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Copyright ©| by Brenda Zacharias
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
De 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Título original | In the Middle
Capa | Brenda Zacharias
Preparação | Celso Unzelte
Revisão | Brenda Zacharias
Celso Unzelte
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Zacharias, Brenda, 1997 –
No Meio do Caminho/Brenda Zacharias; tradução Danielle
Cimatti. – São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Título Original: In the Middle
ISBN 978-85-359-1484-9
1. Artigo Jornalístico
09-4886 CDD-823
Índice para catálogo sistemático:
1. Artigos : Jornalismo 765
[2022]
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA MOGY LTDA.
Rua Capitão Manoel Rudge 89
08787-156 – Mogi das Cruzes – SP
Telefone (11) 4790-3599
Fax (11) 4789-1333
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13. Brenda
entrevista originalmente publicada no dia 25/03/2015
tradução por Danielle Cimatti
“São todos esses que eu achei semana passada. Pode olhar todos, só
cuidado que às vezes cai alguma coisa”, sou alertada enquanto
folheio os diversos cadernos na minha frente. Moradora da cidade de
Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, durante
toda sua vida, Brenda aceita, relutante, que eu tire fotos de si e de
seus diários. Tímida e de fala apressada, descubro que é na verdade
um paradoxo: ama falar e descubro em pouco tempo muito sobre a
jovem. O quarto aparenta ser organizado, se não fosse pelas diversas
pastas coloridas espalhadas na mesa que guardam recortes e
revistas, prateleiras com livros e CDs, entre itens que colecionou
com os anos. A entrevistada desta semana está há dois meses
desenvolvendo o projeto “Sem Dúvidas”, sobre o qual aprenderemos
mais a seguir.
P: Desde pequena você tem o costume de escrever e
desenhar assim?
R: Acho que sim. Eu sempre quis ser escritora, achava que ia ganhar
o Nobel de literatura e tudo mais [risos]. Quero dizer, ainda acho,
sabe? Mas eu me lembro de brincar com meus primos e colegas e
inventar alguma história e fazer uma saga completa com ela, até
enjoar. E algumas eu levava a sério, desenhava o quarto das
personagens e tudo mais. E começava um monte de diários, mas não
acabava nenhum. Ainda é assim, se você reparar nesses que tão aí.
P: E ler?
R: Também, apesar de achar que ultimamente eu esteja bastante
atrasada, o que culpo a escola. Mas sim, amava comprar os gibis da
Turma da Mônica e minha mãe fala que isso me ajudou bastante a
aprender a ler e gostar disso. Geralmente eu lia ficção, afinal sou da
geração Harry Potter, uns clássicos e, mais recentemente,
quadrinhos. Sou muito fã do trabalho dos brasileiros Gabriel Bá e
Fábio Moon. As graphic novels e as tirinhas são brilhantes e gosto
de ver alguém falando de São Paulo para o exterior.
 
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
P: Voltando um pouco na parte da escola, quais são suas
impressões do período?
R: Bem, eu fiz a pré-escola em uma escola municipal que ficava perto
da minha casa, e na primeira série fui para um colégio particular que
fiquei até o 3o ano do ensino médio. Então meu ciclo de amizades
nunca mudou muito, mas tenho amigos incríveis que conseguiram
me aguentar nesse tempo todo [risos]. Mas, agora formada, não está
me fazendo falta alguma.
P: Por quê?
R: Ah, primeiro porque eu percebi que a escola e toda a estrutura
dela meio que é a culpada por muita coisa do mundo “lá fora”.
Depois de um certo tempo, a gente é introduzido ao vestibular, que
você é obrigado a ser aprovado em faculdade x senão nada que fez
durante a vida valeu a pena. Fora o processo de escolher o curso,
porque até isso mesmo os adultos e alguns outros jovens querem
fazer por você. É o tipo da coisa “não tenha pressa, seja livre e feliz,
mas ganhe dinheiro e estude numa pública”. Na minha escola, pelo
menos, foi isso, até mesmo para competição e autopropaganda,
acho. E é muito bizarro você incentivar um adolescente de 17, 18
anos a ter que olhar para a pessoa do seu lado como um competidor
que vai “roubar sua vaga”, em vez de questionar o porquê de não
existir espaço para todos na sociedade.
P: E essa é a proposta de seu projeto “Sem Dúvidas”?
R: Quase isso. Quando entrei na faculdade e vi que tenho capacidade
de estudar qualquer fenômeno, a primeira coisa em que pensei seria
em como. Afinal, minha base teórica, e até de vida mesmo, é bem...
escassa, diga-se de passagem. A única coisa que tenho mais
proximidade é o mundo jovem atual, dos nascidos nos anos 90,
acho, apesar de ser quase sempre uma observadora. E uma coisa que
começou a me irritar bastante nos últimos tempos, que culpo em
especial a mídia e os mais adultos, é essa relação entre a mídia
facilitar nossa vida, não sei até que ponto, e a suposta geração de
preguiçosos chegando. O que eu propus foi tentar traçar o que
alguns jovens pensam da atualidade e do futuro, e as soluções que
propõem, pelo menos em São Paulo e arredores.
