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Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
267
I CONSENSO NACIONAL
DE REABILITAÇÃOCARDIOVASCULAR
(FaseCrônica)
Departamento de Ergometria e Reabilitação Cardiovascular
da Sociedade Brasileira de Cardiologia
InMemoriam
AgradecemosaoDr.LuizCarlosPassaro,excelente profissional,
companheiro e amigo, pela inestimável contribuiçãoa este I
ConsensodeReabilitaçãoCardiovascular.
UmgrandehomemquetevedestacadapresençaemnossoDeparta-
mento,ondeeraatuante,empreendedor,criadorepossuidorde
umagrandecapacidadedeagregaçãoentreseuspares.
Asuaperda,certamente,provocoualémdetristeza,umenormevazio,
difícildepreencher,edeixouumprofundosentimentodesaudade.
Editor:MiltonGodoy
Correspondência: MiltonGodoy-FITCOR-RuaPedrodeToledo,108-15º-04039-000-SãoPaulo,SP
Editoresassociados:
ÁlvaroJoséBellini
LuizCarlosPassaro
LuizEduardoMastrocolla
Editoresassistentes:
AntonioSilveiraSbissa
ClaudioGilSoaresdeAraujo
FábioSândolideBrito
FernandoCarmeloTorres
FernandoDrumondTeixeira
JapyAngeliniOliveiraFº
JorgeIlhaGuimarães
JoséAlbertoAguilarCortez
PauloYazbekJr
ReginaFátimaTavaresdeSantana
RicardoVivacquaC.Costa
RomeuSergioMeneghelo
JoséAntonioCaldasTeixeira
JoseRobertoJardim
LinamaraRizzoBatistella
Livia Maria dos Santos Sabbag
LuizianeAnacletoSbissa
MarceloRegazzini
MarcosFabioLion
MariaAugustaP.Dall’MollinKiss
Mauricio Wajngarten
NabilGhorayeb
RicaDodoD.Buchler
RobertoFranken
RobertoGuimarãesAlfieri
SalvadorSebastiaoRamos
SalvadorSerra
SérgioCoimbradeSouza
TallesdeCarvalho
Wagner Cardoso de Padua Fº
XiomaraMirandaSalvetti
Conselhoeditorial:
Co-relatores e Debatedores
Co-relatoresedebatedores:
Alberto Nacaratto
AlmirSérgioFerraz
AnaFátimaSalles
AnaMariaW. Braga
AngelaRúbiaC.N.Fuchs
AntonioCarlosdaSilva
BelmarFerreiradeAndrade
CarlosAlbertoCyrilloSellera
Carlos Magalhães
Cilene Abreu Cardoso Costa
GilsonTanakaShinzato
HeloisaB.deF.RezendeBarbosa
HorácioArakaki
Januario de Andrade
João Alberto Mantovanini
Arquivos Brasileiros de Cardiologia
Outubro de 1997 - Volume 69 - Número 4
268
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
Embora haja relatos de atividade física em medicina
desde o século XIX, a reabilitação cardiovascular é ainda
umprocedimentojovem,nascidodaCardiologia.
Ao aceitar a honrosa indicação para Editor, feita pela
Diretoria e Comissão Científica do Departamento de
ErgometriaeReabilitaçãodaSBC,coube-me,juntoaoPresi-
dente Dr. Álvaro José Bellini, a coordenação dos trabalhos
realizadospeloseditoresassociadose ConselhoEditorialdo
I ConsensoNacionaldeReabilitaçãoCardiovascularnafase
crônica.OsrelativosàfaseagudajáforameditadospeloDr.
IrandeCastronosArquivosBrasileirosdeCardiologia,1992.
Foiapartirdadécadade60queocorreram,demaneira
mais nítida e efetiva, mudanças substanciais de hábitos de
vida e treinamento físico nos pacientes cardiopatas, que
saíramdoimobilismoedaaposentadoriaprecoceparauma
saudável retomada às atividades física, social e laborativa,
através da recuperação do desempenho físico e autocon-
fiança proporcionados pelos programas de reabilitação
cardiovascular.
Osestudosatuaispermitem-nosafirmarqueareabilita-
Apresentação
MiltonGodoy
ção cardiovascular tem resultados significativos, tanto no
prolongamento da sobrevida com qualidade, como na re-
gressão da placa aterosclerótica do indivíduo com doença
arterialcoronária(DAC).
Gostaríamosdeagradeceraimportantecontribuiçãode
todos os colegas que colaboraram na elaboração do I Con-
sensoNacionaldeReabilitaçãoCardiovascular.E,demodo
destacado, a participação de três colegas: Dr. Claudio Gil
Soares de Araujo pela cessão de inúmeras informações
atualizadas,Dr.LuizEduardoMastrocollapelas importan-
tes e sempre brilhantes revisões e Dr. Luiz Carlos Passaro
peladedicaçãodiuturnaque,juntos,contribuíramsobrema-
neiraparaaelaboraçãodotextofinal.
EsperamosqueesteConsenso,demonstrandoasegu-
rançadoprocedimentoeosresultadosexpressivos,aumen-
teaesperança,denossoDepartamento,deumaretomadano
crescimentodosserviçosdereabilitaçãocardiovascular,em
nosso meio. Para realização deste desafio é fundamental o
apoio de todos os membros da Sociedade Brasileira de
Cardiologia.
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
269
(na Fase Crônica da Evolução Clínica)
I CONSENSO NACIONAL DE
REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR
• Histórico
• Aspectosfundamentaisdafisiologiadoexercício
• Aspectos básicos da estrutura músculo-esquelética, no treinamento físico
• Indicações, contra-indicações, riscos e benefícios da reabilitação cardiovascular
• Metodologia de treinamento
• Prescriçãodeexercício
• Reabilitaçãocardiovascularnafasecrônicadainsuficiênciacoronária
• Reabilitaçãocardiovascularnahipertensãoarterialsistêmica
• Reabilitação cardiovascular em pacientes especiais na fase crônica da sua evolução
Insuficiênciacardíaca
Cardiopatiacongênita
Cardiopatiaadquirida
Prolapsodavalvamitral
Transplante cardíaco
Portadores de marcapasso
• Reabilitação cardiovascular em pacientes com associações clínicas que necessitam de cuidados especiais
Reabilitaçãocardiovascularediabetesmellitus
Reabilitaçãocardiovascularedoençapulmonar
Reabilitaçãocardiovascularegravidez
• Interação entre as terapêuticas pelo treinamento físico e medicamentosa
• Aspectos legais e econômicos. Programas comunitários
270
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
ReabilitaçãoCardiovascular
Definição -Areabilitaçãocardiovascular(RCV)pode
ser conceituada como um ramo de atuação da cardiologia
que,implementadaporequipedetrabalhomultiprofissional,
permitearestituição,aoindivíduo,deumasatisfatóriacon-
diçãoclínica,física,psicológicaelaborativa.
Histórico - DesdeoséculoXIX,encontra-sereferên-
ciadeatividadefísicaedoençacardiovascular1
.Períodode
1930/1950 - os primeiros trabalhos relacionando os efei-
tos da atividade física sobre o sistema cardiovascular2
fo-
ram relatados pouco antes da década de 30. Em 1939,
Mallory e col 3
publicaram artigo no American Heart
Journal,descrevendocomode3-4semanas,otempodeci-
catrizaçãodoinfartoagudodomiocárdio(IAM).Apartirdo
estudo anatomopatológico de 72 casos fundamentaram o
critério teórico da necessidade de repouso após o evento,
por 6-8 semanas. A evolução do IAM era considerada
irreversível,comcomplicaçõestromboembólicasfreqüen-
tes.Ospacienteseramorientadosaoafastamentoprolonga-
do de sua atividade de trabalho e à aposentadoria precoce,
provocandosentimentodeinvalidezcomimportantereflexo
na vida familiar e social.Período de 1950/1960 -em1951,
LevineeLown4
recomendaramamudançadopacientecom
trombose coronária aguda, do leito para a cadeira, propici-
andoumamobilizaçãointra-hospitalarmaisprecoce.Apartir
da experiência adquirida em Centros de Reabilitação nos
EstadosUnidosdaAmérica(EUA)enaEuropa,cria-sea1ª
Work Classification Clinic 5
, em 1944, com o objetivo de
orientarotrabalhadorcomproblemascardiovascularespara
otipodeatividadelaborativaquepudesseserdesempenha-
dacomsegurança.Essa1ªestimuloucriaçãodeuma2ªWork
Classification Clinic em Cleveland (EUA), em 19506
, que
demonstrou resultados expressivos, uma vez que 85-90%
dos portadores de cardiopatia retornaram a uma série de
ocupações. Foram então publicados vários estudos
epidemiológicosrelacionandoaatividadefísicalaborativa
com a diminuição da incidência do IAM 7,8
. Período de
1960/1977-em1966,Saltinecol9
mostraramqueaimobili-
zaçãonoleitohospitalar,portrêssemanas,reduzidaacapa-
cidade funcional em 20% a 30%, sendo necessárias nove
semanas de treinamento físico para o retorno à capacidade
física prévia ao evento. Métodos científicos foram criados
para a prescrição de exercícios e surgiram numerosos pro-
gramas supervisionados, a partir da constatação de que o
paciente com insuficiência coronária poderia melhorar, de
formasegura,acapacidadeaeróbia,afunçãocardiovascular
eaqualidadedevida,quandosubmetidosàRCV.Emnosso
meio, a Revista Hospital de 1968 10
, relatou a atividade do
ServiçodeReabilitaçãoCardiovasculardoInstitutoEstadu-
al de Cardiologia Aloysio de Castro (RJ). No ano de 1972
implantou-seaSeçãodeRCVdoInstitutoDantePazzanese
deCardiologia,emSãoPaulo(SP)eosprimeirosresultados
foram comunicados no XXIX Congresso Brasileiro de
Cardiologia,emFortaleza,em197311
.Nessamesmaépoca,
constituiu-seoprogramadetreinamentofísicodaIIClínica
MédicadoHospitaldasClínicasdaFMUSP,emassociação
comaEscoladeEducaçãoFísicadaUSP.Seusprimeirosre-
sultadosforampublicadosnaRevistadoHospitaldasClíni-
cas12
daFMUSP.Paralelamente,entreoutros,surgiramem
1972osserviçosprivadosdeRCVdoProcordisedaFitcor.
Em 1976, foi realizado o I Simpósio Internacional de
ErgometriaeReabilitação Cardiovascular,sobapresidência
do Dr. Josef Fehér, Guarujá - SP. De maneira análoga a ou-
trospaíses,surgiutambémemnossopaís,afebredoexercí-
cio,objetivandoaobtençãoemanutençãodeumnívelideal
de condicionamento físico, e de preservação da saúde. O
Dr.KennethCooper,doCentroAeróbiodeDallas,Texas,foi
um dos maiores responsáveis por este fenômeno, apontan-
doasvantagensdosexercíciosaeróbios,dotipodemarcha
ecorrida,noprimeirolivroAerobicspublicadoem1968.Pe-
ríodo de 1977/1996 -o I Congresso Mundial de Reabilita-
çãoCardíacafoirealizadoem1977,nacidadedeHamburgo,
Alemanha.Aindanessemesmoano,foicriadooServiçode
Reabilitação Cardíaca da Fundação Hospital de Santa
Catarina13
.Em1981,Franciosaecol14
descreveramamodi-
ficaçãopromovidapelaatividadefísica,ocorrida,predomi-
nantemente,aonívelperiféricoepassaramaestimularotrei-
namentofísicoempacientescominsuficiênciacardíacacrô-
nica, objetivando-se a melhoria da classe funcional. Em
1982, criou-se nos EUA o Journal of Cardiopulmonary
Rehabilitation,quetemsidoimportantenoaprimoramento
científicodaRCV,porincorporaravaliaçãoclínicaepesqui-
sa.Em1982,realizou-seoISimpósiodeErgometriaeReabi-
litação Cardiovascular, presidido pelo Dr. Álvaro José
Bellini,emSãoJosédoRioPreto(SP).Idealizadainicialmen-
te para portadores de doença coronária, a RCV abrange a
seguirospacientescomhipertensãoarterial(HAS),doença
arterialperiférica,valvopatia,cardiopatiacongênita,parti-
cularmentenasuafasepós-operatóriae,maisrecentemente,
insuficiência cardíaca e transplante cardíaco. Desde os
achadosiniciaisdadécadade60,cresceaevidênciadobai-
xoriscodoexercício,quandosãoassociadoscomponentes
isométricos de baixa intensidade, ao treinamento aeróbio
supervisionado, no aumento da tolerância ao esforço em
coronariopatas15
.Nestadécada,Ornishecol16
,Schuller17-19
e col demonstraram que, ao lado da dieta, a RCV contribui
naregressãodaplacaaterosclerótica.Oldridgeecol20
veri-
ficaramemestudosrandomizadosareduçãodamortalidade
cardíaca em 25% nos pacientes submetidos a RCV. Esses
achados,aoladodobaixorisco21,22
,poderãoampliaropapel
terapêuticodesempenhadopeloexercício.
Conceitosfundamentaisemfisiologiado
exercício
Ocorpohumanoapresenta-seemestadoderepousoe
de exercício, sendo que na maior parte do tempo, a intensi-
dadedoexercícioébaixaousimilaraorepouso,emborapo-
dendochegaraníveisbastanteelevados.Emqualquerdes-
tas situações, mecanismos fisiológicos são acionados e
atuamnosentidodeminimizarasalteraçõesdomeiointer-
no, preservando a homoestase 23
. Estes mecanismos fun-
cionam,primariamente,naformadearcosreflexos,constituí-
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
271
dos de receptores, vias aferentes, centros integradores, vias
eferentes e efetores. Contudo, em muitas etapas, os meca-
nismosaindanãoseencontramcompletamentecaracteriza-
dos.Mesmoassim,oconhecimentoatualpermiteestabele-
cer algumas bases importantes para o melhor aproveita-
mentodoexercíciofísicocomoinstrumentodesaúde,parti-
cularmente, na fase crônica da RCV. Para esses objetivos,
torna-seimportanteaapresentaçãoeacaracterizaçãodeal-
gunstermoseconceitos.Osefeitosfisiológicosdoexercício
físico podem ser classificados em agudos imediatos, agu-
dostardiosecrônicos.Osefeitosagudos,tambémdenomi-
nados respostas, são aqueles que acontecem em associa-
ção direta com a sessão de exercício e, os efeitos agudos
imediatos,osqueocorremnosperíodosperepós-imediato
doexercíciofísicoepodemserexemplificadospelosaumen-
tos de freqüência cardíaca (FC), ventilação pulmonar e
sudorese, habitualmente associados ao esforço. Por outro
lado, os efeitos agudos tardios são observados ao longo
dasprimeiras24hqueseseguemaumasessãodeexercício
e podem ser identificados na discreta redução dos níveis
tensionais, especialmente, nos hipertensos, e no aumento
do número de receptores de insulina nas membranas das
célulasmusculares.Porúltimo,osefeitoscrônicos,também
denominados adaptações, são aqueles que resultam da ex-
posição freqüente e regular às sessões de exercício, repre-
sentandoosaspectosmorfo-funcionaisquediferenciamum
indivíduo fisicamente treinado, de um outro sedentário.
Dentre os achados mais comuns dos efeitos crônicos do
exercíciofísicoestãoahipertrofiamusculareoaumentodo
consumomáximodeoxigênio24
.Oexercíciofísicopodese
apresentar de diferentes tipos, cada um deles acarretando
efeitos diversos (tab. I).
Tal classificação tem caráter didático, uma vez que se
tornaimpossível,naprática,arealizaçãodeexercíciosestri-
tamente estáticos ou dinâmicos ou, ainda, puramente ana-
eróbioseaeróbios.Todaatividadefísicateminteraçãoentre
os componentes com modificações, apenas na proporção
relativa de cada um deles. Assim, quando se define como
exercícioaeróbioumacaminhadade40min,subentende-se
que as fases iniciais de curta duração de ajuste fisiológico
natransiçãorepouso-exercício,quesãorealizadasparcial-
mente às custas da produção anaeróbia de ATP, represen-
tam muito pouco no processo fisiológico global e podem
ser desconsideradas. Teoricamente, melhor seria definir
estemesmoexercíciocomopredominantementeaeróbio,ou
naprática,simplesmente,aeróbio.Eventualmente,pode-se
ainda reconhecer qual dos processos anaeróbios de ressín-
tesedeATPestãoenvolvidos-anaeróbioaláticooulático-
, já que os efeitos fisiológicos são bastante distintos. É fun-
damental,paraaorientaçãodaatividadefísicadocardiopata
crônicoemprogramadeRCV,aprecisaprescriçãodotipode
exercício.Umamaneirapráticaefidedignadeidentificara
participaçãodecadaumadasviasmetabólicasderessíntese
deATP,emumdadoexercício,éresponderconjuntamentea
perguntas, como: 1) qual foi a massa muscular relativa en-
volvida no exercício? Envolvimento de grandes massas
muscularescomo,andar,correr,pedalarounadarsolicitam
uma participação relativamente maior da via aeróbia, en-
quanto esforços envolvendo segmentos corporais mais lo-
calizados,comoporexemplorealizaçãodeflexãoeextensão
doantebraçosegurandoumpesotendemàmaiorparticipa-
çãodaviaanaeróbia;2)qualfoiaduraçãomáximadoexercí-
cio?Seaduraçãoexcede2ou3min,aparticipaçãoaeróbiaé
certamente predominante. Mas quando a duração é de até
10s,ocorreopredomíniodaviaanaeróbiaalática.Esforços
intensoscomduraçãoentre20e90s,especialmenteaqueles
até 40s utilizam, de maneira mais intensa, a via anaeróbia
lática,acarretandoimportantedesequilíbrioácido-básicoe
grandesensaçãodeesgotamentofísico.Sãoraramenteem-
pregados de forma espontânea nas atividades habituais do
homem, sendo mais freqüentemente observados em even-
tos desportivos. (prova de 50 e 100m na natação e 200, 400
e 800m no atletismo); 3) qual foi a intensidade relativa do
exercício? Esta é idealmente expressa em termos porcen-
tuais,baseadanaintensidademáximaatingidaoudoconsu-
momáximodeoxigêniodoindivíduo.Asdenominaçõesuti-
lizadasnaprática,paraclassificartalintensidadedoexercí-
cio,comobaixaouleve,moderadaealtaoupesadasãoina-
Tabela I - Classificações do exercício físico
Denominação Característica
Pela via metabólica predominante
Anaeróbio alático Grande intensidade e curtíssima duração
Anaeróbio lático Grande intensidade e curta duração
Aeróbio Baixa ou média intensidade e longa duração
Pelo ritmo
Fixo ou constante Sem alternância de ritmo ao longo do tempo
Variável ou intermitente Com alternância de ritmo ao longo do tempo
Pela intensidade relativa*
Baixa ou leve Repousoaté30%doV02
máximo(Borg25 <10)
Média ou moderada Entre 30% do V02
max e o limiar anaeróbio**
(Borg 10 a 13)
Alta ou pesada Acima do limiar anaeróbio (Borg >14)
Pela mecânica muscular
Estático Não ocorre movimento e o trabalho mecânico
é zero
Dinâmico Há movimento e trabalho mecânico positivo
ou negativo
* para exercícios com implementos ou pesos que utilizam grupamentos muscu-
lares localizados, a intensidade relativa pode ser expressa em função da carga
máxima possível para realizar uma repetição (1 RM). Por exemplo, intensidade
leve - até 30% de 1 RM, intensidade média - entre 30 a 60 ou 70% de 1 RM. Outra
alternativa é empregar as escalas psicofisiológicas de Borg. Para classificação
acima, considerou-se a versão da escala que varia entre 6 e 20; ** na impossi-
bilidade da determinação do limiar anaeróbio, arbitra-se que este se situe entre
55 e 70% do VO2
max.
Tabela II - Exemplos de desportos classificados pela participação
relativa dos componentes de natureza mecânica
Estático Dinâmico
Baixo Médio Alto
Baixo Golfe Tênis Futebol
Médio Arco e flecha Esgrima Natação
Alto Halterofilismo Luta Remo
272
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
dequadas com dúvidas em relação à determinação do
porcentualdomáximoatingido.Emumatentativadesistema-
tizar estas expressões propõe-se que: intensidade “baixa”
correspondaaesforçosdeaté30%doconsumomáximode
oxigênio,“moderada”aexercícioscomdemandaentre30%
do consumo máximo de oxigênio e o nível correspondente
ao limiar anaeróbio e que a intensidade “alta” englobe os
exercícioscujademandaexcedaolimiaranaeróbio.Assim,
nosexercíciosprolongados,somenteaquelesclassificados
comodealtaintensidadeteriamparticipaçãoanaeróbiasig-
nificativa;4)qualfoioritmodoexercício-fixoouvariável?
Exercíciosderitmofixocomo,porexemplo,caminhadaem
velocidade constante por 10min, acarretam modificações
dos níveis fisiológicos de repouso, proporcionando obten-
çãodenovosníveisdeequilíbrio.Umavezalcançados,ten-
dem a se manter constante ou praticamente constante
(steady-state).Jáosesforçosderitmovariável,comoojogo
de tênis, são acompanhados por grandes variações nas ne-
cessidades de ressíntese de ATP e, conseqüentemente, por
modificações periódicas das variáveis fisiológicas. Estas
atividadesenglobampraticamentetodososdesportoscom
bolaecomraqueteetendemautilizar,primariamente,asvias
anaeróbiaaláticaeaeróbia,semaparticipaçãosignificativa
da via anaeróbia lática; 5) esta mesma intensidade poderia
ser mantida pelo dobro do tempo? Para avaliar o grau de
participaçãoanaeróbiapode-se,demodosimpleseprático,
questionarsobreapossibilidadedemanterdeterminadain-
tensidadedoexercíciopelodobrodoperíododetempo.Por
exemplo,umpacientequecaminharegularmentedentrodo
seu programa de prevenção de DAC, pode informar que
nãoteriamaioresdificuldadesdemanteroritmohabitualem
uma caminhada de 1h, ao invés dos 30min que faz diaria-
mente; por outro lado, no mesmo ritmo, não seria capaz de
subirumouquatrolancesdeescada.Sãoevidênciasdeati-
vidadefísicaprimariamenteaeróbianacaminhadaedepar-
ticipação anaeróbia ao subir escadas.
Talestratégiaémuitoútilparaobterinformaçõesquan-
titativasnaanamnesesobreanaturezaeníveldeintensida-
derelativadaatividadedesportivadopaciente.Sedetermi-
nadopacienteinforma,quenãoconseguejogardoissetsno
mesmoritmocomqueelejogao1ºset,ouquenãoconsegue
manteramesmavelocidadeemsuabicicletanaidaenavol-
ta de um trajeto urbano, sinaliza, objetivamente, que a sua
atividade possui um componente anaeróbio significativo;
6)estamesmaintensidadepoderiaserrepetidacomumpe-
quenointervaloderepouso,comode1a2min?Apergunta
refere-seaoexercícioderitmovariáveledealtaintensidade,
comcomponenteanaeróbioaláticopredominanteepartici-
paçãoauxiliarevariáveldometabolismoaeróbio.Sériesde
exercícioscomgrupamentosmusculareslocalizados,como
exercíciosabdominaisoudesuspensãoembarra,tendema
produzirperdadequalidadenaexecuçãoefadiga,serealiza-
dosininterruptamentepormaisdoque5a10s.Podem,con-
tudo, serem reiniciados na mesma velocidade, com condi-
ções satisfatórias de execução e relativa facilidade, desde
que sejam intercalados períodos de repouso de 1 a 2min,
entre as séries, tempo suficiente para reposição dos esto-
quesintracelularesdeATPefosfocreatina.Outronívelim-
portantedeclassificaçãoparaumexercíciofísicorefere-seà
sua natureza mecânica, definindo as contrações de uma fi-
bramuscularisoladaemisométricasouisotônicas,denomi-
nadas mais apropriadamente ao considerar o gesto huma-
no,emexercíciosestáticosoudinâmicos.A26ªConferência
deBethesdarealizadaem199426
,comaparticipaçãoconjun-
ta dos Colégios Americanos de Cardiologia e de Medicina
Desportiva, classificou os desportos pelos seus compo-
nentes estáticos e dinâmicos, variando apenas a participa-
ção relativa desses componentes em baixa, média ou alta
(tab.II).
NocontextodaRCV,algunsoutrostermosfisiológicos
demandamdefiniçõesmaisprecisas,especialmente,apartir
do uso crescente do teste de esforço (TE) cardiopulmonar
(medidadiretadegasesexpiradosduranteaergometria)em
nossomeio.Pretende-se,assim,facilitarapadronizaçãode
procedimentos e a comunicação entre os profissionais da
área. Consumo de oxigênio - representa a quantidade de
oxigênioconsumidaaonívelalveolarpeloindivíduo,sendo
normalmenteexpressaemtermosabsolutos-L/min.-oure-
lativos ao peso corporal - ml.kg/min.; consumo máximo de
oxigênioou potência aeróbia máxima- representa o maior
valor de oxigênio consumido ao nível alveolar pelo indiví-
duo, em um dado minuto, durante um TE de natureza pro-
gressivaemáxima.Émaisfreqüentemente,expressoemter-
mosrelativosml.kg/min.Deve-seterocuidadoemobservar
ereportarointervaloefetivodeamostragemparaadefinição
destavariável,especialmentenosequipamentosqueofere-
cemvaloresacadaciclorespiratório.Sugere-seque,quan-
doointervalodeamostragemforinferiora1min,devecon-
terumaobservaçãonorelatóriofinaldoexame,mencionan-
doqueessavariávelfoiextrapoladaapartirdamedidafeita,
por exemplo, nos últimos 20s de teste, para o valor do con-
sumo de oxigênio em 1min, sendo melhor denominada de
pico de consumo de oxigênio. MET é a sigla inglesa para
equivalente metabólico. Uma unidade representa o gasto
energético na condição de repouso (supino) em função do
pesocorporalecorrespondeaaproximadamente3,5ml.kg/
min. Pode ser utilizada para expressar a potência aeróbia
máxima,onde,porexemplo,35ml.kg/min.corresponderiama
10 MET. Este modo de expressar a capacidade funcional
pode ser inapropriado para portadores de obesidade, nos
quais o gasto energético de repouso é bastante inferior a
3,5ml.kg/min.,jáqueotecidoadiposopossuibaixaatividade
metabólicae,conseqüentemente,baixoconsumodeoxigê-
nio; limiar anaeróbio - representa o percentual do consu-
momáximodeoxigênio(intensidaderelativa)acimadoqual
aproduçãometabólicadelactatoexcedeasuaremoçãoe/ou
utilização,acarretandoacúmulodesdemetabólito.Podeser
diagnosticado diretamente através de dosagens seriadas e
freqüentesdelacticidemiaduranteoexercícioou,indireta-
mente, através da análise das curvas das variáveis respira-
tórias-ventilaçãopulmonareequivalentesventilatóriosde
oxigênio(VE/VO2
)edegáscarbônico(VE/VCO2
)-durante
o teste27
; zona-alvo de treinamento- representa os limites
superior e inferior da FC que caracterizam a dose mais
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
273
apropriada de exercício (intensidade relativa do exercí-
cio), maximizando os benefícios e minimizando os riscos
e efeitos indesejáveis. É obtida idealmente a partir da FC
máxima obtida no TE ou, ainda melhor, através do limiar
anaeróbio obtido através do TE cardiopulmonar
(ergoespirometria).
