e foi censurado. Foi o
segundo single, depois de "Jungle Man", e não vendeu bem. MTV era Lei e Ordem, não muito
diferente dos dias de hoje, e se um clipe não fazia sucesso, o mesmo acontecia com o single.
Então, a banda voltou para o estúdio. Apesar de o Red Hot Chili Peppers ter voltado à sua
formação original, eles não tocavam juntos há dois
anos, e precisavam se entrosar novamente. Eles
tinham algumas músicas escritas, e queriam testá-las.
As sessões foram logo chamadas de "Uplift Mofo Party
Plan", apesar de que ninguém estava pensando que
pudesse se transformar em um álbum. No momento,
tudo o que eles queriam era tocar, e os primeiros
resultados eram fantásticos. Hillel era o mais
entusiasmado: "Isso será um hit, tem que ser. Todas as
músicas são muito boas".
Quem viu Anthony Kiedis no vídeo de "Catholic School
Girls Rule" ou no show da TV Alemã, não acreditava no
que acontecia tão logo as luzes se apagavam. Aquele
cara com tão boa aparência e cheio de energia deixava
o palco, e sem nem pensar em qualquer outra coisa,
corria para as zonas mais degradadas da cidade e
passava o resto do dia lá, junto com as pessoas mais perigosas da área. Mas aquilo acontecia
todos os dias.
Ele e Jennifer tinham praticamente se separado, Anthony não tinha mais amigos, não estabelecia
nenhum tipo de relação com sua família, quase não tinha um lugar para viver.
"Tudo o que eu tinha era uma conexão com um cara chamado Mario, ex-integrante de uma gang
da mafia Mexicana. Eu e ele costumávamos andar pelo centro da cidade atrás de próximos
pontos", disse Anthony anos depois.
A máfia Mexicana, como todas as outras no mundo, não era boa. "Em uma tarde", continuou
Anthony, "estava muito quente, pois o sol estava fora por dias, nós fomos para aquela ponte. Uma
ponte em uma estrada e a única certeza que se tinha era que os membros da gang estavam
sempre lá, e eles me deixaram ficar também, porque Mario disse a eles que eu estava com sua
irmã, o que era mentira, então, nós pudemos ficar sob a ponte e usar a droga".
Anthony tinha simplesmente atingido o estado final, o ponto sem volta, muito fundo, e naquela
tarde, ele finalmente entendeu isso. "Aquele foi o ponto mais baixo da minha vida", disse. O efeito
dessa revelação não foi imediato. A heroína cancelava tudo e quando começava a correr por
suas veias a sensação que ele sentira anteriormente, começava a desaparecer
A vida voltou ao normal. Os Red Hot Chili Peppers não tinham um
nova gravação para promover, mas decidiram voltar para a
estrada. A essa altura, o desastre vaio à tona. A tour foi chamada
por Anthony de "A Pior Tour", e estava claro que inguém naquele
momento estava se sentindo ior que ele. Hillel não era muito
diferente, mas era mais cuidadoso e reservado. Quando queria
comprar suas drogas, pedia para alguém que o fizesse.
Anthony ia pessoalmente, conhecia os vendedores e os convidava
para o backstage, os pagava sob a luz do dia, como quem compra
doces. Sua performance estava cada vez pior. Flea e Jack, com
cada vez mais desgosto. Flea havia tentado de todas as formas ajudar seu amigo, mas agora
estava começando a deixar de lado. Que diabos, era hora de Anthony se limpar se quisesse
continuar.
Quando a tour acabou, Flea chamou Anthony para uma conversa, e sem rodeios, falou:
"Anthony, você está fora".
Anthony mal podia ouvir. O que aquele baixinho de olhos azuis queria dele? Estava tirando
Anthony da banda?
"Você quis assim, companheiro", disse Flea, "Vá se limpar ou você está fora. Definitivamente".
Flea sabia muito bem que sem Anthony, os Chili Peppers não faziam sentido, e também, não
queria passar por cansativaas audições à procura de um substituto para seu amigo. Mas àquela
altura, Flea já era um expert em vida e psicológico de viciados, e o contato próximo com dois
deles foi crucial para perceber que tinha de abrir o jogo, ou estavam perdidos. Anthoy e Hillel não
podiam ser esquecidos. O tempo viria e faria alguma coisa.
Depois de receber vários insultos de seu amigo e de sua família, Anthony percebeu que Flea não
tinha tanta culpa. Ele não era um viciado em heroína. E... e depois de tudo, ouví-lo não era uma
má idéia. Em um raro momento, Anthony olhou-se no espelho e sua face, com olhos vazios não o
deixou muito bem.
"Eu tinha percebido que as drogas haviam deixado de ser uma diversão e começaram a invadir a
minha vida, tornando-se influências negativas", confessou, anos depois.
Anthony também sabia que sua banda era muito importante, e não queria correr o risco de perdê-
la. Se isso acontecesse, nada poderia segurar sua queda livre no abismo. Ele e Hillel falavam em
procurar logo uma luz no tunel.
"Isso está nos matando", disse Amthony para seu amigo, "está nos levando para uma estrada
escura. Precisamos tentar parar. Quando voltarmos para Los Angeles, vamos parar, ok? Hillel
negou. Então, os dois foram procurar seus respectivos fornecedores.
Agora, Anthony e Hillel de volta a Los Angeles, mas Flea apenas perguntou para Anthony, se ele
ia se limpar. Isso não era tão certo.
"E quanto ao Hillel?", perguntou Anthony, "Porquê você não diz pra ele que ele está fora da
banda também? Porquê justo eu?"
"Hillel não é tão viciado quanto você", disse Flea, balançando a cabeça.
"Você não entendeu nada", gritou Anthony, "VOCÊ NÃO SABE DE NADA!!"
Anthony estava totalmente certo, mas apenas os eventos do verão de 1988 poderiam lhe dar
crédito. Mas Flea parecia totalmente irredutível. Anthony foi chorando procurar Hillel.
"Nós temos de nos limpar juntos", disse, "e agora vocês todos descarregam em mim, você
também".
Hillel colocou a cabeça em sua mesa de desenho. "Vamos lá, Swan, não é tão ruim assim". Ele
começou a desenhar Anthony para consolá-lo.
"Você vai encontrar garotas quentes no Centro, vamos. E eu irei te ver".
"Você vai me ver e levar alguns bons materiais?", perguntou Anthony, aliviado.
"Claro que sim. Se eu parar", respondeu Hillel.
Hillel havia terminado com Addie alguns meses atrás e começado um novo namoro com uma
garota chamada Maggie. Maggie era, é claro, uma viciada em heroína, e estava tento uma
relação estranha também com Anthony, mas ele nunca quis falar sobre ela.
"Eu acho melhor para mim, deixar Maggie de longe. Só posso dizer que ela inspirou a música 'No
Chump Love Sucker'".
Não sabe-se muito se Anthony completou seu primeiro tratamento de desentoxicação. Parece
que Blackie estava o ajudando relativamente, porque conhecia algumas pessoas que haviam se
tratado no mesmo centro. Os terapeutas usavam, vários tipos de tratamento, antigos ou
mofernos, para combater às crises, e um deles é a acupuntura. Anthony gostou daquela terapia
"alternativa". Ele achava que aquilo poderia ajudá-lo bastante.
"Acupuntura é a geração dos nervos, a geração da vida!", comentou em 1991. Na realidade,
como alguns viciados em drogas, Anthony desenvolveu uma certa atração por agulhas como
agulhas, e a idéia de poder ser curado por elas penetrando em seu corpo era realmente apelativa!
A mesma paixão por agulhas viria a cobrir metade de seu corpo com tatoos de vários tipos, mas
isso aconteceria apenas alguns anos depois.
Ninguém sabe como Hillel escapou de ir para o Centro de Recuperação com suas substâncias. O
certo é que finalmente, Anthony saiu limpo e em forma. Ele levou a sério o tratamento e com
certeza isso ajudou quando em algumas semanas depois, se submeteu a seu primeiro teste de
HIV. Apesar do alerta mundial, como muitos outros viciados, Anthony compartilhava suas
seringas com os outros, e àquela altura, as conseqüências daquele descuido o assustava.
"Era paralizante", disse em 1994 para a Rolling Stone, "Eu estava em agulhas por dias". Mas
também dessa vez, as estrelas estavamdo seu lado, e o teste deu negativo.
A primeira coisa que Anthony fez quando saiu da clínica foi procurar um novo apartamento em
hollywood. A segunda, foi escrever uma nova música, cheia de boas intenções,"Fight Like A
Brave". A terceira, foi chamar Jennifer e perguntar se ela tinha alguma substância boa para lhe
dar.
If you're sick-a-sick 'n' tired
Of being sick and tired
If you're sick of all the bullshit
And you're sick of all the lies
It's better late than never
To set-a-set it straight
You know the lie is dead To give yourself a break
Get it through your head
Get it off your chest Get it out your arm
Because it's time to start fresh
You want to stop dying
The life you could be livin'
I'm here to tell a story
But I'm also here to listen No I'm not your preacher
And I'm not your physician I'm just trying to reach you
I'm a rebel with a mission
Quando Flea ouviu a música escrita por Anthony, se convenceu de que seu amigo estava
recuperado e determinado a ficar limpo. "Fight Like A Brave é uma metáfora, para encorajar todos
aqueles que acham que não têm mais nenhuma chance", explicou Anthony.
Anthoy voltou para o Red Hot Chili Peppers, que o recebeu de braços abertos. Durante sua
ausência, Flea, Hillel e Jack compuseram várias músicas e Flea atuou em dois filmes. E
finalmente, Flea se casou! Aquela estudante punk tornou-se Sra. Loesha Balzary! Flea foi ao
tatuador mais próximo e tatuou o nome dela, permanentemente sobre seu peito esquerdo, sobre
seu coração.
Anthony realmente aprendeu uma lição naquele tempo: do Hillel. Bastava de sedrogar em
público, de vendedores de drogas o caçando em todos os lugares, de se expor. Agora que todos
acreditavam que ele estava limpo, era a hora certa de fazê-los continuarem acreditando.
Todos diziam que Anthony era um viciado em heroína, que estava se drogando, Anthony aqui,
Anthony ali, e ninguém olhava para o Hillel, que se drogava tanto quanto ele, se não mais que
ele.
Só para começar, Anthony prometeu para si mesmo que nunca mais voltaria para a ponte. Ele
não precisava se misturar com aqueles caras. E em nenhum caso ele falou que Mario tinha
voltado para a cadeia.
Mas o que era mais importante agora era se concentrar no novo álbum. Os caras tinham escrito
várias músicas enquanto ele estava na recuperação e agora precisavamo começar a trabalhá-las.
Como de costume, o primeiro problema foi encontrar um produtor. Os Red Hot Chili Peppers
conheceram vários candidatos, mas nenhum deles parecia adequado. "São todos idiotas", disse
Flea.
"Que tal Rick Rubin?", propôs Lindy Goetz. Rick rubin foi o fundador do selo Def Jam, o mentor
dos Beastie Boys, Rum DMC, LL Cool J. Uma figura chave no hip hop e no rap de New York.
"Rick Rubin?", perguntou Anthony, "O barbudo?".
Um encontro foi logo marcado entre os caras e o barbudo. Mas talvez tenha acontecido no dia
errado. Hillel parecia estar altamente drogado. Anthony parecia estar ainda perturbado por sua
última sessão de acupuntura. Flea parecia ter tido sua primeira briga com Loesha. Jack parecia
estar com dor de dentes. Isso certamente assustou Rick Rubin, que em menos de uma hora foi
embora. "Aqueles caras realmente me deixaram com uma sensação horrível", ele disse anos
depois.
Capítulo 5: Me And My Friends
O produtor escolhido pelo Red Hot Chili Peppers depois de várias entrevistas foi Michael
Bainhorn, que já havia trabalhado com Nona Hendrix e Herbie Hancock. Beinhorn conheceu a
banda e sentiu boas vibrações. O fato de dois deles estarem drogados não o assustou.
No dia 1º de abril de 1987, Hillel escreveu: "Beinhorn está muito entusiasmado como todos". O
produtor era conhecido por sua disciplina quase militar, e na época, mudou-se para uma casa
perto de Anthony, podendo assim, controlá-lo de perto. Quando estávamos trabalhando com
George Clinton, gastávamos muito tempo relaxando e nos divertindo.
Com Beinhorn foi muito diferente. Nós trabalhamos duro", disse Flea.
Anthony foi mais direto: "Beinhorn é muito retentivo", disse, e aquele era aparentemente o pior
insulto que ele poderia imaginar.
A banda tinha finalizado 5 músicas, mas para Beinhorn, isso não era o bastante.
Aqueles garotos precisavam de alguém para chutar seus trazeiros!
"Malditas drogas!", Hillel continuou escrevendo,
"Música é o meu destino... Eu rezo para que Anthony
volte à alma cósmica, e um novo amor e respeito irão
acontecer".
Nos primeiros meses de 1987, estava claro para todos
que o Anthony feliz, recuperado das drogas, não existia
mais, e ele estava novamente dependente.
"Eu não reclamo da nossa mútua procura por drogas",
meditou Hillel sobre seu melhor amigo, "a eu não
ponho os dedos, mas comigo mesmo, eu acho
hipocrisia".
Anthony tinha terminado o namoro com Jennifer, mas
ela continuou sendo uma grande amiga, e o ajudava
tanto no esforço para ficar limpo das drogas, quanto no esforço para encontrar as melhores
substâncias. Hillel também terminou com Maggie.
Aquele verão foi passado quase todo no estúdio, trabalhando feito loucos na nova gravação, e
todos sabiam que ela era crucial para a banda. Quando o "The Uplift Mofo Party Plan" completou-
se, a banda começou a celebrar. "Nós estávamos certos de que nossa
gravação estava tão boa", Anthony disse, "Eu especialmente,
abençoado porque pouco tempo antes eu tinha sido posto para fora da
banda por causa do meu vício em drogas. Foi um tempo de
celebração". "The Uplift Mofo Party Plan" foi lançado em setembro de
1987, com o single "Fight Like A Brave". Um vídeo engraçado foi
gravado, e se não muito exibido na MTV, pelo menos, foi ao ar muito
mais que os seus antecessores. E em poucos dias, a turnê começou
novamente.
Em 13 de outubro, Hillel escreveu: "No dia 21 nós partiremos para uma
tour de 2 meses, com 3 dias de folga... Faith No More vai abrir... Nós
viajamos em uma grande casa móvel... Eu sinto, em algum jeito, que meu tempo está limitado".