 
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
P: Ainda acha que existe muito estigma em relação a
jovens?
R: Totalmente, e é difícil mesmo de acabar. Eu mesma não posso
dizer que não julgo as pessoas que estavam entrando no ensino
médio quando me formei no ano passado. Mas sim, existe, e é até
bizarro se você ver toda a indústria cultural voltada justamente para
esse público. Somos a faixa que mais consome, que mais questiona,
que mais tem esperanças de conseguir fazer algo com a vida e com o
mundo. Apesar de estar “por fora” da realidade e observá-la de uma
maneira diferente e crítica, é sempre o mesmo discurso: “vocês não
conhecem nada da vida”. Oras, não conhecemos, mas queremos.
P: Você está descobrindo a sua?
R: Sempre. Começando por estudar em São Paulo, no centro da
cidade. O que antes era um passeio de fim de semana virou rotina
pra mim. E senti que essa coisa de querer entender melhor o mundo
veio no tempo entre a ida e a volta para Mogi. Eu ouço conversas no
trem, vejo a cidade, partes bonitas e feias de tudo. E me descubro um
pouco mais a cada dia, desde minha capacidade de falar, o que era
meio difícil até o ano passado, até gostos que não acreditava ter. Mas
essa “liberação” é feita por qualquer pessoa em qualquer época da
vida, até mesmo porque o mundo não para de mudar e o que eu era
há um segundo não sou agora, sabe? É algo muito abstrato, mas que
adoro. Um conforto pra quando eu faço besteira [risos].
P: Quais aspectos procura cobrir em sua pesquisa?
R: Quantos eu conseguir [risos]. Mas falando sério, eu parti de três
bases: cultura, sociedade e política. Dentro disso eu quero estudar
posicionamentos em relação a feminismo, tecnologia, educação... são
todos interligados de um jeito ou de outro, né?
P: E qual é a sua posição em relação a eles?
R: Acho que não deveria adiantar por enquanto. Falando como
Brenda cidadã, ainda tento me policiar em todos eles. Sou feminista,
desde pequena se bobear [risos]. Mesmo sem saber direito o que era,
dizia que fazia parte, até compreender melhor o movimento. E, por
que não, continuei falando. Tenho uma relação de amor e ódio com a
 
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
política, inclusive quando é malfeita. O mesmo com tecnologia, e
com pessoas [risos]. E justamente por isso quero descobrir o que
outros pensam também: essa é a minha tentativa de fazer política,
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  • 1.        
  • 2.                                                                                 Copyright ©| by Brenda Zacharias Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa De 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Título original | In the Middle Capa | Brenda Zacharias Preparação | Celso Unzelte Revisão | Brenda Zacharias Celso Unzelte Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Zacharias, Brenda, 1997 – No Meio do Caminho/Brenda Zacharias; tradução Danielle Cimatti. – São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Título Original: In the Middle ISBN 978-85-359-1484-9 1. Artigo Jornalístico 09-4886 CDD-823 Índice para catálogo sistemático: 1. Artigos : Jornalismo 765 [2022] Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA MOGY LTDA. Rua Capitão Manoel Rudge 89 08787-156 – Mogi das Cruzes – SP Telefone (11) 4790-3599 Fax (11) 4789-1333 www.companhiadasletras.com.br www.blogdacompanhia.com.br
  • 3.                                                                                 13. Brenda entrevista originalmente publicada no dia 25/03/2015 tradução por Danielle Cimatti “São todos esses que eu achei semana passada. Pode olhar todos, só cuidado que às vezes cai alguma coisa”, sou alertada enquanto folheio os diversos cadernos na minha frente. Moradora da cidade de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, durante toda sua vida, Brenda aceita, relutante, que eu tire fotos de si e de seus diários. Tímida e de fala apressada, descubro que é na verdade um paradoxo: ama falar e descubro em pouco tempo muito sobre a jovem. O quarto aparenta ser organizado, se não fosse pelas diversas pastas coloridas espalhadas na mesa que guardam recortes e revistas, prateleiras com livros e CDs, entre itens que colecionou com os anos. A entrevistada desta semana está há dois meses desenvolvendo o projeto “Sem Dúvidas”, sobre o qual aprenderemos mais a seguir. P: Desde pequena você tem o costume de escrever e desenhar assim? R: Acho que sim. Eu sempre quis ser escritora, achava que ia ganhar o Nobel de literatura e tudo mais [risos]. Quero dizer, ainda acho, sabe? Mas eu me lembro de brincar com meus primos e colegas e inventar alguma história e fazer uma saga completa com ela, até enjoar. E algumas eu levava a sério, desenhava o quarto das personagens e tudo mais. E começava um monte de diários, mas não acabava nenhum. Ainda é assim, se você reparar nesses que tão aí. P: E ler? R: Também, apesar de achar que ultimamente eu esteja bastante atrasada, o que culpo a escola. Mas sim, amava comprar os gibis da Turma da Mônica e minha mãe fala que isso me ajudou bastante a aprender a ler e gostar disso. Geralmente eu lia ficção, afinal sou da geração Harry Potter, uns clássicos e, mais recentemente, quadrinhos. Sou muito fã do trabalho dos brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon. As graphic novels e as tirinhas são brilhantes e gosto de ver alguém falando de São Paulo para o exterior.
