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Número 3




CONTRA CORRENTE                                      para quem desafia o pensamento único




   CRI$E CLIMÁTICA
   As mudanças no clima são apropriadas por corporações, instituições financeiras
   e governos como uma oportunidade de legitimar o capitalismo “verde” e aprofundar
   a exploração dos povos e a mercantilização da natureza. Uma nova roupagem para
   um velho modelo.



• Impactos sociais severos   • Os fundos verdes do BNDES    • Rio+20: captura pelo mercado
  na África e no Brasil        ainda estão em disputa?        e fortalecimento da resistência
Editorial                                                                                      Índice


Compreender para resistir                                                             4        Os Bancos já entraram no clima

                                                                                               Monotonia conveniente:
                                                                                      6
E
       conomia verde, mitigação, mercado de carbono, IPCC, PSA, REDD, MDL,                     a ideologia aquecimentista
       UNFCCC, GEE, emissões, Anexo 1... Se o vocabulário e os conceitos
       utilizados pelo sistema financeiro sempre estiveram longe de ser facilmente    9        A construção social
                                                                                               da crise climática
assimilados pela maioria da população brasileira, em se tratando do debate
sobre as mudanças climáticas, a falta de compreensão de seu real significado é,                Rio+(ou -) 20: chancela
também, explícita. A cobertura alarmista e superficial feita pela mídia sobre os     12        para o capitalismo verde?
“fenômenos climáticos” faz com que as pessoas se acostumem a ouvir alguns
                                                                                               Banco Mundial Fora do Clima!...
jargões, siglas e termos técnicos, mas não oferece subsídios para uma reflexão       16        e de nosso países
consistente sobre o tema. Pior ainda é que, por interesses corporativos, muita
informação não é veiculada. Ou é, simplesmente, mascarada com expressões                       REDD: financiamento
leves, como “sustentável”, “verde”, “ecológico”, “florestal”.
   No entanto, apesar do vasto desconhecimento sobre o paradigma das mudanças
                                                                                     19        para florestas ou
                                                                                               financeirização climática
climáticas, ele tem avançado de modo bastante rápido, tanto nos territórios,
como nos gabinetes governamentais e escritórios de corporações. Prova disso é        21        Fundo Clima: útil, mas suficiente?
que há no Congresso, atualmente, dois projetos de lei (PL 5487/2009, que institui
a Política Nacional dos Serviços Ambientais; e PL 5586/09, que regulamenta a         23        De olho nos investimentos
                                                                                               na Amazônia
Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação – REDD) que podem ser
aprovados sem a realização de um amplo debate com a sociedade e antes mesmo                    Petróleo do Pré-Sal:
das definições internacionais (nas conferências do Clima, na África do Sul, e da     25        investindo no passado
Biodiversidade, na Índia, além da Rio + 20).
                                                                                               Emissões: os impactos mais
   Neste sentido, esta edição da Contra Corrente pretende contribuir para uma        27        renegados das hidrelétricas
compreensão qualificada deste relevante debate, especificamente, no que se
refere ao financiamento ao clima. Novamente, contando com a colaboração de                     África: expropriação de terras
valiosos interlocutores, reunimos artigos que, a partir da perspectiva assumida      31        e mudanças climáticas
pelo conjunto da Rede, em sua VIII Assembléia Geral, realizada em junho de
2010, percebem o uso das mudanças climáticas como justificativa para um              34        Raposa no galinheiro
novo – e perigoso - avanço do capital, dessa vez, travestido de “verde”. Casos
e depoimentos sobre a apropriação de terras em Moçambique, no Paraná e no            38        O REDD na vida real

Amazonas trazem concretude para estas análises críticas.
   Interessante observar que essa financeirização da natureza é bancada
                                                                                     39        Alimento para a mente

politicamente pelas mesmas velhas instituições, com destaque para o Banco
Mundial. Segundo maior banco de fomento do mundo e capitalizado continuamente
pelo Tesouro Nacional, o BNDES tem se projetado também como um gestor dos
financiamentos relacionados ao clima.
   Com a proposta de abarcar a diversidade de atores e posicionamentos da Rede,      Contra Corrente é uma publicação da Rede Brasil
                                                                                     sobre Instituições Financeiras Multilaterais
esta revista apresenta também textos que vão no outro sentido: o de acreditar        Número 03, Outubro de 2011
que mecanismos como o REDD, por exemplo, estão ainda em disputa e, portanto,         Edição: Patrícia Bonilha
podem sim apoiar a proteção das florestas e de seus povos. O aquecimentismo e a      Revisão: Gabriel Strautman, Lúcia Ortiz e Patrícia Bonilha
                                                                                     Projeto Gráfico e Capa: Guilherme Resende
necessidade de politizar as discussões, assim como os investimentos na Amazônia,     Foto da Contracapa: João Correia Filho
no Pré-Sal e nas polêmicas hidrelétricas, também estão contemplados nesta            Os artigos assinados refletem a opinião de seus autores/as.
edição. Por último, reunimos uma extensa lista de materiais para quem quiser         E não necessariamente, são questões consensuadas
                                                                                     na Rede Brasil.
mergulhar no debate do clima, a partir de uma perspectiva crítica.
                                                                                     SCS Qd 01, Bloco L, Edifício Márcia, sala 904
                                                                                     Brasília - DF, CEP 70307-900 • t + 55 61 3321-6108
Esperamos que você aprecie. Boa leitura!                                             www.rbrasil.org.br
Gabriel Strautman*




Os Bancos já entraram
na “farra” do clima
A silenciosa e rápida financeirização da natureza exige que a Rede Brasil
se aproprie do debate com a missão de explicitar as reais e falsas soluções



E
      m 2010, foram alocados                 o setor de energia realizados entre     Contradições lá e cá
      aproximadamente 10 bilhões de          2008 e 2010 - ou seja, já durante       O mesmo tipo de análise pode ser
      dólares, em todo o mundo, no           a crise climática -, ainda são para     feita em relação ao Banco Nacional de
financiamento de projetos de adaptação       fontes intensivas em carbono, como      Desenvolvimento Econômico e Social
e mitigação das mudanças climáticas1.        as termelétricas e o petróleo3. A       (BNDES), que desde 2008 administra
Segundo dados do Banco Mundial2, este        organização, acompanhada de várias      o Fundo Amazônia4. Até agora foram
valor deverá alcançar uma média anual        outras, também argumenta que as         contratados catorze projetos e outros
de 275 bilhões de dólares antes de 2030,     alternativas do Banco Mundial para      cinco estão em fase de contratação, num
tendo em vista as previsões sobre a                                                  valor aproximado de 222 milhões de
necessidade de redução das emissões de
gases de efeito estufa. Para isso, novos
                                                      “O papel de                    reais,5 no marco deste que é considerado
                                                                                     o maior fundo de promoção à Redução
fundos deverão ser criados ao longo das
próximas décadas e, desde já, instituições
                                                instituições como o                  de Emissões por Desmatamento e
                                                                                     Degradação (REDD) existente no
como o próprio Banco Mundial – entre
outros bancos de desenvolvimento
                                                Banco Mundial tem                    mundo hoje.
                                                                                       Apenas para efeito de comparação, em
multilaterais, regionais e nacionais
– estão liderando a gestão destes
                                                sido o de construir                  31 de março deste ano, o BNDES aprovou
                                                                                     um empréstimo ponte de 3,6 bilhões de
volumosos recursos.
  No entanto, a legitimidade destas             e dar escala a este                  reais para o consórcio Norte Energia
                                                                                     para alavancar o início das obras do
instituições financeiras para administrar                                            polêmico projeto da Usina Hidrelétrica de
esses fundos de mitigação e adaptação          verdadeiro mercado                    Belo Monte, em plena Amazônia e que
às mudanças climáticas tem sido                                                      deve resultar na destruição de cerca de
duramente questionada. Organizações             de compra e venda                    50 mil hectares de floresta. Sem entrar
e movimentos sociais de diferentes                                                   no debate sobre os problemas, limites e
países afirmam a existência de uma              do direito a poluir,                 riscos de tais mecanismos, parece mesmo
grave contradição, na medida em que                                                  haver uma contradição no fato de que
são também estas mesmas instituições              que é o mercado                    o mesmo BNDES, que afirma financiar
as responsáveis pelo financiamento                                                   iniciativas de preservação da floresta com
do sistema capitalista e do modelo de                de carbono.”                    milhões de reais, contribua com bilhões
desenvolvimento neoliberal, baseado                                                  para a sua destruição. O que pretendem,
nos combustíveis fósseis (principal          combater o aquecimento global,          portanto, as instituições financeiras ao
causador do aquecimento global).             tais como o mercado de carbono,         reivindicarem a gestão dos fundos para o
  Em publicação recente, a organização       usinas hidrelétricas, produção de       combate ao aquecimento global?
Amigos da Terra Internacional chamou         agrocombustíveis e o monocultivo de       Essa talvez seja a pergunta central
a atenção para o fato de que 56% dos         árvores não passam de falsas soluções   neste debate sobre as possíveis soluções
financiamentos do Banco Mundial para         para o clima.                           para o problema da mudança climática


4
Contra Corrente




          “O que pretendem,
    portanto, as instituições
               financeiras ao
      reivindicarem a gestão


                                                     Gabriel Strautman
  dos fundos para o combate
   ao aquecimento global?”

                                                                              A contradição de instituições
                                                                                e países industrializados no
                                                                         financiamento ao clima: aplicam o
                                                                              veneno e oferecem o remédio




                                                                                                                                                                                    CommonDreams.org
e sobre o papel que os bancos devem         seus negócios usuais, com a expectativa
ter. Além da limitação destas iniciativas   de que suas emissões poderão vir a ser
para superar o problema estrutural          compensadas. O papel de instituições
por trás da mudança climática, um           como o Banco Mundial, historicamente                                    Nota da editora: a utilização de imagens com
detalhe importante sobre a formação         controlado pelos mesmos países                                          expressões em inglês nesta publicação sinaliza
dos fundos para adaptação e mitigação       industrializados, tem sido o de                                         que os debates, materiais e mobilizações sobre
                                                                                                                    este tema no Brasil ainda são recentes.
das mudanças climáticas é que a grande      construir e dar escala – através da
maioria destes é formada a partir de        canalização destes volumosos recursos
doações dos países industrializados que     – a este verdadeiro mercado de compra                              * Gabriel Strautman é economista e secretário executivo
também mantém práticas contraditórias.      e venda do direito a poluir, que é o                               da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais –
  O Fundo Amazônia, por exemplo,            mercado de carbono.                                                gabriel@rbrasil.org.br
foi formado a partir de uma “doação”          A construção do mercado de carbono
do governo norueguês. Embora invista        no Brasil está sendo feita de maneira                              1– Banco Mundial. World Development Report 2010, disponível
                                                                                                               em http://econ.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/EXTDEC/
nestes fundos no Brasil e também            silenciosa e rápida, com a liderança                               EXTRESEARCH/EXTWDRS/EXTWDR2010/0,,menuPK:5287748~pa
na Indonésia, a Noruega é dona de           de instituições financeiras como o                                 gePK:64167702~piPK:64167676~theSitePK:5287741,00.html
empresas petroleiras como a Statoil (que    Banco Mundial e o BNDES. Para a                                    2– Idem
está construindo uma parceria com a         Rede Brasil, portanto, o debate sobre
Petrobrás) e a Norsk Hydro (que investe     o financiamento para o clima torna-                                3– Friends of the Earth. World Bank: catalysing catastrophic
                                                                                                               climate change: the world bank’s role in dirty energy investment
na exploração de bauxita na Amazônia,       se obrigatório, e passa pela produção                              and carbon markets, disponível em http://www.foei.org/en/
se aproveitando também da construção        de análises e o compartilhar de                                    resources/publications/pdfs/2011/world-bank-catalysing-
                                                                                                               catastrophic-climate-change
de Belo Monte como possível fonte de        conhecimento. O propósito deve ser o
energia futura).                            de que os verdadeiros responsáveis pelo                            4– Desde 2009, o BNDES também administra o Fundo Nacional
  A existência desses fundos permite        aquecimento global paguem a conta e                                sobre Mudanças Climáticas, mas que ainda se encontra na fase
                                                                                                               de definição dos seus critérios operacionais.
que esses países, grandes responsáveis      de que falsas e perigosas soluções não                              	
pelo aquecimento global, continuem          nos sejam impostas, agravando ainda                                5– http://www.fundoamazonia.gov.br/FundoAmazonia/
                                                                                                               fam/site_pt/Esquerdo/Projetos/ e http://www.bndes.gov.br/
poluindo, já que por esta via constroem     mais a exploração das riquezas naturais                            SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/
uma imagem verde apesar de seguir           e dos povos do Sul.                                                Consulta_as_operacoes_do_BNDES/setorprivado.html



                                                                                                                                                                               5
Oswaldo Sevá*




Monotonia conveniente:
a ideologia aquecimentista
Discordando de uma insistência quase hegemônica, há quem problematize o
debate sobre o aquecimento global a partir da política e do próprio rigor científico



E
       sclarecimento necessário: o autor                  Como engenheiro mecânico e velho                               do decaimento radiativo - é o que dizem
       desse artigo não é climatólogo,                  pesquisador na área de Energia, tem                              atualmente os estudiosos da física
       nem pesquisador de química ou                    plena consciência de que a atmosfera,                            nuclear e da astronomia, e faz sentido.
física atmosférica, nem geólogo. Não tem                essa estupenda casquinha de gases,                                 Muita gente sabe ou intui que não
condições profissionais nem legitimidade                poeiras, vapores e condensados que nos                           fervemos nem explodimos ao fim de
para afirmar nem desmentir assertivas                   envolve, é uma máquina termodinâmica                             um dia de verão tórrido porque no
sobre a história recente ou remota do                   com dois motores: a radiação do sol que                          outro hemisfério faz frio no mesmo
planeta Terra, nem sobre dimensões e                    nos bate a cada segundo e em todos                               dia, e a massa atmosférica se vira
comportamento do seu imenso volume                      os recantos a cada dia e ano; e o calor                          como pode soprando ventos e sendo
de águas oceânicas, lacustres, fluviais                 interno do núcleo fundente do planeta.                           sacudida pelos alíseos da rotação
e da sua imensa massa de gelos, neves,                  A longuíssimo prazo, parece que esses                            planetária. Também porque a casquinha
nuvens e chuvas.                                        dois motores tendem a esfriar por causa                          de poucos quilômetros de espessura
                                                                                                                         conta com um poderoso e onipresente
                                                                                                                         estabilizador e dissipador dessa energia,
                                                                                                                         a massa aquática bem mais espessa, em
                                                                                                                         permanente circulação, em incessante
                                                                                                                         troca de estados físicos: de líquido a
                                                                                                                         sólido e de novo a líquido, daí a vapor e,
                                                                                                                         de novo, a líquido.
                                                                                                                           De fato há consenso de que a atmosfera
                                                                                                                         da Terra é única e funciona para nós
                                                                                                                         como uma verdadeira estufa de criar
                                                                                                                         plantas; que ela segura por aqui, por
                                                                                                                         causa das sucessivas reflexões dos raios
                                                                                                                         nas camadas de gases, poeiras, nuvens
                                                                                                                         e gotículas, um pouco do estupendo
                                                                                                                         calor que retornaria, se perdendo, ao
                                                                                                                         espaço sideral. O planeta sim resfriaria
                                                                                                                         se não existisse a atmosfera como
                                                                                                                         ela é. Em inglês, é o “greenhouse”, na
                                                                                                     Guilherme Resende




                                                                                                                         língua francesa, o “effet de serre”, na
                                                                                                                         castelhana, o “efecto invernadero”. Em
                                                                                                                         todas as línguas, a compreensão de que a
                                                                                                                         casquinha irradiada e quase transparente
                                                                                                                         é tão fundamental para a vida como o
Há muitos interesses , propositadamente, não explícitos no atual debate sobre o aquecimento global                       calor do útero. Eis o único consenso.