Anthony tinha certeza que estava amando novamente. Era uma garota, ele gostou muito dela.
Anthony a conheceu em uma festa, depois do lançamento do "Uplift", e desde então, não parava
de pensar nela.
"Droga, Anthony, ela tem 16 anos", disse um amigo.
"E daí? Ela faz sexo como se fosse 10 anos mais velha. Venha, olhe para Flea e Loesha, ela
também é uma adolescente e eles são felizes. E também, para sermos mais corretos, Ione tem
17 anos".
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  • 2. Anthony Kiedis: o vocalista, o poeta, o deus do sexo. Você já ouviu a sua voz. Hipnotizado por suas letras e maravilhado com seu charme, agora leia a Soul to Squeeze, uma biografia não oficial de Anthony Kiedis. Primeiramente, eu gostaria de agradecer: Pascalle e Maria, que me deram as informações que eu requisitei. Em segundo lugar, gostaria de agradecer a todos os fãs do Red Hot Chili Peppers no mundo e em particular, àqueles que estiveram comigo nessa aventura que já vai fazer anos, ao Jason, Yvette, Michelle, Zoe a todos os meus amigos do The Red Hot Chili Peppers Forum/Ezboard e do Forum One Hot Globe. E em último, mas não menos importante, meu editor, o grande Ardnac e Ken. NOTA DO AUTOR: Essa biografia é baseada principalmente nas entrevistas e nos fatos que eu li na imprensa, e na minha opinião, é realmente confiável; Eu apenas resumi as coisas que eu ouvi dele mesmo ou de suas pessoas próximas. É claro que algumas coisas podem ser imprecisas, mas nada foi inventado. Enquanto estiver lendo, você vai perceber que eu escrevi alguns diálogos entre Anthony e Flea, Anthony e Hillel, e outras pessoas. É óbvio que os diálogos foram criados por mim, porque mesmo que eu estivesse lá, eu precisaria no mínimo de um gravador para reproduzir tudo fielmente. No entanto, coloquei esses diálogos apenas para dar mais luz às histórias que todos nós conhecemos (você verá que os diálogos são inseridos naqueles pontos que nós já conhecemos da história). E essas conversas também são baseadas em fatos reais e escritas baseadas no estilo típico de expressão das pessoas envolvidas. Dave Thompson também colocou alguns diálogos baseados em sua intuição, no seu livro sobre o Red Hot Chili Peppers. Eu apenas segui o mesmo exemplo. Penny Lane
  • 3. Capítulo 1: Mommy, Where's Daddy? As origens da família Kiedis são estranhas e não são claras nem mesmo para os próprios membros. Uma vez, quando perguntado sobre o assunto em 2000, por um grupo de fãs, o pai de Anthony respondeu: "Bem, eu sei um pouco desde quando eu nasci John Michael Kiedis e eu sou o pai do mais famoso dos Kiedises. Meu avô Anton Kiedis (que originou o nome de Anthony), veio da Lituânia para a América por volta de 1910 e se fixou no Michigan, onde eu e Anthony nascemos. Alguns dizem que Anthony tem origem indígena, por causa das suas tatuagens e devido ao seu fervor pelos direitos dos índios. Somado a esse lado lituano, tem o lado francês da minha avó materna; alemão, irlandês, escocês e um pouco de espanhol do meu avô materno (Vanderveen); e Inglês, irlandês, escocês e um pouco de alemão por parte da mãe dele. Recentemente, quando pesquisamos sobre nossa origem dos Vanderveens alemães, descobrimos que alguns deles se casaram com índios Moicanos". Por outro lado, apesar das informações difundidas, Anthony Kiedis ainda tem orgulho em dizer que é "1/4 Apache". Até que Anthony tem vários motivos que podem sustentar essa sua teoria; começando pelos seus traços faciais, ainda mais na época de seus "longos cabelos castanhos que tocavam a bunda", sem dúvidas lembra os nativos da América. Em segundo, como seu pai disse, suas duas tatuagens, o Sitting Bull (braço direito), o principal líder da tribo dos Sioux, e o Chief Joseph (braço esquerdo), líder da tribo dos Nez Perce, conhecido como "O Trovão Viajando No Topo das Montanhas Mais Altas". Mais a sua fenomenal tatuagem das costas, um grande totem indígena. E por último, seu sincero apoio aos esforços dos nativos da América, que ele mostra claramente na música "Johnny, kick a hole in the sky", última faixa do "Mother's Milk", de 1989. Todos esses ingredientes contribuem para pintarmos a figura desse homem que tem um pesado componente indígena em seu sangue, e se orgulha muito disso. "Anthony é um nativo americano", disse um fã, real descendente dos nativos. "Pode-se dizer isso por causa do jeito com que ele sente as coisas". Algum tempo atrás, Anthony costumava dizer por aí que tem um "pênis indígena". Na verdade, nenhuma das 125.847 mulheres que já se relacionaram com ele fez qualquer comentário sobre essa peculiaridade do seu órgão reprodutor. Anthony não tem vergonha de ser descendente de lituanos. Ele nunca negou que essa é a sua principal origem. Atualmente, a únicacoisa que o envergonha é o fato de nunca ter visitado a terra de seus antepassados. Lituânia é o maior dos três países Bálticos. Sua população é de aproximadamente 3.700.000 habitantes, na sua maioria, lituanos e russos. Mas a Lituânia, normalmente está longe do circuito das mais famosas bandas do mundo. Provavelmente, o mais perto que Anthony já esteve de lá, foi durante um festival de verão Turku, na Finlândia, em 1996. Contudo, ele faz questão de mostrar que não esquece de suas origens. "Eu sonho em ir lá algum dia", disse certa vez. "E eu vou encontrar a mulher dos meus sonhos. E vou envelhecer". Oh, Anthony!
  • 4. Seu lado escocês, por parte de sua mãe, não é muito bem conhecido. Quando Julie, irmã de Anthony, casou-se, no verão de 2000, uma banda de "gaiteiros" escoceses foi chamad para abrilhantar os procedimentos, mas talvez, o episódio que mostre melhor os componentes escoceses no sangue de Anthony, seja algo que aconteceu em 1999, em Grand Rapids, quando uma garçonete irada disse a um grupo de repórteres que Anthony Kiedis, o rockstar bilionário, vocalista do Red Hot Chili Peppers, banda mega-famosa, deixou pra ela como gorjeta um pouco mais que míseros 50 centavos. Grand Rapids, Michigan, 700.000 habitantes. Uma cidade de médio porte, a oeste do lago Michigan, que cresceu nas sombras da grande Detroit. Quentíssima no verão e com um frio polar no inverno. Uma cidade Americana como outra qualquer. Mas foi nessa cidadezinha pacata, que no final dos anos 50, algo aconteceu, para hoje estarmos ligando para esse lugar. O fato em questão foi a fatal e subseqüente paixão entre John Kiedis e a doce e sensual Peggy Noble. John Kiedis era um cara normal, não era alto, nem muito elegante (malhar não era tão comum naquele tempo), no entanto, tinha um rosto bonito, e seu ar arrogante era mais uma arma para atrair a juventude feminina local. De todas aquelas adolescentes, Peggy Noble não era a mais bonita, não era a mais sexy, mas também era muito bonita, com um doce sorriso. John e Peggy eram muito jovens quando começaram a ficar juntos. As fotos que datam do final dos anos 50, mostram um típico casal de jovens americanos da época: "rabo-de-cavalo" e meias brancas para ela; visual atlético e cabelos curtos para ele. John tinha 18 anos, Peggy com 16. Eles vieram de famílias de classe média, e seus parentes eram muito rigorosos. Certa vez, John falou: "Meu pai nunca me deixou fazer nada do que eu quisesse. Era extremamente rigoroso, e acreditava que bater era a melhor punição. Enquanto eu crescia, pensava que aquele não era o jeito certo de se criar um garoto. E coloquei na minha cabeça que se algum dia eu tivesse um filho, o deixaria livre para fazer qualquer coisa que quisesse, a qualquer custo". John Kiedis não gostava daquele estilo de vida do centro-oeste. Seus planos não envolviam um emprego do estilo "nove as cinco", uma casa pequena com um quintal e duas crianças gritando na sala de estar. Ele era um jovem ambicioso e acreditava que tinha algum talento. Ele era apaixonado por filmes e seu sonho era ser um grande diretor de cinema. Mas, que esperanças ele poderia alimentar vivendo em Grand Rapids, com uma família rígida e sem dinheiro para realizar seus sonhos? Nenhuma. Antes de qualquer coisa, ele deveria começar a caminhar com suas próprias pernas. Um casamento precoce poderia ser a solução, pelo menos naquele momento. John e Peggy casaram-se em 1960. Eles eram jovens e inexperientes, mas felizes com o amor. A família de Peggy era católica, então, casaram-se em uma igreja católica. Peggy vestia um clássico vestido branco de noivas, e John, terno e gravata também brancos. Eles foram morar em uma pequena casa, em Grand Rapids, e voltaram para a universidade. Mas enquanto John era um ambicioso e impaciente jovem, Peggy era calma, caseira. Ela sabia dos sonhos de seu marido, de deixar Grand Rapids e fazer fortuna em Hollywood, mas não dava muita importância. Aquilo eram apenas sonhos, enquanto sua casa, seu casamento, sua futura vida a dois eram a realidade. Tudo isso e as futuras crianças, já que agora, depois de dois anos de casamento, Peggy estava grávida. Para John, ser pai não representava uma quebra de seus sonhos. Seu filho seria muito feliz e livre, isso era tudo o que ele sabia. Mas John nunca desistiu de suas ambições, como Peggy
  • 5. acreditava. Ele apenas aprendeu a ficar mais quieto, esperando pela hora certa. Sua família fazia parte de seus planos futuros, mas Peggy não estava convencida disso. Ela sabia que aqueles planos não envolviam Grand Rapids, e achava que também não a envolviam totalmente. Apesar disso tudo, no meio do curso, a criança em questão veio ao mundo às 4 horas da manhã, do dia 1º de novembro de 1962, no Hospital Grand Rapid's St. Mary's. O nome, Anthony, nada mais era do que uma versão americana do nome de seu bisavô lituano, Anton. Seu nome médio... bem, nunca existiu. Muitas pessoas perguntaram sobre esse assunto, por muitas vezes. A verdade é que Anthony Kiedis não tem nenhum outro nome. John queria dar-lhe algum nome como "Courage" ou "Freedom"; Peggy gostava do segundo nome de John: Michael. Mas o resultado foi que seria apenas Anthony. Eternamente. As fotos dos primeiros meses e também dos primeiros anos de vida de Anthony, mostram um pequeno menino americano como qualquer outro. Nenhum acontecimento destacável aconteceu nesse período. A única coisa que se pode dizer daquela época, é que a impaciência de John crescia cada vez mais. John estava louco com aquela criança, mas estava finalmente decidido que aquele tipo de vida não servia para ele, ou que ele o homem certo para aquela vida. Ele tinha de sair daquele lugar, porque seu futuro não poderia se concretizar ali. Ele sentia que seria alguém. Sempre foi um cara atraente, gostava de grandes carros, belas roupas, e agora estava deixando seus cabelos crescerem, como os Beatles. John era fortemente atraído por mulheres bonitas, assim como as mulheres bonitas eram atraídas por ele. Então, que diabos estava fazendo em Grand Rapids? Ele simplesmente não tinha nenhuma chance ficando ali. Precisava sair. No final de 1964, a oportunidade que ele esperava há tanto tempo: John foi aprovado na Escola de cinema da UCLA, em Los Angeles. Ele não podia acreditar: estava indo para Hollywood!!! Ele tinha de fazer isso, ele realizaria todos os seus sonhos! Isso era mais do que John podia esperar. Ele olhou para seu sorridente filho, que começara a aprender a andar, vindo em sua direção, olhou para sua jovem esposa, sentada em um sofá, pacientemente esperando por uma decisão, e finalmente, John tinha a certeza: é hora de dar adeus a Grand Rapids. O Paraíso não pode esperar. John pegou seu filho, que estava com 2 anos de idade, e sua esposa, e a pequena e feliz família partiu para a terra dos sonhos. John Kiedis era um cara otimista e aplicado, mas Los Angeles não era um lugar fácil para se viver, ainda mais para um jovem provinciano, aspirante a astro no mundo dos filmes. Competição era (e ainda é) extremamente dura, amizade, rara como ouro, e qualquer um, até o seu vizinho mais calmo deveria ser considerado uma ameaça, porque ele poderia pegar uma grande chance antes de você. Em meados dos anos 60, Los Angeles não era a capital do rock, nem mundial, tampouco da California. São Francisco estava bem à frente, também porque tinha capturado as vibrações de alguns anos e concentrado em lugares como as Universidades de Berkeley e Stanford, e áreas de cultura hippie, como Haight-Asbury. Duas das maiores bandas Americanas daquele tempo, Jefferson Airplane e Grateful Dead, eram de São Francisco. Los Angeles se resumia a capital do surf e da surf music, e uma das maiores bandas desse gênero, os Beach Boys, veio de lá. Los Angeles não era um lugar interessante naqueles anos. Mas algo estava para mudar. Um homem,
