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ALINE CAMILLO CAMILLATO 
PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. 
Orientador: Cássio Lucena 
CORONEL FABRICIANO, DEZEMBRO DE 2014
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AGRADECIMENTOS 
Agradeço a Deus por sempre estar ao meu lado direcionando meus passos. Aos meus pais, Nilce e Paulo César, por sempre me ensinarem a ver significado nas coisas simples da vida e por cuidarem tão bem de mim. Aos meus irmãos, Amanda e Paulo César Jr., que são os melhores presentes que tenho na vida. Ao meu amor e amigo, Maycon, que esteve ao meu lado em todos os momentos sendo a minha força e motivação. Aos meus familiares por me encorajarem. Agradeço aos meus coordenadores do PDDI, Roberto Caldeira e Kênia Barbosa, pela oportunidade de conhecer uma nova forma de olhar para minha futura profissão e pelo conhecimento compartilhado, e também aos meus colegas de PDDI pelas experiências cotidianas. E, de forma especial, agradeço ao meu avô Cyrineo que infelizmente não esta mais aqui para me contar suas histórias.
“No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Alguma coisa que nada tem a ver com ‘arte’; uma espécie de aliança entre ‘dovere’ [dever] e ‘prática científica’. É um caminho meio duro, mas é o caminho da arquitetura.” 
LINA BO BARDI
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RESUMO 
Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são processos de materialização da cultura de um povo, pretende-se com essa pesquisa analisar a questão cultural no Vale do Aço como meio de produzir uma arquitetura capaz de valorizar a identidade regional. Buscou-se compreender as variáveis que compõe a questão cultural no Vale do Aço através de pesquisas teóricas, diagnósticos, visitas in loco e pela aplicação de questionário com alunos e professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Unileste MG. O questionário selecionou fotos de 30 lugares relacionados com a história e cultura do Vale do Aço e teve como objetivo avaliar quais desses despertaram maiores índices de apropriação pelos entrevistados. Com base nas análises proporcionadas pelo referencial teórico e pelo resultado do questionário percebeu que os espaços culturais edificados no Vale do Aço não despertaram um senso de identificação significativo, sendo que os espaços livres de uso público foram aqueles com maiores percentuais de apropriação. Ao longo da pesquisa percebeu-se que a arquitetura de espaços culturais representa uma forma particular de materializar as significações culturais para a própria valorização do exercício cultural. Portanto, pretende-se a criação de um espaço cultural que seja capaz de fortalecer a identidade cultural da Região Metropolitana do Vale do Aço através da valorização da história e cultura regional. 
Palavras-chaves: Região Metropolitana do Vale do Aço. Identidade Cultural. Arquitetura. Espaços Culturais.
SUMÁRIO 
CAPÍTULO 1 | |INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08 
CAPÍTULO 2 | O PASSADO RECENTE DO VALE DO AÇO .............................................................. 13 
2.1 | O VALE ANTES DO AÇO ....................................................................................................................................... 13 
2.2 | A CHEGADA DO AÇO NO VALE ........................................................................................................................ 24 
2.3 | REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO AÇO ............................................................................................ 39 
CAPÍTULO 3 | IDENTIDADE E INDIVIDUALIDADE ......................................................................... 46 
3.1 | IDENTIDADE METROPOLITANA ................................................................................................. 55 
CAPÍTULO 4 | MULTICULTURAS NO VALE DO AÇO ...................................................................... 61 
4.1. | MANIFESTAÇÕES DA DIVERSIDADE ......................................................................................... 68 
CONGADO E MARUJADA .............................................................................................................................................. 71 
FESTAS RELIGIOSAS ......................................................................................................................................................... 73 
CAVALGADAS ..................................................................................................................................................................... 75 
GRUPOS DE TEATRO ....................................................................................................................................................... 77 
GRUPOS DE DANÇA ........................................................................................................................................................ 79 
GRUPOS MÚSICAIS .......................................................................................................................................................... 81
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FEIRAS E EVENTOS GASTRONÔMICOS .................................................................................................................... 82 
CARNAVAL .......................................................................................................................................................................... 85 
ARTESANATO ..................................................................................................................................................................... 87 
ARTES .................................................................................................................................................................................... 89 
GRUPO DE CICLISTAS ..................................................................................................................................................... 91 
FUTEBOL É CULTURA ...................................................................................................................................................... 93 
CAPÍTULO 5 | HERANÇA DO VALE VERDE PARA O VALE DO AÇO.............................................. 95 
CORONEL FABRICIANO .................................................................................................................................................. 98 
IPATINGA .......................................................................................................................................................................... 100 
SANTANA DO PARAÍSO .............................................................................................................................................. 102 
TIMÓTEO .......................................................................................................................................................................... 104 
CAPÍTULO 6 | VALOR DA CULTURA NAS CIDADES CONTEMPORANEAS ................................ 105 
CAPÍTULO 7 |DESAFIOS DA CULTURA NO BRASIL ..................................................................... 113 
7.1 | O CONSUMO DE BENS CULTURAIS NO BRASIL ...................................................................................... 116 
7.2. | EDUCAÇÃO COMO ELEMENTO TRANSFORMADOR ............................................................................ 123 
7.2.1 | OBRA ANÁLOGA: CENTRO EDUCACIONAL BURLE MARX ................................................................ 127
CAPÍTULO 8 | TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS CULTURAIS ................................................ 133 
8.1 | CONTRIBUIÇÃO DE LINA BO BARDI PARA CULTURA BRASILEIRA ................................................... 145 
8.1.1 | OBRA ANÁLOGA: MASP ................................................................................................................................. 152 
8.2 | MUSEUS E ESPAÇOS CULTURAIS NO VALE DO AÇO ............................................................................ 162 
CAPÍTULO 9 | TCC 2 ........................................................................................................................ 171 
9.1.1 | ESCOLHA DO NOME ....................................................................................................................................... 174 
9.1.2 | DIRETRIZES DO PROJETO .............................................................................................................................. 174 
9.1.3 | PROGRAMA DE NECESSIDADES .................................................................................................................. 174 
9.1.4 | ESCOLHA DO LUGAR..................................................................................................................................... 1748 
9.2 | ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O TCC2....................................................................................... 180 
CAPÍTULO 10| CONCLUSÃO ........................................................................................................... 185 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 187
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CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO 
Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são produções culturais, este trabalho foi desenvolvido pelo desejo de intender como a identidade cultural pode beneficiar a produção arquitetônica, buscando perceber questões pertinentes à cultura no Vale do Aço como forma de propor uma arquitetura contemporânea passível de ser assimilada como parte da identidade regional. 
Durante o período que a autora trabalhou como estagiária no Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana, além de conhecer a região sobre os diversos aspectos que a compõe, desenvolveu-se um interesse pela valorização do Vale do Aço. Dentro das fragilidades que o funcionamento pleno da região metropolitana enfrenta, por diversas vezes ouviu-se dizer sobre falta de uma identidade metropolitana - questão que dificulta a gestão compartilhada dos municípios para equipamentos de interesse comum. 
Durante o curto período de elaboração desta pesquisa ouviu-se dizer “Por que você não faz algo específico para Coronel Fabriciano? As outras cidades já estão com a questão da cultura encaminhada” ou então “Por que não faz alguma coisa apenas para Timóteo? A história da cidade é muito rica, e o fato de existir ‘duas cidades dentro de uma só’ daria uma boa discussão” e “Por que não faz algo para Ipatinga? Só a diversidade daqui renderia uma boa discussão”. O que se pretende nesta pesquisa é justamente desenvolver uma análise conjunta da região, fortalecendo através de um espaço arquitetônico o sentimento de pertencimento a região.
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A decisão de abordar a Região Metropolitana do Vale do Aço de maneira integrada tornou necessário que as análises arquitetônicas fossem condicionadas por elementos de uso público, especificamente aqueles que estivessem relacionados com a cultura local, buscando diagnósticos e pesquisas que pudessem dar um panorama sobre a questão cultural nos municípios. 
Primeiramente, será feita uma análise histórica da região buscando entender aspectos pertinentes a cultura local. Nesta etapa será abordado o fato da região ter se desenvolvido tardiamente, mas com grande impulso pela implantação das siderúrgicas. Além disso, se discutiu sobre dicotomias no espaço urbano causadas pelo alto nível de urbanização. Serão apontadas características desde a transformação do Vale Verde até a presente condição de Região Metropolitana do Vale do Aço. 
Para entender como poderia ser analisada a questão da identidade cultural apontou-se o estudo de Peter Hall (2006) sobre os desdobramentos da identidade perante o indivíduo como sendo algo constantemente mutável, refletindo em um processo constante de formação de identidade. Hall ainda aponta para a força que a identidade nacional desempenha ao produzir símbolos passíveis de serem associados de forma coletiva. Diante da importância que a identidade representa como forma de vincular os indivíduos ao seu espaço, levantou-se a questão da identidade metropolitana no Vale do Aço. 
No quarto capítulo serão apontadas as principais manifestações da cultura local, que em função da ausência de um mapeamento oficial das prefeituras, baseia-se em análises encontradas nos materiais: “Cidades e políticas públicas de cultura: diagnóstico, reflexão e proposições” que apresenta o
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mapeamento da cultura em Ipatinga e Santana do Paraíso; o “Mapeamento de Lideranças e Recursos Culturais” elaborado pela APERAM em parceria com o SEBRAE sobre os agentes culturais de Timóteo e Coronel Fabriciano; e o diagnóstico desenvolvido pelo Eixo de Desenvolvimento Social do PDDI/RMVA. Além de aspectos apontados pelas pesquisas, serão abordados outros conforme análise da autora. 
No quinto capitulo além da valorização histórica e cultural, aponta-se para outro potencial inexplorado da região: os recursos naturais, muito associados à existência do Parque Estadual do Rio Doce. Apesar da existência do Circuito Mata Atlântica que engloba os quatro municípios da Região Metropolitana - além de outros do Colar Metropolitano - a questão do turismo na região ainda é insipiente. Sabendo das transformações ocorridas no meio ambiente do Vale do Aço durante o seu período de ocupação, pretende-se apontar a necessidade de valorizar os aspectos naturais da região. 
No sexto capitulo pretende-se abordar como o valor simbólico tem interferido nas produções arquitetônicas contemporâneas, apontando aspectos da economia mundial que tornaram a cultura em um diferencial econômico. Além disso, são levantados discussões sobre como podemos perceber a “Imagem das Cidades” influenciadas pelo “City Marketing”. 
Sabendo da forma como a cultura tem se tornando em um ativo econômico, buscou-se encontrar explicações para a fragilidade que a questão cultural sob os olhos públicos no Brasil representa. Ao longo deste capítulo são apontadas dificuldades herdadas pelo contexto histórico brasileiro, sobretudo, sobre a questão da arte e cultura como sendo algo exclusivo das elites. Posteriormente,
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será apontado como os novos meios de comunicação têm contribuído para a desvinculação do espaço arquitetônico a fim de propor espaços capazes de estimular essa permanência nos espaços culturais. Sabendo da dificuldade do acesso a cultura ter-se tornado um ‘problema cultural’ ressaltasse a importância da educação como forma de estimular o desenvolvimento social de crianças e jovens. 
No oitavo capítulo são apresentadas modificações nos espaços culturais como forma de levantar questões sobre os aspectos pertinentes à produção desses espaços na contemporaneidade. Também será apontada a contribuição importante de Lina Bo Bardi para a valorização da cultura brasileira através de seus estudos e projetos para espaços culturais no Brasil. Após analisar sobre as transformações dos ‘museus’ de forma geral, aponta-se os equipamentos dessa tipologia no Vale do Aço. 
OBJETIVO | Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são processos de materialização da cultura de um povo, pretende-se com essa pesquisa analisar a questão cultural no Vale do Aço como norteadora para produção arquitetônica contemporânea capaz de fortalecer a identidade regional. 
Para isso, pretende-se analisar o processo de formação da região buscando entender a origem de aspectos da cultura local; buscar quais são as principais manifestações culturais que acontecem na região; verificar quais são os espaços edificados de uso-público destinados à valorização da cultura regional; entender como a questão cultural vem sendo abordada nas produções arquitetônicas contemporâneas.
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CAPÍTULO 2 | O PASSADO RECENTE DO VALE DO AÇO 
O Vale do Aço teve sua formação recente quando comparado com cidades próximas territorialmente que já datam alguns séculos de existência, como exemplo, Ouro Preto e Sabará. A ocupação efetiva do território que corresponde hoje ao Vale do Aço ganhou expressividade apenas no início do século XX, mas o que levou a essa ocupação tardia do território e como essa ocupação influenciou as manifestações culturais observadas no presente contexto dessa região? Vale destacar a abordagem simplificada sobre a formação da Região Metropolitana do Vale do Aço a que esse capítulo se pretende, sendo preconizados os indícios que possam contribuir para um entendimento subjetivo sobre a condição atual da cultura regional. 
2.1 | O VALE ANTES DO AÇO 
Antes de se tornar o vale do aço, a região era conhecida como Vale Verde em função da presença abundante de Mata Atlântica em toda porção do território que hoje corresponde a Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) e que se estendia ao longo de todo Rio Doce. A presença dos índios botocudos combinado com a mata densa, relevo acidentado e falta de pedras preciosas - principal foco de exploração pela Coroa Portuguesa no século XVIII, intimidou os exploradores durante o período colonial, conforme diz BARBOSA (2010): 
“Nessa época, a região do vale verde acabou assumindo o papel de barreira do contrabando do ouro das minas. Além da proibição da Coroa de abertura de novos caminhos, a presença dos índios, sobretudo, os botocudos, aliado à topografia montanhosa, contribuíram para a restrita ocupação da região.” (BARBOSA, 2010)
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Os índios botocudos foram os mais temidos e resistentes às invasões dos colonizadores, em função das habilidades como guerreiros e pela a cultura da antropofagia12 em suas tribos. O termo “botocudo” foi-lhes atribuído pejorativamente pela caracterização desses indígenas com ‘botoques’ nos lábios e orelhas. Em diversos mapas que datam o período colonial a porção do território ocupado por essas tribos é demarcada por expressões como “bárbaros gentios botocudos” ou “índios botocudos antropófagos”, apontando que a presença deles dificultou o processo de ocupação ao longo do rio Doce. 
As expedições em busca de ouro na região do rio Doce não tiveram êxito, o que aliado aos outros fatores que dificultavam a ocupação do território fizeram a região permanecer distante dos interesses dos colonizadores. Por volta de 1773, a Coroa Portuguesa proibiu a navegação do rio Doce, em função da sua ligação entre o interior da então capitania de Minas Gerais com o litoral capixaba, e buscou impedir a abertura de novos caminhos como forma de evitar o contrabando das pedras preciosas. Enquanto o caminho das minas de pedras preciosas se tornavam um importante eixo de crescimento de vários povoados e cidades de Minas Gerais, o Vale Verde permanecia inexplorado, 
1 Antropofagia é o ato de comer uma parte ou várias partes de um ser humano. Os povos que praticavam a antropofagia a faziam pensando que, assim, iriam adquirir as habilidades e força das pessoas que comiam. Por sua realização em contexto mágico cerimonial ou patológico, não deve ser classificada ou compreendida como um hábito alimentar. 
2 “Esse negócio de a literatura dizer que os "Botocudo" eram antropófagos é um ato falho, é um truque da má consciência neobrasileira formadora do Brasil. Eles tinham de dizer que minha gente era antropófaga para nos aniquilarem.” Ailton Krenak, líder da comunidade Krenak e assessor para assuntos indígenas do governador Aécio Neves, foi concedida em setembro de 2008, em Belo Horizonte (MG). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142009000100014>. Acesso em 31 de Outubro de 2014.
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conforme pode ser visualizado no mapa a seguir. Pode-se analisar a existência de cidades e ocupações mais complexas nas áreas próximas aos locais de exploração de pedras preciosas. 
A partir do século XIX com a decadência das explorações do ouro e pedras preciosas a Coroa incentivou a ocupação de novas terras em especial ao longo do Rio Doce, refletindo diretamente em uma guerra contra os índios Botocudos e em uma tímida ocupação da região onde foram desmatadas grandes áreas florestais. Nesse período começam a existir os primeiros registros do povoamento da região que hoje corresponde ao Vale do Aço conforme é dito por BARBOSA, 2010: 
O governo colonial declarou guerra aos indígenas. Ofereceu benefícios fiscais e concedeu terras àqueles interessados em explorá-las. Os colonizadores, imigrantes e soldados, em busca de novas riquezas, destruíam as tribos indígenas e devastavam as florestas para se apossar das terras (BRITO; OLIVEIRA; JUNQUEIRA; 1997 apud BARBOSA, 2010). 
A Coroa Portuguesa promoveu uma verdadeira chacina contra as várias aldeias indígenas que habitavam a mesorregião do Rio Doce, restando poucas tribos em algumas cidades de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES). Na região do Vale do Aço, especificamente, existem hoje poucos indícios sobre a ocupação dessas tribos sendo que algumas produções artesanais demonstram essa influência, como exemplo os objetos feitos através do trançado de palha e a cobertura de edificações que também utilizavam a palha de coqueiro - típico da Mata Atlântica.
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Sobre as primeiras ocupações no Vale Verde, pode-se perceber conforme ilustrado pelo mapa (1821) que as primeiras ocupações na região que hoje corresponde especificamente a RMVA situam se na porção do território que hoje constitui o município de Timóteo. O mapa acima indica a presença da ocupação do Alegre em Timóteo e do Porto de Canoas confirmado por QUECINI, 2007: 
Foi neste contexto que, em 1847, Francisco de Paula e Silva solicitou a posse de uma sesmaria na região, onde organizou a Fazenda do Alegre. Situada em local deslocado das principais rotas de colonização, às margens do córrego denominado “Thimóteo”, um afluente da margem direita do rio Piracicaba a poucos quilômetros do ponto onde este deságua no rio Doce, esta fazenda cresceu e passou a englobar três sesmarias: Alegre, Limoeiro e Timóteo, possuindo pastos para criação de gado, mulas e cavalos, além de produzir açúcar. 
No mapa podem ser observadas as ocupações mais antigas na região destacando-se o povoado de Alegre e o Porto de Canos, ambos em Timóteo. Além desses, podem ser observados pequenos povoados ainda existentes como é o caso de Cubas – atualmente Distrito de Ferros, mas com sua ocupação tangenciando a área rural de Coronel Fabriciano - e Perpétuo Socorro – atualmente Distrito de Belo Oriente. Também podem ser observados núcleos próximos mais estruturados como é o caso de Antônio Dias e São Domingos do Prata. 
O Rio Piracicaba e os caminhos que passavam tangenciando a região provavelmente foram dois fatores que propiciaram a ocupação efetiva do território do Vale do Aço. Em nível de hipótese aqui levantada, a localização do vilarejo de Cuba, pode revelar o ponto por onde as ocupações na Serra dos Cocais em Coronel Fabriciano e Pedra Branca em Ipatinga iniciaram. No caso de Timóteo, além
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do Rio Piracicaba, o caminho ao sul do território que passavam pela Ponte Queimada, pode ter sido um dos fatores que influenciaram essas ocupações. 
Já no mapa abaixo que data de 1855, período do Brasil Império, já pode ser percebido uma rede um pouco mais complexa de desenvolvimento na região, podendo ser observado a freguesia de S. Anna de Alfié (Timóteo), sendo a primeira em um território pertencente à RMVA – conforme é registrado pelo mapa - , e outros próximos como é o caso de Joanésia, Prata, Antônio Dias, S. Anna de Ferros. Também pode ser observada a condição de Itabira elevada à condição de cidade; muito em função da descoberta do minério de ferro. Outro ponto que cabe ser ressaltado é a inexistência de aldeias indígenas na região.
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Como já foi dito anteriormente a decadência da exploração do ouro resultou em novas formas de exploração do território, e posteriormente a descoberta do minério de ferro deu início a uma nova fase de desenvolvimento de Minas Gerais. “Em função da descoberta do minério de ferro algumas pequenas fábricas foram se instalando no interior de Minas Gerais, o que pode ser considerado o embrião da vocação siderúrgica do estado”.3 (ACERVO Parque Estadual do Rio Doce, 2014) 
A ocupação efetiva do território que hoje corresponde ao Vale do Aço começa a ganhar relevância após a chegada da Estrada de Ferro Vitória - Minas (EFVM) que margeando o Rio Doce liga o interior de Minas Gerais a zona portuária no Espírito Santo, uma medida que visava o escoamento rápido de produtos e teve como consequência a formação de vários povoados ao longo da ferrovia e um significativo crescimento populacional na região. Essa medida começa a influenciar diretamente a ocupação do, até então, Vale Verde conforme diz COSTA, 1995: 
A estrada de ferro, ao correr continuamente em paralelo com o Rio Doce, divide com este o papel de espinha dorsal do Vale de mesmo nome, transformando seu meio-ambiente original, diversificando e incorporando mercados e produtos, fazendo surgir e consolidando entrepostos comerciais, embriões das atuais áreas urbanas, estabelecendo ao longo do tempo as condições necessárias à produção industrial”. (COSTA, 1995 apud BARBOSA, 2010) 
3 Conforme acervo disponível no Parque Estadual Do Rio Doce a região: “Em 1864 – Relatório do Governo de Minas Gerais registra a existência de 120 fabricas de ferro em Minas Gerais, a maioria na região do rio Doce.” FONTE: ACERVO Parque Estadual do Rio Doce, 2014.