Aspectosbásicosdaestruturamúsculo-
esqueléticaeotreinamentofísico
A avaliação da condição músculo-esquelética para a
prescriçãoadequadadosexercíciostemfundamentalimpor-
tância, pois algumas alterações nas funções deste sistema
podem prejudicar ou mesmo inviabilizar um programa de
RCV. As lesões desenvolvidas nos programas supervisio-
nados geralmente ocorrem em fases iniciais 28
. Os fatores
etiológicos freqüentemente envolvidos são: a fraqueza; a
redução da resistência muscular; as retrações músculo-
tendíneas, que reduzem a flexibilidade e provocam altera-
çõesposturaisemaiorsobrecargaarticular;anãocoordena-
ção motora e a percepção reduzida do posicionamento dos
segmentos corporais, que determinam padrões de movi-
mentosnão-harmônicosedemaiorimpacto.Algumasalte-
raçõesanatômicastambémestãoassociadasàmaiorsobre-
cargadoaparelhomúsculo-esquelético(porexemplo,uma
assimetria de membros com desnível pélvico e escoliose
lombar ou uma hiperpronação do retropé, com sobrecarga
do tendão de Aquiles) e, quando combinadas com fatores
prévios, podem levar a lesões durante atividades físicas
cíclicas. Além dos fatores intrínsecos relacionados a uma
maior incidência de lesões, devemos considerar os fatores
extrínsecos, como ambiente, piso e equipamentos inade-
quados para a realização de exercícios, ausência de rotinas
deaquecimentoedeexercíciosdeflexibilidade,alémdefato-
resdemotivaçãopsicológica(tentativadeauto-superação,
com duração, distância e progressão inadequadas para os
exercícios),maisobservadosnospacientesemtreinamento
não-supervisionado. Há dificuldade para a padronização
dos exercícios, objetivando a prevenção total de lesões
músculo-esqueléticas,devendo-seindividualizarqualquer
orientação. Neste aspecto, a interação do fisiatra na equipe
multidisciplinar da RCV é de grande importância. Ênfase
especialdeveserdadanaorientação,quantoaosexercícios
deflexibilidade,quedevemserrealizadosdiariamente,com
técnica correta e direcionados para os principais grupos
musculares retraídos, principalmente nos pacientes com
sintomas dolorosos (presença de pontos-gatilhos de dor
miofascial).Deve-seesclareceraopacientequearealização
destesexercícios,somentealgumasvezesporsemana,não
é suficiente, e que a sua não realização, por períodos pro-
longados, provocará retração do tecido conjuntivo múscu-
lo-tendíneo, com perda de amplitude de movimento, redu-
ção da flexibilidade e maior incidência de alterações
posturaisedormuscular.Osexercíciosdeflexibilidaderea-
lizados no programa de condicionamento, pelo educador
físico,muitasvezesnãopodemserindividualizados,devido
àcurtaduraçãodasessãoeànecessidadedeserealizaruma
atividadeemgrupo.Noentanto,asorientaçõesindividuali-
zadasdevemserrealizadasàpartedogrupoe,diariamente,
pelo paciente, sendo que os exercícios comuns ao grupo
podemserprogramadosdeacordocomosgruposmuscula-
resmaisfreqüentementeretraídos.Amesmacondutapode
seraplicadaparaasdeficiênciasdeforçaeresistênciamus-
cular, observadas no exame prévio. Pré-requisitos para o
treinamentodeforçaeresistênciamuscular:1)ausênciade
doençamúsculo-esqueléticaquecontra-indiqueautilização
de cargas elevadas (por exemplo, osteoartrose fêmuro-
patelaracentuada);2)pressãoarterial(PA)sistêmicanormal
ou controlada; 3) ausência de arritmias complexas; 4) ter
completado pelo menos de 6 a 8 semanas do programa de
RCVeapresentarcapacidadefuncionalmínimade17ml.kg/
min.Ospacientesdevemreceberorientaçãoquantoàreali-
zação correta dos exercícios, controlando os movimentos
respiratórioseevitandoamanobradeValsalva.Deve-seafe-
riraPAemesmomonitorizarpacientesduranteosexercícios
de força nas primeiras sessões, caso haja dúvida quanto à
resposta do paciente frente a esta solicitação. Quando os
pacientes têm o diagnóstico de osteoartrose, excetuando-
se, obviamente, os pacientes na fase aguda de artrite, com
sinaisinflamatóriosesintomatologiadolorosa,deve-sere-
alizar atividade física programada e adaptada para os paci-
entes com osteoartrose, visando, além da melhora da fun-
ção cardiovascular, uma maior proteção articular e melhor
absorçãodeimpactoesobrecargasposturaiscomofortale-
cimento muscular e melhora da flexibilidade. Deve-se, na
avaliação prévia, distinguir entre os quadros dolorosos ar-
ticulareseosmusculares,sendoquenosúltimoséimperati-
vooprogramadeflexibilidadedeinícioprecoce.Asativida-
des devem ser de baixo impacto e na presença de deformi-
dadesarticularesereduçãodeamplitudedevem-seadaptar
os exercícios de acordo com a capacidade de paciente.
Indicações,benefícios,riscos,contra-
indicaçõeseemergência
Indicações - As indicações do treinamento físico in-
cluem29-31
:indivíduosaparentementesadios;portadoresde
fatores de risco de doença coronária aterosclerótica (taba-
gismo, HA, dislipemia, diabetes mellitus, obesidade,
sedentarismo e outros); indivíduos com TE anormal e ou
cinecoronariografiaanormal;portadoresdeDAC:isquemia
miocárdica silenciosa, angina estável, pós-IAM, pós-
revascularização miocárdica; pós-angioplatia coronária;
valvopatias; portadores de cardiopatias congênitas; car-
diopatia hipertensiva; cardiomiopatia dilatada; pós-trans-
plantecardíaco;portadoresdemarcapasso.Recomenda-se,
paraaprescriçãodoexercício,queosindivíduossejamclas-
sificados, segundo o risco para exercício físico, em quatro
classes 30,32
:
Classe A - Constituída de indivíduos sem risco para
exercíciosdemédiaintensidade,compreendeosindivíduos
considerados aparentemente sadios: a) <40 anos, assinto-
máticos,quenãoevidenciemcardiopatiaedoisoumaisfa-
toresderiscocoronário;b)dequalqueridade,comTEnega-
274
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
tivo ou normal, que não apresentem cardiopatia ou fatores
de risco coronário.
Classe B - Formada de indivíduos de baixo risco para
exercíciosdemédiaintensidade,compreendepacientescom
cardiopatiadeevoluçãoestáveleouTEnormal,comasse-
guintescaracterísticas:tipofuncionalIouII(NYHA);capa-
cidade aeróbia >21ml.kg/min.; ausência de insuficiência
cardíaca,arritmiaventricularclassificadaporLownnosti-
pos II, III, IV, isquemia ou angina de repouso; angina ou
isquemiadeesforçosomenteemexercício,>21ml.kg/min;TE
comcomportamentonormaldePAesegmentoST,semangi-
na de esforço; fração de ejeção (FE) >0,50; cinecoro-
nariografia com lesões uni ou bi-arteriais e as condições
acima descritas; ausência de antecedentes pessoais de pa-
radacardiorrespiratória(PCR)primáriaoudedoisoumais
infartos do miocárdio; capacidade satisfatória de auto-
monitorização e de obediência à prescrição do exercício,
alémdeconhecimentodosprincípiosbásicosdotreinamen-
to 33
; ausência de outras condições de risco de vida ou se-
qüela grave ou proibitiva.
Classe C - Composta por indivíduos de moderado a
altoriscoparaexercíciosdemédiaintensidadeeouincapa-
zes auto-monitorização, compreende pacientes com car-
diopatiadeevoluçãoestáveleouTEanormal,dotipofunci-
onalIIIdoNYHA,comasseguintescaracterísticas:capaci-
dadeaeróbia<21ml.kg/min.;ausênciasdeinsuficiênciacar-
díaca,extra-sístolesventriculares(EV)classeII,IIIeIVde
Lown, ausência de angina ou isquemia de repouso; angina
ouisquemiadeesforçoemexercício<21ml.kg/min.;angina
vasoespástica documentada sob controle; TE com queda
persistente da PA ao esforço, angina ou comportamento
anormaldeST;FEentre0,30e0,50;cinecoronariografiacom
lesões tri-arteriais; antecedentes pessoais de PCR primária
ou de dois ou mais infartos do miocárdio; capacidade
insatisfatóriadeauto-monitorizaçãoedeobediênciaàpres-
crição do exercício, além do conhecimento dos princípios
básicos do treinamento; ausência de outras condições de
risco de vida ou seqüela grave.
Classe D - Constituída de indivíduos de risco habitu-
almente proibitivo ao exercício, compreende os pacientes
comcardiopatiadeevoluçãoinstávelerestriçãodaativida-
defísica,comasseguintescaracterísticas:insuficiênciacar-
díaca;EVrepetitivas,nãocontroladas;anginaouisquemia
instáveis(anginadeiníciorecente,anginaprogressiva,an-
gina de repouso, angina subentrante, dor torácica prolon-
gada recente mesmo com enzimas normais); estenose
aórtica(EA)grave;condiçõescomriscodevidaouseqüela
grave;lesãodetroncodecoronáriaesquerdaouequivalen-
te, não tratada.
Benefíciosdotreinamentofísico-Naabordageminici-
al dos benefícios do treinamento, foi salientado que o
sedentarismo pode ser considerado como fator de risco in-
dependente para DAC 30
, uma vez que esses benefícios,
avaliados entre os anos de 1975 e 1995, têm evidenciado
declínionamortalidadeem20a30%34
.Entretanto,onúme-
ro de eventos cardiológicos, incluindo a taxa de IAM, não
teve redução significativa35
. Dados demonstram que o im-
pacto do treinamento físico associado a mudança de estilo
devidadiminuiuamortalidadecardíacade20a35%36,37
.Um
grandenúmerodetrabalhosevidencioumelhorassignifica-
tivas de múltiplas variáveis relacionadas à doença cardio-
vascular 38-40
, destacando-se o Report of Health and
Human Services, na avaliação das variáveis envolvidas no
treinamentofísicoem334artigospublicados38
(tab.III).Na
evolução do indivíduo com IAM, Kavanagh e col 41
de-
monstraram que o exercício programado e supervisionado
conseguiureduzirde30para18%ascomplicaçõesdoIAM,
relacionadas principalmente à síndrome depressiva pós-
evento.
Tabela III - Efeitos da RCV no controle evolutivo das diferentes variáveis
Variável Efeito
Freqüência cardíaca repouso diminuição (38)
Freqüência cardíaca de esforço submáximo diminuição (38)
Pressão arterial sistêmica diminuição (38)
Tolerância ao esforço aumento (38)
Lípides sangüíneos diminuição (38)
Triglicérides sangüíneos diminuição (38)
Tolerância à glicose aumento (38)
Fração HDL colesterol aumento (38)
Grau de estresse diminuição (38)
Tabagismo diminuição (38)
Estado psicológico melhora (38)
Índice de mortalidade diminuição (36),(37),(38)
Capacidade cardiorrespiratória aumento (40)
Sensação de fadiga diminuição (40)
Intensidade da carga para o mesmo duplo produto aumento (40)
Colesterol sangüíneo diminuição (40)
Nível de isquemia para carga semelhante diminuição (40)
Efetividade da revascularização miocárdica aumenta (40)
Nível de epinefrina em repouso diminuição (39)
Nível de epinefrina e norepinefrina em exercício diminuição (39)
Resposta simpática diminuição (39)
Resposta vasoconstritora diminuição (39)
Relacionamento pessoal melhora (39)
Tabela IV - Contra-indicações absolutas ao treinamento físico
convencional 22,56
• Insuficiência cardíaca
• Infarto agudo do miocárdio
• Angina estável grau IV (CCS) 58
e instável 59
• Miocardite ativa
• Pericardite aguda
• Aneurismas de aorta torácica ou abdominal
• Embolias pulmonar ou sistêmica recentes
• Tromboflebite
• Hipertensão pulmonar ou arterial grave não tratadas
• Estenose aórtica e insuficiência mitral graves
• Taquicardia ventricular, em repouso
• Infecções agudas
• Lesão de tronco de coronária esquerda ou equivalente, não tratadas
• Obstrução arterial periférica graus III, IV e II limitante (Fontaine) 60
• Retinopatia diabética com deslocamento de retina
Tabela modificada de Haskell WL.
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
275
Riscos - O treinamento físico tem sido considerado
comoformaseguradeintervençãomédica.Amortecardíaca
súbita é rara em indivíduos aparentemente sadios, mesmo
emexercíciosvigorosos.Amortesúbitaporhoradiminuiu
de1:375000em1980para1:888000em198230
,enquantoem
treinamento de cardiopatas a incidência de PCR caiu de
1.6000,em1976,para1:12000030
em199542
.Ascausasmais
freqüentes de PCR em indivíduos aparentemente sadios
foram a doença coronária aterosclerótica, (>35 anos), as
anomalias coronárias congênitas e a cardiomiopatia hiper-
tróficaobstrutiva(maisjovens).Oexercíciodealtaintensi-
dade é fator desencadeante de IAM e morte súbita, sendo o
efeito mais pronunciado entre indivíduos sedentários43-45
.
São fatores predisponentes concomitantes, a idade e a pre-
sença de cardiopatia30
.Observou-se,recentemente,emes-
tudonãorandomizado,queomenorriscodePCRnoexercí-
cio46
pôde ser atribuído à melhor seleção do paciente, pro-
cedimentos mais adequados e tratamentos medicamen-
tosos e invasivos mais eficazes. Em levantamento de 167
programasdeRCV,envolvendo51.303pacientesemtotalde
2.351.916pacientes-hora,entre1980a1984,nãohouvedife-
rença significativa no número de PCR entre os programas
com monitorização contínua ou intermitente. A taxa de
ressuscitação cardiorrespiratória, manteve-se em 80% em
197547
e 86% em 198622
. O horário ideal para a prática de
exercíciosnãoestáestabelecido48
.Dadosepidemiológicos
evidenciamqueoinfartodomiocárdio,amortesúbitacardí-
aca, os acidentes vasculares trombóticos e os episódios de
isquemiamiocárdicasilenciosaapresentampicodeincidên-
cia no período da manhã entre 6 e 12h, coincidente com as
elevaçõescircadianasdaPA,daFC,daviscosidadesangüí-
nea, da agregabilidade plaquetária, do cortisol e da adre-
nalinaplasmáticos,ecomasreduçõescircadianasdofluxo
coronárioedaatividadedoplasminogêniotissular49
.Algu-
masevidênciastêmdemonstradoreduçãodopicomatutino
de IAM com o uso de betabloqueadores 50
e ácido acetil
salicílico51,52
.Emdoisprogramasdereabilitaçãosupervisi-
onada, com sessões exclusivas nos períodos da manhã e da
tarde,nãosedemonstraramdiferençassignificativasnain-
cidência de eventos cardíacos53
. Com relação à prescrição
do horário do exercício, recomenda-se que cada caso seja
avaliado, separadamente, levando-se em conta as caracte-
rísticasclínicas,enquantooassuntoaguardaaefetivacom-
provação.
Contra-indicações -Ascontra-indicaçõesabsolutase
relativas do treinamento físico convencional, e as condi-
ções que requerem preocupações especiais são apresenta-
das nas tabelas IV, V, VI, respectivamente, adaptadas de
Haskell54
,GoepferteChignon55
.
Profilaxiadascomplicações-Aprofilaxiadascompli-
cações implica na adoção de normas objetivas que devem
ser obedecidas pelos pacientes e pela equipe multipro-
fissional: reavaliação médica periódica para detecção dos
pacientes refratários ao treinamento e dos casos com pro-
gressãodacardiopatia;comunicaçãocontínuamédico-pa-
ciente sobre os estado de saúde e mudanças eventuais da
medicação; supervisão médica no ambiente das sessões
para manter o exercício dentro dos limites da prescrição e
para detectar mudanças no estado de saúde do paciente;
adequação da FC de treinamento para pacientes com
arritmiaventriculardependentedefreqüênciaouanginade
peito; rotina para readmissão de paciente após período de
faltas consecutivas; instruções claras e objetivas aos paci-
entes sobre sinais e sintomas que obrigam a interrupção do
treinamento (tab. VII) e sobre as precauções necessárias
duranteapráticadeexercícios(tab.VIII)eclassificaçãoda
angina(tab.IX).
Emergências-Osserviçosdereabilitaçãodevemes-
tar aptos para atender às eventuais emergências. Todos os
membrosdaequipenecessitamdetreinamentoemprimeiros
socorros e conhecimento de procedimentos de ressusci-
taçãocardiorrespiratóriaeatendimentoàemergênciaclínica
ecardiológica.Recomenda-sequesimulaçõesdePCRsejam
praticadas periodicamente e que cada membro da equipe
tenha funções específicas. Rotina médica e administrativa
devemserestabelecidas,visandootimizarefacilitararemo-
ção, em situação de emergência, para o âmbito hospitalar.
Os serviços devem ser dotados de equipamentos de emer-
gênciaapropriados,comsuprimentoadequadodemedica-
mentosemateriais,prontosparausoimediato.Ofunciona-
mento dos equipamentos e a data de validade de medica-
mentos devem ser aferidos periodicamente. A relação dos
equipamentos e medicamentos são as mesmas descritas
nos Consensos Nacionais de Ergometria e Reabilitação
Cardiovascular56
edeRessuscitaçãoCardiorrespiratória57
.
Metodologiadetreinamento
Princípiosbásicos-Ametodologiadotreinamentofí-
sicobaseia-seemtrêsprincípios:especificidade,sobrecarga
ereversibilidade61-65
.Princípiodaespecificidade-todotrei-
namento físico tem efeito específico no desenvolvimento
Tabela V - Contra-indicações relativas ao treinamento físico
convencional 22,56
• Extra-sistolia ventricular classe II, III e IV de Lown
• Arritmia supraventricular de alta freqüência, não controlada
• Aneurisma ventricular
• Estenose aórtica moderada
• Cardiomiopatia hipertrófica
• Cardiomegalia acentuada
• Anemias em geral, inclusive anemia falciforme
• Distúrbios metabólicos não compensados (diabetes, tireotoxicose, mixe-
dema,dislipemias graves, hiperuricemia)
• Distúrbios neuromusculares, músculo-esquelético e osteoarticulares inca-
pacitantes
• Distúrbios psiconeuróticos terapia-dependente
• Insuficiência respiratória moderada
Tabela modificada de Haskell WL.
276
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
das partes do corpo e do sistema energético utilizado no
desempenho de determinada atividade. Quando a solicita-
ção ultrapassa um certo limiar aparecem modificações
morfológicas e funcionais nos órgãos, células e estruturas
intracelularesenvolvidasnarealizaçãodaatividadefísica;
princípiodasobrecarga-otreinamentoefetivoeseguroé
aquele no qual as sobrecargas (resistências opostas) são
aplicadas,demaneiraprogressiva,respeitandodetermina-
dos tempo, freqüência, intensidades mínima e máxima da
sobrecargaparaadaptaçãoemcadaníveldeestímulo.Para
apromoçãodestaadaptaçãodacapacidadefísicasubmete-
se o organismo a níveis de estímulos maiores do que os ha-
bituais. No fenômeno da supercompensação, as modifica-
ções anátomo-fisiológicas que permitem ao indivíduo au-
mentar,demaneiragradual,asuaintensidadedecarga,de-
pendemdoprincípiodasobrecargaedaspausasderecupe-
ração. Por outro lado, o aumento persistente do estímulo
elevaoconsumoenergéticoeinduzaocansaço.Osprogra-
masdetreinamentodevemterintensidade,duraçãoeperío-
dosderecuperaçãoquepermitamaoorganismoadaptações
paratentararecuperaçãodahomoestasefuncional.Osestí-
mulos(sobrecarga)dependemdosobjetivosdotreinamen-
to de resistência aeróbia e localizada, devendo ser maiores
do que os habitualmente experimentados. A combinação
corretadaintensidadeedaduraçãodosestímulos(exercíci-
os), com intervalos de recuperação adequados, são as me-
tas do treinador e caracterizam os procedimentos que per-
mitemaoindivíduoresistiràsatividadesfísicasmaisinten-
sas;princípiodareversibilidade-osefeitosbenéficosdo
treinamento físico são transitórios e reversíveis e podem
desaparecercomadiminuiçãoouafaltadoexercício.
O retorno às condições prévias ao treinamento pode
ocorrer de maneira rápida e depende do tipo, do tempo, da
capacidade física alcançada com os exercícios e principal-
mente,doperíododeinterrupçãodoexercício.Ressalta-se
que ex-atletas depois de alguns anos de inatividade, alcan-
çam nível de capacidade cardiorrespiratória semelhante a
de indivíduo sedentário.
Métodos de treinamento - São representados pelas
estratégias utilizadas na obtenção de maior rendimento no
treinamentofísico.Emboraseencontreindividualidadede
potenciaisque,àsvezes,édedifícilexplicaçãobiológica,os
meios científicos têm sido, ao longo do tempo, fundamen-
taisnaexploração,mediçãoedirecionamentodessespoten-
ciais. Isto é verificado no aumento crescente e anual das
marcasatléticasemcompetições.Oconhecimentodosiste-
mafisiológicoasertreinadoestádiretamenterelacionadoà
decisão correta do método de treinamento. Cabe à equipe
multiprofissionalidentificarqualosistemaenergéticoaser
treinado.Devendo,ainda,conheceraduração,aintensida-
de,assimcomo,assuasinteraçõescomosistemametabóli-
co. Os princípios da especificidade e da sobrecarga devem
ser obedecidos quando o objetivo é o efeito positivo no
treinamento, sendo que o aquecimento e a fase de recupera-
ção são períodos inerentes à sessão de treinamento. Na fase
inicialdoexercício,realiza-seoaquecimentodosmúsculose
dosistemacardiorrespiratório,visandoalcançarmaiorefici-
ência metabólica e prevenir lesões osteomioarticulares. A
fase de recuperação ou de “desaquecimento” permite um
decréscimodeintensidadeparaascondiçõesderepouso,de
maneiraplanejada.Estasduasetapassãoimprescindíveis.
Os métodos de treinamento são, basicamente, dois:
contínuo ou de duração e intervalado ou intermitente, sen-
do que as variações e outras classificações derivadas são
encontradas na literatura especializada66-72
.
Treinamento contínuo de natureza submáxima e de
média a longa duração, não se permitindo intervalos. É um
dos meios mais antigos para desenvolver resistência
aeróbia. No treinamento aeróbio é necessário que haja so-
brecarga cardiovascular suficiente para promover um au-
mento do débito cardíaco (DC). A intensidade moderada
possibilita manter o esforço por tempo mais prolongado e
em estado de equilíbrio entre oferta e consumo de O2
(steady-state). Este treinamento permite resultados satis-
fatóriostantoamédiocomoalongoprazo.
Treinamento intervalado - tem como característica
uma série de períodos repetitivos de exercícios, alternados
com períodos de repouso ativo ou intervalos de recupera-
ção. Este método é, indubitavelmente, o método responsá-
vel pelo sucesso de muitos atletas, podendo ser aplicado
tambémemindivíduossedentáriosecardiopatas.Asséries
repetidasdeexercíciospodemternúmero,duração,intensi-
dade e intervalos variados, de acordo com o objetivo dese-
jado, oferecendo opções para desenvolver tanto os siste-
mas aeróbio como anaeróbio (exclusivamente para indiví-
duos hígidos). As pausas podem ser ativas ou passivas, e
são consideradas vantajosas quando a sua duração
corresponde a um terço da fase de recuperação total. São
muitousadasnosmeiosdesportivos.Oprincipalméritodo
treinamentointervaladoéodepermitirsériesdeexercícios
de alta intensidade, por períodos relativamente longos. Os
cardiopatasdeverãomanterotreinamentodentrodoslimi-
tes aeróbios preconizados.
Asaptidõesfísicasbásicasparao
condicionamentofísico
Emprogramasdeatividadefísica,visandoasaúdeea
qualidade de vida, devem estar incluídas: resistência aeró-
Tabela VI - Condições que requerem considerações especiais ou precauções22,56
• Arritmia cardíaca controlada
• Distúrbios de condução: bloqueio atrioventricular completo, bloqueio do
ramo esquerdo, Wolf Parkinson White
• Marcapasso artificial
• Distúrbios eletrolíticos
• Uso de medicamentos: digital, betabloqueadores, antagonistas de cálcio,
anticoagulantes, insulina
• Angina de peito estável
• Obesidade acentuada
• Osteoporose
• Insuficiência hepática
• Insuficiência renal
Tabela modificada de Haskell WL.
Arq Bras Cardiol
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I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
277
bia,resistênciamuscularlocalizada(RML)eflexibilidade.A
resistênciaaeróbiautiliza-sedeexercíciosdinâmicos,reali-
zados em condições de equilíbrio de oferta e demanda de
oxigênio, intensidade moderada, tempo prolongado e
envolvimento de grandes grupos musculares. Condições
quesãoobtidascomexercícioscíclicoscomoandar,correr,
pedalar, nadar, etc, que favorecem os ajustes metabólicos
necessáriosparaodesenvolvimentodeadaptaçõesfisioló-
gicasrelacionadascomamanutençãodasaúde;paraotrei-
namentodaRMLnosprogramasdecondicionamentofísico
eRCVoexercíciodeveser,preferencialmente,dinâmicocom
sobrecargas associados e aplicadas entre as séries e os nú-
merosderepetições.Comoasatividadesprofissionaisdiá-
riasedelazerenvolvemaforçaeresistênciamuscular,otrei-
namentodeveabrangerambososelementos,emprogramas
de pequena intensidade, destinados a pacientes com baixa
capacidade física. Por outro lado, treinamentos que envol-
vammaiorintensidadederesistênciacompeso,quegeram
grande tensão muscular, podem produzir o aumento da
pressãoarterialdiastólica(PAD)ebloqueiorespiratório.A
manobradeValsalvaprovocadapelobloqueiorespiratório
levaaofechamentodaglote,interrompendooretornoveno-
so para o coração. Esta seqüência de resposta pode ser pe-
rigosaparaopacientecomproblemacardiovascular;aflexi-
bilidadeéumapropriedadequedependedamobilidadearti-
cular e da elasticidade muscular, observada pelo grau de
amplitude dos movimentos. Nos programas de treinamen-
to, tanto preventivo como de reabilitação, devem estar in-
cluídosexercíciosdeflexibilidadeealongamento,poiseles
facilitamasatividadescotidianas,particularmenteemrela-
ção ao trabalho onde estão envolvidas as regiões lombar e
posteriordacoxa.