  • 6. Frank Zappa, e uma banda, The Doors, estavam prontos para mostrar para o mundo que havia algo mais em Los Angeles do que aquilo que as pessoas da cultura hippie pensavam. O líder dos Doors, Jim Morrison era estudante da UCLA, assim como o tecladista da banda, Ray Manzarek. Eles também eram muito interessados em cinema e música, mas John Kiedis nunca os mencionou como conhecidos. Eles apenas estudavam na mesma universidade. Os filmes daqueles anos estavam passando por algumas mudanças. Eram filmes alternativos, falando da vida real. Los Angeles era uma cidade assassina, cheia de reas miseráveis que Hollywood nunca tinha mostrado. Hollywood estava caindo aos pedaços e ninguém tinha coragem de andar pelas ruas à noite. Turistas paravam no Teatro Chinês, tiravam algumas fotos, olhavam ao redor e não podiam acreditar no que viam: é essa, a fabulosa Hollywood? Filmes sempre distorciam a realidade. Uma nova onde de jovens diretores começou a fazer filmes diferentes, que não falavam de famílias felizes, loiras e seus maridos, cheios de problemas, porque não podiam ir ao futebol porque seus primos estavam se casando. E depois de tudo, alguém deixava de concluir que Rock Hudson era homossexual? John Kiedis entrou nessa onda de novos diretores, com entusiasmo. Ele mesmo começou os experimentos, com sua câmera e alguns filmes em preto e branco, e em todas as suas primeiras produções, mostrava claramente que estava virando um perfeito "realista". Seus curtas eram gravados nas áreas mais degradadas de Los Angeles, e seus principais atores eram pessoas comuns, velhos bêbados, mendigos. Uma figura é constante em todos os seus filmes. Uma pura criança, em sinal de redenção, quase um anjo em sinal de esperança. John não havia procurado por um ator ideal. Aquela criança era sempre seu filho Anthony, de 3 anos de idade. Um de seus filmes, ainda existe. Chama-se "The Hooligans" e mostra a criança acordando um desabrigado de seu sono alcoólico e deixando-o em um banheiro. O pequeno Anthony não se mostrava intimidado diante da câmera. Ele tira a camisa, e seus cabelos castanhos cortados a la Beatles. Em um frame, ele usa um boné Los Angeles Lakers! Ninguém podia dizer se John Kiedis se tornaria um novo Orson Welles ou ao menos diretor de TV. Ninguém poderia imaginar nada, mesmo porque, em um momento, John parecia não estar mais ligando para nada. Hollywood estava lhe devorando. É aquela velha e conhecida história: o jovem do interior que parte para a cidade grande, carregado de esperanças e boas intenções, e rapidamente é devorado pela mesma cidade grande. John era muito elegante, muito atraente e muito impaciente. As tentações da vida já haviam arruinado muitos outros jovens antes. Porque seria diferente com ele? Hollywood era cheia de garotas, festas e diversão. Quem era John para dizer não? Ninguém! E a família? Esqueça! Peggy foi muito paciente no começo. Não se sabe sobre como ela reagiu ao impacto da grande Los Angeles, ela, aquela garota calma e tranqüila do Michigan. Apesar das aparências, Peggy não era tão doce e calma. Anthony sempre disse que sua mãe tem uma personalidade genuína e forte. Ela não se acostumou com as luzes da cidade grande, como seu marido. Peggy passava suas noites em casa com a criança, enquanto John ia para as festas. Ela ficava pensando se aquela era a vida que seu marido tanto queria. Então, um casamento em meio a tudo isso poderia durar? Claro que não. E em 1968, Peggy pegou suas coisas, seu filho de 5 anos de idade, e disse adeus a Hollywood, voltando para Grand Rapids. Ela não tinha se acostumado, e seu filho também não se acostumaria. Ou pelo menos, ela achava que não. Tony era muito pequeno quando sua mãe deixou a Cidade dos Anjos e voltou para sua cidade
  • 7. natal. Talvez, muito pequeno para ficar traumatizado, mas certamente, a transição da brilhante cidade grande para a cidade interiorana, somada à separação de seus adorados pais, não foi uma boa experiência. Tão logo voltaram para Grand Rapids, Peggy se apaixonou novamente. E seu namorado não era um cara tão legal. Mas a vida continua, e no mesmo ano, Anthony começou a estudar. A escola chamava-se Stocking Elementary School. Peggy começou a trabalhar, e a pequena família parecia estar voltando ao seu estilo de vida simples e pacato, de uma família de classe média. L.A. era outro planeta. Mas será que para o Anthony também? Não parecia. Seu pai sempre o visitava, e essas visitas eram algo que Anthony esperava muito ansiosamente. John teve uma cômica mudança de visual durante esse tempo. Seus cabelos ultrapassavam os ombros, e um bigode decorava seu rosto. Como o próprio Anthony já disse: "Ele costumava usar umas grandes botas, na altura dos joelhos e cheio de "enfeites", e todas as pessoas nos olhavam quando andávamos juntos. Eu gostava, eu pensava: 'sei que vocês acham que somos loucos, mas esse aqui é o meu pai'". Peggy ficou grávida novamente, e teria de se casar. Seu segundo marido era uma pessoa horrível, muito pior que John, segundo Anthony: "Ele chegava em casa às 5 da manhã, com olhos pretos e começava a destruir tudo em volta". Peggy deu à luz Julie, mas as coisas não iam nada bem. O padrasto de Anthony estava transformando sua vida em Grand Rapids num inferno. O garoto escrevia muitas cartas para seu pai,- implorando para que ele o levasse para a Califórnia. "Por favor, trabalhe duro", ele escrevia, "então, eu poderei voltar para a Califórnia". Mas qual era exatamente o trabalho de seu pai? John tinha desistido dos seus planos de ser um diretor. Agora, estava decidido a ser um ator. Mudou seu nome, escolhendo como nome artístico, Blackie Dammett. A do nome é questionável. Dammett soa como Dashiel Hammett, um famoso escritor de histórias de detetive, nos anos 20. E Blackie, poderia ser facilmente um nome de cachorro, mas John gostava, e isso foi o suficiente. Com esse novo nome, John/Blackie se lançou na carreira de ator. Algumas vezes tinha sorte, outras vezes, jovens garotas, gostava de algumas drogas leves, e amava farrear todas as noites. Não é difícil de se notar, que de tão amigável e determinado que era, ele gostava de dividir seus prazeres com os amigos próximos. E às vezes, pagava por isso. Em 1969, Anthony escreveu para ele: "Estou tão feliz por você não ter sido preso. Você deveria tomar mais cuidado". Naquele momento, as coisas pioravam mais e mais em Grand Rapids. "Eu resolvi que ninguém ia intimidar mais a minha família", disse Anthony. "Ninguém vai machucar minha mãe nem minha irmã". Peggy se divorciou novamente, e a vida foi voltando à sua normalidade. Anthony não era nenhum "anjinho". Na escola, fazia fama por estar sempre arranjando encrencas. "Eu fui para uma escola de surdos e deficientes mentais", disse. "E eu era uma espécie de defensor daquelas crianças. Eu sempre era expulso das escolas por me envolver em brigas em defesa das crianças deficientes, e minha mãe sempre me apoiava. Era bom saber que havia alguém atrás de mim quando fazia algo que eu julgava certo". Se tinha algo em que Anthony não acreditava, era religião. Sendo descendente direta de escoceses, Peggy o criou conforme a tradição católica, mas desde bem cedo, Anthony rejeitava a religião. Ele considerava que as religiões tinham com Deus uma relação como o juiz de uma corte. "Eu queria uma relação com Deus baseada no amor". Um belo dia, ao chegar em casa de volta do catecismo, Anthony disse para Peggy que não voltaria nunca mais. Alguns anos depois, Anthony falaria sobre sua rejeição ao Catolicismo em uma música, "Shallow be thy game". Há algum tempo, depois de tantos problemas, Anthony está perto de algo semelhante à espiritualidade.
  • 8. O verão era a melhor época. Tão logo terminava os estudos, arrumava suas coisas e dizia adeus à sua mãe e deixava o Michigan, com destino à Califórnia. A carreira de Blackie como ator não estava indo bem. Para cada ponta que ele conseguia, 100 eram perdidas. Estava claro que seu futuro não era aquele. Mas Blackie era carismático e amigável, um cara que adorafa farras, e em alguns anos, cultivou amizades com muitas pessoas em Los Angeles, incluindo do meio artístico. Um desses caras era Sonny Bono, do dueto "Sonny and Cher". Depois de récordes de vendas, o casal partiu para a tv, no "Saturday Night TV Show". Em 1999, quando os Red Hot Chili Peppers foram estavam gravando o clipe de "Around The World", Anthony observou o cenário e comentou: "Parece que esse cenário foi tirado de um dos shows da tv de Sonny e Cher". Sonny e Cher se divorciaram em 1972, e Sonny começou um relacionamento com uma jovem garota. Naquele mesmo verão, Anthony foi ao primeiro show de rock'n roll de sua vida! A banda em questão era Deep Purple, banda britânica de Hard Rock, imortalizada por seu cássico guitarrista Ritchie Blackmore e pelo vocalista Ian Gillan. Naquele verão, a banda estava aproveitando seu primeiro grande sucesso nos Estados Unidos, com o single "Black Night". Com oito anos de idade, Anthony estava tão empolgado com o show, que voltou corrento pelo estacionamento, mas tropeçou em uma barra de ferro e foi direto no chão. O resultado dessa desventura foi o crescimento errado de um de seus dentesda frente, dando a seu sorriso aquela peculiaridade que enlouquece muitas de suas fãs. Passar o verão com Blackie era garantia de diversão inacabável. Blackie também lembra de outro show de rock que Anthony foi, da banda Canned Heath. Essa banda ficou conhecida por causa da clássica "On The Road Again", e Bob Hite, seu vocalista, dançava no palco como um urso. Anthony ficou tão impressionado com aquela imagem, que no meio do show, invadiu o palco e começou a imitar Hite, sob o olhar de seu pai... e de quase 10.000 pessoas. Blackie dava festas todas as noites. Jovens atores, rockstars, surfistas, garotas, sempre bem- vindos em sua casa. Nenhum deles house. None of them paid too much dava atenção àquela criança que andava pelo
  • 9. apartamento. Mas ele não se intimidava com isso. No final do verão, voltar para o Michigan era realmente algo muito chato. E naquele momento, Peggy estava novamente apaixonada, e dessa vez, para sempre. O terceiro casamento estava por vir. Anthony não se sentia como uma criança, e sabia que Michigan não tinha mais nada para lhe oferecer. Ele pensou que sua mãe e sua irmã não precisavam mais dele, elas tinham alguém novo, e então, ele poderia partir. Ele precisava ir. Queria ir. No fundo de seu coração, Peggy já sabia que os dias de Anthony em Grand Rapids estavam contados. e isso a preocupava. Anthony mostrava que queria seguir os passos de seu pai. Blackie estava impaciente para ter seu filho em tempo integral. Tinha muito para ensiná-lo, e Anthony parecia estar pronto para aprender! "E quanto à escola?", perguntou Peggy pelo telefone. "Existem escolas em Los Angeles, querida", espondeu Blackie. Anthony estava ouvindo escondido em seu quarto, e rezando para que sua mãe deixasse. "Eu vou matriculá-lo na Beverly High", disse Blackie, "onde as jovens estrelas vão", completou. "Não quero meu filho junto com essas estúpidas crianças do cinema", dise Peggy. "Quero que ele estude em uma escola séria. Não, eu não farei isso. Você é um idiota". Anthony sabia que algo dramático deveria ser feito se quisesse ir. Na mesma noite então, arrumou suas malas e partiu a caminho de Hollywood. Peggy sentiu, mas resignou-se a si mesma.
  • 11. Raised by my dad he was my man girl of the day that was the way. Blackie teve uma infância dura. Seu pai era muito duro, não o deixava fazer nada. Agora que Anthony estava sob sua responsabilidade, estava disposto a fazer exatamente o oposto, dando-lhe total liberdade para fazer o que quisesse. Em 1973, Anthony começou sua nova vida em Los Angeles. Sua mãe fez Blackie prometer que ele freqüentaria a escola e fazer todos os trabalhos de casa, sem nenhum tipo de distração, como todas as outras crianças do mundo. A escola na qual Anthony estudaria ainda estava sob questão. Blackie queria que ele fosse para a Beverly High, mas havia um pequeno, porém, significativo detalhe: Anthony não morava em Beverly Hills. Sonny Bono apareceu com a seguinte idéia: Blackie poderia usar um endereço de Beverly Hills, dizendo que Anthony morava em sua casa. Esse era um truque antigo. Muitas pessoas usavam isso para matricular suas crianças em uma instituição prestigiada, mas dessa vez, foram descobertos imediatamente. Blackie teve de matricular Anthony na Fairfax High School, no cruzamento entre a Fairfax e a Melrose Avenue. A Fairfax High School era conhecida em toda Los Angeles com a "rock 'n' roll high school" (escola do rock'n roll). Alguns de seus ex- alunos são pessoas como Herb Alpert, Phill Spector, Ian e Dean, e o guitarrista do Guns'n Roses, Slash. E ainda, em 1991 o ginásio foi o cenário do clipe de Smells Like a Teen Spirit, do Nirvana. Agora, voltando a 1973... era uma escola onde a maioria dos jovens judeus de classe média estudava. Não há muita coisa conhecida a respeito dos primeiros dias de Anthony na Fairfax High. Anthony não gostava muito. A vida em casa era muito mais interessante. "Tinham dois lados diferentes", disse Anthony uma vez, sobre seu pai: "Em um lado, ele estava sempre por perto, certificando-se de que meus trabalhos de casa estavam feitos, me ajudando com sinônimos. Por outro lado, ele tinha muita pressa para farrear todas as noites". Essas diferenças refletiam diretamente na vida de Anthony. Na Fairfax High, não tinha um único amigo. Seus amigos eram os amigos de seu pai: Keith Moon, baterista do The Who (um pirado, viciado em heroína e cocaína); Alice Cooper (O Marilyn Manson dos anos 70, bissexual e viciado em jogos); Sonny Bono, é claro, cuja paixão por meninas jovens era conhecida de Norte a Sul. "Eu me iniciei em suas fantasias", falou Anthony. "Eu era muito jovem. Eu tinha aquela atitude, do tipo, 'o que você está fazendo? Eu também quero. O que é isso?'". À noite, Blackie e seus amigos levavam Anthony para os clubes mais populares de Hollywood. Blackie conhecia todos e todos o conheciam. Ele o iniciou com garotas e... substâncias. Jimmy Page, o lendário guitarrista do Led Zeppelin disse, certa vez: "Toda vez que uma banda vem a Los Angeles, voltava a procura de Blackie. Ele sabia onde estavam as garotas e outras coisas mais".