6
Contra Corrente




  O restante da conversa é criação da         inclemente dos anos de 1930 foi             O homem coloca apenas 6 bilhões de
linguagem, da sociedade, suas ciências        reavivada pelo verão extremamente           toneladas, portanto as emissões humanas
e suas mídias. Quando se quer afirmar a       quente de 1988, e daí: “Seguiu-se-lhe       representam 3%. Se, nessa conferência,
todo custo, que “está aquecendo” e que        a dramatização (‘greenhouse panic’).        conseguirem reduzir a emissão pela
isto resulta da nossa ação, chamada de        Inicialmente assunto da climatologia, o     metade, o que são 3 bilhões de toneladas
“antrópica”, trata-se de uma ideologia        tema passou a ser tratado com emoção        em meio a 200 bilhões? Não vai mudar
refinada, uma crença monótona,                e irracionalidade. Depressa evoluiu para    absolutamente nada no clima.”
conveniente para muitos lados das lutas       o alarmismo. Perdeu o seu conteúdo
políticas e de classes deste novo milênio.    científico. Questiona-se actualmente:       A ciência do clima:
Nem todos, aliás!, como veremos aqui          estaremos ainda a falar de climatologia?    observações versus modelos
algumas pistas.                               Com uma ‘convicção’ geralmente              O site californiano Global Research.Ca
                                              proporcional à ignorância dos rudimentos acompanha com farta publicação temas
Aquecimento global:                           da disciplina, os ‘climatólogos             tão variados como ambiente, petróleo e
uma impostura científica                      autoproclamados’ propagam hipóteses         energia, biotecnologia, medicina, pobreza
Este é o impiedoso título de um extenso       procedentes dos modelos. Hipóteses          e, especialmente, os crimes contra a
artigo publicado em 2003 pelo cientista       infundadas ou mal estabelecidas e não       humanidade, a militarização e o estado
francês Marcel Leroux, recentemente           corroboradas pelas observações.”            policial emergente após o atentado
falecido. Professor de Climatologia da          Leroux é bem precavido quanto ao          de 11 de setembro. Nele, o articulista
Universidade Jean Moulin - Lyon III e         fato propalado de que os relatórios do      Richard Moore compila os resultados
diretor do Laboratório de Climatologia        Painel Intergovernamental das Mudanças      da análise do gelo da Groenlândia que
do Centre National de la Recherche            Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) são   indicam as temperaturas no hemisfério
Scientifique (CNRS), ele é o autor dos        preparados por “centenas de cientistas”:    Norte no período longo de 2.000 anos
livros Global Warming: Myth or Reality?       “O número anunciado pode iludir e           AC até o ano de 1900, e organiza as
The Erring Ways of Climatology e La           esconder o monolitismo da mensagem.         medições das temperaturas da superfície
dynamique du temps et du climat. Eis          Na realidade, uma pequena equipa            terrestre em três latitudes distantes, dessa
alguns trechos selecionados do início do      dominante impõe os seus pontos de           data até hoje.
seu artigo, traduzido pelo site português     vista a uma maioria sem competências           Para o leitor sedento dos números e
Resistir.Info:                                climatológicas. O ‘I’ de IPCC significa,    gráficos, ele registra os principais links
  “O aquecimento global é uma hipótese        com efeito, ‘intergovernamental’. Significa dos relatórios do satélite NOOA, do
fornecida por modelos teóricos. Baseia-       que os pretensos cientistas são antes do    Instituto Goddard, do Centro Marshall,
se em relações simplistas que anunciam        mais representantes governamentais.”        bem como os trabalhos recentes de Roy
um aumento da temperatura, proclamado           Encontrar um brasileiro, especialista,    Spencer, (da University of Alabama,
mas não demonstrado. São numerosas            que conteste a monotonia da pauta           Huntsville e do U.S. Science Team
as contradições entre as previsões            “aquecimentista” foi bem mais difícil,      Leader for the Advanced Microwave
e os factos climáticos observados             mas... existe um meteorologista,            Scanning Radiometer) que trata os
directamente. A ignorância destas             que aqui representa a Organização           dados do satélite NASA-Acqua. Ele
distorções flagrantes constitui uma           Meteorológica Mundial, com sede em          tirou conclusões opostas às da ideologia
impostura científica. Nos anos 70 (do         Genebra, o sr. Luis Carlos Molion. Ele      aquecimentista, principalmente por causa
séc. XX) verificou-se um desvio climático     assim respondeu a uma pergunta do           do comportamento das nuvens pesadas
(que os modelos não ‘previram’).              site UOL Ciência e Saúde, em dezembro       (cirrus) e das chuvas quando ocorre
Traduziu-se num aumento progressivo da        de 2009, enquanto se desenrolava a          aquecimento da superfície terrestre. Para
violência e da irregularidade do tempo        badalada e fracassada Conferência COP       não cometer erros, traduzo abaixo um
e foi provocado pela modificação do           15, na capital da Dinamarca:                trecho de Moore, comentando a pesquisa
modo de circulação geral da atmosfera.        “Q: O senhor, então, contesta qualquer      de Spencer: “O que ele encontrou,
O problema fundamental não é prever           influência do homem na mudança de           dirigindo os sensores dos satélites para
o clima em 2100. Deve-se, antes,              temperatura da Terra? 				                  os alvos apropriados, é que a resposta de
determinar as causas daquele desvio           Molion: Os fluxos naturais dos oceanos,     retroalimentação (‘feedback response’)
climático recente. Isso permitiria prever a   pólos, vulcões e vegetação somam 200        é mais negativa do que positiva. Em
evolução do tempo no futuro próximo.”         bilhões de toneladas de emissões por ano.   particular, ele verificou que a formação
  Mais adiante, ele lembra que nos            A incerteza que temos desse número é        de nuvens ‘cirrus’ de tempestades é
Estados Unidos, a memória do tempo            de 40 bilhões para cima ou para baixo.      inibida quando as temperaturas da


                                                                                                                                         7
superfície do globo são altas. As nuvens        “Além disso, os registros de longo     Um contra-exemplo:
‘cirrus’ são elas mesmas um poderoso gás     prazo mostram que a temperatura           No início de outubro deste ano,
de efeito estufa, e essa diminuição na sua   foi no passado muito mais alta que        organizamos na Universidade Estadual
formação pode compensar o aumento de         hoje – inclusive há apenas mil anos       de Campinas (Unicamp) um Fórum
aquecimento causado pelo CO2”.               (o Período de Aquecimento Medieval)       intitulado “Injustiça Ambiental e Saúde:
                                             – e nenhum desastre bizarro, tal          os atingidos pela poluição do ar”, no qual
Os modelos climáticos                        como a extinção de ursos polares ou       pesquisadores universitários e lideranças
e a opinião pública                          ciclos de retroalimentação positiva       de entidades não governamentais
  Cito agora trechos de Moore onde ele       (runaway feedback loops), ocorreu         levaram o seu testemunho e experiência
desvenda o restante da argumentação          em consequência disso. Assim              sobre o avanço dramático dos números
científica-e-política pois, nesse caso,      como com o modelo ptolomaico, há          medidos de poluição do ar (poeiras,
não temos mais como separar uma              facções politicamente poderosas que       fumaças, hidrocarbonetos, inclusive os
da outra: “No caso dos modelos               encamparam para seus próprios             aromáticos bastante patogênicos, gases
climáticos que estão sendo usados            propósitos a teoria do aquecimento        de nitrogênio e de enxofre, precursores
pelo IPCC, a suposição é de que o            global danoso de origem antropogênica.    de chuvas ácidas e de ozônio respirável) e
CO2 é um controlador fundamental             Por enquanto, basta dizer que             sobre a degradação das condições de vida
do clima. Há uma base intuitiva para         generosos fundos foram fornecidos         de populações em áreas carboníferas,
essa suposição, dado que o CO2 é um          para os cientistas da CRU (Climatic       siderúrgicas e do agronegócio. Esses
gás de efeito estufa, e tanto o CO2          Research Unit), que ficaram mais que      temas e assuntos cruciais para a saúde e
como a temperatura tem-se elevado            dispostos a ‘refinar’ o modelo para       sobrevivência do ambiente e da espécie
substancialmente no último século.           lidar com a ‘verdade inconveniente’       humana vêm sendo obscurecidos,
Além disso, observou-se uma forte            dos problemas do modelo - mesmo que       desprezados e omitidos pelos que, nas
correlação entre os níveis de CO2 e a        isso requeresse coisas como ‘esconder     empresas, governos, universidades e
temperatura em registros de longo prazo      o declínio’.                              ONGs, passaram a seguir a moda e o
revelados por amostras de gelo. Mais           Finalizo protegendo a                   credo aquecimentista. Muito antes de
ainda, a queima de combustíveis fósseis      própria imagem: criticando os             aquecer, se é que aquece... a atmosfera
continua a poluir a atmosfera (e os          “aquecimentistas”, tem gente séria        está certamente sendo envenenada.
oceanos) com níveis cada vez mais altos      e bem informada como os citados,
de CO2. Isso levou à hipótese de que a       mas também vários fundamentalistas
temperatura pode se elevar abruptamente,     neo-liberais, guerrilheiros do livre
colocando em perigo a vida no planeta.       mercado, a indústria carbonífera,
Tudo isso foi apresentado de forma           além dos senhores do petróleo e suas
bastante dramática por Al Gore em seu        guerras. Quem se interessar, vá ao site
famoso documentário.” 
                      Competitive Enterprise Institute, de
                                                                                       * Oswaldo Sevá é engenheiro mecânico, doutor em
  Lembrando que o famoso modelo do           onde se pode navegar no http://www.
                                                                                       Geografia Humana e professor da Universidade Estadual
egípcio Ptolomeu, no segundo século da       globalwarming.org/ e, daí, pular para     de Campinas (Unicamp) – seva@fem.unicamp.br e
era cristã, colocando a Terra no centro do   outro endereço que questiona o falado     www.fem.unicamp.br/~seva
sistema solar, era quase perfeito, Moore     filme Uma verdade inconveniente –
destaca que: “Assim como com o modelo        http://www.noteviljustwrong.com/          referências bibliográficas
                                                                                       Leroux, Marcel: Réchauffement global: une imposture
ptolomaico, há vários problemas com          home (ou seja: ele não é o diabo,         scientifique foi publicado no nº 95, Março-Abril/2003 da revista
a suposição de que o CO2 condiciona o        apenas está errado). Um dos mais          Fusion. http://www.revuefusion.com/images/Art_095_36.pdf .
clima, e com a predição de aquecimento       ferinos desses “direitosos” publicou,     Os trechos aqui reproduzidos na íntegra foram obtidos no site
                                                                                       português http://resistir.info/climatologia/impostura_cientifica.
perigoso. Em primeiro lugar, os registros    em 2007, Os 35 erros do filme de Al       html. Mais informação em português, acerca da teoria do Prof.
de longo prazo mostram que primeiro a        Gore. Seu nome plebeu é Christopher       Leroux em http://mitos-climaticos.blogspot.com
temperatura sofreu mudanças históricas,      Walter, mas trata-se do Terceiro          Molion, Luis Carlos, entrevista em “Não existe aquecimento
seguidas muito depois por alterações         Visconde Monckton of Brenchley,           global”, diz representante da OMM na América do Sul, Carlos
nos níveis de CO2. Outra coisa é que         assessor político direto da ex-primeira   Madeiro, 11.12.2009, no site http://noticias.uol.com.br/ultnot/
                                                                                       cienciaesaude/
tem havido períodos de resfriamento          ministra Margaret Thatcher. Espero não
significativo em anos recentes, mesmo        ser confundido com essa gente, e que      Moore, Richard Climate Sciences: Observations x Models,
                                                                                       08.01.2010, acessível em http://www.globalresearch.ca/index.
enquanto os níveis de CO2 continuaram a      eu tenha honrado o nome da revista: é     php?context=va&aid=16865, Em português em http://resistir.
se elevar dramaticamente.”                   hora e vez de estar na Contra Corrente!   info



8
Fabrina Furtado*                                                                                                                        Contra Corrente




A construção social
da crise climática
O reducionismo científico no trato das mudanças climáticas encobre a crise política
e econômica; também leva à errônea percepção de defesa de interesses comuns



E
      ntro nesse debate compartilhando
      a percepção da Rede Brasil: a
      necessidade premente de limitar a
busca incessante do capital pelo domínio
da natureza, entendendo a crise
climática como uma construção social
e não como um fenômeno científico-
natural. Inicio esta discussão a partir da
luta por reparações da dívida ecológica
e pelo fim de instituições como o
Banco Mundial, que se apropriaram,
reduziram e transformaram a questão
climática em um meio de aprofundar a
acumulação capitalista.
  Desde a era colonial, a escravidão, a
extração de minerais e hidrocarbonetos,
as monoculturas e o roubo da
biodiversidade e de conhecimentos
tradicionais consolidaram o poder e a
supremacia dos países do Norte (Europa,
Estados Unidos, Japão, Canadá e outros
que integram a lista das nações mais
ricas do mundo). Este uso e abuso da              “O IPCC reduziu a questão ambiental às mudanças climáticas, e esta às emissões de carbono”:
natureza e dos povos do Sul originaram            debate alarmista e política do medo
uma dívida ecológica que continua
aumentando através de mecanismos de          Nações Unidas sobre Mudança do Clima                direito, com a qual a sociedade tem uma
opressão e de controle, como a dívida        (CQNUMC). Esta proposta foi assinada                relação indivisível, interdependente,
financeira, o chamado mercado livre, a       pela Venezuela, Malásia, Paraguai, Sri              complementar e espiritual -, este
subjugação cultural e o uso da força.        Lanka, Butão, Etiópia e Micronésia (JS,             governo também promove um modelo
  Tendo como argumento que os países         2010).                                              de desenvolvimento baseado em uma
do Norte são os maiores responsáveis            	 Vale destacar aqui a contradição entre         matriz exportadora de hidrocarbonetos,
pela crise climática e, portanto, devem      o discurso internacional do governo                 hidroeletricidade, mineração,
pagar pelos seus custos e consequências,     boliviano e suas ações domésticas.                  agroindústria e da manufatura florestal
em 2009, o governo boliviano                 Embora seja o principal defensor da                 que viola o Vivir Bien. Um dos mais
apresentou uma proposta sobre dívida         filosofia do Vivir Bien - que reconhece             recentes e explícitos exemplos dessa
climática na Convenção-Quadro das            a natureza como ser vivo, objeto de                 contradição ocorreu em setembro deste


                                                                                                                                                     9
ano, quando o governo boliviano                                                                               grupos de pesquisa independentes que
reprimiu de modo bastante violento uma                                                                        defendiam uma ação drástica frente
marcha pacífica contra a construção                                                                           ao colapso dos preços do petróleo em
de uma estrada que pretende                                                                                   1986 e a resultante crise energética.
atravessar o Território Indígena Parque                                                                       Isso aconteceu no momento em que
Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), na                                                                          as tecnologias de energia ¨alternativa¨




                                       Greenpeace/Paulo Adario
Floresta Amazônica.                                                                                           e nuclear precisavam de ajuda oficial
  É importante refletir sobre o porquê                                                                        para sobreviver. O caminho da pesquisa
de propostas como a da dívida climática                                                                       estava traçado: eficiência energética
serem tão facilmente negadas e                                                                                (não conservação), energia ¨alternativa¨ e
ignoradas, inclusive pelos atores mais                                                                        nuclear e, posteriormente, geoengenharia
críticos. O discurso dominante gira                                                                           e comércio de carbono. Muitos governos
em torno de ações mitigatórias, como                                                                          perceberam que poderiam se beneficiar
tecnologia e mercado de carbono, e de                                                                         desta agenda. Problemas ambientais
adaptação. E, muitas vezes, essa lógica é                                                                     reais, como a capacidade das sociedades
reproduzida sem questionamentos mais                                                                          de mudarem instituições, tecnologias,
profundos. Já estamos aceitando que                                                                           comportamentos, e a justiça econômica,
o único caminho dentro do contexto                                                                            foram negligenciados. A preocupação
de eco-alarmismo é se adaptar? Quem                               “Já estamos aceitando                       deixou de ser com questões ambientais,
precisa se adaptar a quê? Precisamos é de                                                                     e passou a ser com a política energética,
des-adaptação ao capitalismo, isso sim.                             que o único caminho                       a imposição de tecnologias e a geração
Afinal, como a crise climática ganhou                                                                         de renda para determinados governos.
tanta centralidade e como se deu a                                   dentro do contexto                       Excluiu-se qualquer avaliação sobre
definição do problema? Como a ciência                                                                         a ideologia por trás das projeções
foi construída, disseminada e apropriada?                            de eco-alarmismo                         científicas e implicações das estratégias.
O fato da questão receber mais atenção                                                                          	 Assim, a ciência deixa de informar a
hoje está mesmo relacionado com uma                                 é se adaptar? Quem                        política e passa a ser sua guia, jogando
análise científica-natural ou com o                                                                           com a incerteza científica. Como disse o
contexto histórico, cultural e político? 	                          precisa se adaptar a                      representante do Ministério de Ciência
                                                                                                              e Tecnologia, Carlos Nobre, no evento
Negação de interesses conflitantes
Estudando o papel da ciência na
                                                                     quê? Precisamos é                        sobre mudanças climáticas organizado
                                                                                                              pelo Instituto de Pesquisa Econômica
definição de problemas ambientais,
Wynne (1994) afirma que o debate tem se
                                                                      de des-adaptação                        Aplicada (Ipea), em agosto deste ano,
                                                                                                              ¨A CQNUMC é inovadora porque a
baseado no domínio das ciências naturais
de forma instrumentalista, uniformizada
                                                                       ao capitalismo”.                       ciência tem um papel preponderante.
                                                                                                              Em outros casos sempre se buscou
e reducionista. Mantém-se o foco na                                                                           acordo político; a CQNUMC está
crise ambiental quando à ela antecede                                                                         baseada nos relatórios do IPCC. Foi a
uma crise política, econômica, moral e                           e privados a partir da institucionalização   ciência que trouxe o debate¨. Trata-se
cultural. O Painel Intergovernamental                            das ameaças climáticas. A autoridade         da apropriação política de uma ciência
sobre Mudanças Climáticas (IPCC)                                 científica do IPCC serviu para orientar      dominante e a negação de outras. A
reduziu a questão ambiental às mudanças                          os interesses dos países do Norte,           incerteza é usada para evitar políticas
climáticas, e esta às emissões de carbono.                       possibilitando a criação de políticas de     de prevenção da destruição ambiental e
Desvia-se a atenção para os chamados                             monetarização das mudanças físicas           garantir políticas de interesse econômico
“interesses comuns” da humanidade,                               determinadas pelas ciências naturais e       como a bioengenharia. Neste último
negando-se conflitos políticos entre                             fornecendo justificativas e incentivos       caso, a incerteza aparece como algo
diferentes grupos sociais com interesses                         para investimentos nos países do             a ser resolvido em breve pela verdade
distintos e, muitas vezes, conflitantes.                         Sul. Ela afirma que o IPPC foi criado        absoluta da ciência. A ciência dos
  	 Boehmer-Christiansen (1999) também                           pelos Estados Unidos, com o apoio            especialistas escolhidos “a dedo” pelos
critica o controle político do IPCC como                         da pesquisa ambiental daquele país           políticos, negando o saber local, também
ilustração dos interesses governamentais                         e da Europa, como contraponto aos            uma ciência.


