SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008
9
Adrian Gurza Lavalle, Cicero Araujo
DOSSIÊ
Odebateteóricosobrearepresentaçãopolí-
tica é surpreendentemente novo. A despeito de a
representação ter sido amplamente pesquisada
quanto a seus atores principais – partidos, parla-
mentares – e aos efeitos das regras que determi-
nam quem e como pode ser eleito, bem como aos
critérios de transformação dos votos em cadeiras
nas câmaras – o sistema eleitoral –, o debate sobre
o próprio conceito de representação contava, até
os anos 1990, com um número literalmente mi-
núsculo de referências obrigatórias. O livro semi-
nal de Hanna. Pitkin, O conceito de representa-
ção, veio à luz em 1967 como a primeira tentativa
de ordenar e integrar a produção dispersa sobre o
tema, para além do campo da teoria do direito.1
Seutrabalhopermaneceucomoreferênciaisolada
durante quase três décadas, até a publicação, em
1995, de Os princípios do governo representativo,
de Bernard Manin.
No espaço de 28 anos que separa ambas as
obras,oespíritodotempomudou.OlivrodePitkin
se inscreve no plano de um esforço de clarificação
e síntese filosófica sobre um conceito estabilizado
historicamente, cujas concreções políticas, no go-
vernorepresentativo,e,maisespecificamente,nas
eleições, não manifestavam tendências de trans-
formação nem fortes pressões ou críticas internas.
Nesse sentido, o intuito “ordenador” do trabalho
encerra seu percurso sobre as diferentes dimen-
sões do conceito de representação, formulando
uma síntese no campo da representação política e,
em particular, focada no governo representativo,
como sua modalidade mais relevante, sem, toda-
via, avançar qualquer avaliação sobre o próprio
governo representativo. As críticas internas à de-
mocracia encetadas no bojo das mobilizações
contraculturais dos anos 1960 e decantadas, uma
década depois, no campo da teoria democrática e
nos modelos participativos, encontraram eco no
pensamento da autora, anos mais tarde, a propó-
Adrian Gurza Lavalle*
Cicero Araujo**
O DEBATE SOBRE A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO
BRASIL: nota introdutória
* Doutor em Ciência Política pela Universidade de São
Paulo (USP), Professor Doutor do Departamento de Ciên-
cia Política da USP e pesquisador e do Centro Brasileiro
de Análise e Planejamento - CEBRAP (SP).
Rua Morgado de Mateus, 615. Cep: 04015902. Vila
Mariana - São Paulo - Brasil. layda@usp.br
** Doutor em Filosofia pela USP. Professor Livre-Do-
cente do Departamento de Ciência Política da USP.
craraujo@usp.br
1
O longo texto de Giovanni Sartori “A teoria da represen-
tação no Estado representativo moderno” é anterior –
foi publicado na Revista Brasileira de Estudos Políticos,
de Belo Horizonte (MG), em 1962, mas tipicamente tra-
va um debate no campo do direito e, mais especifica-
mente, contra as interpretações dominantes dos juris-
tas acerca da representação política.
CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008
10
O DEBATE SOBRE A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL...
sito de uma revisão das mudanças históricas na
representaçãopolítica,publicadaem1989,emtexto
intitulado“Representação”.2
Em contraposição, instalado na confluên-
cia entre a teoria política, a história do pensamen-
to político e a história das instituições, o volume
de Manin responde ao debate sobre a
reconfiguração da representação. As transforma-
çõesnaeconomiaeosprogramasdereestruturação
característicos dos anos 1980 no hemisfério norte,
acrescidos das transições no leste europeu, gera-
ram, na literatura de diversas áreas e disciplinas,
uma profusão de “crises” e “esgotamentos” da
política, da democracia, do Estado, no primeiro
caso, e da história, das ideologias, do trabalho, no
segundo – apenas para citar alguns exemplos.
Além disso, indicadores sobre identificação parti-
dária, volatilidade eleitoral e confiança nas insti-
tuiçõespolíticasacusarampiorassignificativasnas
democraciasmaistradicionais,dandoensejoauma
vaga de leituras críticas sobre os déficits de legiti-
midade.Defato,otrabalhodeManinconstituiuma
resposta aos diagnósticos sobre a “crise” da repre-
sentação, a partir de uma reconstrução dos funda-
mentos do governo representativo, isto é, de suas
instituições básicas e das intenções originais dos
que as desenharam ou defenderam.
Odebateteóricointernacionaltemsetorna-
do mais denso nos últimos anos, e as perspecti-
vas a partir das quais se vem tratando ora da crise,
ora da reconfiguração da representação, multipli-
cam-se – teorias normativas, pós-modernas, dos
campos da comunicação política, da sociedade ci-
vil, das relações internacionais e, claro, da própria
teoria democrática. A propósito dos principais
deslocamentos nesse debate, organizamos um nú-
mero temático na revista Lua Nova,3
cuja acolhida
favorávelmostraoquantoosdebatesemcursotra-
zemganhosparaacompreensãodequestõesemer-
gentes e tradicionais que, a despeito de envolve-
rem a representação política, não tinham sido sis-
tematicamente analisadas desse prisma.
Este número doCaderno CRH constitui um
novo esforço de mostrar esses ganhos cognitivos,
mastambémumatentativadeindicaralgumasdas
frentes em que a representação política no Brasil