  • 12. "Eu acho que o meu pai tinha um pensamento sobre o que era bom para mim, me iniciando em tudo da vida adulta, mas uma mente tão jovem, tem problemas para digerir toda aquela informação". Entender a vida adulta não era algo fácil para um garoto de 11 anos de idade, recém chegado a uma nova cidade e um novo estilo de vida. Na escola, as outras crianças continuavam evitando Anthony. "Meu pai era meu melhor amigo", admitiu Anthony. Em outra ocasião, ele falou: "Eu era uma aberração da natureza quand criança". Não se sabe com clareza quando foi que Anthony começou sua relação com o sexo e as drogas. Anthony conheceu ambos por intermédio de seu pai, mas não se sabe em que ordem. A história sobre a primeira experiência sexual de Anthony é conhecida no mundo inteiro e já foi dita mais de mil vezes. Aos 12 anos, Anthony perdeu sua virgindade com uma namorada de seu pai, Kimberly Smith, que tinha 18 anos. Anthony mesmo já deu várias versões dessa história, apesar de não modificá-la em alguns pontos. Em primeiro lugar, havia 1/4 de um tablete de calmante circulando em seu sangue, o deixando relaxado, o que nos leva a crer que ele já estava de certa forma familiarizado com algum tipo de droga. "Eu estava doidão, e meu pai estava com uma garota lá em casa, e ela estava sem camisa. Eu pensei comigo mesmo: 'algum garoto poderia ser mais sortudo?' Naquele momento eu me sentia o garoto mais sortudo do mundo". O que as pessoas sabem sobre Kimberly Smith, além de seu nome e sua idade, é que ela tinha cabelos vermelhos. Ninguém sabe o que ela fazia antes, nem o que fez depois. Ela apenas entrou na nossa história, como a primeira parceira sexual de Anthony. A primeira experiência química de Anthony não é tão bem conhecida. Também nesse caso, tem uma mão de Blackie. "Nós começamos juntos com as drogas", disse Anthony. "Maconha, qualquer substância que abrisse a mente". Atualmente, Blackie se sente um pouco arrependido por ter iniciado seu filho nas drogas. "Ele acabou se viciando". Algumas pessoas acusam Balckie abertamente por ter arruinado a vida de seu filho por causa das drogas, enquanto outros dizem que ele é culpado apenas em partes. O certo é que em nenhuma família de classe média daquele tempo, isso acontecia, o que fazia Anthony ainda mais reservado. Blackie não teve sua realização para se tornar um astro do cinema, e agora que estava com Anthony, decidiu fazê-lo seguir seus passos. Até então, Anthony só havia atuado em peças da escola, mas Blackie tinha outros planos para ele. Começou mudando seu nome. Um sujeito chamado Anthony Kiedis não teria nenhuma chance no mundo do cinema. Precisava de um nome artístico. Blackie deu-lhe seu sobrenome, Dammet. O primeiro nome, foi Cole, cuja origem, não é conhecida. Com seu novo nome, Anthony/Cole Dammett foi para uma audição, para um pequeno papel em um filme de Sylvester Stallone, F.I.S.T., e foi o escolhido. O ano era 1976.
  • 13. F.I.S.T. é um bom filme. Os fãs que quiserem comprar o home video para assistir e aproveitar apenas alguns segundos da primeira aparição em público de Anthony Kiedis em ação, ficarão desapon- tados: na versão em home video, a parte em que "Cole Dammett" aparece, foi cortada. Os poucos que viram o filme em algum cinema, contam que Anthony aparece apenas sentado na mesa de um bar. Apenas uma curiosidade: a atriz que viveu a esposa de Stallone (mãe de Anthony) era uma lituana. O primeiro contato de Anthony com um set de cinema o deixou triste: "Eu não tinha a menor idiea do quão insignificante era o meu papel. Tudo o que eu sabia era que seria o filho de Sylvester Stallone. Eu tinha 14 anos e achava que aquilo seria algo grande para mim. Eu fui até o trailer do Stallone e disse: 'Hey, estou indo atuar como seu filho, vamos passar um minuto juntos, então, podemos conversar um pouco sobre o que está acon- tecendo aqui'. Ele veio até a porta e falou: 'O que você quer, garoto?' Ele não queria fazer nada junto comigo". Outros pequenos papéis estavam por vir em alguns
  • 14. filmes de TV ("Jokes my folks never told me"; "It's a mile from here to glory") e algumas comédias, como "Jenny and Chachi", "Happy Days", com Scott Baio. Naquela época, Anthony estava na flor da adole- scência. Ele ficava andando "por aí", com aquele engraçado bob (supõe-se que seja um cão. :), e com seu olhar míope. Seu novo amigo, Michael, o descreveu: "Ele parecia um maluco, com aqueles cabelos em cima dos olhos e o visual robusto. Ele parecia um lunático". A primeira coisa que Blackie pensou quando viu o novo amigo de Anthony foi: Merda! Eu sabia que deveria ter mandado Anthony para a Beverly High!". Hoje em dia, Michael não parece com aquele exuberante adolescente. Pequeno, magro, parecia muito mais novo do que era, e na Fairfax High, não tinha amigos, assim como Anthony. "Nós éramos dois excluídos", disse Anthony. A data desse fatal encontro não é conhecida. O ano era 1978. Segundo a lenda, Michael Balzary estava brigando com o único amigo de Anthony na Fairfax High, Tony Sherr. Anthony ordenou que ele parasse. Michael obedeceu, pois Anthony não parecia nem um pouco calmo, mas gostou dele à primeira vista, e Anthony também, de primeira, gostou de Michael. Em poucos dias, Anthony abandonou Tony Sherr e tornou-se amigo inseparável de Michael Balzary. Michael era apenas duas semanas mais velho que Anthony, mas nasceu no outro lado do mundo, em Melbourne, Austrália. Aos 5 anos, mudou-se para New York com sua mãe, sua irmã e seu padrasto, um músico de jazz. Em 1973, mesmo ano em que Anthony foi morar com Blackie em Los Angeles, Michael mudou-se para a Califórnia. Michael tinha cabelos médios, cacheados, olhos azuis, e um engraçado espaço entre seus dentes frontais. Com seu padrasto, Michael aprendeu a amar a música, principalmente jazz e blues. Na escola, conheceu Led Zeppelin e ficou louco por seus riffs de guitarra, que tocava no trompete, e integrava a orquestra da escola. Ele era um bom garoto, simpático e estudioso. O que ele viu em Anthony, para tornar-se grande amigo e confidente, ninguém sabe, mas a teoria de que os opostos se atraem explica tudo. Na verdade, na Fairfax, Michael tinha mais amigos que Anthony. Michael não chegava ao colégio de manhã, com a cabeça cheia de cerveja, maconha e orgias, como seu novo amigo. Michael era mais normal, e isso pode explicar essa atração. Anthony não era uma cópia fiel de seu pai na adolescência. "Dentro de mim, havia a genuinidade que herdei de minha mãe. Eu me apaixonei por uma garota, e fiquei com ela por 3 anos. Eu não queria fazer o que meu pai fazia. Ao mesmo tempo, eu achava ótimo poder ter todas aquelas mulheres bonitas que vinham na minha casa, e elas não estavam preocupadas se eu quisesse conversar ou se eu quisesse fazer sexo com elas". A garota por quem Anthony estava apaixonado era uma estudante da Fairfax High, e seu nome era Haya Handel. Por incrível que pareça, esse foi um dos relacionamentos mais duradouros da vida de Anthony. Haya era bonita, líder do time de ginástica da escola, e se conseguiu segurar Anthony por três anos, devia ser muito atraente, como as pessoas dizem.
  • 15. Na escola, Anthony precisava apenas agradecer à sua grande inteligência. Do resto, vivia brigando com todos os seus professores e na maioria das vezes, ficava "viajando" Da maconha, ele passou rapidamente pelos mágicos e ácidos, e em pouco tempo, estava usando cocaína. Ele encontrava as drogas em casa, como alguns adolescentes que caem no alcoolismo ao verem seus pais bebendo no bar de casa. Um dia, por volta de 1978, Anthony se encontrou cara a cara com uma outra bela branca esperando por ele, e é claro, não hesitou. O efeito era como uma pancada na cabeça. Nada comparável com os 200 bpm's da cocaína que ele havia experimentado algum tempo atrás. Exatamente o oposto. Um calor. O mundo se transformou em um lindo lugar, colorido, cheio de sensações terrenas. "WOW", ele voltou. "É demais! Que tipo de cocaína é esse?" "Isso não é cocaína, garoto", disse o primeiro que conseguiu entender a sua fala quase inteligível. "Isso é heroína!" Michael Balzary era esperto, tinha muita energia, e não ficava parado, costumava pulando, então, as pessoas passaram a chamá-lo de Flea (Pulga). Sua habilidade para a música e sua simpatia, o ajudaram a passar por cima da timidez e assim, Flea fez amiza- des com algumas outras crianças. Além de Anthony, seus amigos mais próximos eram dois meninos judeus, Jack Irons e Hillel Slovak, e um cidadão do mundo, filho de artistas de circo, chamado Alain Johannes. Jack, Hillel e Alain eram membros de uma banda de rock, chamada Chain Reaction. Michael Flea Balzary ainda não havia se convertido ao rock, mas ser amigo de integrantes de banda facilitou a aproximação. Michael apresentou seus amigos a Anthony. Nosso garoto amava música, mas apenas como um fã. Não sabia tocar nada e ainda tinha uma vaga aspiração ao cinema. Recentemente, quando perguntado sobre "o que pensava em ser quando crescer", nos seus tempos de adolescência, Anthony respondeu: "Um fora-da-lei que seguisse apenas suas próprias regras". A realidade se aproximou disso: uma noite, a polícia invadiu o apartamento de Blackie, durante uma festa. Drogas foram encontradas por toda parte. Blackie foi algemado e levado para a central sob os olhos do ainda menino Anthony. Anthony não queria pedir a ajuda de sua mãe. Desde quando foi para Los Angeles, ligou para sua mãe várias vezes, também a visitou muitas vezes, mas nunca lhe contou s verdade sobre Blackie. Então ele poderia ligar para sua mãe e dizer "oi mãe, aconteceu um incidente e meu pai está na cadeia, e se eu quiser que ele volte para casa, terei de pagar a fiança!"? Lógico que não. Anthony já tinha 15 anos e havia feito e visto muitas coisas além de sua idade. Não precisava mais de Blackie para nada, e não precisava de Peggy também. Com suas
  • 16. economias, pagou a fiança de seu pai e deixou o apartamento. Ele não tinha a menor idéia de para onde ia, mas não ligava para isso. Entre Anthony, Michael, Hillel Slovak e Jack Irons, uma grande amizade havia nascido. Os quatro se nomearam "Los Faces" e começaram a se divertir pelas ruas de Hollywood, vstidos como skatistas e surfistas, fazendo seu melhor para arranjarem encrencas. Algumas dessas aventuras fazem parte da lenda: Anthony saltou do telhado de uma construção, em uma piscina, mas errando a água, bateu com as costas no concreto; Anthony e Flea foram esquiar no norte da Califórnia e passavam as noites em uma lavanderia, se aquecendo perto das secadoras... e quem não lembra do transexual que os levou de volta para Los angeles em seu carro? Algumas dessas aventuras são contadas em uma das muitas músicas escritas com a parceria de Anthony e Flea, a nostálgica "Deep Kick", do One Hot Minute (1995). A música também fala sobre uma viagem a Londres, sobre a qual não se sabe muito. Papa's proud and so he sent us Pounding hearts full and relentless Two boys in London, England Two boys in London, England Climbing out of hostel windows Wearing gears so out but in though Come on kid and do the no no Foi a primeira vez que os dois garotos visitaram a Europa, e a Inglaterra não os agradou. "Podemos dizer que a Inglaterra não é o meu lugar favorito no mundo", disse Anthony a uma revista inglesa, a Kerrang!, em 1990. "Em não gosto de como eles cozinham". Flea, falando para a New Musical Express, em 1992, foi menos diplomático: "A comida é ruim, as pessoas são chatas, o clima é um saco e todos ouvem a mesma porra de música". Isso foi no final da década de setenta, e a música ainda não era a sensação. O movimento Punk tinha acabado de explodir, e Londres estava incendiando. E enquanto andavam por Londres, nossos dois heróis, ao passarem por um pub, ouviram uma banda tocando. O nome era "Chili Willy and the Red Hot peppers". Quando foi perguntado por um fã sobre qual a sua grande recordação da infância, Anthony respondeu: "Eu, Flea e Hillel, em 1979, viajando de Los Angeles para o Michigan". Anthony e seus amigos eram apaixonados por esportes, natureza e pela vida ao ar livre. Isso pode se contrastar com as outras atividades deles, como passar as noites em clubes, cheios de drogas, mas talvez esse contraste não seja tão profundo quanto parece a primeira vista. O que é certo mesmo, é que nenhum dos "Faces" gostava da vida normal. Los Faces eram loucos, e não tinham medo de nenhuma nova experiência. Pelo contrário, qualquer experiência merecia ser vivida. Os que seguiam essa teoria mais a fundo eram Anthony e Hillel. Flea ainda era um pouco travado por sua timidez, e Jack era o mais regular dos quatro, era o único que às vezes parava pra pensar em algum tipo de limite. Apesar de Flea ter apresentado Anthony a Hillel, eles dois estavam criando cada vez mais intimidade. Hillel Slovak era um garoto judeu, alto, branco, com grandes pernas e longos braços. Além de estudar na Fairfax High, tocava guitarra na banda Chain Reaction, que havia acabado de trocar o nome para Anthym. Hillel era um verdadeiro maníaco por guitarra e seu herói era Jimi Hendrix, mas também era um artista. Sua mãe, Esther, era pintora, e ele estava seguindo seus passos. Anthony não sabia tocar nenhum instrumento, mas seu esteriótipo de artista era fascinante. E quando Anthony se
  • 17. encontrou perdido nas ruas, foi ao Hillel que ele pediu ajuda. "às vezes é difícil encontrar uma dimensão para amizade, é apenas uma amizade inquebrável,amizade por amizade e quando qualquer coisa entra em colapso, é isso que espera: amizade pura", disse Anthony, em 1998, sobre sua amizade com Hillel Slovak. Esther Slovak o recebeu em sua casa, mas em poucas semanas, Anthony teve de irembora. Flea também estava tendo problemas em casa. Seu padrasto, Walter Urban Jr era um alcoólatra, que começara a ser violento. "Eu presenciava algumascoisas que normal- mente as crianças não devem ver", disse Flea. Los Faces eram o caminho entra a infância e a adolescência. Anthony, Flea e Hillel se uniram e decidiram que o melhor a se fazer naquele momento era partirem juntos para um pequeno apartamento. Nossos três heróis encontraram um em Hollywood e foram para lá, com suas roupas e drogas. Jack Irons, que tinha uma família feliz e normal, decidiu apenas assistir. Ele não estava preparado para isso. Anthym estava tocando em festas da escola, mas não parecia nem de longe que se tornariam famosos no futuro. Haviam várias bandas em Los Angeles, e eles nem eram os melhores. Eles perderam seu primeiro baixista, então, Hillel e Jack pensaram no Flea. "Mas eu toco trompete!!", protestou Flea. Hillel mandou ele parar de reclamar, ensinou- lhe como se tocava baixo e o colocou na banda. E então, ele começou a tocar. E Anthony? Anthony era o único fã verdadeiro do Anthyn. Não perdia nenhuma apresentação. Desde quando foi morar com seus amigos, Anthony passou a conhecer melhor o mundo underground de Hollywood. Como ele conseguia ir para a escola nas noites seguintes, é um mistério. Ou talvez não, se algo chamado cocaína pudesse entrar em cena. À noite, aprontava nos clubes de Hollywood, enganando a todos com seu rosto angelical e roupas de estudante. Anthony ia levar Haya em casa e saía denovo. Pela manhã, levantava, bufava várias vezes e ia para a escola. O punk rock estava explodindo em Los Angeles e Anthony estava alucinado com o funk. O funk não era popular, era principal- mente dos negros, e o som mais sexy que Anthony já tinha ouvido. Anthony não tinha medo de andar pelos guetos durante a noite, e passou a ir sozinho em busca de sua heroína. Os clubes dos guetos de Los Angeles, de South Central a Bunker Hill, eram diferentes dos clubes que ele havia visto antes. Os freqüentadores eram negros em sua maioria, e eram muito mais baratos que os de Hollywood. Seus companheiros tinham de entender que não poderiam continuar tocando só aquele hard rock"! Funk, aquilo era música! Funkadelik, Defunkt, Sly e Famyli Stone! Música feita para sexo. Ele precisava colocar aquilo em suas cabeças!