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A disponibilidade do minério de ferro combinada à localização estratégica que a região passava a representar com a chegada da ferrovia resultou na instalação de grandes empresas siderúrgicas na região por volta dos anos 1930. A região, que até o inicio do século XX permanecia com grandes reservas de Mata Atlântica de Minas Gerais, foi transformada em uma ‘mina’ de carvão vegetal
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(principal fonte de combustível para as indústrias no momento) que junto à ferrovia formava uma localização estratégica para empresas siderúrgicas. 
A primeira a chegar à região foi a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. A empresa adquiriu muitas terras na região para exploração de carvão vegetal, transformando a paisagem natural da região e alterando as dinâmicas de ocupação do território. Instalou seu escritório no Calado - no momento distrito de Antônio Dias, e hoje corresponde ao Centro de Coronel Fabriciano - criando um poder de polarização comercial à medida que uma infraestrutura local era formada. Desde o período, o comércio e a prestação de serviços se tornaram um forte traço da cultura em Coronel Fabriciano. 
A presença da estrada de ferro combinada com a descoberta de minério de ferro na região de Itabira e a produção do carvão vegetal no distrito de Coronel Fabriciano ganhou destaque no cenário estadual tornando a região uma combinação perfeita para a instalação das siderúrgicas, sendo inaugurada em 1949 a ACESITA (Companhia Aços Especiais Itabira) e em 1956 a USIMINAS (Usinas Intendente Câmara), em Timóteo e Ipatinga, respectivamente.
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2.2 | A CHEGADA DO AÇO NO VALE 
Com a chegada das indústrias na região, um intenso processo de modificação das dinâmicas sociais, econômicas e territoriais começou acontecer. A região que durante o século XIX passou despercebida, no inicio do século XX teve um desenvolvimento expressivo no cenário estadual e, mais tarde, federal quando a indústria de base foi tomada como principal ferramenta do progresso econômico. 
Ao analisar o mapa que data de 1821, Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, apresentados na seção anterior, e as ocupações urbanas do século XX, que serão apresentadas neste, temos os núcleos históricos especulados da região separados inicialmente do processo intenso de urbanização dessas cidades com a chegada das indústrias siderúrgicas. 
Vale ressaltar que antes mesmo da chegada da ferrovia, o pequeno povoado São Sebastião do Alegre de Timóteo já possuía uma estrutura social com “uma economia baseada na produção rural, seja de gêneros alimentícios, seja de carvão, o núcleo “urbano” possuía pouco mais que seis ruas organizadas em torno da capela de pau-a-pique e seu pequeno cemitério nos fundos.” (QUECINI, 2007).
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A implantação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira na região do Calado associado à ferrovia tornou Coronel Fabriciano (até ao momento distrito de Antônio Dias) um importante polarizador de atividades relacionadas à prestação de serviços para as ocupações próximas. A exportação das madeiras nobres provindas do desmatamento da Mata Atlântica e a produção do carvão vegetal trouxe prosperidade para o distrito, conforme diz BARBOSA, 2010:
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Com a chegada da Belgo-Mineira no distrito de Coronel Fabriciano houve a expansão do seu pequeno núcleo urbano, com aberturas de ruas e novas construções. Foram construídos escritórios, ambulatórios médicos, residências para os funcionários e também o primeiro hospital da região (Hospital Siderúrgica), inaugurado em 1938. (BARBOSA, 2010) 
A logística favorável da região que surgia da combinação do minério de ferro, ferrovia e a produção de carvão vegetal resultavam em uma localização estratégica para as indústrias siderúrgicas. ACESITA iniciou sua implantação em 1944 e além da construção da indústria foi a responsável pela construção de uma infraestrutura que condicionasse o seu funcionamento provocando profundas modificações na paisagem natural e nas dinâmicas sociais existentes do povoado de São Sebastião do Alegre de Timóteo, conforme é citado por QUECINI, 2007: 
“E, enquanto as fazendas iam se agrupando e a produção agrícola ia minguando, a pouco menos de cinco quilômetros, uma extensa planície às margens do rio Piracicaba começava a ser desmatada. Nesse local, destino de homens, máquinas e mercadorias que constituíam quase toda a carga desembarcada na estação do Calado, começavam a ser plantadas as sementes da moderna cidade de Timóteo, relegando à pequena vila o papel de abrigar parte desse contingente de estranhos.”(QUECINI, 2007) 
A primeira fase de urbanização da “Cidade da Acesita” se deu sem um planejamento específico, sendo priorizado inicialmente o projeto da planta industrial, “as casas eram edificadas em pau-a- pique ou com a madeira dos caixotes dos equipamentos importados dos Estados Unidos”.
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À medida que a indústria ia tomando forma, uma tomada nacionalista fez com que a indústria tomasse a “sua cidade” como sua extensão, fazendo investimentos para garantir que a imagem da ACESITA fosse condizente com seu papel no cenário nacional 4. Em 19585 a ACESITA já havia edificado 2.734 residências. Além da igreja, do armazém, do açougue e da farmácia, a cidade possuía 
4 Após o Banco Central assumir o controle da empresa, a ACESITA passa a ser vista como um exemplo do desenvolvimento industrial do país, sendo a única a produzir aços especiais com autossuficiência energética. Assim cidade deveria refletir esses conceitos e tornar-se um exemplo de desenvolvimento urbano para o Brasil, a ACESITA “passará a marcar, no mapa do Brasil, um novo núcleo de vida, de trabalho”. 
5 Em 27 de dezembro de 1948, depois de longo processo tramitado na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, o Governador Milton Campos assina a Lei nº. 336, criando o Município de Coronel Fabriciano, emancipando-se de Antônio Dias. Por essa lei, Ipatinga é elevada a distrito do novo município. DRUMMOND, 2012 (org.)
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um centro comercial com lojas, agência bancária e cinema, dois clubes, hospital, quatro escolas primárias e um colégio técnico (ACESITA, 1959 apud BARBOSA, 2010). 
Em um processo semelhante ao que ocorreu em Timóteo o pequeno vilarejo - formado em função da estrada de ferro - em Ipatinga também viu seu cenário mudar radicalmente com a chegada da indústria. Tal como a Acesita, também foi necessário a criação de uma cidade operária para abrigar os funcionários da USIMINAS - empresa siderúrgica implantada em parceria com japoneses, que se
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implantou em 1956, na região que hoje representa o município de Ipatinga. Diferente da Acesita, Ipatinga teve o desenvolvimento prévio de seu plano urbanístico, desenvolvido por Hardy Filho, que conforme o modelo modernista estendia o funcionamento da indústria para a cidade. 
Os bairros da cidade operária da USIMINAS foram criados conforme a ocupação dos cargos desempenhados dentro da indústria, buscando atender aos requisitos básicos da Carta de Atenas: trabalho, moradia e lazer. Em função da setorização em função da posição dos funcionários dentro das empresas criou-se um processo de diferenciação entre as pessoas em função do bairro que estas moravam, um aspecto que é relatado por moradores da cidade como uma prática recorrente. 
Durante o processo de elaboração do plano urbanístico da cidade operária, Hardy Filho já fazia prospecções sobre o futuro da região. Ele já observava que a existência dos eixos lineares favoreceria o desenvolvimento conjunto da região conforme é citado por Barborsa (2010) “Segundo ele, as três
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cidades viriam a formar um “complexo urbano único linear e contínuo.” Além de prever essa condição de interdependência entre as cidades, ele previa que a cidade operaria não conseguiria absorver sozinha a projeção populacional ao longo dos anos. 
Em função das notícias de prosperidade econômica da região um grande contingente imigrante chegou à região, que sem emprego direto nas indústrias ocuparam as áreas “fora das cidades operárias” (em Timóteo e Ipatinga) e na cidade de Coronel Fabriciano, conforme apontado pelo diagnóstico “CIDADES E POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA: diagnóstico, reflexão e proposições”: 
A implantação da indústria provocou profundas transformações socioeconômicas na região. Além da explosão demográfica, registrou-se a transformação das antigas fazendas em loteamentos para a construção das moradias para os trabalhadores e a rápida urbanização e instalação de infraestrutura para atender às necessidades da empresa e da população que chegava a cada dia. (DRUMMOND, 2012) 
Como já era previsto por Hardy Filho, esse processo de interdependência das cidades contribuiu para o processo de conurbação que culminaria na criação da Região Metropolitana do Vale do Aço6. É fato que cada uma dessas cidades desenvolveu características específicas, no entanto, muitos aspectos tornaram-se comuns a região de uma maneira geral e à medida que as dinâmicas iam tornando-se 
6 No ano de 1998 foi instituída a Região Metropolitana do Vale do Aço – RMVA, composta por quatro municípios: Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo. O colar metropolitano que circunda a RMVA, em 1998 era constituída por 22 municípios, e em 2014 passou a ser formada por 28. metropolitano que circunda a RMVA, em 1998 era constituída por 22 municípios, e em 2014 passou a ser formada por 28.
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mais complexas os vínculos dos moradores (trabalho, relacionamentos, lazer, etc.) iam se ampliando para as outras cidades. 
Outro ponto marcante do desenvolvimento dessas cidades que se reflete na cultura local: a existência de ‘duas cidades dentro do mesmo território’. Esse dualismo ocorreu de forma mais significativa nas cidades sedes das siderúrgicas, que de um lado construíram cidades providas de planejamento e infraestrutura, e de outro, cidades espontâneas eram geridas por um poder público ainda imaturo tornando possível a diferenciação entre essas duas ocupações distintas no mesmo território. 
Além das já citadas Belgo-Mineira, Acesita e Usiminas, outro fator que contribuiu para a formação da dinâmica existente hoje na malha urbana dessa região foi a CENIBRA. Produtora de celulose, ao se implantar na região passou a adquirir grandes quantidades de terras para o plantio de eucalipto fazendo que a área das ocupações rurais fosse limitada territorialmente, sendo a malha urbana a responsável por incorporar esse contingente rural.
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Conforme é discutido por Monte-Mor no texto “Cidade e campo, urbano e rural: o substantivo e o adjetivo” o sentido de campo e cidade passou por profundas transformações conforme as relações de trabalho começaram a ser alteradas no período industrial. Antes a cidade era tida como o espaço de produção intelectual e o campo como o espaço de produção braçal, mas com o surgimento das cidades-industriais, a produção tanto intelectual quanto braçal passou a concentrar-se no espaço da cidade tornando o campo dependente das inovações e produtos oferecidos pelas cidades. No caso do Vale do Aço, trata-se do campo como um “espaço industrial não construído” conforme é citado por QUECINI, 2007: 
“Este descompasso entre campo e cidade foi visto por Heloisa COSTA (1995: 75) como uma relação que nasce adulterada, uma vez que “as cidades se abastecem e realizam suas trocas com outros centros” e a monocultura do eucalipto transforma o campo numa extensão da fábrica, transformando o campo num “espaço industrial não construído” e fazendo desaparecer a diferenciação entre rural e urbano.”. 
A dicotomia entre o campo e cidade após essa revolução passa a ser dissolvido perdendo seu sentido enquanto substantivo e prevalecendo o sentido adjetivo de urbano e rural - passando por uma abordagem cultural que vale ser ressaltado neste trabalho devido ao esclarecimento sobre alguns traços da cultura local, que embora se encontre num território altamente urbanizado7, permite a identificação com um contexto rural conforme explica MONTE-MÓR (2007): 
7 Em 2010, a taxa de urbanização da RMVA representava 98,69%, conforme apresentado pelo diagnóstico do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana do Vale do Aço (PDDI/RMVA). Disponível em:
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“O termo urbano, etimologicamente, diz respeito à qualificação da cidade, ligado também ao afável, ao cortês; o rural, por sua vez, diz respeito ao campo, ao campestre, ao rústico. [...] O rural, tomado no seu sentido campestre, rústico, no seu sentido cultural, evidentemente continua existindo. É o sentido do que chamamos de roça, a simplicidade da autonomia em oposição à sofisticação da vida citadina; a ruralidade em oposição à urbanidade.” (MONTE-MÓR, 2007) 
A formação de uma malha urbana de forma rápida e desigual junto à chegada de muitos imigrantes tornava esse novo cenário - que Monte-Mór chama de “simulacro da cidade” referindo-se as vilas operárias das cidades mono-industriais - onde o processo de apropriação simbólica, capaz de produzir uma identificação da sociedade com o lugar onde se insere, ainda não era relevante. 
De um lado os moradores das fazendas viam seu ambiente, relações sociais e econômicas mudarem rapidamente, enquanto para os estrangeiros a nova cidade não refletia os laços de identificação existente com o lugar que eles haviam deixado. Além disso, o dualismo entre o rural e urbano, o existente e novo, modificavam rapidamente a identidade da região. 
Japoneses, franceses, árabes, brasileiros de diversos estados, entre tantos outros. As indústrias foram e continuam sendo grandes responsáveis pelo contato das cidades com culturas diversas. Nenhum outro elemento tem tanto poder dentro da cultura local quanto a cultura operária que se instaurou na região. A história dessas empresas além de se confundir com a história de formação 
<http://www.unilestemg.br/pddi/arq/doc/documentos-oficiais/2014/PDDI_DIAGNOSTICO_VOL1.pdf>. Acesso em 01 de outubro de 2014.
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dessas cidades confunde-se com histórias individuais de gerações que tem as siderúrgicas como elemento intrínseco as suas próprias histórias. 
Logo, podemos perceber que a sobreposição de culturas diversas surgindo quase simultaneamente com uma região nova culminou numa grande variedade de significações, que talvez por isso tenha dado origem a equivocada afirmativa de que “o Vale do Aço não tem cultura”, seria mesmo a falta de uma cultura ou apenas a falta de reconhecimento dessa multiplicidade cultural? Ou ainda, seria a dificuldade de digerir e incorporar essas novas culturas como sendo legitimas ao Vale do Aço? Ao longo dos próximos capítulos serão investigados quais são as principais manifestações da cultura do Vale do Aço, a fim de prever estratégias arquitetônicas capazes de fortalecer a identidade cultural da região. 
Logo, podemos perceber que a sobreposição de culturas diversas surgindo quase simultaneamente com uma região nova culminou numa grande variedade de significações, que talvez por isso tenha dado origem a equivocada afirmativa de que “o Vale do Aço não tem cultura”, seria mesmo a falta de uma cultura ou apenas a falta de reconhecimento dessa multiplicidade cultural? Ou ainda, seria a dificuldade de digerir e incorporar essas novas culturas como sendo legitimas ao Vale do Aço? Ao longo dos próximos capítulos serão investigados quais são as principais manifestações da cultura do Vale do Aço, a fim de prever estratégias arquitetônicas capazes de fortalecer a identidade cultural da região.
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2.3 | REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO AÇO 
A formação de ocupações urbanas de forma interdependente e a existência de eixos lineares de desenvolvimento da região (a ferrovia e BR381) resultaram na formação de uma malha contínua, culminando no processo de conurbação entre as cidades de Timóteo, Coronel Fabriciano, Ipatinga e Santana do Paraíso. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região Metropolitana “é uma região estabelecida por legislação estadual e constituída por agrupamentos de municípios limítrofes, com o objetivo de integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”. 8 
Na década de 1970 foram realizados diversos estudos pela FJP sobre o Aglomerado Urbano do Vale do Aço – AUVA, que inicialmente era constituído apenas por Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo. À medida que as dinâmicas sócias e econômicas iam se tornando mais complexas e a região começava a exercer uma força polarizadora sobre outros municípios e, depois de um longo processo legislativo, foi criada em 1998 a Região Metropolitana do Vale do Aço - assumindo outros formatos antes de sua formatação atual - constituindo-se dos municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo e Santana do Paraíso. 
8 O que é região metropolitana? Disponível em: <http://www.brasilescola.com/brasil/regioes-metropolitanas-brasil.htm>. Acesso em 05 de Agosto 2014.
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“Ao final de 1998, após um longo processo de tramitação na Assembleia Legislativa, o Estado de Minas Gerais institui a Região Metropolitana do Vale do Aço, através da Lei Complementar nº 51, de 30 de dezembro de 1998, composta por quatro municípios – Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo – e circundada por um Colar Metropolitano formado por outros 22 municípios9.” (DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014) 
O mais jovem município a integrar a RMVA foi Santana do Paraíso, que se emancipou de Mesquita em 28 de abril de 1992, e por sua relação profunda de conurbação com o município de Ipatinga e território quase inexplorado, passou a representar o território mais favorável à expansão urbana da RMVA. No entanto, se a questão da identidade metropolitana do Vale do Aço já é frágil, o caso de Santana é ainda mais fragilizado dentro deste processo de apropriação simbólica pelos moradores dos outros municípios. 
O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana do Vale do Aço que vem sendo desenvolvido pelo Unileste MG é uma importante ferramenta de gestão da RMVA, que busca promover o desenvolvimento integrado da região através das funções públicas de interesse comum. Com base nos diagnósticos elaborados pelos eixos estratégicos10 do PDDI/RMVA pode-se ter um panorama sobre região do Vale do Aço no presente contexto sobre seus diversos aspectos. 
9 Os municípios do Colar são: Açucena, Antônio Dias, Belo Oriente, Braúnas, Bugre, Córrego Novo, Dionísio, Dom Cavati, Entre Folhas, Iapu, Ipaba, Jaguaraçu, Joanésia, Mesquita, Marliéria, Naque, Periquito, Pingo D'Água, São João do Oriente, São José do Goiabal, Sobrália e Vargem Alegre. (DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014. PÁG 35). 10 Os eixos que constituem o PDDI/RMVA são: Ordenamento Territorial, Mobilidade, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Saneamento, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Econômico e Arranjo Institucional.
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“A RMVA é uma aglomeração urbana com quase 451.351 habitantes, segundo dados do censo demográfico de 2010. Se considerarmos os municípios da RMVA e do Colar Metropolitano, a população ultrapassa 700.000 habitantes. A RMVA tem uma população predominantemente urbana, com um grau de urbanização de 98,69%, em 2010. Já o Colar Metropolitano apresentou um grau de urbanização de 75,51%”.(DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014). 
Conforme já foi apresentado sobre a formação histórica do Vale do Aço, o processo de urbanização acelerado trouxe impactos que podem ser sentidos até hoje nas dinâmicas urbanas da região, em função de uma organização desigual do território. “A formação e o crescimento do aglomerado foram se constituindo espaços desiguais, resultado da divisão injusta da receita pública e das oportunidades de trabalho, refletindo também na distribuição desigual do acesso à infraestrutura urbana e aos serviços e equipamentos públicos.” (idem) 
De um lado as cidades que foram amparadas pelas siderúrgicas (Ipatinga e Timóteo) tiveram um crescimento expressivo em função da receita gerada para os municípios resultando na criação de uma boa infraestrutura urbana, referente as áreas relacionada a essas. Enquanto isso, as áreas que surgiam espontaneamente nesses municípios e nos de Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso, tornaram-se responsáveis por absorver o contingente que não era atendido dentro das “cidades- operárias” propiciando o surgimento de ocupações com infraestrutura insatisfatória, e como as indústrias tornaram-se as principais empregadoras da região, as cidades que não usufruíam diretamente dos benefícios gerados por elas passaram a ser denominadas como ‘cidades dormitórios’
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– onde pessoas trabalham e consomem serviços em outros municípios, criando dificuldades de arrecadação para os municípios. 
A desigualdade também pode sentida sobre o aspecto social - o que não representa uma exclusividade da região e sim um fator histórico do desenvolvimento urbano no País. De um lado a concentração de equipamentos e serviços nas áreas onde a população possui as maiores concentrações de renda, enquanto a população com menor renda tem o acesso dificultado aos equipamentos públicos de uso comum. 
Se a presença das indústrias siderúrgicas na RMVA representa todo esse processo de desenvolvimento intenso pelo qual a região passou desde início do século XX, hoje elas passam a representar uma incógnita sobre o desenvolvimento futuro da região. A crise mundial que afetou o setor da siderurgia em 2008 impactou a dinâmica dessas cidades apontando para o risco da “mono economia” e alertou para o empobrecimento da região. 
No diagnóstico do eixo de Desenvolvimento Econômico do PDDI/RMVA as siderúrgicas são apontadas como fundamentais para o desenvolvimento regional - assim como aponta outras questões que não serão apresentadas integralmente neste trabalho – no entanto, são levantadas novas possibilidades para o desenvolvimento econômico regional. Cabe ressaltar aqui a questão da falta de um caráter empreendedor nos moradores da região que conforme apresentado pelo Eixo de Desenvolvimento Econômico PDDI/RMVA (2014) “Na visão dos representantes da sociedade local, a
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presença das grandes empresas gerou uma cultura nas pessoas de serem empregadas e não de empreender”. 
Um fator que foi observado em quase todos os diagnósticos dos eixos estratégicos e também levantados pela sociedade durante as audiências públicas é a questão do potencial turístico da região, muito associado com a presença do Parque Estadual do Rio Doce, que permanece inexplorado como uma nova vertente para o desenvolvimento da região. Vale frisar, conforme apresentado pelo eixo de Meio Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos, a existência do risco ambiental que o turismo de forma desordenada pode acarretar para os recursos ambientais da região.
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CAPÍTULO 3 | IDENTIDADE E INDIVIDUALIDADE 
Ao analisar a produção arquitetônica e urbanística ao longo dos séculos percebe-se que esta é uma produção tridimensional que reflete a cultura de diferentes comunidades em diferentes tempos históricos e, portanto, é um elemento capaz de reproduzir um sistema de significações com que essa sociedade se identifica. 