10
Contra Corrente




  	 O conhecimento científico dominante
das questões ambientais naturaliza e
reforça interesses econômicos, políticos                                  Dívida climática                                                        Dívida ecológica
                                                                          baseia-se na constatação de que                                         é um conceito que contribui
e valores culturais e morais específicos.
                                                                          os países industrializados do Norte                                     para uma análise diferente
O que está sendo apontado como ¨nossos                                                                                                            das relações internacionais,
                                                                          cresceram, principalmente, devido à
problemas comuns” e que sociedade está                                    produção e ao desenfreado consumo                                       o intercâmbio entre o Norte
sendo criada em nome da proteção da                                       de combustíveis fósseis, responsáveis                                   e o Sul, para além dos
natureza, do clima? Existem questões                                      pela atual crise climática. Eles também                                 termos econômicos. Produz
políticas por trás das construções da crise                               se apropriaram de um ¨bem comum                                         ferramentas para acabar com
climática e é preciso cuidar para não                                     global¨ (a atmosfera e os oceanos) e da                                 os danos ambientais, para
entrar no debate alarmista e na política                                  capacidade de absorção de carbono da                                    garantir reparações e punir
do medo. Definir a crise climática como                                   biosfera. Esses países - que representam                                os responsáveis. Além disso,
uma construção social não é diminuir                                      menos de 20% da população do mundo                                      fornece novos argumentos
a sua importância ou realidade e sim                                      e emitiram cerca de 75% das emissões                                    e autoridade para exigir
estudar o processo pelo qual o fenômeno                                   históricas - são responsáveis por mais                                  o cancelamento da dívida
foi transformado de uma suposição para                                    de dez vezes as emissões históricas dos                                 financeira, acumulada de
um fato aceito. Quem realmente ganha                                      países do Sul. Atualmente, suas emissões                                forma ilegítima.
com isso?                                                                 per capita são mais de quatro vezes as                                  Assim sendo, a perspectiva
                                                                          do Sul. A dívida climática pressupõe                                    da dívida ecológica tem como
                                                                          determinar a partilha justa e equitativa                                objetivo mudar o contexto
                                                                          das obrigações e responsabilidades para                                 de diálogo e das relações
                                                                          reduzir as emissões de carbono e pelo                                   entre os países, debater o
                                                                          financiamento do clima entre os países.                                 meio ambiente para além dos
                                                                          Ela fornece uma abordagem sistemática                                   argumentos da conservação e
                                                                          para classificar, quantificar e aplicar a                               sustentabilidade e considerar
                                                                          responsabilidade histórica                                              o direito e a justiça. (F.F.)
                                                                          e exigir reparação. (F.F.)




                                                                          A (dí) vida como ela é
                                                                          Em 2009, uma avaliação da produção econômica dos países do G8 (Vinod, 2009),
                                                                          construída com base no uso insustentável de carbono per capita, com base nos preços
                                                                          de 1994, calculou que a dívida de carbono do G8 estava entre 13 e 15 trilhões de
                                                                          dólares. Um valor que excede várias vezes a dívida financeira atribuída aos países do Sul.
                                                                          Os países do Norte ofereceram em Copenhague, durante a 15a Conferência das Partes da
                                                                          CQNUMC, 30 bilhões de dólares entre 2010 e 2012 e uma promessa de mobilizar mais
                                                                          100 bilhões de dólares até 2020. Esses recursos, provavelmente, serão privados, oriundos
                                                                          do mercado de carbono e estarão nas mãos das mesmas Instituições Financeiras
                                                                          Internacionais (IFIs) que têm sido grandes responsáveis pela crise ecológica. (F.F.)


                                                                    * Fabrina Furtado é militante da rede Jubileu Sul e doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
                                                                    e Regional (Ippur), da Universidade Federal do Rio de Janeiro - f.furtado7@gmail.com

                                                                    referências bibliográficas
                                                                    Boehmer-Christiansen, Sonja. Globalização e valor de vidas humanas: implicações políticas para os países em desenvolvimento
                                                Gabriel Strautman




                                                                    da polêmica do IPCC. Ambiente & Sociedade. Ano II, Nos 2 e 3, 2o semestre 1998 – 1o semestre 1999.
                                                                    Wynne, Brian. Scientific knowledge and the global environment. In Redclift, Michael; Benton, Ted. Social Theory and the Global
                                                                    Environment. Londres: Routledge, 1994. p.169 – 189.
                                                                    Jubileu Sul. Dívidas, Não Mais: Rumo a uma Plataforma do Jubileu Sul sobre Mudanças Climáticas, Dívida Ecológica e Soberania
                                                                    Financeira. São Paulo, 2010.
A reparação das dívidas ecológica e climática                       Raina, Vinod. Ecological Debt: the creation of rich and poor countries. Apresentação durante Fórum Público sobre Dívida Ecológica
é uma demanda de organizações do Sul                                e Mudança Climática. Bancoc, Setembro, 2009.



                                                                                                                                                                                                     11
Lucia Ortiz*




Rio+(ou-)20: uma chancela
para o capitalismo verde?
Com foco em economia verde e governança global, conferência sinaliza captura
pelo mercado e pode ser consolidada como a Cúpula da Mercantilizacão da Natureza



A
       Rio+20, conferência mundial      conceituado como desenvolvimento          às múltiplas crises e a necessidade de
       sobre ‘desenvolvimento           sustentável – social, ambiental e         tamanho aparato e refinamento do
       sustentável’, será realizada     econômico – ao da economia global         discurso para dialogar com a apreensão
no Rio de Janeiro de 4 a 6 de           capitalista, mascarando os mecanismos     da sociedade frente aos problemas
junho de 2012, por sugestão do,         de implementação e de controle global     ecológicos e sociais, como o sintoma do
então, presidente Lula, em 2007, na     da natureza, deste novo ciclo de          caos climático, para, então, conseguir
Assembléia Geral das Nações Unidas      acumulação. Contexto que invisibiliza     uma aceitação social e política - apesar
(ONU).                                  ainda mais a diversidade cultural, a      do poderio econômico e midiático a seu
  Os objetivos iniciais eram nobres:    qual deveria ser incorporada como pilar   serviço.
o de assegurar a renovação dos          central da sustentabilidade, por trazer     A estratégica falta de conteúdo
compromissos políticos para o           novas e ancestrais formas de pensar,      dada ao termo economia verde no
desenvolvimento sustentável, avaliar    relacionar-se e ser parte da natureza,    ambiente das negociações da ONU,
o progresso e as lacunas (e por que     criando e recriando outras economias      ainda que pretenda ser a base de
não suas causas estruturais?) na        em sociedades sustentáveis.               um novo “acordo verde”, já tem
implementação dos resultados das                                                  provocado reações de diversos
principais conferências desde a Eco92   Economia verde:                           países. Na 19a sessão da Comissão
e tratar novos e emergentes desafios.   um frágil novo consenso                   de Desenvolvimento Sustentável
Porém, não foi criado um processo       Este foco, no pretenso novo consenso      (CDS), o resultado das negociações
de avaliação e negociação à altura      global da economia verde e a              foram: a falta de acordo na agenda
desses objetivos.                       preocupação com a governança num          de implementação no tema central
  Por outro lado, estabeleceu-se        sistema de Nações Unidas capturado        do ciclo da CDS, sobre Padrões de
como o foco da Rio+20, e com muito      pelos interesses das corporações,         Produção e Consumo; a dúvida sobre
mais empenho e força política, os       explicita a resistência imposta a         a capacidade da ONU para lidar com o
questionáveis temas da economia verde   uma agenda de sustentabilidade e          ambicioso tema do arranjo institucional
‘no contexto do desenvolvimento         democracia global nestes últimos vinte    para a Rio+20; e propostas de,
sustentável e da erradicação da         anos, assim como os interesses que        inclusive, rever o termo economia verde
pobreza’, e o arranjo institucional     devem definir a direção dos acordos       para reduzir polêmicas evidentes.1
para o desenvolvimento sustentável,     globais para o meio ambiente daqui          Fato de maior relevância foi
ou a governança global para o meio      para frente.                              a declaração dos países latino-
ambiente.                                 A agenda da Rio+20 busca legitimar      americanos, resultante dos dois dias
  No mínimo, pode se reconhecer         o capitalismo verde. Isso, por um lado,   e meio de processo regional oficial de
a redução dos pilares do que foi        expõe a fragilidade do sistema frente     preparação que aconteceu no início de


12
Contra Corrente




setembro no Chile, que simplesmente
rechaçaram e ignoraram o termo
economia verde do seu pouco ambicioso
acordo final.2

Processo oficial:
longe da governança inclusiva
  O processo em curso, iniciado
oficialmente pela resolução da ONU
de 24 de dezembro de 2009,3
estabelece etapas preparatórias de
negociações oficiais.
  De forma autônoma e independente,
já envolve uma agenda de mobilizações
da sociedade civil, bem como um
processo (que não se encerra com a
conferência) de acompanhamento dos
reflexos da sua preparação e resultados
sobre as políticas nacionais e de
                                            Adbusters




construção e fortalecimento de um
movimento global por justiça social                     A financeirização da natureza revela o novo ciclo de acumulação do capitalismo - pintado de verde
e ambiental.
  A conferência acontecerá em                       de arcabouços legais e políticos nos                  Terra, a Rio+20 poderá significar
apenas três dias (4 a 6 de junho de                 países para a chamada transição para                  a consolidação da Cúpula da
2012) e está baseada em três etapas                 uma economia verde sem que suas                       Mercantilizacão da Natureza, com ou
preparatórias internacionais, sendo                 bases ou metas, e mesmo seu conteúdo,                 sem consenso.
que as duas primeiras já aconteceram                tenham sido definidos.
e a próxima será nos dias que                         Tendo como referência os                            Um acordo de livre comércio
antecedem imediatamente a Rio+20                    resultados das últimas negociações                    disfarçado de verde?
(28 a 31 de maio).                                  mundiais para o meio ambiente,                        Seguindo na linha da captura
  O processo acordado consiste em                   podemos prever que as estratégias                     corporativa das convenções da ONU,
chamar os diversos setores da sociedade             de inovação dos processos de                          o processo em marcha por conta da
civil a enviar contribuições por internet           negociação aumentam os riscos de                      Rio+20 é o de recomendar estratégias
sobre os temas foco da Rio+20 durante               limitar a participação dos países em                  domésticas (leia-se políticas nacionais)
todo o ano de 2011, para que um                     desenvolvimento, e da sociedade                       que os países em desenvolvimento
documento chamado “rascunho zero”                   organizada de desconsiderar as                        (e não aqueles historicamente
seja divulgado somente em janeiro                   desconformidades, como foi o caso                     responsáveis pelas crises ecológica,
de 2011.                                            da posição da Bolívia frente ao                       financeira, alimentar, energética...)
  Antes, se trabalhava para buscar                  acordo de Cancun na COP16 do                          necessitam pôr em prática para
consensos globais nas negociações,                  Clima, bem como da imposição de                       alcançar os desafios da transição para
para que as convenções e tratados                   textos “caídos do céu” num ambiente                   a economia verde (tema sobre o qual
fossem ratificados pelos países                     falho de negociações para alcançar                    não há consenso nem entre os países
signatários, passassem a valer e                    verdadeiros consensos.                                envolvidos na negociação) e mapear o
se desdobrar em políticas públicas                    Como resultado dos (ou da falta                     andamento das iniciativas.
domésticas. Hoje, a lógica se inverte: já           dos) processos em curso, se a Eco92                     Nos moldes dos polêmicos
existe uma corrida pela implementação               ficou conhecida como a Cúpula da                      empréstimos do Banco Mundial e


                                                                                                                                                              13
do Fundo Monetário Internacinal            nuclear; e outros dois de combate          da votação no Congresso, é que os
(FMI) para os chamados Ajustes             ao desmatamento na Amazônia e no           desmatadores anistiados possam
Estruturais da economia dos países em      Cerrado.                                   também receber incentivos e créditos
desenvolvimento, de privatização e           Já em 2010, durante as negociações       de carbono por recuperar áreas que
abertura dos serviços à fase neoliberal    de Cancun, o Brasil lançou o Fundo         degradaram - isso não sendo válido
do capitalismo nos anos de 1990,           Clima, para direcionar recursos            para os pequenos agricultores, que
ou das imposições dos Tratados de          da exploração do petróleo do pré-          estariam isentos do dever de reconstituir
Livre Comércio (TLCs) às políticas         sal - de alto carbono - na forma           reserva legal.
nacionais para as indústrias extrativas,   de empréstimos num total de 200              Nessa linha, estão em tramitação os
a economia verde vem, tal e qual,          milhões de reais para o setor privado      Projetos de Lei (PLs) de REDD nacional
como uma Área de Livre Comércio das        assim promover a economia verde.4          e estaduais e o de Serviços Ambientais,
Américas (ALCA). No entanto, ela vem                                                  que já têm cronograma definido para
muito mais sutil, disfarçada de verde e    Políticas públicas para garantir           “ou sim ou sim” estarem aprovados
considerada inofensiva nas negociações     direitos ao mercado                        antes da Rio+20 para mostrar como o
mundiais para o meio ambiente.               Avançam as políticas verdes com          Brasil fez sua lição de casa. Antes que
                                           resultados para a especulação fundiária    nos organizemos e nos atentemos para
O ajuste estrutural                        e que fazem da reforma agrária um          o seguimento destas políticas, uma
do meio ambiente ao capital                sonho de justiça cada vez mais distante.   lei dessas dá como certa a perda de
O Brasil sancionou, em plena               Há quem diga que o “Novo Código            soberania das comunidades sobre seus
loucura pós Copenhague, nos                Florestal” ruralista a ser votado no       territórios ao garantir juridicamente
últimos dias de 2009, sua Política         Senado deixa o Brasil em flagrante         o acesso irrestrito das corporações -
Nacional sobre Mudança do Clima            contradição como país anfitrião da         ou outros pagantes dos serviços que
(PNMC). E mesmo após quase uma             Rio+20. Não será o contrário? O            estejam compensando a degradação
década de demandas da sociedade            governo poderá, a seguir, vetar algumas    ambiental de suas atividades em outro
civil, houve o veto presidencial           emendas, ou não perdoar a dívida de        canto do mundo - para medições
ao artigo que tratava da redução           desmatadores. Mas tirar a proteção         e verificações sobre os serviços
progressiva do uso de combustíveis         do Estado, reduzindo ou eliminando         adquiridos, sejam eles o carbono, a
fosseis e a inclusão da instituição de     Áreas de Preservação Permanentes           água ou a biodiversidade.
mercados certificados de carbono, o        (APPs) e Reserva Legal, é uma forma          Entre os estados mais adiantados
suprassumo da economia verde.              de dar acesso aos mercados a essa          está o Acre, que desenvolve um projeto
  Hoje, os planos setoriais, outro         enorme e bilionária riqueza verde que,     pioneiro de REDD, contabilizando um
instrumento da PNMC, estão para ser        até então, não circulava nas bolsas.       volume estimado, para os anos de 2006
aprovados com pujantes orçamentos          Nova modalidade em debate, depois          a 2009, de 100 milhões de toneladas
públicos. No entanto, eles não vão
além de “mais do mesmo”: um plano
chamado ABC do agronegócio, ou
Agricultura (industrial) de Baixo
Carbono; outro de Siderurgia Verde,
para exportação de aço produzido
com carvão vegetal de monoculturas
de árvores; um terceiro, que é o
próprio Plano Decenal de Expansão
de Energia (PDEE), calcado na
construção de barragens na Amazônia
e na expansão do agronegócio
da energia da cana e da energia