  • 18. Capítulo 3: Good Time Boys O punk rock chegou em Los Angeles no final dos anos setenta, e com uma clara diferença do seu primo britânico e mesmo do seu irmão de New York. O punk de Los Angeles tinha o som mais
  • 19. violento e agressivo, e então, passou a ser chamado de hard core". Das bandas daquele cenário, duas eram as mais importantes: Germs e Dead Kennedies. Os Germs lançaram apenas uma gravação, "G.I.", em 1979. Um ano depois, seu líder Darby Crash decretou o ponto final e mandou a banda para a história. Já os Dead Kennedies, de São Francisco, foram mais sortudos, porém, não foram memos agressivos. Seu primeiro álbum, "Fresh Fruits For Rotten Vegetables", de 1980, é um marco na história do punk e do hardcore californiano. Ambas foram as mais expressivas bandas do cenário punk de Los Angeles, marcado por drocas pesadas, principalmente a heroína. Outras bandas importantes de hardcore em Los Angeles eram Circle Jerks, Black Flag, X, Social Distortion e Red Kross. Ainda ligados a esse cenário, mesmo não sendo exatamente punks, estavam Minutemen, Butthole Surfers, TSOL, Fishbone e Firehose. Anthony recebeu com muito entusiasmo a explosão punk em Los Angeles. Apesar de seu coração bater mais forte pelo funk, ele se via cada vez mais fascinado pela energia e força do punk californiano. Ele e Hillel começaram a freqüentar clubes como o "00", o "Eldorado" e o "Power Tools". Comparado ao punk e ao hardcore, o estilo de música que seus amigos tocavam parecia ser de outra era. Anthony continuava apoiando, mas estava com a certeza de que se o Anthym não passasse por uma mudança radical, logo seriam esquecidos. Ele começou a fazer seus amigos ouvirem o funk e o hard core, olhando para um novo estilo. Apesar de não ser um membro da banda, Anthony tinha forte influência no som do Anthym. Seus amigos o chamaram para ser o apresentador da banda, e a forma como Anthony costumava abrir os shows deles, é parte da lenda: "Cal Worthington os chama de os roqueiros mais quentes de Los Angeles. Seus parentes os chamam de loucos, e as garotas o chamam a toda hora. Mas eu os chamo como os vejo, e eu os chamo de AN-THY-M".
  • 20. Os tempos de Fairfax High acabaram em junho de 1980 para Anthony, Flea, Hillel e Jack. Flea estava certo de que viveria de música, então, não entrou na universidade. Passou a trabalhar como assistente em um hospital, e à noite, tocava com sua banda. Anthony entrou na mesma universidade onde seu pai estudou, a UCLA, e escolheu o curso de Ciências Políticas. Hillel e Jack foram para o Norte. Durante seu primeiro (e único) ano na UCLA, Anthony parecia estar colocando ordem na sua bagunçada vida. Deixou o apartamento que dividia com Flea e Hillel, e mudou-se para o campus da universidade. Ele ainda estava com Haya, apesar de seu relacionamento estar no final de sua existência. Como todos sabem, segundo a lenda, nesse ano, aconteceu um episódio crucial em sua vida. Seu companheiro de quarto tinha uma amiga que estava afim dele. Anthony alega que ela era muito obsessiva, mas ele não gostava dela. "Eu tinha uma namorada, e eu não queria ficar com ela, mas ela era muito insistente. Ficava me mandando pequenas mensagens, perguntando por mim o tempo inteiro e aparecia na porta do meu quarto a qualquer momento". Um dia, Anthony decidiu responder da única maneira que sabia. Como sempre, a garota bateu na porta de seu quarto, como de costume. Anthony tirou toda a sua roupa e foi abrir a porta. A única coisa que ele vestia era uma meia, no seu pênis e bolas. Anthony planejava ficar na universidade por menos de um ano. Ele havia tentado, mas aquele tipo de vida não era para ele. "Minha vida estava tomando uma direção totalmente diferente". Ele estava perdendo seus amigos, suas noites nos clubes, aquela vida louca. Ele não tinha nada a aprender na Universidade. Tudo o que ele precisava saber, havia aprendido na rua, apenas vivendo. Não precisava de nada daquilo. Na metade de 1981, ele e Haya terminaram. O fim de um namoro que durou por três longos anos representou uma grande perda para Anthony. Em algumas semanas, ele abandonou a UCLA, voltou para Hollywood, para viver com Flea e Hillel, começou a trabalhar em uma pequena produtora de cinema, e sem nenhum medo ou hesitação, simplesmente se atirou em um abismo. O histórico apartamento em Hollywood era o lugar mais sujo e fedido da região. Anthony, Flea e Hillel acreditavam que para mostrar um ao outro sua afeição, eles teriam de dividir todas as suas experiências, incluindo sexuais e corporais. "Nós éramos três garotos acostumados a dormir, transar e nos drogar no mesmo chão", disse Anthony. Esse mesmo chão vivia cheio de preservativos e seringas usados. Os amigos estavam interessados em passar o tempo fumando maconha e bebendo cerveja, e ninguém estava interessado em colocar ordem. O síndico, alarmado pelos vizinhos sobre o que acontecia no apartamento, tentava sempre descobrir, mas era recebido por Anthony, pelado, na porta. As noites sempre acabavam com sexo, bebidas e heroína. Anthony começava ali a se tornar um viciado em drogas.
  • 21. Flea passou a ouvir punk. Como muitos outros adolescentes da época, Michael foi conquistado pela força e pela agressividade do som punk, e só ouvia Germs e Circle Jerks; seu jeito de tocar estava ganhando cada vez mais essa influência. A paixão de Anthony pelo punk hard core e pelo funk estava influenciando fortemente seus amigos e companheiros. Do apartamento de Hollywood, ecoavam os gritos de Darby Crash e Jello Biafra, mas também, os ritmos de Grand-master Flash e a primeira geração de rappers de New York. A razão pela qual Anthony gostava de rap é bem simples. Apesar de não ter em mente o que seria de seu futuro, ele sabia que era algo ligado a suas grandes paixões, sexo e drogas: música. Mas de que jeito? Anthony não sabia tocar nenhum instrumento e não parecia interessado em aprender. Não sabia cantar. Apesar de ter uma voz potente, tinha problemas com afinação. Geralmente, aproveitava suas habilidades artísticas escrevendo poemas e contando piadas. As frases que Anthony usava par abrir os shows do Anthym estavam ficando cada vez mais longas, e ele começava a ser conhecido nos clubes do circuito underground de Hollywood. Sua personalidade extrovertida estava o ajudando, seu jeito de comediante estava ficando mais popular que as músicas de seus amigos. E agora, o rap oferecia uma nova possibilidade: seus poemas e rimas curtas poderiam virar um rap, com um background musical. "O rap me deu a inspiração para que eu pudesse fazer música sem ser um Marvin Gaye", diz uma de suas famosas citações. No verão de 1981, algumas coisas importante aconteceram: Anthym mudou o nome para What Is This, Flea saiu da banda, Anthony fez um moicano e um novo canal de TV nascia. A transição do Anthym para o what is This marcou uma evolução natural. Com o tempo, Anthony precisou fazer outra rima para abrir os shows do agora, What is This. A banda ainda era formada por Alain, Hillel, Flea e Jack, mas Flea estava apaixonado pelo som punk, que era muito contrastante com o som do What Is This. Isso o levou a sair da banda. Depois de algum tempo, Flea acabou entrando em uma banda punk, chamada Fear.
  • 22. Ele e Anthony continuavam vivendo várias aventuras pela Califórnia. Depois de um daqueles inesquecíveis fins de semana, Anthony apareceu com um novo corte de cabelo, um moicano, e Flea o imitou. A primeira conseqüência: foi demitido do hospital onde trabalhava. Mas não se importou. Flae era um punk. Anthony e Hillel usavam cada vezmais heroína, mas incrivelmente, Flea não. Talvez porque Flea era mais frágil fisicamente do que seus dois amigos, ou porque não tinha uma inclinação genética para esse tipo de coisa. O que é certo, é que apesar de dividir praticamente tudo com Anthony e Hillel, Flea nunca foi um viciado em drogas desse tipo. "Eu tentei, mas não gostei de como aquilo fazia eu me sentir. Eu acordava de manhã me sentindo um bosta. Eu não conseguia tocar, não conseguia pensar, não conseguia fazer nada. Então, resolvi que aquilo não era para mim", disse Flea. Jack também preferiu ficar de fora disso, e essa foi o primeiro e inegável fato que foi fazendo com que ele ficasse um pouco mais distante do grupo. Anthony e Hillel estavam ficando cada vez mais fechados, e seu vício estava de alguma maneira, os separando dos outros dois. Em uma noite quente, de agosto, Anthony estava em casa, vendo tv, com uma cerveja gelada em uma das mãos e o controle remoto na outra, passando de canal em canal, até que encontrou um, passando vídeos musicais. Aquilo era algo realmente novo! "Wow, música na TV, o que está acontecendo?!", gritou. A nova revolução estava começando, no início dos anos oitenta. O som da banda não era mais o bastante. A maneira como elas viam a música tinha mais importância. Um novo batalhão de ingleses começou a invadir as ondas da MTV. Foi denominada de "A segunda invasão britânica". A música agora tinha mais luz, e era influenciada pelo soul dos anos 70 e pelos resquícios dos Beatles. "Naquela época, eu não tinha como ouvir Duran Duran. Apenas alguns anos depois que eu consegui, e percebi que não era tão ruim", disse Anthony recentemente. Ouvir Duran Duran e Spandau Ballet estava fora de questão para os punks de Hollypunk rockers. They constituted a closed imwood. Eles constituíam um ciclo fechado, e tudo que estivesse de fora, era visto com superioridade e desprezo. "Nossas bandas são consideradas underground, mas nós temos muito mais a dizer do que todas as gravações do top 40 juntas", disse Anthony. O tempo se passava, e Anthony continua-va na mesma. A heroína cada vez mais presente nos seus dias, e no tempo que sobrava, ele andava de clube em clube, e dormindo com várias mulheres diferentes. Depois de Haya, Anthony teve muitas outras garotas. "Minha vida sexual estava boa, e eu estava feliz". Mas outra revolução estava por vir. Em 1982, os primeiros casos de AIDS nas comunidades gays e entre usuários de drogas, foram divulgados pela imprensa, e começaram a ocupar as primeiras páginas dos jornais americanos. Em 1983, todo o mundo falava sobra "a praga do século 21". Apenas alguns meses depois, uma descoberta dramática: o vírus HIV não era somente
  • 23. transmitido em relações homossexuais ou em seringas de drogas, mas também, em relações sexuais de pessoas de sexos opostos. Enquanto isso, Flea estava se sentindo muito frustrado com o Fear. O punk rock estava em seu fim, é verdade, mas não era só isso. Devido ao comportamento de seu líder, Lee Ving, o Fear foi considerado por muitos, uma banda homofóbica. Ving, que em 1983 estrelou um dos filmes mais vistos do ano, o Flashdance, costumava xingar e ameaçar caras de cabelos compridos. Flea não poderia ficar. Ele mesmo, pequeno e frágil, foi surpreendido por uma gang de caras homofóbicos, quando estava no estacionamento de um supermercado, foi xingado e apanhou. Flea contou essa história em Pea, do One Hot Minute. Ele não estava feliz no Fear, e também, não queria voltar para o Whai Is This. E mesmo que quisesse, a banda já tinha um substituto em seu lugar. Para ocupar seu tempo, Flea gravou um pequeno papel em um filme underground (cult), chamado "Suburbia". Flea, muito frustrado com o Fear, falou com Anthony sobre o que estava sentindo naquele momento. "Eles que se danem", disse Anthony. "Eles não te mercecem. Você está desperdiçando seu tempo". Flea pegou seu baixo e começou a tocar. Estava muito chateado. Na mesa, uma tablatura do Defunkt. Ele começou a tocá-la, mas distorcendo, improvisando e modificando, criando assim, uma nova melodia. "Engraçado...", disse Anthony, ao ouvir a criação de seu amigo. "O que?", perguntou Flea. "Isso que você tocou. Eu escrevi algo que se encaixa perfeitamente", respondeu Anthony. Flea parou de tocar: "O que você escreveu?" "Não, não pare de tocar", disse Anthony, procurando em suas anotações. "Aqui está. Ouça-me". "Isso é irreal. Insanidade. Perplexidade. É a mistura de tudo o que você faz na sua vida, e então, você consegue. Sou feliz por ter feito isso acontecer".