está sendo repensada. Procuramos reunir artigos
voltados para as instituições tradicionais da repre-
sentação política e para novas instituições e práti-
cas de representação, bem como abordagens que,
olhando para o passado, buscam uma revisão
historiográfica, tendo em conta questões atuais.
OartigodeMiriamDolhnikoffaproveitauma
dasconseqüênciasanalíticasdodebatecontempo-
râneo sobre a representação política para a
historiografia,asaber,evidenciaroquãoanacrôni-
cassãoascompreensõesquevinculamdiretamen-
te o governo representativo com os princípios da
democraciaecomfeiçõesinstitucionaisqueaque-
le só viria a ter no século XX. Em revisão crítica da
historiografia política do século XIX, a autora con-
testa a tese do falseamento institucional. É essa a
compreensão mais difundida da representação no
Império, como de resto da vida e instituições polí-
ticas no século XIX. Nela, os valores e propósitos
formais da representação política teriam sido fal-
seados devido à escravidão e, sobretudo, ao poder
pessoal do Imperador, amparado pela existência
do quarto poder – o Poder Moderador. Contudo, a
análise do desenho institucional da monarquia
representativaestabelecidanoBrasilesuacompa-
ração com o dos governos representativos existen-
tes em países considerados berços da democracia
– Inglaterra, França e Estados Unidos –, mostram
não apenas que, a rigor, o Brasil tinha um regime
representativo, mas que algumas das suas caracte-
rísticas eram peculiarmente progressistas para a
época.
Levar a sério a vida das instituições repre-
sentativashistóricasdopaíspodetercomocorrelato
não mais interpretar as disputas ideológicas e os
empenhosintelectuaisengajadosemlhesredefinir
princípios e operação no registro da superficiali-
dade e do exotismo, como às vezes são tratados na
literatura. Não surpreende, como atenta Cristina
2
Traduzido ao português por Wagner Pralon Mancuso e
Pablo Ortellado, e publicado em número da revista Lua
Nova dedicado ao “Futuro da Representação” (no. 67,
2006) sob o título “Representação: palavras, institui-
ções e idéias”.
3
Ver nota anterior.
CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008
11
Adrian Gurza Lavalle, Cicero Araujo
Buarque de Hollanda, no seu artigo, que as verten-
tes do debate intelectual sobre a representação po-
lítica na Primeira República tenham recebido
atenção mínima. No texto, a autora examina as
concepções de representação sustentadas por li-
berais, positivistas e realistas, todos eles insatis-
feitos com o funcionamento das instituições re-
presentativas de seu tempo, mas engajados na ela-
boração de modelos alternativos. Longe de se tra-
tar de um escarcéu ilustrado e afastado de impera-
tivos práticos, o texto mostra algumas das conse-
qüências desse debate quando seus protagonistas
ocuparam posições de autoridade pública e im-
plantaram mudanças institucionais.
Mesmo nos debates mais recentes sobre as
características fundamentais do arranjo
institucional pós-transição, a avaliação de suas
supostas mazelas, concebidas no registro da para-
lisia decisória ou em outros registros, e as propos-
tas de reforma que acompanham tais diagnósticos
decorremdeelaboraçõesquenãotêminterlocução
direta com o debate teórico da representação. An-
tes,sãodiagnósticospreocupadoscomaquiloque,
há anos, recebeu o nome de governabilidade. O
artigo de Andréa Marcondes de Freitas é a esse
respeitoexemplar,quandoexaminaumfenômeno
aludido freqüentemente na mídia e que tem rece-
bido atenção da literatura especializada, a saber, a
migração partidária ou troca de partidos pelos re-
presentantes eleitos. A originalidade do texto re-
side em problematizar a questão do ponto de vista
das teorias da representação, evidenciando não
apenasqueasposiçõesnodebateguardamrelação
com a agenda da governabilidade, mas que são
pouco explícitas a respeito dos seus pressupostos
no campo daquelas teorias.Emparticular,ascríti-
cas à troca de partidos assumem que os partidos
sãoosveículoscorretosdarepresentação;entretan-
to,hádiscrepânciasconsideráveisno campoteóri-
co da representação quanto aos vínculos adequa-
doseaosefeitosdamediaçãopartidáriaentreoelei-
tor e o eleito.
O artigo de Kathryn Hochstetler e Elisabeth
Jaytrazumdeslocamentodoolhar,atentandopara
as conexões entre, por um lado, as crises e a perda
decredibilidadedasinstituiçõespolíticastradicio-
nais e, por outro, a mobilização social. Em análise
comparativa entre Brasil e Argentina, as autoras
indagam em que medida esses processos de
mobilização significam uma desautorização dos
partidos e do parlamento, e um eventual desloca-
mento para opções de representação supostamen-
temaispróximasemenosengessadas,comoaque-
lasencarnadaspelosmovimentossociaiseorgani-
zaçõescivis.Otextomostraqueessesúltimosocu-
pamlacunasdeixadaspelarepresentaçãonosiste-
madepartidos,masgeralmentefazem-nodemodo
complementar, ora porque no Brasil esses atores
nunca visaram a ocupar a posição dos partidos,
mas a aprimorar e diversificar os canais de repre-
sentação, ora porque, na Argentina, onde aquele
propósito foi conjunturalmente almejado, os par-
tidosrecompuseramrapidamentesuasrelaçõescom
parte desses movimentos, e as instituições de go-
verno recuperaram sua capacidade de tomar deci-