  • 4.                                                                                 P: Voltando um pouco na parte da escola, quais são suas impressões do período? R: Bem, eu fiz a pré-escola em uma escola municipal que ficava perto da minha casa, e na primeira série fui para um colégio particular que fiquei até o 3o ano do ensino médio. Então meu ciclo de amizades nunca mudou muito, mas tenho amigos incríveis que conseguiram me aguentar nesse tempo todo [risos]. Mas, agora formada, não está me fazendo falta alguma. P: Por quê? R: Ah, primeiro porque eu percebi que a escola e toda a estrutura dela meio que é a culpada por muita coisa do mundo “lá fora”. Depois de um certo tempo, a gente é introduzido ao vestibular, que você é obrigado a ser aprovado em faculdade x senão nada que fez durante a vida valeu a pena. Fora o processo de escolher o curso, porque até isso mesmo os adultos e alguns outros jovens querem fazer por você. É o tipo da coisa “não tenha pressa, seja livre e feliz, mas ganhe dinheiro e estude numa pública”. Na minha escola, pelo menos, foi isso, até mesmo para competição e autopropaganda, acho. E é muito bizarro você incentivar um adolescente de 17, 18 anos a ter que olhar para a pessoa do seu lado como um competidor que vai “roubar sua vaga”, em vez de questionar o porquê de não existir espaço para todos na sociedade. P: E essa é a proposta de seu projeto “Sem Dúvidas”? R: Quase isso. Quando entrei na faculdade e vi que tenho capacidade de estudar qualquer fenômeno, a primeira coisa em que pensei seria em como. Afinal, minha base teórica, e até de vida mesmo, é bem... escassa, diga-se de passagem. A única coisa que tenho mais proximidade é o mundo jovem atual, dos nascidos nos anos 90, acho, apesar de ser quase sempre uma observadora. E uma coisa que começou a me irritar bastante nos últimos tempos, que culpo em especial a mídia e os mais adultos, é essa relação entre a mídia facilitar nossa vida, não sei até que ponto, e a suposta geração de preguiçosos chegando. O que eu propus foi tentar traçar o que alguns jovens pensam da atualidade e do futuro, e as soluções que propõem, pelo menos em São Paulo e arredores.
  • 5.                                                                                 P: Ainda acha que existe muito estigma em relação a jovens? R: Totalmente, e é difícil mesmo de acabar. Eu mesma não posso dizer que não julgo as pessoas que estavam entrando no ensino médio quando me formei no ano passado. Mas sim, existe, e é até bizarro se você ver toda a indústria cultural voltada justamente para esse público. Somos a faixa que mais consome, que mais questiona, que mais tem esperanças de conseguir fazer algo com a vida e com o mundo. Apesar de estar “por fora” da realidade e observá-la de uma maneira diferente e crítica, é sempre o mesmo discurso: “vocês não conhecem nada da vida”. Oras, não conhecemos, mas queremos. P: Você está descobrindo a sua? R: Sempre. Começando por estudar em São Paulo, no centro da cidade. O que antes era um passeio de fim de semana virou rotina pra mim. E senti que essa coisa de querer entender melhor o mundo veio no tempo entre a ida e a volta para Mogi. Eu ouço conversas no trem, vejo a cidade, partes bonitas e feias de tudo. E me descubro um pouco mais a cada dia, desde minha capacidade de falar, o que era meio difícil até o ano passado, até gostos que não acreditava ter. Mas essa “liberação” é feita por qualquer pessoa em qualquer época da vida, até mesmo porque o mundo não para de mudar e o que eu era há um segundo não sou agora, sabe? É algo muito abstrato, mas que adoro. Um conforto pra quando eu faço besteira [risos]. P: Quais aspectos procura cobrir em sua pesquisa? R: Quantos eu conseguir [risos]. Mas falando sério, eu parti de três bases: cultura, sociedade e política. Dentro disso eu quero estudar posicionamentos em relação a feminismo, tecnologia, educação... são todos interligados de um jeito ou de outro, né? P: E qual é a sua posição em relação a eles? R: Acho que não deveria adiantar por enquanto. Falando como Brenda cidadã, ainda tento me policiar em todos eles. Sou feminista, desde pequena se bobear [risos]. Mesmo sem saber direito o que era, dizia que fazia parte, até compreender melhor o movimento. E, por que não, continuei falando. Tenho uma relação de amor e ódio com a
  • 6.                                                                               política, inclusive quando é malfeita. O mesmo com tecnologia, e com pessoas [risos]. E justamente por isso quero descobrir o que outros pensam também: essa é a minha tentativa de fazer política, acho.
  • 7.