14
Contra Corrente




de dióxido de carbono (CO2), cuja          o Comitê Facilitador da Sociedade
comercialização será feita em leilão na    Civil para a Rio+20. Este Comitê
BM & FBovespa no final do segundo          prepara uma série de atividades locais,
semestre de 2011 para precificar, pela     nacionais e internacionais, que passam
primeira vez no Brasil, os créditos de     pelo fórum alternativo ao G20, na
carbono das florestas.5                    França, em novembro; pela COP17
  E chegando à capital dos megaeventos,    do Clima, em Durban, no final de
para além da Rio+20, no Rio de Janeiro,    novembro; pelo Fórum Social Temático,
se anuncia a Copa do Mundo verde e         em Porto Alegre, em janeiro de 2012;
solar. Ela se concretiza com vultosos      e pelas atividades paralelas a Rio+20,
financiamentos públicos para o setor       que pretendem oferecer um choque de
privado abastecer com energia renovável    paradigma durante a próxima semana                               “A economia verde
novos estádios e mega infraestruturas      do meio ambiente no Rio de Janeiro.
de entretenimento das elites, a serem        Sem ter como foco os megaeventos                                   vem, tal e qual,
construídas em locais de disputa com as    oficiais, estas etapas podem
comunidades urbanas carentes de acesso     representar momentos de convergência                             como uma ALCA. No
aos serviços públicos básicos. Cada vez    e fortalecimento dos movimentos sociais
mais a lógica da especulação imobiliária   e das suas propostas contra hegemônicas,                           entanto, ela vem
nas cidades reproduz o discurso do verde   necessárias ao enfrentamento de um
que entrou pela porta do clima. É o        novo e complexo ciclo de acumulação                                muito mais sutil,
caso da geração de créditos e mercados     repleto de contradições e apropriações
de compensações no caso de projetos        dos discursos ambientais e das demandas                          disfarçada de verde
que pela lei sejam privados de aplicar     populares por justiça social.
máximos índices construtivos, ou dos eco     O grande desafio e oportunidade que                                 e considerada
condomínios de luxo que apropriam-se       esta Conferência traz é o da mobilização
de áreas verdes anteriormente públicas e   daqueles setores da sociedade civil ávidos                            inofensiva nas
passam a vender sustentabilidade.          por um real choque de paradigma, por
                                           mostrar justamente que as soluções reais                                negociações
Movimentos sociais                         não têm como se dar, nem pintadas (de
na contra corrente                         verde), dentro de um sistema que precisa                            mundiais para o
  Buscando deslegitimar desde já           mudar, e já.
o pretenso novo consenso global                                                                               meio ambiente.”
da economia verde, os movimentos           Lucia Ortiz é coordenadora do Amigos da Terra Brasil,
                                           membro da Coordenação Nacional da Rede Brasil sobre
sociais no Brasil e no mundo podem         Instituições Financeiras Multilaterais e coordenadora regional
ver o caminho a Rio+20 como um             do Programa Justiça Climática e Energia do Amigos da Terra
                                           América Latina e Caribe (ATALC) – lucia@natbrasil.org.br
processo político para fortalecer e dar
visibilidade às lutas de resistência no       1- Ver SUMMARY OF THE NINETEENTH SESSION OF THE
                                              COMMISSION ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2-14 MAY
campo, nas cidades e na floresta, assim       2011, em: http://www.iisd.ca/vol05/enb05304e.html
como às propostas e soluções populares        2- http://www.eclac.cl/noticias/paginas/5/43755/
por justiça social e ambiental.               Conclusiones_reunion_prep_Rio+20-2011-esp.pdf

  Através da Rede Brasil sobre                3- Resolução ONU A/RES/64/236
Instituições Financeiras Multilaterais,       4- Ver em: http://www.ecodebate.com.br/2010/10/27/
o Amigos da Terra, juntamente com             decreto-regulamenta-fundo-nacional-sobre-mudanca-do-
                                              clima-fnmc-ou-fundo-clima/
a Via Campesina, a Marcha Mundial
                                              5- Em: http://www.opovo.com.br/app/opovo/
das Mulheres, o Jubileu Sul e mais            economia/2011/05/30/noticiaeconomiajornal,2250488/
dez outras redes nacionais, integra           credito-de-carbono-podera-ser-comercializado.shtml



                                                                                                                                     15
Jubileu Sul*




Banco Mundial
Fora do Clima!...
e de nossos países
Campanha internacional denuncia os novos interesses mercadológicos dessa velha
instituição que, através de falsas soluções, quer assegurar a hegemonia financeira



A
       ssim como as demais Instituições       isso, incorporou em suas normas as           causas dos problemas e aumentam a
       Financeiras Internacionais (IFIs),     “preocupações ecológicas” e uma suposta      dívida climática dos países do Norte. Para
       desde a sua criação, o Banco           prioridade para o “desenvolvimento           estas instituições, as mudanças climáticas
Mundial tem servido como instrumento          sustentável”. Com esse pseudo “novo          revelam-se como uma saída para a crise
de defesa dos interesses do Norte             paradigma”, seguiu impondo suas              econômica e uma oportunidade para a
global, das transnacionais e das elites       definições sobre os problemas e suas         criação de novos paradigmas e conceitos,
financeiras e política. Ou seja, atua na      soluções. Não se pode permitir que o         como o de “economia verde”.
defesa dos responsáveis por impulsionar       Banco Mundial deturpe a defesa dos             Assim, se reduz a crise civilizatória a
e beneficiarem-se do modelo econômico         direitos dos povos e da Natureza para        uma crise ecológica e a crise ecológica a
que empobrece as grandes maiorias,            continuar priorizando os mesmos              uma crise climática, e esta a uma falha
explora a natureza, gera a mudança            interesses de sempre.                        do mercado. A destruição ecológica se
climática e mina a soberania dos povos.         A crise climática é uma realidade          converte em um novo impulso para o
  Há décadas, o Banco Mundial é alvo          atual que impacta mais as populações         crescimento e a acumulação econômica
de graves denúncias e mobilizações que        do Sul global. Ela é consequência do         das elites. Os problemas ambientais e
reivindicam a sua retirada e a de suas        próprio modelo de desenvolvimento dos        sociais são caracterizados como uma
instituições correlatas (os banco regionais   países industrializados do Norte e de um     questão meramente tecnológica ou
de desenvolvimento, o Fundo Monetário         modo de produção e consumo baseado           da falta de clareza na atribuição dos
Internacional e o Centro Internacional        na crença de que a natureza não possui       direitos de propriedade. Frente aos quais
para Arbitragem de Disputas sobre             limites. Com a cumplicidade dos governos     se reivindicam soluções de mercado,
Investimento – Ciadi, dentre outras) dos      e das elites do Sul, as comunidades          como os novos produtos financeiros
países do Sul e a transformação profunda      trabalhadoras, povos originários,            “verdes”, a criação e a venda de serviços
do sistema financeiro.                        camponeses, pescadores e mulheres são        ambientais e a mercantilização da
  Porém, esse banco encontrou,                obrigados a pagar pelos custos de uma        natureza, de modo geral.
na confluência da crise sistêmica             crise que não causaram.                        A estratégia do Norte, reconhecendo o
(econômica, alimentar, energética e                                                        já inevitável problema do aquecimento
climática, dentre outras), uma nova           Novo paradigma? É tudo mentira!              climático, busca preservar a impunidade
roupagem para suas velhas práticas.           No mesmo sentido, as respostas que vêm       e evitar qualquer mudança no estilo
Através de um discurso repaginado,            sendo formuladas desde os centros de         de vida e no consumo, além de tentar
passou a incorporar e consolidar um           poder - as corporações transnacionais e      transferir a responsabilidade ao Sul,
conjunto de ações para a “transição”          as instituições financeiras internacionais   através da promoção e apoio a falsas
para um capitalismo “verde”. Para             - são falsas soluções, pois ignoram as       soluções como o mercado de carbono,


16
Contra Corrente




as hidrelétricas, a energia nuclear,        e Colômbia.                                          - Fundo para o Meio Ambiente
os agrocombustíveis e a venda de              Entre os fundos mais importantes                 Mundial (GEF, sigla em inglês): tem
tecnologia. Desse modo, o papel que as      estão: - Fundo de Biocarbono: centrado             dois fundos fiduciários financiando
elites buscam consolidar junto ao Banco     em projetos florestais e do uso da terra;          projetos de adaptação e mitigação.
Mundial é chave e similar ao utilizado        - Fundo de Carbono de Desenvolvi-                  Nas negociações sobre clima, os
nos anos de 1970, quando se propagou        mento Comunitário: centrado em proje-              governos do Norte têm buscado
o modelo de desenvolvimento com base        tos em países menos desenvolvidos;                 reforçar este papel do Banco Mundial
no endividamento externo, e nos anos de       O Banco Mundial, também maneja                   através, por exemplo, da gestão
1980 e 1990, quando utilizou-se dessa       distintos fundos de investimentos,                 do Fundo Verde Climático, cuja
dívida para impor o ajuste estrutural, as   por exemplo:                                       criação foi acordada na COP-16,
privatizações e a abertura neoliberal.         - Fundo de Tecnologia Limpa:                    em Cancun. Mesmo reconhecendo
                                            projetos de mitigação ou redução de                que o financiamento prometido é
Fundos e mais fundos                        emissões;                                          problemático pela sua lógica, destino
   Por outro lado, a criação do mercado       - Fundo Cooperativo para o Carbono               e atores envolvidos, além de outras
de carbono abriu a porta para que as        das Florestas (FCPF): para mitigação -             questões, o prometido não é aplicado.
IFIs e, em especial o Banco Mundial,        REDD;                                              Investigações recentes assinalam
expandissem sua área de atuação               - Programa de Investimento em                    que dos 30 bilhões de dólares para
e fortalecessem sua capacidade de           Florestas: para mitigação - REDD;                  financiamento “rápido” que foram
intervenção e condicionamento sobre           - Programa Piloto de Resistência                 prometidos em dezembro de 2009 no
os países mutuários (emprestadores).        Climática: para adaptação;                         chamado “Acordo de Copenhague”, até
Também permitiu gerar um programa             - Programa de Ampliação da Energia               agora, foram aplicados efetivamente
novo de financiamento para projetos         Renovável para os Países de Baixo                  apenas 7,9 bilhões de dólares, dos quais
integrados ao mercado de carbono            Ingresso: para mitigação - geral;                  42% (3,3 bilhões de dólares) serão
através de iniciativas como o                 - Fundo Estratégico sobre o Clima:               canalizados através do Banco Mundial
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo          adaptação, mitigação – REDD,                       e 47% (3,7 bilhões de dólares) serão
(MDL), Controle e Comércio (Cap and         mitigação – geral;                                 aplicados através de empréstimos.
Trade, na versão original, em inglês)
e os projetos do programa de Redução
de Emissões por Desmatamento e
Degradação (REDD). Este programa
permite aos países do Norte, e suas
transnacionais, compensar ficticiamente
parte de suas emissões de gases de efeito
estufa financiando projetos no Sul. Esse
modelo aumenta a dívida financeira
ilegítima, assim como também as
dívidas ecológicas e sociais. O mercado
de carbono favorece a especulação e o
lucro a partir das mudanças climáticas,
fomentando novos “derivados” que nada
tem a ver com o impacto climático, mas
sim com a possível criação de novas
bolhas especulativas similares ao que
ocorreu em 2007 e 2008, quando o
                                                                                                                                                       Creative Commons


mercado imobiliário explodiu.
   Atualmente, o Banco Mundial
administra 12 fundos de Unidade de
Financiamento de Carbono, com um
valor aproximado de 2,5 bilhões de
dólares, que até agora envolveram
países como China, Índia, Brasil, México        Campanha denuncia as falsas soluções propostas pelo Banco Mundial: a hora de agir é agora


                                                                                                                                                17
karmo




Mais do mesmo                               * a sugestão da Comissão Mundial         e sem nenhum envolvimento do
Enquanto isso, o Banco Mundial            de Barragens, que acaba de completar       Banco Mundial ou dos bancos de
continua financiando um modelo de         10 anos de esquecimento, sobre             desenvolvimento regionais. O Acordo
desenvolvimento que contribui para        os impactos econômicos, sociais e          demarca ainda que, para construir
o aquecimento climático, incluindo        ecológicos negativos das represas.         o equilíbrio e a equidade climática,
massivo investimento em combustíveis      As hidrelétricas não são fontes de         é indispensável reparar a dívida
fósseis e no agronegócio:                 energia limpa: contribuem para o           ecológica e climática que o Norte
  • Entre 1992 e 2004, aprovou            desmatamento e a expulsão das              tem com o Sul e com todo o planeta.
mais de 11 bilhões de dólares de          populações de seus territórios e são, ao   Os fundos não devem ser entendidos
empréstimos para mais de 120 projetos     mesmo tempo, grandes emissoras de          em função das mudanças climáticas,
de combustíveis fósseis, representando    gases de efeito estufa na atmosfera;       mas sim em função da busca de um
20% das emissões globais atualmente.        * as advertências da FAO                 caminho para uma sociedade não
  • Somente em 2007 e 2008, o Banco       (Organização da ONU para a                 dependente de petróleo, pois são os
Mundial financiou outros 7,3 bilhões      Agricultura e Alimentação)                 combustíveis fósseis os principais
de dólares em projetos de combustíveis    sobre os impactos negativos dos            causadores do problema.
fósseis – sem incluir empréstimos         agrocombustíveis sobre a segurança e a       Conhecemos as consequências
para as políticas e agências de           soberania alimentar e o desmatamento;      históricas das dívidas ilegítimas que o
financiamento intermediário do setor        * a pressão, a mobilização e as          Sul global tem sofrido há séculos. Nesse
de combustível fósseis. O banco           críticas de milhares de organizações       sentido, conclamamos que, em todas
também financiou 5,3 bilhões de           e pessoas que, nas últimas décadas,        as partes do mundo, sejam organizadas
dólares para energias renováveis          reivindicam o fechamento desta             ações que evidenciem o papel danoso
e eficiência energética. Como é de        instituição ilegítima e injusta.           do Banco Mundial e que se fortaleça
se esperar, a construção da “nova”          O Acordo dos Povos - realizado           a resistência da Campanha Banco
Estratégia Energética do Banco Mundial    durante a Conferência Mundial dos          Mundial Fora do Clima. É preciso fazer
para 2011 apresenta algumas mudanças.     Povos sobre as Mudanças Climáticas         frente às falsas soluções que este banco
Entre outros aspectos, planeja investir   e os Direitos da Mãe Terra, em abril       promove em relação à crise climática,
no setor privado enfocando na             de 2010, em Cochabamba (Bolívia),          incluindo, sobretudo, o financiamento
produção de energia e não no consumo.     como uma resposta ao fracasso de           ao mercado de carbono em suas
Para o Banco Mundial, a energia           Copenhague (COP16) - afirma que o          diversas formas, e as consequências
limpa continua sendo a hidrelétrica,      financiamento mínimo necessário            para a aliança dos direitos dos povos e
os agrocombustíveis, a energia nuclear    para enfrentar as mudanças climáticas      a natureza.
(mesmo afirmando que não vai              deve ser de 6% do Produto Interno
financiar) e o mercado de carbono.        Bruto (PIB).                               * O Jubileu Sul, rede composta de organizações
  Ao desenvolver estas políticas, o         Os fundos devem ser públicos,            e movimentos da sociedade civil da América Latina
Banco Mundial continua ignorando,         novos, adicionais e não reembolsáveis,     e Caribe, África e Ásia, integra a Campanha Banco
entre outras questões:                    eliminando o mercado de carbono,           Mundial Fora do Clima – www.jubileubrasil.org.br



18
Adriana Ramos*                                                                                                                           Contra Corrente




REDD: financiamento
para florestas ou
financeirização climática?
Em relação à compensação de emissões de carbono, o destino e funcionamento do REDD ainda não
estão suficientemente claros no Brasil; a prioridade deve ser para quem protege as florestas




                                                                                                                                                           Greenpeace/Rodrigo Baleia
                                 “O REDD pode ser visto como um mecanismo que apóia financeiramente a proteção das florestas : mecanismo em disputa”




R
      EDD é a sigla para Redução de        o REDD pode ser visto como um                         florestas pode se dar por diferentes
      Emissões por Desmatamento e          mecanismo que apóia financeiramente                   estratégias, entre elas, a promoção
      Degradação. É um mecanismo           a proteção de florestas.                              de seu uso sustentável, como tem
que reconhece a importância das               Embora ainda não haja definições                   sido historicamente feito por povos
florestas na proteção do clima e           específicas sobre o que será abarcado                 indígenas e comunidades tradicionais,
propõe uma compensação aos países          pelo mecanismo, no âmbito da                          o REDD pode também apoiar o
que estão dispostos e em condições de      Convenção de Clima ou mesmo                           desenvolvimento de alternativas
reduzir as emissões por desmatamento       na legislação nacional. Levando-                      econômicas para esses grupos sociais.
e degradação florestal. Neste sentido,     se em conta que a proteção das                          O Fundo Amazônia foi criado