Prescriçãodeexercício
Prescrição médica de exercício -Emboraoenvolvi-
mentomédicositue-seaparentementenafasedeseleçãodo
indivíduo,éimportantesuaparticipação,demaneiracontí-
nua, com o professor de educação física. De acordo com a
complexidade do serviço durante todas as fases de RCV, a
esses profissionais somam-se especialistas nas áreas fisio-
terapia,enfermagem,nutrição,fisiologia,psicologiaeetc.A
determinação inicial da capacidade funcional é elemento
fundamentalparaotreinamentofísicoemníveldeequilíbrio
individualizado.Desde1975,asrecomendaçõesparaosva-
lorespercentuaisdovolumemáximodeoxigênio(V02
max)
para o início do programa têm sido revistas73
nas publica-
ções da Associação Americana de Ciências do Esporte
(ACSM), como podem ser observada na tabela X. Na fase
inicialpretende-semelhoraraqualidadedevidaesaúdesem
a preocupação imediata de perda de peso. A medida que se
prolongaoprograma,aassimilaçãodacargapermiteaopa-
cientealiberaçãogradualdecargasmaisefetivas.Emseisa
12meses,apósreavaliação,determina-seumnovonívelde
equilíbriodeconsumodeoxigênioparaotreinamento.
AvaliaçãoclínicaparaRCV -Exameclínico,história
deeventocardíaco,exameobjetivocomabordagemespeci-
al para estenose de via de saída do ventrículo esquerdo
(VE),avaliaçãominuciosadafunçãoventricular;estratifi-
caçãodoriscopelotestee/ououtrosexamescomplementa-
res,avaliaçãodasmedicações,principalmente,asqueinter-
feremcomarespostacronotrópica,avaliaçãoclínicaortopé-
dica,TEeprotocolos.
Protocolos de esteira rolante - Para indivíduos mais
limitados ou pessoas >70 anos, de atividade física, não co-
Tabela VII - Sintomas e sinais de treinamento excessivo durante
programa de reabilitação** 54
Durante ou logo após a sessão
Angina grau 3 ou 4 em escala 1 a 4
Aumento de freqüência das disritmias cardíacas
Bradicardia inapropriada
Taquicardia inapropriada
Ataxia, tonturas, confusão
Náuseas e vômitos
Claudicação de membros inferiores
Palidez, cianose
Dispnéia persistente por mais de 10min
Hipoglicemia no diabetes mellitus
Tardios
Fadiga prolongada
Insônia incomum
Ganho de peso por retenção hídrida
Taquicardia persistente (FC >100-110bpm, 6min após o exercício)
Hipoglicemia no diabetes mellitus até 48h
Tabela modificada de Haskell WL; ** aparecimento destes sinais e sintomas
indicam necessidade de redução da intensidade do exercício nas sessões sub-
seqüentes.
Tabela VIII - Precauções gerais durante o treinamento físico 48
• Intervalo de 2h entre a refeição habitual e o exercício. Não beber café, chá
preto, chá mate, coca-cola 1h antes e depois do exercício; beber água aos
goles antes, durante e após o exercício; evitar refrigerantes.
• Abster-se de bebidas alcoólicas e cigarro antes e após o exercício.
• Não se exercitar em jejum; 1h antes das sessões de reabilitação fazer breve
refeição de frutas, pães, sucos e açúcar comum; em caso de diabetes seguir
instruções especiais.
• Evitar exercício em condições extremas de temperatura, umidade, poluição e
grandes variações de altitude.
• Não tomar banhos quentes ou frios próximo do exercício; dar preferência a
banhos tépidos após 15min;
• Utilizar roupas porosas, quentes no inverno e leves e claras no verão; não
utilizar trajes emborrachados; usar calçados macios e flexíveis com sola grossa
e calcanhar acolchoado, próprios para a modalidade.
• Evitar o exercício sob o impacto de emoções e a prática de esportes esporá-
dica em feriados; participar de competições apenas sob ordem médica.
• Exercitar-se somente ao sentir-se bem; aceitar as limitações pessoais; come-
çar devagar e fazer progressões graduais; evitar exercícios em afecções agu-
das ou fadiga; reduzir a intensidade do exercício na convalescença; aguardar
dois dias após resfriado comum para voltar aos exercícios.
• Interromper o treinamento e procurar o médico em caso de lesões músculo-
esqueléticas: movimentos dolorosos persistentes necessitam de cuidados
médicos; manter-se alerta aos sinais de treinamento excessivo.
Tabela modificada de Debusk RF.
278
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
nhecida, utilizam-se protocolos com incrementos de carga
maissuaves,denominadosprotocolossubmáximos,clássi-
coscomoosdeNaughtonoudeEllestad.Paraindivíduosjá
ematividadehabitual,utilizam-seosprotocolosmáximosde
BruceoudeEllestad.
Protocolos em cicloergômetro -Nos indivíduos mais
limitados ou >70 anos, não conhecidos, recomenda-se in-
tervalos de cargas de 25 em 25 watts ou até mesmo 12,5 a
12,5 watts nas bicicletas tecnicamente capacitadas. De
maneirageral,emnossomeio,preconizam-seincrementosde
cargasde50wattsatéaFCmáximapreditaouoVO2
maxobtido.
FórmulasparaadeterminaçãodaFCdetreinamento-
1) Escala de Borg25
- segundo a sensação de cansaço físico
na escala de Borg, estabelece-se a freqüência cardíaca de
treinamento(FCT)ouaintensidadedacargadeexercícioda
fase inicial de treinamento que corresponda ao cansaço
avaliadoem10a12pontosdaescaladeBorg(graduadade6
a20)(tab.XI);2)tabeladeFox-nasavaliaçõesdeindivídu-
ossedentáriosemumprogramadecondicionamentofísico,
em São Paulo, observou-se que a FCT de equilíbrio inicial
situava-seentreos40a60%doV02
maxou58a72%daFC
máx da tabela formulada por Fox74
, para as diferentes ida-
des(tab.XII).Esteníveléinfluenciado,algumasvezes,pela
dificuldadedeadaptaçãodosmembrosinferiores;3)fórmu-
la de Karvonen - a FCT de acordo com Karvonen75
obtém-
sedeterminandoaFCmáxima= 220-idade.Calcula-seem
seguidaopercentualdaFCmáxsegundoafórmula:FCT=
FCR+x%(FCmáx-FCR),ondeFCR=FCderepouso;x%=
percentualdaFCdesejadaparaotreinamento.Porexemplo,
paraumindivíduode50anos,comFCRde70bpm,obtém-se:
FCmáx=220-50=170bpm:.FCT=FCR+x%FCmáx-FCR:.
FCT=70+70%(170-70):.FCT=70+70:.FCT=140bpm;4)
FCT estabelecida pelo TE - considerando-se a correlação
linear76
existenteentreaFCeovolumedeoxigênio,evitan-
do-seemtesteemesteirarolanteosvaloresextremos,tanto
<120bpmcomoas>156bpm,pode-seutilizarcorrelaçãopara
estabelecerosníveisde40a60%doVO2
maxou58a72%da
FCmáx,esuacargaequivalente,paraoiníciodoprograma
deexercício;5)determinaçãodoníveldetreinamentopela
ergoespirometria - para uma prescrição de exercícios mais
segura e adequada, o TE máximo progressivo, concomi-
tante, a coleta de gases respiratórios (ergoespirometria)
apresentaparâmetrosadicionaisimportantes,emrelaçãoao
TEconvencional.AFCcorrespondenteamáximaprevista,
paraumadeterminadaidade,àsvezes,nãoésuficientepara
caracterizarumTEcomomáximo,podendoapresentardes-
vios de 10 a 12bpm. O apoio nos suportes dos ergômetros
dos membros superiores pode superestimar em até 30% a
capacidade funcional77
. Na ergoespirometria, a análise de
gases respiratórios aliada à avaliação das variáveis cardio-
vascularesedepercepçãodeesforçopode,determinarcom
melhorprecisãooesforçomáximo.
Deve-se ressaltar que, pessoas com valores próximos
deV02
max, nem sempre apresentam capacidades aeróbias
semelhantes, em função do ponto de limiar anaeróbio em
cargas distintas. Aspectos que são válidos para a prescri-
çãocorreta,principalmente,emindivíduoscomconsumode
02
maxelevadooumuitobaixo,tantoematletasdealtonível
comonascardiopatiasmaislimitadas.SegundoWasserman77
,
adetecçãodolimiaranaeróbioIou1ºlimiarventilatório(limi-
aranaeróbio)edolimiaranaeróbioIIou2ºlimiarventilatório
(pontodecompensaçãoventilatóriaparaacidosemetabóli-
ca)proporcionamzonassegurasparaaprescriçãodetreina-
mento(FCalvo),deacordocomosobjetivosaseremalcan-
çados. A ergoespirometria, pela análise do VO2
max ou de
pico (maior valor de VO2
atingido, sem que os critérios de
caracterização para VO2
max tenham sido preenchidos), é
tambémusadaparaclassificarobjetivamenteagravidadeda
insuficiência cardíaca e, conseqüentemente, estabelecer
correlações prognósticas77
. Para o diagnóstico diferencial
dadispnéiadeesforçoaergoespirometriaoferecedadosde
funçãopulmonarquenãosãodisponíveisnoTEconvenci-
onal78,79
.
FatoresquepodemmodificaroníveldaFCT -Além
da manifestação clínica de angina de peito, têm-se a consi-
derar o desnível do segmento ST, a presença da onda U,
presença de arritmia, duplo produto, pressões arteriais
sistólica (PAS) e PAD. As influências destas variáveis na
FCTestãoexpressosnatabelasXIIIeIX.
Aspectos especiais para pacientes mais idosos na
RCV - Os cuidados especiais independem da idade e sim
dascondiçõesdopaciente,istoé,dacomplexidadedocaso.
Entretanto,maioridadepoderepresentareventualdiferen-
ça de comportamento, que merece cuidados especiais para
prevenir as adversidades clínicas mais comuns no idoso,
como33,80
: dispnéia; estertores de base, fraqueza profunda;
alteraçãomentalagudacomconfusão;mudançadehábitos
alimentares;edemapulmonar;emboliaarterial;insuficiência
renal progressiva; agitação e sonolência; mudança repeti-
tivanaatividadeeaperdadapercepçãoquepodediminuira
Tabela IX - Classificação da angina segundo a Canadian
Cardiovascular Society (CCS) 58
Classe Atividade desencadeante
I Esforço prolongado
II Andar mais de dois quarteirões
III Andar menos de dois quarteirões
IV Esforço mínimo e repouso
Tabela X - Níveis iniciais de treinamento físico para indivíduos
sedentários (Blair)
Ano %VO2
max* %FCmáx**
1975 70% 85%
1980 60% 80%
1986 50% 70%
1991 40% 60%
* % VO2
max- consumo máximo de oxigênio em valores percentuais;** %FC
máx- freqüência cardíaca máxima em valores percentuais.
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
279
sensibilidadedolorosa.a)Ambienteeexercíciosmaisapro-
priados aos idosos - a idade mais avançada geralmente
comprometeoestilodevidaeaartritediminuiaflexibilidade.
Em ambas as situações a atividade física cuidadosa pode
ser benéfica, utilizando-se local de treinamento amplo, de
preferêncianomesmoplanoeemsuperfícielisa;b)exercício
emedicação-noindivíduomaisidoso,valeapenasalientar
queainterrelaçãofisiológicaefarmacológicaéprocessada,
às vezes, com diferentes peculiaridades, nos processos de:
absorção; metabolismo; distribuição; da sensibilidade ao
fármaco; diminuição da massa corpórea; diminuições nas
funções renal; hepática; gastrointestinal; nervosa; e
cardiovascular.
Portanto, diante destes tipos de respostas do idoso
recomendam-se,cuidadosespeciaiscom:ahipotensãoarte-
rial sistêmica, a arritmia em indivíduos em uso de hipoten-
sores e diuréticos, aos fármacos que atuam na função
cognitiva (hipnótico, alfa agonista central e beta adrenér-
gico)quepodem,eventualmente,precipitarisquemiacerebral.
Treinamentofísico,nãosupervisionadopormédicos 33
-Quandoosaspectoseconômicosealocalizaçãogeográfi-
catornamdifíceisacontinuidadedeprogramassupervisio-
nados a longo prazo, pode-se instituir o programa não su-
pervisionado diretamente pela equipe médica, sendo reco-
mendávelamanutençãodasupervisãodoprofessordeedu-
caçãofísica.Paratanto,opacientedeveráter,alémdoequi-
líbrioclínico,aassimilaçãoeaceitaçãodamonitorizaçãodo
treinamento. A seleção para esta fase de treinamento deve
ser rigorosa, pois, nesta situação, eventual intercorrência
temumadifícilrecuperação,tantopelaausênciadavigilân-
ciamédicadiretacomopelafaltadeequipamentodeemer-
gência. Na liberação da atividade física, sem supervisão
médica, o indivíduo não pode apresentar uma ou mais das
seguintesvariáveis:grupo A -a)capacidadefuncionalmá-
xima<18mldeO2
/kg/min;b)aparecimentodeanginaouou-
tramanifestaçãoclínicadeisquemiadomiocárdio;c)infarto
extensodomiocárdiocomdanoventricularquereduzaaFE
a valores<35%,emrepouso;d)respostahemodinâmicaal-
terada ao TE, quer pela redução de 10% na FE como pela
quedadaPASemexercício;e)arritmiaventricularcomplexa
(classificaçãodeLownIIIeIV)-EV>10batimentosem100
batimentosnormais,EVpolimórfica,taquicardiaventricular
(TV)eEVdotipoRT(extra-sístolequeocorresobreaonda
T,emfasevulneráveldociclocardíacoparadesenvolvimen-
to de arritmia), intervalo QT>0,44s(corrigido);f)paciente
comsobrevidaàTVnãoassociadoaoinfartodomiocárdio;
g)inabilidadedeautomonitorizaçãoeaderênciaaoexercí-
cio; h) obesidade importante; i) HAS refratária; j) diabetes
mellitus descompensado;grupo B - ficam liberados para
treinamento não supervisionado por médicos os seguintes
indivíduos: a) com doença aterosclerótica, coronária está-
velapósseismesesdetreinamentosemintercorrênciaclíni-
ca; b) com conhecimento do treinamento aeróbio; c) com
temperamentoemotivaçãosugerindoaltaprobabilidadede
aderênciaaoexercício.
Prescriçãodeexercíciopeloprofessordeeducação
física -Cabeaoprofessorexplicaraopacienteasdiferenças
entre atividade física e esporte. Estes esclarecimentos per-
mitem-lhejustificaraescolhadotipodeexercíciomaisade-
quado, considerando-se tanto as suas preferências como
as suas limitações81
.
Na prescrição de exercício, além dos resultados dos
exames e do relatório do médico, o professor depende de
informaçõesdopacienteparaincluí-loemtrêsgrupospos-
síveisdeindivíduos:1)quenuncafezqualquertipodeativi-
dadefísica;2)quepraticavaesportes;3)comatividadefísi-
ca regular. Para obter as informações necessárias na esco-
lha dos procedimentos e na orientação do cliente, a 1ª aula
deveser,preferencialmente,exclusiva,parafacilitaraadap-
tação do cliente com a equipe profissional, as instalações e
osequipamentosdeginástica.Paradeterminaraintensida-
deeaduraçãodotreinamentoaeróbio,oprofessordepende
do relatório médico e FCT que permitam individualizar os
exercícios. Além da 1ª aula, quando os ajustes do tipo ou
modo, da intensidade e da duração dos exercícios são esta-
belecidos em fichas próprias para o treinamento, a
individualizaçãodoprogramaexigeacompanhamentodife-
renciadoporumperíodomínimode30dias,afimdeconso-
lidar o processo de adaptação do cliente ao programa. A fi-
chadetreinamentocomasmedidasfisiológicas,emexercí-
cio,easinformaçõesobtidasemcadasessãoproporcionam
oselementosnecessáriosparaaatualizaçãodaintensidade
e duração do treinamento. O controle da assiduidade cons-
titui-se também num meio importante para o acompanha-
mentodosefeitosprovocadospeloexercíciofísicoepermi-
te“afiscalização”damotivaçãodocliente.
Prescriçãodetreinamentoderesistênciaaeróbia -O
treinamento de resistência aeróbia é fundamental para o
aperfeiçoamentodasfunçõescardiorrespiratórias.Aplica-
se este tipo de treinamento de forma contínua ou interva-
lada,jádescritoanteriormente.
O treinamento contínuo pode ser aplicado segundo o
tempoderealização,emexercício,decurta(até10min)média
(de10a30min)elonga(acimade30min),duração.Otreina-
mentoaeróbiointervaladodeveserindividualizado,estabe-
lecendo-seaduraçãototal,níveldeintensidade,númerode
repetiçõesparacadaintensidadeeduraçãodecadaintensi-
dade. As vantagens do treinamento intervalado, quando
comparadocomotreinamentocontínuo,sãotrês:1)permite
arealizaçãodemaiortrabalhototal(relaçãocargaetempo)
Tabela XI - Escala do esforço percebido de Borg
6 14
7 Muito, muito fácil 15 Cansativo
8 16
9 Muito fácil 17 Muito cansativo
10 18
11 Fácil 19 Muito, muito cansativo
12 20 Exaustivo
13 Ligeiramente cansativo
280
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
quandodesenvolvidocomduraçãoigualaotrabalhocontí-
nuo;2)facilitaaadaptaçãodamusculaturaesqueléticapara
suportarexercíciosdemaiorintensidade,deformagradativa
eperfeitamenteassimilável;3)quebradamonotoniadotrei-
namento, por exigir atenção na mudança da intensidade do
exercícionosmomentosestabelecidos.
PrescriçãodetreinamentodeRML -Osexercíciosde
RML são importantes e precisam ser incluídos nas sessões
do programa de condicionamento físico visando saúde e
qualidadedevida.Osmúsculosresponsáveispelalocomo-
ção (membros inferiores), postura, respiração e proteção
das vísceras (tronco) e tarefas básicas profissionais e ativi-
dadesdelazer(membrossuperioreseinferiores)devemser
estimuladoscomexercíciosespecíficosebemdosados.As
adaptações fisiológicas da musculatura esquelética e do
coração em conseqüência do treinamento de RML depen-
dem das seguintes condições: exercícios dinâmicos
(isotônicos);cargassubmáximas(poucopeso);númerode
séries(mínimotrêsparacadaexercício);númeroderepeti-
ções(mínimo15paracadaexercício);duraçãodosintervalos
entre cada série (30 a 40s). Os indivíduos sedentários e os
portadores de doenças cardiovasculares são encorajados a
praticar os exercícios de RML sem apnéia, com respiração
cadenciadaeemritmomoderadoparapreservarasarticula-
ções.OtreinamentomaisusadodeRMLéotreinamentoem
circuitoqueécaracterizadopeladistribuiçãodosexercícios
em estações e que pode ser desenvolvido com pesos livres
ecomaparelhosepodeseraplicadoemcargaetempofixos.
Na reabilitação cardíaca e no treinamento de sedentários é
recomendávelocircuitodetempofixo,comduraçãomínima
de30sparacadaestaçãoecargas(pesos)leves,porquenão
aumentamuitoaPA,melhoraacapilarização,aumentaaefi-
ciênciadometabolismoaeróbioeacoordenaçãoneuromus-
cular. A aplicação do treinamento em circuito para desen-
volvimentodaRML,nareabilitaçãocardíaca,deverespeitar
ascondições,paraescolhacorretadosexercícios,conside-
rando-se os seguintes aspectos: a) grupos musculares soli-
citados; b) grau de dificuldade de execução; c) eventuais
problemas ortopédicos que possam comprometer a execu-
ção; d) número de estações do circuito composto de no mí-
nimo12enomáximo14estações,quecorrespondemàutili-
zaçãode15a20mindeumasessãodecondicionamentofísi-
co;e)tempodepermanênciadecadaestaçãoserdenomíni-
mo 30s para permitir 15 repetições cadenciadas de cada
exercício; f) duração dos intervalos entre cada estação no
mínimo30sparapermitirarecuperaçãodamusculaturasoli-
citada;g)ordemdosexercíciosnasestaçõesdistribuídaal-
ternandoosgruposmuscularessolicitadosparaevitarfadi-
ga, lesões musculares e articulares; h) cuidados necessári-
osparaorientaratécnicacorretadaatividaderespiratóriade
execução de cada exercício; i) individualização das cargas
detreinamento.Cadacircuitonecessitasermantidoporpe-
ríodo mínimo de oito sessões de condicionamento físico,
parafacilitaroaprendizadoeoaperfeiçoamentodatécnica
de execução. Períodos muito prolongados de execução do
mesmocircuitoprovocamfaltademotivaçãoeprejudicam
os resultados pretendidos com o treinamento.
Prescrição de treinamento de flexibilidade - O trei-
namentodeflexibilidadetemcomoobjetivomelhoraramobi-
lidade articular e a elasticidade muscular, podendo ser de-
senvolvido através de métodos estáticos e dinâmicos. No
programa de condicionamento físico para sedentários e na
reabilitaçãocardíacaoexercícioestáticopassivo,variação
do treinamento de facilitação neuromuscular propriocep-
tiva, é o mais recomendado. A facilitação neuromuscular
proprioceptivapodeseraplicadaemcombinaçãocomcon-
trações isométricas dos músculos agonistas e antagonis-
tas, somente dos antagonistas ou sem contrações isomé-
tricas (somente alongamento passivo). A atividade física
emquestãotemcomoobjetivoaumentaraelasticidademus-
culareamobilidadearticularatravésdatentativadeneutra-
lizaçãodoreflexomiotáticopelafadigamuscularparaobten-
çãodemaiorgraudeamplitudedemovimento.
Alongamento - Para aplicar o alongamento passivo
nas sessões de ginástica o professor necessita selecionar
exercíciosdefácilexecuçãoerespeitaraslimitaçõesindivi-
duais. O treinamento deve ser em ambiente tranqüilo, com
música agradável, combinando técnicas de relaxamento e
respiraçãoparafacilitaraconcentraçãodosalunos.Osexer-
cícios de alongamento ajudam a reduzir a tensão muscular
desnecessária,atenuamasdoreslombares,melhoramapos-
tura,aconsciênciacorporaleacapacidadededesempenho
detarefasprofissionaisedelazer.Pelassuascaracterísticas,
a etapa de alongamento deve ser a última de uma sessão de
treinamentoporquefacilitaarecuperaçãoapósosexercíci-
os aeróbios e de RML.
Tabela XII - Determinação da FCT, segundo a faixa etária
Correspondência entre os valores percentuais do consumo máximo de oxigê-
nio e da freqüência cardíaca máxima sugeridas para indivíduos normais e
cardiopatas. Para cada faixa etária observa-se o valor mínimo da freqüência
cardíaca, em bpm em batimento por 15s, e do consumo máximo de oxigênio,
ml.kg/minuto, de acordo à faixa escolhida para o treinamento. Por exemplo, com
indivíduo de 50 anos, com orientação para realizar exercício na faixa aproxima-
da de 60% do consumo máximo de oxigênio ou 72% da freqüência cardíaca
máxima, encontra-se valores de 128bpm ou 32 batimentos/15s
V02 Máx.
%
FC Máx.
Idade %
30 40 50 60 70 80 90 100
51 58 64 72 79 86 92 100
20
30
40
50
60
70
104 116 128 144 160 172 184 200
26 29 32 36 40 43 46 50
100 112 124 140 152 164 176 192
25 28 31 35 38 41 44 48
96 108 120 132 148 159 168 185
24 27 30 33 37 40 42 46
92 104 116 128 140 152 164 176
23 26 29 32 35 38 41 44
88 100 112 124 136 148 160 172
22 25 28 31 34 37 40 43
84 96 104 116 128 140 148 164
21 24 26 29 32 35 37 41
Modificado por Fox
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
281
AderênciaaoprogramadeRCV -Comasfacilidades
proporcionadaspeloavançodatecnologiaeaconseqüente
diminuiçãodoesforçofísico,avidasedentáriapassouaser
sinônimodequalidadedevida,transformando-senumgran-
de obstáculo, para início e manutenção das pessoas na ati-
vidadefísicaregular.
Pelaexperiênciaadquiridanacoordenaçãodecondici-
onamentofísicoemmaisdeduasdécadasnaRCVpermite-
se apontar a aderência como a principal razão do sucesso
ou insucesso da atividade física. Os três fatores básicos
responsáveis pela aderência no programa são: confiabili-
dade,competênciaeimpatiadoclientecomaequipemulti-
profissional.
Reabilitaçãocardiovascularfasecrônicana
cardiopatiaisquêmica
Osníveisestabelecidosdeexercíciosnãodemandam
grande intensidade, sendo que um gasto energético equi-
valente a 2000 KCAL/ semana, divididos em três ou cinco
dias,jáproduziráosefeitosdesejados,desdequemantidos
por tempo prolongado9,82-84
. Quando a doença coronária é
abordada, admite-se que os mecanismos desencadeados
pela RCV que promovem a prevenção da doença, podem
ser:a)aumentodaofertadeoxigênioaomiocárdio,principal-
mente às custas da elevação do fluxo de perfusão miocár-
dica, da redução da agregação das plaquetas, do aumento
dafibrinóliseedareduçãodaadiposidade;b)menorconsu-
modeoxigêniomiocárdicoematividadessubmáximasatra-
vés da redução da FC, PAS e dos níveis de catecolaminas,
comaumentodolimiardeisquemiaeangina;c)reduçãoda
pós-cargaefatores,quepossibilitamamelhoradafunçãodo
miocárdio,comoosaumentosdacontratilidademiocárdica
edaFEnoexercícioeemrepouso;d)maiorestabilidadeelé-
trica do miocárdio devida à redução das catecolaminas em
repouso e em exercícios submáximos, aumento do tônus
vagalquefavoreceumamelhormodulaçãoautonômicado
coraçãoeaumentodolimiardefibrilaçãoventricular.Oobje-
tivomaiordosprogramasdeRCVnaDACépermitiroretor-
nomaisbreveàvidaprodutivaeativapelomaiorperíodode
tempopossível,adespeitodepossíveislimitaçõesimpostas
pelo seu processo patológico. Visualizam-se ainda outros
objetivosnaRCV,como:a)alongoprazo,estabilizaroure-
verteroprocessoaterosclerótico;b)reduziramorbi-morta-
lidadecardiovascular,melhorarasintomatologiadeangina
de peito e as manifestações clínicas de disfunção ventri-
cularesquerda;c)estimularareadaptaçãosocial,reduzindo
oueliminandoaansiedadeedepressãoquepodemacompa-
nhar os pacientes após um evento coronário; d) educar o
paciente sobre sua doença, discutindo sobre as possíveis
intercorrências e demonstrando-lhe a probabilidade da in-
terferência favorável dessas medidas preventivas na sua
evolução;aRCVnacardiopatiaisquêmicaéclassicamente
divididaemquatrofases:faseI-compreendeaRCVdurante
a fase aguda do evento cardíaco, no período de internação
hospitalar;fase II - constitui-se na fase de convalescência,
emambientedomiciliar,atéqueascondiçõesclínicaspermi-
tamarealizaçãodoTEemprotocoloshabituais,queocorre
entre a 6ª e 8ª semana (fases já abordadas no Consenso Na-
cional do Infarto do Miocárdio)82
; fase III - compreende a
denominadareabilitaçãoemfasecrônica,apartirdo3ºmês
pós evento, que objetiva alcançar e manter os efeitos fisio-
lógicos da RCV e com graus variáveis de supervisão, até
quesurjamascondiçõesparaaintegraçãodospacientesem
grupos de reabilitação não supervisionados (fase IV). O
processo de inclusão e a sua classificação em classes A,
B,CeDjáestãoexpressosnoítem“Indicações,benefícios,
riscos,contra-indicaçõeseemergência”.