Utilizar o termo “identidade cultural” nunca foi tão complexo desde que o processo de globalização modificou as percepções de tempo-espaço e permitiu um rápido processo de troca e permeabilidade entre culturas. Portanto, esse capítulo tem como objetivo fazer uma breve análise relacionando a questão da identidade cultural à arquitetura. 
Conforme aponta o Ministério da Cultura do Brasil: 
”Tendo sido por muito tempo vista pelo ângulo das belas artes e da literatura, a cultura é agora tomada como um campo muito mais amplo: ‘a cultura deve ser vista como um conjunto distinto de elementos espirituais, materiais, intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social. Além da arte e da literatura, ela abarca também os estilos de vida, modos de convivência, sistemas de valores, tradições e crenças’”. (PREÂMBULO da Declaração Universal de Diversidade Cultural da UNESCO, 2001 apud MINISTÉRIO da Cultura, Brasil). 
Antes de abordar a questão da identidade cultural, deve ser ressaltado como o conceito de cultura será abordado ao longo deste trabalho - tendo como principal foco de análise os produtos, serviços e manifestações culturais, conforme é apresentado por REIS, 2010:
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“Em uma abordagem antropológica, cultura engloba os conhecimentos, crenças, línguas, artes, leis, valores, morais, costumes, atitudes e visões de mundo. É a chamada Cultura com “c” maiúsculo, o amálgama e o diapasão da sociedade. Em um sentido mais estreiro (cultura com “c” minúsculo), refere-se aos produtos, serviços e manifestações culturais, ou seja, que trazem em si uma expressão simbólica da Cultura em sentido amplo.” (REIS, 2010) 
No livro “Cultura: um conceito antropológico” as transformações culturais são abordadas como um processo inerente à vida humana, sem que a globalização seja sua única causa. Para isso o autor utiliza como exemplo as tribos indígenas “isoladas”, apontando a existência das transformações culturais mesmo que essas ocorram de forma mais lenta. “Podemos agora afirmar que existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o resultado do contato de um sistema cultural com outro”. (LARAIA, 2001) 
Sabendo desse aspecto dinâmico da cultura, nenhum processo modificou tanto as percepções da cultura quanto o processo de globalização. “As fronteiras são extintas e ninguém pode eximir-se de gerar ou sofrer interferências. Com isso, a homogeneização das culturas tornou-se uma preocupação e a globalização a possível promotora do declínio das identidades e da desconstrução do local.” (PICHLERA; MELLO) 
Sobre a questão da identidade, Hall (2006) aponta uma transformação na percepção da identidade pelo indivíduo, analisando três diferentes sujeitos históricos: o sujeito do Iluminismo; sujeito sociológico; e o sujeito pós-moderno, sendo este o principal elemento em questão. Entender a forma
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como essa identidade tornou-se dinâmica e complexa permite compreender melhor os espaços produzidos pelo homem. Sobre o sujeito do Iluminismo HALL, 2006 descreve: 
“O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo "centro" consistia num núcleo interior, que pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo — continuo ou "idêntico" a ele — ao longo da existência do indivíduo.” (HALL, 2006) 
Diferente do caráter da identidade imutável do sujeito do Iluminismo - correspondente ao século XVII, o sujeito sociológico passa a ser um reflexo da complexidade da vida em sociedade e diante dessas relações é que o sujeito desenvolve essa formação da identidade que nesse contexto passa a ser o reflexo da interação entre o “eu” e a sociedade, sendo um processo contínuo de formação, fazendo com que a identidade como sendo algo imutável seja substituída por uma percepção contínua. A partir do surgimento deste “sujeito sociológico” a questão da identidade torna-se mais condizente se tratada com um processo contínuo de identificação. 
“O fato de que projetamos a "nós próprios" nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os "parte de nós", contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural. A identidade, então, costura (ou, para usar uma metáfora médica, "sutura") o sujeito à estrutura.” (HALL, 2006) 
Tomando como base essa identidade cultural como meio vincular a sociedade ao lugar que ela se insere, nenhum movimento arquitetônico teve tanta influência social como o Estilo Internacional
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Moderno. Diante do desejo de tornar a arquitetura e o urbanismo em um objeto capaz de ser intercionalizado, toda a simbologia própria do local passa a ser desconsiderado produzindo uma “crise de identidade” onde as pessoas não se vinculavam as cidades. 
“(...) um quadro mais perturbado e perturbador do sujeito e da identidade estava começando a emergir dos movimentos estéticos e intelectuais associado com o surgimento do Modernismo. Encontramos, aqui, a figura do indivíduo isolado, exilado ou alienado, colocado contra o pano-de-fundo da multidão ou da metrópole anônima e impessoal (HALL, 2006)”. 
A individualidade das significações pessoais passa a ser reduzida a um modulor, a casa transformada em uma máquina de morar e o traçado das cidades em uma setorização que priorizava a máquina como centro de seu funcionamento. Todas essas intervenções homogeneizadoras do Movimento Moderno tornaram as cidades assépticas ao desconsiderar o que Walter Benjamin aponta como “texto inscrito nas cidades” (ORTEGOSA, 2000) que representa o vínculo subjetivo estabelecido da sociedade com seus espaços. 
Entretanto, no Brasil a modernidade foi sentida de forma particular quando comparada ao dos países europeus. O inicio do século XX trouxe transformações nas dinâmicas econômicas em função da II Guerra Mundial. Com a diminuição das importações, o Brasil precisou aumentar sua capacidade de produção o que refletiu diretamente no processo de industrialização, e consequentemente, urbanização.
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A Semana de Arte Moderna de 1922 dentro do contexto existente nesse período tornou-se propício para a discussão de uma produção cultural brasileira, que representava o desejo de afirmar a brasilidade como sendo essa identidade nacional, que por muito tempo esteve subjugada aos modelos internacionais. Além da Semana de Arte Moderna de 22, o Manifesto Antropófago escrito por Oswald de Andrade em 1928, tornou legitima essa necessidade de uma produção artística com identidade brasileira. Enquanto a arte era abordada dentro de uma abordagem elitista de assimilação das produções estrangeiras, ele propunha uma “deglutição antropofágica” conforme apresentado a seguir:
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Se Oswald de Andrade teve a lucidez de ridicularizar com o mimetismo que tanto seduz o intelectual solene e bacharel, ele não caiu no equívoco de fechar as portas do País do ponto de vista cultural. Ao contrário, sua formulação em torno da "deglutição antropofágica" exige o remanejamento das ideias mais avançadas do Ocidente em conformidade com a especificidade de nosso contorno social e político.” (O SARAMPO ANTROPOFÁGICO). 
Para o Brasil o estilo moderno significou um grande marco para a identidade nacional, sendo a arquitetura uma importante forma de reconhecimento da identidade nacional. Diferente dos outros países, a produção modernista apropriava-se de elementos vernáculos e dos postulados do movimento moderno, passando a produzir uma arquitetura única passível de identificação pela sociedade, talvez por isso, a produção arquitetônica brasileira tenha se solidificado nessa vertente. 
De volta ao cenário internacional, as cidades sem história, tornavam-se espaços anônimos incapazes de despertar o sentimento de pertencimento nas pessoas, tornando as cidades num ambiente asséptico. Como resposta a essa produção, na década de 60 em diante, a revisão das doutrinas legadas pelo Modernismo abriram espaço para novas formulações e uma produção artística crítica passou a advogar pelas necessidades subjetivas regionais, impulsionando a redescoberta dos símbolos culturais no ambiente construído (ORTEGOSA, 2000). 
“Contra a uniformização, emerge um renovado interesse pela especificidade do regional e dos estilos históricos, e pela diversidade das subculturas urbanas” (ORTEGOSA, 2009). A partir da década de 70 ocorreram intensos processos que modificaram a percepção da identidade, como exemplo: a globalização e descobertas científicas, que reforçavam o individualismo, potencializando o
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surgimento de “múltiplas identidades culturais no indivíduo”, dando origem ao chamado sujeito pós- moderno, conforme argumenta HALL, 2006: 
“Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração móvel": formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987). [...] A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar — ao menos temporariamente.” 
Se agora os indivíduos passavam a apresentar esse caráter multicultural, essa complexidade foi refletida nas cidades demandando novas metodologias para atuação no espaço urbano. Assim como o sujeito do pós-modernismo deixou de ser apenas uma identidade para tornar-se o conjunto de várias, as cidades e edificações também refletiram esse processo. Além disso, as intervenções urbanas pontuais passaram a ser amplamente utilizadas, levando em consideração as particularidades de cada fragmento da cidade que compõem esse tecido multicultural. Além disso, as novas vertentes arquitetônicas passam a buscar no valor simbólico novas formas de produzir arquitetura, tornando-se este “valor simbólico na nova economia urbana”. 
Se Hall aponta três sujeitos em seu estudo, será que podemos analisar o “Sujeito Contemporâneo” como sendo um sujeito diferente do sujeito pós-moderno? São visíveis os problemas que o individualismo - que foi uma solução eficiente para manipulação das massas ao segrega-las tanto do
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ponto de vista político quanto econômico – gerou no espaço urbano, como a falta de um senso de comunidade e, consequentemente, de um pertencimento a ela alterando a forma como as pessoas vivenciam o espaço público. Concomitantemente, a tecnologia vem ocupando de maneira onipresente a vida em sociedade, modificando as relações de tempo e espaço, permitindo que as pessoas estejam desconectadas de seu entorno imediato. 
Portanto, do ponto de vista da arquitetura e urbanismo a criação de espaços eficientes tornasse cada vez mais um desafio diante dessa dissociação do homem com o ambiente construído a sua volta. Além disso, as práticas de consumo induzem a assumir várias identidades e constituem-se em outro desafio para arquitetura, no sentido de ser capaz de incorporar e ressignificar essas múltiplas culturas individuais. Vale ressaltar que a valorização da cultura local esta diretamente relacionada com o fortalecimento de uma identificação com o contexto local, relegando aos espaços culturais a capacidade de despertar processos de identificação cultural.
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3.1 | IDENTIDADE METROPOLITANA 
Diante das múltiplas identidades possíveis de serem assimiladas pelo indivíduo, as culturas nacionais constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Segundo Hall (2006) quando nos referimos como sendo brasileiros, franceses ou ingleses, estamos nos expressando de forma metafórica, pois essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes, entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial. 
A partir do momento que a globalização influência nas dinâmicas espaciais, “a ideia de um homem sem uma nação parece impor uma tensão à imaginação moderna” (GELLNER, 1983). A nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos — um sistema de representação cultural. (HALL, 2000) No Brasil, em especial, essa identidade nacional é responsável por englobar a diversidade cultural resultante do processo de formação histórica, sendo que cada região possui seus traços culturais específicos. 
Com base no conhecimento que essa identidade nacional produz no imaginário de seus cidadãos, desenvolvesse a partir daqui uma narrativa empírica tentando estratificar as camadas do imaginário coletivo, capazes de produzir os símbolos que tornam possíveis os processos identificação. Além da identidade nacional, espera-se apontar os aspectos simbólicos dentro de esferas que serão aqui estratificadas conforme o aspecto global, nacional, estadual e regional. 
Dentro da esfera global, temos aspectos que são comuns à maioria da população mundial. Como aspecto mais relevante dessa esfera temos as transformações proporcionadas pelas inovações
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tecnológicas que modificam a forma como podemos nos relacionar independente dos fatores tempo e espaço, tornando o significado de “instantâneo” no norteador desta comunidade global. 
Do ponto de vista da esfera nacional, são várias as caraterísticas marcantes do imaginário brasileiro. Por muito tempo a identidade cultural do povo brasileiro era tida como inexpressiva em função do conceito de cultura estar restrito as produções da elite associado à estratificação social proveniente do processo de colonização. A partir desse momento a busca por uma brasilidade começa a tornar-se uma necessidade, justamente como forma de fortalecimento dessa identidade nacional. A principal característica nacional refere-se à diversidade cultural, além disso, a vinculação de um país receptivo e alegre fortalecido por símbolos da cultura brasileira como as festas e o futebol. 
Quando analisamos a influência desses elementos no Vale do Aço percebe-se uma presença quase igualitária no território da RMVA dos campos de futebol, muito diferente dos equipamentos culturais. Outro fator que permite analisar a influência desses símbolos imagéticos na região é a presença dos blocos carnavalescos na cidade de Timóteo. 
Já dentro da esfera estadual, percebe-se a forte herança de elementos da sociedade colonial remetendo ao importante período de prosperidade de Minas Gerais. O telhado colonial e as varandas, que são uma adaptação portuguesa ao clima brasileiro em geral, permanecem fortes no imaginário mineiro, tal como as edificações e festas religiosas que são elementos fortemente associadas a esse período de maior prosperidade de Minas Gerais. As montanhas e cachoeiras
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completam o imaginário de uma paisagem bucólica. Além disso, a existência de um fazer rústico e artesanal está diretamente associada à imagem simbólica de Minas Gerais. 
Extraindo de todas essas esferas suas particularidades o regional deve ser aquilo que é exclusivo a determinada região. No caso do Vale do Aço, salvo todas as características que são comuns ao imaginário dos brasileiros e mineiros, existe uma caraterística que julgasse ser intrínseca a região: as indústrias siderúrgicas onipresentes nas dinâmicas sociais das cidades. Responsáveis por influenciar diretamente as paisagens da região, elas são as responsáveis por estabelecer horários, fluxos, relações sociais, movimentos culturais e influenciar até mesmo condicionantes biológicos, tendo um alcance que vai muito além de suas cercas, influenciando toda vida das cidades. 
Dentro dessa esfera regional, a identidade metropolitana no Vale do Aço ainda constitui-se em um elemento insólito a ser fortalecido representando a chave do processo efetivo de apropriação simbólica, potencializando a expressividade de sua imagem simbólica. 
No decorrer do processo de elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana, um dos gargalos apontados frequentemente nas reuniões e audiências públicas é a ausência de uma identidade metropolitana. 
Se dentro das análises imagéticas que se pode assimilar das esferas de identidade, temos a identidade metropolitana como elemento aglutinador de identidades das diferentes cidades que as constitui. Uma relação de interdependência, onde as características próprias de cada cidade não se anulam, mas se complementam.
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É nítido que as pessoas reconhecem a interdependência entre as cidades através dos deslocamentos diários em função de trabalho, estudo, moradia, entretenimento. No entanto, o que se pretende frisar aqui é a ausência de uma identidade metropolitana com força semelhante a da “identidade nacional”. 
É nítido que as pessoas do Vale do Aço se relacionam subjetivamente com suas cidades de origem, como exemplo podem ser citados: o recente documentário “Um sentimento chamado Ipatinga”, de Savio Tarso, que buscou relatar através da história da cidade através de cidadãos comuns que chegaram a cidade e transformaram-na em suas cidades de coração; a doação de cidadãos comuns para a criação do acervo do recém inaugurado Museu Municipal José Avenilo Barbosa, em Coronel Fabriciano; a mobilização da sociedade em Timóteo para proteger a história simbolizada pela Igreja de São José Operário; entre tantos outros fatores que reforçam a identidade dos moradores com seus municípios, pretende-se frisar ações que desempenham essa abordagem independente dos limites municipais. 
A falta de reconhecimento e, consequentemente, do sentimento de pertencimento torna frágil à questão da RMVA, que não deve existir apenas no papel, mas deve ser sentida e vivenciada por seus cidadãos. 
“(...) apesar da instituição da RMVA existir formalmente a 16 anos, da denominação comum, da relativa identidade regional, de vocações econômicas bem próximas e das mesmas questões a resolver e potencialidades, ainda é tênue a visão de conjunto no núcleo metropolitano que permita uma abordagem integrada dos assuntos que afetam a
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mais de um Município.” (DIAGNOSTICO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PDDI/RMVA, 2014). 
Dentro do diagnóstico do eixo do Ordenamento Territorial do PDDI/RMVA é frisada a importância que os equipamentos metropolitanos desempenham como meio de fortalecer a identidade regional, o que valoriza o papel da arquitetura neste contexto. Como exemplos podem ser citados: o Shopping do Vale do Aço, Estádio “Ipatingão”, USIPA, Hospital Marcio Cunha, entre outros. Vale ressaltar que o porte desses equipamentos tal como sua singularidade potencializa o seu caráter metropolitano.
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CAPÍTULO 4 | MULTICULTURAS NO VALE DO AÇO 
Como já foi apresentado anteriormente o rápido processo de formação do Vale do Aço impulsionado pela prosperidade econômica que a região passou a partir do século XX, promoveu a chegada de vários imigrantes na RMVA permitindo o contato entre diversas culturas. 
Ao olhar para as cidades sobre lentes fragmentadas, diversos símbolos rementem a diferentes períodos da história tornando possível “ler o texto inscrito nas cidades”. Entretanto, a grande diversidade torna a análise desses símbolos em uma escala metropolitana quase impossível pensando que cada elemento construído têm suas particularidades, reflexo dessas identidades mutáveis próprias do sujeito pós-moderno. 
Para possibilitar uma análise sobre a arquitetura com alcance metropolitano na região foi realizado um questionário com o objetivo de perceber quais são os lugares que desempenham maior influência sobre a identidade cultural do Vale do Aço. Buscou-se, através das relações subjetivas dos entrevistados, encontrar qual desses espaços possui mais visibilidade no contexto regional para posteriormente extrair características relevantes. 
A intenção do questionário foi de perceber o Vale do Aço por um ponto de vista que não é apenas da autora, buscando a interação com outras pessoas. Foram expostas fotos de 30 lugares que estão vinculados com a história do Vale do Aço sendo alguns equipamentos culturais, outros de lazer e patrimônios históricos. A escolha desses locais se baseou na possibilidade de sintetizar aspectos que sejam recorrentes as questões culturais das quatro cidades como forma de identificar principalmente
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se a arquitetura dessas edificações era um aspecto relevante da identificação das pessoas com a região metropolitana. 
O questionário foi aplicado durante a Semana Integrada no curso de Arquitetura e Urbanismo do Unileste MG de forma interativa, através de um quadro para exposição das informações e cédulas de respostas. As duas questões solicitavam ao entrevistado que diferenciasse os locais que apenas conheciam daqueles que vivenciavam. 
A primeira questão abordava os espaços que as pessoas apenas conheciam, utilizando das palavras IDENTIFICAR no sentido de “Conhecer a natureza de algo | Provar ou reconhecer a identidade de”; e CONHECER com o sentido de “Ter noção de, saber | Distinguir”. Com base nisso esperava-se avaliar quais são os elementos que possuem uma maior visibilidade regional. Já na segunda questão pretendia-se avaliar esses elementos com base nos aspectos simbólicos muito relacionados com a história individual utilizando as palavras no sentido de IDENTIFICAR-SE Quando outro elemento desperta o autoconhecimento*; e RECONHECER “Examinar, explorar | Declarar legal, ter por legítimo | Conhecer a própria imagem”. Essas análises permitiram formulação de estatísticas que servirão de referência para as estratégias do projeto a ser desenvolvido. 
As análises foram distribuídas em duas partes: primeiro por município da RMVA (Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo e Santana Do Paraíso) e de outras cidades fora da região metropolitana; e segundo agrupando todos os resultados. Foram 120 entrevistados sendo: 41 de Coronel Fabriciano, 29 de Ipatinga, 29 de Timóteo e 11 de outros municípios (Belo Oriente, Inhapim, Itabira, Ipaba, João
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Monlevade, Rio Piracicaba e Santana do Paraíso11), quase em sua totalidade, alunos e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, do Unileste MG. 
Tomando os resultados específicos por município a identificação com o Parque Ipanema foi unânime em: Coronel Fabriciano com 59% (foi apontado por alguns entrevistados a falta da Praça da Estação), Ipatinga com 72% e nos outros municípios 64%; apenas em Timóteo o resultado foi diferente: 72% tendo a Praça 29 de Abril como o principal elemento de identificação; e conforme uma análise geral do resultado, o Parque Ipanema aparece com 67,5% dos resultados como o lugar com que as pessoas mais se identificaram. 
Essa interpretação é muito importante, pois quando analisamos a baixa capacidade de identificação das pessoas com os patrimônios culturais construídos podemos perceber que ou seu uso não seja abrangente ou que as pessoas não reconheçam a história desses lugares e por isso não se apropriem simbolicamente destes. Já os espaços que foram capazes de produzir nos entrevistados uma maior identificação correspondem aos espaços livres de uso público que tem maior flexibilidade para assumir usos diversos. 
11 Santana do Paraíso foi incluído em outros municípios por possuir apenas um representante.
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4.1. | MANIFESTAÇÕES DA DIVERSIDADE 
Conforme o material “Cidades e políticas públicas de cultura: diagnóstico, reflexão e proposições” que apresenta o mapeamento da cultura em Ipatinga e Santana do Paraíso e o “Mapeamento de Lideranças e Recursos Culturais” elaborado pela APERAM em parceria com o SEBRAE sobre os agentes culturais de Timóteo e Coronel Fabriciano pode-se delinear os elementos de maior relevância para a cultura local. 
Conforme o diagnóstico apontado por esses materiais já é possível perceber como o cenário cultural é abordado na região: de um lado as grandes empresas siderúrgicas são as responsáveis por incentivar grande parte dos equipamentos e grupos de cultura em suas cidades sedes, enquanto nas cidades de Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso o apoio é basicamente por via da administração pública. 
A Fundação APERAM (antiga Fundação Acesita) e o USICULTURA são equipamentos que buscam promover as atividades culturais na região incentivadas por suas empresas, respectivamente, Aperam e Usiminas, através de espetáculos de teatro, música, exposições artísticas e acervo próprio sobre a história da empresa que se confunde com a das próprias cidades. Além de seus próprios centros culturais essas empresas são responsáveis por incentivar alguns grupos de cultura nas cidades. 