                                                                                                                                                    19
pelo governo brasileiro a partir das     Priorizar os pequenos                       vivem do uso sustentável da floresta
reduções das emissões oriundas do        A crescente especulação sobre as            na região. Por isso, esses grupos sociais
desmatamento da Amazônia ocorridas       possibilidades de utilização do mecanismo   devem ser priorizados na aplicação dos
entre os anos de 2005 e 2009. Não há     REDD como compensação de emissões           recursos do Fundo Amazônia.
titulação ou certificação de carbono a   de carbono demonstram a fundamental           Para viabilizar o acesso das
partir da doação ao Fundo Amazônia.      relevância de se definir claramente em      organizações representativas das
O que o BNDES emite é um diploma         âmbito nacional a que se destinará o        comunidades locais ao Fundo, a
reconhecendo a contribuição dos          mecanismo REDD e como funcionará.           representação da sociedade civil no
doadores ao Fundo Amazônia.              Esse é o grande desafio da sociedade        COFA tem defendido o estabelecimento
O diploma traz a quantidade de           civil brasileira em relação ao tema REDD,   de editais específicos para pequenos
toneladas de carbono correspondentes     assegurar que seja um instrumento de        projetos, e o apoio a outros fundos que
ao valor da contribuição financeira      repartição de benefícios que priorize       tenham mais experiência e agilidade
para o Fundo, mas não gera direitos      os atores sociais historicamente            para apoiar projetos menores, a
ou créditos de nenhuma natureza. O                                                   exemplo do Fundo Dema, administrado
BNDES afirma que está discutindo o                                                   pela Fase, que recentemente firmou
desenvolvimento de uma metodologia         “O grande desafio é                       contrato com o Fundo Amazônia.
de inventário de carbono visando                                                        As demais pautas prioritárias da
permitir a compensação limitada          assegurar que o REDD                        representação do FBOMS no COFA
de emissões com projetos de REDD                                                     são: ampliar a transparência do Fundo
+, embora não haja informação             seja um instrumento                        Amazônia e a coerência entre os
pública sobre essa possibilidade, e                                                  objetivos do Fundo e os investimentos
nem amparo formal nas políticas
brasileiras de REDD para tal, ao
                                              de repartição de                       do BNDES na região.
                                                                                        Para ampliar a transparência do
menos por agora.
  O Fundo Amazônia se diferencia de
                                                benefícios que                       Fundo Amazônia temos cobrado
                                                                                     do BNDES ações de comunicação
outros fundos voltados às florestas                                                  mais eficientes, tanto no que diz
tropicais no âmbito das mudanças             prioriza os atores                      respeito às informações necessárias
climáticas, como o Programa de                                                       ao acesso ao Fundo, quanto às
Investimentos Florestais (FIP),          sociais historicamente                      relacionadas ao desenvolvimento dos
do Banco Mundial. No caso do                                                         projetos. Ao mesmo tempo, temos
FIP, os investimentos não estão               comprometidos e                        buscado promover um maior controle
condicionados ao ato da comprovação                                                  social sobre os recursos do Fundo
da redução das emissões. Além                responsáveis pela                       Amazônia, divulgando informações
do Fundo Amazônia, o BNDES                                                           sobre os projetos desenvolvidos em
administra outros fundos direcionados         manutenção das                         deolhonofundoamazonia.ning.com.
à regularização ambiental ou                                                            No que diz respeito à coerência
restauração florestal. Este é o caso
do Programa ABC, de crédito para
                                                   florestas”.                       entre os objetivos do Fundo Amazônia
                                                                                     e os demais investimentos do BNDES
financiar ações que contribuam                                                       na região, trata-se do desafio mais
para a redução de emissões de            comprometidos e responsáveis pela           complexo e com menor permeabilidade
gases causadores do efeito estufa        manutenção das florestas.                   dentro do próprio Banco, e a estratégia
geradas pela atividade agropecuária.        É essa perspectiva que tem balizado      do FBOMS para enfrentá-lo é buscar
O Fundo Mata Atlântica, como o           a atuação da representação do Fórum         articulação com outros grupos
Fundo Amazônia, é de recursos não        Brasileiro de ONGs e Movimentos             da sociedade, principalmente a
reembolsáveis. O BNDES anunciou          Sociais para o Meio Ambiente e o            Plataforma BNDES e a Rede Brasil.
que utilizaria recursos do Fundo         Desenvolvimento (FBOMS) no Comitê
Mata Atlântica, para a neutralização     Orientador do Fundo Amazônia (COFA).
de emissões de sua sede, no Rio          A redução dos desmatamentos na
de Janeiro. Entretanto, não há           Amazônia foi um processo resultante
informações sobre se e como isso         de ações de governo e da sociedade e,       * Adriana Ramos é secretaria executiva adjunta do Instituto
vem sendo feito.                         principalmente, das comunidades que         Socioambiental (ISA) -adriana@socioambiental.org.br