sões com um mínimo de legitimidade – deixando
aos atores da mobilização a porta das alianças e
barganhas,eumaestruturainstitucionalmaissen-
sível aos seus reclamos e participação.
Ostrêsartigosseguintesabordampráticase
modalidades emergentes de representação que es-
tão contribuindo para definir os contornos da
pluralizaçãodarepresentaçãopolíticanopaís,isto
é, da diversificação do locus, das funções e dos
atores da representação política para além do
legislativo, das faculdades de controle da chefia
do executivo e da proposição e sanção de leis, e
do papel dos partidos políticos. Em artigo de teor
comparativo informado por resultados de surveys
originais, o artigo de Adrián Gurza Lavalle e
Graziela Castello enfoca as novas funções de re-
presentação exercidas por organizações civis
sediadas na cidade de São Paulo e na Cidade do
México. Partindo do pressuposto de que a legiti-
midade das novas práticas de representação é
crucial para as inovações democráticas ensejadas
no país no contexto pós-constituinte, os autores
se debruçam sobre as noções de representação
política sustentadas por essas organizações que,
em ambos os contextos, assumem a mediação dos
CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008
12
O DEBATE SOBRE A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL...
seus beneficiários. O texto evidencia os ganhos
cognitivosdeseevitaremdiagnósticosapriorísticos
sobre a legitimidade ou ilegitimidade “inerente”
àquelas práticas de representação. Ao decompor
as noções de representação identificando as fun-
ções de controle sobre o poder público nelas su-
postas, bem como os eventuais mecanismos de
accountability que as organizações civis mantêm
com seus próprios beneficiários, o trabalho ofere-
ce um panorama das diversas lógicas e modalida-
des de representação presentes nesse universo.
Seguindo uma linha de fundo semelhante,
o artigo de Lígia Helena Hahn se propõe a analisar
certas experiências institucionais de democracia
participativa no Brasil, supondo uma relação de
complementaridade entre as noções de participa-
ção e representação. Isso significa entender aque-
las experiências não como rejeições do próprio
princípio representativo – uma conclusão nada
infreqüente nas análises sobre elas –, mas como
uma tentativa de sua assimilação, porém de for-
mas não tradicionais. O artigo procura desenvol-
ver esse ponto de partida comparando dois des-
ses novos tipos de institucionalidade: os Conse-
lhos Gestores e o Orçamento Participativo. O pri-
meiro, claramente previsto no âmbito da
reconstitucionalização do país depois de 1988,
apresenta a peculiaridade de permitir a represen-
tação, não de indivíduos, mas de diferentes “cole-
tividades”, na medida em que tomam assento nes-
sesconselhostantorepresentantesdeorganizações
civis quanto de órgãos estatais. Já o Orçamento
Participativo, ao aproveitar a onda de criatividade
institucionalensejadapelaredemocratização,pro-
cura combinar formas de participação direta de
indivíduos com mecanismos representativos que
a própria estrutura decisória do Orçamento
Participativo exige em seus momentos de
afunilamento. Na verdade, como constata a auto-
ra, a participação direta é muito mais uma expres-
são do engajamento das organizações civis no pro-
cesso de elaboração do Orçamento do que uma
participação inteiramente não mediada de indiví-
duos. Enfim, fazendo essas e outras comparações,
a grade analítica que combina a representação e a
participaçãovaipermitiràautoraumentendimen-
to mais amplo dessas experiências, inclusive na
forma de novas problematizações.
Encerrandoasérie,oartigodeRebeccaAbers
e Margaret Keck concentra sua análise nos Conse-
lhos Gestores, mas tentando dar-lhes uma com-
preensão teórica suficientemente exaustiva para
responder se poderiam efetivamente ser interpre-
tados como uma experiência de representação.
Apósprocurardiferentesenquadramentosque,ao
fim e ao cabo, parecem não dar conta das peculia-
ridadesdessaexperiência,asautorasconcluemque
asfunçõescomunsde“autorizaçãoeresposta”que
costumam ser atribuídas à representação política
não servem para definir os Conselhos Gestores.
Buscando um caminho alternativo, na linha de
certasvisõesdeliberativasdademocracia,elasaca-
bam por dar-lhes uma compreensão inusitada: os
conselhos deveriam ser vistos antes como um es-
paço de “relações fecundas”, apto à “produção de
definições e práticas de resolução de problemas”,
do que propriamente um espaço no qual um gru-
po de pessoas representa outras. Sem abandonar
o termo representação para designá-la, essa com-
preensão parece de fato ir ao limite dos modelos
teóricos disponíveis, o que não deixa de ser um
modo interessante de realimentar o debate.
Para concluir a apresentação, os coordena-
dores deste dossiê gostariam de dirigir seus agra-
decimentos aos responsáveis pelo Caderno CRH,
pelo estímulo original e pela oportunidade de ofe-
receraopúblicoacadêmicobrasileiroessasériede
artigos. E são também especialmente gratos aos
bolsistasdeiniciaçãocientíficaRobertaSoromenho
Nicolete, Diogo Rodriguez e Livia Roncolato que,
engajados no projeto, foram imprescindíveis na
preparação e revisão de todo o material.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