Vale ressaltar que no município de Ipatinga um Mapeamento Cultural mais aprofundado vem sendo realizado por uma empresa terceirizada neste ano de 2014 e tem como objetivo “servir de
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base para a criação de um banco de dados atualizado visando à formação do Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais (SMIIC)”. O Mapeamento Cultural deve ser realizado em todos os municípios brasileiros, a fim de abastecer uma base de dados nacional referente à cultura no Brasil, que serão disponibilizadas no site http://sniic.cultura.gov.br/. A seguir serão apresentadas as principais formas de manifestação cultural observadas na região, onde poderá ser notado que de um lado existem as manifestações típicas das primeiras ocupações do território e as que foram incentivadas pelas empresas.
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CONGADO E MARUJADA 
O congado é “uma das manifestações mais típicas do interior do Brasil, e especialmente do povo mineiro [...] uma manifestação que sempre esteve relacionada à Festa do Rosário, é praticado em Minas Gerais desde o século XVIII.” (TIMÓTEO: um município brasileiro). A presença dos grupos de Congado e da Marujada no Vale do Aço, assim como em boa parte das cidades de Minas Gerais, é marcante. A presença desses grupos está relacionada diretamente às ocupações mais antigas do território, como a comunidade da Serra dos Cocais em Coronel Fabriciano, Ipaneminha em Ipatinga, e aos núcleos históricos de Santana do Paraíso e Timóteo. 
Conforme documentário realizado sobre a Marujada na Serra dos Cocais são apontadas diferenças básicas entre a Marujada e o Congado. Segundo o mestre do grupo de Marujos da Serra do Cocais, as roupas e os ritmos são o que diferem a tipologia dos grupos. Ainda segundo relato, durante as festas que reuniam grupos de Congado, Marujos e de Capoeira podiam ser notadas letras de músicas iguais entre ambos, diferentes apenas pelo ritmo dessas. Este relato reforça a relação dessas manifestações com a cultura afro. 
Vale ressaltar que é comum que as guardas de diferentes cidades reúnam-se durante festividades. Na Festa de Nossa Senhora do Rosário de Timóteo, de 2014, reuniram-se guardas de 14 municípios. O fato de que diferentes guardas se reunirem em diferentes cidades também foi confirmado pelos membros do Congado de São Domingos do Prata, durante a Semana Integrada do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Unileste MG.
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FESTAS RELIGIOSAS 
A presença das festas é bastante significativa no Vale do Aço, sendo que boa parte dos patrimônios históricos e culturais dessas cidades estão relacionados com a prática religiosa. Vale ressaltar que essas atividades religiosas desde o inicio de formação das cidades foram responsáveis pela criação de um senso de comunidade. 
Durante diferentes épocas do ano, as comunidades se movimentam em prol da realização das festas realizadas aos santos padroeiros das cidades da região. Além das festas juninas, elemento marcante da cultura popular brasileira, realizadas por escolas e comunidades católicas, acontece também a Coroação de Nossa Senhora Aparecida, Festa de Nossa Senhora do Rosário, Festa de Sant’ Anna, Festa de São Sebastião, entre outras. 
Durante as comemorações de Corpus Christi são criados tapetes que alteram a percepção das cidades. Conforme o documentário produzido pela Prefeitura de Coronel Fabriciano, a produção de tapetes para a procissão de Corpus Christi foi inventariada como patrimônio histórico no município. Em algumas paroquias de Ipatinga também podem ser observados a elaboração dos tapetes para a procissão pela comunidade. Ainda sobre a influência dos aspectos religiosos sobre a produção cultural na região, também se pode destacar o grupo de teatro formado exclusivamente para a Encenação da Paixão de Cristo, em Coronel Fabriciano.
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CAVALGADAS 
A presença das cavalgadas nas cidades do Vale do Aço reforça a presença do aspecto rural, em seu sentido adjetivo. Conforme apontado sobre o processo de formação histórica do Vale do Aço, apesar da alta taxa de urbanização são notáveis as influências da ruralidade nos municípios. 
As cavalgadas representam um aspecto cultural relacionado às festividades religiosas e cívicas da região. O dualismo entre rural e urbano, apesar de sentida em diferentes proporções é inerente às cidades do Vale do Aço. Dentre elas vale ressaltar que além da realização de cavalgadas pelas avenidas das cidades existe a tradicional Romaria Ecológica Diocesana Dom Helvécio, que reúne grande número de cavaleiros de cidades da RMVA e Colar Metropolitano, existente desde a criação do Parque Estadual do Rio Doce. A festa de caráter religioso e cívico envolve os municípios que abrangem o entorno do Parque, que neste ano comemora 70 anos de criação da unidade de preservação. 
“A Romaria Ecológica tem o objetivo de resgatar os fatos históricos do século XX, relembrando o esforço do Bispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira para a criação do Parque e o fortalecimento da participação das comunidades na proteção da unidade de conservação. Na década de 1930, preocupado com a grande exploração da Mata Atlântica na região, o religioso registrou no livro de tombos da arquidiocese de Mariana, a área do Parque com o objetivo de preservá-la”. (IEF, 2011)
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GRUPOS DE TEATRO 
A presença dos grupos de teatro é um elemento marcante no Vale do Aço, tendo sido apontado pelos diagnósticos referenciados cerca de 26 grupos de teatro, sendo aqui destacados: o Grupo de Teatro Tralha, Grupo de Teatro Bramila, Grupo de Teatro Rizoma, Grupo de Teatro da Paixão de Cristo – em Coronel Fabriciano; o Grupo Perna de palco, Grupo Entreatros, Grupo de Teatro Farroupilha, Cia. Bruta, Grupo de Teatro e Dança GRUCON, Grupo de Teatro Esterco, Grupo de Teatro das Agentes Comunitárias de Saúde do Nova Esperança, Grupo de Teatro Cleyde Yáconis, Grupo Lainha e Grupo Boca de Cena – em Ipatinga; o Grupo Pirilampo, Grupo Atempus, Usina Dramática Alzira Alcantario, Animarte, Trupe da Alegria – em Timóteo; e em Santana do Paraíso não foi referenciado o nome do único grupo de teatro. 
Existem cinco teatros na região: Centro Cultural Zélia Olguin e teatro do USICULTURA, em Ipatinga; Teatro da Fundação APERAM, em Timóteo; Teatro João Paulo II e Centro de Arte e Cultura em Coronel Fabriciano. Além dos teatros, ressaltasse a existência das sedes de alguns desses grupos e também a existência ociosa do Teatro Arena do Timirim. É importante ressaltar que além dos espetáculos no espaço físico dos teatros, existem eventos para popularização do teatro levando espetáculos para praças e parques da região. É notável a participação das siderúrgicas para o incentivo do teatro na região tanto pelo incentivo a alguns grupos quanto pela divulgação dos artistas regionais durante os eventos promovidos por essas, como exemplo, Festival Arte Viva.
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GRUPOS DE DANÇA 
São também diversos os grupos de dança no Vale do Aço, desde dança de salão até dança contemporânea. São realizados eventos como: o Encontro de Dança do Vale do Aço – Endança, desde 1985; Encontro de Dança Contemporânea de Ipatinga – ENARTCi –, desde 2003, e Enartcinho, edição para crianças; Festivais Arte Viva e Roda Viva; e espetáculos de dança realizados ao longo do ano pela Fundação APERAM e USICULTURA como forma de promover o contato do público com trabalho de artistas locais. 
Cabe destacar a atuação do grupo Hibridus que no trabalho "Corpo-Cidade: Território de Relações" torna as relações entre corpo, cidade e paisagem em espetáculos nos espaços públicos. “Corpo-cidade: Território de Relações busca compreender a natureza dos contrastes de des- territorializações e re-territorializações, ordem/desordem, planejamento/informalidade, massificação/individualidade, através do corpo.” 
Conforme apontado pelo diagnostico tido como referencia podem ser citados os grupos: Bia Antunes Centro de Dança, Núcleo de Dança Compasso, Academia de Dança na Trilha da Arte, Cia Núcleo de Dança, Balé da Educação Integral – em Coronel Fabriciano; Hibridus Dança, Cia. Flux, Haggios Dança Contemporânea, Novo Proceder, Academia Olguin, Meia Cia.de Dança, Ailton Amâncio Studio de Dança e Grupo Hélia Barbuto – em Ipatinga; Thiago Barbosa, Grupo Afoxé, Mahatma, Grupo Orfeu Cia. De Dança, Jorge Soares – em Timóteo; e em Santana do Paraíso foi apontado a existência de um grupo de teatro, mas não teve o nome referenciado.
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GRUPOS MÚSICAIS 
A presente diversidade na região, tal como as múltiplas identidades próprias do individuo contemporâneo favorecem a existência de diversos estilos musicais na região. Sertanejo, Jazz, samba, musica erudita, reggae, MPB, rock, entre outros. Dada sua diversidade não se pretende aqui referenciar os artistas da região, mas os eventos que refletem essa diversidade. 
As manifestações dos grupos musicais possuem maior abrangência devido à flexibilidade dessas apresentações que ocorrem tanto em eventos em espaços públicos quanto eventos promovidos pelos espaços culturais da região. Os artistas regionais apresentam-se em bares, boates, shows, rádios, entre outros. Uma das questões pertinentes aos eventos musicais na região do Vale do Aço refere-se à falta de um espaço para fins musicais de grande porte, já que o espaço dos centros culturais não tem capacidade para atender grandes públicos. O problema maior dos espaços hoje utilizados para realização desses eventos diz respeito à proximidade com áreas residências. 
Os corais tem presença marcante em Timóteo e Ipatinga nas Cantatas de Natal; os coletivos em Ipatinga promovem eventos como: Grito do Rock, a Noite do Vinil, a Noite Fora do Eixo e o Rock Matinê; Festival Arte Viva em Timóteo e a Rota dos Sabores em Coronel Fabriciano que além de promover os artistas regionais trazem shows de nomes importantes da música nacional; eventos tradicionais como os festivais: Roda Viva, Arte Viva, Armazém da Viola, Ipatinga Live Jazz, Fest Country, além de shows de artistas diversos ao longo do ano.
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FEIRAS E EVENTOS GASTRONÔMICOS 
As feiras livres têm sua origem relacionada com a troca de excedentes. As feiras ao redor do mundo possuem suas peculiaridades, sendo que no Brasil, assim como no Vale do Aço, os produtos relacionam-se diretamente com a cultura local. 
Assim como aconteceu com diversas cidades industriais, onde o solo urbano deixa de suprir as necessidades de produção de alimentos, na RMVA o processo de ocupação do território marcado pela utilização industrial do campo diminuiu a produção agrícola, que embora ainda exista de forma tímida, torna necessário que a produção venha de produtores de outras localidades. 
As feiras hoje representam mais do que um espaço destinado à venda de produtos variados, mas um local de convívio social e lazer. De acordo com as necessidades, foram surgindo diversos tipos de feiras pelas cidades, sendo que apesar de semelhanças possuem características próprias. Entre essas feiras destacam-se: Feira de Coronel Fabriciano localizada no Melo Viana e a Feira Orgânica no bairro Floresta; em Ipatinga destacam-se: a Feira do Ipatingão que assume diversos usos ao longo da semana (de “CEASA” à feira de carros), Feira do Veneza, e a Feira de Artesanato Feirart, no Centro; e a Feira do Timirim, em Timóteo. Dentre os eventos gastronômicos destacam-se: Rota dos Sabores, Comida di Buteco, Festival da Cachaça, Festival da Banana – que além dos moradores da região metropolitana atraem visitantes de outras localidades.
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CARNAVAL 
Uma das festas mais antigas da humanidade tornou-se comum nas casas de bailes também no Vale do Aço, mas em Timóteo o carnaval extrapolou o limite dos clubes privados e tomou as ruas. No Brasil, a tradição carnavalesca veio de Portugal - onde o Entrudo era bastante popular- e à medida que sofreu transformações deixou de ser uma festividade burguesa transformando-se em uma das mais fortes expressões da cultura popular brasileira. 
As festas de carnaval que aconteciam nos clubes e salões ganharam mais representatividade nas ruas. Em Coronel Fabriciano e Ipatinga, por alguns anos o carnaval tomou as avenidas com foliões fantasiados, mas a prática durou poucos anos. Mas na cidade de Timóteo o carnaval, passou a representar um aspecto cultural da cidade. Tal como boa parte dos aspectos culturais, o carnaval em Timóteo surgiu do incentivo da Acesita. Membros das escolas da cidade foram enviados para o Rio de Janeiro onde aprenderam as técnicas sobre a festa. Associado a toda atmosfera lúdica que o carnaval possibilita o carnaval representou um exercício de liberdade da cidade em relação à indústria conforme diz QUECINI, 2007: 
Mas se, como a cidade, o carnaval timotense não se formou, mas foi implantado, ele preservou o espírito original da festa, constituindo-se numa celebração que ao reconhecer as mazelas da realidade, busca contestá-la. [...] carnaval de Timóteo é uma manifestação cultural que demonstra quão tênue é linha que separa aqueles que pensam e fazem a cidade, daqueles que nela vivem. Mais do que isso, ele é a expressão legítima da identidade de um grupo, de uma identidade que, sem negar sua origem industrial, mostra-se livre da tutela empresarial. (QUECINI, 2009)
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ARTESANATO O artesanato tem representado uma discussão ascendente no Vale do Aço. Uma produção no impasse entre a arte e o design que através do seu valor simbólico tem capacidade para transformar a vida de comunidades. É fato que desde as transformações no período pós-moderno o valor simbólico tornou-se o principal diferencial entre produtos. Sabendo disso, algumas produções ditas artesanais apresentam- se “com produção cada vez mais homogênea e pasteurizada, os objetos apresentados estão carregados de um falso tradicional e com produção em série.” (ROQUE, Bruna) É fato que algumas produções artesanais ainda passam por questões de simples repetição, mas percebe-se a realização de trabalhos que busquem a valorização da identidade regional. Dentro dessas organizações podem ser citados: Associação dos Artesãos de Timóteo (ASSOARTT), Casa do Artesão, a Feira de Artesanato e Gastronomia (FEIRACEL), a FEIRART (Feira de Artesanato de Ipatinga), entre outros. Recentemente, aconteceu a primeira “Feira Metropolitana de Artesanato” na Feira do Timirim, em Timóteo, em parceria entre a Prefeitura e o Circuito Mata Atlântica de Minas. “A feira teve como objetivo fortalecer a divulgação do que vem sendo produzido pelos artesãos do Vale do Aço e, além disso, incentivar o turismo na região”. (PREFEITURA Municipal de Timóteo, 2014)
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ARTES 
Em relação às artes plásticas, a Fundação APERAM e o Centro Cultural USIMINAS, apesar de não serem as únicas, desempenham papel fundamental como curadoras de exposições dos artistas locais com as mais variadas temáticas. 
Ao longo do ano esses espaços apresentam diversas exposições buscando valorizar artistas e projetos desenvolvidos na região. Alguns artistas plásticos da região tiveram seus trabalhos reconhecidos internacionalmente. São diversas técnicas, materiais e focos de atuação desenvolvidos por artistas do Vale do Aço, exemplo dessa diversidade são as Oficinas de Cultura Japonesa no Vale do Aço – Yoshiko, que transmitem um pouco da cultura nipônica presente em Ipatinga através das técnicas japonesas como o Raku12 e Origamis. 
Vale destacar a presença das esculturas de aço inox presente nos espaços públicos da região. Além das técnicas tradicionais, um ponto positivo para as artes visuais no Vale do Aço é a presença delas nos espaço urbano, através de obras de artistas plásticos e dos grafites. O grafite tem ganhado força como expressão artística tipicamente urbana, sendo potencializado através das oficinas realizadas nos projetos sociais pelo Vale do Aço reforçando o caráter inclusivo da arte. 
12 Técnica conhecida da arte japonesa de fabricação de peças cerâmicas através de técnicas de cozedura e pós- cozedura das peças que lhes garantem uma estética muito característica.
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GRUPO DE CICLISTAS 
Um elemento culturalmente relevante é o uso da bicicleta seja como instrumento de deslocamento ou de lazer. Os deslocamentos urbanos através das bicicletas tem ganhado relevância mundialmente, em função de ser um modelo de transporte sustentável, favorecendo tanto quem a utiliza quanto a cidade. 
No período da formação das cidades do Vale do Aço, a bicicleta representava um dos poucos meios de transporte disponíveis, já que naquelas condições poucas pessoas podiam ter acesso ao carro. No entanto, esse deslocamento tornou-se um hábito na região sendo comum uma quantidade expressiva de ciclistas na paisagem das cidades no Vale do Aço. Mas à medida que o tecido urbano tornou-se mais extenso e complexo, as bicicletas vão diminuindo sua relevância muito em função da vulnerabilidade por falta de ciclovias e pela necessidade de movimentos pendulares constantes. 
Em Coronel Fabriciano, os registros fotográficos de Sete de Setembro de 1964 relatam a importância que anos mais tarde pode ser comprovada pelos estudos do Plano Diretor de Coronel Fabriciano. O Plano Diretor desse município aponta diretrizes exclusivas sobre as ciclovias no município, ressaltando o fato do deslocamento por meio de bicicletas já ser um aspecto cultural na cidade. Enquanto cidades caóticas tentam introduzir esse modelo de deslocamento, as cidades do Vale do Aço deveriam aproveitar para potencializar o deslocamento por bicicletas como alternativa de mobilidade e lazer.
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FUTEBOL É CULTURA 
No Vale do Aço, além do imaginário nacional, a cultura operária contribuiu para a ampla difusão do futebol nas cidades. O processo de formação dessas fez com que o senso de comunidade fosse desenvolvido de forma gradual, quase sempre influênciado pelas indústrias. Os times de futebol podem ser relacionados como um aspecto cultural do Vale do Aço porque representam um marco na formação expontânea de organização social dessas novas cidades. 
Reflexo dessa representatividade que os clubes de futebol desempenharam para desenvolver o senso de coletividade nas cidades, a presença dos campos de futebol na região metropolitana merece destaque, pois apresentam-se distribuídos de forma ‘igualitária’ no território, bem diferente dos equipamentos de cultura que concentram-se no centro das cidades. Diferente dos anos que os primeiros times do Vale do Aço foram criados, o futebol tem representado uma forma de transformar e incluir, preservando o seu sentido de comunidade. 
Além dos vários times de bairros, escolinhas de futebol e dos times de clubes da região, o Acesita Esporte Clube, Social Futebol Clube, e Ipatinga Futebol Clube (passando este em 2013 a ser chamado Betim Esporte Clube) contam uma parte da história dessas cidades desenpenhando não apenas uma prática de lazer, mas uma referência do senso de coletividade.
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CAPÍTULO 5 | HERANÇA DO VALE VERDE PARA O VALE DO AÇO 
Aspecto que merece a atenção do Vale do Aço como potencial para a diversificação econômica das cidades é o potencial turístico proporcionado principalmente pelo relevo acidentado e pela maior reserva contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais: o Parque Estadual do Rio Doce. Essa localização privilegiada do Vale do Aço culminou na criação do Circuito Mata Atlântica de Minas, que será objeto de estudo deste capítulo. 
O Circuito Mata Atlântica de Minas foi criado em 2001, com objetivo de potencializar o desenvolvimento regional nos municípios constituintes através dos potenciais turísticos desses municípios ligados aos segmentos do ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural e o turismo religioso, sendo estes: Açucena, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Marliéria, Santana do Paraíso, São Domingos do Prata e Timóteo. 
O diagnóstico turístico desenvolvido em 2011 sobre o “Projeto ‘Turismo no Vale do Aço’ Circuito Mata Atlântica de Minas” realizado pela Impactur Consultoria Turística, em atendimento à parceria firmada entre o SEBRAE-MG e o Circuito para a implantação do Projeto Turismo no Vale do Aço aponta as potencialidades e fragilidades para o funcionamento efetivo do Circuito na região paralelo ao programa “Vale além do Aço”13. Embora o diagnóstico aponte os sete municípios constituintes, 
13 “Conhecendo o Vale Além do Aço” é uma ação estratégica do Circuito para envolver e sensibilizar a rede de prestadores de serviços turísticos, despertando o interesse, o empreendedorismo e o conhecimento da atividade turística
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serão abordados apenas os quatro municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço – Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo. 
Uma fragilidade comum a todos os municípios integrantes do circuito apontam para ausência de uma ação integrada entre os municípios, o que enfraquece o potencial do programa enquanto “circuito”. Outro ponto recorrente às fragilidades dos municípios é a ausência de um centro de atendimento aos turistas e o desconhecimento da população sobre a existência do Circuito Mata Atlântica de Minas, além da baixa cultura do turismo na região seja pela população, seja pela administração pública. 
A seguir serão apresentados os dados encontrados nesse diagnóstico, com foco de análise sobre os recursos naturais como forma de verificar quais são os elementos apontados como potenciais para o desenvolvimento do turismo na região do Vale do Aço. 
regional e promovendo o intercâmbio de conhecimento e fomento às parcerias. (CIRCUITO MATA ATLÂNTICA DE MINAS, 2011).