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Contracorrente3

  • 1. Número 3 CONTRA CORRENTE para quem desafia o pensamento único CRI$E CLIMÁTICA As mudanças no clima são apropriadas por corporações, instituições financeiras e governos como uma oportunidade de legitimar o capitalismo “verde” e aprofundar a exploração dos povos e a mercantilização da natureza. Uma nova roupagem para um velho modelo. • Impactos sociais severos • Os fundos verdes do BNDES • Rio+20: captura pelo mercado na África e no Brasil ainda estão em disputa? e fortalecimento da resistência
  • 2.
  • 3. Editorial Índice Compreender para resistir 4 Os Bancos já entraram no clima Monotonia conveniente: 6 E conomia verde, mitigação, mercado de carbono, IPCC, PSA, REDD, MDL, a ideologia aquecimentista UNFCCC, GEE, emissões, Anexo 1... Se o vocabulário e os conceitos utilizados pelo sistema financeiro sempre estiveram longe de ser facilmente 9 A construção social da crise climática assimilados pela maioria da população brasileira, em se tratando do debate sobre as mudanças climáticas, a falta de compreensão de seu real significado é, Rio+(ou -) 20: chancela também, explícita. A cobertura alarmista e superficial feita pela mídia sobre os 12 para o capitalismo verde? “fenômenos climáticos” faz com que as pessoas se acostumem a ouvir alguns Banco Mundial Fora do Clima!... jargões, siglas e termos técnicos, mas não oferece subsídios para uma reflexão 16 e de nosso países consistente sobre o tema. Pior ainda é que, por interesses corporativos, muita informação não é veiculada. Ou é, simplesmente, mascarada com expressões REDD: financiamento leves, como “sustentável”, “verde”, “ecológico”, “florestal”. No entanto, apesar do vasto desconhecimento sobre o paradigma das mudanças 19 para florestas ou financeirização climática climáticas, ele tem avançado de modo bastante rápido, tanto nos territórios, como nos gabinetes governamentais e escritórios de corporações. Prova disso é 21 Fundo Clima: útil, mas suficiente? que há no Congresso, atualmente, dois projetos de lei (PL 5487/2009, que institui a Política Nacional dos Serviços Ambientais; e PL 5586/09, que regulamenta a 23 De olho nos investimentos na Amazônia Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação – REDD) que podem ser aprovados sem a realização de um amplo debate com a sociedade e antes mesmo Petróleo do Pré-Sal: das definições internacionais (nas conferências do Clima, na África do Sul, e da 25 investindo no passado Biodiversidade, na Índia, além da Rio + 20). Emissões: os impactos mais Neste sentido, esta edição da Contra Corrente pretende contribuir para uma 27 renegados das hidrelétricas compreensão qualificada deste relevante debate, especificamente, no que se refere ao financiamento ao clima. Novamente, contando com a colaboração de África: expropriação de terras valiosos interlocutores, reunimos artigos que, a partir da perspectiva assumida 31 e mudanças climáticas pelo conjunto da Rede, em sua VIII Assembléia Geral, realizada em junho de 2010, percebem o uso das mudanças climáticas como justificativa para um 34 Raposa no galinheiro novo – e perigoso - avanço do capital, dessa vez, travestido de “verde”. Casos e depoimentos sobre a apropriação de terras em Moçambique, no Paraná e no 38 O REDD na vida real Amazonas trazem concretude para estas análises críticas. Interessante observar que essa financeirização da natureza é bancada 39 Alimento para a mente politicamente pelas mesmas velhas instituições, com destaque para o Banco Mundial. Segundo maior banco de fomento do mundo e capitalizado continuamente pelo Tesouro Nacional, o BNDES tem se projetado também como um gestor dos financiamentos relacionados ao clima. Com a proposta de abarcar a diversidade de atores e posicionamentos da Rede, Contra Corrente é uma publicação da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais esta revista apresenta também textos que vão no outro sentido: o de acreditar Número 03, Outubro de 2011 que mecanismos como o REDD, por exemplo, estão ainda em disputa e, portanto, Edição: Patrícia Bonilha podem sim apoiar a proteção das florestas e de seus povos. O aquecimentismo e a Revisão: Gabriel Strautman, Lúcia Ortiz e Patrícia Bonilha Projeto Gráfico e Capa: Guilherme Resende necessidade de politizar as discussões, assim como os investimentos na Amazônia, Foto da Contracapa: João Correia Filho no Pré-Sal e nas polêmicas hidrelétricas, também estão contemplados nesta Os artigos assinados refletem a opinião de seus autores/as. edição. Por último, reunimos uma extensa lista de materiais para quem quiser E não necessariamente, são questões consensuadas na Rede Brasil. mergulhar no debate do clima, a partir de uma perspectiva crítica. SCS Qd 01, Bloco L, Edifício Márcia, sala 904 Brasília - DF, CEP 70307-900 • t + 55 61 3321-6108 Esperamos que você aprecie. Boa leitura! www.rbrasil.org.br
  • 4. Gabriel Strautman* Os Bancos já entraram na “farra” do clima A silenciosa e rápida financeirização da natureza exige que a Rede Brasil se aproprie do debate com a missão de explicitar as reais e falsas soluções E m 2010, foram alocados o setor de energia realizados entre Contradições lá e cá aproximadamente 10 bilhões de 2008 e 2010 - ou seja, já durante O mesmo tipo de análise pode ser dólares, em todo o mundo, no a crise climática -, ainda são para feita em relação ao Banco Nacional de financiamento de projetos de adaptação fontes intensivas em carbono, como Desenvolvimento Econômico e Social e mitigação das mudanças climáticas1. as termelétricas e o petróleo3. A (BNDES), que desde 2008 administra Segundo dados do Banco Mundial2, este organização, acompanhada de várias o Fundo Amazônia4. Até agora foram valor deverá alcançar uma média anual outras, também argumenta que as contratados catorze projetos e outros de 275 bilhões de dólares antes de 2030, alternativas do Banco Mundial para cinco estão em fase de contratação, num tendo em vista as previsões sobre a valor aproximado de 222 milhões de necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa. Para isso, novos “O papel de reais,5 no marco deste que é considerado o maior fundo de promoção à Redução fundos deverão ser criados ao longo das próximas décadas e, desde já, instituições instituições como o de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) existente no como o próprio Banco Mundial – entre outros bancos de desenvolvimento Banco Mundial tem mundo hoje. Apenas para efeito de comparação, em multilaterais, regionais e nacionais – estão liderando a gestão destes sido o de construir 31 de março deste ano, o BNDES aprovou um empréstimo ponte de 3,6 bilhões de volumosos recursos. No entanto, a legitimidade destas e dar escala a este reais para o consórcio Norte Energia para alavancar o início das obras do instituições financeiras para administrar polêmico projeto da Usina Hidrelétrica de esses fundos de mitigação e adaptação verdadeiro mercado Belo Monte, em plena Amazônia e que às mudanças climáticas tem sido deve resultar na destruição de cerca de duramente questionada. Organizações de compra e venda 50 mil hectares de floresta. Sem entrar e movimentos sociais de diferentes no debate sobre os problemas, limites e países afirmam a existência de uma do direito a poluir, riscos de tais mecanismos, parece mesmo grave contradição, na medida em que haver uma contradição no fato de que são também estas mesmas instituições que é o mercado o mesmo BNDES, que afirma financiar as responsáveis pelo financiamento iniciativas de preservação da floresta com do sistema capitalista e do modelo de de carbono.” milhões de reais, contribua com bilhões desenvolvimento neoliberal, baseado para a sua destruição. O que pretendem, nos combustíveis fósseis (principal combater o aquecimento global, portanto, as instituições financeiras ao causador do aquecimento global). tais como o mercado de carbono, reivindicarem a gestão dos fundos para o Em publicação recente, a organização usinas hidrelétricas, produção de combate ao aquecimento global? Amigos da Terra Internacional chamou agrocombustíveis e o monocultivo de Essa talvez seja a pergunta central a atenção para o fato de que 56% dos árvores não passam de falsas soluções neste debate sobre as possíveis soluções financiamentos do Banco Mundial para para o clima. para o problema da mudança climática 4
  • 5. Contra Corrente “O que pretendem, portanto, as instituições financeiras ao reivindicarem a gestão Gabriel Strautman dos fundos para o combate ao aquecimento global?” A contradição de instituições e países industrializados no financiamento ao clima: aplicam o veneno e oferecem o remédio CommonDreams.org e sobre o papel que os bancos devem seus negócios usuais, com a expectativa ter. Além da limitação destas iniciativas de que suas emissões poderão vir a ser para superar o problema estrutural compensadas. O papel de instituições por trás da mudança climática, um como o Banco Mundial, historicamente Nota da editora: a utilização de imagens com detalhe importante sobre a formação controlado pelos mesmos países expressões em inglês nesta publicação sinaliza dos fundos para adaptação e mitigação industrializados, tem sido o de que os debates, materiais e mobilizações sobre este tema no Brasil ainda são recentes. das mudanças climáticas é que a grande construir e dar escala – através da maioria destes é formada a partir de canalização destes volumosos recursos doações dos países industrializados que – a este verdadeiro mercado de compra * Gabriel Strautman é economista e secretário executivo também mantém práticas contraditórias. e venda do direito a poluir, que é o da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais – O Fundo Amazônia, por exemplo, mercado de carbono. gabriel@rbrasil.org.br foi formado a partir de uma “doação” A construção do mercado de carbono do governo norueguês. Embora invista no Brasil está sendo feita de maneira 1– Banco Mundial. World Development Report 2010, disponível em http://econ.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/EXTDEC/ nestes fundos no Brasil e também silenciosa e rápida, com a liderança EXTRESEARCH/EXTWDRS/EXTWDR2010/0,,menuPK:5287748~pa na Indonésia, a Noruega é dona de de instituições financeiras como o gePK:64167702~piPK:64167676~theSitePK:5287741,00.html empresas petroleiras como a Statoil (que Banco Mundial e o BNDES. Para a 2– Idem está construindo uma parceria com a Rede Brasil, portanto, o debate sobre Petrobrás) e a Norsk Hydro (que investe o financiamento para o clima torna- 3– Friends of the Earth. World Bank: catalysing catastrophic climate change: the world bank’s role in dirty energy investment na exploração de bauxita na Amazônia, se obrigatório, e passa pela produção and carbon markets, disponível em http://www.foei.org/en/ se aproveitando também da construção de análises e o compartilhar de resources/publications/pdfs/2011/world-bank-catalysing- catastrophic-climate-change de Belo Monte como possível fonte de conhecimento. O propósito deve ser o energia futura). de que os verdadeiros responsáveis pelo 4– Desde 2009, o BNDES também administra o Fundo Nacional A existência desses fundos permite aquecimento global paguem a conta e sobre Mudanças Climáticas, mas que ainda se encontra na fase de definição dos seus critérios operacionais. que esses países, grandes responsáveis de que falsas e perigosas soluções não pelo aquecimento global, continuem nos sejam impostas, agravando ainda 5– http://www.fundoamazonia.gov.br/FundoAmazonia/ fam/site_pt/Esquerdo/Projetos/ e http://www.bndes.gov.br/ poluindo, já que por esta via constroem mais a exploração das riquezas naturais SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/ uma imagem verde apesar de seguir e dos povos do Sul. Consulta_as_operacoes_do_BNDES/setorprivado.html 5
  • 6. Oswaldo Sevá* Monotonia conveniente: a ideologia aquecimentista Discordando de uma insistência quase hegemônica, há quem problematize o debate sobre o aquecimento global a partir da política e do próprio rigor científico E sclarecimento necessário: o autor Como engenheiro mecânico e velho do decaimento radiativo - é o que dizem desse artigo não é climatólogo, pesquisador na área de Energia, tem atualmente os estudiosos da física nem pesquisador de química ou plena consciência de que a atmosfera, nuclear e da astronomia, e faz sentido. física atmosférica, nem geólogo. Não tem essa estupenda casquinha de gases, Muita gente sabe ou intui que não condições profissionais nem legitimidade poeiras, vapores e condensados que nos fervemos nem explodimos ao fim de para afirmar nem desmentir assertivas envolve, é uma máquina termodinâmica um dia de verão tórrido porque no sobre a história recente ou remota do com dois motores: a radiação do sol que outro hemisfério faz frio no mesmo planeta Terra, nem sobre dimensões e nos bate a cada segundo e em todos dia, e a massa atmosférica se vira comportamento do seu imenso volume os recantos a cada dia e ano; e o calor como pode soprando ventos e sendo de águas oceânicas, lacustres, fluviais interno do núcleo fundente do planeta. sacudida pelos alíseos da rotação e da sua imensa massa de gelos, neves, A longuíssimo prazo, parece que esses planetária. Também porque a casquinha nuvens e chuvas. dois motores tendem a esfriar por causa de poucos quilômetros de espessura conta com um poderoso e onipresente estabilizador e dissipador dessa energia, a massa aquática bem mais espessa, em permanente circulação, em incessante troca de estados físicos: de líquido a sólido e de novo a líquido, daí a vapor e, de novo, a líquido. De fato há consenso de que a atmosfera da Terra é única e funciona para nós como uma verdadeira estufa de criar plantas; que ela segura por aqui, por causa das sucessivas reflexões dos raios nas camadas de gases, poeiras, nuvens e gotículas, um pouco do estupendo calor que retornaria, se perdendo, ao espaço sideral. O planeta sim resfriaria se não existisse a atmosfera como ela é. Em inglês, é o “greenhouse”, na Guilherme Resende língua francesa, o “effet de serre”, na castelhana, o “efecto invernadero”. Em todas as línguas, a compreensão de que a casquinha irradiada e quase transparente é tão fundamental para a vida como o Há muitos interesses , propositadamente, não explícitos no atual debate sobre o aquecimento global calor do útero. Eis o único consenso. 6
  • 7. Contra Corrente O restante da conversa é criação da inclemente dos anos de 1930 foi O homem coloca apenas 6 bilhões de linguagem, da sociedade, suas ciências reavivada pelo verão extremamente toneladas, portanto as emissões humanas e suas mídias. Quando se quer afirmar a quente de 1988, e daí: “Seguiu-se-lhe representam 3%. Se, nessa conferência, todo custo, que “está aquecendo” e que a dramatização (‘greenhouse panic’). conseguirem reduzir a emissão pela isto resulta da nossa ação, chamada de Inicialmente assunto da climatologia, o metade, o que são 3 bilhões de toneladas “antrópica”, trata-se de uma ideologia tema passou a ser tratado com emoção em meio a 200 bilhões? Não vai mudar refinada, uma crença monótona, e irracionalidade. Depressa evoluiu para absolutamente nada no clima.” conveniente para muitos lados das lutas o alarmismo. Perdeu o seu conteúdo políticas e de classes deste novo milênio. científico. Questiona-se actualmente: A ciência do clima: Nem todos, aliás!, como veremos aqui estaremos ainda a falar de climatologia? observações versus modelos algumas pistas. Com uma ‘convicção’ geralmente O site californiano Global Research.Ca proporcional à ignorância dos rudimentos acompanha com farta publicação temas Aquecimento global: da disciplina, os ‘climatólogos tão variados como ambiente, petróleo e uma impostura científica autoproclamados’ propagam hipóteses energia, biotecnologia, medicina, pobreza Este é o impiedoso título de um extenso procedentes dos modelos. Hipóteses e, especialmente, os crimes contra a artigo publicado em 2003 pelo cientista infundadas ou mal estabelecidas e não humanidade, a militarização e o estado francês Marcel Leroux, recentemente corroboradas pelas observações.” policial emergente após o atentado falecido. Professor de Climatologia da Leroux é bem precavido quanto ao de 11 de setembro. Nele, o articulista Universidade Jean Moulin - Lyon III e fato propalado de que os relatórios do Richard Moore compila os resultados diretor do Laboratório de Climatologia Painel Intergovernamental das Mudanças da análise do gelo da Groenlândia que do Centre National de la Recherche Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) são indicam as temperaturas no hemisfério Scientifique (CNRS), ele é o autor dos preparados por “centenas de cientistas”: Norte no período longo de 2.000 anos livros Global Warming: Myth or Reality? “O número anunciado pode iludir e AC até o ano de 1900, e organiza as The Erring Ways of Climatology e La esconder o monolitismo da mensagem. medições das temperaturas da superfície dynamique du temps et du climat. Eis Na realidade, uma pequena equipa terrestre em três latitudes distantes, dessa alguns trechos selecionados do início do dominante impõe os seus pontos de data até hoje. seu artigo, traduzido pelo site português vista a uma maioria sem competências Para o leitor sedento dos números e Resistir.Info: climatológicas. O ‘I’ de IPCC significa, gráficos, ele registra os principais links “O aquecimento global é uma hipótese com efeito, ‘intergovernamental’. Significa dos relatórios do satélite NOOA, do fornecida por modelos teóricos. Baseia- que os pretensos cientistas são antes do Instituto Goddard, do Centro Marshall, se em relações simplistas que anunciam mais representantes governamentais.” bem como os trabalhos recentes de Roy um aumento da temperatura, proclamado Encontrar um brasileiro, especialista, Spencer, (da University of Alabama, mas não demonstrado. São numerosas que conteste a monotonia da pauta Huntsville e do U.S. Science Team as contradições entre as previsões “aquecimentista” foi bem mais difícil, Leader for the Advanced Microwave e os factos climáticos observados mas... existe um meteorologista, Scanning Radiometer) que trata os directamente. A ignorância destas que aqui representa a Organização dados do satélite NASA-Acqua. Ele distorções flagrantes constitui uma Meteorológica Mundial, com sede em tirou conclusões opostas às da ideologia impostura científica. Nos anos 70 (do Genebra, o sr. Luis Carlos Molion. Ele aquecimentista, principalmente por causa séc. XX) verificou-se um desvio climático assim respondeu a uma pergunta do do comportamento das nuvens pesadas (que os modelos não ‘previram’). site UOL Ciência e Saúde, em dezembro (cirrus) e das chuvas quando ocorre Traduziu-se num aumento progressivo da de 2009, enquanto se desenrolava a aquecimento da superfície terrestre. Para violência e da irregularidade do tempo badalada e fracassada Conferência COP não cometer erros, traduzo abaixo um e foi provocado pela modificação do 15, na capital da Dinamarca: trecho de Moore, comentando a pesquisa modo de circulação geral da atmosfera. “Q: O senhor, então, contesta qualquer de Spencer: “O que ele encontrou, O problema fundamental não é prever influência do homem na mudança de dirigindo os sensores dos satélites para o clima em 2100. Deve-se, antes, temperatura da Terra? os alvos apropriados, é que a resposta de determinar as causas daquele desvio Molion: Os fluxos naturais dos oceanos, retroalimentação (‘feedback response’) climático recente. Isso permitiria prever a pólos, vulcões e vegetação somam 200 é mais negativa do que positiva. Em evolução do tempo no futuro próximo.” bilhões de toneladas de emissões por ano. particular, ele verificou que a formação Mais adiante, ele lembra que nos A incerteza que temos desse número é de nuvens ‘cirrus’ de tempestades é Estados Unidos, a memória do tempo de 40 bilhões para cima ou para baixo. inibida quando as temperaturas da 7
  • 8. superfície do globo são altas. As nuvens “Além disso, os registros de longo Um contra-exemplo: ‘cirrus’ são elas mesmas um poderoso gás prazo mostram que a temperatura No início de outubro deste ano, de efeito estufa, e essa diminuição na sua foi no passado muito mais alta que organizamos na Universidade Estadual formação pode compensar o aumento de hoje – inclusive há apenas mil anos de Campinas (Unicamp) um Fórum aquecimento causado pelo CO2”. (o Período de Aquecimento Medieval) intitulado “Injustiça Ambiental e Saúde: – e nenhum desastre bizarro, tal os atingidos pela poluição do ar”, no qual Os modelos climáticos como a extinção de ursos polares ou pesquisadores universitários e lideranças e a opinião pública ciclos de retroalimentação positiva de entidades não governamentais Cito agora trechos de Moore onde ele (runaway feedback loops), ocorreu levaram o seu testemunho e experiência desvenda o restante da argumentação em consequência disso. Assim sobre o avanço dramático dos números científica-e-política pois, nesse caso, como com o modelo ptolomaico, há medidos de poluição do ar (poeiras, não temos mais como separar uma facções politicamente poderosas que fumaças, hidrocarbonetos, inclusive os da outra: “No caso dos modelos encamparam para seus próprios aromáticos bastante patogênicos, gases climáticos que estão sendo usados propósitos a teoria do aquecimento de nitrogênio e de enxofre, precursores pelo IPCC, a suposição é de que o global danoso de origem antropogênica. de chuvas ácidas e de ozônio respirável) e CO2 é um controlador fundamental Por enquanto, basta dizer que sobre a degradação das condições de vida do clima. Há uma base intuitiva para generosos fundos foram fornecidos de populações em áreas carboníferas, essa suposição, dado que o CO2 é um para os cientistas da CRU (Climatic siderúrgicas e do agronegócio. Esses gás de efeito estufa, e tanto o CO2 Research Unit), que ficaram mais que temas e assuntos cruciais para a saúde e como a temperatura tem-se elevado dispostos a ‘refinar’ o modelo para sobrevivência do ambiente e da espécie substancialmente no último século. lidar com a ‘verdade inconveniente’ humana vêm sendo obscurecidos, Além disso, observou-se uma forte dos problemas do modelo - mesmo que desprezados e omitidos pelos que, nas correlação entre os níveis de CO2 e a isso requeresse coisas como ‘esconder empresas, governos, universidades e temperatura em registros de longo prazo o declínio’. ONGs, passaram a seguir a moda e o revelados por amostras de gelo. Mais Finalizo protegendo a credo aquecimentista. Muito antes de ainda, a queima de combustíveis fósseis própria imagem: criticando os aquecer, se é que aquece... a atmosfera continua a poluir a atmosfera (e os “aquecimentistas”, tem gente séria está certamente sendo envenenada. oceanos) com níveis cada vez mais altos e bem informada como os citados, de CO2. Isso levou à hipótese de que a mas também vários fundamentalistas temperatura pode se elevar abruptamente, neo-liberais, guerrilheiros do livre colocando em perigo a vida no planeta. mercado, a indústria carbonífera, Tudo isso foi apresentado de forma além dos senhores do petróleo e suas bastante dramática por Al Gore em seu guerras. Quem se interessar, vá ao site famoso documentário.” 