áUreo busetto a democracia cristã no brasil - princípios e práticas
áUreo busetto   a democracia cristã no brasil - princípios e práticasáUreo busetto   a democracia cristã no brasil - princípios e práticas
áUreo busetto a democracia cristã no brasil - princípios e práticasleniogravacoes
 
Hall e taylor 2003 - três versões do neoinstitucionalismo
Hall e taylor   2003 - três versões do neoinstitucionalismoHall e taylor   2003 - três versões do neoinstitucionalismo
Hall e taylor 2003 - três versões do neoinstitucionalismoUniversity of Campinas
 
A organização como uma questão estratégica
A organização como uma questão estratégicaA organização como uma questão estratégica
A organização como uma questão estratégicaFabricio Rocha
 
Resposta à Santos 2015.
Resposta à Santos 2015.Resposta à Santos 2015.
Resposta à Santos 2015.Augusto Colling
 
Resposta para Santos 15.
Resposta para Santos 15.Resposta para Santos 15.
Resposta para Santos 15.Augusto Colling
 
Três teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das OrigensTrês teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das OrigensAlessandro de Moura
 
Cidadania e construção da agenda pública
Cidadania e construção da agenda públicaCidadania e construção da agenda pública
Cidadania e construção da agenda públicaArie Storch
 
Finalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigido
Finalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigidoFinalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigido
Finalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigidoacodato
 
Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)
Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)
Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)Luiza Moreira
 
Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…
Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…
Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…luizfernandokowalski
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilaugustodefranco .
 
12b march olsen v16n31a10 em português
12b   march olsen v16n31a10 em português12b   march olsen v16n31a10 em português
12b march olsen v16n31a10 em portuguêsUniversity of Campinas
 
Etnografias da política
Etnografias da política    Etnografias da política
Etnografias da política Sérgio Lima
 
Artigo política publica
Artigo política publicaArtigo política publica
Artigo política publicaNeto Garcia
 

Mais procurados (20)

áUreo busetto a democracia cristã no brasil - princípios e práticas
áUreo busetto   a democracia cristã no brasil - princípios e práticasáUreo busetto   a democracia cristã no brasil - princípios e práticas
áUreo busetto a democracia cristã no brasil - princípios e práticas
 
Hall e taylor 2003 - três versões do neoinstitucionalismo
Hall e taylor   2003 - três versões do neoinstitucionalismoHall e taylor   2003 - três versões do neoinstitucionalismo
Hall e taylor 2003 - três versões do neoinstitucionalismo
 
A organização como uma questão estratégica
A organização como uma questão estratégicaA organização como uma questão estratégica
A organização como uma questão estratégica
 
Socialismo moreno
Socialismo morenoSocialismo moreno
Socialismo moreno
 
Resposta à Santos 2015.
Resposta à Santos 2015.Resposta à Santos 2015.
Resposta à Santos 2015.
 
Resposta para Santos 15.
Resposta para Santos 15.Resposta para Santos 15.
Resposta para Santos 15.
 
liberdade democratica
liberdade democraticaliberdade democratica
liberdade democratica
 
624795
624795624795
624795
 
Tilly para mapear confronto político
Tilly para mapear confronto políticoTilly para mapear confronto político
Tilly para mapear confronto político
 
Artigo Carol Andion
Artigo Carol AndionArtigo Carol Andion
Artigo Carol Andion
 
Três teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das OrigensTrês teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das Origens
 
Cidadania e construção da agenda pública
Cidadania e construção da agenda públicaCidadania e construção da agenda pública
Cidadania e construção da agenda pública
 
Finalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigido
Finalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigidoFinalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigido
Finalmente programa de curso 2012 analise de pp corrigido
 
Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)
Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)
Habermas, jürgen. direito e democracia (volume ii)
 
Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…
Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…
Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
 
12b march olsen v16n31a10 em português
12b   march olsen v16n31a10 em português12b   march olsen v16n31a10 em português
12b march olsen v16n31a10 em português
 
Editores e estado novo
Editores e estado novoEditores e estado novo
Editores e estado novo
 
Etnografias da política
Etnografias da política    Etnografias da política
Etnografias da política
 
Artigo política publica
Artigo política publicaArtigo política publica
Artigo política publica
 

Destaque

Assignment renewable energy for central sulawesi
Assignment renewable energy for central sulawesiAssignment renewable energy for central sulawesi
Assignment renewable energy for central sulawesiAbigail Moore
 
Daftar website universitas negeri di indonesia
Daftar website universitas  negeri di indonesiaDaftar website universitas  negeri di indonesia
Daftar website universitas negeri di indonesiaMukrodin Din
 
IELTS Informationfor candidates
IELTS Informationfor candidatesIELTS Informationfor candidates
IELTS Informationfor candidatesM Abid Ullah
 
International Business
International BusinessInternational Business
International Businessjtsimonson
 
SILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAH
SILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAHSILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAH
SILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAHJamaludin ..
 
komparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan properti
komparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan propertikomparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan properti
komparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan propertiIndira Muttahara
 
PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...
PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...
PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...Dani Gunawan
 
PENILAIAN, PTK dan RND
PENILAIAN, PTK dan RNDPENILAIAN, PTK dan RND
PENILAIAN, PTK dan RNDIcal Azmy
 
Teori penelitian tindakan-kelas sd
Teori penelitian tindakan-kelas sdTeori penelitian tindakan-kelas sd
Teori penelitian tindakan-kelas sdeli priyatna laidan
 
Konsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTKKonsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTKAida Dwi Astuti
 
소셜,그리고 큐레이션
소셜,그리고 큐레이션소셜,그리고 큐레이션
소셜,그리고 큐레이션Heeheun Lee
 
Layanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggi
Layanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggiLayanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggi
Layanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggiThe1 Uploader
 
Konsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTKKonsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTKAida Dwi Astuti
 

Destaque (20)

Salvatore ferragamo
Salvatore ferragamoSalvatore ferragamo
Salvatore ferragamo
 
CATALOGO DIGITAL
CATALOGO DIGITALCATALOGO DIGITAL
CATALOGO DIGITAL
 
Assignment renewable energy for central sulawesi
Assignment renewable energy for central sulawesiAssignment renewable energy for central sulawesi
Assignment renewable energy for central sulawesi
 
Daftar website universitas negeri di indonesia
Daftar website universitas  negeri di indonesiaDaftar website universitas  negeri di indonesia
Daftar website universitas negeri di indonesia
 
Profile
ProfileProfile
Profile
 
IELTS Informationfor candidates
IELTS Informationfor candidatesIELTS Informationfor candidates
IELTS Informationfor candidates
 
International Business
International BusinessInternational Business
International Business
 
Proposal ptk
Proposal ptkProposal ptk
Proposal ptk
 
SILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAH
SILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAHSILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAH
SILABUS MATERI PERTEMUAN GUGUS SEKOLAH
 
komparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan properti
komparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan propertikomparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan properti
komparasi sektor semen, konstruksi, perbankan, dan properti
 
PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...
PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...
PERAN WARGA NEGARA DALAM MENDUKUNG UPAYA PEMENUHAN KEBUTUHAN LISTRIK DENGAN B...
 
PENILAIAN, PTK dan RND
PENILAIAN, PTK dan RNDPENILAIAN, PTK dan RND
PENILAIAN, PTK dan RND
 
Teori penelitian tindakan-kelas sd
Teori penelitian tindakan-kelas sdTeori penelitian tindakan-kelas sd
Teori penelitian tindakan-kelas sd
 
Konsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTKKonsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTK
 
소셜,그리고 큐레이션
소셜,그리고 큐레이션소셜,그리고 큐레이션
소셜,그리고 큐레이션
 
Daftar isi
Daftar isiDaftar isi
Daftar isi
 
Policy Brief perhutanan sosial
Policy Brief perhutanan sosialPolicy Brief perhutanan sosial
Policy Brief perhutanan sosial
 
Layanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggi
Layanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggiLayanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggi
Layanan konsultasi dan penyusunan statuta perguruan tinggi
 
Proposal
ProposalProposal
Proposal
 
Konsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTKKonsep teori dan contoh PTK
Konsep teori dan contoh PTK
 

Semelhante a Representação política no Brasil

Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeter
Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeterResenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeter
Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeterJuscislayne Bianca
 
Antropologia e política karina kuschnir
Antropologia e política karina kuschnirAntropologia e política karina kuschnir
Antropologia e política karina kuschnirVictoria Irisarri
 
Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias páginas 31 a 45
Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias   páginas 31 a 45Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias   páginas 31 a 45
Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias páginas 31 a 45Ana Silva
 
Democracia e representação democrática
Democracia e representação democráticaDemocracia e representação democrática
Democracia e representação democráticaAUR100
 
Democracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avançosDemocracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avançosClaudioMendona10
 
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhosA08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhosUniversity of Campinas
 
Carole pateman participação e teoria democrática
Carole pateman   participação e teoria democráticaCarole pateman   participação e teoria democrática
Carole pateman participação e teoria democráticaUniversity of Campinas
 
Bibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdf
Bibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdfBibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdf
Bibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdfElFalcon2
 
bl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdfbl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdfclaudineilima21
 
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...Universidade Federal do Paraná
 
O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...
O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...
O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...Nick Smaylle da Luz Moreira
 
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latinaPara uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latinaRafael Pinto
 
01 isabela e alice-introdução a política
01 isabela e alice-introdução a política01 isabela e alice-introdução a política
01 isabela e alice-introdução a políticaSérgio Braga
 

Semelhante a Representação política no Brasil (20)

Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeter
Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeterResenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeter
Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeter
 
A05n84 gurza lavalle isunza vera
A05n84   gurza lavalle isunza veraA05n84   gurza lavalle isunza vera
A05n84 gurza lavalle isunza vera
 
11 historia democracia
11 historia democracia11 historia democracia
11 historia democracia
 
Neoinstitucionalismo
NeoinstitucionalismoNeoinstitucionalismo
Neoinstitucionalismo
 
Antropologia e política karina kuschnir
Antropologia e política karina kuschnirAntropologia e política karina kuschnir
Antropologia e política karina kuschnir
 
Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias páginas 31 a 45
Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias   páginas 31 a 45Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias   páginas 31 a 45
Resumo panorama histórico da cultura jurídica europeias páginas 31 a 45
 
Democracia e representação democrática
Democracia e representação democráticaDemocracia e representação democrática
Democracia e representação democrática
 
Democracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avançosDemocracia Experiencias reflexoes e avanços
Democracia Experiencias reflexoes e avanços
 
A Ciência Política e as Implicações Filosóficas, Sociológicas e Jurídicas no ...
A Ciência Política e as Implicações Filosóficas, Sociológicas e Jurídicas no ...A Ciência Política e as Implicações Filosóficas, Sociológicas e Jurídicas no ...
A Ciência Política e as Implicações Filosóficas, Sociológicas e Jurídicas no ...
 