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TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

  • 1. 0
  • 2. ALINE CAMILLO CAMILLATO PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Orientador: Cássio Lucena CORONEL FABRICIANO, DEZEMBRO DE 2014
  • 3. 2 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por sempre estar ao meu lado direcionando meus passos. Aos meus pais, Nilce e Paulo César, por sempre me ensinarem a ver significado nas coisas simples da vida e por cuidarem tão bem de mim. Aos meus irmãos, Amanda e Paulo César Jr., que são os melhores presentes que tenho na vida. Ao meu amor e amigo, Maycon, que esteve ao meu lado em todos os momentos sendo a minha força e motivação. Aos meus familiares por me encorajarem. Agradeço aos meus coordenadores do PDDI, Roberto Caldeira e Kênia Barbosa, pela oportunidade de conhecer uma nova forma de olhar para minha futura profissão e pelo conhecimento compartilhado, e também aos meus colegas de PDDI pelas experiências cotidianas. E, de forma especial, agradeço ao meu avô Cyrineo que infelizmente não esta mais aqui para me contar suas histórias.
  • 4. “No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Alguma coisa que nada tem a ver com ‘arte’; uma espécie de aliança entre ‘dovere’ [dever] e ‘prática científica’. É um caminho meio duro, mas é o caminho da arquitetura.” LINA BO BARDI
  • 5. 4 RESUMO Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são processos de materialização da cultura de um povo, pretende-se com essa pesquisa analisar a questão cultural no Vale do Aço como meio de produzir uma arquitetura capaz de valorizar a identidade regional. Buscou-se compreender as variáveis que compõe a questão cultural no Vale do Aço através de pesquisas teóricas, diagnósticos, visitas in loco e pela aplicação de questionário com alunos e professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Unileste MG. O questionário selecionou fotos de 30 lugares relacionados com a história e cultura do Vale do Aço e teve como objetivo avaliar quais desses despertaram maiores índices de apropriação pelos entrevistados. Com base nas análises proporcionadas pelo referencial teórico e pelo resultado do questionário percebeu que os espaços culturais edificados no Vale do Aço não despertaram um senso de identificação significativo, sendo que os espaços livres de uso público foram aqueles com maiores percentuais de apropriação. Ao longo da pesquisa percebeu-se que a arquitetura de espaços culturais representa uma forma particular de materializar as significações culturais para a própria valorização do exercício cultural. Portanto, pretende-se a criação de um espaço cultural que seja capaz de fortalecer a identidade cultural da Região Metropolitana do Vale do Aço através da valorização da história e cultura regional. Palavras-chaves: Região Metropolitana do Vale do Aço. Identidade Cultural. Arquitetura. Espaços Culturais.
  • 6. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 | |INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08 CAPÍTULO 2 | O PASSADO RECENTE DO VALE DO AÇO .............................................................. 13 2.1 | O VALE ANTES DO AÇO ....................................................................................................................................... 13 2.2 | A CHEGADA DO AÇO NO VALE ........................................................................................................................ 24 2.3 | REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO AÇO ............................................................................................ 39 CAPÍTULO 3 | IDENTIDADE E INDIVIDUALIDADE ......................................................................... 46 3.1 | IDENTIDADE METROPOLITANA ................................................................................................. 55 CAPÍTULO 4 | MULTICULTURAS NO VALE DO AÇO ...................................................................... 61 4.1. | MANIFESTAÇÕES DA DIVERSIDADE ......................................................................................... 68 CONGADO E MARUJADA .............................................................................................................................................. 71 FESTAS RELIGIOSAS ......................................................................................................................................................... 73 CAVALGADAS ..................................................................................................................................................................... 75 GRUPOS DE TEATRO ....................................................................................................................................................... 77 GRUPOS DE DANÇA ........................................................................................................................................................ 79 GRUPOS MÚSICAIS .......................................................................................................................................................... 81
  • 7. 6 FEIRAS E EVENTOS GASTRONÔMICOS .................................................................................................................... 82 CARNAVAL .......................................................................................................................................................................... 85 ARTESANATO ..................................................................................................................................................................... 87 ARTES .................................................................................................................................................................................... 89 GRUPO DE CICLISTAS ..................................................................................................................................................... 91 FUTEBOL É CULTURA ...................................................................................................................................................... 93 CAPÍTULO 5 | HERANÇA DO VALE VERDE PARA O VALE DO AÇO.............................................. 95 CORONEL FABRICIANO .................................................................................................................................................. 98 IPATINGA .......................................................................................................................................................................... 100 SANTANA DO PARAÍSO .............................................................................................................................................. 102 TIMÓTEO .......................................................................................................................................................................... 104 CAPÍTULO 6 | VALOR DA CULTURA NAS CIDADES CONTEMPORANEAS ................................ 105 CAPÍTULO 7 |DESAFIOS DA CULTURA NO BRASIL ..................................................................... 113 7.1 | O CONSUMO DE BENS CULTURAIS NO BRASIL ...................................................................................... 116 7.2. | EDUCAÇÃO COMO ELEMENTO TRANSFORMADOR ............................................................................ 123 7.2.1 | OBRA ANÁLOGA: CENTRO EDUCACIONAL BURLE MARX ................................................................ 127
  • 8. CAPÍTULO 8 | TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS CULTURAIS ................................................ 133 8.1 | CONTRIBUIÇÃO DE LINA BO BARDI PARA CULTURA BRASILEIRA ................................................... 145 8.1.1 | OBRA ANÁLOGA: MASP ................................................................................................................................. 152 8.2 | MUSEUS E ESPAÇOS CULTURAIS NO VALE DO AÇO ............................................................................ 162 CAPÍTULO 9 | TCC 2 ........................................................................................................................ 171 9.1.1 | ESCOLHA DO NOME ....................................................................................................................................... 174 9.1.2 | DIRETRIZES DO PROJETO .............................................................................................................................. 174 9.1.3 | PROGRAMA DE NECESSIDADES .................................................................................................................. 174 9.1.4 | ESCOLHA DO LUGAR..................................................................................................................................... 1748 9.2 | ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O TCC2....................................................................................... 180 CAPÍTULO 10| CONCLUSÃO ........................................................................................................... 185 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 187
  • 9. 8
  • 10. 9 CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são produções culturais, este trabalho foi desenvolvido pelo desejo de intender como a identidade cultural pode beneficiar a produção arquitetônica, buscando perceber questões pertinentes à cultura no Vale do Aço como forma de propor uma arquitetura contemporânea passível de ser assimilada como parte da identidade regional. Durante o período que a autora trabalhou como estagiária no Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana, além de conhecer a região sobre os diversos aspectos que a compõe, desenvolveu-se um interesse pela valorização do Vale do Aço. Dentro das fragilidades que o funcionamento pleno da região metropolitana enfrenta, por diversas vezes ouviu-se dizer sobre falta de uma identidade metropolitana - questão que dificulta a gestão compartilhada dos municípios para equipamentos de interesse comum. Durante o curto período de elaboração desta pesquisa ouviu-se dizer “Por que você não faz algo específico para Coronel Fabriciano? As outras cidades já estão com a questão da cultura encaminhada” ou então “Por que não faz alguma coisa apenas para Timóteo? A história da cidade é muito rica, e o fato de existir ‘duas cidades dentro de uma só’ daria uma boa discussão” e “Por que não faz algo para Ipatinga? Só a diversidade daqui renderia uma boa discussão”. O que se pretende nesta pesquisa é justamente desenvolver uma análise conjunta da região, fortalecendo através de um espaço arquitetônico o sentimento de pertencimento a região.
  • 11. 10 A decisão de abordar a Região Metropolitana do Vale do Aço de maneira integrada tornou necessário que as análises arquitetônicas fossem condicionadas por elementos de uso público, especificamente aqueles que estivessem relacionados com a cultura local, buscando diagnósticos e pesquisas que pudessem dar um panorama sobre a questão cultural nos municípios. Primeiramente, será feita uma análise histórica da região buscando entender aspectos pertinentes a cultura local. Nesta etapa será abordado o fato da região ter se desenvolvido tardiamente, mas com grande impulso pela implantação das siderúrgicas. Além disso, se discutiu sobre dicotomias no espaço urbano causadas pelo alto nível de urbanização. Serão apontadas características desde a transformação do Vale Verde até a presente condição de Região Metropolitana do Vale do Aço. Para entender como poderia ser analisada a questão da identidade cultural apontou-se o estudo de Peter Hall (2006) sobre os desdobramentos da identidade perante o indivíduo como sendo algo constantemente mutável, refletindo em um processo constante de formação de identidade. Hall ainda aponta para a força que a identidade nacional desempenha ao produzir símbolos passíveis de serem associados de forma coletiva. Diante da importância que a identidade representa como forma de vincular os indivíduos ao seu espaço, levantou-se a questão da identidade metropolitana no Vale do Aço. No quarto capítulo serão apontadas as principais manifestações da cultura local, que em função da ausência de um mapeamento oficial das prefeituras, baseia-se em análises encontradas nos materiais: “Cidades e políticas públicas de cultura: diagnóstico, reflexão e proposições” que apresenta o
  • 12. 11 mapeamento da cultura em Ipatinga e Santana do Paraíso; o “Mapeamento de Lideranças e Recursos Culturais” elaborado pela APERAM em parceria com o SEBRAE sobre os agentes culturais de Timóteo e Coronel Fabriciano; e o diagnóstico desenvolvido pelo Eixo de Desenvolvimento Social do PDDI/RMVA. Além de aspectos apontados pelas pesquisas, serão abordados outros conforme análise da autora. No quinto capitulo além da valorização histórica e cultural, aponta-se para outro potencial inexplorado da região: os recursos naturais, muito associados à existência do Parque Estadual do Rio Doce. Apesar da existência do Circuito Mata Atlântica que engloba os quatro municípios da Região Metropolitana - além de outros do Colar Metropolitano - a questão do turismo na região ainda é insipiente. Sabendo das transformações ocorridas no meio ambiente do Vale do Aço durante o seu período de ocupação, pretende-se apontar a necessidade de valorizar os aspectos naturais da região. No sexto capitulo pretende-se abordar como o valor simbólico tem interferido nas produções arquitetônicas contemporâneas, apontando aspectos da economia mundial que tornaram a cultura em um diferencial econômico. Além disso, são levantados discussões sobre como podemos perceber a “Imagem das Cidades” influenciadas pelo “City Marketing”. Sabendo da forma como a cultura tem se tornando em um ativo econômico, buscou-se encontrar explicações para a fragilidade que a questão cultural sob os olhos públicos no Brasil representa. Ao longo deste capítulo são apontadas dificuldades herdadas pelo contexto histórico brasileiro, sobretudo, sobre a questão da arte e cultura como sendo algo exclusivo das elites. Posteriormente,
  • 13. 12 será apontado como os novos meios de comunicação têm contribuído para a desvinculação do espaço arquitetônico a fim de propor espaços capazes de estimular essa permanência nos espaços culturais. Sabendo da dificuldade do acesso a cultura ter-se tornado um ‘problema cultural’ ressaltasse a importância da educação como forma de estimular o desenvolvimento social de crianças e jovens. No oitavo capítulo são apresentadas modificações nos espaços culturais como forma de levantar questões sobre os aspectos pertinentes à produção desses espaços na contemporaneidade. Também será apontada a contribuição importante de Lina Bo Bardi para a valorização da cultura brasileira através de seus estudos e projetos para espaços culturais no Brasil. Após analisar sobre as transformações dos ‘museus’ de forma geral, aponta-se os equipamentos dessa tipologia no Vale do Aço. OBJETIVO | Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são processos de materialização da cultura de um povo, pretende-se com essa pesquisa analisar a questão cultural no Vale do Aço como norteadora para produção arquitetônica contemporânea capaz de fortalecer a identidade regional. Para isso, pretende-se analisar o processo de formação da região buscando entender a origem de aspectos da cultura local; buscar quais são as principais manifestações culturais que acontecem na região; verificar quais são os espaços edificados de uso-público destinados à valorização da cultura regional; entender como a questão cultural vem sendo abordada nas produções arquitetônicas contemporâneas.
  • 14. 13
  • 15. 14 CAPÍTULO 2 | O PASSADO RECENTE DO VALE DO AÇO O Vale do Aço teve sua formação recente quando comparado com cidades próximas territorialmente que já datam alguns séculos de existência, como exemplo, Ouro Preto e Sabará. A ocupação efetiva do território que corresponde hoje ao Vale do Aço ganhou expressividade apenas no início do século XX, mas o que levou a essa ocupação tardia do território e como essa ocupação influenciou as manifestações culturais observadas no presente contexto dessa região? Vale destacar a abordagem simplificada sobre a formação da Região Metropolitana do Vale do Aço a que esse capítulo se pretende, sendo preconizados os indícios que possam contribuir para um entendimento subjetivo sobre a condição atual da cultura regional. 2.1 | O VALE ANTES DO AÇO Antes de se tornar o vale do aço, a região era conhecida como Vale Verde em função da presença abundante de Mata Atlântica em toda porção do território que hoje corresponde a Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) e que se estendia ao longo de todo Rio Doce. A presença dos índios botocudos combinado com a mata densa, relevo acidentado e falta de pedras preciosas - principal foco de exploração pela Coroa Portuguesa no século XVIII, intimidou os exploradores durante o período colonial, conforme diz BARBOSA (2010): “Nessa época, a região do vale verde acabou assumindo o papel de barreira do contrabando do ouro das minas. Além da proibição da Coroa de abertura de novos caminhos, a presença dos índios, sobretudo, os botocudos, aliado à topografia montanhosa, contribuíram para a restrita ocupação da região.” (BARBOSA, 2010)
  • 16. 15 Os índios botocudos foram os mais temidos e resistentes às invasões dos colonizadores, em função das habilidades como guerreiros e pela a cultura da antropofagia12 em suas tribos. O termo “botocudo” foi-lhes atribuído pejorativamente pela caracterização desses indígenas com ‘botoques’ nos lábios e orelhas. Em diversos mapas que datam o período colonial a porção do território ocupado por essas tribos é demarcada por expressões como “bárbaros gentios botocudos” ou “índios botocudos antropófagos”, apontando que a presença deles dificultou o processo de ocupação ao longo do rio Doce. As expedições em busca de ouro na região do rio Doce não tiveram êxito, o que aliado aos outros fatores que dificultavam a ocupação do território fizeram a região permanecer distante dos interesses dos colonizadores. Por volta de 1773, a Coroa Portuguesa proibiu a navegação do rio Doce, em função da sua ligação entre o interior da então capitania de Minas Gerais com o litoral capixaba, e buscou impedir a abertura de novos caminhos como forma de evitar o contrabando das pedras preciosas. Enquanto o caminho das minas de pedras preciosas se tornavam um importante eixo de crescimento de vários povoados e cidades de Minas Gerais, o Vale Verde permanecia inexplorado, 1 Antropofagia é o ato de comer uma parte ou várias partes de um ser humano. Os povos que praticavam a antropofagia a faziam pensando que, assim, iriam adquirir as habilidades e força das pessoas que comiam. Por sua realização em contexto mágico cerimonial ou patológico, não deve ser classificada ou compreendida como um hábito alimentar. 2 “Esse negócio de a literatura dizer que os "Botocudo" eram antropófagos é um ato falho, é um truque da má consciência neobrasileira formadora do Brasil. Eles tinham de dizer que minha gente era antropófaga para nos aniquilarem.” Ailton Krenak, líder da comunidade Krenak e assessor para assuntos indígenas do governador Aécio Neves, foi concedida em setembro de 2008, em Belo Horizonte (MG). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142009000100014>. Acesso em 31 de Outubro de 2014.
  • 17. 16 conforme pode ser visualizado no mapa a seguir. Pode-se analisar a existência de cidades e ocupações mais complexas nas áreas próximas aos locais de exploração de pedras preciosas. A partir do século XIX com a decadência das explorações do ouro e pedras preciosas a Coroa incentivou a ocupação de novas terras em especial ao longo do Rio Doce, refletindo diretamente em uma guerra contra os índios Botocudos e em uma tímida ocupação da região onde foram desmatadas grandes áreas florestais. Nesse período começam a existir os primeiros registros do povoamento da região que hoje corresponde ao Vale do Aço conforme é dito por BARBOSA, 2010: O governo colonial declarou guerra aos indígenas. Ofereceu benefícios fiscais e concedeu terras àqueles interessados em explorá-las. Os colonizadores, imigrantes e soldados, em busca de novas riquezas, destruíam as tribos indígenas e devastavam as florestas para se apossar das terras (BRITO; OLIVEIRA; JUNQUEIRA; 1997 apud BARBOSA, 2010). A Coroa Portuguesa promoveu uma verdadeira chacina contra as várias aldeias indígenas que habitavam a mesorregião do Rio Doce, restando poucas tribos em algumas cidades de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES). Na região do Vale do Aço, especificamente, existem hoje poucos indícios sobre a ocupação dessas tribos sendo que algumas produções artesanais demonstram essa influência, como exemplo os objetos feitos através do trançado de palha e a cobertura de edificações que também utilizavam a palha de coqueiro - típico da Mata Atlântica.
  • 18. 17
  • 19. 18 Sobre as primeiras ocupações no Vale Verde, pode-se perceber conforme ilustrado pelo mapa (1821) que as primeiras ocupações na região que hoje corresponde especificamente a RMVA situam se na porção do território que hoje constitui o município de Timóteo. O mapa acima indica a presença da ocupação do Alegre em Timóteo e do Porto de Canoas confirmado por QUECINI, 2007: Foi neste contexto que, em 1847, Francisco de Paula e Silva solicitou a posse de uma sesmaria na região, onde organizou a Fazenda do Alegre. Situada em local deslocado das principais rotas de colonização, às margens do córrego denominado “Thimóteo”, um afluente da margem direita do rio Piracicaba a poucos quilômetros do ponto onde este deságua no rio Doce, esta fazenda cresceu e passou a englobar três sesmarias: Alegre, Limoeiro e Timóteo, possuindo pastos para criação de gado, mulas e cavalos, além de produzir açúcar. No mapa podem ser observadas as ocupações mais antigas na região destacando-se o povoado de Alegre e o Porto de Canos, ambos em Timóteo. Além desses, podem ser observados pequenos povoados ainda existentes como é o caso de Cubas – atualmente Distrito de Ferros, mas com sua ocupação tangenciando a área rural de Coronel Fabriciano - e Perpétuo Socorro – atualmente Distrito de Belo Oriente. Também podem ser observados núcleos próximos mais estruturados como é o caso de Antônio Dias e São Domingos do Prata. O Rio Piracicaba e os caminhos que passavam tangenciando a região provavelmente foram dois fatores que propiciaram a ocupação efetiva do território do Vale do Aço. Em nível de hipótese aqui levantada, a localização do vilarejo de Cuba, pode revelar o ponto por onde as ocupações na Serra dos Cocais em Coronel Fabriciano e Pedra Branca em Ipatinga iniciaram. No caso de Timóteo, além
  • 20. 19 do Rio Piracicaba, o caminho ao sul do território que passavam pela Ponte Queimada, pode ter sido um dos fatores que influenciaram essas ocupações. Já no mapa abaixo que data de 1855, período do Brasil Império, já pode ser percebido uma rede um pouco mais complexa de desenvolvimento na região, podendo ser observado a freguesia de S. Anna de Alfié (Timóteo), sendo a primeira em um território pertencente à RMVA – conforme é registrado pelo mapa - , e outros próximos como é o caso de Joanésia, Prata, Antônio Dias, S. Anna de Ferros. Também pode ser observada a condição de Itabira elevada à condição de cidade; muito em função da descoberta do minério de ferro. Outro ponto que cabe ser ressaltado é a inexistência de aldeias indígenas na região.
  • 21. 20
  • 22. 21 Como já foi dito anteriormente a decadência da exploração do ouro resultou em novas formas de exploração do território, e posteriormente a descoberta do minério de ferro deu início a uma nova fase de desenvolvimento de Minas Gerais. “Em função da descoberta do minério de ferro algumas pequenas fábricas foram se instalando no interior de Minas Gerais, o que pode ser considerado o embrião da vocação siderúrgica do estado”.3 (ACERVO Parque Estadual do Rio Doce, 2014) A ocupação efetiva do território que hoje corresponde ao Vale do Aço começa a ganhar relevância após a chegada da Estrada de Ferro Vitória - Minas (EFVM) que margeando o Rio Doce liga o interior de Minas Gerais a zona portuária no Espírito Santo, uma medida que visava o escoamento rápido de produtos e teve como consequência a formação de vários povoados ao longo da ferrovia e um significativo crescimento populacional na região. Essa medida começa a influenciar diretamente a ocupação do, até então, Vale Verde conforme diz COSTA, 1995: A estrada de ferro, ao correr continuamente em paralelo com o Rio Doce, divide com este o papel de espinha dorsal do Vale de mesmo nome, transformando seu meio-ambiente original, diversificando e incorporando mercados e produtos, fazendo surgir e consolidando entrepostos comerciais, embriões das atuais áreas urbanas, estabelecendo ao longo do tempo as condições necessárias à produção industrial”. (COSTA, 1995 apud BARBOSA, 2010) 3 Conforme acervo disponível no Parque Estadual Do Rio Doce a região: “Em 1864 – Relatório do Governo de Minas Gerais registra a existência de 120 fabricas de ferro em Minas Gerais, a maioria na região do rio Doce.” FONTE: ACERVO Parque Estadual do Rio Doce, 2014.