Tabela XIII - Freqüência cardíaca de treinamento e as variáveis clínicas
Variável Conduta
1. Angina de peito a) liberação em FCT, abaixo do limiar de angina se
necessário, com nitrato sublingual (temporário);
b) reteste com nitrato sublingual para avaliação da
FCT, abaixo do limiar de angina.
2. Duplo produto -2 <280 libera-se
3. Pressão arterial
diastólica <105mmHg libera-se
4. Pressão arterial
sistólica <200mmHg libera-se
Tabela XIV - Variáveis eletrocardiográficas e a freqüência cardíaca de treinamento (FCT)
Desnível ST Valor(mm) Derivações Conduta
1. Infra < - 2,0 CM5 Libera-se
2. Infra > - 2,0 CM5 Com nitrato sublingual quando atingir o equilíbrio (1) ou (3)
3. Infra > - 2,0 CM5 Reteste com nitrato sublingual, para determinação FCT = ST < - 2,0mm
4. Supra > + 1,0 V1
, V2
, V3
Sem IM prévio, avaliação minuciosa (lesão subepicárdica
5. Supra > + 1,0 V1
, V2
, V3
Com IM prévio, libera-se
6. Supra > + 1,0 V1
, V2
, V3,
CM5 Com IM prévio, avaliação minuciosa (aneurisma ventricular)
7. Onda U Negativa Qualquer derivação Avaliação minuciosa (isquemia de parede anterior)
8. Arritmia não controlada Controle medicamentoso prévio
Confiabilidade
Competência Aderência
Empatia
w
282
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
Os subgrupos de coronariopatas submetidos à revas-
cularizaçãomiocárdica,angioplastiatransluminalcoronária
e outros procedimentos intervencionistas vêm sendo pro-
gressivamenteincorporadosaosprogramasformaisderea-
bilitaçãocardíaca,apresentandoosmesmosbenefíciosfisi-
ológicos.Dopontodevistaprático,algumasparticularida-
des devem ser ressaltadas nestas situações específicas.
Nospacientesrevascularizadosdeve-seadequarosexercí-
cios,emfaseinicial,àscondiçõesdacicatrizaçãocirúrgica
dotóraxedosmembrosinferiores.Modificaçõessignifica-
tivasnocomportamentofisiológicoouclínicoaoexercício
físico, como por exemplo, sinais eletrocardiográficos de
isquemiaouprecordialgiaemníveldeesforçopreviamente
tolerado, devem ser prontamente reavaliadas. A aderência
ao programa de atividade física, no paciente pós-angio-
plastia coronária, não parece mudar a incidência de reeste-
nose, mas possibilita avaliações médicas mais freqüentes
comacompanhamentodasrespostasfisiológicaseclínicas
(monitorizadas)duranteoexercíciofísico,permitindo rápi-
da e objetiva identificação da eventual presença de reeste-
nose. Estes dois subgrupos, quando bem sucedidos em
seusprocedimentosesepossuidoresdeTEsemevidências
deisquemiamiocárdicaeecocardiogramanormal,podemser
liberadosapóstrêsa12mesesparaexercícionãosupervisi-
onado 21
. Embora, no passado, houvesse contra-indicação
formalaoexercíciofísicoparapacientescominfartoprévio
do miocárdio e disfunção ventricular esquerda, desde que
criteriosamenteselecionados,podemevidenciarbenefícios
fisiológicossignificativos,notadamenteaoníveldeadaptação
vascularperiféricaedamusculaturaesquelética,dessespacientes.
ReavaliaçãodosprogramasdeRCVnacardiopatia
isquêmica -AospacientesdogrupoB,sugerem-secontro-
le clínico com realização de TE e avaliação laboratorial, a
princípiono6ºmêsdoprogramaeaseguiracada12meses.
Naeventualmodificaçãodoquadroclínico,aqualquermo-
mento. Aos pertencentes ao grupo C, indica-se acompa-
nhamento com supervisão médica constante, sendo os TE
programadosacadatrêsouseismesesnoseuinícioeseisa
12mesesnaseqüênciadoprograma.Estasavaliaçõesperi-
ódicas objetivam, fundamentalmente, acompanhar estado
evolutivo da doença de base e os resultados dos procedi-
mentosterapêuticosedaRCV.
Atividadeesportivaparaocoronariopatacrônicoes-
tável - Adecisãosobrealiberaçãoparaaatividadedespor-
tivaemníveldeFCTnaDACébaseadanaavaliaçãoclínica
e exames complementares, objetivando-se a estratificação
do risco. Assim, segundo a classificação pelos níveis de
risco (ítem “Indicações, benefícios, riscos, contra-indica-
çõeseemergência”),sãoliberadosparaapráticadeativida-
de esportiva apenas os pacientes que se enquadrem na
classeA,ouseja,pacientesdebaixorisco,comfunçãoven-
tricular em repouso conservada, sem isquemia ou arritmia
ventricular complexa no TE e capacidade física>25ml.kg/
min.paraaidadeatéde50anos,>21ml.kg/min.entre50e65
anos,>17,5ml.kg/min.paraindivíduos>65anos.Ospacien-
tes com doença coronária em práticas desportivas necessi-
tam ser reavaliados de seis a 12 meses ou, a qualquer mo-
mento, em caso de necessidade clínica.
Reabilitaçãocardiovascularnahipertensão
arterialsistêmica
Ainda não se conhecem todos os mecanismos que
participam da gênese e manutenção da PA elevada na HA
primária. A fisiopatologia envolve duas variáveis básicas:
fluxosangüíneosistêmicototal(DC)eresistênciaoferecida
pelos vasos sangüíneos periféricos (resistência vascular
periférica)85,86
.AindagaçãosobreoefeitoredutornaPAde
indivíduosnormotensose,principalmentehipertensos,pela
atividade física, tem motivado trabalhos científicos há três
décadas 86-88
. Na maioria dos achados demonstrou-se tal
objetivo, apesar das diferenças metodológicas quanto ao
grau, tipo e duração dos exercícios. A redução da PAD em
repouso, após treinamento, foi a variável mais freqüen-
temente procurada. Este efeito, desde que observada a ati-
vidade física recomendada, oscilou em torno de 10mmHg,
ocorrendotambémemportadoresdehipertensãosecundá-
ria.OIIConsensoBrasileiroparaoTratamentodaHiperten-
são Arterial, em 1994 88
das Sociedades Brasileiras de
Cardiologia, Hipertensão e Nefrologia, considerou que os
programasdeatividadefísicadevemserestimuladoscomo
tratamento não farmacológico ou coadjuvante da HA. Nas
recomendaçõesdaliteraturasobreaprescriçãodeexercíci-
os 89-94)
, existe consenso de que a atividade física em indi-
víduoscomHAdevesermoderadaecomcomponenteisotô-
nicopredominante.Ocomponenteisométricodepequenamag-
nitude,apenas,onecessárionacomplementaçãodoesforço.
Nas referências bibliográficas predominam os dados
que evidenciam a possibilidade de tratamento da HA leve
(PADentre90e105mmHg),associando-seosexercícioscom
mudanças nos hábitos higieno-dietéticos.
Os aspectos peculiares na prescrição de exercício, na
HAsão:1)exercíciosregulares,predominantementeisotô-
nicos,commobilizaçãorítmicadegrandesmassasmuscula-
res, como a marcha e corrida (pacientes mais condiciona-
dos). Estimular a prática moderada de outras atividades,
comoociclismoeanatação;2)aliberação,semmedicação
prévia,somenteparaospacientesqueapresentemníveisde
PAD entre 90 a 105mmHg e sem lesão em órgão alvo; 3) é
aconselhadoaopacientecomPAD>110mmHg,submeter-
se a condicionamento físico e concomitante a tratamento
farmacológico e sob supervisão médica; 4) o nível da PAS
serámantida,preferencialmente,<200mmHg,duranteaati-
vidadefísica;5)oníveldeduploproduto(PASemmmHgx
FCbpmx10-2
deverá ser<280;6)manutençãodopaciente,
assintomático durante o treinamento físico.
Reabilitaçãocardiovascularempacientes
especiais na fase crônica da sua evolução
Insuficiênciacardíacacongestiva95-101
-Característi-
cas desejáveis do protocolo dos programas de treinamento
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
283
em portadores de insuficiência cardíaca congestiva (ICC):
prescrição individualizada calculada com base no teste
ergométricoconvencionale,seviável,naergoespirometria;
avaliação das arritmias pela eletrocardiografia dinâmica;
programas com supervisão direta monitorização dos paci-
entes de alto risco; intensidade de exercício prescrita entre
30a50%doVO2
maxou51a60%daFCmáximaatingida;
freqüênciadetrêsacincovezessessõesporsemana;inclu-
são de treinamento isométrico de pequena magnitude nos
indivíduos normotensos; períodos de aquecimento e
desaquecimentomaisprolongados;reavaliaçõesiniciaisem
intervalosdetrêsaseismesesedeseisa12mesesnoacom-
panhamento evolutivo. Efeitos do treinamento físico nos
portadores de ICC: melhora progressiva da tolerância ao
esforço; aumento do limiar anaeróbio; redução dos níveis
delactatovenosoemesforçosubmáximo;reduçãodaFCem
repouso e esforço submáximo; ausência de modificações
expressivas nas medidas de fluxo sangüíneo, resistência
vascular,diferençaarteriovenosadeO2
,FE,volumeseanor-
malidadesdemovimentaçãodeparedesdoVE;aumentoda
capacidadeoxidativadamusculaturaesquelética.
Reabilitação cardíaca nas cardiopatias congêni-
tas 95,96,100-102
- As respostas ao exercício físico nas cardio-
patias congênitas dependem da fisiopatologia. A correta
prescrição do programa de reabilitação implica em indivi-
dualizaçãodetodasasmanifestaçõesdacardiopatiacongê-
nita, como cianose, hipertensão pulmonar, obstruções ao
fluxo e comunicações intercavitárias. Nos casos submeti-
dosatratamentocirúrgicoe/ouintervencionistainvasivo,a
atençãodeveestarvoltadaparaasanormalidadesremanes-
centes.Cardiopatias congênitas mais comuns: a) comu-
nicação interatrial na ausência de hipertensão pulmonar,
arritmias associadas, disfunção ventricular e redução de
capacidade funcional: não há restrição a qualquer tipo de
atividade física. Em caso de correção intervencionista ou
cirúrgicaaguardarseismeses,comportando-se,apóscomo
nosindivíduosnormais.Ocorrendoanormalidadesresidu-
ais tornam-se necessárias avaliação e conduta individuali-
zadas,comoporexemplo,noscasosdehipertensãopulmo-
nar e disfunção ventricular; b) comunicação interven-
tricular (CIV)-osportadoresdeCIVpequenacomcoração
detamanhonormalepressãonormalnaartériapulmonar:li-
beraçãoparaqualqueratividadefísica.NaCIVmoderadaou
grande com PA pulmonar normal, os dados decisivos refe-
rem-se à intensidade doshunt e à resistência vascular pul-
monar.SeaPApulmonarsistólicafor<40mmHgliberarpara
qualqueratividade,semaiorrequerprescriçãoindividuali-
zada.ApósacorreçãocirúrgicadaCIV,aguardarseismeses
paraoiníciodeatividadefísicanãosupervisionada,deacor-
do com a repercussão dos achados residuais; c)canal arte-
rial pérvio são válidos os critérios aplicados para CIV em
relação à presença ou ausência de repercussão hemodi-
nâmicaetratamentocorretivo;d)estenosepulmonarvalvar
a condição pré e pós-cirurgia, na presença de gradiente
sistólicodepico<50mmHgesemsintomasnãorepresenta
restrição,enquantoquegradientes>50mmHgtêmsomente
possibilidade para realização de atividades específicas se-
gundo a conferência de Bethesda 103
; e) estenose aórtica
valvar a presença de sintomas relacionados com o exercí-
cio(fadiga,tonturas,síncope,dortorácicaepalidez)associ-
am-secomfreqüênciaàmortesúbita.EAdegrauleve,gra-
diente em repouso <20mmHg, assintomática, com
eletrocardiograma(ECG)normalemrepousoeemexercício,
ausênciadehipertrofiaventricularedearritmiascomplexas,
semrestrição.NaEAdegraumoderado,gradienteentre20e
50mmHg, ECG e TE normal, ausência de hipertrofia
ventricularedesintomas,ficampermitidasasatividadesde
intensidade leve ou até mesmo moderada, dependendo do
caso. No entanto, as lesões graves contra-indicam formal-
mentearealizaçãodeatividadefísica.Apóscirurgiacorreti-
vaouvalvuloplastiaporbalão,aplicam-seosmesmoscrité-
rios para eventuais alterações residuais; f)coarctação da
aortaquandodegrauleve,semgrandesvasoscolateraisou
dilatação severa do arco aórtico, TE normal e gradiente
sistólicodaPAentrebraçoeperna,emrepouso,<20mmHg
epressãodepicodeesforço<220mmHg,prescriçãodoexer-
cício:semrestrições,nacondiçãodogradienteentreobraço
e perna >20mmHg ou a pressão no pico do esforço
>220mmHg, liberação apenas para atividades de baixa in-
tensidade. Após correção aplicam-se as orientações prévi-
as,comliberaçãoapósseismesesparaatividadescompeti-
tivas, exceto levantamento de pesos; g) cardiopatias con-
gênitas cianóticas nas fases pré e pós cirurgia paliativa a
prescriçãodeatividadedebaixacargaépermitidaquandoa
saturação de O2
arterial persiste >80%, na ausência de
arritmiascomplexasesintomasdedisfunçãoventricular;h)
tetralogia de Fallot após a correção cirúrgica na presença
de anormalidades residuais, como: na presença deshunt de
direita para esquerda, regurgitação pulmonar moderada a
grave ou disfunção do ventrículo direito (VD) e história de
síncopeouarritmiaventricular;exercícioestáproscrito,pelo
altoriscodemortesúbita.Aatividadefísicapoderáserper-
mitida nos casos com bom resultado cirúrgico e pressões
normais em câmaras direitas, leve sobrecarga volumétrica
doVD,TEnormaleausênciadearritmiasaoHolter.Reco-
menda-seatividadefísicadebaixaintensidadenapresença
deregurgitaçãopulmonarimportante,hipertensãosistólica
de pico>50%dapressãosistêmicanoVDearritmiascom-
plexas; i)transposição corrigida dos grandes vasosavali-
açõesperiódicassãofundamentaisparaoacompanhamen-
todafunçãoventriculardireita(ventrículosistêmico),even-
tual presença de regurgitação tricúspide (válvula AV
sistêmica)ouarritmia.Apósseismesesdacorreçãocirúrgi-
ca,semalteraçõesresiduais,épossívelliberaçãodaativida-
de física, evitando-se exercícios que envolvam grande
componenteestático;j)anomaliadeEbsteinnainsuficiência
tricúspidedegrauleve,naausênciadecianoseedearritmias,
comcoraçãodetamanhonormal,libera-seaatividadefísica.
Nainsuficiênciavalvardegraumoderadoépermitidaaati-
vidadedebaixaintensidade,sendoproibidanalesãograve.
Apósacorreçãocirúrgicaaatividadefísicaédependentedo
grauderegurgitaçãotricúspideedotamanhodocoração;l)
síndromedeMarfan-osindivíduossemhistóriafamiliarde
284
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
morte súbita, sem evidências de dilatação do arco aórtico e
regurgitaçãomitral,podemteratividadefísicacomenvolvi-
mentodeexercíciodebaixoamoderadocomponenteestáti-
co.Ocorrendodilataçãodoarcoaórtico,somenteépermiti-
daatividadedebaixaintensidade,semcontatocorporal;m)
anomalias coronárias congênitas - a origem anômala da
artéria coronária esquerda, saindo do tronco da artéria pul-
monar e da artéria coronária direita, iniciando-se no seio
coronário esquerdo, assim como as artérias hipoplásicas,
constituem-se em contra-indicação à pratica de qualquer
atividadefísica.Apósacorreçãocirúrgica,aatividadefica
dependente da ausência de isquemia no TE.
Reabilitaçãocardíacanascardiopatiasvalvulares
adquiridas95,96,100,101,104,105
- Estenosemitral(EM)- Osindi-
víduos em ritmo sinusal e EM leve podem realizar ativida-
desfísicassemrestrições.NapresençadeEMleveassocia-
da à fibrilação atrial, de EM moderada com ritmo sinusal e
EMcomPApulmonardepico<50mmHgestãoliberadasas
atividadesfísicasdebaixaamoderadaintensidadeestática
e dinâmica. Indivíduos com EM moderada associada à
fibrilaçãoatrialouritmosinusalalémdePApulmonardepico
de50a80mmHg,devemestarlimitadosàsatividadesdebai-
xaamoderadaintensidadeestática,baixaintensidadedinâ-
mica. O portador de EM grave, tanto ritmo sinusal quanto
em fibrilação atrial ou naqueles com PA pulmonar >80
mmHg,devemestarrestriçãoabsoluta.Ressalta-seaneces-
sidade de evitar atividades de contato corporal direto, em
pacientes em uso de anticoagulante.
Insuficiência mitral (IM) -Os portadores de IM com
ritmosinusaleVEdetamanhoefunçãonormais,emrepou-
soeemexercício:estãoliberadosparatodasatividadesfísi-
cas. Na presença de ritmo sinusal ou fibrilação atrial com
aumentolevedoVEefunçãoventricularnormal,recomen-
dam-seatividadesdeintensidadebaixaamoderada,estática
edinâmica.OspacientescomIMcomdisfunçãodoVEem
repousotêmproibiçãoparaexercíciosfísicos.
Estenose aórtica-Valvulopatiadeevoluçãoprogres-
siva necessitando de freqüentes reavaliações. Os portado-
res de EA de grau leve (gradiente <30mmHg pelo eco-
dopplercardiograma) e assintomáticos são liberados para
qualqueratividadefísica.Entretanto,ahistóriadesíncope,
mesmocomEAleve,impõeumaavaliaçãocuidadosa,com
ênfasenasarritmiasinduzidaspeloesforço.Pacientescom
estenose leve sintomática, exceto síncope, ou moderada
podem realizar atividades físicas de baixo nível de intensi-
dadeestáticaedinâmicasempreorientadaspeloTE.Napre-
sençadeEAgraveouEAmoderadasintomáticaficamcon-
tra-indicadas as atividades físicas.
Insuficiência aórtica (IA) - A IA leve ou moderada
comVEnormaloulevementeaumentadopermitealibera-
ção do paciente após avaliação clínica, ecocardiográfica e
eletrocardiografiadeesforço.NaIAcomaumentomodera-
do do VE podem ser realizados para atividades físicas de
baixoemoderadodecomponenteestático,comliberaçãode
exercíciospredominantementedinâmicos.Ospacientesque
apresentam aumento progressivo do tamanho do VE, em
avaliaçõesseriadaspeloecocardiograma,devemterrestri-
çõesnaatividadefísica.Osindivíduoscomdiagnósticoclí-
nico e ecocardiográfico de IA leve a moderada e arritmias
ventricularesemrepousoouesforçodevemexercitar-seape-
nasematividadefísicadebaixoníveldinâmico.AIAdedife-
rentes graus variados associada à acentuada dilatação da
aorta ascendente tornam proibitivas as atividades físicas.
Insuficiênciatricúspide-Desdequeosníveisdapres-
sãoemátriodireitoestejam<20mmHg;comtamanhoePAS
doVDnormais,ficamliberadosospacientesparaasativida-
des físicas.
Prolapso da válvula mitral -Os pacientes com pro-
lapsodevalvamitralehistóriafamiliardemortesúbitaasso-
ciada à síncope por arritmia, formas repetitivas de taqui-
cardiassupraventriculares,arritmiasventricularescomple-
xas,IMmoderadaousevera,episódioembólicoprévio,po-
derãoserliberadosparaasatividadesfísicasdebaixainten-
sidade. Nas alterações hemodinâmicas relacionadas à IM,
aplicam-se os critérios específicos já apresentados para os
diferentes graus da IM.
Reabilitaçãocardíacapóstransplantecardíaco-Os
pacientes em pós-operatório de transplante cardíaco têm
característicaspeculiaresmarcantes,relacionadasaalguns
fatores da doença de base, ao nível prévio de capacidade
funcional, e ao uso de medicação imunossupressora, espe-
cialmente os corticosteróides. A resposta ao exercício de-
pendente destes fatores será bastante diversa das encon-
tradas em indivíduos normais e outras doenças cardíacas.
Quando a cardiopatia de base é de etiologia isquêmica,
podepermanecerumacapacidadeaeróbiamelhordoqueos
transplantados por cardiomiopatia, pois o intervalo entre o
início da doença e o transplante cardíaco é geralmente me-
nor. As repostas ao exercício do coração transplantado so-
fremaindainfluências,como:a)tempodecorridoentreare-
tirada do órgão e o implante no doador (isquemia e reper-
fusão); b) desproporção entre o tamanho do coração doa-
dor e superfície corporal do receptor, resultando em eleva-
ção de pressão sobre o coração; c) necrose dos miócitos
comoresultadodosepisódiosderejeiçãoaguda;d)doença
obstrutivaarterialcoronária;e)denervaçãodocoraçãodo-
ador quer reduzindo a função cardíaca em repouso ou em
esforço. As principais respostas cardiorrespiratórias e me-
tabólicas evidenciadas em repouso e exercício, após o
transplante cardíaco referem-se: FC de repouso elevada;
retardo na elevação da FC em fases iniciais de exercício;
menor FC no pico do exercício; retardo na recuperação da
FCapósoexercício;FEdiminuídadosVDeVE,emrepouso
eexercício;DCdiminuídoemexercício;diferençaarterio-
venosadeoxigênioaumentadaemexercício;consumomáxi-
modeoxigêniodiminuído;cinéticadoconsumomáximode
oxigênioalteradaduranteoexercício;volumesistólicodimi-
nuídonoexercício;limiaranaeróbioreduzido;elevaçãodo
lactato sangüíneo no repouso e em exercício; equivalentes
ventilatóriosdeoxigênioegáscarbônicoelevadosnoexercí-
cio;PADfinaldoVEelevadanoexercício;pressõesdeátrio
Arq Bras Cardiol
volume 69, (nº 4), 1997
I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular
285
direito e capilar pulmonar elevadas no exercício; volume
sistólicoediastólicofinaisdoVEaumentadosnoexercício.
As principais respostas ao programa de RCV no pós
transplante cardíaco são: redução da FC de repouso e de
exercíciosubmáximo;aumentodaFCdeexercíciomáximo;
aumentodoconsumomáximodeoxigênio;aumentodolimi-
ar anaeróbio; aumento da ventilação máxima; redução dos
equivalentes ventilatórios de oxigênio e gás carbônico no
exercíciosubmáximo;retardonaelevaçãodolactatoduran-
teoexercício;diminuiçãodosníveissistólicosediastólicos
da PA no repouso e no exercício submáximo; aumento da
PASereduçãodaPADnoexercíciomáximo;assimcomoos
benefícios potenciais de melhora da tolerância ao esforço,
da composição corporal, do perfil lipídico e da vida
psicossocial.
Reabilitação cardíaca em portadores de marca-
passo95,96,100,101,106
-Aterapêuticapelacardioestimulaçãoar-
tificialporimplantedemarcapassosobjetivaprocurarame-
lhor resposta da FC adequando às necessidades fisiológi-
cas no repouso e no exercício. O TE é a metodologia de es-
colha para se determinar a FC de treinamento, através da
ergoespirometria,adeterminaçãodolimiaranaeróbio,quese
torna imprescindível quando o marcapasso é de FC fixa.
Quando não se dispõe da medida direta de gases respirató-
rios,adeterminaçãodoníveldotreinamentopodeserobti-
do pelo nível de pressão arterial sistólica de treinamento
(PAST),queéderivadadefórmuladeKarvonen75
: PAST=
(PASmáx-PASderepouso)x(0,6a0,8)+PASderepouso.
Reabilitaçãocardiovascularempacientes
comassociaçõesclínicasquenecessitamde
cuidadosespeciais
Reabilitaçãocardíacaegravidez -Asmodificações
queocorremnoaparelhocardiovascularnagravidezdesti-
nam-seaprovermaioraportedeoxigênioealimentos,com-
pensando assim, a demanda aumentada nessa situação. As
principais modificações incluem um aumento do DC e do
volume circulante já nas primeiras semanas e que atinge o
seu pico ao redor do 2º trimestre. Este aumento, em ambos
osíndices,édaordemde40a50%.Àmulhernormalépermi-
tido exercer suas atividades habituais, sendo que no mo-
mentoatualéamplamenteaceitaapráticadeexercíciosfísi-
cos regulares dentro do seu nível de equilíbrio como útil
paraapreparaçãodopartoeparaevitarareduçãodacapaci-
dadefuncionalduranteagravidez.Entretanto,asmodifica-
çõesfisiológicosqueocorremnestacondiçãoequelevama
umaumentosignificativodotrabalhocardíacoemrepouso,
impedemqueseprescrevaexercíciosregularesdeumafor-
ma geral às cardiopatas grávidas.
Reabilitaçãocardiovascularediabetesmellitus-A
prescriçãodeexercíciosprogramadosnodiabéticomelhora
oseudesempenhofrenteaoesforço,assimcomoometabo-
lismo da glicose e a sensibilidade à insulina. A presença de
complicaçõesclínicascomomicroangiopatias,neuropatia
periférica,retinopatia,doençacoronária,insuficiênciarenal
edisfunçãodosistemanervosoautônomoafetademaneira
direta a resposta ao exercício, podendo se exteriorizar por
taquicardia de repouso, alterações posturais da PAe isque-
miasilenciosadomiocárdio.Amaiorincidênciadedoença
aterosclerótica nos diabéticos pode também interferir na
evoluçãonosprogramasdereabilitação,comatençãoespe-
cial pela associação freqüente com doença arterial ateros-
cleróticacoronáriaecerebral.
Diabetes insulino dependente ou tipo I- O esquema
terapêuticodemúltiplasdosesdeinsulina,baseadonoajus-
tedeingestãocalóricaeníveisdeglicemia,temsemostrado
efetivoparaocontroleglicêmico.Entretanto,fatorescomo
temperaturacorpóreaefluxosangüíneodamusculaturaem
exercíciopodemalteraraabsorçãodeinsulina,recomendan-
do-se, por isto, a região abdominal como local preferido
paraadministração.Quadrosdehipoglicemiaaté12hapóso
treinamento,incluindohipoglicemianoturna,podemocorrer
em função do exercício. As seguintes recomendações de-
vem ser feitas a este grupo de pacientes: dosar mais fre-
qüentementeaglicemianoiníciodoprograma,ingerircar-
boidratosanteseduranteexercíciosmaisprolongados,evi-
tar a prática de exercícios desacompanhados ou em horári-
osdepicodeatividadeinsulínica,alémdeaprenderareco-
nhecer sinais e sintomas de hipoglicemia. Na presença de
neuropatiaperiféricaealteraçõesdasensibilidade,precau-
ções especiais devem ser levadas em consideração, com
adequada proteção e higiene dos pés, pela possibilidade de
traumatismo e posterior infecção de membros inferiores.