  • 24. Anthony falou, em 1998, falando sobre o dia em que tudo mudou. O início dos Red Hot Chili Peppers, em abril de 1983, com o nome de "Tony Flow and the Miraculously Majestic Masters of Mayhem" foi falado milhares de vezes. A banda nasceu subitamente, de uma idéia de Anthony. Ele foi chamado para abrir uma apresentação do punk Gary Allen, recitando seus poemas e suas piadas. Seria o começo, mas Anthony não queria começar sem os seus amigos. E a música que ele escreveu em cima da linha de baixo criada por Flea o deixou muito entusiasmado. Então, chamou Flea, Hillel e Jack, e pediu para que eles criassem um fundo musical, enquanto ele recitava aquela letra, que agora, tinha um nome, "Out in L.A." Antwan the Swan, from the pretty fish pond Was a bad mother jumper, you could tell he was strong He war a cold paisley jacket and a hellified hat And between his legs was a sweat young lass He threw a hundred women up against the wall And he swore to fear that he'd love 'em all By the time he got to ninety nine, he had to stop Because that's when he thought that he heard a phone Last night and the night before, I heard a Fop outside, then I came in doors Freak out! Como todos sabem, "Out in L.A." foi tão bem aceita pelo promoter do clube, que ele implorou para que Anthony e seus amigos repetissem o show... "se vocês quiserem, todem até tocar mais músicas...". O único problema era que eles não tinham nenhuma outra música. Eles na realidade, nem eram uma banda. Escrever "Get up and Jump" em poucos dias, foi fácil. É um funk com a letra convidando todos a "levantar e pular", e ainda mais, coisas faladas sem sentido, que não representam nenhuma palavra, como por exemplo, em "Soul To Squeeze" e "Around The World". Para uma banda nascida de um improviso, também não é difícil encontrar um nome. "Eu estava caminhando em Hollywood Hills e vi esse nome, "piscando em um arbusto psicodélico". Segundo Anthony, ele viu um arbusto de pimenta, com o nome 'RED HOT CHILI PEPPERS" escrito. Também, os garotos adoravam comida mexicana, que é repleta de pimenta (chili). E também, The Red Hot Peppers, era o nome da banda de apoio de Louis Armstrong, e Flea, que adorava jazz e blues não poderia deixar isso em branco.
  • 25. E finalizando, Anthony e Flea não haviam esquecido aquela banda que viram tocar no pub em Londres, o Chili Willy and the Red Hot Peppers. A propósito, o nome era bom, e teve a aprovação de todos, então, ficou. Com o nome Red Hot Chili Peppers, os ex-Los Faces fizeram seu segundo show, no Rhythm Lounge, poucas semanas depois do primeiro. "Havia muitas pessoas esperan- do", disse Flea. A terceira música escrita por Anthony e seus amigos, foi "Green Heaven". Olhando o título, já dava para perceber um passo a frente. Antes de qualquer coisa, alguns dos temas que viriam a ser inspiração de várias músicas futuras estavam ali: amor pela natureza e animais, principalmente golfinhos; ataques ao sistema americano; e algumas no estilo "new age". Com essas três músicas, e várias covers super populares, os Red Hot Chili Peppers começaram a tocar pelos clubes de Hollywood, na primavera e verão de 1983. Mas... O que exatamente eram os Red Hot Chili Peppers? Basicamente, uma banda punk/funk, formada por quatro jovens amigos: Anthony, o vocalista; Hillel, o guitarrista; Flea, o baixista; e Jack, o baterista. Mas para três dos quatro, aquilo não passava de um hobby. Hillel e Jack ainda eram do What Is This, e eles acreditavam na banda, banda que eles criaram, na qual já tocavam ha alguns anos. Flea, apesar de estar frustrado e insatisfeito, ainda era o baixista do Fear. Apenas Anthony não tinha nada nas mãos. Inicialmente, isso não era problema algum. Hillel, Jack e Flea continuavam tocando no Red Hot Chili Peppers e em suas respectivas bandas, mas para todos que assistiam os shows das bandas, consideravam o Red Hot Chili Peppers anos luz a frente do What Is This e do Fear. E algumas dessas pessoas eram executivos de gravadoras, que começaram a aparecer mais e mais. Anthony tinha quase perdido contato com sua família. Ele e Blackie se viam algumas vezes, mas as coisas já não eram as mesmas. Anthony só acreditava em seus amigos, eles eram a sua real família. Por outro lado, toda vez que Blackie via seu filho e percebia o que estava acontecendo, era devorado por um sentimento de
  • 26. arrependimento. Ocasionalmente, Blackie ainda tinha alguns papéis em uns filmes de TV, e também, tinha começado uma "PR company". Incrivelmente, ele sempre pegava personagens errados, e enquanto Anthony estava descendo direto para o abismo, seu pai era forçado a viver interpretando um desses caras que um dia ou outro pode ter assassinado seu filho. No entanto, durante as gravações de um desses filmes, o diretor ouviu pela primeira vez os Red Hot Chili Peppers. Ele tinha um amigo que trabalhava na indústria fonográfica, seu nome era Mark Richardson, e um dia, sugeriu a seu amigo que fosse assistir a banda da qual todos estavam falando. Richardson foi e imediatamente ficou incrédulo. Mas não é difícil de se saber o motivo. Durante esses meses em que a banda passou fazendo shows, uma transformação espetacular aconteceu. Basicamente, os Red Hot Chili Peppers eram quatro "animais" roqueiros, fazendo shows devastadores. Flea não era mais aquele garoto tímido, com grandes olhos azuis. No palco, parecia um selvagem, mostrando toda a força e a agressividade que conheceu com o punk rock. Hillel, de tão virtuoso que era, parecia ter nascido no palco, com uma guitarra nas mãos. Até Jack, o mais reservado do quarteto, quando sentava atrás de uma bateria, sofria uma transformação milagrosa e inexplicável. E Anthony era o "frontman", o líder, vocalista que toda banda sempre sonhou. Nos últimos meses, Anthony parecia estar fazendo florescer um novo homem. Nada no seu físico fazia lembrar que ele era um viciado em heroína. Deixou os cabelos crescerem e os clareava mais e mais. Ele era apenas um pouco mais alto que Flea, mas seu físico era perfeito. Nos shows, algumas garotas mostravam-lhe os seios, e Anthony nunca recuou. Os shows sempre acabavam em quase nudismo total, e a lendária apresentação no Kit Kat Club, em setembro, quando eles apareceram no palco usando as famosas meias nos paus, veio para coroar aquele inesquecível verão. Desde quando Anthony colocou em prática pela primeira vez a idéia da meia no pênis, ainda na UCLA, o mito começou a nascer entre seus amigos também, que até então, tinham usado as meias apenas para divertir suas parceiras em seu apartamento. Mas naquela noite, no clube de strip, a tentação para tocarem daquele jeito, pela primeira vez em público, foi irresistível. "Nós estávamos no backstage, no final de um show, e as pessoas estavam nos chamando, querendo bis, e nós, maravilhados com aquilo. Precisávamos fazer algo diferente, então, fomos lá. Eu falei: 'vamos fazer isso, vamos fazer isso!'", disse Anthony, em 1999. Os Red Hot Chili Peppers voltaram para o palco, totalmente
  • 27. pelados, se não fossem as meias em seus paus, e começaram a tocar "Fire", de Jimi Hendrix. A performance foi assistida, sob um silêncio de perplexidade da platéia, que ao final, explodiu em gritos e aplausos. A lenda havia nascido. "Nós começamos tocando em pequenos clubes, e depois, percebemos que as pessoas estavam prestando mais atenção no que estávamos fazendo e nós gostamos do fato de estarmos criando arte, era um bom sentimento", disse Anthony. Mark Richard- son levou os Peppers para um estúdio de gravação, gravou uma demo, e apresentou os garotos a um amigo, um judeu chamado Lindy Goetz, que tinha um certo conhecimento no showbizz, e logo se propôs a ser o manager da banda. Os rapazes disseram sim, Goetz começou levando a demo para as principais gravadoras. A demo tinha cinco músicas: Out in L.A., Get Up And Jump, Green Heaven, Sex Rap e Baby Appeal. Depois de apenas seis meses de existência, em outubro de 1983, os Red Hot Chili Peppers se viram em uma gravadora, com um contrato pronto para ser assinado. Então, todos os problemas que durante aquele verão haviam sido jogados para debaixo do tapete, explodiram dramaticamente.
  • 29. "Quem são os Red Hot Chili Peppers?", perguntou o executivo da EMI. "Eu, Flea, Hillel e Jack", disse Anthony, apontando para seu amigo: "Ele é o Flea". "Ótimo. E onde estão os outros dois?", perguntou o executivo. "Em alguma droga de escritório da MCA. Eles vão assinar um contrato idiota". "O-O quê??", gaguejou, espantado o executivo. "Algum problema, cara?", retrucou Anthony. Ninguém, exceto Flea, Anthony e o executivo da EMI, sabe exatamente quais foram as palavras ditas naquele momento. Mas isso está realmente muito próximo do que foi dito naquele dia, em novembro de 1983. Enquanto os Red Hot Chili Peppers recebiam uma proposta de contrato com a EMI, um contrato semelhante era proposto ao What Is This, na MCA. Naquele momento, o tempo de diversão havia terminado. A possibilidade de Jack e Hillel assinarem dois contratos diferentes, como membros de duas diferentes bandas era inaceitável, ilegal. Tinham de escolher uma. Hillel e Jack sentaram um de frente para o outro. Eles eram amigos desde a adolescência. O What Is This era uma criação deles, mais que isso, era suas vidas por quase seis anos. Todas as suas esperanças e ambições haviam sido depositadas naquela banda. E agora, depois de trabalharem tão duro, e confiarem, a banda que eles começaram praticamente quando crianças, tinha a chance de ser ouvida e conhecida em todos os lugares. Era mais do que eles poderiam esperar. Conseguir um contrato com uma gravadora é um sonho de todas as bandas. Obter isso depois de seis anos, é como chegar ao céu. O Red Hot Chili Peppers era apenas uma aventura de um louco verão, um engraçado hobby. O What Is This era suas vidas. "Isso vai machucar o Anthony por dentro", comentou Jack. "Eu sei. Mas nós não temos escolha", disse Hillel. Naquela noite, os dois comunicaram sua decisão as amigos. Anthony foi para casa e ficou chorando, soluçando a noite inteira. Flea bateu a porta de seu quarto, e gritou: "EU NÃO LIGO PRA ESSA DROGA!!!". "Eu estou tentando entender", disse o executivo da EMI. "Nós oferecemos um contrato para uma banda de quatro pessoas e vocês vêm me dizendo que agora são apenas dois. Isso está certo?". Anthony balançou os ombros em sinal de indiferença. Aqueles executivos eram uns chatos. "E que diferença isso faz?", perguntou Anthony. "Porquê você não diz?" Flea falou enquanto o executivo parecia que ia dizer algo: "Vamos lá. Não é difícil de entender: depois do dia em que vocês ofereceram a droga do contrato, a banda se separou. Agora somos só nós dois". O executivo não conseguia acreditar naquilo. "Quem é você?", perguntou ao Flea. "O que você faz na banda? Toca alguma coisa?". "Sou o baixista!", respondeu Flea. "E quanto a você?", perguntou ao Anthony. "Sou o vocalista e o sex symbol da banda!", respondeu Anthony. "Ótimo. Então temos aqui uma droga de baixista e uma droga de um vocalista sex symbol.", disse o executivo. "Ei, eu não sou qualquer droga!", protestou Flea. "Qual é o problema?", perguntou Anthony, coçando a cabeça. "Isso é insanidade total.", disse o cara. "Onde diabos está o manager de vocês? É preciso falar com os meus superiores". A fita demo que tanto interessou a EMI não era a única gravada por eles naquele verão. Outras foram gravadas em vários estúdios de Hollywood, e em todas as músicas gravadas, somente algumas apareceram no primeiro álbum. Algumas eram apenas esboço de músicas como "Police Helicopter", "You Always Sing The Same" e a famosa "Stranded", mas já tinham um grande impacto nos shows. A EMI lançou aquelas demos na compilação "Out In L.A.", em 1994. As gravações do álbum inicial estavam marcadas para janeiro de 1984. Lindy Goetz falou para os remanescentes da banda, que procurassem um guitarrista e um baterista, o mais rápido possível. Faltavam apenas dois meses.
  • 30. Apesar dos ressentimentos no começo, a decisão de Hillel e Jack de não seguir com os Peppers não arruinou sua amizade com Flea e Anthony. Negócios à parte, os ex- Los Faces continuavam grandes amigos. Os quatro se juntavam nos finais de semana com muitas histórias para contar, aventuras para planejar, e falar de seus relacionamentos amorosos. Hillel estava fivando com uma bela loira, chamada Caroline Brick, que todos costumavam chamar de "Addie". Flea estava começando a ficar com uma punk, estudante do segundo grau - ensino médio -, chamada Louisa Zeviar, mas todos a chamavam de "Loesha". Anthony... bem, Anthony tinha várias mulheres, mas naquele verão, passava as noites com Nina Hagen, cantora punk alemã que havia ido para Los Angeles alguns anos antes. Apesar de ser muito mais velha que Anthony, Nina não resistiu ao charme do vocalista dos Peppers. Dez anos depois, em Woodstock, Anthony a homenageou, dizendo na frente de 200.000 pessoas: "Eu fiz amor com Nina Hagen. Ela é uma mulher doce fazendo amor". Em 1984, Anthony começou outro namoro durador. O nome de sua namorada era Jennifer Bruce, uma bela viciada em heroína. Seu relacionamento com Anthony, que durou por quase dois anos, não era diferente de outras histórias entre viciados. Apesar de um ser importantíssimo para o outro, a heroína estava sempre em primeiro lugar. Hillel e Jack ajudaram os amigos a reconstruírem a banda, apresentando-lhes dois amigos, também músicos locais: Jack Sherman, guitarrista e Cliff Martinez, baterista. Não havia muito tempo. No começo de 1984, os novos Chili Peppers entraram no estúdio junto com o produtor Andy Gill e começaram os trabalhos. Andy Gill havia sido o guitarrista da banda Gang Of Four, uma banda britânica, pós-punk, e no início dos anos 80, mudou-se para Los Angeles, pensando em se tornar produtor. Encontrou quatro garotos californianos que não tinham a menor idéia de como ele trabalhava em estúdio. As relações não foram das melhores. Andy quis colocar sua influência a peso, no som dos Chili Peppers. "Ele apenas falava: Dane-se, faça isso. Vai soar legal". Anthony foi mais resumido: "Ele era britânico demais para nós". "The Red Hot Chili Peppers" é considerado por todos um dos piores álbuns da banda. Algumas outras nem pensam no álbum como sendo parte da discografia dos Peppers.