  • 23. 22 A disponibilidade do minério de ferro combinada à localização estratégica que a região passava a representar com a chegada da ferrovia resultou na instalação de grandes empresas siderúrgicas na região por volta dos anos 1930. A região, que até o inicio do século XX permanecia com grandes reservas de Mata Atlântica de Minas Gerais, foi transformada em uma ‘mina’ de carvão vegetal
  • 24. 23 (principal fonte de combustível para as indústrias no momento) que junto à ferrovia formava uma localização estratégica para empresas siderúrgicas. A primeira a chegar à região foi a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. A empresa adquiriu muitas terras na região para exploração de carvão vegetal, transformando a paisagem natural da região e alterando as dinâmicas de ocupação do território. Instalou seu escritório no Calado - no momento distrito de Antônio Dias, e hoje corresponde ao Centro de Coronel Fabriciano - criando um poder de polarização comercial à medida que uma infraestrutura local era formada. Desde o período, o comércio e a prestação de serviços se tornaram um forte traço da cultura em Coronel Fabriciano. A presença da estrada de ferro combinada com a descoberta de minério de ferro na região de Itabira e a produção do carvão vegetal no distrito de Coronel Fabriciano ganhou destaque no cenário estadual tornando a região uma combinação perfeita para a instalação das siderúrgicas, sendo inaugurada em 1949 a ACESITA (Companhia Aços Especiais Itabira) e em 1956 a USIMINAS (Usinas Intendente Câmara), em Timóteo e Ipatinga, respectivamente.
  • 25. 24
  • 26. 25 2.2 | A CHEGADA DO AÇO NO VALE Com a chegada das indústrias na região, um intenso processo de modificação das dinâmicas sociais, econômicas e territoriais começou acontecer. A região que durante o século XIX passou despercebida, no inicio do século XX teve um desenvolvimento expressivo no cenário estadual e, mais tarde, federal quando a indústria de base foi tomada como principal ferramenta do progresso econômico. Ao analisar o mapa que data de 1821, Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, apresentados na seção anterior, e as ocupações urbanas do século XX, que serão apresentadas neste, temos os núcleos históricos especulados da região separados inicialmente do processo intenso de urbanização dessas cidades com a chegada das indústrias siderúrgicas. Vale ressaltar que antes mesmo da chegada da ferrovia, o pequeno povoado São Sebastião do Alegre de Timóteo já possuía uma estrutura social com “uma economia baseada na produção rural, seja de gêneros alimentícios, seja de carvão, o núcleo “urbano” possuía pouco mais que seis ruas organizadas em torno da capela de pau-a-pique e seu pequeno cemitério nos fundos.” (QUECINI, 2007).
  • 27. 26 A implantação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira na região do Calado associado à ferrovia tornou Coronel Fabriciano (até ao momento distrito de Antônio Dias) um importante polarizador de atividades relacionadas à prestação de serviços para as ocupações próximas. A exportação das madeiras nobres provindas do desmatamento da Mata Atlântica e a produção do carvão vegetal trouxe prosperidade para o distrito, conforme diz BARBOSA, 2010:
  • 28. 27 Com a chegada da Belgo-Mineira no distrito de Coronel Fabriciano houve a expansão do seu pequeno núcleo urbano, com aberturas de ruas e novas construções. Foram construídos escritórios, ambulatórios médicos, residências para os funcionários e também o primeiro hospital da região (Hospital Siderúrgica), inaugurado em 1938. (BARBOSA, 2010) A logística favorável da região que surgia da combinação do minério de ferro, ferrovia e a produção de carvão vegetal resultavam em uma localização estratégica para as indústrias siderúrgicas. ACESITA iniciou sua implantação em 1944 e além da construção da indústria foi a responsável pela construção de uma infraestrutura que condicionasse o seu funcionamento provocando profundas modificações na paisagem natural e nas dinâmicas sociais existentes do povoado de São Sebastião do Alegre de Timóteo, conforme é citado por QUECINI, 2007: “E, enquanto as fazendas iam se agrupando e a produção agrícola ia minguando, a pouco menos de cinco quilômetros, uma extensa planície às margens do rio Piracicaba começava a ser desmatada. Nesse local, destino de homens, máquinas e mercadorias que constituíam quase toda a carga desembarcada na estação do Calado, começavam a ser plantadas as sementes da moderna cidade de Timóteo, relegando à pequena vila o papel de abrigar parte desse contingente de estranhos.”(QUECINI, 2007) A primeira fase de urbanização da “Cidade da Acesita” se deu sem um planejamento específico, sendo priorizado inicialmente o projeto da planta industrial, “as casas eram edificadas em pau-a- pique ou com a madeira dos caixotes dos equipamentos importados dos Estados Unidos”.
  • 29. 28 À medida que a indústria ia tomando forma, uma tomada nacionalista fez com que a indústria tomasse a “sua cidade” como sua extensão, fazendo investimentos para garantir que a imagem da ACESITA fosse condizente com seu papel no cenário nacional 4. Em 19585 a ACESITA já havia edificado 2.734 residências. Além da igreja, do armazém, do açougue e da farmácia, a cidade possuía 4 Após o Banco Central assumir o controle da empresa, a ACESITA passa a ser vista como um exemplo do desenvolvimento industrial do país, sendo a única a produzir aços especiais com autossuficiência energética. Assim cidade deveria refletir esses conceitos e tornar-se um exemplo de desenvolvimento urbano para o Brasil, a ACESITA “passará a marcar, no mapa do Brasil, um novo núcleo de vida, de trabalho”. 5 Em 27 de dezembro de 1948, depois de longo processo tramitado na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, o Governador Milton Campos assina a Lei nº. 336, criando o Município de Coronel Fabriciano, emancipando-se de Antônio Dias. Por essa lei, Ipatinga é elevada a distrito do novo município. DRUMMOND, 2012 (org.)
  • 30. 29 um centro comercial com lojas, agência bancária e cinema, dois clubes, hospital, quatro escolas primárias e um colégio técnico (ACESITA, 1959 apud BARBOSA, 2010). Em um processo semelhante ao que ocorreu em Timóteo o pequeno vilarejo - formado em função da estrada de ferro - em Ipatinga também viu seu cenário mudar radicalmente com a chegada da indústria. Tal como a Acesita, também foi necessário a criação de uma cidade operária para abrigar os funcionários da USIMINAS - empresa siderúrgica implantada em parceria com japoneses, que se
  • 31. 30 implantou em 1956, na região que hoje representa o município de Ipatinga. Diferente da Acesita, Ipatinga teve o desenvolvimento prévio de seu plano urbanístico, desenvolvido por Hardy Filho, que conforme o modelo modernista estendia o funcionamento da indústria para a cidade. Os bairros da cidade operária da USIMINAS foram criados conforme a ocupação dos cargos desempenhados dentro da indústria, buscando atender aos requisitos básicos da Carta de Atenas: trabalho, moradia e lazer. Em função da setorização em função da posição dos funcionários dentro das empresas criou-se um processo de diferenciação entre as pessoas em função do bairro que estas moravam, um aspecto que é relatado por moradores da cidade como uma prática recorrente. Durante o processo de elaboração do plano urbanístico da cidade operária, Hardy Filho já fazia prospecções sobre o futuro da região. Ele já observava que a existência dos eixos lineares favoreceria o desenvolvimento conjunto da região conforme é citado por Barborsa (2010) “Segundo ele, as três
  • 32. 31 cidades viriam a formar um “complexo urbano único linear e contínuo.” Além de prever essa condição de interdependência entre as cidades, ele previa que a cidade operaria não conseguiria absorver sozinha a projeção populacional ao longo dos anos. Em função das notícias de prosperidade econômica da região um grande contingente imigrante chegou à região, que sem emprego direto nas indústrias ocuparam as áreas “fora das cidades operárias” (em Timóteo e Ipatinga) e na cidade de Coronel Fabriciano, conforme apontado pelo diagnóstico “CIDADES E POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA: diagnóstico, reflexão e proposições”: A implantação da indústria provocou profundas transformações socioeconômicas na região. Além da explosão demográfica, registrou-se a transformação das antigas fazendas em loteamentos para a construção das moradias para os trabalhadores e a rápida urbanização e instalação de infraestrutura para atender às necessidades da empresa e da população que chegava a cada dia. (DRUMMOND, 2012) Como já era previsto por Hardy Filho, esse processo de interdependência das cidades contribuiu para o processo de conurbação que culminaria na criação da Região Metropolitana do Vale do Aço6. É fato que cada uma dessas cidades desenvolveu características específicas, no entanto, muitos aspectos tornaram-se comuns a região de uma maneira geral e à medida que as dinâmicas iam tornando-se 6 No ano de 1998 foi instituída a Região Metropolitana do Vale do Aço – RMVA, composta por quatro municípios: Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo. O colar metropolitano que circunda a RMVA, em 1998 era constituída por 22 municípios, e em 2014 passou a ser formada por 28. metropolitano que circunda a RMVA, em 1998 era constituída por 22 municípios, e em 2014 passou a ser formada por 28.
  • 33. 32 mais complexas os vínculos dos moradores (trabalho, relacionamentos, lazer, etc.) iam se ampliando para as outras cidades. Outro ponto marcante do desenvolvimento dessas cidades que se reflete na cultura local: a existência de ‘duas cidades dentro do mesmo território’. Esse dualismo ocorreu de forma mais significativa nas cidades sedes das siderúrgicas, que de um lado construíram cidades providas de planejamento e infraestrutura, e de outro, cidades espontâneas eram geridas por um poder público ainda imaturo tornando possível a diferenciação entre essas duas ocupações distintas no mesmo território. Além das já citadas Belgo-Mineira, Acesita e Usiminas, outro fator que contribuiu para a formação da dinâmica existente hoje na malha urbana dessa região foi a CENIBRA. Produtora de celulose, ao se implantar na região passou a adquirir grandes quantidades de terras para o plantio de eucalipto fazendo que a área das ocupações rurais fosse limitada territorialmente, sendo a malha urbana a responsável por incorporar esse contingente rural.
  • 34. 33
  • 35. 34 Conforme é discutido por Monte-Mor no texto “Cidade e campo, urbano e rural: o substantivo e o adjetivo” o sentido de campo e cidade passou por profundas transformações conforme as relações de trabalho começaram a ser alteradas no período industrial. Antes a cidade era tida como o espaço de produção intelectual e o campo como o espaço de produção braçal, mas com o surgimento das cidades-industriais, a produção tanto intelectual quanto braçal passou a concentrar-se no espaço da cidade tornando o campo dependente das inovações e produtos oferecidos pelas cidades. No caso do Vale do Aço, trata-se do campo como um “espaço industrial não construído” conforme é citado por QUECINI, 2007: “Este descompasso entre campo e cidade foi visto por Heloisa COSTA (1995: 75) como uma relação que nasce adulterada, uma vez que “as cidades se abastecem e realizam suas trocas com outros centros” e a monocultura do eucalipto transforma o campo numa extensão da fábrica, transformando o campo num “espaço industrial não construído” e fazendo desaparecer a diferenciação entre rural e urbano.”. A dicotomia entre o campo e cidade após essa revolução passa a ser dissolvido perdendo seu sentido enquanto substantivo e prevalecendo o sentido adjetivo de urbano e rural - passando por uma abordagem cultural que vale ser ressaltado neste trabalho devido ao esclarecimento sobre alguns traços da cultura local, que embora se encontre num território altamente urbanizado7, permite a identificação com um contexto rural conforme explica MONTE-MÓR (2007): 7 Em 2010, a taxa de urbanização da RMVA representava 98,69%, conforme apresentado pelo diagnóstico do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana do Vale do Aço (PDDI/RMVA). Disponível em:
  • 36. 35 “O termo urbano, etimologicamente, diz respeito à qualificação da cidade, ligado também ao afável, ao cortês; o rural, por sua vez, diz respeito ao campo, ao campestre, ao rústico. [...] O rural, tomado no seu sentido campestre, rústico, no seu sentido cultural, evidentemente continua existindo. É o sentido do que chamamos de roça, a simplicidade da autonomia em oposição à sofisticação da vida citadina; a ruralidade em oposição à urbanidade.” (MONTE-MÓR, 2007) A formação de uma malha urbana de forma rápida e desigual junto à chegada de muitos imigrantes tornava esse novo cenário - que Monte-Mór chama de “simulacro da cidade” referindo-se as vilas operárias das cidades mono-industriais - onde o processo de apropriação simbólica, capaz de produzir uma identificação da sociedade com o lugar onde se insere, ainda não era relevante. De um lado os moradores das fazendas viam seu ambiente, relações sociais e econômicas mudarem rapidamente, enquanto para os estrangeiros a nova cidade não refletia os laços de identificação existente com o lugar que eles haviam deixado. Além disso, o dualismo entre o rural e urbano, o existente e novo, modificavam rapidamente a identidade da região. Japoneses, franceses, árabes, brasileiros de diversos estados, entre tantos outros. As indústrias foram e continuam sendo grandes responsáveis pelo contato das cidades com culturas diversas. Nenhum outro elemento tem tanto poder dentro da cultura local quanto a cultura operária que se instaurou na região. A história dessas empresas além de se confundir com a história de formação <http://www.unilestemg.br/pddi/arq/doc/documentos-oficiais/2014/PDDI_DIAGNOSTICO_VOL1.pdf>. Acesso em 01 de outubro de 2014.
  • 37. 36 dessas cidades confunde-se com histórias individuais de gerações que tem as siderúrgicas como elemento intrínseco as suas próprias histórias. Logo, podemos perceber que a sobreposição de culturas diversas surgindo quase simultaneamente com uma região nova culminou numa grande variedade de significações, que talvez por isso tenha dado origem a equivocada afirmativa de que “o Vale do Aço não tem cultura”, seria mesmo a falta de uma cultura ou apenas a falta de reconhecimento dessa multiplicidade cultural? Ou ainda, seria a dificuldade de digerir e incorporar essas novas culturas como sendo legitimas ao Vale do Aço? Ao longo dos próximos capítulos serão investigados quais são as principais manifestações da cultura do Vale do Aço, a fim de prever estratégias arquitetônicas capazes de fortalecer a identidade cultural da região. Logo, podemos perceber que a sobreposição de culturas diversas surgindo quase simultaneamente com uma região nova culminou numa grande variedade de significações, que talvez por isso tenha dado origem a equivocada afirmativa de que “o Vale do Aço não tem cultura”, seria mesmo a falta de uma cultura ou apenas a falta de reconhecimento dessa multiplicidade cultural? Ou ainda, seria a dificuldade de digerir e incorporar essas novas culturas como sendo legitimas ao Vale do Aço? Ao longo dos próximos capítulos serão investigados quais são as principais manifestações da cultura do Vale do Aço, a fim de prever estratégias arquitetônicas capazes de fortalecer a identidade cultural da região.
  • 38. 37
  • 39. 38
  • 40. 39
  • 41. 40 2.3 | REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO AÇO A formação de ocupações urbanas de forma interdependente e a existência de eixos lineares de desenvolvimento da região (a ferrovia e BR381) resultaram na formação de uma malha contínua, culminando no processo de conurbação entre as cidades de Timóteo, Coronel Fabriciano, Ipatinga e Santana do Paraíso. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região Metropolitana “é uma região estabelecida por legislação estadual e constituída por agrupamentos de municípios limítrofes, com o objetivo de integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”. 8 Na década de 1970 foram realizados diversos estudos pela FJP sobre o Aglomerado Urbano do Vale do Aço – AUVA, que inicialmente era constituído apenas por Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo. À medida que as dinâmicas sócias e econômicas iam se tornando mais complexas e a região começava a exercer uma força polarizadora sobre outros municípios e, depois de um longo processo legislativo, foi criada em 1998 a Região Metropolitana do Vale do Aço - assumindo outros formatos antes de sua formatação atual - constituindo-se dos municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo e Santana do Paraíso. 8 O que é região metropolitana? Disponível em: <http://www.brasilescola.com/brasil/regioes-metropolitanas-brasil.htm>. Acesso em 05 de Agosto 2014.
  • 42. 41 “Ao final de 1998, após um longo processo de tramitação na Assembleia Legislativa, o Estado de Minas Gerais institui a Região Metropolitana do Vale do Aço, através da Lei Complementar nº 51, de 30 de dezembro de 1998, composta por quatro municípios – Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo – e circundada por um Colar Metropolitano formado por outros 22 municípios9.” (DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014) O mais jovem município a integrar a RMVA foi Santana do Paraíso, que se emancipou de Mesquita em 28 de abril de 1992, e por sua relação profunda de conurbação com o município de Ipatinga e território quase inexplorado, passou a representar o território mais favorável à expansão urbana da RMVA. No entanto, se a questão da identidade metropolitana do Vale do Aço já é frágil, o caso de Santana é ainda mais fragilizado dentro deste processo de apropriação simbólica pelos moradores dos outros municípios. O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana do Vale do Aço que vem sendo desenvolvido pelo Unileste MG é uma importante ferramenta de gestão da RMVA, que busca promover o desenvolvimento integrado da região através das funções públicas de interesse comum. Com base nos diagnósticos elaborados pelos eixos estratégicos10 do PDDI/RMVA pode-se ter um panorama sobre região do Vale do Aço no presente contexto sobre seus diversos aspectos. 9 Os municípios do Colar são: Açucena, Antônio Dias, Belo Oriente, Braúnas, Bugre, Córrego Novo, Dionísio, Dom Cavati, Entre Folhas, Iapu, Ipaba, Jaguaraçu, Joanésia, Mesquita, Marliéria, Naque, Periquito, Pingo D'Água, São João do Oriente, São José do Goiabal, Sobrália e Vargem Alegre. (DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014. PÁG 35). 10 Os eixos que constituem o PDDI/RMVA são: Ordenamento Territorial, Mobilidade, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Saneamento, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Econômico e Arranjo Institucional.
  • 43. 42 “A RMVA é uma aglomeração urbana com quase 451.351 habitantes, segundo dados do censo demográfico de 2010. Se considerarmos os municípios da RMVA e do Colar Metropolitano, a população ultrapassa 700.000 habitantes. A RMVA tem uma população predominantemente urbana, com um grau de urbanização de 98,69%, em 2010. Já o Colar Metropolitano apresentou um grau de urbanização de 75,51%”.(DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014). Conforme já foi apresentado sobre a formação histórica do Vale do Aço, o processo de urbanização acelerado trouxe impactos que podem ser sentidos até hoje nas dinâmicas urbanas da região, em função de uma organização desigual do território. “A formação e o crescimento do aglomerado foram se constituindo espaços desiguais, resultado da divisão injusta da receita pública e das oportunidades de trabalho, refletindo também na distribuição desigual do acesso à infraestrutura urbana e aos serviços e equipamentos públicos.” (idem) De um lado as cidades que foram amparadas pelas siderúrgicas (Ipatinga e Timóteo) tiveram um crescimento expressivo em função da receita gerada para os municípios resultando na criação de uma boa infraestrutura urbana, referente as áreas relacionada a essas. Enquanto isso, as áreas que surgiam espontaneamente nesses municípios e nos de Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso, tornaram-se responsáveis por absorver o contingente que não era atendido dentro das “cidades- operárias” propiciando o surgimento de ocupações com infraestrutura insatisfatória, e como as indústrias tornaram-se as principais empregadoras da região, as cidades que não usufruíam diretamente dos benefícios gerados por elas passaram a ser denominadas como ‘cidades dormitórios’
  • 44. 43 – onde pessoas trabalham e consomem serviços em outros municípios, criando dificuldades de arrecadação para os municípios. A desigualdade também pode sentida sobre o aspecto social - o que não representa uma exclusividade da região e sim um fator histórico do desenvolvimento urbano no País. De um lado a concentração de equipamentos e serviços nas áreas onde a população possui as maiores concentrações de renda, enquanto a população com menor renda tem o acesso dificultado aos equipamentos públicos de uso comum. Se a presença das indústrias siderúrgicas na RMVA representa todo esse processo de desenvolvimento intenso pelo qual a região passou desde início do século XX, hoje elas passam a representar uma incógnita sobre o desenvolvimento futuro da região. A crise mundial que afetou o setor da siderurgia em 2008 impactou a dinâmica dessas cidades apontando para o risco da “mono economia” e alertou para o empobrecimento da região. No diagnóstico do eixo de Desenvolvimento Econômico do PDDI/RMVA as siderúrgicas são apontadas como fundamentais para o desenvolvimento regional - assim como aponta outras questões que não serão apresentadas integralmente neste trabalho – no entanto, são levantadas novas possibilidades para o desenvolvimento econômico regional. Cabe ressaltar aqui a questão da falta de um caráter empreendedor nos moradores da região que conforme apresentado pelo Eixo de Desenvolvimento Econômico PDDI/RMVA (2014) “Na visão dos representantes da sociedade local, a
  • 45. 44 presença das grandes empresas gerou uma cultura nas pessoas de serem empregadas e não de empreender”. Um fator que foi observado em quase todos os diagnósticos dos eixos estratégicos e também levantados pela sociedade durante as audiências públicas é a questão do potencial turístico da região, muito associado com a presença do Parque Estadual do Rio Doce, que permanece inexplorado como uma nova vertente para o desenvolvimento da região. Vale frisar, conforme apresentado pelo eixo de Meio Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos, a existência do risco ambiental que o turismo de forma desordenada pode acarretar para os recursos ambientais da região.