Nos portadores de neuropatia autonômica insuficiência
cronotrópica,aprescriçãodosexercíciosbaseadanaFCpode
serinadequada.Aavaliaçãoergoespirométricacomdetermi-
naçãodiretadoVO2
max,éasoluçãoparadeterminaraFCT.
Diabetes tipo II ou não insulino dependente - Estes
pacientesapresentamusualmentemenorcapacidadefuncio-
nal que as populações não diabéticas. A RCV influi neste
gruponareduçãodosníveisdeglicemiaemjejumepodeatu-
ar como coadjuvante de tratamento de eventual obesidade.
Ajustes de hipoglicemiantes orais são necessários frente a
modificaçõesdosníveisglicêmicosemfunçãodoexercício,
observando-searecomendaçãoclínicaquantoàingestãode
carboidratos antes do treinamento. Quando há utilização
complementardeinsulina,deve-seseguirasmesmasorienta-
ções sugeridas aos diabéticos insulino dependentes.
Reabilitaçãocardíacaedoençapulmonar-Areabilita-
çãodopneumopatacrônicojáestápreconizadaesistemati-
zadaemnossomeioeobjetivamelhoraraqualidadedevida,
especialmente de portadores de enfisema pulmonar, bron-
quite crônica e asma perene, a despeito de doentes com ou-
trascondiçõesclínicastambémdelapoderemsebeneficiar107
.
Osindivíduoscomgraumoderadodeacometimentosãoos
queapresentammelhoramaisacentuada.Entretanto,aexis-
tência de doença cardíaca concomitante é um complicador
paraasuarealização.Poroutrolado,seusprincípiosnãopo-
dem ser esquecidos quando um cardiopata que necessita
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I consenso nacional de reabilitação cardiovascular

  • 1. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 267 I CONSENSO NACIONAL DE REABILITAÇÃOCARDIOVASCULAR (FaseCrônica) Departamento de Ergometria e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia InMemoriam AgradecemosaoDr.LuizCarlosPassaro,excelente profissional, companheiro e amigo, pela inestimável contribuiçãoa este I ConsensodeReabilitaçãoCardiovascular. UmgrandehomemquetevedestacadapresençaemnossoDeparta- mento,ondeeraatuante,empreendedor,criadorepossuidorde umagrandecapacidadedeagregaçãoentreseuspares. Asuaperda,certamente,provocoualémdetristeza,umenormevazio, difícildepreencher,edeixouumprofundosentimentodesaudade. Editor:MiltonGodoy Correspondência: MiltonGodoy-FITCOR-RuaPedrodeToledo,108-15º-04039-000-SãoPaulo,SP Editoresassociados: ÁlvaroJoséBellini LuizCarlosPassaro LuizEduardoMastrocolla Editoresassistentes: AntonioSilveiraSbissa ClaudioGilSoaresdeAraujo FábioSândolideBrito FernandoCarmeloTorres FernandoDrumondTeixeira JapyAngeliniOliveiraFº JorgeIlhaGuimarães JoséAlbertoAguilarCortez PauloYazbekJr ReginaFátimaTavaresdeSantana RicardoVivacquaC.Costa RomeuSergioMeneghelo JoséAntonioCaldasTeixeira JoseRobertoJardim LinamaraRizzoBatistella Livia Maria dos Santos Sabbag LuizianeAnacletoSbissa MarceloRegazzini MarcosFabioLion MariaAugustaP.Dall’MollinKiss Mauricio Wajngarten NabilGhorayeb RicaDodoD.Buchler RobertoFranken RobertoGuimarãesAlfieri SalvadorSebastiaoRamos SalvadorSerra SérgioCoimbradeSouza TallesdeCarvalho Wagner Cardoso de Padua Fº XiomaraMirandaSalvetti Conselhoeditorial: Co-relatores e Debatedores Co-relatoresedebatedores: Alberto Nacaratto AlmirSérgioFerraz AnaFátimaSalles AnaMariaW. Braga AngelaRúbiaC.N.Fuchs AntonioCarlosdaSilva BelmarFerreiradeAndrade CarlosAlbertoCyrilloSellera Carlos Magalhães Cilene Abreu Cardoso Costa GilsonTanakaShinzato HeloisaB.deF.RezendeBarbosa HorácioArakaki Januario de Andrade João Alberto Mantovanini Arquivos Brasileiros de Cardiologia Outubro de 1997 - Volume 69 - Número 4
  • 2. 268 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 Embora haja relatos de atividade física em medicina desde o século XIX, a reabilitação cardiovascular é ainda umprocedimentojovem,nascidodaCardiologia. Ao aceitar a honrosa indicação para Editor, feita pela Diretoria e Comissão Científica do Departamento de ErgometriaeReabilitaçãodaSBC,coube-me,juntoaoPresi- dente Dr. Álvaro José Bellini, a coordenação dos trabalhos realizadospeloseditoresassociadose ConselhoEditorialdo I ConsensoNacionaldeReabilitaçãoCardiovascularnafase crônica.OsrelativosàfaseagudajáforameditadospeloDr. IrandeCastronosArquivosBrasileirosdeCardiologia,1992. Foiapartirdadécadade60queocorreram,demaneira mais nítida e efetiva, mudanças substanciais de hábitos de vida e treinamento físico nos pacientes cardiopatas, que saíramdoimobilismoedaaposentadoriaprecoceparauma saudável retomada às atividades física, social e laborativa, através da recuperação do desempenho físico e autocon- fiança proporcionados pelos programas de reabilitação cardiovascular. Osestudosatuaispermitem-nosafirmarqueareabilita- Apresentação MiltonGodoy ção cardiovascular tem resultados significativos, tanto no prolongamento da sobrevida com qualidade, como na re- gressão da placa aterosclerótica do indivíduo com doença arterialcoronária(DAC). Gostaríamosdeagradeceraimportantecontribuiçãode todos os colegas que colaboraram na elaboração do I Con- sensoNacionaldeReabilitaçãoCardiovascular.E,demodo destacado, a participação de três colegas: Dr. Claudio Gil Soares de Araujo pela cessão de inúmeras informações atualizadas,Dr.LuizEduardoMastrocollapelas importan- tes e sempre brilhantes revisões e Dr. Luiz Carlos Passaro peladedicaçãodiuturnaque,juntos,contribuíramsobrema- neiraparaaelaboraçãodotextofinal. EsperamosqueesteConsenso,demonstrandoasegu- rançadoprocedimentoeosresultadosexpressivos,aumen- teaesperança,denossoDepartamento,deumaretomadano crescimentodosserviçosdereabilitaçãocardiovascular,em nosso meio. Para realização deste desafio é fundamental o apoio de todos os membros da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
  • 3. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 269 (na Fase Crônica da Evolução Clínica) I CONSENSO NACIONAL DE REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR • Histórico • Aspectosfundamentaisdafisiologiadoexercício • Aspectos básicos da estrutura músculo-esquelética, no treinamento físico • Indicações, contra-indicações, riscos e benefícios da reabilitação cardiovascular • Metodologia de treinamento • Prescriçãodeexercício • Reabilitaçãocardiovascularnafasecrônicadainsuficiênciacoronária • Reabilitaçãocardiovascularnahipertensãoarterialsistêmica • Reabilitação cardiovascular em pacientes especiais na fase crônica da sua evolução Insuficiênciacardíaca Cardiopatiacongênita Cardiopatiaadquirida Prolapsodavalvamitral Transplante cardíaco Portadores de marcapasso • Reabilitação cardiovascular em pacientes com associações clínicas que necessitam de cuidados especiais Reabilitaçãocardiovascularediabetesmellitus Reabilitaçãocardiovascularedoençapulmonar Reabilitaçãocardiovascularegravidez • Interação entre as terapêuticas pelo treinamento físico e medicamentosa • Aspectos legais e econômicos. Programas comunitários
  • 4. 270 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 ReabilitaçãoCardiovascular Definição -Areabilitaçãocardiovascular(RCV)pode ser conceituada como um ramo de atuação da cardiologia que,implementadaporequipedetrabalhomultiprofissional, permitearestituição,aoindivíduo,deumasatisfatóriacon- diçãoclínica,física,psicológicaelaborativa. Histórico - DesdeoséculoXIX,encontra-sereferên- ciadeatividadefísicaedoençacardiovascular1 .Períodode 1930/1950 - os primeiros trabalhos relacionando os efei- tos da atividade física sobre o sistema cardiovascular2 fo- ram relatados pouco antes da década de 30. Em 1939, Mallory e col 3 publicaram artigo no American Heart Journal,descrevendocomode3-4semanas,otempodeci- catrizaçãodoinfartoagudodomiocárdio(IAM).Apartirdo estudo anatomopatológico de 72 casos fundamentaram o critério teórico da necessidade de repouso após o evento, por 6-8 semanas. A evolução do IAM era considerada irreversível,comcomplicaçõestromboembólicasfreqüen- tes.Ospacienteseramorientadosaoafastamentoprolonga- do de sua atividade de trabalho e à aposentadoria precoce, provocandosentimentodeinvalidezcomimportantereflexo na vida familiar e social.Período de 1950/1960 -em1951, LevineeLown4 recomendaramamudançadopacientecom trombose coronária aguda, do leito para a cadeira, propici- andoumamobilizaçãointra-hospitalarmaisprecoce.Apartir da experiência adquirida em Centros de Reabilitação nos EstadosUnidosdaAmérica(EUA)enaEuropa,cria-sea1ª Work Classification Clinic 5 , em 1944, com o objetivo de orientarotrabalhadorcomproblemascardiovascularespara otipodeatividadelaborativaquepudesseserdesempenha- dacomsegurança.Essa1ªestimuloucriaçãodeuma2ªWork Classification Clinic em Cleveland (EUA), em 19506 , que demonstrou resultados expressivos, uma vez que 85-90% dos portadores de cardiopatia retornaram a uma série de ocupações. Foram então publicados vários estudos epidemiológicosrelacionandoaatividadefísicalaborativa com a diminuição da incidência do IAM 7,8 . Período de 1960/1977-em1966,Saltinecol9 mostraramqueaimobili- zaçãonoleitohospitalar,portrêssemanas,reduzidaacapa- cidade funcional em 20% a 30%, sendo necessárias nove semanas de treinamento físico para o retorno à capacidade física prévia ao evento. Métodos científicos foram criados para a prescrição de exercícios e surgiram numerosos pro- gramas supervisionados, a partir da constatação de que o paciente com insuficiência coronária poderia melhorar, de formasegura,acapacidadeaeróbia,afunçãocardiovascular eaqualidadedevida,quandosubmetidosàRCV.Emnosso meio, a Revista Hospital de 1968 10 , relatou a atividade do ServiçodeReabilitaçãoCardiovasculardoInstitutoEstadu- al de Cardiologia Aloysio de Castro (RJ). No ano de 1972 implantou-seaSeçãodeRCVdoInstitutoDantePazzanese deCardiologia,emSãoPaulo(SP)eosprimeirosresultados foram comunicados no XXIX Congresso Brasileiro de Cardiologia,emFortaleza,em197311 .Nessamesmaépoca, constituiu-seoprogramadetreinamentofísicodaIIClínica MédicadoHospitaldasClínicasdaFMUSP,emassociação comaEscoladeEducaçãoFísicadaUSP.Seusprimeirosre- sultadosforampublicadosnaRevistadoHospitaldasClíni- cas12 daFMUSP.Paralelamente,entreoutros,surgiramem 1972osserviçosprivadosdeRCVdoProcordisedaFitcor. Em 1976, foi realizado o I Simpósio Internacional de ErgometriaeReabilitação Cardiovascular,sobapresidência do Dr. Josef Fehér, Guarujá - SP. De maneira análoga a ou- trospaíses,surgiutambémemnossopaís,afebredoexercí- cio,objetivandoaobtençãoemanutençãodeumnívelideal de condicionamento físico, e de preservação da saúde. O Dr.KennethCooper,doCentroAeróbiodeDallas,Texas,foi um dos maiores responsáveis por este fenômeno, apontan- doasvantagensdosexercíciosaeróbios,dotipodemarcha ecorrida,noprimeirolivroAerobicspublicadoem1968.Pe- ríodo de 1977/1996 -o I Congresso Mundial de Reabilita- çãoCardíacafoirealizadoem1977,nacidadedeHamburgo, Alemanha.Aindanessemesmoano,foicriadooServiçode Reabilitação Cardíaca da Fundação Hospital de Santa Catarina13 .Em1981,Franciosaecol14 descreveramamodi- ficaçãopromovidapelaatividadefísica,ocorrida,predomi- nantemente,aonívelperiféricoepassaramaestimularotrei- namentofísicoempacientescominsuficiênciacardíacacrô- nica, objetivando-se a melhoria da classe funcional. Em 1982, criou-se nos EUA o Journal of Cardiopulmonary Rehabilitation,quetemsidoimportantenoaprimoramento científicodaRCV,porincorporaravaliaçãoclínicaepesqui- sa.Em1982,realizou-seoISimpósiodeErgometriaeReabi- litação Cardiovascular, presidido pelo Dr. Álvaro José Bellini,emSãoJosédoRioPreto(SP).Idealizadainicialmen- te para portadores de doença coronária, a RCV abrange a seguirospacientescomhipertensãoarterial(HAS),doença arterialperiférica,valvopatia,cardiopatiacongênita,parti- cularmentenasuafasepós-operatóriae,maisrecentemente, insuficiência cardíaca e transplante cardíaco. Desde os achadosiniciaisdadécadade60,cresceaevidênciadobai- xoriscodoexercício,quandosãoassociadoscomponentes isométricos de baixa intensidade, ao treinamento aeróbio supervisionado, no aumento da tolerância ao esforço em coronariopatas15 .Nestadécada,Ornishecol16 ,Schuller17-19 e col demonstraram que, ao lado da dieta, a RCV contribui naregressãodaplacaaterosclerótica.Oldridgeecol20 veri- ficaramemestudosrandomizadosareduçãodamortalidade cardíaca em 25% nos pacientes submetidos a RCV. Esses achados,aoladodobaixorisco21,22 ,poderãoampliaropapel terapêuticodesempenhadopeloexercício. Conceitosfundamentaisemfisiologiado exercício Ocorpohumanoapresenta-seemestadoderepousoe de exercício, sendo que na maior parte do tempo, a intensi- dadedoexercícioébaixaousimilaraorepouso,emborapo- dendochegaraníveisbastanteelevados.Emqualquerdes- tas situações, mecanismos fisiológicos são acionados e atuamnosentidodeminimizarasalteraçõesdomeiointer- no, preservando a homoestase 23 . Estes mecanismos fun- cionam,primariamente,naformadearcosreflexos,constituí-
  • 5. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 271 dos de receptores, vias aferentes, centros integradores, vias eferentes e efetores. Contudo, em muitas etapas, os meca- nismosaindanãoseencontramcompletamentecaracteriza- dos.Mesmoassim,oconhecimentoatualpermiteestabele- cer algumas bases importantes para o melhor aproveita- mentodoexercíciofísicocomoinstrumentodesaúde,parti- cularmente, na fase crônica da RCV. Para esses objetivos, torna-seimportanteaapresentaçãoeacaracterizaçãodeal- gunstermoseconceitos.Osefeitosfisiológicosdoexercício físico podem ser classificados em agudos imediatos, agu- dostardiosecrônicos.Osefeitosagudos,tambémdenomi- nados respostas, são aqueles que acontecem em associa- ção direta com a sessão de exercício e, os efeitos agudos imediatos,osqueocorremnosperíodosperepós-imediato doexercíciofísicoepodemserexemplificadospelosaumen- tos de freqüência cardíaca (FC), ventilação pulmonar e sudorese, habitualmente associados ao esforço. Por outro lado, os efeitos agudos tardios são observados ao longo dasprimeiras24hqueseseguemaumasessãodeexercício e podem ser identificados na discreta redução dos níveis tensionais, especialmente, nos hipertensos, e no aumento do número de receptores de insulina nas membranas das célulasmusculares.Porúltimo,osefeitoscrônicos,também denominados adaptações, são aqueles que resultam da ex- posição freqüente e regular às sessões de exercício, repre- sentandoosaspectosmorfo-funcionaisquediferenciamum indivíduo fisicamente treinado, de um outro sedentário. Dentre os achados mais comuns dos efeitos crônicos do exercíciofísicoestãoahipertrofiamusculareoaumentodo consumomáximodeoxigênio24 .Oexercíciofísicopodese apresentar de diferentes tipos, cada um deles acarretando efeitos diversos (tab. I). Tal classificação tem caráter didático, uma vez que se tornaimpossível,naprática,arealizaçãodeexercíciosestri- tamente estáticos ou dinâmicos ou, ainda, puramente ana- eróbioseaeróbios.Todaatividadefísicateminteraçãoentre os componentes com modificações, apenas na proporção relativa de cada um deles. Assim, quando se define como exercícioaeróbioumacaminhadade40min,subentende-se que as fases iniciais de curta duração de ajuste fisiológico natransiçãorepouso-exercício,quesãorealizadasparcial- mente às custas da produção anaeróbia de ATP, represen- tam muito pouco no processo fisiológico global e podem ser desconsideradas. Teoricamente, melhor seria definir estemesmoexercíciocomopredominantementeaeróbio,ou naprática,simplesmente,aeróbio.Eventualmente,pode-se ainda reconhecer qual dos processos anaeróbios de ressín- tesedeATPestãoenvolvidos-anaeróbioaláticooulático- , já que os efeitos fisiológicos são bastante distintos. É fun- damental,paraaorientaçãodaatividadefísicadocardiopata crônicoemprogramadeRCV,aprecisaprescriçãodotipode exercício.Umamaneirapráticaefidedignadeidentificara participaçãodecadaumadasviasmetabólicasderessíntese deATP,emumdadoexercício,éresponderconjuntamentea perguntas, como: 1) qual foi a massa muscular relativa en- volvida no exercício? Envolvimento de grandes massas muscularescomo,andar,correr,pedalarounadarsolicitam uma participação relativamente maior da via aeróbia, en- quanto esforços envolvendo segmentos corporais mais lo- calizados,comoporexemplorealizaçãodeflexãoeextensão doantebraçosegurandoumpesotendemàmaiorparticipa- çãodaviaanaeróbia;2)qualfoiaduraçãomáximadoexercí- cio?Seaduraçãoexcede2ou3min,aparticipaçãoaeróbiaé certamente predominante. Mas quando a duração é de até 10s,ocorreopredomíniodaviaanaeróbiaalática.Esforços intensoscomduraçãoentre20e90s,especialmenteaqueles até 40s utilizam, de maneira mais intensa, a via anaeróbia lática,acarretandoimportantedesequilíbrioácido-básicoe grandesensaçãodeesgotamentofísico.Sãoraramenteem- pregados de forma espontânea nas atividades habituais do homem, sendo mais freqüentemente observados em even- tos desportivos. (prova de 50 e 100m na natação e 200, 400 e 800m no atletismo); 3) qual foi a intensidade relativa do exercício? Esta é idealmente expressa em termos porcen- tuais,baseadanaintensidademáximaatingidaoudoconsu- momáximodeoxigêniodoindivíduo.Asdenominaçõesuti- lizadasnaprática,paraclassificartalintensidadedoexercí- cio,comobaixaouleve,moderadaealtaoupesadasãoina- Tabela I - Classificações do exercício físico Denominação Característica Pela via metabólica predominante Anaeróbio alático Grande intensidade e curtíssima duração Anaeróbio lático Grande intensidade e curta duração Aeróbio Baixa ou média intensidade e longa duração Pelo ritmo Fixo ou constante Sem alternância de ritmo ao longo do tempo Variável ou intermitente Com alternância de ritmo ao longo do tempo Pela intensidade relativa* Baixa ou leve Repousoaté30%doV02 máximo(Borg25 <10) Média ou moderada Entre 30% do V02 max e o limiar anaeróbio** (Borg 10 a 13) Alta ou pesada Acima do limiar anaeróbio (Borg >14) Pela mecânica muscular Estático Não ocorre movimento e o trabalho mecânico é zero Dinâmico Há movimento e trabalho mecânico positivo ou negativo * para exercícios com implementos ou pesos que utilizam grupamentos muscu- lares localizados, a intensidade relativa pode ser expressa em função da carga máxima possível para realizar uma repetição (1 RM). Por exemplo, intensidade leve - até 30% de 1 RM, intensidade média - entre 30 a 60 ou 70% de 1 RM. Outra alternativa é empregar as escalas psicofisiológicas de Borg. Para classificação acima, considerou-se a versão da escala que varia entre 6 e 20; ** na impossi- bilidade da determinação do limiar anaeróbio, arbitra-se que este se situe entre 55 e 70% do VO2 max. Tabela II - Exemplos de desportos classificados pela participação relativa dos componentes de natureza mecânica Estático Dinâmico Baixo Médio Alto Baixo Golfe Tênis Futebol Médio Arco e flecha Esgrima Natação Alto Halterofilismo Luta Remo
  • 6. 272 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 dequadas com dúvidas em relação à determinação do porcentualdomáximoatingido.Emumatentativadesistema- tizar estas expressões propõe-se que: intensidade “baixa” correspondaaesforçosdeaté30%doconsumomáximode oxigênio,“moderada”aexercícioscomdemandaentre30% do consumo máximo de oxigênio e o nível correspondente ao limiar anaeróbio e que a intensidade “alta” englobe os exercícioscujademandaexcedaolimiaranaeróbio.Assim, nosexercíciosprolongados,somenteaquelesclassificados comodealtaintensidadeteriamparticipaçãoanaeróbiasig- nificativa;4)qualfoioritmodoexercício-fixoouvariável? Exercíciosderitmofixocomo,porexemplo,caminhadaem velocidade constante por 10min, acarretam modificações dos níveis fisiológicos de repouso, proporcionando obten- çãodenovosníveisdeequilíbrio.Umavezalcançados,ten- dem a se manter constante ou praticamente constante (steady-state).Jáosesforçosderitmovariável,comoojogo de tênis, são acompanhados por grandes variações nas ne- cessidades de ressíntese de ATP e, conseqüentemente, por modificações periódicas das variáveis fisiológicas. Estas atividadesenglobampraticamentetodososdesportoscom bolaecomraqueteetendemautilizar,primariamente,asvias anaeróbiaaláticaeaeróbia,semaparticipaçãosignificativa da via anaeróbia lática; 5) esta mesma intensidade poderia ser mantida pelo dobro do tempo? Para avaliar o grau de participaçãoanaeróbiapode-se,demodosimpleseprático, questionarsobreapossibilidadedemanterdeterminadain- tensidadedoexercíciopelodobrodoperíododetempo.Por exemplo,umpacientequecaminharegularmentedentrodo seu programa de prevenção de DAC, pode informar que nãoteriamaioresdificuldadesdemanteroritmohabitualem uma caminhada de 1h, ao invés dos 30min que faz diaria- mente; por outro lado, no mesmo ritmo, não seria capaz de subirumouquatrolancesdeescada.Sãoevidênciasdeati- vidadefísicaprimariamenteaeróbianacaminhadaedepar- ticipação anaeróbia ao subir escadas. Talestratégiaémuitoútilparaobterinformaçõesquan- titativasnaanamnesesobreanaturezaeníveldeintensida- derelativadaatividadedesportivadopaciente.Sedetermi- nadopacienteinforma,quenãoconseguejogardoissetsno mesmoritmocomqueelejogao1ºset,ouquenãoconsegue manteramesmavelocidadeemsuabicicletanaidaenavol- ta de um trajeto urbano, sinaliza, objetivamente, que a sua atividade possui um componente anaeróbio significativo; 6)estamesmaintensidadepoderiaserrepetidacomumpe- quenointervaloderepouso,comode1a2min?Apergunta refere-seaoexercícioderitmovariáveledealtaintensidade, comcomponenteanaeróbioaláticopredominanteepartici- paçãoauxiliarevariáveldometabolismoaeróbio.Sériesde exercícioscomgrupamentosmusculareslocalizados,como exercíciosabdominaisoudesuspensãoembarra,tendema produzirperdadequalidadenaexecuçãoefadiga,serealiza- dosininterruptamentepormaisdoque5a10s.Podem,con- tudo, serem reiniciados na mesma velocidade, com condi- ções satisfatórias de execução e relativa facilidade, desde que sejam intercalados períodos de repouso de 1 a 2min, entre as séries, tempo suficiente para reposição dos esto- quesintracelularesdeATPefosfocreatina.Outronívelim- portantedeclassificaçãoparaumexercíciofísicorefere-seà sua natureza mecânica, definindo as contrações de uma fi- bramuscularisoladaemisométricasouisotônicas,denomi- nadas mais apropriadamente ao considerar o gesto huma- no,emexercíciosestáticosoudinâmicos.A26ªConferência deBethesdarealizadaem199426 ,comaparticipaçãoconjun- ta dos Colégios Americanos de Cardiologia e de Medicina Desportiva, classificou os desportos pelos seus compo- nentes estáticos e dinâmicos, variando apenas a participa- ção relativa desses componentes em baixa, média ou alta (tab.II). NocontextodaRCV,algunsoutrostermosfisiológicos demandamdefiniçõesmaisprecisas,especialmente,apartir do uso crescente do teste de esforço (TE) cardiopulmonar (medidadiretadegasesexpiradosduranteaergometria)em nossomeio.Pretende-se,assim,facilitarapadronizaçãode procedimentos e a comunicação entre os profissionais da área. Consumo de oxigênio - representa a quantidade de oxigênioconsumidaaonívelalveolarpeloindivíduo,sendo normalmenteexpressaemtermosabsolutos-L/min.-oure- lativos ao peso corporal - ml.kg/min.; consumo máximo de oxigênioou potência aeróbia máxima- representa o maior valor de oxigênio consumido ao nível alveolar pelo indiví- duo, em um dado minuto, durante um TE de natureza pro- gressivaemáxima.Émaisfreqüentemente,expressoemter- mosrelativosml.kg/min.Deve-seterocuidadoemobservar ereportarointervaloefetivodeamostragemparaadefinição destavariável,especialmentenosequipamentosqueofere- cemvaloresacadaciclorespiratório.Sugere-seque,quan- doointervalodeamostragemforinferiora1min,devecon- terumaobservaçãonorelatóriofinaldoexame,mencionan- doqueessavariávelfoiextrapoladaapartirdamedidafeita, por exemplo, nos últimos 20s de teste, para o valor do con- sumo de oxigênio em 1min, sendo melhor denominada de pico de consumo de oxigênio. MET é a sigla inglesa para equivalente metabólico. Uma unidade representa o gasto energético na condição de repouso (supino) em função do pesocorporalecorrespondeaaproximadamente3,5ml.kg/ min. Pode ser utilizada para expressar a potência aeróbia máxima,onde,porexemplo,35ml.kg/min.corresponderiama 10 MET. Este modo de expressar a capacidade funcional pode ser inapropriado para portadores de obesidade, nos quais o gasto energético de repouso é bastante inferior a 3,5ml.kg/min.,jáqueotecidoadiposopossuibaixaatividade metabólicae,conseqüentemente,baixoconsumodeoxigê- nio; limiar anaeróbio - representa o percentual do consu- momáximodeoxigênio(intensidaderelativa)acimadoqual aproduçãometabólicadelactatoexcedeasuaremoçãoe/ou utilização,acarretandoacúmulodesdemetabólito.Podeser diagnosticado diretamente através de dosagens seriadas e freqüentesdelacticidemiaduranteoexercícioou,indireta- mente, através da análise das curvas das variáveis respira- tórias-ventilaçãopulmonareequivalentesventilatóriosde oxigênio(VE/VO2 )edegáscarbônico(VE/VCO2 )-durante o teste27 ; zona-alvo de treinamento- representa os limites superior e inferior da FC que caracterizam a dose mais