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhosA08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
A08v2152 abers keck relações fecundas nos conselhos
 
Carole pateman participação e teoria democrática
Carole pateman   participação e teoria democráticaCarole pateman   participação e teoria democrática
Carole pateman participação e teoria democrática
 
Bibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdf
Bibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdfBibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdf
Bibliografia - Estado governo e sociedade - Bobbio - obra completa.pdf
 
Cidadania Mediada
Cidadania MediadaCidadania Mediada
Cidadania Mediada
 
bl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdfbl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdf
 
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
 
Iniciativa popular
Iniciativa popularIniciativa popular
Iniciativa popular
 
O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...
O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...
O PRINCÍPIO DA LAICIDADE E AS IMPLICAÇÕES DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA NO PROCESSO...
 
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latinaPara uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
 
Artigo de josé vieira da cruz na revista ufop 2009
Artigo de josé vieira da cruz na revista ufop 2009Artigo de josé vieira da cruz na revista ufop 2009
Artigo de josé vieira da cruz na revista ufop 2009
 
01 isabela e alice-introdução a política
01 isabela e alice-introdução a política01 isabela e alice-introdução a política
01 isabela e alice-introdução a política
 

Representação política no Brasil

  • 1. CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008 9 Adrian Gurza Lavalle, Cicero Araujo DOSSIÊ Odebateteóricosobrearepresentaçãopolí- tica é surpreendentemente novo. A despeito de a representação ter sido amplamente pesquisada quanto a seus atores principais – partidos, parla- mentares – e aos efeitos das regras que determi- nam quem e como pode ser eleito, bem como aos critérios de transformação dos votos em cadeiras nas câmaras – o sistema eleitoral –, o debate sobre o próprio conceito de representação contava, até os anos 1990, com um número literalmente mi- núsculo de referências obrigatórias. O livro semi- nal de Hanna. Pitkin, O conceito de representa- ção, veio à luz em 1967 como a primeira tentativa de ordenar e integrar a produção dispersa sobre o tema, para além do campo da teoria do direito.1 Seutrabalhopermaneceucomoreferênciaisolada durante quase três décadas, até a publicação, em 1995, de Os princípios do governo representativo, de Bernard Manin. No espaço de 28 anos que separa ambas as obras,oespíritodotempomudou.OlivrodePitkin se inscreve no plano de um esforço de clarificação e síntese filosófica sobre um conceito estabilizado historicamente, cujas concreções políticas, no go- vernorepresentativo,e,maisespecificamente,nas eleições, não manifestavam tendências de trans- formação nem fortes pressões ou críticas internas. Nesse sentido, o intuito “ordenador” do trabalho encerra seu percurso sobre as diferentes dimen- sões do conceito de representação, formulando uma síntese no campo da representação política e, em particular, focada no governo representativo, como sua modalidade mais relevante, sem, toda- via, avançar qualquer avaliação sobre o próprio governo representativo. As críticas internas à de- mocracia encetadas no bojo das mobilizações contraculturais dos anos 1960 e decantadas, uma década depois, no campo da teoria democrática e nos modelos participativos, encontraram eco no pensamento da autora, anos mais tarde, a propó- Adrian Gurza Lavalle* Cicero Araujo** O DEBATE SOBRE A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL: nota introdutória * Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Professor Doutor do Departamento de Ciên- cia Política da USP e pesquisador e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - CEBRAP (SP). Rua Morgado de Mateus, 615. Cep: 04015902. Vila Mariana - São Paulo - Brasil. layda@usp.br ** Doutor em Filosofia pela USP. Professor Livre-Do- cente do Departamento de Ciência Política da USP. craraujo@usp.br 1 O longo texto de Giovanni Sartori “A teoria da represen- tação no Estado representativo moderno” é anterior – foi publicado na Revista Brasileira de Estudos Políticos, de Belo Horizonte (MG), em 1962, mas tipicamente tra- va um debate no campo do direito e, mais especifica- mente, contra as interpretações dominantes dos juris- tas acerca da representação política.
  • 2. CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008 10 O DEBATE SOBRE A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL... sito de uma revisão das mudanças históricas na representaçãopolítica,publicadaem1989,emtexto intitulado“Representação”.2 Em contraposição, instalado na confluên- cia entre a teoria política, a história do pensamen- to político e a história das instituições, o volume de Manin responde ao debate sobre a reconfiguração da representação. As transforma- çõesnaeconomiaeosprogramasdereestruturação característicos dos anos 1980 no hemisfério norte, acrescidos das transições no leste europeu, gera- ram, na literatura de diversas áreas e disciplinas, uma profusão de “crises” e “esgotamentos” da política, da democracia, do Estado, no primeiro caso, e da história, das ideologias, do trabalho, no segundo – apenas para citar alguns exemplos. Além disso, indicadores sobre identificação parti- dária, volatilidade eleitoral e confiança nas insti- tuiçõespolíticasacusarampiorassignificativasnas democraciasmaistradicionais,dandoensejoauma vaga de leituras críticas sobre os déficits de legiti- midade.Defato,otrabalhodeManinconstituiuma