  • 46. 45
  • 47. 46 CAPÍTULO 3 | IDENTIDADE E INDIVIDUALIDADE Ao analisar a produção arquitetônica e urbanística ao longo dos séculos percebe-se que esta é uma produção tridimensional que reflete a cultura de diferentes comunidades em diferentes tempos históricos e, portanto, é um elemento capaz de reproduzir um sistema de significações com que essa sociedade se identifica. Utilizar o termo “identidade cultural” nunca foi tão complexo desde que o processo de globalização modificou as percepções de tempo-espaço e permitiu um rápido processo de troca e permeabilidade entre culturas. Portanto, esse capítulo tem como objetivo fazer uma breve análise relacionando a questão da identidade cultural à arquitetura. Conforme aponta o Ministério da Cultura do Brasil: ”Tendo sido por muito tempo vista pelo ângulo das belas artes e da literatura, a cultura é agora tomada como um campo muito mais amplo: ‘a cultura deve ser vista como um conjunto distinto de elementos espirituais, materiais, intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social. Além da arte e da literatura, ela abarca também os estilos de vida, modos de convivência, sistemas de valores, tradições e crenças’”. (PREÂMBULO da Declaração Universal de Diversidade Cultural da UNESCO, 2001 apud MINISTÉRIO da Cultura, Brasil). Antes de abordar a questão da identidade cultural, deve ser ressaltado como o conceito de cultura será abordado ao longo deste trabalho - tendo como principal foco de análise os produtos, serviços e manifestações culturais, conforme é apresentado por REIS, 2010:
  • 48. 47 “Em uma abordagem antropológica, cultura engloba os conhecimentos, crenças, línguas, artes, leis, valores, morais, costumes, atitudes e visões de mundo. É a chamada Cultura com “c” maiúsculo, o amálgama e o diapasão da sociedade. Em um sentido mais estreiro (cultura com “c” minúsculo), refere-se aos produtos, serviços e manifestações culturais, ou seja, que trazem em si uma expressão simbólica da Cultura em sentido amplo.” (REIS, 2010) No livro “Cultura: um conceito antropológico” as transformações culturais são abordadas como um processo inerente à vida humana, sem que a globalização seja sua única causa. Para isso o autor utiliza como exemplo as tribos indígenas “isoladas”, apontando a existência das transformações culturais mesmo que essas ocorram de forma mais lenta. “Podemos agora afirmar que existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o resultado do contato de um sistema cultural com outro”. (LARAIA, 2001) Sabendo desse aspecto dinâmico da cultura, nenhum processo modificou tanto as percepções da cultura quanto o processo de globalização. “As fronteiras são extintas e ninguém pode eximir-se de gerar ou sofrer interferências. Com isso, a homogeneização das culturas tornou-se uma preocupação e a globalização a possível promotora do declínio das identidades e da desconstrução do local.” (PICHLERA; MELLO) Sobre a questão da identidade, Hall (2006) aponta uma transformação na percepção da identidade pelo indivíduo, analisando três diferentes sujeitos históricos: o sujeito do Iluminismo; sujeito sociológico; e o sujeito pós-moderno, sendo este o principal elemento em questão. Entender a forma
  • 49. 48 como essa identidade tornou-se dinâmica e complexa permite compreender melhor os espaços produzidos pelo homem. Sobre o sujeito do Iluminismo HALL, 2006 descreve: “O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo "centro" consistia num núcleo interior, que pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo — continuo ou "idêntico" a ele — ao longo da existência do indivíduo.” (HALL, 2006) Diferente do caráter da identidade imutável do sujeito do Iluminismo - correspondente ao século XVII, o sujeito sociológico passa a ser um reflexo da complexidade da vida em sociedade e diante dessas relações é que o sujeito desenvolve essa formação da identidade que nesse contexto passa a ser o reflexo da interação entre o “eu” e a sociedade, sendo um processo contínuo de formação, fazendo com que a identidade como sendo algo imutável seja substituída por uma percepção contínua. A partir do surgimento deste “sujeito sociológico” a questão da identidade torna-se mais condizente se tratada com um processo contínuo de identificação. “O fato de que projetamos a "nós próprios" nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os "parte de nós", contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural. A identidade, então, costura (ou, para usar uma metáfora médica, "sutura") o sujeito à estrutura.” (HALL, 2006) Tomando como base essa identidade cultural como meio vincular a sociedade ao lugar que ela se insere, nenhum movimento arquitetônico teve tanta influência social como o Estilo Internacional
  • 50. 49 Moderno. Diante do desejo de tornar a arquitetura e o urbanismo em um objeto capaz de ser intercionalizado, toda a simbologia própria do local passa a ser desconsiderado produzindo uma “crise de identidade” onde as pessoas não se vinculavam as cidades. “(...) um quadro mais perturbado e perturbador do sujeito e da identidade estava começando a emergir dos movimentos estéticos e intelectuais associado com o surgimento do Modernismo. Encontramos, aqui, a figura do indivíduo isolado, exilado ou alienado, colocado contra o pano-de-fundo da multidão ou da metrópole anônima e impessoal (HALL, 2006)”. A individualidade das significações pessoais passa a ser reduzida a um modulor, a casa transformada em uma máquina de morar e o traçado das cidades em uma setorização que priorizava a máquina como centro de seu funcionamento. Todas essas intervenções homogeneizadoras do Movimento Moderno tornaram as cidades assépticas ao desconsiderar o que Walter Benjamin aponta como “texto inscrito nas cidades” (ORTEGOSA, 2000) que representa o vínculo subjetivo estabelecido da sociedade com seus espaços. Entretanto, no Brasil a modernidade foi sentida de forma particular quando comparada ao dos países europeus. O inicio do século XX trouxe transformações nas dinâmicas econômicas em função da II Guerra Mundial. Com a diminuição das importações, o Brasil precisou aumentar sua capacidade de produção o que refletiu diretamente no processo de industrialização, e consequentemente, urbanização.
  • 51. 50 A Semana de Arte Moderna de 1922 dentro do contexto existente nesse período tornou-se propício para a discussão de uma produção cultural brasileira, que representava o desejo de afirmar a brasilidade como sendo essa identidade nacional, que por muito tempo esteve subjugada aos modelos internacionais. Além da Semana de Arte Moderna de 22, o Manifesto Antropófago escrito por Oswald de Andrade em 1928, tornou legitima essa necessidade de uma produção artística com identidade brasileira. Enquanto a arte era abordada dentro de uma abordagem elitista de assimilação das produções estrangeiras, ele propunha uma “deglutição antropofágica” conforme apresentado a seguir:
  • 52. 51 Se Oswald de Andrade teve a lucidez de ridicularizar com o mimetismo que tanto seduz o intelectual solene e bacharel, ele não caiu no equívoco de fechar as portas do País do ponto de vista cultural. Ao contrário, sua formulação em torno da "deglutição antropofágica" exige o remanejamento das ideias mais avançadas do Ocidente em conformidade com a especificidade de nosso contorno social e político.” (O SARAMPO ANTROPOFÁGICO). Para o Brasil o estilo moderno significou um grande marco para a identidade nacional, sendo a arquitetura uma importante forma de reconhecimento da identidade nacional. Diferente dos outros países, a produção modernista apropriava-se de elementos vernáculos e dos postulados do movimento moderno, passando a produzir uma arquitetura única passível de identificação pela sociedade, talvez por isso, a produção arquitetônica brasileira tenha se solidificado nessa vertente. De volta ao cenário internacional, as cidades sem história, tornavam-se espaços anônimos incapazes de despertar o sentimento de pertencimento nas pessoas, tornando as cidades num ambiente asséptico. Como resposta a essa produção, na década de 60 em diante, a revisão das doutrinas legadas pelo Modernismo abriram espaço para novas formulações e uma produção artística crítica passou a advogar pelas necessidades subjetivas regionais, impulsionando a redescoberta dos símbolos culturais no ambiente construído (ORTEGOSA, 2000). “Contra a uniformização, emerge um renovado interesse pela especificidade do regional e dos estilos históricos, e pela diversidade das subculturas urbanas” (ORTEGOSA, 2009). A partir da década de 70 ocorreram intensos processos que modificaram a percepção da identidade, como exemplo: a globalização e descobertas científicas, que reforçavam o individualismo, potencializando o
  • 53. 52 surgimento de “múltiplas identidades culturais no indivíduo”, dando origem ao chamado sujeito pós- moderno, conforme argumenta HALL, 2006: “Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração móvel": formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987). [...] A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar — ao menos temporariamente.” Se agora os indivíduos passavam a apresentar esse caráter multicultural, essa complexidade foi refletida nas cidades demandando novas metodologias para atuação no espaço urbano. Assim como o sujeito do pós-modernismo deixou de ser apenas uma identidade para tornar-se o conjunto de várias, as cidades e edificações também refletiram esse processo. Além disso, as intervenções urbanas pontuais passaram a ser amplamente utilizadas, levando em consideração as particularidades de cada fragmento da cidade que compõem esse tecido multicultural. Além disso, as novas vertentes arquitetônicas passam a buscar no valor simbólico novas formas de produzir arquitetura, tornando-se este “valor simbólico na nova economia urbana”. Se Hall aponta três sujeitos em seu estudo, será que podemos analisar o “Sujeito Contemporâneo” como sendo um sujeito diferente do sujeito pós-moderno? São visíveis os problemas que o individualismo - que foi uma solução eficiente para manipulação das massas ao segrega-las tanto do
  • 54. 53 ponto de vista político quanto econômico – gerou no espaço urbano, como a falta de um senso de comunidade e, consequentemente, de um pertencimento a ela alterando a forma como as pessoas vivenciam o espaço público. Concomitantemente, a tecnologia vem ocupando de maneira onipresente a vida em sociedade, modificando as relações de tempo e espaço, permitindo que as pessoas estejam desconectadas de seu entorno imediato. Portanto, do ponto de vista da arquitetura e urbanismo a criação de espaços eficientes tornasse cada vez mais um desafio diante dessa dissociação do homem com o ambiente construído a sua volta. Além disso, as práticas de consumo induzem a assumir várias identidades e constituem-se em outro desafio para arquitetura, no sentido de ser capaz de incorporar e ressignificar essas múltiplas culturas individuais. Vale ressaltar que a valorização da cultura local esta diretamente relacionada com o fortalecimento de uma identificação com o contexto local, relegando aos espaços culturais a capacidade de despertar processos de identificação cultural.
  • 55. 54
  • 56. 55 3.1 | IDENTIDADE METROPOLITANA Diante das múltiplas identidades possíveis de serem assimiladas pelo indivíduo, as culturas nacionais constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Segundo Hall (2006) quando nos referimos como sendo brasileiros, franceses ou ingleses, estamos nos expressando de forma metafórica, pois essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes, entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial. A partir do momento que a globalização influência nas dinâmicas espaciais, “a ideia de um homem sem uma nação parece impor uma tensão à imaginação moderna” (GELLNER, 1983). A nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos — um sistema de representação cultural. (HALL, 2000) No Brasil, em especial, essa identidade nacional é responsável por englobar a diversidade cultural resultante do processo de formação histórica, sendo que cada região possui seus traços culturais específicos. Com base no conhecimento que essa identidade nacional produz no imaginário de seus cidadãos, desenvolvesse a partir daqui uma narrativa empírica tentando estratificar as camadas do imaginário coletivo, capazes de produzir os símbolos que tornam possíveis os processos identificação. Além da identidade nacional, espera-se apontar os aspectos simbólicos dentro de esferas que serão aqui estratificadas conforme o aspecto global, nacional, estadual e regional. Dentro da esfera global, temos aspectos que são comuns à maioria da população mundial. Como aspecto mais relevante dessa esfera temos as transformações proporcionadas pelas inovações
  • 57. 56 tecnológicas que modificam a forma como podemos nos relacionar independente dos fatores tempo e espaço, tornando o significado de “instantâneo” no norteador desta comunidade global. Do ponto de vista da esfera nacional, são várias as caraterísticas marcantes do imaginário brasileiro. Por muito tempo a identidade cultural do povo brasileiro era tida como inexpressiva em função do conceito de cultura estar restrito as produções da elite associado à estratificação social proveniente do processo de colonização. A partir desse momento a busca por uma brasilidade começa a tornar-se uma necessidade, justamente como forma de fortalecimento dessa identidade nacional. A principal característica nacional refere-se à diversidade cultural, além disso, a vinculação de um país receptivo e alegre fortalecido por símbolos da cultura brasileira como as festas e o futebol. Quando analisamos a influência desses elementos no Vale do Aço percebe-se uma presença quase igualitária no território da RMVA dos campos de futebol, muito diferente dos equipamentos culturais. Outro fator que permite analisar a influência desses símbolos imagéticos na região é a presença dos blocos carnavalescos na cidade de Timóteo. Já dentro da esfera estadual, percebe-se a forte herança de elementos da sociedade colonial remetendo ao importante período de prosperidade de Minas Gerais. O telhado colonial e as varandas, que são uma adaptação portuguesa ao clima brasileiro em geral, permanecem fortes no imaginário mineiro, tal como as edificações e festas religiosas que são elementos fortemente associadas a esse período de maior prosperidade de Minas Gerais. As montanhas e cachoeiras
  • 58. 57 completam o imaginário de uma paisagem bucólica. Além disso, a existência de um fazer rústico e artesanal está diretamente associada à imagem simbólica de Minas Gerais. Extraindo de todas essas esferas suas particularidades o regional deve ser aquilo que é exclusivo a determinada região. No caso do Vale do Aço, salvo todas as características que são comuns ao imaginário dos brasileiros e mineiros, existe uma caraterística que julgasse ser intrínseca a região: as indústrias siderúrgicas onipresentes nas dinâmicas sociais das cidades. Responsáveis por influenciar diretamente as paisagens da região, elas são as responsáveis por estabelecer horários, fluxos, relações sociais, movimentos culturais e influenciar até mesmo condicionantes biológicos, tendo um alcance que vai muito além de suas cercas, influenciando toda vida das cidades. Dentro dessa esfera regional, a identidade metropolitana no Vale do Aço ainda constitui-se em um elemento insólito a ser fortalecido representando a chave do processo efetivo de apropriação simbólica, potencializando a expressividade de sua imagem simbólica. No decorrer do processo de elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana, um dos gargalos apontados frequentemente nas reuniões e audiências públicas é a ausência de uma identidade metropolitana. Se dentro das análises imagéticas que se pode assimilar das esferas de identidade, temos a identidade metropolitana como elemento aglutinador de identidades das diferentes cidades que as constitui. Uma relação de interdependência, onde as características próprias de cada cidade não se anulam, mas se complementam.
  • 59. 58 É nítido que as pessoas reconhecem a interdependência entre as cidades através dos deslocamentos diários em função de trabalho, estudo, moradia, entretenimento. No entanto, o que se pretende frisar aqui é a ausência de uma identidade metropolitana com força semelhante a da “identidade nacional”. É nítido que as pessoas do Vale do Aço se relacionam subjetivamente com suas cidades de origem, como exemplo podem ser citados: o recente documentário “Um sentimento chamado Ipatinga”, de Savio Tarso, que buscou relatar através da história da cidade através de cidadãos comuns que chegaram a cidade e transformaram-na em suas cidades de coração; a doação de cidadãos comuns para a criação do acervo do recém inaugurado Museu Municipal José Avenilo Barbosa, em Coronel Fabriciano; a mobilização da sociedade em Timóteo para proteger a história simbolizada pela Igreja de São José Operário; entre tantos outros fatores que reforçam a identidade dos moradores com seus municípios, pretende-se frisar ações que desempenham essa abordagem independente dos limites municipais. A falta de reconhecimento e, consequentemente, do sentimento de pertencimento torna frágil à questão da RMVA, que não deve existir apenas no papel, mas deve ser sentida e vivenciada por seus cidadãos. “(...) apesar da instituição da RMVA existir formalmente a 16 anos, da denominação comum, da relativa identidade regional, de vocações econômicas bem próximas e das mesmas questões a resolver e potencialidades, ainda é tênue a visão de conjunto no núcleo metropolitano que permita uma abordagem integrada dos assuntos que afetam a
  • 60. 59 mais de um Município.” (DIAGNOSTICO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PDDI/RMVA, 2014). Dentro do diagnóstico do eixo do Ordenamento Territorial do PDDI/RMVA é frisada a importância que os equipamentos metropolitanos desempenham como meio de fortalecer a identidade regional, o que valoriza o papel da arquitetura neste contexto. Como exemplos podem ser citados: o Shopping do Vale do Aço, Estádio “Ipatingão”, USIPA, Hospital Marcio Cunha, entre outros. Vale ressaltar que o porte desses equipamentos tal como sua singularidade potencializa o seu caráter metropolitano.
  • 61. 60
  • 62. 61 CAPÍTULO 4 | MULTICULTURAS NO VALE DO AÇO Como já foi apresentado anteriormente o rápido processo de formação do Vale do Aço impulsionado pela prosperidade econômica que a região passou a partir do século XX, promoveu a chegada de vários imigrantes na RMVA permitindo o contato entre diversas culturas. Ao olhar para as cidades sobre lentes fragmentadas, diversos símbolos rementem a diferentes períodos da história tornando possível “ler o texto inscrito nas cidades”. Entretanto, a grande diversidade torna a análise desses símbolos em uma escala metropolitana quase impossível pensando que cada elemento construído têm suas particularidades, reflexo dessas identidades mutáveis próprias do sujeito pós-moderno. Para possibilitar uma análise sobre a arquitetura com alcance metropolitano na região foi realizado um questionário com o objetivo de perceber quais são os lugares que desempenham maior influência sobre a identidade cultural do Vale do Aço. Buscou-se, através das relações subjetivas dos entrevistados, encontrar qual desses espaços possui mais visibilidade no contexto regional para posteriormente extrair características relevantes. A intenção do questionário foi de perceber o Vale do Aço por um ponto de vista que não é apenas da autora, buscando a interação com outras pessoas. Foram expostas fotos de 30 lugares que estão vinculados com a história do Vale do Aço sendo alguns equipamentos culturais, outros de lazer e patrimônios históricos. A escolha desses locais se baseou na possibilidade de sintetizar aspectos que sejam recorrentes as questões culturais das quatro cidades como forma de identificar principalmente
  • 63. 62 se a arquitetura dessas edificações era um aspecto relevante da identificação das pessoas com a região metropolitana. O questionário foi aplicado durante a Semana Integrada no curso de Arquitetura e Urbanismo do Unileste MG de forma interativa, através de um quadro para exposição das informações e cédulas de respostas. As duas questões solicitavam ao entrevistado que diferenciasse os locais que apenas conheciam daqueles que vivenciavam. A primeira questão abordava os espaços que as pessoas apenas conheciam, utilizando das palavras IDENTIFICAR no sentido de “Conhecer a natureza de algo | Provar ou reconhecer a identidade de”; e CONHECER com o sentido de “Ter noção de, saber | Distinguir”. Com base nisso esperava-se avaliar quais são os elementos que possuem uma maior visibilidade regional. Já na segunda questão pretendia-se avaliar esses elementos com base nos aspectos simbólicos muito relacionados com a história individual utilizando as palavras no sentido de IDENTIFICAR-SE Quando outro elemento desperta o autoconhecimento*; e RECONHECER “Examinar, explorar | Declarar legal, ter por legítimo | Conhecer a própria imagem”. Essas análises permitiram formulação de estatísticas que servirão de referência para as estratégias do projeto a ser desenvolvido. As análises foram distribuídas em duas partes: primeiro por município da RMVA (Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo e Santana Do Paraíso) e de outras cidades fora da região metropolitana; e segundo agrupando todos os resultados. Foram 120 entrevistados sendo: 41 de Coronel Fabriciano, 29 de Ipatinga, 29 de Timóteo e 11 de outros municípios (Belo Oriente, Inhapim, Itabira, Ipaba, João
  • 64. 63 Monlevade, Rio Piracicaba e Santana do Paraíso11), quase em sua totalidade, alunos e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, do Unileste MG. Tomando os resultados específicos por município a identificação com o Parque Ipanema foi unânime em: Coronel Fabriciano com 59% (foi apontado por alguns entrevistados a falta da Praça da Estação), Ipatinga com 72% e nos outros municípios 64%; apenas em Timóteo o resultado foi diferente: 72% tendo a Praça 29 de Abril como o principal elemento de identificação; e conforme uma análise geral do resultado, o Parque Ipanema aparece com 67,5% dos resultados como o lugar com que as pessoas mais se identificaram. Essa interpretação é muito importante, pois quando analisamos a baixa capacidade de identificação das pessoas com os patrimônios culturais construídos podemos perceber que ou seu uso não seja abrangente ou que as pessoas não reconheçam a história desses lugares e por isso não se apropriem simbolicamente destes. Já os espaços que foram capazes de produzir nos entrevistados uma maior identificação correspondem aos espaços livres de uso público que tem maior flexibilidade para assumir usos diversos. 11 Santana do Paraíso foi incluído em outros municípios por possuir apenas um representante.
  • 65. 64
  • 66. 65
  • 67. 66
  • 68. 67
  • 69. 68 4.1. | MANIFESTAÇÕES DA DIVERSIDADE Conforme o material “Cidades e políticas públicas de cultura: diagnóstico, reflexão e proposições” que apresenta o mapeamento da cultura em Ipatinga e Santana do Paraíso e o “Mapeamento de Lideranças e Recursos Culturais” elaborado pela APERAM em parceria com o SEBRAE sobre os agentes culturais de Timóteo e Coronel Fabriciano pode-se delinear os elementos de maior relevância para a cultura local. Conforme o diagnóstico apontado por esses materiais já é possível perceber como o cenário cultural é abordado na região: de um lado as grandes empresas siderúrgicas são as responsáveis por incentivar grande parte dos equipamentos e grupos de cultura em suas cidades sedes, enquanto nas cidades de Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso o apoio é basicamente por via da administração pública. A Fundação APERAM (antiga Fundação Acesita) e o USICULTURA são equipamentos que buscam promover as atividades culturais na região incentivadas por suas empresas, respectivamente, Aperam e Usiminas, através de espetáculos de teatro, música, exposições artísticas e acervo próprio sobre a história da empresa que se confunde com a das próprias cidades. Além de seus próprios centros culturais essas empresas são responsáveis por incentivar alguns grupos de cultura nas cidades. Vale ressaltar que no município de Ipatinga um Mapeamento Cultural mais aprofundado vem sendo realizado por uma empresa terceirizada neste ano de 2014 e tem como objetivo “servir de
  • 70. 69 base para a criação de um banco de dados atualizado visando à formação do Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais (SMIIC)”. O Mapeamento Cultural deve ser realizado em todos os municípios brasileiros, a fim de abastecer uma base de dados nacional referente à cultura no Brasil, que serão disponibilizadas no site http://sniic.cultura.gov.br/. A seguir serão apresentadas as principais formas de manifestação cultural observadas na região, onde poderá ser notado que de um lado existem as manifestações típicas das primeiras ocupações do território e as que foram incentivadas pelas empresas.