  • 7. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 273 apropriada de exercício (intensidade relativa do exercí- cio), maximizando os benefícios e minimizando os riscos e efeitos indesejáveis. É obtida idealmente a partir da FC máxima obtida no TE ou, ainda melhor, através do limiar anaeróbio obtido através do TE cardiopulmonar (ergoespirometria). Aspectosbásicosdaestruturamúsculo- esqueléticaeotreinamentofísico A avaliação da condição músculo-esquelética para a prescriçãoadequadadosexercíciostemfundamentalimpor- tância, pois algumas alterações nas funções deste sistema podem prejudicar ou mesmo inviabilizar um programa de RCV. As lesões desenvolvidas nos programas supervisio- nados geralmente ocorrem em fases iniciais 28 . Os fatores etiológicos freqüentemente envolvidos são: a fraqueza; a redução da resistência muscular; as retrações músculo- tendíneas, que reduzem a flexibilidade e provocam altera- çõesposturaisemaiorsobrecargaarticular;anãocoordena- ção motora e a percepção reduzida do posicionamento dos segmentos corporais, que determinam padrões de movi- mentosnão-harmônicosedemaiorimpacto.Algumasalte- raçõesanatômicastambémestãoassociadasàmaiorsobre- cargadoaparelhomúsculo-esquelético(porexemplo,uma assimetria de membros com desnível pélvico e escoliose lombar ou uma hiperpronação do retropé, com sobrecarga do tendão de Aquiles) e, quando combinadas com fatores prévios, podem levar a lesões durante atividades físicas cíclicas. Além dos fatores intrínsecos relacionados a uma maior incidência de lesões, devemos considerar os fatores extrínsecos, como ambiente, piso e equipamentos inade- quados para a realização de exercícios, ausência de rotinas deaquecimentoedeexercíciosdeflexibilidade,alémdefato- resdemotivaçãopsicológica(tentativadeauto-superação, com duração, distância e progressão inadequadas para os exercícios),maisobservadosnospacientesemtreinamento não-supervisionado. Há dificuldade para a padronização dos exercícios, objetivando a prevenção total de lesões músculo-esqueléticas,devendo-seindividualizarqualquer orientação. Neste aspecto, a interação do fisiatra na equipe multidisciplinar da RCV é de grande importância. Ênfase especialdeveserdadanaorientação,quantoaosexercícios deflexibilidade,quedevemserrealizadosdiariamente,com técnica correta e direcionados para os principais grupos musculares retraídos, principalmente nos pacientes com sintomas dolorosos (presença de pontos-gatilhos de dor miofascial).Deve-seesclareceraopacientequearealização destesexercícios,somentealgumasvezesporsemana,não é suficiente, e que a sua não realização, por períodos pro- longados, provocará retração do tecido conjuntivo múscu- lo-tendíneo, com perda de amplitude de movimento, redu- ção da flexibilidade e maior incidência de alterações posturaisedormuscular.Osexercíciosdeflexibilidaderea- lizados no programa de condicionamento, pelo educador físico,muitasvezesnãopodemserindividualizados,devido àcurtaduraçãodasessãoeànecessidadedeserealizaruma atividadeemgrupo.Noentanto,asorientaçõesindividuali- zadasdevemserrealizadasàpartedogrupoe,diariamente, pelo paciente, sendo que os exercícios comuns ao grupo podemserprogramadosdeacordocomosgruposmuscula- resmaisfreqüentementeretraídos.Amesmacondutapode seraplicadaparaasdeficiênciasdeforçaeresistênciamus- cular, observadas no exame prévio. Pré-requisitos para o treinamentodeforçaeresistênciamuscular:1)ausênciade doençamúsculo-esqueléticaquecontra-indiqueautilização de cargas elevadas (por exemplo, osteoartrose fêmuro- patelaracentuada);2)pressãoarterial(PA)sistêmicanormal ou controlada; 3) ausência de arritmias complexas; 4) ter completado pelo menos de 6 a 8 semanas do programa de RCVeapresentarcapacidadefuncionalmínimade17ml.kg/ min.Ospacientesdevemreceberorientaçãoquantoàreali- zação correta dos exercícios, controlando os movimentos respiratórioseevitandoamanobradeValsalva.Deve-seafe- riraPAemesmomonitorizarpacientesduranteosexercícios de força nas primeiras sessões, caso haja dúvida quanto à resposta do paciente frente a esta solicitação. Quando os pacientes têm o diagnóstico de osteoartrose, excetuando- se, obviamente, os pacientes na fase aguda de artrite, com sinaisinflamatóriosesintomatologiadolorosa,deve-sere- alizar atividade física programada e adaptada para os paci- entes com osteoartrose, visando, além da melhora da fun- ção cardiovascular, uma maior proteção articular e melhor absorçãodeimpactoesobrecargasposturaiscomofortale- cimento muscular e melhora da flexibilidade. Deve-se, na avaliação prévia, distinguir entre os quadros dolorosos ar- ticulareseosmusculares,sendoquenosúltimoséimperati- vooprogramadeflexibilidadedeinícioprecoce.Asativida- des devem ser de baixo impacto e na presença de deformi- dadesarticularesereduçãodeamplitudedevem-seadaptar os exercícios de acordo com a capacidade de paciente. Indicações,benefícios,riscos,contra- indicaçõeseemergência Indicações - As indicações do treinamento físico in- cluem29-31 :indivíduosaparentementesadios;portadoresde fatores de risco de doença coronária aterosclerótica (taba- gismo, HA, dislipemia, diabetes mellitus, obesidade, sedentarismo e outros); indivíduos com TE anormal e ou cinecoronariografiaanormal;portadoresdeDAC:isquemia miocárdica silenciosa, angina estável, pós-IAM, pós- revascularização miocárdica; pós-angioplatia coronária; valvopatias; portadores de cardiopatias congênitas; car- diopatia hipertensiva; cardiomiopatia dilatada; pós-trans- plantecardíaco;portadoresdemarcapasso.Recomenda-se, paraaprescriçãodoexercício,queosindivíduossejamclas- sificados, segundo o risco para exercício físico, em quatro classes 30,32 : Classe A - Constituída de indivíduos sem risco para exercíciosdemédiaintensidade,compreendeosindivíduos considerados aparentemente sadios: a) <40 anos, assinto- máticos,quenãoevidenciemcardiopatiaedoisoumaisfa- toresderiscocoronário;b)dequalqueridade,comTEnega-
  • 8. 274 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 tivo ou normal, que não apresentem cardiopatia ou fatores de risco coronário. Classe B - Formada de indivíduos de baixo risco para exercíciosdemédiaintensidade,compreendepacientescom cardiopatiadeevoluçãoestáveleouTEnormal,comasse- guintescaracterísticas:tipofuncionalIouII(NYHA);capa- cidade aeróbia >21ml.kg/min.; ausência de insuficiência cardíaca,arritmiaventricularclassificadaporLownnosti- pos II, III, IV, isquemia ou angina de repouso; angina ou isquemiadeesforçosomenteemexercício,>21ml.kg/min;TE comcomportamentonormaldePAesegmentoST,semangi- na de esforço; fração de ejeção (FE) >0,50; cinecoro- nariografia com lesões uni ou bi-arteriais e as condições acima descritas; ausência de antecedentes pessoais de pa- radacardiorrespiratória(PCR)primáriaoudedoisoumais infartos do miocárdio; capacidade satisfatória de auto- monitorização e de obediência à prescrição do exercício, alémdeconhecimentodosprincípiosbásicosdotreinamen- to 33 ; ausência de outras condições de risco de vida ou se- qüela grave ou proibitiva. Classe C - Composta por indivíduos de moderado a altoriscoparaexercíciosdemédiaintensidadeeouincapa- zes auto-monitorização, compreende pacientes com car- diopatiadeevoluçãoestáveleouTEanormal,dotipofunci- onalIIIdoNYHA,comasseguintescaracterísticas:capaci- dadeaeróbia<21ml.kg/min.;ausênciasdeinsuficiênciacar- díaca,extra-sístolesventriculares(EV)classeII,IIIeIVde Lown, ausência de angina ou isquemia de repouso; angina ouisquemiadeesforçoemexercício<21ml.kg/min.;angina vasoespástica documentada sob controle; TE com queda persistente da PA ao esforço, angina ou comportamento anormaldeST;FEentre0,30e0,50;cinecoronariografiacom lesões tri-arteriais; antecedentes pessoais de PCR primária ou de dois ou mais infartos do miocárdio; capacidade insatisfatóriadeauto-monitorizaçãoedeobediênciaàpres- crição do exercício, além do conhecimento dos princípios básicos do treinamento; ausência de outras condições de risco de vida ou seqüela grave. Classe D - Constituída de indivíduos de risco habitu- almente proibitivo ao exercício, compreende os pacientes comcardiopatiadeevoluçãoinstávelerestriçãodaativida- defísica,comasseguintescaracterísticas:insuficiênciacar- díaca;EVrepetitivas,nãocontroladas;anginaouisquemia instáveis(anginadeiníciorecente,anginaprogressiva,an- gina de repouso, angina subentrante, dor torácica prolon- gada recente mesmo com enzimas normais); estenose aórtica(EA)grave;condiçõescomriscodevidaouseqüela grave;lesãodetroncodecoronáriaesquerdaouequivalen- te, não tratada. Benefíciosdotreinamentofísico-Naabordageminici- al dos benefícios do treinamento, foi salientado que o sedentarismo pode ser considerado como fator de risco in- dependente para DAC 30 , uma vez que esses benefícios, avaliados entre os anos de 1975 e 1995, têm evidenciado declínionamortalidadeem20a30%34 .Entretanto,onúme- ro de eventos cardiológicos, incluindo a taxa de IAM, não teve redução significativa35 . Dados demonstram que o im- pacto do treinamento físico associado a mudança de estilo devidadiminuiuamortalidadecardíacade20a35%36,37 .Um grandenúmerodetrabalhosevidencioumelhorassignifica- tivas de múltiplas variáveis relacionadas à doença cardio- vascular 38-40 , destacando-se o Report of Health and Human Services, na avaliação das variáveis envolvidas no treinamentofísicoem334artigospublicados38 (tab.III).Na evolução do indivíduo com IAM, Kavanagh e col 41 de- monstraram que o exercício programado e supervisionado conseguiureduzirde30para18%ascomplicaçõesdoIAM, relacionadas principalmente à síndrome depressiva pós- evento. Tabela III - Efeitos da RCV no controle evolutivo das diferentes variáveis Variável Efeito Freqüência cardíaca repouso diminuição (38) Freqüência cardíaca de esforço submáximo diminuição (38) Pressão arterial sistêmica diminuição (38) Tolerância ao esforço aumento (38) Lípides sangüíneos diminuição (38) Triglicérides sangüíneos diminuição (38) Tolerância à glicose aumento (38) Fração HDL colesterol aumento (38) Grau de estresse diminuição (38) Tabagismo diminuição (38) Estado psicológico melhora (38) Índice de mortalidade diminuição (36),(37),(38) Capacidade cardiorrespiratória aumento (40) Sensação de fadiga diminuição (40) Intensidade da carga para o mesmo duplo produto aumento (40) Colesterol sangüíneo diminuição (40) Nível de isquemia para carga semelhante diminuição (40) Efetividade da revascularização miocárdica aumenta (40) Nível de epinefrina em repouso diminuição (39) Nível de epinefrina e norepinefrina em exercício diminuição (39) Resposta simpática diminuição (39) Resposta vasoconstritora diminuição (39) Relacionamento pessoal melhora (39) Tabela IV - Contra-indicações absolutas ao treinamento físico convencional 22,56 • Insuficiência cardíaca • Infarto agudo do miocárdio • Angina estável grau IV (CCS) 58 e instável 59 • Miocardite ativa • Pericardite aguda • Aneurismas de aorta torácica ou abdominal • Embolias pulmonar ou sistêmica recentes • Tromboflebite • Hipertensão pulmonar ou arterial grave não tratadas • Estenose aórtica e insuficiência mitral graves • Taquicardia ventricular, em repouso • Infecções agudas • Lesão de tronco de coronária esquerda ou equivalente, não tratadas • Obstrução arterial periférica graus III, IV e II limitante (Fontaine) 60 • Retinopatia diabética com deslocamento de retina Tabela modificada de Haskell WL.
  • 9. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 275 Riscos - O treinamento físico tem sido considerado comoformaseguradeintervençãomédica.Amortecardíaca súbita é rara em indivíduos aparentemente sadios, mesmo emexercíciosvigorosos.Amortesúbitaporhoradiminuiu de1:375000em1980para1:888000em198230 ,enquantoem treinamento de cardiopatas a incidência de PCR caiu de 1.6000,em1976,para1:12000030 em199542 .Ascausasmais freqüentes de PCR em indivíduos aparentemente sadios foram a doença coronária aterosclerótica, (>35 anos), as anomalias coronárias congênitas e a cardiomiopatia hiper- tróficaobstrutiva(maisjovens).Oexercíciodealtaintensi- dade é fator desencadeante de IAM e morte súbita, sendo o efeito mais pronunciado entre indivíduos sedentários43-45 . São fatores predisponentes concomitantes, a idade e a pre- sença de cardiopatia30 .Observou-se,recentemente,emes- tudonãorandomizado,queomenorriscodePCRnoexercí- cio46 pôde ser atribuído à melhor seleção do paciente, pro- cedimentos mais adequados e tratamentos medicamen- tosos e invasivos mais eficazes. Em levantamento de 167 programasdeRCV,envolvendo51.303pacientesemtotalde 2.351.916pacientes-hora,entre1980a1984,nãohouvedife- rença significativa no número de PCR entre os programas com monitorização contínua ou intermitente. A taxa de ressuscitação cardiorrespiratória, manteve-se em 80% em 197547 e 86% em 198622 . O horário ideal para a prática de exercíciosnãoestáestabelecido48 .Dadosepidemiológicos evidenciamqueoinfartodomiocárdio,amortesúbitacardí- aca, os acidentes vasculares trombóticos e os episódios de isquemiamiocárdicasilenciosaapresentampicodeincidên- cia no período da manhã entre 6 e 12h, coincidente com as elevaçõescircadianasdaPA,daFC,daviscosidadesangüí- nea, da agregabilidade plaquetária, do cortisol e da adre- nalinaplasmáticos,ecomasreduçõescircadianasdofluxo coronárioedaatividadedoplasminogêniotissular49 .Algu- masevidênciastêmdemonstradoreduçãodopicomatutino de IAM com o uso de betabloqueadores 50 e ácido acetil salicílico51,52 .Emdoisprogramasdereabilitaçãosupervisi- onada, com sessões exclusivas nos períodos da manhã e da tarde,nãosedemonstraramdiferençassignificativasnain- cidência de eventos cardíacos53 . Com relação à prescrição do horário do exercício, recomenda-se que cada caso seja avaliado, separadamente, levando-se em conta as caracte- rísticasclínicas,enquantooassuntoaguardaaefetivacom- provação. Contra-indicações -Ascontra-indicaçõesabsolutase relativas do treinamento físico convencional, e as condi- ções que requerem preocupações especiais são apresenta- das nas tabelas IV, V, VI, respectivamente, adaptadas de Haskell54 ,GoepferteChignon55 . Profilaxiadascomplicações-Aprofilaxiadascompli- cações implica na adoção de normas objetivas que devem ser obedecidas pelos pacientes e pela equipe multipro- fissional: reavaliação médica periódica para detecção dos pacientes refratários ao treinamento e dos casos com pro- gressãodacardiopatia;comunicaçãocontínuamédico-pa- ciente sobre os estado de saúde e mudanças eventuais da medicação; supervisão médica no ambiente das sessões para manter o exercício dentro dos limites da prescrição e para detectar mudanças no estado de saúde do paciente; adequação da FC de treinamento para pacientes com arritmiaventriculardependentedefreqüênciaouanginade peito; rotina para readmissão de paciente após período de faltas consecutivas; instruções claras e objetivas aos paci- entes sobre sinais e sintomas que obrigam a interrupção do treinamento (tab. VII) e sobre as precauções necessárias duranteapráticadeexercícios(tab.VIII)eclassificaçãoda angina(tab.IX). Emergências-Osserviçosdereabilitaçãodevemes- tar aptos para atender às eventuais emergências. Todos os membrosdaequipenecessitamdetreinamentoemprimeiros socorros e conhecimento de procedimentos de ressusci- taçãocardiorrespiratóriaeatendimentoàemergênciaclínica ecardiológica.Recomenda-sequesimulaçõesdePCRsejam praticadas periodicamente e que cada membro da equipe tenha funções específicas. Rotina médica e administrativa devemserestabelecidas,visandootimizarefacilitararemo- ção, em situação de emergência, para o âmbito hospitalar. Os serviços devem ser dotados de equipamentos de emer- gênciaapropriados,comsuprimentoadequadodemedica- mentosemateriais,prontosparausoimediato.Ofunciona- mento dos equipamentos e a data de validade de medica- mentos devem ser aferidos periodicamente. A relação dos equipamentos e medicamentos são as mesmas descritas nos Consensos Nacionais de Ergometria e Reabilitação Cardiovascular56 edeRessuscitaçãoCardiorrespiratória57 . Metodologiadetreinamento Princípiosbásicos-Ametodologiadotreinamentofí- sicobaseia-seemtrêsprincípios:especificidade,sobrecarga ereversibilidade61-65 .Princípiodaespecificidade-todotrei- namento físico tem efeito específico no desenvolvimento Tabela V - Contra-indicações relativas ao treinamento físico convencional 22,56 • Extra-sistolia ventricular classe II, III e IV de Lown • Arritmia supraventricular de alta freqüência, não controlada • Aneurisma ventricular • Estenose aórtica moderada • Cardiomiopatia hipertrófica • Cardiomegalia acentuada • Anemias em geral, inclusive anemia falciforme • Distúrbios metabólicos não compensados (diabetes, tireotoxicose, mixe- dema,dislipemias graves, hiperuricemia) • Distúrbios neuromusculares, músculo-esquelético e osteoarticulares inca- pacitantes • Distúrbios psiconeuróticos terapia-dependente • Insuficiência respiratória moderada Tabela modificada de Haskell WL.
  • 10. 276 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 das partes do corpo e do sistema energético utilizado no desempenho de determinada atividade. Quando a solicita- ção ultrapassa um certo limiar aparecem modificações morfológicas e funcionais nos órgãos, células e estruturas intracelularesenvolvidasnarealizaçãodaatividadefísica; princípiodasobrecarga-otreinamentoefetivoeseguroé aquele no qual as sobrecargas (resistências opostas) são aplicadas,demaneiraprogressiva,respeitandodetermina- dos tempo, freqüência, intensidades mínima e máxima da sobrecargaparaadaptaçãoemcadaníveldeestímulo.Para apromoçãodestaadaptaçãodacapacidadefísicasubmete- se o organismo a níveis de estímulos maiores do que os ha- bituais. No fenômeno da supercompensação, as modifica- ções anátomo-fisiológicas que permitem ao indivíduo au- mentar,demaneiragradual,asuaintensidadedecarga,de- pendemdoprincípiodasobrecargaedaspausasderecupe- ração. Por outro lado, o aumento persistente do estímulo elevaoconsumoenergéticoeinduzaocansaço.Osprogra- masdetreinamentodevemterintensidade,duraçãoeperío- dosderecuperaçãoquepermitamaoorganismoadaptações paratentararecuperaçãodahomoestasefuncional.Osestí- mulos(sobrecarga)dependemdosobjetivosdotreinamen- to de resistência aeróbia e localizada, devendo ser maiores do que os habitualmente experimentados. A combinação corretadaintensidadeedaduraçãodosestímulos(exercíci- os), com intervalos de recuperação adequados, são as me- tas do treinador e caracterizam os procedimentos que per- mitemaoindivíduoresistiràsatividadesfísicasmaisinten- sas;princípiodareversibilidade-osefeitosbenéficosdo treinamento físico são transitórios e reversíveis e podem desaparecercomadiminuiçãoouafaltadoexercício. O retorno às condições prévias ao treinamento pode ocorrer de maneira rápida e depende do tipo, do tempo, da capacidade física alcançada com os exercícios e principal- mente,doperíododeinterrupçãodoexercício.Ressalta-se que ex-atletas depois de alguns anos de inatividade, alcan- çam nível de capacidade cardiorrespiratória semelhante a de indivíduo sedentário. Métodos de treinamento - São representados pelas estratégias utilizadas na obtenção de maior rendimento no treinamentofísico.Emboraseencontreindividualidadede potenciaisque,àsvezes,édedifícilexplicaçãobiológica,os meios científicos têm sido, ao longo do tempo, fundamen- taisnaexploração,mediçãoedirecionamentodessespoten- ciais. Isto é verificado no aumento crescente e anual das marcasatléticasemcompetições.Oconhecimentodosiste- mafisiológicoasertreinadoestádiretamenterelacionadoà decisão correta do método de treinamento. Cabe à equipe multiprofissionalidentificarqualosistemaenergéticoaser treinado.Devendo,ainda,conheceraduração,aintensida- de,assimcomo,assuasinteraçõescomosistemametabóli- co. Os princípios da especificidade e da sobrecarga devem ser obedecidos quando o objetivo é o efeito positivo no treinamento, sendo que o aquecimento e a fase de recupera- ção são períodos inerentes à sessão de treinamento. Na fase inicialdoexercício,realiza-seoaquecimentodosmúsculose dosistemacardiorrespiratório,visandoalcançarmaiorefici- ência metabólica e prevenir lesões osteomioarticulares. A fase de recuperação ou de “desaquecimento” permite um decréscimodeintensidadeparaascondiçõesderepouso,de maneiraplanejada.Estasduasetapassãoimprescindíveis. Os métodos de treinamento são, basicamente, dois: contínuo ou de duração e intervalado ou intermitente, sen- do que as variações e outras classificações derivadas são encontradas na literatura especializada66-72 . Treinamento contínuo de natureza submáxima e de média a longa duração, não se permitindo intervalos. É um dos meios mais antigos para desenvolver resistência aeróbia. No treinamento aeróbio é necessário que haja so- brecarga cardiovascular suficiente para promover um au- mento do débito cardíaco (DC). A intensidade moderada possibilita manter o esforço por tempo mais prolongado e em estado de equilíbrio entre oferta e consumo de O2 (steady-state). Este treinamento permite resultados satis- fatóriostantoamédiocomoalongoprazo. Treinamento intervalado - tem como característica uma série de períodos repetitivos de exercícios, alternados com períodos de repouso ativo ou intervalos de recupera- ção. Este método é, indubitavelmente, o método responsá- vel pelo sucesso de muitos atletas, podendo ser aplicado tambémemindivíduossedentáriosecardiopatas.Asséries repetidasdeexercíciospodemternúmero,duração,intensi- dade e intervalos variados, de acordo com o objetivo dese- jado, oferecendo opções para desenvolver tanto os siste- mas aeróbio como anaeróbio (exclusivamente para indiví- duos hígidos). As pausas podem ser ativas ou passivas, e são consideradas vantajosas quando a sua duração corresponde a um terço da fase de recuperação total. São muitousadasnosmeiosdesportivos.Oprincipalméritodo treinamentointervaladoéodepermitirsériesdeexercícios de alta intensidade, por períodos relativamente longos. Os cardiopatasdeverãomanterotreinamentodentrodoslimi- tes aeróbios preconizados. Asaptidõesfísicasbásicasparao condicionamentofísico Emprogramasdeatividadefísica,visandoasaúdeea qualidade de vida, devem estar incluídas: resistência aeró- Tabela VI - Condições que requerem considerações especiais ou precauções22,56 • Arritmia cardíaca controlada • Distúrbios de condução: bloqueio atrioventricular completo, bloqueio do ramo esquerdo, Wolf Parkinson White • Marcapasso artificial • Distúrbios eletrolíticos • Uso de medicamentos: digital, betabloqueadores, antagonistas de cálcio, anticoagulantes, insulina • Angina de peito estável • Obesidade acentuada • Osteoporose • Insuficiência hepática • Insuficiência renal Tabela modificada de Haskell WL.