  • 31. Foi lançado em agosto de 1984, e vendeu muito pouco. Além das músicas já conhecidas há algum tempo em seus shows, apenas uma música poderia ser comercializada: "True Men Don't Kill Coyotes", que se tornou o primeiro single da banda. MTV apresentou os Chili Peppers no MTV News no verão de 1984. É claro que os únicos membros entrevistados foram Anthony e Flea. Anthony tinha clareado o cabelo, usava um boné azul e vestia uma camiseta branca. Flea fez a entrevista segurando um cachorro. "Nós estamos indo rumo ao mundo, vamos espalhar a nossa vibração em qualquer lugar onde estivermos", disse Anthony. Quando perguntado sobre sua música, Flea respondeu: "Nós tocamos bone-crunching mayhem para o paraízo. Anthony disse: "Eu e Flea somos os melhores amigos. E Flea concluiu: "Nossa música é uma explosão de luz e som". E uma explosão de luz e som era o vídeo de "True Men Don't Kill Coyotes", exibido pela MTV e um pouco esquecido depois. Anthony e Flea estavam muito escitados, e até Jack Sherman, com uma cômica roupa, finalmente parecia um guitarrista do Red Hot Chili Peppers. O vídeo também tinha algumas cenas dos rapazes pintados com uma tinta em cores neon. Em 1999, um jornalista perguntou ao Anthony se ele ainda se lembrava que nos primeiros vídeos costumava usar tintas de neon. Anthony respondeu: "Claro, eu lembro. Eu mudei muito desde aquela época. Sinto falta daquele jovem Anthony. Mas ele continua aqui, em algum lugar". Os Chili Peppers começaram a tocar pelo mundo, ou talvez, apenas pela América, ou então, apenas pela costa oeste e médio-oeste, em outubro de 1984. Os rapazes, em um micro ônibus Chevy, e enquanto viajavam de cidade em cidade, passavam o tempo com atividades culturais. Anthony nunca deixou de provar as "delícias locais", mas não se referindo às especialidades da cozinha. Era constante a presença de vendedores de drogas no backstage. Um desses, anônimo, de L.A. falou certa vez: "Todas as vezes que os Chili Peppers chegavam em alguma cidade, logo aparecia um vendedor. Eles eram dos melhores fregueses". Flea estava certo de que seu melhor amigo estava indo por um caminho errado. Por outro lado, todos os seus amigos eram mais, ou menos viciados nessas drogas. Ele, dizia não a todos os tipos de poções de cogumelos ou cocaína. Já Anthony, parecia estar pronto para dividir sua vida na estrada com seu vício. Flea decidiu deixar de lado todas as suas preocupações. Mas a vida na estrada é difícil, e o contato próximo entre quatro pessoas, durante 24 horas por dia, facilmente cria irritação e ressentimentos. Quando estava cansado e nervoso, Anthony costumava descontar em Jack Sherman. Ele estava sentindo a falta de Hillel e não podia crer que tinha Sherman ao invés de Hillel ao seu lado. Cliff Martinez era um cara legal, mas Sherman era um chato! Enquanto os garotos faziam suas farras e bagunças com os roadies, Sherman abria as janelas do ônibus com um olhar de quem não estava gostando. E ele sempre se dizia cansado e com sono quando os outros estavam se divertindo e compartilhando os momentos alegres. Usar drogas na frente dele estava totalmente fora de questão. Aquelke mala poderia chamar os policiais a qualquer momento! E sempre que colocava a meia no pênis, parecia estar fazendo aquilo com se estivesse sendo forçado. E por último, como guitarrista, não tinha a habilidade de Hillel. O que Hillel e Jack estavam fazendo naquele momento? Eles tinham perdido o contrato de gravação, e aquele futuro rosa, em alguns meses transformou-se em um cinza pesado. Até então, o What is This tinha gravado apenas um EP, chamado "Squeezed". Todas as pessoas que ouviam, julgavam melhor que o álbum "The Red Hot Chili Peppers". Mas Hillel não estava feliz. Estava sentindo falta de Anthnoy e Flea, e tinha muitas duvidas sobre a direção que o What Is This estava seguindo. Também estava tendo problemas com sua namorada e com as drogas. Em dezembro de 1984, ele escreveu em seu diário: "Logo eu irei diminuir o uso de drogas, especialmente heroína. Ela age como uma cobra... sem problemas, mas em demasia é ruim". E
  • 32. sobre sua banda, escreveu: "What Is This estava estranho para mim, mas não tenho certeza se quero voltar para os Peppers e ser feliz. Tenho medo de arruinar valiosas amizades". Anthony não tinha problemas quanto a isso. No final da primeira turnê dos Peppers, em janeiro de 1985, já estava com a paciência esgotada em relação ao Jack Sherman. Não poderia nem pensar na hipótese de estar na mesma banda que ele, nem por um segundo. "Aquele idiota está fora", disse Anthony ao Flea. Flea arregalou os olhos, mas não tentou mudar a idéia de seu amigo. "Certo", disse Flea. "Quem vai dizer isso a ele?", perguntou. "Nós vamos", respondeu Anthony. "Amanhã de manhã nós iremos até a casa dele mandá-lo ir se danar". A manhã chegou, e os dois foram até o apartamento de Sherman, que estranhou, afinal, eles nunca haviam feito nenhuma visita, ainda mais, àquela hora da manhã. Nem Flea nem Anthony queria falar primeiro. "O que vocês querem aqui?", perguntou Jack. "Jack..." Anthobe começou a falar, mas uma risada o fez parar. "Flea, diga a ele". "Você está fora, Jack", disse Flea, em lágrimas. "O QUE??" - Sherman não acreditava. "Yeah!", disse Anthony, "Vá se danar!". Hillel voltou para a banda. Agora, os Chili Peppers eram: Anthony Kiedis no vocal, Hillel Slovak na guitarra, Flea no baixo e Cliff Martinez na bateria. Jack Irons continuava no What Is This. "Eu sabia que eventualmente o Hillel voltaria para os Peppers. E depois de tudo, ele e Alain não estavam mais se dando bem", disse Jack. A principal razão de Hillel e Alain não estarem se dando bem, é bem simples: Hillel estaba seguindo os passos de Anthony e estava pronto para mergulhar no abismo junto com seu melhor amigo. Agora, o Red Hot Chili Peppers tinha dois viciados em drogas. Em pouco tempo, começaram a gravar um novo álbum. Anthony estava tão feliz por ter de volta seu melhor amigo, que não ligava para mais nada. Hillel o ouvia, dava-lhe sugestões, o fazia rir. "Hillel me amava como nenhum outro amigo", disse Anthony em 1996. Hillel escreveu: "É muito fácil para nós (ele e Anthony) nos alimentarmos um da energia do outro". Hillel costumava importunar Anthony por causa de suas esquisitices: ele dizia que enquanto um dos olhos de Anthony olhava para o quarto andar, o outro olhava para o quinto.
  • 33. Mas chegou uma hora em que usar drogas não era mais algo divertido. Em vez de compartilharem diversão, se afundavam em tristeza. "Apenas porque nos amávamos. Um não queria ver o outro naquele estado". Depois da desastrosa experiência com o primeiro álbum, os Chili Peppers decidiram que escolheriam o produtor ideal para sua próxima gravação e impuseram sua escolha à gravadora. Eles não queriam um outro Andy Gill. Então, quando foram comunicar sua decisão à EMI, não hesitaram: "Nós queremos o George Clinton". Quem tivesse o múnimo conhecimento sobre funk e black music, sabia quem era George Clinton. O criador do Parliament e Funkadelik e do seu funk psicodélico, estourado no mundo inteiro com as bandas Sly e Family Stone, e o próprio clinton, que estava vivendo em retiro, na sua cidade natal, Detroit, por alguns anos. Era 1985. Ano do band aid, USA for Africa, Live Aid. "Droga, olhe isso", comentou Anthony, com desgosto: "Milionários contra a fome!". Isso fez com que naquela tarde, ele escrevesse "Milionaires against hunger". "Vou colocar isso na próxima gravação", pensou. Os Chili Peppers eram contra o sistema. Não imaginavam que ninguém estava os levando a sério. Seu comportamento provocante estava dando nos nervos de algumas pessoas. Os trabalhos de pré-produção do álbum começaram em março, em um estúdio de Los Angeles. A banda tinha material novo, mas agora, precisava do toque de um expert. George Clinton conheceu os garotos em Los Angeles, e ficou bem impressionado com a simpatia e o conhecimento musical deles. Mas Clinton era um viciado em cocaína recuperado, o que o tornou totalmente contra drogas, e não cansava de dizer que Hillel e Anthony estavam inpo por um caminho errado. George Clintonn achava que deixar os rapazes longes de Los Angeles e das tentações pudesse ajudá- los, e então, propôs que a banda fosse gravar em seus estúdios, chamados "United Sounds", localizados em Detroit, Michigan. Anthony estava em casa. Em 16 de março de 1985, Hillel escreveu: "Sábado, anoitecendo no estúdio... longo dia, longa noite, longo dia. Tudo está legal, Peppers fazendo bom som, gravando. Terça-feira deixaremos Detroit". O que é certo mesmo é que Anthony estava escrevendo letras para as novas músicas, falando de sua lendária sexualidade. "George Clinton nos disse para tocarmos levando totalmente para isso. Funk é a música hardcore expressando as emoções. Guerra e paz, amor e ódio". OK, então, deixe o sexo então! "Black-eyed blonde", "Lovin and Touchin", "Catholice School Girls Rule", "Sex Rap", "Thirdy Little Birds". Todas essas pareciam abrir caminho para o "Renascimento Musical", fundado pela esposa do então senador Al Gore, Tipper. George Clinton tinha uma boa imprensão dos garotos. Acima de tudo, por Hillele, um jovem e promissor garoto, que junto com seu amigo Anthony, estava se destruindo. sua idéia de afastá-los
  • 34. de Los Angeles para desviá-los das drogas havia fracassado. À noite, quando as sessões de gravação acabavam, eles saíam por Detroit, procurando cocaína para cheirar. "Enquanto estávamos em Detroit gravando o Freaky Styley, eu, Flea e Hillel consumimos cocaína. Sob efeito dela, poderíamos nos sentir como miseráveis ou dançar, sermos absurdos", disse Anthony. Clinton conhecia uma pequena lagoa perto dos estúdios, e descobriu que Anthony adorava pescar, então, todas as manhãs o tirava da cama e o levava para pescar, com a esperança de afastá-lo do vício, mas em vão. Para Clinton, ele podia terminar alguma coisa. Ele levantava, vestia-se, gravava e ia para a lagoa com George, os dois felizes, armados com linha e vara de pesca. Freaky Styley foi lançado em setembro de 1985. Dessa vez, todos concordaram que o segundo álbum dos Chili Peppers era melhor que o primeiro. Mas... o resultado ainda não foi completamente satisfatório. A banda costumava dar o máximo de si em suas performances ao vivo e todas as pessoas que assistiam pelo menos um dos devastadores shows, e depois ouviam a gravação, inevitavelmente percebia a diferença. Então, tão logo o álbum foi lançado, os Peppers partiram para a estrada. A tour do Freaky Styley foi a maior e mais ambiciosa dos álbuns mais antigos. Durou praticamente seis meses, de setembro de 1985 a março de 1986, incluindo shows em festivais, muito maiores que os de costume. Agora que Hillele estava de volta, os caras estavam livres para festas, celebrações e nenhum deles parecia sentir- se contrariado. Em 1989, falando à revista "Alternative Press", Anthony e Flea discutiram sobre um dos primeiros shows daquela tour, em Pitsburgo, em outubro de 1985. Anthony: Aquele foi o nosso melhor show em Pitsburgo de todos os tempos. O entrevistador, Jason Pettigrew, comentou: "É, foi o que eu ouvi falar. Um cara que estava lá me disse que foi o melhor show. Eu acho que o nome dele era Ben..." Flea (Gritando): Beeeeennnn! Ele era tão louco quanto nós!" "Tá brincando?", perguntou o jornalista. Flea: "Ele nos disse que nunca seríamos capazes de fazer tours novamente se continuássemos a tocar daquele jeito. (Para Anthony) Lembra da grande conversa que tivemos? Nós fizemos nosso show e fomos embora... Anthony pegou um pacote de pipocas, colocou na boca, mastigou, e vomitou no lugar inteiro. Ficamos lá e fizemos uma comédia de duas horas". A banda estava viajando no ônibus, como de costume, com os roadies e com Lindy Goetz, mas agora que Jack Sherman não estava lá para controlar, os caras faziam loucuras o tempo inteiro. As comidas também geravam episódios curiosos dentro daquele ônibus. Uma vez, depois de tanto comer biscoitos, Anthony precisou correr para o banheiro do ônibus, colocando o estômago para fora. "Nós parávamos nas lanchonetes pelas highways e comprávamos porções de 'tudo o que tivesse pimenta', e comíamos no ônibus. Mas as pimentas pareciam nos dar uma complicada atividade intestinal, e então, o ônibus não cheirava como rosas. As sessões no banheiro eram muito intensas". No meio da turnê, um show em Grand Rapids. Era a primeira vez que Anthony estava tocando em sua cidade natal, e Peggy não podia perder a oportunidade de ver seu bebê controlando a multidão. Anthony convenceu os outros a tocarem com as lendárias meias nos pênis. No dia seguinte, nas manchetes dos jornais locais: "Se eu tivesse um filho assim, eu o matava". Nos primeiros meses de 1986, a tour chegou ao estado final. No dia primeiro de fevereiro, Hillel escreveu: "No Hilton, em Chicago. Foi um belo show. Dividindo o quarto com Swan, estamos os