 Competitive Enterprise Institute, de * Oswaldo Sevá é engenheiro mecânico, doutor em Lembrando que o famoso modelo do onde se pode navegar no http://www. Geografia Humana e professor da Universidade Estadual egípcio Ptolomeu, no segundo século da globalwarming.org/ e, daí, pular para de Campinas (Unicamp) – seva@fem.unicamp.br e era cristã, colocando a Terra no centro do outro endereço que questiona o falado www.fem.unicamp.br/~seva sistema solar, era quase perfeito, Moore filme Uma verdade inconveniente – destaca que: “Assim como com o modelo http://www.noteviljustwrong.com/ referências bibliográficas Leroux, Marcel: Réchauffement global: une imposture ptolomaico, há vários problemas com home (ou seja: ele não é o diabo, scientifique foi publicado no nº 95, Março-Abril/2003 da revista a suposição de que o CO2 condiciona o apenas está errado). Um dos mais Fusion. http://www.revuefusion.com/images/Art_095_36.pdf . clima, e com a predição de aquecimento ferinos desses “direitosos” publicou, Os trechos aqui reproduzidos na íntegra foram obtidos no site português http://resistir.info/climatologia/impostura_cientifica. perigoso. Em primeiro lugar, os registros em 2007, Os 35 erros do filme de Al html. Mais informação em português, acerca da teoria do Prof. de longo prazo mostram que primeiro a Gore. Seu nome plebeu é Christopher Leroux em http://mitos-climaticos.blogspot.com temperatura sofreu mudanças históricas, Walter, mas trata-se do Terceiro Molion, Luis Carlos, entrevista em “Não existe aquecimento seguidas muito depois por alterações Visconde Monckton of Brenchley, global”, diz representante da OMM na América do Sul, Carlos nos níveis de CO2. Outra coisa é que assessor político direto da ex-primeira Madeiro, 11.12.2009, no site http://noticias.uol.com.br/ultnot/ cienciaesaude/ tem havido períodos de resfriamento ministra Margaret Thatcher. Espero não significativo em anos recentes, mesmo ser confundido com essa gente, e que Moore, Richard Climate Sciences: Observations x Models, 08.01.2010, acessível em http://www.globalresearch.ca/index. enquanto os níveis de CO2 continuaram a eu tenha honrado o nome da revista: é php?context=va&aid=16865, Em português em http://resistir. se elevar dramaticamente.” hora e vez de estar na Contra Corrente! info 8
  • 9. Fabrina Furtado* Contra Corrente A construção social da crise climática O reducionismo científico no trato das mudanças climáticas encobre a crise política e econômica; também leva à errônea percepção de defesa de interesses comuns E ntro nesse debate compartilhando a percepção da Rede Brasil: a necessidade premente de limitar a busca incessante do capital pelo domínio da natureza, entendendo a crise climática como uma construção social e não como um fenômeno científico- natural. Inicio esta discussão a partir da luta por reparações da dívida ecológica e pelo fim de instituições como o Banco Mundial, que se apropriaram, reduziram e transformaram a questão climática em um meio de aprofundar a acumulação capitalista. Desde a era colonial, a escravidão, a extração de minerais e hidrocarbonetos, as monoculturas e o roubo da biodiversidade e de conhecimentos tradicionais consolidaram o poder e a supremacia dos países do Norte (Europa, Estados Unidos, Japão, Canadá e outros que integram a lista das nações mais ricas do mundo). Este uso e abuso da “O IPCC reduziu a questão ambiental às mudanças climáticas, e esta às emissões de carbono”: natureza e dos povos do Sul originaram debate alarmista e política do medo uma dívida ecológica que continua aumentando através de mecanismos de Nações Unidas sobre Mudança do Clima direito, com a qual a sociedade tem uma opressão e de controle, como a dívida (CQNUMC). Esta proposta foi assinada relação indivisível, interdependente, financeira, o chamado mercado livre, a pela Venezuela, Malásia, Paraguai, Sri complementar e espiritual -, este subjugação cultural e o uso da força. Lanka, Butão, Etiópia e Micronésia (JS, governo também promove um modelo Tendo como argumento que os países 2010). de desenvolvimento baseado em uma do Norte são os maiores responsáveis Vale destacar aqui a contradição entre matriz exportadora de hidrocarbonetos, pela crise climática e, portanto, devem o discurso internacional do governo hidroeletricidade, mineração, pagar pelos seus custos e consequências, boliviano e suas ações domésticas. agroindústria e da manufatura florestal em 2009, o governo boliviano Embora seja o principal defensor da que viola o Vivir Bien. Um dos mais apresentou uma proposta sobre dívida filosofia do Vivir Bien - que reconhece recentes e explícitos exemplos dessa climática na Convenção-Quadro das a natureza como ser vivo, objeto de contradição ocorreu em setembro deste 9
  • 10. ano, quando o governo boliviano grupos de pesquisa independentes que reprimiu de modo bastante violento uma defendiam uma ação drástica frente marcha pacífica contra a construção ao colapso dos preços do petróleo em de uma estrada que pretende 1986 e a resultante crise energética. atravessar o Território Indígena Parque Isso aconteceu no momento em que Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), na as tecnologias de energia ¨alternativa¨ Greenpeace/Paulo Adario Floresta Amazônica. e nuclear precisavam de ajuda oficial É importante refletir sobre o porquê para sobreviver. O caminho da pesquisa de propostas como a da dívida climática estava traçado: eficiência energética serem tão facilmente negadas e (não conservação), energia ¨alternativa¨ e ignoradas, inclusive pelos atores mais nuclear e, posteriormente, geoengenharia críticos. O discurso dominante gira e comércio de carbono. Muitos governos em torno de ações mitigatórias, como perceberam que poderiam se beneficiar tecnologia e mercado de carbono, e de desta agenda. Problemas ambientais adaptação. E, muitas vezes, essa lógica é reais, como a capacidade das sociedades reproduzida sem questionamentos mais de mudarem instituições, tecnologias, profundos. Já estamos aceitando que comportamentos, e a justiça econômica, o único caminho dentro do contexto foram negligenciados. A preocupação de eco-alarmismo é se adaptar? Quem “Já estamos aceitando deixou de ser com questões ambientais, precisa se adaptar a quê? Precisamos é de e passou a ser com a política energética, des-adaptação ao capitalismo, isso sim. que o único caminho a imposição de tecnologias e a geração Afinal, como a crise climática ganhou de renda para determinados governos. tanta centralidade e como se deu a dentro do contexto Excluiu-se qualquer avaliação sobre definição do problema? Como a ciência a ideologia por trás das projeções foi construída, disseminada e apropriada? de eco-alarmismo científicas e implicações das estratégias. O fato da questão receber mais atenção Assim, a ciência deixa de informar a hoje está mesmo relacionado com uma é se adaptar? Quem política e passa a ser sua guia, jogando análise científica-natural ou com o com a incerteza científica. Como disse o contexto histórico, cultural e político? precisa se adaptar a representante do Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre, no evento Negação de interesses conflitantes Estudando o papel da ciência na quê? Precisamos é sobre mudanças climáticas organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica definição de problemas ambientais, Wynne (1994) afirma que o debate tem se de des-adaptação Aplicada (Ipea), em agosto deste ano, ¨A CQNUMC é inovadora porque a baseado no domínio das ciências naturais de forma instrumentalista, uniformizada ao capitalismo”. ciência tem um papel preponderante. Em outros casos sempre se buscou e reducionista. Mantém-se o foco na acordo político; a CQNUMC está crise ambiental quando à ela antecede baseada nos relatórios do IPCC. Foi a uma crise política, econômica, moral e e privados a partir da institucionalização ciência que trouxe o debate¨. Trata-se cultural. O Painel Intergovernamental das ameaças climáticas. A autoridade da apropriação política de uma ciência sobre Mudanças Climáticas (IPCC) científica do IPCC serviu para orientar dominante e a negação de outras. A reduziu a questão ambiental às mudanças os interesses dos países do Norte, incerteza é usada para evitar políticas climáticas, e esta às emissões de carbono. possibilitando a criação de políticas de de prevenção da destruição ambiental e Desvia-se a atenção para os chamados monetarização das mudanças físicas garantir políticas de interesse econômico “interesses comuns” da humanidade, determinadas pelas ciências naturais e como a bioengenharia. Neste último negando-se conflitos políticos entre fornecendo justificativas e incentivos caso, a incerteza aparece como algo diferentes grupos sociais com interesses para investimentos nos países do a ser resolvido em breve pela verdade distintos e, muitas vezes, conflitantes. Sul. Ela afirma que o IPPC foi criado absoluta da ciência. A ciência dos Boehmer-Christiansen (1999) também pelos Estados Unidos, com o apoio especialistas escolhidos “a dedo” pelos critica o controle político do IPCC como da pesquisa ambiental daquele país políticos, negando o saber local, também ilustração dos interesses governamentais e da Europa, como contraponto aos uma ciência. 10
  • 11. Contra Corrente O conhecimento científico dominante das questões ambientais naturaliza e reforça interesses econômicos, políticos Dívida climática Dívida ecológica baseia-se na constatação de que é um conceito que contribui e valores culturais e morais específicos. os países industrializados do Norte para uma análise diferente O que está sendo apontado como ¨nossos das relações internacionais, cresceram, principalmente, devido à problemas comuns” e que sociedade está produção e ao desenfreado consumo o intercâmbio entre o Norte sendo criada em nome da proteção da de combustíveis fósseis, responsáveis e o Sul, para além dos natureza, do clima? Existem questões pela atual crise climática. Eles também termos econômicos. Produz políticas por trás das construções da crise se apropriaram de um ¨bem comum ferramentas para acabar com climática e é preciso cuidar para não global¨ (a atmosfera e os oceanos) e da os danos ambientais, para entrar no debate alarmista e na política capacidade de absorção de carbono da garantir reparações e punir do medo. Definir a crise climática como biosfera. Esses países - que representam os responsáveis. Além disso, uma construção social não é diminuir menos de 20% da população do mundo fornece novos argumentos a sua importância ou realidade e sim e emitiram cerca de 75% das emissões e autoridade para exigir estudar o processo pelo qual o fenômeno históricas - são responsáveis por mais o cancelamento da dívida foi transformado de uma suposição para de dez vezes as emissões históricas dos financeira, acumulada de um fato aceito. Quem realmente ganha países do Sul. Atualmente, suas emissões forma ilegítima. com isso? per capita são mais de quatro vezes as Assim sendo, a perspectiva do Sul. A dívida climática pressupõe da dívida ecológica tem como determinar a partilha justa e equitativa objetivo mudar o contexto das obrigações e responsabilidades para de diálogo e das relações reduzir as emissões de carbono e pelo entre os países, debater o financiamento do clima entre os países. meio ambiente para além dos Ela fornece uma abordagem sistemática argumentos da conservação e para classificar, quantificar e aplicar a sustentabilidade e considerar responsabilidade histórica o direito e a justiça. (F.F.) e exigir reparação. (F.F.) A (dí) vida como ela é Em 2009, uma avaliação da produção econômica dos países do G8 (Vinod, 2009), construída com base no uso insustentável de carbono per capita, com base nos preços de 1994, calculou que a dívida de carbono do G8 estava entre 13 e 15 trilhões de dólares. Um valor que excede várias vezes a dívida financeira atribuída aos países do Sul. Os países do Norte ofereceram em Copenhague, durante a 15a Conferência das Partes da CQNUMC, 30 bilhões de dólares entre 2010 e 2012 e uma promessa de mobilizar mais 100 bilhões de dólares até 2020. Esses recursos, provavelmente, serão privados, oriundos do mercado de carbono e estarão nas mãos das mesmas Instituições Financeiras Internacionais (IFIs) que têm sido grandes responsáveis pela crise ecológica. (F.F.) * Fabrina Furtado é militante da rede Jubileu Sul e doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur), da Universidade Federal do Rio de Janeiro - f.furtado7@gmail.com referências bibliográficas Boehmer-Christiansen, Sonja. Globalização e valor de vidas humanas: implicações políticas para os países em desenvolvimento Gabriel Strautman da polêmica do IPCC. Ambiente & Sociedade. Ano II, Nos 2 e 3, 2o semestre 1998 – 1o semestre 1999. Wynne, Brian. Scientific knowledge and the global environment. In Redclift, Michael; Benton, Ted. Social Theory and the Global Environment. Londres: Routledge, 1994. p.169 – 189. Jubileu Sul. Dívidas, Não Mais: Rumo a uma Plataforma do Jubileu Sul sobre Mudanças Climáticas, Dívida Ecológica e Soberania Financeira. São Paulo, 2010. A reparação das dívidas ecológica e climática Raina, Vinod. Ecological Debt: the creation of rich and poor countries. Apresentação durante Fórum Público sobre Dívida Ecológica é uma demanda de organizações do Sul e Mudança Climática. Bancoc, Setembro, 2009. 11
  • 12. Lucia Ortiz* Rio+(ou-)20: uma chancela para o capitalismo verde? Com foco em economia verde e governança global, conferência sinaliza captura pelo mercado e pode ser consolidada como a Cúpula da Mercantilizacão da Natureza A Rio+20, conferência mundial conceituado como desenvolvimento às múltiplas crises e a necessidade de sobre ‘desenvolvimento sustentável – social, ambiental e tamanho aparato e refinamento do sustentável’, será realizada econômico – ao da economia global discurso para dialogar com a apreensão no Rio de Janeiro de 4 a 6 de capitalista, mascarando os mecanismos da sociedade frente aos problemas junho de 2012, por sugestão do, de implementação e de controle global ecológicos e sociais, como o sintoma do então, presidente Lula, em 2007, na da natureza, deste novo ciclo de caos climático, para, então, conseguir Assembléia Geral das Nações Unidas acumulação. Contexto que invisibiliza uma aceitação social e política - apesar (ONU). ainda mais a diversidade cultural, a do poderio econômico e midiático a seu Os objetivos iniciais eram nobres: qual deveria ser incorporada como pilar serviço. o de assegurar a renovação dos central da sustentabilidade, por trazer A estratégica falta de conteúdo compromissos políticos para o novas e ancestrais formas de pensar, dada ao termo economia verde no desenvolvimento sustentável, avaliar relacionar-se e ser parte da natureza, ambiente das negociações da ONU, o progresso e as lacunas (e por que criando e recriando outras economias ainda que pretenda ser a base de não suas causas estruturais?) na em sociedades sustentáveis. um novo “acordo verde”, já tem implementação dos resultados das provocado reações de diversos principais conferências desde a Eco92 Economia verde: países. Na 19a sessão da Comissão e tratar novos e emergentes desafios. um frágil novo consenso de Desenvolvimento Sustentável Porém, não foi criado um processo Este foco, no pretenso novo consenso (CDS), o resultado das negociações de avaliação e negociação à altura global da economia verde e a foram: a falta de acordo na agenda desses objetivos. preocupação com a governança num de implementação no tema central Por outro lado, estabeleceu-se sistema de Nações Unidas capturado do ciclo da CDS, sobre Padrões de como o foco da Rio+20, e com muito pelos interesses das corporações, Produção e Consumo; a dúvida sobre mais empenho e força política, os explicita a resistência imposta a a capacidade da ONU para lidar com o questionáveis temas da economia verde uma agenda de sustentabilidade e ambicioso tema do arranjo institucional ‘no contexto do desenvolvimento democracia global nestes últimos vinte para a Rio+20; e propostas de, sustentável e da erradicação da anos, assim como os interesses que inclusive, rever o termo economia verde pobreza’, e o arranjo institucional devem definir a direção dos acordos para reduzir polêmicas evidentes.1 para o desenvolvimento sustentável, globais para o meio ambiente daqui Fato de maior relevância foi ou a governança global para o meio para frente. a declaração dos países latino- ambiente. A agenda da Rio+20 busca legitimar americanos, resultante dos dois dias No mínimo, pode se reconhecer o capitalismo verde. Isso, por um lado, e meio de processo regional oficial de a redução dos pilares do que foi expõe a fragilidade do sistema frente preparação que aconteceu no início de 12
  • 13. Contra Corrente setembro no Chile, que simplesmente rechaçaram e ignoraram o termo economia verde do seu pouco ambicioso acordo final.2 Processo oficial: longe da governança inclusiva O processo em curso, iniciado oficialmente pela resolução da ONU de 24 de dezembro de 2009,3 estabelece etapas preparatórias de negociações oficiais. De forma autônoma e independente, já envolve uma agenda de mobilizações da sociedade civil, bem como um processo (que não se encerra com a conferência) de acompanhamento dos reflexos da sua preparação e resultados sobre as políticas nacionais e de Adbusters construção e fortalecimento de um movimento global por justiça social A financeirização da natureza revela o novo ciclo de acumulação do capitalismo - pintado de verde e ambiental. A conferência acontecerá em de arcabouços legais e políticos nos Terra, a Rio+20 poderá significar apenas três dias (4 a 6 de junho de países para a chamada transição para a consolidação da Cúpula da 2012) e está baseada em três etapas uma economia verde sem que suas Mercantilizacão da Natureza, com ou preparatórias internacionais, sendo bases ou metas, e mesmo seu conteúdo, sem consenso. que as duas primeiras já aconteceram tenham sido definidos. e a próxima será nos dias que Tendo como referência os Um acordo de livre comércio antecedem imediatamente a Rio+20 resultados das últimas negociações disfarçado de verde? (28 a 31 de maio). mundiais para o meio ambiente, Seguindo na linha da captura O processo acordado consiste em podemos prever que as estratégias corporativa das convenções da ONU, chamar os diversos setores da sociedade de inovação dos processos de o processo em marcha por conta da civil a enviar contribuições por internet negociação aumentam os riscos de Rio+20 é o de recomendar estratégias sobre os temas foco da Rio+20 durante limitar a participação dos países em domésticas (leia-se políticas nacionais) todo o ano de 2011, para que um desenvolvimento, e da sociedade que os países em desenvolvimento documento chamado “rascunho zero” organizada de desconsiderar as (e não aqueles historicamente seja divulgado somente em janeiro desconformidades, como foi o caso responsáveis pelas crises ecológica, de 2011. da posição da Bolívia frente ao financeira, alimentar, energética...) Antes, se trabalhava para buscar acordo de Cancun na COP16 do necessitam pôr em prática para consensos globais nas negociações, Clima, bem como da imposição de alcançar os desafios da transição para para que as convenções e tratados textos “caídos do céu” num ambiente a economia verde (tema sobre o qual fossem ratificados pelos países falho de negociações para alcançar não há consenso nem entre os países signatários, passassem a valer e verdadeiros consensos. envolvidos na negociação) e mapear o se desdobrar em políticas públicas Como resultado dos (ou da falta andamento das iniciativas. domésticas. Hoje, a lógica se inverte: já dos) processos em curso, se a Eco92 Nos moldes dos polêmicos existe uma corrida pela implementação ficou conhecida como a Cúpula da empréstimos do Banco Mundial e 13