  • 71. 70
  • 72. 71 CONGADO E MARUJADA O congado é “uma das manifestações mais típicas do interior do Brasil, e especialmente do povo mineiro [...] uma manifestação que sempre esteve relacionada à Festa do Rosário, é praticado em Minas Gerais desde o século XVIII.” (TIMÓTEO: um município brasileiro). A presença dos grupos de Congado e da Marujada no Vale do Aço, assim como em boa parte das cidades de Minas Gerais, é marcante. A presença desses grupos está relacionada diretamente às ocupações mais antigas do território, como a comunidade da Serra dos Cocais em Coronel Fabriciano, Ipaneminha em Ipatinga, e aos núcleos históricos de Santana do Paraíso e Timóteo. Conforme documentário realizado sobre a Marujada na Serra dos Cocais são apontadas diferenças básicas entre a Marujada e o Congado. Segundo o mestre do grupo de Marujos da Serra do Cocais, as roupas e os ritmos são o que diferem a tipologia dos grupos. Ainda segundo relato, durante as festas que reuniam grupos de Congado, Marujos e de Capoeira podiam ser notadas letras de músicas iguais entre ambos, diferentes apenas pelo ritmo dessas. Este relato reforça a relação dessas manifestações com a cultura afro. Vale ressaltar que é comum que as guardas de diferentes cidades reúnam-se durante festividades. Na Festa de Nossa Senhora do Rosário de Timóteo, de 2014, reuniram-se guardas de 14 municípios. O fato de que diferentes guardas se reunirem em diferentes cidades também foi confirmado pelos membros do Congado de São Domingos do Prata, durante a Semana Integrada do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Unileste MG.
  • 73. 72
  • 74. 73 FESTAS RELIGIOSAS A presença das festas é bastante significativa no Vale do Aço, sendo que boa parte dos patrimônios históricos e culturais dessas cidades estão relacionados com a prática religiosa. Vale ressaltar que essas atividades religiosas desde o inicio de formação das cidades foram responsáveis pela criação de um senso de comunidade. Durante diferentes épocas do ano, as comunidades se movimentam em prol da realização das festas realizadas aos santos padroeiros das cidades da região. Além das festas juninas, elemento marcante da cultura popular brasileira, realizadas por escolas e comunidades católicas, acontece também a Coroação de Nossa Senhora Aparecida, Festa de Nossa Senhora do Rosário, Festa de Sant’ Anna, Festa de São Sebastião, entre outras. Durante as comemorações de Corpus Christi são criados tapetes que alteram a percepção das cidades. Conforme o documentário produzido pela Prefeitura de Coronel Fabriciano, a produção de tapetes para a procissão de Corpus Christi foi inventariada como patrimônio histórico no município. Em algumas paroquias de Ipatinga também podem ser observados a elaboração dos tapetes para a procissão pela comunidade. Ainda sobre a influência dos aspectos religiosos sobre a produção cultural na região, também se pode destacar o grupo de teatro formado exclusivamente para a Encenação da Paixão de Cristo, em Coronel Fabriciano.
  • 75. 74
  • 76. 75 CAVALGADAS A presença das cavalgadas nas cidades do Vale do Aço reforça a presença do aspecto rural, em seu sentido adjetivo. Conforme apontado sobre o processo de formação histórica do Vale do Aço, apesar da alta taxa de urbanização são notáveis as influências da ruralidade nos municípios. As cavalgadas representam um aspecto cultural relacionado às festividades religiosas e cívicas da região. O dualismo entre rural e urbano, apesar de sentida em diferentes proporções é inerente às cidades do Vale do Aço. Dentre elas vale ressaltar que além da realização de cavalgadas pelas avenidas das cidades existe a tradicional Romaria Ecológica Diocesana Dom Helvécio, que reúne grande número de cavaleiros de cidades da RMVA e Colar Metropolitano, existente desde a criação do Parque Estadual do Rio Doce. A festa de caráter religioso e cívico envolve os municípios que abrangem o entorno do Parque, que neste ano comemora 70 anos de criação da unidade de preservação. “A Romaria Ecológica tem o objetivo de resgatar os fatos históricos do século XX, relembrando o esforço do Bispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira para a criação do Parque e o fortalecimento da participação das comunidades na proteção da unidade de conservação. Na década de 1930, preocupado com a grande exploração da Mata Atlântica na região, o religioso registrou no livro de tombos da arquidiocese de Mariana, a área do Parque com o objetivo de preservá-la”. (IEF, 2011)
  • 77. 76
  • 78. 77 GRUPOS DE TEATRO A presença dos grupos de teatro é um elemento marcante no Vale do Aço, tendo sido apontado pelos diagnósticos referenciados cerca de 26 grupos de teatro, sendo aqui destacados: o Grupo de Teatro Tralha, Grupo de Teatro Bramila, Grupo de Teatro Rizoma, Grupo de Teatro da Paixão de Cristo – em Coronel Fabriciano; o Grupo Perna de palco, Grupo Entreatros, Grupo de Teatro Farroupilha, Cia. Bruta, Grupo de Teatro e Dança GRUCON, Grupo de Teatro Esterco, Grupo de Teatro das Agentes Comunitárias de Saúde do Nova Esperança, Grupo de Teatro Cleyde Yáconis, Grupo Lainha e Grupo Boca de Cena – em Ipatinga; o Grupo Pirilampo, Grupo Atempus, Usina Dramática Alzira Alcantario, Animarte, Trupe da Alegria – em Timóteo; e em Santana do Paraíso não foi referenciado o nome do único grupo de teatro. Existem cinco teatros na região: Centro Cultural Zélia Olguin e teatro do USICULTURA, em Ipatinga; Teatro da Fundação APERAM, em Timóteo; Teatro João Paulo II e Centro de Arte e Cultura em Coronel Fabriciano. Além dos teatros, ressaltasse a existência das sedes de alguns desses grupos e também a existência ociosa do Teatro Arena do Timirim. É importante ressaltar que além dos espetáculos no espaço físico dos teatros, existem eventos para popularização do teatro levando espetáculos para praças e parques da região. É notável a participação das siderúrgicas para o incentivo do teatro na região tanto pelo incentivo a alguns grupos quanto pela divulgação dos artistas regionais durante os eventos promovidos por essas, como exemplo, Festival Arte Viva.
  • 79. 78
  • 80. 79 GRUPOS DE DANÇA São também diversos os grupos de dança no Vale do Aço, desde dança de salão até dança contemporânea. São realizados eventos como: o Encontro de Dança do Vale do Aço – Endança, desde 1985; Encontro de Dança Contemporânea de Ipatinga – ENARTCi –, desde 2003, e Enartcinho, edição para crianças; Festivais Arte Viva e Roda Viva; e espetáculos de dança realizados ao longo do ano pela Fundação APERAM e USICULTURA como forma de promover o contato do público com trabalho de artistas locais. Cabe destacar a atuação do grupo Hibridus que no trabalho "Corpo-Cidade: Território de Relações" torna as relações entre corpo, cidade e paisagem em espetáculos nos espaços públicos. “Corpo-cidade: Território de Relações busca compreender a natureza dos contrastes de des- territorializações e re-territorializações, ordem/desordem, planejamento/informalidade, massificação/individualidade, através do corpo.” Conforme apontado pelo diagnostico tido como referencia podem ser citados os grupos: Bia Antunes Centro de Dança, Núcleo de Dança Compasso, Academia de Dança na Trilha da Arte, Cia Núcleo de Dança, Balé da Educação Integral – em Coronel Fabriciano; Hibridus Dança, Cia. Flux, Haggios Dança Contemporânea, Novo Proceder, Academia Olguin, Meia Cia.de Dança, Ailton Amâncio Studio de Dança e Grupo Hélia Barbuto – em Ipatinga; Thiago Barbosa, Grupo Afoxé, Mahatma, Grupo Orfeu Cia. De Dança, Jorge Soares – em Timóteo; e em Santana do Paraíso foi apontado a existência de um grupo de teatro, mas não teve o nome referenciado.
  • 81. 80
  • 82. 81 GRUPOS MÚSICAIS A presente diversidade na região, tal como as múltiplas identidades próprias do individuo contemporâneo favorecem a existência de diversos estilos musicais na região. Sertanejo, Jazz, samba, musica erudita, reggae, MPB, rock, entre outros. Dada sua diversidade não se pretende aqui referenciar os artistas da região, mas os eventos que refletem essa diversidade. As manifestações dos grupos musicais possuem maior abrangência devido à flexibilidade dessas apresentações que ocorrem tanto em eventos em espaços públicos quanto eventos promovidos pelos espaços culturais da região. Os artistas regionais apresentam-se em bares, boates, shows, rádios, entre outros. Uma das questões pertinentes aos eventos musicais na região do Vale do Aço refere-se à falta de um espaço para fins musicais de grande porte, já que o espaço dos centros culturais não tem capacidade para atender grandes públicos. O problema maior dos espaços hoje utilizados para realização desses eventos diz respeito à proximidade com áreas residências. Os corais tem presença marcante em Timóteo e Ipatinga nas Cantatas de Natal; os coletivos em Ipatinga promovem eventos como: Grito do Rock, a Noite do Vinil, a Noite Fora do Eixo e o Rock Matinê; Festival Arte Viva em Timóteo e a Rota dos Sabores em Coronel Fabriciano que além de promover os artistas regionais trazem shows de nomes importantes da música nacional; eventos tradicionais como os festivais: Roda Viva, Arte Viva, Armazém da Viola, Ipatinga Live Jazz, Fest Country, além de shows de artistas diversos ao longo do ano.
  • 83. 82
  • 84. 83 FEIRAS E EVENTOS GASTRONÔMICOS As feiras livres têm sua origem relacionada com a troca de excedentes. As feiras ao redor do mundo possuem suas peculiaridades, sendo que no Brasil, assim como no Vale do Aço, os produtos relacionam-se diretamente com a cultura local. Assim como aconteceu com diversas cidades industriais, onde o solo urbano deixa de suprir as necessidades de produção de alimentos, na RMVA o processo de ocupação do território marcado pela utilização industrial do campo diminuiu a produção agrícola, que embora ainda exista de forma tímida, torna necessário que a produção venha de produtores de outras localidades. As feiras hoje representam mais do que um espaço destinado à venda de produtos variados, mas um local de convívio social e lazer. De acordo com as necessidades, foram surgindo diversos tipos de feiras pelas cidades, sendo que apesar de semelhanças possuem características próprias. Entre essas feiras destacam-se: Feira de Coronel Fabriciano localizada no Melo Viana e a Feira Orgânica no bairro Floresta; em Ipatinga destacam-se: a Feira do Ipatingão que assume diversos usos ao longo da semana (de “CEASA” à feira de carros), Feira do Veneza, e a Feira de Artesanato Feirart, no Centro; e a Feira do Timirim, em Timóteo. Dentre os eventos gastronômicos destacam-se: Rota dos Sabores, Comida di Buteco, Festival da Cachaça, Festival da Banana – que além dos moradores da região metropolitana atraem visitantes de outras localidades.
  • 85. 84
  • 86. 85 CARNAVAL Uma das festas mais antigas da humanidade tornou-se comum nas casas de bailes também no Vale do Aço, mas em Timóteo o carnaval extrapolou o limite dos clubes privados e tomou as ruas. No Brasil, a tradição carnavalesca veio de Portugal - onde o Entrudo era bastante popular- e à medida que sofreu transformações deixou de ser uma festividade burguesa transformando-se em uma das mais fortes expressões da cultura popular brasileira. As festas de carnaval que aconteciam nos clubes e salões ganharam mais representatividade nas ruas. Em Coronel Fabriciano e Ipatinga, por alguns anos o carnaval tomou as avenidas com foliões fantasiados, mas a prática durou poucos anos. Mas na cidade de Timóteo o carnaval, passou a representar um aspecto cultural da cidade. Tal como boa parte dos aspectos culturais, o carnaval em Timóteo surgiu do incentivo da Acesita. Membros das escolas da cidade foram enviados para o Rio de Janeiro onde aprenderam as técnicas sobre a festa. Associado a toda atmosfera lúdica que o carnaval possibilita o carnaval representou um exercício de liberdade da cidade em relação à indústria conforme diz QUECINI, 2007: Mas se, como a cidade, o carnaval timotense não se formou, mas foi implantado, ele preservou o espírito original da festa, constituindo-se numa celebração que ao reconhecer as mazelas da realidade, busca contestá-la. [...] carnaval de Timóteo é uma manifestação cultural que demonstra quão tênue é linha que separa aqueles que pensam e fazem a cidade, daqueles que nela vivem. Mais do que isso, ele é a expressão legítima da identidade de um grupo, de uma identidade que, sem negar sua origem industrial, mostra-se livre da tutela empresarial. (QUECINI, 2009)
  • 87. 86
  • 88. 87 ARTESANATO O artesanato tem representado uma discussão ascendente no Vale do Aço. Uma produção no impasse entre a arte e o design que através do seu valor simbólico tem capacidade para transformar a vida de comunidades. É fato que desde as transformações no período pós-moderno o valor simbólico tornou-se o principal diferencial entre produtos. Sabendo disso, algumas produções ditas artesanais apresentam- se “com produção cada vez mais homogênea e pasteurizada, os objetos apresentados estão carregados de um falso tradicional e com produção em série.” (ROQUE, Bruna) É fato que algumas produções artesanais ainda passam por questões de simples repetição, mas percebe-se a realização de trabalhos que busquem a valorização da identidade regional. Dentro dessas organizações podem ser citados: Associação dos Artesãos de Timóteo (ASSOARTT), Casa do Artesão, a Feira de Artesanato e Gastronomia (FEIRACEL), a FEIRART (Feira de Artesanato de Ipatinga), entre outros. Recentemente, aconteceu a primeira “Feira Metropolitana de Artesanato” na Feira do Timirim, em Timóteo, em parceria entre a Prefeitura e o Circuito Mata Atlântica de Minas. “A feira teve como objetivo fortalecer a divulgação do que vem sendo produzido pelos artesãos do Vale do Aço e, além disso, incentivar o turismo na região”. (PREFEITURA Municipal de Timóteo, 2014)
  • 89. 88
  • 90. 89 ARTES Em relação às artes plásticas, a Fundação APERAM e o Centro Cultural USIMINAS, apesar de não serem as únicas, desempenham papel fundamental como curadoras de exposições dos artistas locais com as mais variadas temáticas. Ao longo do ano esses espaços apresentam diversas exposições buscando valorizar artistas e projetos desenvolvidos na região. Alguns artistas plásticos da região tiveram seus trabalhos reconhecidos internacionalmente. São diversas técnicas, materiais e focos de atuação desenvolvidos por artistas do Vale do Aço, exemplo dessa diversidade são as Oficinas de Cultura Japonesa no Vale do Aço – Yoshiko, que transmitem um pouco da cultura nipônica presente em Ipatinga através das técnicas japonesas como o Raku12 e Origamis. Vale destacar a presença das esculturas de aço inox presente nos espaços públicos da região. Além das técnicas tradicionais, um ponto positivo para as artes visuais no Vale do Aço é a presença delas nos espaço urbano, através de obras de artistas plásticos e dos grafites. O grafite tem ganhado força como expressão artística tipicamente urbana, sendo potencializado através das oficinas realizadas nos projetos sociais pelo Vale do Aço reforçando o caráter inclusivo da arte. 12 Técnica conhecida da arte japonesa de fabricação de peças cerâmicas através de técnicas de cozedura e pós- cozedura das peças que lhes garantem uma estética muito característica.
  • 91. 90
  • 92. 91 GRUPO DE CICLISTAS Um elemento culturalmente relevante é o uso da bicicleta seja como instrumento de deslocamento ou de lazer. Os deslocamentos urbanos através das bicicletas tem ganhado relevância mundialmente, em função de ser um modelo de transporte sustentável, favorecendo tanto quem a utiliza quanto a cidade. No período da formação das cidades do Vale do Aço, a bicicleta representava um dos poucos meios de transporte disponíveis, já que naquelas condições poucas pessoas podiam ter acesso ao carro. No entanto, esse deslocamento tornou-se um hábito na região sendo comum uma quantidade expressiva de ciclistas na paisagem das cidades no Vale do Aço. Mas à medida que o tecido urbano tornou-se mais extenso e complexo, as bicicletas vão diminuindo sua relevância muito em função da vulnerabilidade por falta de ciclovias e pela necessidade de movimentos pendulares constantes. Em Coronel Fabriciano, os registros fotográficos de Sete de Setembro de 1964 relatam a importância que anos mais tarde pode ser comprovada pelos estudos do Plano Diretor de Coronel Fabriciano. O Plano Diretor desse município aponta diretrizes exclusivas sobre as ciclovias no município, ressaltando o fato do deslocamento por meio de bicicletas já ser um aspecto cultural na cidade. Enquanto cidades caóticas tentam introduzir esse modelo de deslocamento, as cidades do Vale do Aço deveriam aproveitar para potencializar o deslocamento por bicicletas como alternativa de mobilidade e lazer.
  • 93. 92
  • 94. 93 FUTEBOL É CULTURA No Vale do Aço, além do imaginário nacional, a cultura operária contribuiu para a ampla difusão do futebol nas cidades. O processo de formação dessas fez com que o senso de comunidade fosse desenvolvido de forma gradual, quase sempre influênciado pelas indústrias. Os times de futebol podem ser relacionados como um aspecto cultural do Vale do Aço porque representam um marco na formação expontânea de organização social dessas novas cidades. Reflexo dessa representatividade que os clubes de futebol desempenharam para desenvolver o senso de coletividade nas cidades, a presença dos campos de futebol na região metropolitana merece destaque, pois apresentam-se distribuídos de forma ‘igualitária’ no território, bem diferente dos equipamentos de cultura que concentram-se no centro das cidades. Diferente dos anos que os primeiros times do Vale do Aço foram criados, o futebol tem representado uma forma de transformar e incluir, preservando o seu sentido de comunidade. Além dos vários times de bairros, escolinhas de futebol e dos times de clubes da região, o Acesita Esporte Clube, Social Futebol Clube, e Ipatinga Futebol Clube (passando este em 2013 a ser chamado Betim Esporte Clube) contam uma parte da história dessas cidades desenpenhando não apenas uma prática de lazer, mas uma referência do senso de coletividade.
  • 95. 94
  • 96. 95 CAPÍTULO 5 | HERANÇA DO VALE VERDE PARA O VALE DO AÇO Aspecto que merece a atenção do Vale do Aço como potencial para a diversificação econômica das cidades é o potencial turístico proporcionado principalmente pelo relevo acidentado e pela maior reserva contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais: o Parque Estadual do Rio Doce. Essa localização privilegiada do Vale do Aço culminou na criação do Circuito Mata Atlântica de Minas, que será objeto de estudo deste capítulo. O Circuito Mata Atlântica de Minas foi criado em 2001, com objetivo de potencializar o desenvolvimento regional nos municípios constituintes através dos potenciais turísticos desses municípios ligados aos segmentos do ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural e o turismo religioso, sendo estes: Açucena, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Marliéria, Santana do Paraíso, São Domingos do Prata e Timóteo. O diagnóstico turístico desenvolvido em 2011 sobre o “Projeto ‘Turismo no Vale do Aço’ Circuito Mata Atlântica de Minas” realizado pela Impactur Consultoria Turística, em atendimento à parceria firmada entre o SEBRAE-MG e o Circuito para a implantação do Projeto Turismo no Vale do Aço aponta as potencialidades e fragilidades para o funcionamento efetivo do Circuito na região paralelo ao programa “Vale além do Aço”13. Embora o diagnóstico aponte os sete municípios constituintes, 13 “Conhecendo o Vale Além do Aço” é uma ação estratégica do Circuito para envolver e sensibilizar a rede de prestadores de serviços turísticos, despertando o interesse, o empreendedorismo e o conhecimento da atividade turística
  • 97. 96 serão abordados apenas os quatro municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço – Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo. Uma fragilidade comum a todos os municípios integrantes do circuito apontam para ausência de uma ação integrada entre os municípios, o que enfraquece o potencial do programa enquanto “circuito”. Outro ponto recorrente às fragilidades dos municípios é a ausência de um centro de atendimento aos turistas e o desconhecimento da população sobre a existência do Circuito Mata Atlântica de Minas, além da baixa cultura do turismo na região seja pela população, seja pela administração pública. A seguir serão apresentados os dados encontrados nesse diagnóstico, com foco de análise sobre os recursos naturais como forma de verificar quais são os elementos apontados como potenciais para o desenvolvimento do turismo na região do Vale do Aço. regional e promovendo o intercâmbio de conhecimento e fomento às parcerias. (CIRCUITO MATA ATLÂNTICA DE MINAS, 2011).
  • 98. 97