resposta aos diagnósticos sobre a “crise” da repre- sentação, a partir de uma reconstrução dos funda- mentos do governo representativo, isto é, de suas instituições básicas e das intenções originais dos que as desenharam ou defenderam. Odebateteóricointernacionaltemsetorna- do mais denso nos últimos anos, e as perspecti- vas a partir das quais se vem tratando ora da crise, ora da reconfiguração da representação, multipli- cam-se – teorias normativas, pós-modernas, dos campos da comunicação política, da sociedade ci- vil, das relações internacionais e, claro, da própria teoria democrática. A propósito dos principais deslocamentos nesse debate, organizamos um nú- mero temático na revista Lua Nova,3 cuja acolhida favorávelmostraoquantoosdebatesemcursotra- zemganhosparaacompreensãodequestõesemer- gentes e tradicionais que, a despeito de envolve- rem a representação política, não tinham sido sis- tematicamente analisadas desse prisma. Este número doCaderno CRH constitui um novo esforço de mostrar esses ganhos cognitivos, mastambémumatentativadeindicaralgumasdas frentes em que a representação política no Brasil está sendo repensada. Procuramos reunir artigos voltados para as instituições tradicionais da repre- sentação política e para novas instituições e práti- cas de representação, bem como abordagens que, olhando para o passado, buscam uma revisão historiográfica, tendo em conta questões atuais. OartigodeMiriamDolhnikoffaproveitauma dasconseqüênciasanalíticasdodebatecontempo- râneo sobre a representação política para a historiografia,asaber,evidenciaroquãoanacrôni- cassãoascompreensõesquevinculamdiretamen- te o governo representativo com os princípios da democraciaecomfeiçõesinstitucionaisqueaque- le só viria a ter no século XX. Em revisão crítica da historiografia política do século XIX, a autora con- testa a tese do falseamento institucional. É essa a compreensão mais difundida da representação no Império, como de resto da vida e instituições polí- ticas no século XIX. Nela, os valores e propósitos formais da representação política teriam sido fal- seados devido à escravidão e, sobretudo, ao poder pessoal do Imperador, amparado pela existência do quarto poder – o Poder Moderador. Contudo, a análise do desenho institucional da monarquia representativaestabelecidanoBrasilesuacompa- ração com o dos governos representativos existen- tes em países considerados berços da democracia – Inglaterra, França e Estados Unidos –, mostram não apenas que, a rigor, o Brasil tinha um regime representativo, mas que algumas das suas caracte- rísticas eram peculiarmente progressistas para a época. Levar a sério a vida das instituições repre- sentativashistóricasdopaíspodetercomocorrelato não mais interpretar as disputas ideológicas e os empenhosintelectuaisengajadosemlhesredefinir princípios e operação no registro da superficiali- dade e do exotismo, como às vezes são tratados na literatura. Não surpreende, como atenta Cristina 2 Traduzido ao português por Wagner Pralon Mancuso e Pablo Ortellado, e publicado em número da revista Lua Nova dedicado ao “Futuro da Representação” (no. 67, 2006) sob o título “Representação: palavras, institui- ções e idéias”. 3 Ver nota anterior.
  • 3. CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008 11 Adrian Gurza Lavalle, Cicero Araujo Buarque de Hollanda, no seu artigo, que as verten- tes do debate intelectual sobre a representação po- lítica na Primeira República tenham recebido atenção mínima. No texto, a autora examina as concepções de representação sustentadas por li- berais, positivistas e realistas, todos eles insatis- feitos com o funcionamento das instituições re- presentativas de seu tempo, mas engajados na ela- boração de modelos alternativos. Longe de se tra- tar de um escarcéu ilustrado e afastado de impera- tivos práticos, o texto mostra algumas das conse- qüências desse debate quando seus protagonistas ocuparam posições de autoridade pública e im- plantaram mudanças institucionais. Mesmo nos debates mais recentes sobre as características fundamentais do arranjo institucional pós-transição, a avaliação de suas supostas mazelas, concebidas no registro da para- lisia decisória ou em outros registros, e as propos- tas de reforma que acompanham tais diagnósticos decorremdeelaboraçõesquenãotêminterlocução direta com o debate teórico da representação. An- tes,sãodiagnósticospreocupadoscomaquiloque, há anos, recebeu o nome de governabilidade. O artigo de Andréa Marcondes de Freitas é a esse respeitoexemplar,quandoexaminaumfenômeno aludido freqüentemente na mídia e que tem rece- bido atenção da literatura especializada, a saber, a migração partidária ou troca de partidos pelos re- presentantes eleitos. A originalidade do texto re- side em problematizar a questão do ponto de vista das teorias da representação, evidenciando não apenasqueasposiçõesnodebateguardamrelação com a agenda da governabilidade, mas que são pouco explícitas a respeito dos seus pressupostos no campo daquelas teorias.Emparticular,ascríti- cas à troca de partidos assumem que os partidos sãoosveículoscorretosdarepresentação;entretan- to,hádiscrepânciasconsideráveisno campoteóri- co da representação quanto aos vínculos adequa- doseaosefeitosdamediaçãopartidáriaentreoelei- tor e o eleito. O artigo de Kathryn Hochstetler e Elisabeth Jaytrazumdeslocamentodoolhar,atentandopara as conexões entre, por um lado, as crises e a perda decredibilidadedasinstituiçõespolíticastradicio- nais e, por outro, a mobilização social. Em análise comparativa entre Brasil e Argentina, as autoras indagam em que medida esses processos de mobilização significam uma desautorização dos partidos e do parlamento, e um eventual desloca- mento para opções de representação