O documento descreve o tratamento primário quimicamente assistido (CEPT) de esgoto. O CEPT envolve a adição de produtos químicos para coagulação, floculação e sedimentação dos poluentes no esgoto. Isso permite a remoção de até 95% dos sólidos suspensos, 75% da DQO e 66% da DBO em uma única etapa de tratamento com baixo custo. O documento também discute a aplicação bem-sucedida do CEPT na cidade de Riviera de São Lourenço no Brasil.
2. INTRODUÇÃO
A adição de reagentes químicos ao esgoto com objetivo de promover a
coagulação química e a floculação, e acelerar a sedimentação vem
construindo uma prática crescente de tratamento primário de esgotos -
Tratamento Primário Quimicamente Assistido.
2IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido
O processo físico-químico se tornou uma das estratégias mais
eficazes, simples e baratas para depurar o esgoto, podendo ser
aplicado ao início, ao meio ou ao final do tratamento do esgoto.
• Permite uma significativa depuração das cargas poluentes do esgoto
numa única etapa de tratamento;
• Assegura baixos custos de implantação e de operação;
• Pode ser adaptado a um tratamento primário pré-existente;
• Rápido e resulta num efluente tratado transparente e desodorizado.
3. INTRODUÇÃO
O processo CEPT
consiste em
precipitar
simultaneamente
diversas classes
de poluentes do
esgoto sanitário,
aprisionando-as
em grumos ou
flocos fáceis de
remover da água.
Figura – Fluxograma típico do Tratamento Primário Quimicamente Assistido
Fonte: Adaptado de JORDAO; PESSOA (2011).
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4. ETAPAS DO TRATAMENTOCoagulação
A adição de 5 a 50
miligramas por litro
(mg/L) de um sal
inorgânico de ferro ou
de alumínio, provoca a
coagulação imediata do
esgoto.
Os sólidos suspensos, a
matéria coloidal e os
organismos patogênicos
são precipitados sob a
forma de microflocos. O
fosfato, os metais
pesados e o gás
sulfídrico são
insolubilizados nos
microflocos.
Floculação
A adição de 0,1 a 0,5
mg/L de um composto
orgânico do tipo
polieletrólito aniônico,
gera uma rede de micro
filamentos adesivos
dispersos no esgoto
formando uma rede, que
captura os microflocos e
provoca a sua
agregação progressiva,
gerando flocos maiores
e facilmente removíveis.
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5. ETAPAS DO TRATAMENTO
Separaçãosólidolíquido
Os flocos podem
ser removidos da
água num dos três
níveis:
Por sedimentação;
Por flotação;
Por micro
peneiramento.
Lodo
Os sólidos
suspensos e o
material coloidal
são removidos do
esgoto sob a forma
de um lodo fácil de
ser adensado,
desaguado e
estabilizado
(biossólido), e pode
ser utilizado como
fertilizante agrícola
rico em fósforo.
5IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido
6. DESCARTE NO MEIO AMBIENTE
• O efluente do CEPT pode ser descartado diretamente no
meio ambiente, obedecendo aos limites locais;
• Como forma de reuso de água, o processo CEPT está em
fase experimental de avaliação para aproveitar
diretamente o seu efluente em irrigação agrícola;
• A considerável remoção de fósforo minimiza a
eutrofização do ambiente e a propagação de algas
tóxicas, especialmente em corpos d’água onde se capta
água para consumo humano.
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7. COMPARAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS
A estratégia convencional de
tratamento de esgoto tem o
objetivo principal de depurar a
DBO do esgoto, por meio da sua
transformação por bactérias.
X
A estratégia avançada depura
simultaneamente, as várias
classes de poluentes do esgoto
por meio de um processo físico-
químico
IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido 7
Para comparar as estratégias convencional e avançada de tratamento,
vamos analisar a remoção de três dos principais parâmetros do esgoto.
Supondo que o esgoto tratado seja descartado em um ambiente sensível,
consideremos a meta de remover 90% da DBO, 85% dos sólidos suspensos
totais (SST) e 90% do fósforo (P) do esgoto.
8. COMPARAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS
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Remoção de DBO Remoção de sólidos Suspensos
Remoção de Fósforo
Fonte: TSUKAMOTO (2012b).