  • 14. do Fundo Monetário Internacinal nuclear; e outros dois de combate da votação no Congresso, é que os (FMI) para os chamados Ajustes ao desmatamento na Amazônia e no desmatadores anistiados possam Estruturais da economia dos países em Cerrado. também receber incentivos e créditos desenvolvimento, de privatização e Já em 2010, durante as negociações de carbono por recuperar áreas que abertura dos serviços à fase neoliberal de Cancun, o Brasil lançou o Fundo degradaram - isso não sendo válido do capitalismo nos anos de 1990, Clima, para direcionar recursos para os pequenos agricultores, que ou das imposições dos Tratados de da exploração do petróleo do pré- estariam isentos do dever de reconstituir Livre Comércio (TLCs) às políticas sal - de alto carbono - na forma reserva legal. nacionais para as indústrias extrativas, de empréstimos num total de 200 Nessa linha, estão em tramitação os a economia verde vem, tal e qual, milhões de reais para o setor privado Projetos de Lei (PLs) de REDD nacional como uma Área de Livre Comércio das assim promover a economia verde.4 e estaduais e o de Serviços Ambientais, Américas (ALCA). No entanto, ela vem que já têm cronograma definido para muito mais sutil, disfarçada de verde e Políticas públicas para garantir “ou sim ou sim” estarem aprovados considerada inofensiva nas negociações direitos ao mercado antes da Rio+20 para mostrar como o mundiais para o meio ambiente. Avançam as políticas verdes com Brasil fez sua lição de casa. Antes que resultados para a especulação fundiária nos organizemos e nos atentemos para O ajuste estrutural e que fazem da reforma agrária um o seguimento destas políticas, uma do meio ambiente ao capital sonho de justiça cada vez mais distante. lei dessas dá como certa a perda de O Brasil sancionou, em plena Há quem diga que o “Novo Código soberania das comunidades sobre seus loucura pós Copenhague, nos Florestal” ruralista a ser votado no territórios ao garantir juridicamente últimos dias de 2009, sua Política Senado deixa o Brasil em flagrante o acesso irrestrito das corporações - Nacional sobre Mudança do Clima contradição como país anfitrião da ou outros pagantes dos serviços que (PNMC). E mesmo após quase uma Rio+20. Não será o contrário? O estejam compensando a degradação década de demandas da sociedade governo poderá, a seguir, vetar algumas ambiental de suas atividades em outro civil, houve o veto presidencial emendas, ou não perdoar a dívida de canto do mundo - para medições ao artigo que tratava da redução desmatadores. Mas tirar a proteção e verificações sobre os serviços progressiva do uso de combustíveis do Estado, reduzindo ou eliminando adquiridos, sejam eles o carbono, a fosseis e a inclusão da instituição de Áreas de Preservação Permanentes água ou a biodiversidade. mercados certificados de carbono, o (APPs) e Reserva Legal, é uma forma Entre os estados mais adiantados suprassumo da economia verde. de dar acesso aos mercados a essa está o Acre, que desenvolve um projeto Hoje, os planos setoriais, outro enorme e bilionária riqueza verde que, pioneiro de REDD, contabilizando um instrumento da PNMC, estão para ser até então, não circulava nas bolsas. volume estimado, para os anos de 2006 aprovados com pujantes orçamentos Nova modalidade em debate, depois a 2009, de 100 milhões de toneladas públicos. No entanto, eles não vão além de “mais do mesmo”: um plano chamado ABC do agronegócio, ou Agricultura (industrial) de Baixo Carbono; outro de Siderurgia Verde, para exportação de aço produzido com carvão vegetal de monoculturas de árvores; um terceiro, que é o próprio Plano Decenal de Expansão de Energia (PDEE), calcado na construção de barragens na Amazônia e na expansão do agronegócio da energia da cana e da energia 14
  • 15. Contra Corrente de dióxido de carbono (CO2), cuja o Comitê Facilitador da Sociedade comercialização será feita em leilão na Civil para a Rio+20. Este Comitê BM & FBovespa no final do segundo prepara uma série de atividades locais, semestre de 2011 para precificar, pela nacionais e internacionais, que passam primeira vez no Brasil, os créditos de pelo fórum alternativo ao G20, na carbono das florestas.5 França, em novembro; pela COP17 E chegando à capital dos megaeventos, do Clima, em Durban, no final de para além da Rio+20, no Rio de Janeiro, novembro; pelo Fórum Social Temático, se anuncia a Copa do Mundo verde e em Porto Alegre, em janeiro de 2012; solar. Ela se concretiza com vultosos e pelas atividades paralelas a Rio+20, financiamentos públicos para o setor que pretendem oferecer um choque de privado abastecer com energia renovável paradigma durante a próxima semana “A economia verde novos estádios e mega infraestruturas do meio ambiente no Rio de Janeiro. de entretenimento das elites, a serem Sem ter como foco os megaeventos vem, tal e qual, construídas em locais de disputa com as oficiais, estas etapas podem comunidades urbanas carentes de acesso representar momentos de convergência como uma ALCA. No aos serviços públicos básicos. Cada vez e fortalecimento dos movimentos sociais mais a lógica da especulação imobiliária e das suas propostas contra hegemônicas, entanto, ela vem nas cidades reproduz o discurso do verde necessárias ao enfrentamento de um que entrou pela porta do clima. É o novo e complexo ciclo de acumulação muito mais sutil, caso da geração de créditos e mercados repleto de contradições e apropriações de compensações no caso de projetos dos discursos ambientais e das demandas disfarçada de verde que pela lei sejam privados de aplicar populares por justiça social. máximos índices construtivos, ou dos eco O grande desafio e oportunidade que e considerada condomínios de luxo que apropriam-se esta Conferência traz é o da mobilização de áreas verdes anteriormente públicas e daqueles setores da sociedade civil ávidos inofensiva nas passam a vender sustentabilidade. por um real choque de paradigma, por mostrar justamente que as soluções reais negociações Movimentos sociais não têm como se dar, nem pintadas (de na contra corrente verde), dentro de um sistema que precisa mundiais para o Buscando deslegitimar desde já mudar, e já. o pretenso novo consenso global meio ambiente.” da economia verde, os movimentos Lucia Ortiz é coordenadora do Amigos da Terra Brasil, membro da Coordenação Nacional da Rede Brasil sobre sociais no Brasil e no mundo podem Instituições Financeiras Multilaterais e coordenadora regional ver o caminho a Rio+20 como um do Programa Justiça Climática e Energia do Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC) – lucia@natbrasil.org.br processo político para fortalecer e dar visibilidade às lutas de resistência no 1- Ver SUMMARY OF THE NINETEENTH SESSION OF THE COMMISSION ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2-14 MAY campo, nas cidades e na floresta, assim 2011, em: http://www.iisd.ca/vol05/enb05304e.html como às propostas e soluções populares 2- http://www.eclac.cl/noticias/paginas/5/43755/ por justiça social e ambiental. Conclusiones_reunion_prep_Rio+20-2011-esp.pdf Através da Rede Brasil sobre 3- Resolução ONU A/RES/64/236 Instituições Financeiras Multilaterais, 4- Ver em: http://www.ecodebate.com.br/2010/10/27/ o Amigos da Terra, juntamente com decreto-regulamenta-fundo-nacional-sobre-mudanca-do- clima-fnmc-ou-fundo-clima/ a Via Campesina, a Marcha Mundial 5- Em: http://www.opovo.com.br/app/opovo/ das Mulheres, o Jubileu Sul e mais economia/2011/05/30/noticiaeconomiajornal,2250488/ dez outras redes nacionais, integra credito-de-carbono-podera-ser-comercializado.shtml 15
  • 16. Jubileu Sul* Banco Mundial Fora do Clima!... e de nossos países Campanha internacional denuncia os novos interesses mercadológicos dessa velha instituição que, através de falsas soluções, quer assegurar a hegemonia financeira A ssim como as demais Instituições isso, incorporou em suas normas as causas dos problemas e aumentam a Financeiras Internacionais (IFIs), “preocupações ecológicas” e uma suposta dívida climática dos países do Norte. Para desde a sua criação, o Banco prioridade para o “desenvolvimento estas instituições, as mudanças climáticas Mundial tem servido como instrumento sustentável”. Com esse pseudo “novo revelam-se como uma saída para a crise de defesa dos interesses do Norte paradigma”, seguiu impondo suas econômica e uma oportunidade para a global, das transnacionais e das elites definições sobre os problemas e suas criação de novos paradigmas e conceitos, financeiras e política. Ou seja, atua na soluções. Não se pode permitir que o como o de “economia verde”. defesa dos responsáveis por impulsionar Banco Mundial deturpe a defesa dos Assim, se reduz a crise civilizatória a e beneficiarem-se do modelo econômico direitos dos povos e da Natureza para uma crise ecológica e a crise ecológica a que empobrece as grandes maiorias, continuar priorizando os mesmos uma crise climática, e esta a uma falha explora a natureza, gera a mudança interesses de sempre. do mercado. A destruição ecológica se climática e mina a soberania dos povos. A crise climática é uma realidade converte em um novo impulso para o Há décadas, o Banco Mundial é alvo atual que impacta mais as populações crescimento e a acumulação econômica de graves denúncias e mobilizações que do Sul global. Ela é consequência do das elites. Os problemas ambientais e reivindicam a sua retirada e a de suas próprio modelo de desenvolvimento dos sociais são caracterizados como uma instituições correlatas (os banco regionais países industrializados do Norte e de um questão meramente tecnológica ou de desenvolvimento, o Fundo Monetário modo de produção e consumo baseado da falta de clareza na atribuição dos Internacional e o Centro Internacional na crença de que a natureza não possui direitos de propriedade. Frente aos quais para Arbitragem de Disputas sobre limites. Com a cumplicidade dos governos se reivindicam soluções de mercado, Investimento – Ciadi, dentre outras) dos e das elites do Sul, as comunidades como os novos produtos financeiros países do Sul e a transformação profunda trabalhadoras, povos originários, “verdes”, a criação e a venda de serviços do sistema financeiro. camponeses, pescadores e mulheres são ambientais e a mercantilização da Porém, esse banco encontrou, obrigados a pagar pelos custos de uma natureza, de modo geral. na confluência da crise sistêmica crise que não causaram. A estratégia do Norte, reconhecendo o (econômica, alimentar, energética e já inevitável problema do aquecimento climática, dentre outras), uma nova Novo paradigma? É tudo mentira! climático, busca preservar a impunidade roupagem para suas velhas práticas. No mesmo sentido, as respostas que vêm e evitar qualquer mudança no estilo Através de um discurso repaginado, sendo formuladas desde os centros de de vida e no consumo, além de tentar passou a incorporar e consolidar um poder - as corporações transnacionais e transferir a responsabilidade ao Sul, conjunto de ações para a “transição” as instituições financeiras internacionais através da promoção e apoio a falsas para um capitalismo “verde”. Para - são falsas soluções, pois ignoram as soluções como o mercado de carbono, 16
  • 17. Contra Corrente as hidrelétricas, a energia nuclear, e Colômbia. - Fundo para o Meio Ambiente os agrocombustíveis e a venda de Entre os fundos mais importantes Mundial (GEF, sigla em inglês): tem tecnologia. Desse modo, o papel que as estão: - Fundo de Biocarbono: centrado dois fundos fiduciários financiando elites buscam consolidar junto ao Banco em projetos florestais e do uso da terra; projetos de adaptação e mitigação. Mundial é chave e similar ao utilizado - Fundo de Carbono de Desenvolvi- Nas negociações sobre clima, os nos anos de 1970, quando se propagou mento Comunitário: centrado em proje- governos do Norte têm buscado o modelo de desenvolvimento com base tos em países menos desenvolvidos; reforçar este papel do Banco Mundial no endividamento externo, e nos anos de O Banco Mundial, também maneja através, por exemplo, da gestão 1980 e 1990, quando utilizou-se dessa distintos fundos de investimentos, do Fundo Verde Climático, cuja dívida para impor o ajuste estrutural, as por exemplo: criação foi acordada na COP-16, privatizações e a abertura neoliberal. - Fundo de Tecnologia Limpa: em Cancun. Mesmo reconhecendo projetos de mitigação ou redução de que o financiamento prometido é Fundos e mais fundos emissões; problemático pela sua lógica, destino Por outro lado, a criação do mercado - Fundo Cooperativo para o Carbono e atores envolvidos, além de outras de carbono abriu a porta para que as das Florestas (FCPF): para mitigação - questões, o prometido não é aplicado. IFIs e, em especial o Banco Mundial, REDD; Investigações recentes assinalam expandissem sua área de atuação - Programa de Investimento em que dos 30 bilhões de dólares para e fortalecessem sua capacidade de Florestas: para mitigação - REDD; financiamento “rápido” que foram intervenção e condicionamento sobre - Programa Piloto de Resistência prometidos em dezembro de 2009 no os países mutuários (emprestadores). Climática: para adaptação; chamado “Acordo de Copenhague”, até Também permitiu gerar um programa - Programa de Ampliação da Energia agora, foram aplicados efetivamente novo de financiamento para projetos Renovável para os Países de Baixo apenas 7,9 bilhões de dólares, dos quais integrados ao mercado de carbono Ingresso: para mitigação - geral; 42% (3,3 bilhões de dólares) serão através de iniciativas como o - Fundo Estratégico sobre o Clima: canalizados através do Banco Mundial Mecanismo de Desenvolvimento Limpo adaptação, mitigação – REDD, e 47% (3,7 bilhões de dólares) serão (MDL), Controle e Comércio (Cap and mitigação – geral; aplicados através de empréstimos. Trade, na versão original, em inglês) e os projetos do programa de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD). Este programa permite aos países do Norte, e suas transnacionais, compensar ficticiamente parte de suas emissões de gases de efeito estufa financiando projetos no Sul. Esse modelo aumenta a dívida financeira ilegítima, assim como também as dívidas ecológicas e sociais. O mercado de carbono favorece a especulação e o lucro a partir das mudanças climáticas, fomentando novos “derivados” que nada tem a ver com o impacto climático, mas sim com a possível criação de novas bolhas especulativas similares ao que ocorreu em 2007 e 2008, quando o Creative Commons mercado imobiliário explodiu. Atualmente, o Banco Mundial administra 12 fundos de Unidade de Financiamento de Carbono, com um valor aproximado de 2,5 bilhões de dólares, que até agora envolveram países como China, Índia, Brasil, México Campanha denuncia as falsas soluções propostas pelo Banco Mundial: a hora de agir é agora 17
  • 18. karmo Mais do mesmo * a sugestão da Comissão Mundial e sem nenhum envolvimento do Enquanto isso, o Banco Mundial de Barragens, que acaba de completar Banco Mundial ou dos bancos de continua financiando um modelo de 10 anos de esquecimento, sobre desenvolvimento regionais. O Acordo desenvolvimento que contribui para os impactos econômicos, sociais e demarca ainda que, para construir o aquecimento climático, incluindo ecológicos negativos das represas. o equilíbrio e a equidade climática, massivo investimento em combustíveis As hidrelétricas não são fontes de é indispensável reparar a dívida fósseis e no agronegócio: energia limpa: contribuem para o ecológica e climática que o Norte • Entre 1992 e 2004, aprovou desmatamento e a expulsão das tem com o Sul e com todo o planeta. mais de 11 bilhões de dólares de populações de seus territórios e são, ao Os fundos não devem ser entendidos empréstimos para mais de 120 projetos mesmo tempo, grandes emissoras de em função das mudanças climáticas, de combustíveis fósseis, representando gases de efeito estufa na atmosfera; mas sim em função da busca de um 20% das emissões globais atualmente. * as advertências da FAO caminho para uma sociedade não • Somente em 2007 e 2008, o Banco (Organização da ONU para a dependente de petróleo, pois são os Mundial financiou outros 7,3 bilhões Agricultura e Alimentação) combustíveis fósseis os principais de dólares em projetos de combustíveis sobre os impactos negativos dos causadores do problema. fósseis – sem incluir empréstimos agrocombustíveis sobre a segurança e a Conhecemos as consequências para as políticas e agências de soberania alimentar e o desmatamento; históricas das dívidas ilegítimas que o financiamento intermediário do setor * a pressão, a mobilização e as Sul global tem sofrido há séculos. Nesse de combustível fósseis. O banco críticas de milhares de organizações sentido, conclamamos que, em todas também financiou 5,3 bilhões de e pessoas que, nas últimas décadas, as partes do mundo, sejam organizadas dólares para energias renováveis reivindicam o fechamento desta ações que evidenciem o papel danoso e eficiência energética. Como é de instituição ilegítima e injusta. do Banco Mundial e que se fortaleça se esperar, a construção da “nova” O Acordo dos Povos - realizado a resistência da Campanha Banco Estratégia Energética do Banco Mundial durante a Conferência Mundial dos Mundial Fora do Clima. É preciso fazer para 2011 apresenta algumas mudanças. Povos sobre as Mudanças Climáticas frente às falsas soluções que este banco Entre outros aspectos, planeja investir e os Direitos da Mãe Terra, em abril promove em relação à crise climática, no setor privado enfocando na de 2010, em Cochabamba (Bolívia), incluindo, sobretudo, o financiamento produção de energia e não no consumo. como uma resposta ao fracasso de ao mercado de carbono em suas Para o Banco Mundial, a energia Copenhague (COP16) - afirma que o diversas formas, e as consequências limpa continua sendo a hidrelétrica, financiamento mínimo necessário para a aliança dos direitos dos povos e os agrocombustíveis, a energia nuclear para enfrentar as mudanças climáticas a natureza. (mesmo afirmando que não vai deve ser de 6% do Produto Interno financiar) e o mercado de carbono. Bruto (PIB). * O Jubileu Sul, rede composta de organizações Ao desenvolver estas políticas, o Os fundos devem ser públicos, e movimentos da sociedade civil da América Latina Banco Mundial continua ignorando, novos, adicionais e não reembolsáveis, e Caribe, África e Ásia, integra a Campanha Banco entre outras questões: eliminando o mercado de carbono, Mundial Fora do Clima – www.jubileubrasil.org.br 18
  • 19. Adriana Ramos* Contra Corrente REDD: financiamento para florestas ou financeirização climática? Em relação à compensação de emissões de carbono, o destino e funcionamento do REDD ainda não estão suficientemente claros no Brasil; a prioridade deve ser para quem protege as florestas Greenpeace/Rodrigo Baleia “O REDD pode ser visto como um mecanismo que apóia financeiramente a proteção das florestas : mecanismo em disputa” R EDD é a sigla para Redução de o REDD pode ser visto como um florestas pode se dar por diferentes Emissões por Desmatamento e mecanismo que apóia financeiramente estratégias, entre elas, a promoção Degradação. É um mecanismo a proteção de florestas. de seu uso sustentável, como tem que reconhece a importância das Embora ainda não haja definições sido historicamente feito por povos florestas na proteção do clima e específicas sobre o que será abarcado indígenas e comunidades tradicionais, propõe uma compensação aos países pelo mecanismo, no âmbito da o REDD pode também apoiar o que estão dispostos e em condições de Convenção de Clima ou mesmo desenvolvimento de alternativas reduzir as emissões por desmatamento na legislação nacional. Levando- econômicas para esses grupos sociais. e degradação florestal. Neste sentido, se em conta que a proteção das O Fundo Amazônia foi criado 19
  • 20. pelo governo brasileiro a partir das Priorizar os pequenos vivem do uso sustentável da floresta reduções das emissões oriundas do A crescente especulação sobre as na região. Por isso, esses grupos sociais desmatamento da Amazônia ocorridas possibilidades de utilização do mecanismo devem ser priorizados na aplicação dos entre os anos de 2005 e 2009. Não há REDD como compensação de emissões recursos do Fundo Amazônia. titulação ou certificação de carbono a de carbono demonstram a fundamental Para viabilizar o acesso das partir da doação ao Fundo Amazônia. relevância de se definir claramente em organizações representativas das O que o BNDES emite é um diploma âmbito nacional a que se destinará o comunidades locais ao Fundo, a reconhecendo a contribuição dos mecanismo REDD e como funcionará. representação da sociedade civil no doadores ao Fundo Amazônia. Esse é o grande desafio da sociedade COFA tem defendido o estabelecimento O diploma traz a quantidade de civil brasileira em relação ao tema REDD, de editais específicos para pequenos toneladas de carbono correspondentes assegurar que seja um instrumento de projetos, e o apoio a outros fundos que ao valor da contribuição financeira repartição de benefícios que priorize tenham mais experiência e agilidade para o Fundo, mas não gera direitos os atores sociais historicamente para apoiar projetos menores, a ou créditos de nenhuma natureza. O exemplo do Fundo Dema, administrado BNDES afirma que está discutindo o pela Fase, que recentemente firmou desenvolvimento de uma metodologia “O grande desafio é contrato com o Fundo Amazônia. de inventário de carbono visando As demais pautas prioritárias da permitir a compensação limitada assegurar que o REDD representação do FBOMS no COFA de emissões com projetos de REDD são: ampliar a transparência do Fundo +, embora não haja informação seja um instrumento Amazônia e a coerência entre os pública sobre essa possibilidade, e objetivos do Fundo e os investimentos nem amparo formal nas políticas brasileiras de REDD para tal, ao de repartição de do BNDES na região. Para ampliar a transparência do menos por agora. O Fundo Amazônia se diferencia de benefícios que Fundo Amazônia temos cobrado do BNDES ações de comunicação outros fundos voltados às florestas mais eficientes, tanto no que diz tropicais no âmbito das mudanças prioriza os atores respeito às informações necessárias climáticas, como o Programa de ao acesso ao Fundo, quanto às Investimentos Florestais (FIP), sociais historicamente relacionadas ao desenvolvimento dos do Banco Mundial. No caso do projetos. Ao mesmo tempo, temos FIP, os investimentos não estão comprometidos e buscado promover um maior controle condicionados ao ato da comprovação social sobre os recursos do Fundo da redução das emissões. Além responsáveis pela Amazônia, divulgando informações do Fundo Amazônia, o BNDES sobre os projetos desenvolvidos em administra outros fundos direcionados manutenção das deolhonofundoamazonia.ning.com. à regularização ambiental ou No que diz respeito à coerência restauração florestal. Este é o caso do Programa ABC, de crédito para florestas”. entre os objetivos do Fundo Amazônia e os demais investimentos do BNDES financiar ações que contribuam na região, trata-se do desafio mais para a redução de emissões de comprometidos e responsáveis pela complexo e com menor permeabilidade gases causadores do efeito estufa manutenção das florestas. dentro do próprio Banco, e a estratégia geradas pela atividade agropecuária. É essa perspectiva que tem balizado do FBOMS para enfrentá-lo é buscar O Fundo Mata Atlântica, como o a atuação da representação do Fórum articulação com outros grupos Fundo Amazônia, é de recursos não Brasileiro de ONGs e Movimentos da sociedade, principalmente a reembolsáveis. O BNDES anunciou Sociais para o Meio Ambiente e o Plataforma BNDES e a Rede Brasil. que utilizaria recursos do Fundo Desenvolvimento (FBOMS) no Comitê Mata Atlântica, para a neutralização Orientador do Fundo Amazônia (COFA). de emissões de sua sede, no Rio A redução dos desmatamentos na de Janeiro. Entretanto, não há Amazônia foi um processo resultante informações sobre se e como isso de ações de governo e da sociedade e, * Adriana Ramos é secretaria executiva adjunta do Instituto vem sendo feito. principalmente, das comunidades que Socioambiental (ISA) -adriana@socioambiental.org.br 20