  • 11. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 277 bia,resistênciamuscularlocalizada(RML)eflexibilidade.A resistênciaaeróbiautiliza-sedeexercíciosdinâmicos,reali- zados em condições de equilíbrio de oferta e demanda de oxigênio, intensidade moderada, tempo prolongado e envolvimento de grandes grupos musculares. Condições quesãoobtidascomexercícioscíclicoscomoandar,correr, pedalar, nadar, etc, que favorecem os ajustes metabólicos necessáriosparaodesenvolvimentodeadaptaçõesfisioló- gicasrelacionadascomamanutençãodasaúde;paraotrei- namentodaRMLnosprogramasdecondicionamentofísico eRCVoexercíciodeveser,preferencialmente,dinâmicocom sobrecargas associados e aplicadas entre as séries e os nú- merosderepetições.Comoasatividadesprofissionaisdiá- riasedelazerenvolvemaforçaeresistênciamuscular,otrei- namentodeveabrangerambososelementos,emprogramas de pequena intensidade, destinados a pacientes com baixa capacidade física. Por outro lado, treinamentos que envol- vammaiorintensidadederesistênciacompeso,quegeram grande tensão muscular, podem produzir o aumento da pressãoarterialdiastólica(PAD)ebloqueiorespiratório.A manobradeValsalvaprovocadapelobloqueiorespiratório levaaofechamentodaglote,interrompendooretornoveno- so para o coração. Esta seqüência de resposta pode ser pe- rigosaparaopacientecomproblemacardiovascular;aflexi- bilidadeéumapropriedadequedependedamobilidadearti- cular e da elasticidade muscular, observada pelo grau de amplitude dos movimentos. Nos programas de treinamen- to, tanto preventivo como de reabilitação, devem estar in- cluídosexercíciosdeflexibilidadeealongamento,poiseles facilitamasatividadescotidianas,particularmenteemrela- ção ao trabalho onde estão envolvidas as regiões lombar e posteriordacoxa. Prescriçãodeexercício Prescrição médica de exercício -Emboraoenvolvi- mentomédicositue-seaparentementenafasedeseleçãodo indivíduo,éimportantesuaparticipação,demaneiracontí- nua, com o professor de educação física. De acordo com a complexidade do serviço durante todas as fases de RCV, a esses profissionais somam-se especialistas nas áreas fisio- terapia,enfermagem,nutrição,fisiologia,psicologiaeetc.A determinação inicial da capacidade funcional é elemento fundamentalparaotreinamentofísicoemníveldeequilíbrio individualizado.Desde1975,asrecomendaçõesparaosva- lorespercentuaisdovolumemáximodeoxigênio(V02 max) para o início do programa têm sido revistas73 nas publica- ções da Associação Americana de Ciências do Esporte (ACSM), como podem ser observada na tabela X. Na fase inicialpretende-semelhoraraqualidadedevidaesaúdesem a preocupação imediata de perda de peso. A medida que se prolongaoprograma,aassimilaçãodacargapermiteaopa- cientealiberaçãogradualdecargasmaisefetivas.Emseisa 12meses,apósreavaliação,determina-seumnovonívelde equilíbriodeconsumodeoxigênioparaotreinamento. AvaliaçãoclínicaparaRCV -Exameclínico,história deeventocardíaco,exameobjetivocomabordagemespeci- al para estenose de via de saída do ventrículo esquerdo (VE),avaliaçãominuciosadafunçãoventricular;estratifi- caçãodoriscopelotestee/ououtrosexamescomplementa- res,avaliaçãodasmedicações,principalmente,asqueinter- feremcomarespostacronotrópica,avaliaçãoclínicaortopé- dica,TEeprotocolos. Protocolos de esteira rolante - Para indivíduos mais limitados ou pessoas >70 anos, de atividade física, não co- Tabela VII - Sintomas e sinais de treinamento excessivo durante programa de reabilitação** 54 Durante ou logo após a sessão Angina grau 3 ou 4 em escala 1 a 4 Aumento de freqüência das disritmias cardíacas Bradicardia inapropriada Taquicardia inapropriada Ataxia, tonturas, confusão Náuseas e vômitos Claudicação de membros inferiores Palidez, cianose Dispnéia persistente por mais de 10min Hipoglicemia no diabetes mellitus Tardios Fadiga prolongada Insônia incomum Ganho de peso por retenção hídrida Taquicardia persistente (FC >100-110bpm, 6min após o exercício) Hipoglicemia no diabetes mellitus até 48h Tabela modificada de Haskell WL; ** aparecimento destes sinais e sintomas indicam necessidade de redução da intensidade do exercício nas sessões sub- seqüentes. Tabela VIII - Precauções gerais durante o treinamento físico 48 • Intervalo de 2h entre a refeição habitual e o exercício. Não beber café, chá preto, chá mate, coca-cola 1h antes e depois do exercício; beber água aos goles antes, durante e após o exercício; evitar refrigerantes. • Abster-se de bebidas alcoólicas e cigarro antes e após o exercício. • Não se exercitar em jejum; 1h antes das sessões de reabilitação fazer breve refeição de frutas, pães, sucos e açúcar comum; em caso de diabetes seguir instruções especiais. • Evitar exercício em condições extremas de temperatura, umidade, poluição e grandes variações de altitude. • Não tomar banhos quentes ou frios próximo do exercício; dar preferência a banhos tépidos após 15min; • Utilizar roupas porosas, quentes no inverno e leves e claras no verão; não utilizar trajes emborrachados; usar calçados macios e flexíveis com sola grossa e calcanhar acolchoado, próprios para a modalidade. • Evitar o exercício sob o impacto de emoções e a prática de esportes esporá- dica em feriados; participar de competições apenas sob ordem médica. • Exercitar-se somente ao sentir-se bem; aceitar as limitações pessoais; come- çar devagar e fazer progressões graduais; evitar exercícios em afecções agu- das ou fadiga; reduzir a intensidade do exercício na convalescença; aguardar dois dias após resfriado comum para voltar aos exercícios. • Interromper o treinamento e procurar o médico em caso de lesões músculo- esqueléticas: movimentos dolorosos persistentes necessitam de cuidados médicos; manter-se alerta aos sinais de treinamento excessivo. Tabela modificada de Debusk RF.
  • 12. 278 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 nhecida, utilizam-se protocolos com incrementos de carga maissuaves,denominadosprotocolossubmáximos,clássi- coscomoosdeNaughtonoudeEllestad.Paraindivíduosjá ematividadehabitual,utilizam-seosprotocolosmáximosde BruceoudeEllestad. Protocolos em cicloergômetro -Nos indivíduos mais limitados ou >70 anos, não conhecidos, recomenda-se in- tervalos de cargas de 25 em 25 watts ou até mesmo 12,5 a 12,5 watts nas bicicletas tecnicamente capacitadas. De maneirageral,emnossomeio,preconizam-seincrementosde cargasde50wattsatéaFCmáximapreditaouoVO2 maxobtido. FórmulasparaadeterminaçãodaFCdetreinamento- 1) Escala de Borg25 - segundo a sensação de cansaço físico na escala de Borg, estabelece-se a freqüência cardíaca de treinamento(FCT)ouaintensidadedacargadeexercícioda fase inicial de treinamento que corresponda ao cansaço avaliadoem10a12pontosdaescaladeBorg(graduadade6 a20)(tab.XI);2)tabeladeFox-nasavaliaçõesdeindivídu- ossedentáriosemumprogramadecondicionamentofísico, em São Paulo, observou-se que a FCT de equilíbrio inicial situava-seentreos40a60%doV02 maxou58a72%daFC máx da tabela formulada por Fox74 , para as diferentes ida- des(tab.XII).Esteníveléinfluenciado,algumasvezes,pela dificuldadedeadaptaçãodosmembrosinferiores;3)fórmu- la de Karvonen - a FCT de acordo com Karvonen75 obtém- sedeterminandoaFCmáxima= 220-idade.Calcula-seem seguidaopercentualdaFCmáxsegundoafórmula:FCT= FCR+x%(FCmáx-FCR),ondeFCR=FCderepouso;x%= percentualdaFCdesejadaparaotreinamento.Porexemplo, paraumindivíduode50anos,comFCRde70bpm,obtém-se: FCmáx=220-50=170bpm:.FCT=FCR+x%FCmáx-FCR:. FCT=70+70%(170-70):.FCT=70+70:.FCT=140bpm;4) FCT estabelecida pelo TE - considerando-se a correlação linear76 existenteentreaFCeovolumedeoxigênio,evitan- do-seemtesteemesteirarolanteosvaloresextremos,tanto <120bpmcomoas>156bpm,pode-seutilizarcorrelaçãopara estabelecerosníveisde40a60%doVO2 maxou58a72%da FCmáx,esuacargaequivalente,paraoiníciodoprograma deexercício;5)determinaçãodoníveldetreinamentopela ergoespirometria - para uma prescrição de exercícios mais segura e adequada, o TE máximo progressivo, concomi- tante, a coleta de gases respiratórios (ergoespirometria) apresentaparâmetrosadicionaisimportantes,emrelaçãoao TEconvencional.AFCcorrespondenteamáximaprevista, paraumadeterminadaidade,àsvezes,nãoésuficientepara caracterizarumTEcomomáximo,podendoapresentardes- vios de 10 a 12bpm. O apoio nos suportes dos ergômetros dos membros superiores pode superestimar em até 30% a capacidade funcional77 . Na ergoespirometria, a análise de gases respiratórios aliada à avaliação das variáveis cardio- vascularesedepercepçãodeesforçopode,determinarcom melhorprecisãooesforçomáximo. Deve-se ressaltar que, pessoas com valores próximos deV02 max, nem sempre apresentam capacidades aeróbias semelhantes, em função do ponto de limiar anaeróbio em cargas distintas. Aspectos que são válidos para a prescri- çãocorreta,principalmente,emindivíduoscomconsumode 02 maxelevadooumuitobaixo,tantoematletasdealtonível comonascardiopatiasmaislimitadas.SegundoWasserman77 , adetecçãodolimiaranaeróbioIou1ºlimiarventilatório(limi- aranaeróbio)edolimiaranaeróbioIIou2ºlimiarventilatório (pontodecompensaçãoventilatóriaparaacidosemetabóli- ca)proporcionamzonassegurasparaaprescriçãodetreina- mento(FCalvo),deacordocomosobjetivosaseremalcan- çados. A ergoespirometria, pela análise do VO2 max ou de pico (maior valor de VO2 atingido, sem que os critérios de caracterização para VO2 max tenham sido preenchidos), é tambémusadaparaclassificarobjetivamenteagravidadeda insuficiência cardíaca e, conseqüentemente, estabelecer correlações prognósticas77 . Para o diagnóstico diferencial dadispnéiadeesforçoaergoespirometriaoferecedadosde funçãopulmonarquenãosãodisponíveisnoTEconvenci- onal78,79 . FatoresquepodemmodificaroníveldaFCT -Além da manifestação clínica de angina de peito, têm-se a consi- derar o desnível do segmento ST, a presença da onda U, presença de arritmia, duplo produto, pressões arteriais sistólica (PAS) e PAD. As influências destas variáveis na FCTestãoexpressosnatabelasXIIIeIX. Aspectos especiais para pacientes mais idosos na RCV - Os cuidados especiais independem da idade e sim dascondiçõesdopaciente,istoé,dacomplexidadedocaso. Entretanto,maioridadepoderepresentareventualdiferen- ça de comportamento, que merece cuidados especiais para prevenir as adversidades clínicas mais comuns no idoso, como33,80 : dispnéia; estertores de base, fraqueza profunda; alteraçãomentalagudacomconfusão;mudançadehábitos alimentares;edemapulmonar;emboliaarterial;insuficiência renal progressiva; agitação e sonolência; mudança repeti- tivanaatividadeeaperdadapercepçãoquepodediminuira Tabela IX - Classificação da angina segundo a Canadian Cardiovascular Society (CCS) 58 Classe Atividade desencadeante I Esforço prolongado II Andar mais de dois quarteirões III Andar menos de dois quarteirões IV Esforço mínimo e repouso Tabela X - Níveis iniciais de treinamento físico para indivíduos sedentários (Blair) Ano %VO2 max* %FCmáx** 1975 70% 85% 1980 60% 80% 1986 50% 70% 1991 40% 60% * % VO2 max- consumo máximo de oxigênio em valores percentuais;** %FC máx- freqüência cardíaca máxima em valores percentuais.
  • 13. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 279 sensibilidadedolorosa.a)Ambienteeexercíciosmaisapro- priados aos idosos - a idade mais avançada geralmente comprometeoestilodevidaeaartritediminuiaflexibilidade. Em ambas as situações a atividade física cuidadosa pode ser benéfica, utilizando-se local de treinamento amplo, de preferêncianomesmoplanoeemsuperfícielisa;b)exercício emedicação-noindivíduomaisidoso,valeapenasalientar queainterrelaçãofisiológicaefarmacológicaéprocessada, às vezes, com diferentes peculiaridades, nos processos de: absorção; metabolismo; distribuição; da sensibilidade ao fármaco; diminuição da massa corpórea; diminuições nas funções renal; hepática; gastrointestinal; nervosa; e cardiovascular. Portanto, diante destes tipos de respostas do idoso recomendam-se,cuidadosespeciaiscom:ahipotensãoarte- rial sistêmica, a arritmia em indivíduos em uso de hipoten- sores e diuréticos, aos fármacos que atuam na função cognitiva (hipnótico, alfa agonista central e beta adrenér- gico)quepodem,eventualmente,precipitarisquemiacerebral. Treinamentofísico,nãosupervisionadopormédicos 33 -Quandoosaspectoseconômicosealocalizaçãogeográfi- catornamdifíceisacontinuidadedeprogramassupervisio- nados a longo prazo, pode-se instituir o programa não su- pervisionado diretamente pela equipe médica, sendo reco- mendávelamanutençãodasupervisãodoprofessordeedu- caçãofísica.Paratanto,opacientedeveráter,alémdoequi- líbrioclínico,aassimilaçãoeaceitaçãodamonitorizaçãodo treinamento. A seleção para esta fase de treinamento deve ser rigorosa, pois, nesta situação, eventual intercorrência temumadifícilrecuperação,tantopelaausênciadavigilân- ciamédicadiretacomopelafaltadeequipamentodeemer- gência. Na liberação da atividade física, sem supervisão médica, o indivíduo não pode apresentar uma ou mais das seguintesvariáveis:grupo A -a)capacidadefuncionalmá- xima<18mldeO2 /kg/min;b)aparecimentodeanginaouou- tramanifestaçãoclínicadeisquemiadomiocárdio;c)infarto extensodomiocárdiocomdanoventricularquereduzaaFE a valores<35%,emrepouso;d)respostahemodinâmicaal- terada ao TE, quer pela redução de 10% na FE como pela quedadaPASemexercício;e)arritmiaventricularcomplexa (classificaçãodeLownIIIeIV)-EV>10batimentosem100 batimentosnormais,EVpolimórfica,taquicardiaventricular (TV)eEVdotipoRT(extra-sístolequeocorresobreaonda T,emfasevulneráveldociclocardíacoparadesenvolvimen- to de arritmia), intervalo QT>0,44s(corrigido);f)paciente comsobrevidaàTVnãoassociadoaoinfartodomiocárdio; g)inabilidadedeautomonitorizaçãoeaderênciaaoexercí- cio; h) obesidade importante; i) HAS refratária; j) diabetes mellitus descompensado;grupo B - ficam liberados para treinamento não supervisionado por médicos os seguintes indivíduos: a) com doença aterosclerótica, coronária está- velapósseismesesdetreinamentosemintercorrênciaclíni- ca; b) com conhecimento do treinamento aeróbio; c) com temperamentoemotivaçãosugerindoaltaprobabilidadede aderênciaaoexercício. Prescriçãodeexercíciopeloprofessordeeducação física -Cabeaoprofessorexplicaraopacienteasdiferenças entre atividade física e esporte. Estes esclarecimentos per- mitem-lhejustificaraescolhadotipodeexercíciomaisade- quado, considerando-se tanto as suas preferências como as suas limitações81 . Na prescrição de exercício, além dos resultados dos exames e do relatório do médico, o professor depende de informaçõesdopacienteparaincluí-loemtrêsgrupospos- síveisdeindivíduos:1)quenuncafezqualquertipodeativi- dadefísica;2)quepraticavaesportes;3)comatividadefísi- ca regular. Para obter as informações necessárias na esco- lha dos procedimentos e na orientação do cliente, a 1ª aula deveser,preferencialmente,exclusiva,parafacilitaraadap- tação do cliente com a equipe profissional, as instalações e osequipamentosdeginástica.Paradeterminaraintensida- deeaduraçãodotreinamentoaeróbio,oprofessordepende do relatório médico e FCT que permitam individualizar os exercícios. Além da 1ª aula, quando os ajustes do tipo ou modo, da intensidade e da duração dos exercícios são esta- belecidos em fichas próprias para o treinamento, a individualizaçãodoprogramaexigeacompanhamentodife- renciadoporumperíodomínimode30dias,afimdeconso- lidar o processo de adaptação do cliente ao programa. A fi- chadetreinamentocomasmedidasfisiológicas,emexercí- cio,easinformaçõesobtidasemcadasessãoproporcionam oselementosnecessáriosparaaatualizaçãodaintensidade e duração do treinamento. O controle da assiduidade cons- titui-se também num meio importante para o acompanha- mentodosefeitosprovocadospeloexercíciofísicoepermi- te“afiscalização”damotivaçãodocliente. Prescriçãodetreinamentoderesistênciaaeróbia -O treinamento de resistência aeróbia é fundamental para o aperfeiçoamentodasfunçõescardiorrespiratórias.Aplica- se este tipo de treinamento de forma contínua ou interva- lada,jádescritoanteriormente. O treinamento contínuo pode ser aplicado segundo o tempoderealização,emexercício,decurta(até10min)média (de10a30min)elonga(acimade30min),duração.Otreina- mentoaeróbiointervaladodeveserindividualizado,estabe- lecendo-seaduraçãototal,níveldeintensidade,númerode repetiçõesparacadaintensidadeeduraçãodecadaintensi- dade. As vantagens do treinamento intervalado, quando comparadocomotreinamentocontínuo,sãotrês:1)permite arealizaçãodemaiortrabalhototal(relaçãocargaetempo) Tabela XI - Escala do esforço percebido de Borg 6 14 7 Muito, muito fácil 15 Cansativo 8 16 9 Muito fácil 17 Muito cansativo 10 18 11 Fácil 19 Muito, muito cansativo 12 20 Exaustivo 13 Ligeiramente cansativo
  • 14. 280 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 quandodesenvolvidocomduraçãoigualaotrabalhocontí- nuo;2)facilitaaadaptaçãodamusculaturaesqueléticapara suportarexercíciosdemaiorintensidade,deformagradativa eperfeitamenteassimilável;3)quebradamonotoniadotrei- namento, por exigir atenção na mudança da intensidade do exercícionosmomentosestabelecidos. PrescriçãodetreinamentodeRML -Osexercíciosde RML são importantes e precisam ser incluídos nas sessões do programa de condicionamento físico visando saúde e qualidadedevida.Osmúsculosresponsáveispelalocomo- ção (membros inferiores), postura, respiração e proteção das vísceras (tronco) e tarefas básicas profissionais e ativi- dadesdelazer(membrossuperioreseinferiores)devemser estimuladoscomexercíciosespecíficosebemdosados.As adaptações fisiológicas da musculatura esquelética e do coração em conseqüência do treinamento de RML depen- dem das seguintes condições: exercícios dinâmicos (isotônicos);cargassubmáximas(poucopeso);númerode séries(mínimotrêsparacadaexercício);númeroderepeti- ções(mínimo15paracadaexercício);duraçãodosintervalos entre cada série (30 a 40s). Os indivíduos sedentários e os portadores de doenças cardiovasculares são encorajados a praticar os exercícios de RML sem apnéia, com respiração cadenciadaeemritmomoderadoparapreservarasarticula- ções.OtreinamentomaisusadodeRMLéotreinamentoem circuitoqueécaracterizadopeladistribuiçãodosexercícios em estações e que pode ser desenvolvido com pesos livres ecomaparelhosepodeseraplicadoemcargaetempofixos. Na reabilitação cardíaca e no treinamento de sedentários é recomendávelocircuitodetempofixo,comduraçãomínima de30sparacadaestaçãoecargas(pesos)leves,porquenão aumentamuitoaPA,melhoraacapilarização,aumentaaefi- ciênciadometabolismoaeróbioeacoordenaçãoneuromus- cular. A aplicação do treinamento em circuito para desen- volvimentodaRML,nareabilitaçãocardíaca,deverespeitar ascondições,paraescolhacorretadosexercícios,conside- rando-se os seguintes aspectos: a) grupos musculares soli- citados; b) grau de dificuldade de execução; c) eventuais problemas ortopédicos que possam comprometer a execu- ção; d) número de estações do circuito composto de no mí- nimo12enomáximo14estações,quecorrespondemàutili- zaçãode15a20mindeumasessãodecondicionamentofísi- co;e)tempodepermanênciadecadaestaçãoserdenomíni- mo 30s para permitir 15 repetições cadenciadas de cada exercício; f) duração dos intervalos entre cada estação no mínimo30sparapermitirarecuperaçãodamusculaturasoli- citada;g)ordemdosexercíciosnasestaçõesdistribuídaal- ternandoosgruposmuscularessolicitadosparaevitarfadi- ga, lesões musculares e articulares; h) cuidados necessári- osparaorientaratécnicacorretadaatividaderespiratóriade execução de cada exercício; i) individualização das cargas detreinamento.Cadacircuitonecessitasermantidoporpe- ríodo mínimo de oito sessões de condicionamento físico, parafacilitaroaprendizadoeoaperfeiçoamentodatécnica de execução. Períodos muito prolongados de execução do mesmocircuitoprovocamfaltademotivaçãoeprejudicam os resultados pretendidos com o treinamento. Prescrição de treinamento de flexibilidade - O trei- namentodeflexibilidadetemcomoobjetivomelhoraramobi- lidade articular e a elasticidade muscular, podendo ser de- senvolvido através de métodos estáticos e dinâmicos. No programa de condicionamento físico para sedentários e na reabilitaçãocardíacaoexercícioestáticopassivo,variação do treinamento de facilitação neuromuscular propriocep- tiva, é o mais recomendado. A facilitação neuromuscular proprioceptivapodeseraplicadaemcombinaçãocomcon- trações isométricas dos músculos agonistas e antagonis- tas, somente dos antagonistas ou sem contrações isomé- tricas (somente alongamento passivo). A atividade física emquestãotemcomoobjetivoaumentaraelasticidademus- culareamobilidadearticularatravésdatentativadeneutra- lizaçãodoreflexomiotáticopelafadigamuscularparaobten- çãodemaiorgraudeamplitudedemovimento. Alongamento - Para aplicar o alongamento passivo nas sessões de ginástica o professor necessita selecionar exercíciosdefácilexecuçãoerespeitaraslimitaçõesindivi- duais. O treinamento deve ser em ambiente tranqüilo, com música agradável, combinando técnicas de relaxamento e respiraçãoparafacilitaraconcentraçãodosalunos.Osexer- cícios de alongamento ajudam a reduzir a tensão muscular desnecessária,atenuamasdoreslombares,melhoramapos- tura,aconsciênciacorporaleacapacidadededesempenho detarefasprofissionaisedelazer.Pelassuascaracterísticas, a etapa de alongamento deve ser a última de uma sessão de treinamentoporquefacilitaarecuperaçãoapósosexercíci- os aeróbios e de RML. Tabela XII - Determinação da FCT, segundo a faixa etária Correspondência entre os valores percentuais do consumo máximo de oxigê- nio e da freqüência cardíaca máxima sugeridas para indivíduos normais e cardiopatas. Para cada faixa etária observa-se o valor mínimo da freqüência cardíaca, em bpm em batimento por 15s, e do consumo máximo de oxigênio, ml.kg/minuto, de acordo à faixa escolhida para o treinamento. Por exemplo, com indivíduo de 50 anos, com orientação para realizar exercício na faixa aproxima- da de 60% do consumo máximo de oxigênio ou 72% da freqüência cardíaca máxima, encontra-se valores de 128bpm ou 32 batimentos/15s V02 Máx. % FC Máx. Idade % 30 40 50 60 70 80 90 100 51 58 64 72 79 86 92 100 20 30 40 50 60 70 104 116 128 144 160 172 184 200 26 29 32 36 40 43 46 50 100 112 124 140 152 164 176 192 25 28 31 35 38 41 44 48 96 108 120 132 148 159 168 185 24 27 30 33 37 40 42 46 92 104 116 128 140 152 164 176 23 26 29 32 35 38 41 44 88 100 112 124 136 148 160 172 22 25 28 31 34 37 40 43 84 96 104 116 128 140 148 164 21 24 26 29 32 35 37 41 Modificado por Fox
  • 15. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 281 AderênciaaoprogramadeRCV -Comasfacilidades proporcionadaspeloavançodatecnologiaeaconseqüente diminuiçãodoesforçofísico,avidasedentáriapassouaser sinônimodequalidadedevida,transformando-senumgran- de obstáculo, para início e manutenção das pessoas na ati- vidadefísicaregular. Pelaexperiênciaadquiridanacoordenaçãodecondici- onamentofísicoemmaisdeduasdécadasnaRCVpermite- se apontar a aderência como a principal razão do sucesso ou insucesso da atividade física. Os três fatores básicos responsáveis pela aderência no programa são: confiabili- dade,competênciaeimpatiadoclientecomaequipemulti- profissional. Reabilitaçãocardiovascularfasecrônicana cardiopatiaisquêmica Osníveisestabelecidosdeexercíciosnãodemandam grande intensidade, sendo que um gasto energético equi- valente a 2000 KCAL/ semana, divididos em três ou cinco dias,jáproduziráosefeitosdesejados,desdequemantidos por tempo prolongado9,82-84 . Quando a doença coronária é abordada, admite-se que os mecanismos desencadeados pela RCV que promovem a prevenção da doença, podem ser:a)aumentodaofertadeoxigênioaomiocárdio,principal- mente às custas da elevação do fluxo de perfusão miocár- dica, da redução da agregação das plaquetas, do aumento dafibrinóliseedareduçãodaadiposidade;b)menorconsu- modeoxigêniomiocárdicoematividadessubmáximasatra- vés da redução da FC, PAS e dos níveis de catecolaminas, comaumentodolimiardeisquemiaeangina;c)reduçãoda pós-cargaefatores,quepossibilitamamelhoradafunçãodo miocárdio,comoosaumentosdacontratilidademiocárdica edaFEnoexercícioeemrepouso;d)maiorestabilidadeelé- trica do miocárdio devida à redução das catecolaminas em repouso e em exercícios submáximos, aumento do tônus vagalquefavoreceumamelhormodulaçãoautonômicado coraçãoeaumentodolimiardefibrilaçãoventricular.Oobje- tivomaiordosprogramasdeRCVnaDACépermitiroretor- nomaisbreveàvidaprodutivaeativapelomaiorperíodode tempopossível,adespeitodepossíveislimitaçõesimpostas pelo seu processo patológico. Visualizam-se ainda outros objetivosnaRCV,como:a)alongoprazo,estabilizaroure- verteroprocessoaterosclerótico;b)reduziramorbi-morta- lidadecardiovascular,melhorarasintomatologiadeangina de peito e as manifestações clínicas de disfunção ventri- cularesquerda;c)estimularareadaptaçãosocial,reduzindo oueliminandoaansiedadeedepressãoquepodemacompa- nhar os pacientes após um evento coronário; d) educar o paciente sobre sua doença, discutindo sobre as possíveis intercorrências e demonstrando-lhe a probabilidade da in- terferência favorável dessas medidas preventivas na sua evolução;aRCVnacardiopatiaisquêmicaéclassicamente divididaemquatrofases:faseI-compreendeaRCVdurante a fase aguda do evento cardíaco, no período de internação hospitalar;fase II - constitui-se na fase de convalescência, emambientedomiciliar,atéqueascondiçõesclínicaspermi- tamarealizaçãodoTEemprotocoloshabituais,queocorre entre a 6ª e 8ª semana (fases já abordadas no Consenso Na- cional do Infarto do Miocárdio)82 ; fase III - compreende a denominadareabilitaçãoemfasecrônica,apartirdo3ºmês pós evento, que objetiva alcançar e manter os efeitos fisio- lógicos da RCV e com graus variáveis de supervisão, até quesurjamascondiçõesparaaintegraçãodospacientesem grupos de reabilitação não supervisionados (fase IV). O processo de inclusão e a sua classificação em classes A, B,CeDjáestãoexpressosnoítem“Indicações,benefícios, riscos,contra-indicaçõeseemergência”. Tabela XIII - Freqüência cardíaca de treinamento e as variáveis clínicas Variável Conduta 1. Angina de peito a) liberação em FCT, abaixo do limiar de angina se necessário, com nitrato sublingual (temporário); b) reteste com nitrato sublingual para avaliação da FCT, abaixo do limiar de angina. 2. Duplo produto -2 <280 libera-se 3. Pressão arterial diastólica <105mmHg libera-se 4. Pressão arterial sistólica <200mmHg libera-se Tabela XIV - Variáveis eletrocardiográficas e a freqüência cardíaca de treinamento (FCT) Desnível ST Valor(mm) Derivações Conduta 1. Infra < - 2,0 CM5 Libera-se 2. Infra > - 2,0 CM5 Com nitrato sublingual quando atingir o equilíbrio (1) ou (3) 3. Infra > - 2,0 CM5 Reteste com nitrato sublingual, para determinação FCT = ST < - 2,0mm 4. Supra > + 1,0 V1 , V2 , V3 Sem IM prévio, avaliação minuciosa (lesão subepicárdica 5. Supra > + 1,0 V1 , V2 , V3 Com IM prévio, libera-se 6. Supra > + 1,0 V1 , V2 , V3, CM5 Com IM prévio, avaliação minuciosa (aneurisma ventricular) 7. Onda U Negativa Qualquer derivação Avaliação minuciosa (isquemia de parede anterior) 8. Arritmia não controlada Controle medicamentoso prévio Confiabilidade Competência Aderência Empatia w