  • 35. dois, doidos de heroína". Flea não podia mais suportar isso. Anthony e Hillel estavam fora de controle. No final da turnê, Flea viu que Cliff Martinez e Lindy Goetz não tinham nenhum poder sobre os dois amigos. Flea estava completamente sozinho. Quando a turnê acabou, Anthoy foi para o Havaí com Jennifer e Hillel foi para a sua bela casa, a qual chamava de "O Castelo". Flea voltou a ver Jack Irons. Ele não estava feliz, What Is This estava no fim de seus dias e ele estava de saco cheio. "Eu preciso de você. Não posso fazer isso sozinho. Anthony está se destruindo e Hillele está tentando imitá- lo. Não sei mais o que fazer, só você pode me ajudar. Por favor, volte". Cliff Martinez era um cara legal e um ótimo baterista, mas os Chili Peppers, naquele momento, precisavam de muito mais que isso. Jack disse a Flea que pensaria no assunto. Anthony voltou para Los Angeles, e foi quanto Jack chamou Flea e lhe disse que estava de volta aos Peppers. Os Chili Peppers fizeram uma pequena tour pela Flórida e foram para a Europa, onde tocaram com George Clinton para uma Televisão Alemã. Alguns dias antes, um single havia sido lançado, "Catholic School Girls Rule", cujo videoclipe não fes muito sucesso e foi censurado. Foi o segundo single, depois de "Jungle Man", e não vendeu bem. MTV era Lei e Ordem, não muito diferente dos dias de hoje, e se um clipe não fazia sucesso, o mesmo acontecia com o single. Então, a banda voltou para o estúdio. Apesar de o Red Hot Chili Peppers ter voltado à sua formação original, eles não tocavam juntos há dois anos, e precisavam se entrosar novamente. Eles tinham algumas músicas escritas, e queriam testá-las. As sessões foram logo chamadas de "Uplift Mofo Party Plan", apesar de que ninguém estava pensando que pudesse se transformar em um álbum. No momento, tudo o que eles queriam era tocar, e os primeiros resultados eram fantásticos. Hillel era o mais entusiasmado: "Isso será um hit, tem que ser. Todas as músicas são muito boas". Quem viu Anthony Kiedis no vídeo de "Catholic School Girls Rule" ou no show da TV Alemã, não acreditava no que acontecia tão logo as luzes se apagavam. Aquele cara com tão boa aparência e cheio de energia deixava o palco, e sem nem pensar em qualquer outra coisa, corria para as zonas mais degradadas da cidade e passava o resto do dia lá, junto com as pessoas mais perigosas da área. Mas aquilo acontecia todos os dias. Ele e Jennifer tinham praticamente se separado, Anthony não tinha mais amigos, não estabelecia nenhum tipo de relação com sua família, quase não tinha um lugar para viver. "Tudo o que eu tinha era uma conexão com um cara chamado Mario, ex-integrante de uma gang da mafia Mexicana. Eu e ele costumávamos andar pelo centro da cidade atrás de próximos
  • 36. pontos", disse Anthony anos depois. A máfia Mexicana, como todas as outras no mundo, não era boa. "Em uma tarde", continuou Anthony, "estava muito quente, pois o sol estava fora por dias, nós fomos para aquela ponte. Uma ponte em uma estrada e a única certeza que se tinha era que os membros da gang estavam sempre lá, e eles me deixaram ficar também, porque Mario disse a eles que eu estava com sua irmã, o que era mentira, então, nós pudemos ficar sob a ponte e usar a droga". Anthony tinha simplesmente atingido o estado final, o ponto sem volta, muito fundo, e naquela tarde, ele finalmente entendeu isso. "Aquele foi o ponto mais baixo da minha vida", disse. O efeito dessa revelação não foi imediato. A heroína cancelava tudo e quando começava a correr por suas veias a sensação que ele sentira anteriormente, começava a desaparecer A vida voltou ao normal. Os Red Hot Chili Peppers não tinham um nova gravação para promover, mas decidiram voltar para a estrada. A essa altura, o desastre vaio à tona. A tour foi chamada por Anthony de "A Pior Tour", e estava claro que inguém naquele momento estava se sentindo ior que ele. Hillel não era muito diferente, mas era mais cuidadoso e reservado. Quando queria comprar suas drogas, pedia para alguém que o fizesse. Anthony ia pessoalmente, conhecia os vendedores e os convidava para o backstage, os pagava sob a luz do dia, como quem compra doces. Sua performance estava cada vez pior. Flea e Jack, com cada vez mais desgosto. Flea havia tentado de todas as formas ajudar seu amigo, mas agora estava começando a deixar de lado. Que diabos, era hora de Anthony se limpar se quisesse continuar. Quando a tour acabou, Flea chamou Anthony para uma conversa, e sem rodeios, falou: "Anthony, você está fora". Anthony mal podia ouvir. O que aquele baixinho de olhos azuis queria dele? Estava tirando Anthony da banda? "Você quis assim, companheiro", disse Flea, "Vá se limpar ou você está fora. Definitivamente". Flea sabia muito bem que sem Anthony, os Chili Peppers não faziam sentido, e também, não queria passar por cansativaas audições à procura de um substituto para seu amigo. Mas àquela altura, Flea já era um expert em vida e psicológico de viciados, e o contato próximo com dois deles foi crucial para perceber que tinha de abrir o jogo, ou estavam perdidos. Anthoy e Hillel não podiam ser esquecidos. O tempo viria e faria alguma coisa. Depois de receber vários insultos de seu amigo e de sua família, Anthony percebeu que Flea não tinha tanta culpa. Ele não era um viciado em heroína. E... e depois de tudo, ouví-lo não era uma má idéia. Em um raro momento, Anthony olhou-se no espelho e sua face, com olhos vazios não o deixou muito bem. "Eu tinha percebido que as drogas haviam deixado de ser uma diversão e começaram a invadir a minha vida, tornando-se influências negativas", confessou, anos depois. Anthony também sabia que sua banda era muito importante, e não queria correr o risco de perdê- la. Se isso acontecesse, nada poderia segurar sua queda livre no abismo. Ele e Hillel falavam em procurar logo uma luz no tunel. "Isso está nos matando", disse Amthony para seu amigo, "está nos levando para uma estrada escura. Precisamos tentar parar. Quando voltarmos para Los Angeles, vamos parar, ok? Hillel negou. Então, os dois foram procurar seus respectivos fornecedores. Agora, Anthony e Hillel de volta a Los Angeles, mas Flea apenas perguntou para Anthony, se ele ia se limpar. Isso não era tão certo.
  • 37. "E quanto ao Hillel?", perguntou Anthony, "Porquê você não diz pra ele que ele está fora da banda também? Porquê justo eu?" "Hillel não é tão viciado quanto você", disse Flea, balançando a cabeça. "Você não entendeu nada", gritou Anthony, "VOCÊ NÃO SABE DE NADA!!" Anthony estava totalmente certo, mas apenas os eventos do verão de 1988 poderiam lhe dar crédito. Mas Flea parecia totalmente irredutível. Anthony foi chorando procurar Hillel. "Nós temos de nos limpar juntos", disse, "e agora vocês todos descarregam em mim, você também". Hillel colocou a cabeça em sua mesa de desenho. "Vamos lá, Swan, não é tão ruim assim". Ele começou a desenhar Anthony para consolá-lo. "Você vai encontrar garotas quentes no Centro, vamos. E eu irei te ver". "Você vai me ver e levar alguns bons materiais?", perguntou Anthony, aliviado. "Claro que sim. Se eu parar", respondeu Hillel. Hillel havia terminado com Addie alguns meses atrás e começado um novo namoro com uma garota chamada Maggie. Maggie era, é claro, uma viciada em heroína, e estava tento uma relação estranha também com Anthony, mas ele nunca quis falar sobre ela. "Eu acho melhor para mim, deixar Maggie de longe. Só posso dizer que ela inspirou a música 'No Chump Love Sucker'". Não sabe-se muito se Anthony completou seu primeiro tratamento de desentoxicação. Parece que Blackie estava o ajudando relativamente, porque conhecia algumas pessoas que haviam se tratado no mesmo centro. Os terapeutas usavam, vários tipos de tratamento, antigos ou mofernos, para combater às crises, e um deles é a acupuntura. Anthony gostou daquela terapia "alternativa". Ele achava que aquilo poderia ajudá-lo bastante. "Acupuntura é a geração dos nervos, a geração da vida!", comentou em 1991. Na realidade, como alguns viciados em drogas, Anthony desenvolveu uma certa atração por agulhas como agulhas, e a idéia de poder ser curado por elas penetrando em seu corpo era realmente apelativa! A mesma paixão por agulhas viria a cobrir metade de seu corpo com tatoos de vários tipos, mas isso aconteceria apenas alguns anos depois. Ninguém sabe como Hillel escapou de ir para o Centro de Recuperação com suas substâncias. O certo é que finalmente, Anthony saiu limpo e em forma. Ele levou a sério o tratamento e com certeza isso ajudou quando em algumas semanas depois, se submeteu a seu primeiro teste de
  • 38. HIV. Apesar do alerta mundial, como muitos outros viciados, Anthony compartilhava suas seringas com os outros, e àquela altura, as conseqüências daquele descuido o assustava. "Era paralizante", disse em 1994 para a Rolling Stone, "Eu estava em agulhas por dias". Mas também dessa vez, as estrelas estavamdo seu lado, e o teste deu negativo. A primeira coisa que Anthony fez quando saiu da clínica foi procurar um novo apartamento em hollywood. A segunda, foi escrever uma nova música, cheia de boas intenções,"Fight Like A Brave". A terceira, foi chamar Jennifer e perguntar se ela tinha alguma substância boa para lhe dar. If you're sick-a-sick 'n' tired Of being sick and tired If you're sick of all the bullshit And you're sick of all the lies It's better late than never To set-a-set it straight You know the lie is dead To give yourself a break Get it through your head Get it off your chest Get it out your arm Because it's time to start fresh You want to stop dying The life you could be livin' I'm here to tell a story But I'm also here to listen No I'm not your preacher And I'm not your physician I'm just trying to reach you I'm a rebel with a mission Quando Flea ouviu a música escrita por Anthony, se convenceu de que seu amigo estava recuperado e determinado a ficar limpo. "Fight Like A Brave é uma metáfora, para encorajar todos aqueles que acham que não têm mais nenhuma chance", explicou Anthony. Anthoy voltou para o Red Hot Chili Peppers, que o recebeu de braços abertos. Durante sua ausência, Flea, Hillel e Jack compuseram várias músicas e Flea atuou em dois filmes. E finalmente, Flea se casou! Aquela estudante punk tornou-se Sra. Loesha Balzary! Flea foi ao tatuador mais próximo e tatuou o nome dela, permanentemente sobre seu peito esquerdo, sobre seu coração. Anthony realmente aprendeu uma lição naquele tempo: do Hillel. Bastava de sedrogar em público, de vendedores de drogas o caçando em todos os lugares, de se expor. Agora que todos acreditavam que ele estava limpo, era a hora certa de fazê-los continuarem acreditando. Todos diziam que Anthony era um viciado em heroína, que estava se drogando, Anthony aqui, Anthony ali, e ninguém olhava para o Hillel, que se drogava tanto quanto ele, se não mais que ele. Só para começar, Anthony prometeu para si mesmo que nunca mais voltaria para a ponte. Ele não precisava se misturar com aqueles caras. E em nenhum caso ele falou que Mario tinha
  • 39. voltado para a cadeia. Mas o que era mais importante agora era se concentrar no novo álbum. Os caras tinham escrito várias músicas enquanto ele estava na recuperação e agora precisavamo começar a trabalhá-las. Como de costume, o primeiro problema foi encontrar um produtor. Os Red Hot Chili Peppers conheceram vários candidatos, mas nenhum deles parecia adequado. "São todos idiotas", disse Flea. "Que tal Rick Rubin?", propôs Lindy Goetz. Rick rubin foi o fundador do selo Def Jam, o mentor dos Beastie Boys, Rum DMC, LL Cool J. Uma figura chave no hip hop e no rap de New York. "Rick Rubin?", perguntou Anthony, "O barbudo?". Um encontro foi logo marcado entre os caras e o barbudo. Mas talvez tenha acontecido no dia errado. Hillel parecia estar altamente drogado. Anthony parecia estar ainda perturbado por sua última sessão de acupuntura. Flea parecia ter tido sua primeira briga com Loesha. Jack parecia estar com dor de dentes. Isso certamente assustou Rick Rubin, que em menos de uma hora foi embora. "Aqueles caras realmente me deixaram com uma sensação horrível", ele disse anos depois. Capítulo 5: Me And My Friends
  • 40. O produtor escolhido pelo Red Hot Chili Peppers depois de várias entrevistas foi Michael Bainhorn, que já havia trabalhado com Nona Hendrix e Herbie Hancock. Beinhorn conheceu a
  • 41. banda e sentiu boas vibrações. O fato de dois deles estarem drogados não o assustou. No dia 1º de abril de 1987, Hillel escreveu: "Beinhorn está muito entusiasmado como todos". O produtor era conhecido por sua disciplina quase militar, e na época, mudou-se para uma casa perto de Anthony, podendo assim, controlá-lo de perto. Quando estávamos trabalhando com George Clinton, gastávamos muito tempo relaxando e nos divertindo. Com Beinhorn foi muito diferente. Nós trabalhamos duro", disse Flea. Anthony foi mais direto: "Beinhorn é muito retentivo", disse, e aquele era aparentemente o pior insulto que ele poderia imaginar. A banda tinha finalizado 5 músicas, mas para Beinhorn, isso não era o bastante. Aqueles garotos precisavam de alguém para chutar seus trazeiros! "Malditas drogas!", Hillel continuou escrevendo, "Música é o meu destino... Eu rezo para que Anthony volte à alma cósmica, e um novo amor e respeito irão acontecer". Nos primeiros meses de 1987, estava claro para todos que o Anthony feliz, recuperado das drogas, não existia mais, e ele estava novamente dependente. "Eu não reclamo da nossa mútua procura por drogas", meditou Hillel sobre seu melhor amigo, "a eu não ponho os dedos, mas comigo mesmo, eu acho hipocrisia". Anthony tinha terminado o namoro com Jennifer, mas ela continuou sendo uma grande amiga, e o ajudava tanto no esforço para ficar limpo das drogas, quanto no esforço para encontrar as melhores substâncias. Hillel também terminou com Maggie. Aquele verão foi passado quase todo no estúdio, trabalhando feito loucos na nova gravação, e todos sabiam que ela era crucial para a banda. Quando o "The Uplift Mofo Party Plan" completou- se, a banda começou a celebrar. "Nós estávamos certos de que nossa gravação estava tão boa", Anthony disse, "Eu especialmente, abençoado porque pouco tempo antes eu tinha sido posto para fora da banda por causa do meu vício em drogas. Foi um tempo de celebração". "The Uplift Mofo Party Plan" foi lançado em setembro de 1987, com o single "Fight Like A Brave". Um vídeo engraçado foi gravado, e se não muito exibido na MTV, pelo menos, foi ao ar muito mais que os seus antecessores. E em poucos dias, a turnê começou novamente. Em 13 de outubro, Hillel escreveu: "No dia 21 nós partiremos para uma tour de 2 meses, com 3 dias de folga... Faith No More vai abrir... Nós viajamos em uma grande casa móvel... Eu sinto, em algum jeito, que meu tempo está limitado". Anthony tinha certeza que estava amando novamente. Era uma garota, ele gostou muito dela. Anthony a conheceu em uma festa, depois do lançamento do "Uplift", e desde então, não parava de pensar nela. "Droga, Anthony, ela tem 16 anos", disse um amigo. "E daí? Ela faz sexo como se fosse 10 anos mais velha. Venha, olhe para Flea e Loesha, ela também é uma adolescente e eles são felizes. E também, para sermos mais corretos, Ione tem 17 anos".