9. VANTAGENS E DESVANTAGENS
Vantagens
• Maior eficiência na remoção dos
sólidos suspensos totais e DBO;
• Possível remoção de fósforo;
• Menor área ocupada;
• Controle de odores na entrada
da ETE;
• Sendo menor carga de afluente
à fase de tratamento secundário,
os tanques de aeração serão
menores, assim como a potência
instalada e a energia consumida;
• Menor custo de investimento
inicial.
Desvantagens
• Custos operacionais dos
produtos químicos;
• Operação e manuseio de
reagentes químicos;
• Maior geração de lodo primário;
• Maiores custos de instalação e
operação das unidades de
tratamento de lodo.
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10. CRITÉRIOS PRIORITÁRIOS PARA SELEÇÃO
DO TIPO TRATAMENTO MAIS ADEQUADO
Na seleção de um
processo de tratamento
de esgoto, os tópicos de
maior interesse são:
• Custo de implantação;
• Custo de operação;
• Área requerida pelo
tratamento.
Tal forma de avaliação
deve ser vista como um
indicativo geral, pois não
considera o fator de
escala, que afeta o custo
de maneira distinta para
cada tipo de tratamento.
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Figura: relação do custo de implantação e a área per capita requeridos
pelos distintos processos de tratamento de esgotos
Fonte: TSUKAMOTO (2012c).
11. CRITÉRIOS PRIORITÁRIOS PARA SELEÇÃO
DO TIPO TRATAMENTO MAIS ADEQUADO
As lagoas de estabilização são
caracterizadas pela sua simplicidade,
caráter extensivo e baixo custo.
Porém, requerem grandes áreas,
devem ficar afastadas das cidades,
representam risco de contaminação
do lençol freático.
Os tratamentos do tipo UASB,
utilizam pouca energia, porém,
demoram vários meses para
equilibrar, são sensíveis a sólidos
suspensos e a oscilações de vazão,
apresentam baixa remoção de certas
classes de poluentes, podem emanar
gás sulfídrico na atmosfera, e sofrem
a temperaturas abaixo de 25°C.
Nos tratamentos aeróbios tipo lodos
ativados, uma grande quantidade de
oxigênio deve ser dissolvida no
esgoto para possibilitar a atividade
das bactérias. A necessidade de
aeração permanente e intensa torna
estes tratamentos grandes
consumidores de energia elétrica.
O CEPT alcança equilíbrio imediato,
responde em tempo real às
oscilações de vazão e opera
normalmente desde condições
tropicais até subpolares, além da
economia nos custos de implantação
e uma menor área requerida.
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12. CRITÉRIOS PRIORITÁRIOS PARA SELEÇÃO
DO TIPO TRATAMENTO MAIS ADEQUADO
• A economia do investimento inicial
não pode ser a indicação a adotar
uma comparação econômica do
processo;
• Os aspectos de custo deve
considerar os gastos operacionais
representados pela compra e
manuseio dos reagentes químicos;
• Há ainda o aumento da massa de
lodo a ser estabilizada e
desidratada;
• O transporte do esgoto até o local
de tratamento é um dos principais
componentes de custo associados
ao tratamento. Contudo, o seu
impacto é usualmente subestimado,
por não aparecer como custo direto
do tratamento.
Em contraste aos tratamentos
convencionais, o CEPT destrói o gás
sulfídrico do esgoto, não gera
aerossol, ocupa uma área diminuta, e
trata rapidamente o esgoto (cerca de
uma hora vs. semanas em lagoas).
Com isso, o tratamento do esgoto
pode ser efetuado dentro da cidade,
em meio às casas. Simplesmente por
eliminar o transporte de esgoto bruto a
longas distâncias, o CEPT pode
propiciar uma economia considerável,
por exemplo, para metade do custo no
sistema global (transporte e
tratamento).
IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido 12
13. APLICAÇÃO
NO BRASIL
Riviera de São
Lourenço, uma cidade
turística localizada em
meio à mata atlântica
protegida na costa do
Estado de São Paulo.
• Capta e trata toda a
sua água potável;
• Coleta e trata 100%
do esgoto;
• Controla a qualidade
da água do mar nos
seus 4,5 km de
praia;
• É considerada como
modelo de
planejamento urbano
no Brasil.
IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido 13
Fonte: Google (2017).
14. APLICAÇÃO NO BRASIL
Estrutura suficiente para uma população estável de até 32 mil habitantes;
O tratamento entrava em colapso na temporada turística. As elevadas
vazões e carga orgânica do esgoto gerado por eles, provocavam um
choque anóxico naquelas lagoas.
Ao se tornarem sépticas, todas as lagoas passavam a exalar gás
sulfídrico, que atingia as pessoas na cidade, apesar dos 3 km que a
separam do tratamento do esgoto.
O aumento na área coberta por lagoas (e/ou a sua aeração artificial) não
solucionaria o problema, além afetar uma área ambientalmente
protegida..
IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido 14
Gradeamento
grosseiro e
desarenador
Lagoa
anaeróbia
3 lagoas
facultativas
em paralelo
Cloração
do efluente
Tratamento de esgoto original
15. APLICAÇÃO NO BRASIL
Tratamento do esgoto atualmente
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Gradeamento
grosseiro e
desarenador
CEPT-TPA
Lagoa
anaeróbia
3 lagoas
facultativas
em paralelo
Cloração
do efluente
O tratamento CEPT ocupou 0,7% da área anteriormente utilizada, para
aumentar a capacidade de tratamento em mais de 250%.
O custo de implantação para 80 mil pessoas foi apenas 1,5 vezes o
custo da lagoa facultativa construída no ano anterior, com capacidade
para 7 mil pessoas.
16. APLICAÇÃO NO BRASIL
A eficiência e a segurança proporcionadas pelo tratamento foram
elementos importantes para que, em fevereiro de 2001, a Riviera de
São Lourenço se tornasse o primeiro empreendimento urbano em todo
o mundo a obter a certificação ambiental ISSO 14001.
Este tratamento tem operado com sucesso sob aumento de população
de 7 mil a 65 mil pessoas no prazo de alguns dias, com remoção de:
• 80% a 95% dos sólidos suspensos totais (SST);
• 55% a 75% da DQO (demanda química de oxigênio);
• 50% a 66% da demanda bioquímica de oxigênio (DBO);
• 82% a 87% de fósforo do esgoto.
O odor desapareceu completamente e a operação das lagoas foi
duplamente beneficiada graças às menores cargas orgânica e de P.
IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido 16
17. CONCLUSÃO
A implantação de um sistema de tratamento primário quimicamente
assistido possibilita uma economia no investimento em implantação,
operação no tratamento secundário e no transporte comparado com
outras alternativas de tratamento.
Entretanto os gastos operacionais representados pela compra e
manuseio dos reagentes químicos e ainda o aumento da massa de
lodo a ser estabilizada e desidratada requerem um investimento maior.
Cabe aos profissionais de saneamento definir os objetivos e as
condições de implantação e ponderar a melhor alternativa de
tratamento a ser implantada.
17IFES - Tratamento Primário Quimicamente Assistido
18. REFERÊNCIAS
• METCALF, Leonard; EDDY, Harrison P. Tratamento de efluentes e
recuperação de recursos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
• TSUKAMOTO, Ricardo Y (2012a). Nível Básico: Tratamento Primário
Avançado: O paradigma moderno do tratamento de esgotos. 2002.
Disponível em: http://www.agualatinoamerica.com/docs/pdf/3-4-
02basico.pdf. Acesso: 09 abr 2017.
• TSUKAMOTO, Ricardo Y (2012b). Nível Intermediário: Tratamento
Primário Avançado: O paradigma moderno do tratamento de
esgotos. 2002. Disponível em:
http://www.agualatinoamerica.com/docs/pdf/5- 6-02int.pdf. Acesso: 09
abr 2017.
• TSUKAMOTO, Ricardo Y (2012c). Nível Avançado: Tratamento
Primário Avançado: O paradigma moderno do tratamento de
esgotos. 2002. Disponível em:
http://www.agualatinoamerica.com/docs/pdf/7- 8-02adv.pdf. Acesso: 09
abr 2017.
• JORDAO, E. P.; PESSOA, C. A. Tratamento de Esgotos Domésticos.
6. ed. Rio de Janeiro: ABES, 2011. v. 1. 994p.
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