  • 16. 282 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 Os subgrupos de coronariopatas submetidos à revas- cularizaçãomiocárdica,angioplastiatransluminalcoronária e outros procedimentos intervencionistas vêm sendo pro- gressivamenteincorporadosaosprogramasformaisderea- bilitaçãocardíaca,apresentandoosmesmosbenefíciosfisi- ológicos.Dopontodevistaprático,algumasparticularida- des devem ser ressaltadas nestas situações específicas. Nospacientesrevascularizadosdeve-seadequarosexercí- cios,emfaseinicial,àscondiçõesdacicatrizaçãocirúrgica dotóraxedosmembrosinferiores.Modificaçõessignifica- tivasnocomportamentofisiológicoouclínicoaoexercício físico, como por exemplo, sinais eletrocardiográficos de isquemiaouprecordialgiaemníveldeesforçopreviamente tolerado, devem ser prontamente reavaliadas. A aderência ao programa de atividade física, no paciente pós-angio- plastia coronária, não parece mudar a incidência de reeste- nose, mas possibilita avaliações médicas mais freqüentes comacompanhamentodasrespostasfisiológicaseclínicas (monitorizadas)duranteoexercíciofísico,permitindo rápi- da e objetiva identificação da eventual presença de reeste- nose. Estes dois subgrupos, quando bem sucedidos em seusprocedimentosesepossuidoresdeTEsemevidências deisquemiamiocárdicaeecocardiogramanormal,podemser liberadosapóstrêsa12mesesparaexercícionãosupervisi- onado 21 . Embora, no passado, houvesse contra-indicação formalaoexercíciofísicoparapacientescominfartoprévio do miocárdio e disfunção ventricular esquerda, desde que criteriosamenteselecionados,podemevidenciarbenefícios fisiológicossignificativos,notadamenteaoníveldeadaptação vascularperiféricaedamusculaturaesquelética,dessespacientes. ReavaliaçãodosprogramasdeRCVnacardiopatia isquêmica -AospacientesdogrupoB,sugerem-secontro- le clínico com realização de TE e avaliação laboratorial, a princípiono6ºmêsdoprogramaeaseguiracada12meses. Naeventualmodificaçãodoquadroclínico,aqualquermo- mento. Aos pertencentes ao grupo C, indica-se acompa- nhamento com supervisão médica constante, sendo os TE programadosacadatrêsouseismesesnoseuinícioeseisa 12mesesnaseqüênciadoprograma.Estasavaliaçõesperi- ódicas objetivam, fundamentalmente, acompanhar estado evolutivo da doença de base e os resultados dos procedi- mentosterapêuticosedaRCV. Atividadeesportivaparaocoronariopatacrônicoes- tável - Adecisãosobrealiberaçãoparaaatividadedespor- tivaemníveldeFCTnaDACébaseadanaavaliaçãoclínica e exames complementares, objetivando-se a estratificação do risco. Assim, segundo a classificação pelos níveis de risco (ítem “Indicações, benefícios, riscos, contra-indica- çõeseemergência”),sãoliberadosparaapráticadeativida- de esportiva apenas os pacientes que se enquadrem na classeA,ouseja,pacientesdebaixorisco,comfunçãoven- tricular em repouso conservada, sem isquemia ou arritmia ventricular complexa no TE e capacidade física>25ml.kg/ min.paraaidadeatéde50anos,>21ml.kg/min.entre50e65 anos,>17,5ml.kg/min.paraindivíduos>65anos.Ospacien- tes com doença coronária em práticas desportivas necessi- tam ser reavaliados de seis a 12 meses ou, a qualquer mo- mento, em caso de necessidade clínica. Reabilitaçãocardiovascularnahipertensão arterialsistêmica Ainda não se conhecem todos os mecanismos que participam da gênese e manutenção da PA elevada na HA primária. A fisiopatologia envolve duas variáveis básicas: fluxosangüíneosistêmicototal(DC)eresistênciaoferecida pelos vasos sangüíneos periféricos (resistência vascular periférica)85,86 .AindagaçãosobreoefeitoredutornaPAde indivíduosnormotensose,principalmentehipertensos,pela atividade física, tem motivado trabalhos científicos há três décadas 86-88 . Na maioria dos achados demonstrou-se tal objetivo, apesar das diferenças metodológicas quanto ao grau, tipo e duração dos exercícios. A redução da PAD em repouso, após treinamento, foi a variável mais freqüen- temente procurada. Este efeito, desde que observada a ati- vidade física recomendada, oscilou em torno de 10mmHg, ocorrendotambémemportadoresdehipertensãosecundá- ria.OIIConsensoBrasileiroparaoTratamentodaHiperten- são Arterial, em 1994 88 das Sociedades Brasileiras de Cardiologia, Hipertensão e Nefrologia, considerou que os programasdeatividadefísicadevemserestimuladoscomo tratamento não farmacológico ou coadjuvante da HA. Nas recomendaçõesdaliteraturasobreaprescriçãodeexercíci- os 89-94) , existe consenso de que a atividade física em indi- víduoscomHAdevesermoderadaecomcomponenteisotô- nicopredominante.Ocomponenteisométricodepequenamag- nitude,apenas,onecessárionacomplementaçãodoesforço. Nas referências bibliográficas predominam os dados que evidenciam a possibilidade de tratamento da HA leve (PADentre90e105mmHg),associando-seosexercícioscom mudanças nos hábitos higieno-dietéticos. Os aspectos peculiares na prescrição de exercício, na HAsão:1)exercíciosregulares,predominantementeisotô- nicos,commobilizaçãorítmicadegrandesmassasmuscula- res, como a marcha e corrida (pacientes mais condiciona- dos). Estimular a prática moderada de outras atividades, comoociclismoeanatação;2)aliberação,semmedicação prévia,somenteparaospacientesqueapresentemníveisde PAD entre 90 a 105mmHg e sem lesão em órgão alvo; 3) é aconselhadoaopacientecomPAD>110mmHg,submeter- se a condicionamento físico e concomitante a tratamento farmacológico e sob supervisão médica; 4) o nível da PAS serámantida,preferencialmente,<200mmHg,duranteaati- vidadefísica;5)oníveldeduploproduto(PASemmmHgx FCbpmx10-2 deverá ser<280;6)manutençãodopaciente, assintomático durante o treinamento físico. Reabilitaçãocardiovascularempacientes especiais na fase crônica da sua evolução Insuficiênciacardíacacongestiva95-101 -Característi- cas desejáveis do protocolo dos programas de treinamento
  • 17. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 283 em portadores de insuficiência cardíaca congestiva (ICC): prescrição individualizada calculada com base no teste ergométricoconvencionale,seviável,naergoespirometria; avaliação das arritmias pela eletrocardiografia dinâmica; programas com supervisão direta monitorização dos paci- entes de alto risco; intensidade de exercício prescrita entre 30a50%doVO2 maxou51a60%daFCmáximaatingida; freqüênciadetrêsacincovezessessõesporsemana;inclu- são de treinamento isométrico de pequena magnitude nos indivíduos normotensos; períodos de aquecimento e desaquecimentomaisprolongados;reavaliaçõesiniciaisem intervalosdetrêsaseismesesedeseisa12mesesnoacom- panhamento evolutivo. Efeitos do treinamento físico nos portadores de ICC: melhora progressiva da tolerância ao esforço; aumento do limiar anaeróbio; redução dos níveis delactatovenosoemesforçosubmáximo;reduçãodaFCem repouso e esforço submáximo; ausência de modificações expressivas nas medidas de fluxo sangüíneo, resistência vascular,diferençaarteriovenosadeO2 ,FE,volumeseanor- malidadesdemovimentaçãodeparedesdoVE;aumentoda capacidadeoxidativadamusculaturaesquelética. Reabilitação cardíaca nas cardiopatias congêni- tas 95,96,100-102 - As respostas ao exercício físico nas cardio- patias congênitas dependem da fisiopatologia. A correta prescrição do programa de reabilitação implica em indivi- dualizaçãodetodasasmanifestaçõesdacardiopatiacongê- nita, como cianose, hipertensão pulmonar, obstruções ao fluxo e comunicações intercavitárias. Nos casos submeti- dosatratamentocirúrgicoe/ouintervencionistainvasivo,a atençãodeveestarvoltadaparaasanormalidadesremanes- centes.Cardiopatias congênitas mais comuns: a) comu- nicação interatrial na ausência de hipertensão pulmonar, arritmias associadas, disfunção ventricular e redução de capacidade funcional: não há restrição a qualquer tipo de atividade física. Em caso de correção intervencionista ou cirúrgicaaguardarseismeses,comportando-se,apóscomo nosindivíduosnormais.Ocorrendoanormalidadesresidu- ais tornam-se necessárias avaliação e conduta individuali- zadas,comoporexemplo,noscasosdehipertensãopulmo- nar e disfunção ventricular; b) comunicação interven- tricular (CIV)-osportadoresdeCIVpequenacomcoração detamanhonormalepressãonormalnaartériapulmonar:li- beraçãoparaqualqueratividadefísica.NaCIVmoderadaou grande com PA pulmonar normal, os dados decisivos refe- rem-se à intensidade doshunt e à resistência vascular pul- monar.SeaPApulmonarsistólicafor<40mmHgliberarpara qualqueratividade,semaiorrequerprescriçãoindividuali- zada.ApósacorreçãocirúrgicadaCIV,aguardarseismeses paraoiníciodeatividadefísicanãosupervisionada,deacor- do com a repercussão dos achados residuais; c)canal arte- rial pérvio são válidos os critérios aplicados para CIV em relação à presença ou ausência de repercussão hemodi- nâmicaetratamentocorretivo;d)estenosepulmonarvalvar a condição pré e pós-cirurgia, na presença de gradiente sistólicodepico<50mmHgesemsintomasnãorepresenta restrição,enquantoquegradientes>50mmHgtêmsomente possibilidade para realização de atividades específicas se- gundo a conferência de Bethesda 103 ; e) estenose aórtica valvar a presença de sintomas relacionados com o exercí- cio(fadiga,tonturas,síncope,dortorácicaepalidez)associ- am-secomfreqüênciaàmortesúbita.EAdegrauleve,gra- diente em repouso <20mmHg, assintomática, com eletrocardiograma(ECG)normalemrepousoeemexercício, ausênciadehipertrofiaventricularedearritmiascomplexas, semrestrição.NaEAdegraumoderado,gradienteentre20e 50mmHg, ECG e TE normal, ausência de hipertrofia ventricularedesintomas,ficampermitidasasatividadesde intensidade leve ou até mesmo moderada, dependendo do caso. No entanto, as lesões graves contra-indicam formal- mentearealizaçãodeatividadefísica.Apóscirurgiacorreti- vaouvalvuloplastiaporbalão,aplicam-seosmesmoscrité- rios para eventuais alterações residuais; f)coarctação da aortaquandodegrauleve,semgrandesvasoscolateraisou dilatação severa do arco aórtico, TE normal e gradiente sistólicodaPAentrebraçoeperna,emrepouso,<20mmHg epressãodepicodeesforço<220mmHg,prescriçãodoexer- cício:semrestrições,nacondiçãodogradienteentreobraço e perna >20mmHg ou a pressão no pico do esforço >220mmHg, liberação apenas para atividades de baixa in- tensidade. Após correção aplicam-se as orientações prévi- as,comliberaçãoapósseismesesparaatividadescompeti- tivas, exceto levantamento de pesos; g) cardiopatias con- gênitas cianóticas nas fases pré e pós cirurgia paliativa a prescriçãodeatividadedebaixacargaépermitidaquandoa saturação de O2 arterial persiste >80%, na ausência de arritmiascomplexasesintomasdedisfunçãoventricular;h) tetralogia de Fallot após a correção cirúrgica na presença de anormalidades residuais, como: na presença deshunt de direita para esquerda, regurgitação pulmonar moderada a grave ou disfunção do ventrículo direito (VD) e história de síncopeouarritmiaventricular;exercícioestáproscrito,pelo altoriscodemortesúbita.Aatividadefísicapoderáserper- mitida nos casos com bom resultado cirúrgico e pressões normais em câmaras direitas, leve sobrecarga volumétrica doVD,TEnormaleausênciadearritmiasaoHolter.Reco- menda-seatividadefísicadebaixaintensidadenapresença deregurgitaçãopulmonarimportante,hipertensãosistólica de pico>50%dapressãosistêmicanoVDearritmiascom- plexas; i)transposição corrigida dos grandes vasosavali- açõesperiódicassãofundamentaisparaoacompanhamen- todafunçãoventriculardireita(ventrículosistêmico),even- tual presença de regurgitação tricúspide (válvula AV sistêmica)ouarritmia.Apósseismesesdacorreçãocirúrgi- ca,semalteraçõesresiduais,épossívelliberaçãodaativida- de física, evitando-se exercícios que envolvam grande componenteestático;j)anomaliadeEbsteinnainsuficiência tricúspidedegrauleve,naausênciadecianoseedearritmias, comcoraçãodetamanhonormal,libera-seaatividadefísica. Nainsuficiênciavalvardegraumoderadoépermitidaaati- vidadedebaixaintensidade,sendoproibidanalesãograve. Apósacorreçãocirúrgicaaatividadefísicaédependentedo grauderegurgitaçãotricúspideedotamanhodocoração;l) síndromedeMarfan-osindivíduossemhistóriafamiliarde
  • 18. 284 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 morte súbita, sem evidências de dilatação do arco aórtico e regurgitaçãomitral,podemteratividadefísicacomenvolvi- mentodeexercíciodebaixoamoderadocomponenteestáti- co.Ocorrendodilataçãodoarcoaórtico,somenteépermiti- daatividadedebaixaintensidade,semcontatocorporal;m) anomalias coronárias congênitas - a origem anômala da artéria coronária esquerda, saindo do tronco da artéria pul- monar e da artéria coronária direita, iniciando-se no seio coronário esquerdo, assim como as artérias hipoplásicas, constituem-se em contra-indicação à pratica de qualquer atividadefísica.Apósacorreçãocirúrgica,aatividadefica dependente da ausência de isquemia no TE. Reabilitaçãocardíacanascardiopatiasvalvulares adquiridas95,96,100,101,104,105 - Estenosemitral(EM)- Osindi- víduos em ritmo sinusal e EM leve podem realizar ativida- desfísicassemrestrições.NapresençadeEMleveassocia- da à fibrilação atrial, de EM moderada com ritmo sinusal e EMcomPApulmonardepico<50mmHgestãoliberadasas atividadesfísicasdebaixaamoderadaintensidadeestática e dinâmica. Indivíduos com EM moderada associada à fibrilaçãoatrialouritmosinusalalémdePApulmonardepico de50a80mmHg,devemestarlimitadosàsatividadesdebai- xaamoderadaintensidadeestática,baixaintensidadedinâ- mica. O portador de EM grave, tanto ritmo sinusal quanto em fibrilação atrial ou naqueles com PA pulmonar >80 mmHg,devemestarrestriçãoabsoluta.Ressalta-seaneces- sidade de evitar atividades de contato corporal direto, em pacientes em uso de anticoagulante. Insuficiência mitral (IM) -Os portadores de IM com ritmosinusaleVEdetamanhoefunçãonormais,emrepou- soeemexercício:estãoliberadosparatodasatividadesfísi- cas. Na presença de ritmo sinusal ou fibrilação atrial com aumentolevedoVEefunçãoventricularnormal,recomen- dam-seatividadesdeintensidadebaixaamoderada,estática edinâmica.OspacientescomIMcomdisfunçãodoVEem repousotêmproibiçãoparaexercíciosfísicos. Estenose aórtica-Valvulopatiadeevoluçãoprogres- siva necessitando de freqüentes reavaliações. Os portado- res de EA de grau leve (gradiente <30mmHg pelo eco- dopplercardiograma) e assintomáticos são liberados para qualqueratividadefísica.Entretanto,ahistóriadesíncope, mesmocomEAleve,impõeumaavaliaçãocuidadosa,com ênfasenasarritmiasinduzidaspeloesforço.Pacientescom estenose leve sintomática, exceto síncope, ou moderada podem realizar atividades físicas de baixo nível de intensi- dadeestáticaedinâmicasempreorientadaspeloTE.Napre- sençadeEAgraveouEAmoderadasintomáticaficamcon- tra-indicadas as atividades físicas. Insuficiência aórtica (IA) - A IA leve ou moderada comVEnormaloulevementeaumentadopermitealibera- ção do paciente após avaliação clínica, ecocardiográfica e eletrocardiografiadeesforço.NaIAcomaumentomodera- do do VE podem ser realizados para atividades físicas de baixoemoderadodecomponenteestático,comliberaçãode exercíciospredominantementedinâmicos.Ospacientesque apresentam aumento progressivo do tamanho do VE, em avaliaçõesseriadaspeloecocardiograma,devemterrestri- çõesnaatividadefísica.Osindivíduoscomdiagnósticoclí- nico e ecocardiográfico de IA leve a moderada e arritmias ventricularesemrepousoouesforçodevemexercitar-seape- nasematividadefísicadebaixoníveldinâmico.AIAdedife- rentes graus variados associada à acentuada dilatação da aorta ascendente tornam proibitivas as atividades físicas. Insuficiênciatricúspide-Desdequeosníveisdapres- sãoemátriodireitoestejam<20mmHg;comtamanhoePAS doVDnormais,ficamliberadosospacientesparaasativida- des físicas. Prolapso da válvula mitral -Os pacientes com pro- lapsodevalvamitralehistóriafamiliardemortesúbitaasso- ciada à síncope por arritmia, formas repetitivas de taqui- cardiassupraventriculares,arritmiasventricularescomple- xas,IMmoderadaousevera,episódioembólicoprévio,po- derãoserliberadosparaasatividadesfísicasdebaixainten- sidade. Nas alterações hemodinâmicas relacionadas à IM, aplicam-se os critérios específicos já apresentados para os diferentes graus da IM. Reabilitaçãocardíacapóstransplantecardíaco-Os pacientes em pós-operatório de transplante cardíaco têm característicaspeculiaresmarcantes,relacionadasaalguns fatores da doença de base, ao nível prévio de capacidade funcional, e ao uso de medicação imunossupressora, espe- cialmente os corticosteróides. A resposta ao exercício de- pendente destes fatores será bastante diversa das encon- tradas em indivíduos normais e outras doenças cardíacas. Quando a cardiopatia de base é de etiologia isquêmica, podepermanecerumacapacidadeaeróbiamelhordoqueos transplantados por cardiomiopatia, pois o intervalo entre o início da doença e o transplante cardíaco é geralmente me- nor. As repostas ao exercício do coração transplantado so- fremaindainfluências,como:a)tempodecorridoentreare- tirada do órgão e o implante no doador (isquemia e reper- fusão); b) desproporção entre o tamanho do coração doa- dor e superfície corporal do receptor, resultando em eleva- ção de pressão sobre o coração; c) necrose dos miócitos comoresultadodosepisódiosderejeiçãoaguda;d)doença obstrutivaarterialcoronária;e)denervaçãodocoraçãodo- ador quer reduzindo a função cardíaca em repouso ou em esforço. As principais respostas cardiorrespiratórias e me- tabólicas evidenciadas em repouso e exercício, após o transplante cardíaco referem-se: FC de repouso elevada; retardo na elevação da FC em fases iniciais de exercício; menor FC no pico do exercício; retardo na recuperação da FCapósoexercício;FEdiminuídadosVDeVE,emrepouso eexercício;DCdiminuídoemexercício;diferençaarterio- venosadeoxigênioaumentadaemexercício;consumomáxi- modeoxigêniodiminuído;cinéticadoconsumomáximode oxigênioalteradaduranteoexercício;volumesistólicodimi- nuídonoexercício;limiaranaeróbioreduzido;elevaçãodo lactato sangüíneo no repouso e em exercício; equivalentes ventilatóriosdeoxigênioegáscarbônicoelevadosnoexercí- cio;PADfinaldoVEelevadanoexercício;pressõesdeátrio
  • 19. Arq Bras Cardiol volume 69, (nº 4), 1997 I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular 285 direito e capilar pulmonar elevadas no exercício; volume sistólicoediastólicofinaisdoVEaumentadosnoexercício. As principais respostas ao programa de RCV no pós transplante cardíaco são: redução da FC de repouso e de exercíciosubmáximo;aumentodaFCdeexercíciomáximo; aumentodoconsumomáximodeoxigênio;aumentodolimi- ar anaeróbio; aumento da ventilação máxima; redução dos equivalentes ventilatórios de oxigênio e gás carbônico no exercíciosubmáximo;retardonaelevaçãodolactatoduran- teoexercício;diminuiçãodosníveissistólicosediastólicos da PA no repouso e no exercício submáximo; aumento da PASereduçãodaPADnoexercíciomáximo;assimcomoos benefícios potenciais de melhora da tolerância ao esforço, da composição corporal, do perfil lipídico e da vida psicossocial. Reabilitação cardíaca em portadores de marca- passo95,96,100,101,106 -Aterapêuticapelacardioestimulaçãoar- tificialporimplantedemarcapassosobjetivaprocurarame- lhor resposta da FC adequando às necessidades fisiológi- cas no repouso e no exercício. O TE é a metodologia de es- colha para se determinar a FC de treinamento, através da ergoespirometria,adeterminaçãodolimiaranaeróbio,quese torna imprescindível quando o marcapasso é de FC fixa. Quando não se dispõe da medida direta de gases respirató- rios,adeterminaçãodoníveldotreinamentopodeserobti- do pelo nível de pressão arterial sistólica de treinamento (PAST),queéderivadadefórmuladeKarvonen75 : PAST= (PASmáx-PASderepouso)x(0,6a0,8)+PASderepouso. Reabilitaçãocardiovascularempacientes comassociaçõesclínicasquenecessitamde cuidadosespeciais Reabilitaçãocardíacaegravidez -Asmodificações queocorremnoaparelhocardiovascularnagravidezdesti- nam-seaprovermaioraportedeoxigênioealimentos,com- pensando assim, a demanda aumentada nessa situação. As principais modificações incluem um aumento do DC e do volume circulante já nas primeiras semanas e que atinge o seu pico ao redor do 2º trimestre. Este aumento, em ambos osíndices,édaordemde40a50%.Àmulhernormalépermi- tido exercer suas atividades habituais, sendo que no mo- mentoatualéamplamenteaceitaapráticadeexercíciosfísi- cos regulares dentro do seu nível de equilíbrio como útil paraapreparaçãodopartoeparaevitarareduçãodacapaci- dadefuncionalduranteagravidez.Entretanto,asmodifica- çõesfisiológicosqueocorremnestacondiçãoequelevama umaumentosignificativodotrabalhocardíacoemrepouso, impedemqueseprescrevaexercíciosregularesdeumafor- ma geral às cardiopatas grávidas. Reabilitaçãocardiovascularediabetesmellitus-A prescriçãodeexercíciosprogramadosnodiabéticomelhora oseudesempenhofrenteaoesforço,assimcomoometabo- lismo da glicose e a sensibilidade à insulina. A presença de complicaçõesclínicascomomicroangiopatias,neuropatia periférica,retinopatia,doençacoronária,insuficiênciarenal edisfunçãodosistemanervosoautônomoafetademaneira direta a resposta ao exercício, podendo se exteriorizar por taquicardia de repouso, alterações posturais da PAe isque- miasilenciosadomiocárdio.Amaiorincidênciadedoença aterosclerótica nos diabéticos pode também interferir na evoluçãonosprogramasdereabilitação,comatençãoespe- cial pela associação freqüente com doença arterial ateros- cleróticacoronáriaecerebral. Diabetes insulino dependente ou tipo I- O esquema terapêuticodemúltiplasdosesdeinsulina,baseadonoajus- tedeingestãocalóricaeníveisdeglicemia,temsemostrado efetivoparaocontroleglicêmico.Entretanto,fatorescomo temperaturacorpóreaefluxosangüíneodamusculaturaem exercíciopodemalteraraabsorçãodeinsulina,recomendan- do-se, por isto, a região abdominal como local preferido paraadministração.Quadrosdehipoglicemiaaté12hapóso treinamento,incluindohipoglicemianoturna,podemocorrer em função do exercício. As seguintes recomendações de- vem ser feitas a este grupo de pacientes: dosar mais fre- qüentementeaglicemianoiníciodoprograma,ingerircar- boidratosanteseduranteexercíciosmaisprolongados,evi- tar a prática de exercícios desacompanhados ou em horári- osdepicodeatividadeinsulínica,alémdeaprenderareco- nhecer sinais e sintomas de hipoglicemia. Na presença de neuropatiaperiféricaealteraçõesdasensibilidade,precau- ções especiais devem ser levadas em consideração, com adequada proteção e higiene dos pés, pela possibilidade de traumatismo e posterior infecção de membros inferiores. Nos portadores de neuropatia autonômica insuficiência cronotrópica,aprescriçãodosexercíciosbaseadanaFCpode serinadequada.Aavaliaçãoergoespirométricacomdetermi- naçãodiretadoVO2 max,éasoluçãoparadeterminaraFCT. Diabetes tipo II ou não insulino dependente - Estes pacientesapresentamusualmentemenorcapacidadefuncio- nal que as populações não diabéticas. A RCV influi neste gruponareduçãodosníveisdeglicemiaemjejumepodeatu- ar como coadjuvante de tratamento de eventual obesidade. Ajustes de hipoglicemiantes orais são necessários frente a modificaçõesdosníveisglicêmicosemfunçãodoexercício, observando-searecomendaçãoclínicaquantoàingestãode carboidratos antes do treinamento. Quando há utilização complementardeinsulina,deve-seseguirasmesmasorienta- ções sugeridas aos diabéticos insulino dependentes. Reabilitaçãocardíacaedoençapulmonar-Areabilita- çãodopneumopatacrônicojáestápreconizadaesistemati- zadaemnossomeioeobjetivamelhoraraqualidadedevida, especialmente de portadores de enfisema pulmonar, bron- quite crônica e asma perene, a despeito de doentes com ou- trascondiçõesclínicastambémdelapoderemsebeneficiar107 . Osindivíduoscomgraumoderadodeacometimentosãoos queapresentammelhoramaisacentuada.Entretanto,aexis- tência de doença cardíaca concomitante é um complicador paraasuarealização.Poroutrolado,seusprincípiosnãopo- dem ser esquecidos quando um cardiopata que necessita