supostamen- temaispróximasemenosengessadas,comoaque- lasencarnadaspelosmovimentossociaiseorgani- zaçõescivis.Otextomostraqueessesúltimosocu- pamlacunasdeixadaspelarepresentaçãonosiste- madepartidos,masgeralmentefazem-nodemodo complementar, ora porque no Brasil esses atores nunca visaram a ocupar a posição dos partidos, mas a aprimorar e diversificar os canais de repre- sentação, ora porque, na Argentina, onde aquele propósito foi conjunturalmente almejado, os par- tidosrecompuseramrapidamentesuasrelaçõescom parte desses movimentos, e as instituições de go- verno recuperaram sua capacidade de tomar deci- sões com um mínimo de legitimidade – deixando aos atores da mobilização a porta das alianças e barganhas,eumaestruturainstitucionalmaissen- sível aos seus reclamos e participação. Ostrêsartigosseguintesabordampráticase modalidades emergentes de representação que es- tão contribuindo para definir os contornos da pluralizaçãodarepresentaçãopolíticanopaís,isto é, da diversificação do locus, das funções e dos atores da representação política para além do legislativo, das faculdades de controle da chefia do executivo e da proposição e sanção de leis, e do papel dos partidos políticos. Em artigo de teor comparativo informado por resultados de surveys originais, o artigo de Adrián Gurza Lavalle e Graziela Castello enfoca as novas funções de re- presentação exercidas por organizações civis sediadas na cidade de São Paulo e na Cidade do México. Partindo do pressuposto de que a legiti- midade das novas práticas de representação é crucial para as inovações democráticas ensejadas no país no contexto pós-constituinte, os autores se debruçam sobre as noções de representação política sustentadas por essas organizações que, em ambos os contextos, assumem a mediação dos
  • 4. CADERNOCRH,Salvador,v.21,n.52,p.9-12,Jan./Abr.2008 12 O DEBATE SOBRE A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL... seus beneficiários. O texto evidencia os ganhos cognitivosdeseevitaremdiagnósticosapriorísticos sobre a legitimidade ou ilegitimidade “inerente” àquelas práticas de representação. Ao decompor as noções de representação identificando as fun- ções de controle sobre o poder público nelas su- postas, bem como os eventuais mecanismos de accountability que as organizações civis mantêm com seus próprios beneficiários, o trabalho ofere- ce um panorama das diversas lógicas e modalida- des de representação presentes nesse universo. Seguindo uma linha de fundo semelhante, o artigo de Lígia Helena Hahn se propõe a analisar certas experiências institucionais de democracia participativa no Brasil, supondo uma relação de complementaridade entre as noções de participa- ção e representação. Isso significa entender aque- las experiências não como rejeições do próprio princípio representativo – uma conclusão nada infreqüente nas análises sobre elas –, mas como uma tentativa de sua assimilação, porém de for- mas não tradicionais. O artigo procura desenvol- ver esse ponto de partida comparando dois des- ses novos tipos de institucionalidade: os Conse- lhos Gestores e o Orçamento Participativo. O pri- meiro, claramente previsto no âmbito da reconstitucionalização do país depois de 1988, apresenta a peculiaridade de permitir a represen- tação, não de indivíduos, mas de diferentes “cole- tividades”, na medida em que tomam assento nes- sesconselhostantorepresentantesdeorganizações civis quanto de órgãos estatais. Já o Orçamento Participativo, ao aproveitar a onda de criatividade institucionalensejadapelaredemocratização,pro- cura combinar formas de participação direta de indivíduos com mecanismos representativos que a própria estrutura decisória do Orçamento Participativo exige em seus momentos de afunilamento. Na verdade, como constata a auto- ra, a participação direta é muito mais uma expres- são do engajamento das organizações civis no pro- cesso de elaboração do Orçamento do que uma participação inteiramente não mediada de indiví- duos. Enfim, fazendo essas e outras comparações, a grade analítica que combina a representação e a participaçãovaipermitiràautoraumentendimen- to mais amplo dessas experiências, inclusive na forma de novas problematizações. Encerrandoasérie,oartigodeRebeccaAbers e Margaret Keck concentra sua análise nos Conse- lhos Gestores, mas tentando dar-lhes uma com- preensão teórica suficientemente exaustiva para responder se poderiam efetivamente ser interpre- tados como uma experiência de representação. Apósprocurardiferentesenquadramentosque,ao fim e ao cabo, parecem não dar conta das peculia- ridadesdessaexperiência,asautorasconcluemque asfunçõescomunsde“autorizaçãoeresposta”que costumam ser atribuídas à representação política não servem para definir os Conselhos Gestores. Buscando um caminho alternativo, na linha de certasvisõesdeliberativasdademocracia,elasaca- bam por dar-lhes uma compreensão inusitada: os conselhos deveriam ser vistos antes como um es- paço de “relações fecundas”, apto à “produção de definições e práticas de resolução de problemas”, do que propriamente um espaço no qual um gru- po de pessoas representa outras. Sem abandonar o termo representação para designá-la, essa com- preensão parece de fato ir ao limite dos modelos teóricos disponíveis, o que não deixa de ser um modo interessante de realimentar o debate. Para concluir a apresentação, os coordena- dores deste dossiê gostariam de dirigir seus agra- decimentos aos responsáveis pelo Caderno CRH, pelo estímulo original e pela oportunidade de ofe- receraopúblicoacadêmicobrasileiroessasériede artigos. E são também especialmente gratos aos bolsistasdeiniciaçãocientíficaRobertaSoromenho Nicolete, Diogo Rodriguez e Livia Roncolato que, engajados no projeto, foram imprescindíveis na preparação e revisão de todo o material.