O documento discute os desafios da educação inclusiva de surdos e cegos no Brasil. A educação de surdos em escolas regulares nem sempre funciona bem, com alunos desmotivados e com dificuldades de aprendizagem. A maioria dos cegos brasileiros é analfabeta e falta infraestrutura acessível, como calçadas e transporte público.
3. Políticas de inclusão têm tentado corrigir questões
históricas no ensino de surdos no Brasil.
Excluídos durante muito tempo do processo educativo
tradicional, eles começaram, nos últimos anos, a
compartilhar as salas com ouvintes em algumas escolas do
País.
Contudo, a existência de classes mistas, vista como
alternativa para integrar crianças e jovens surdos à
comunidade, nem sempre funciona. Há relatos negativos,
de alunos desmotivados, com dificuldade de aprendizagem
e inseridos em ambientes sem infraestrutura adequada.
No Dia Nacional da Educação de Surdos, o Terra ouviu
relatos que reforçam esse cenário.
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5. Mãe de uma deficiente auditiva, Hozana Rios Dias acredita
que os alunos surdos não deveriam dividir atenções com
colegas ouvintes. Na classe de sua filha Inara, de 19 anos,
há outros três surdos.
"Ela não consegue acompanhar. Mesmo com intérprete, tem
dificuldade em compreender a matéria, pois seu ritmo é
diferente do das outras crianças", diz. A jovem frequenta a
Escola Municipal Marília Carneiro, em Goiânia, desde os três
anos, quando estudava em uma sala só para crianças
surdas.
Dois anos depois, foi para a aula tradicional. Hoje, no 8º ano,
Hozana defende o retorno de classes especiais para surdos
e planeja matricular a filha no Centro Especial Elyisio
Campos, escola mantida pela Associação de Surdos de
Goiânia, que trabalha a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
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7. A psicopedagoga Eloisa Lima faz coro à opinião da mãe de
Inara. Mestre em neurolinguística pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), ela firma que, quando se trata de
aprendizagem, a surdez é a mais complexa entre as
deficiências.
"O surdo acaba não desenvolvendo também a fala, porque
ele não ouve e perde essa base. Isso não acontece com o
cego, por exemplo". A especialista explica que deficientes
auditivos precisam ser estimulados por outros sentidos,
como a visão e o tato.
. "Se a professora dá uma aula expositiva sem mostrar
objetos e componentes do conteúdo, é prejudicial para o
aluno ouvinte. Para o surdo é muitas vezes pior", garante.
10. Estudo da UnB aponta que 74% dos mais de 500 mil cegos
do País ainda são analfabetos; outro problema é a falta de
ações que garantam a acessibilidade em espaços públicos.
De acordo com dados do último censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem
506 mil cegos. O Paraná possui a sexta maior população
de pessoas que não conseguem “enxergar de modo
algum”, de acordo com o estudo. São 26.155 pessoas
nesta condição. O ranking é liderado por São Paulo, com
0,35%, seguido pelo Rio de Janeiro (0,33%); Ceará (0,29%);
Rio Grande do Sul (0,27%) e Distrito Federal (0,25%).
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12. Mesmo com avanços nas últimas décadas, especialistas
relatam muitos problemas que precisam ser superados.
Um ponto ainda distante para os cegos é o acesso
fundamental à educação.
De acordo com estudo científico da Universidade de
Brasília (UnB), a maioria dos cegos do Brasil (74%) é
analfabeta, incluindo os que não sabem ler em braille, ou
outro método, e os que não possuem certificação escolar.
Por outro lado, 13% concluíram o ensino médio e 11% os
ensinos básicos e fundamental.
Apenas 2% concluem a graduação ou algum tipo de pós-
graduação. Segundo o Núcleo de Acessibilidade (NAC) da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), não há um cego
sequer nos cursos de graduação da instituição.
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14. A falta de infraestrutura é outro grande entrave para a
acessibilidade. Prédios não adaptados, calçadas deterioradas,
falta de piso tátil, informações precárias em sistema de
transporte.
A lista de reclamações é grande e os problemas, comuns quase
que a todas as cidades. Enquanto em Londrina o professor
Junio César Alonso, de 43 anos, se queixa da quantidade
insuficiente de piso tátil e da falta de conscientização da
população, a indignação do diretor da Associação dos
Deficientes Visuais do Paraná (Adevipar) Gastão Junior Voltas,
de 32 anos, é que o sistema de áudio dos ônibus de Curitiba
apenas emite o alerta de “porta aberta”, mas não informa qual
a linha.
“Às vezes param três ônibus e não sei qual pegar, tenho que
perguntar. Acessibilidade é você conseguir se locomover
sozinho”, critica.