Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
terapia esportiva
1. Volume 119 • Número 231 • São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Volume 119 • Número 231 • São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009 www.imprensaoficial.com.br
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Pacientes do HC com paralisia cerebral
são reabilitados com terapia esportiva
“S Projeto do Instituto de Ortopedia e Traumatologia
e eu tivesse de dar uma meda
lha para alguém seria para Antes, durante ou
atende cerca de 80 pessoas por ano com atividades
minha mãe”, diz Denise Gomes,
esportivas semanais
depois do parto
41 anos, depois de participar da última ativi
FOTOS: FERNANDES DIAS PEREIRA
dade dos Jogos Anuais de Terapia Esportiva, A paralisia cerebral é uma lesão do sis
no complexo esportivo da Faculdade de tema nervoso central que pode ocorrer na
Medicina da USP, promovido pelo Instituto de criança antes, durante ou depois do parto
Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital ou, ainda, pode ser provocada por qualquer
das Clínicas (HC). Denise e mais 72 pessoas evento que resulte na falta de oxigenação
com paralisia cerebral estavam felizes ao par do cérebro. Além dos problemas motores,
ticipar do encerramento dos jogos, que alguns pacientes podem apresentar com
incluem provas de revezamento, arremesso, prometimentos mentais, auditivos, visuais
handebol, futebol de salão e queimada. O ou da fala. A terapia esportiva melhora a
projeto de reabilitação aos pacientes com resistência física, a condição cardiorrespi
paralisia cerebral atende cerca de 80 pessoas ratória, a força muscular, a flexibilidade,
por ano com atividades esportivas semanais. a agilidade, a coordenação, a rapidez, o
Tardiamente diagnosticado, o caso de equilíbrio e a autoconfiança.
Denise comprometeu o movimento das per
nas, impossibilitandoa de andar. Mesmo Vencendo desafios – Brunno Rodri
assim, encontrou no HC a oportunidade de gues frequenta o grupo do HC desde os 4
reabilitação. “Aqui, sou recebida por anjos anos de idade (hoje tem 25). Também para
A atividade esportiva acelera a recuperação motora dos pacientes tratados no HC
vestidos de branco que nos ajudam o tempo ele a terapia esportiva significou ter de volta
todo”, afirma. Denise realizou as cirurgias a alegria de viver. A doença afetou a perna
necessárias, progrediu no tratamento e come Dedicação rende certificação e o braço esquerdos, limitação que não lhe
çou a andar. “Estou emocionada. Sempre O Instituto de Ortopedia e Trauma “A dedicação dos profissionais na pre permitia dar mais de cinco passos sem cair.
acreditei que um dia teria coordenação nos tologia (IOT) do Hospital das Clínicas da venção de lesões e proteção à saúde dos Cirurgias e sessões de fisioterapia corrigiram
movimentos para fazer a atividade que eu Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) jogadores e todo trabalho realizado com o problema e lhe devolveram parcialmente os
quisesse. Agora consegui! E devo tudo isso foi credenciado como o primeiro Centro outros projetos foram fundamentais para movimentos. Hoje, consegue fazer tudo sozi
aos médicos do HC e à minha mãe”, des Médico de Excelência da Federação a obtenção da certificação”, destacou. nho, até mesmo sem a ajuda de equipamen
creve, lembrando que a mãe, recentemente Internacional de Futebol Associado (Fifa) Com a medida, os médicos do HC partici tos ortopédicos. “Graças ao trabalho realiza
falecida, foi a sua maior incentivadora. na América Latina. Além dos prérequisitos parão de todas as reuniões médicas da do aqui pude ver o mundo com outros olhos
Um desses anjos (como Denise chama para a qualificação, a Fifa considerou a entidade máxima do futebol mundial, cola e acreditar que existe espaço para todas as
os médicos) é o doutor João Carazzato, 72 estrutura hospitalar do HC, a produção borando nas tomadas de decisões. Até pessoas, independentemente das suas limita
anos. Ortopedista e especialista em Medicina científica e o histórico de compromisso dos agora, a Fifa contava com oito centros mé ções físicas”, enfatiza. Brunno trabalha como
do Esporte, é o mentor dos jogos. Ele conta profissionais do complexo. De acordo com dicos de excelência distribuídos por seis paí gerente de banco e pretende retomar o curso
que as modalidades esportivas têm finalidade o chefe do grupo de Medicina do Esporte ses: Alemanha, Suíça, Japão, Nova Zelândia, de gestão empresarial em 2010.
específica para o tratamento. “Nós direciona do IOT, Arnaldo Hernandes, o trabalho África do Sul e Noruega. Os jogos também contam com o traba
mos as atividades de acordo com a limitação desenvolvido e a estrutura possibilitaram o lho voluntário de muitos outros profissionais.
de cada um. O resultado é impressionante. credenciamento. Da Assessoria de Imprensa do HC São os cuidadores, assim chamados porque
A gente observa, ao longo do tempo, que se empenham para o perfeito andamento das
aqueles que não conseguiam caminhar ou Álvaro e Alfredo dos Santos, ambos com 12 Artes, com desejo de que os meninos levem atividades. Ana Cascelli, professora de classe
movimentar os braços hoje jogam até fute anos, encaram a vida de frente, com ânimo e uma vida normal. Pais de outros pacientes hospitalar, é cuidadora. Participa dos eventos
bol”, analisa. O ortopedista destaca ainda o alegria. Com vulnerabilidade nos movimentos também mostravam entusiasmo nas arqui da terapia esportiva há três anos e não pensa
trabalho da equipe multidisciplinar do HC na das pernas, em vez de reclamar das dificulda bancadas do ginásio. Maria da Silva de 72 em parar. “A cada momento que convivemos
utilização do esporte para estimular as fun des decidiram sorrir para a vida. No ginásio, anos era uma delas, sempre apoiando o com os pacientes com paralisia cerebral evoluí
ções do aparelho locomotor dos participan correm, pulam e, como se não bastasse tudo filho Reginaldo, 41 anos, que tem um tipo mos como seres humanos e damos mais valor à
tes, além do incentivo dos familiares e amigos isso, ainda encontram fôlego para jogar futebol de paralisia que não lhe permite se deslo nossa própria vida”, garante Ana, que define o
na recuperação dos pacientes. de salão. “Estou muito feliz! Gostei de tudo! car sozinho. Mesmo assim – revela Maria – encontro como uma ótima terapia para todos.
Mas o futebol é a minha preferência”, afirma Reginaldo é muito vaidoso e nunca perdeu
Pais e filhos – Desânimo e tristeza não têm Alfredo. Já o irrequieto Álvaro, com um grau a alegria de viver. “Às vezes até parece um Anderson Moriel Mattos
espaço na família Santos. Os irmãos gêmeos mais elevado de limitação do que o irmão, pre adolescente”, comenta. Da Agência Imprensa Oficial
cisa de um andador para realizar os exercícios.
Nem por isso desistiu. “Adoro esse lugar e logo
terei as mesmas condições do meu irmão.
Estou cansado, mas se tiver tempo quero jogar
um pouco mais”, disse Álvaro.
Para João e Cleusa dos Santos, pais dos
garotos, a satisfação em ver a evolução dos
filhos enche de orgulho toda a família. “Não
tem preço que pague tudo que o pessoal
do HC faz por eles”, resume o casal, que
Dr. Carazzato: mentor dos jogos toda semana traz os jovens de Embu das Denise (esq.), recuperação Irmãos Alfredo e Álvaro Reginaldo, com a mãe