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PERIGO ||| ALIMENTAÇÃO
José Eduardo Mansur
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
jose.mansur@rac.com.br
O mercado bilionário dos
agrotóxicos esconde uma
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produtiva, os órgãos de fisca-
lização e o judiciário. En-
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dial no consumo de defensi-
vos agrícolas. Entre 2006 e
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acordo com a Anvisa. “Diver-
sos fabricantes internacio-
nais de defensivos agrícolas
vendem no Brasil produtos
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cializados em seus mercados
domésticos”, diz Sylvia Wa-
chsner, coordenadora do
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gânicos da Sociedade Nacio-
nal de Agricultura (SNA). “As
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que são concedidas a estes
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cialização” , acrescenta.
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Ramos, pesquisador do Insti-
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lo ativo. Os componentes da
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cias chegam a ser até mais tó-
xicas que o próprio veneno
agrícola. “Você pode ter um
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formulação. A grande ques-
tão é que você não conhece
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tor rural compra um produto
ilegal, apesar de conhecer o
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mula e usar a mesma quanti-
dade de veneno na lavoura,
pode estar exposto a um ris-
co diferente de contamina-
ção, comprometendo ainda
os alimentos cultivados. Mas,
sobre os produtos liberados
para a venda, Ramos assegu-
ra que o uso correto dos agro-
tóxicos não oferece perigo
nem ao produtor rural e nem
aos consumidores. “O Brasil
está partindo para um siste-
ma de avaliação de riscos
mais claro, inclusive preven-
do a utilização dos produtos
em diferentes cenários”, afir-
ma o perito em tecnologia de
aplicação de defensivos.
Proibidos
Desde 2008, seis substâncias
foram banidas do País e ou-
tras pesquisas ainda avaliam
a potencialidade tóxica de
princípios ativos como o car-
bofurano, mas sem laudos
conclusivos. “Os procedimen-
tos de análise e estudos da An-
visa têm sido complexos devi-
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ras, o que dificulta o trabalho
da Agência para inibir a co-
mercialização”, diz Sylvia Wa-
chsner.
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quat foi alvo de discussão
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cou dois estudos onde avalia
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órgão usou diferentes meto-
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ces de contaminação pelos
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entre 2013 e 2015, a Agência
avaliou o risco agudo de into-
xicação 24 horas após o con-
sumo dos alimentos. Das
amostras coletadas, 98,9%
não apresentaram potencial
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forma, 38,3% dos produtos ti-
veram um nível permitido de
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ziam índices insatisfatórios
de agentes químicos. No en-
tanto, a Anvisa ratificou que
as irregularidades não repre-
sentavam perigos ao consumi-
dor, mas alertou que 12% das
amostras de laranja apresen-
taram potencial de risco. Aba-
caxi (5%), couve (2,6%), uva
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Apesar de o manejo dos
agrotóxicos não ter sofrido
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tudo anterior da Anvisa, reali-
zado entre 2011 e 2012, mos-
trou outros vilões. O pimen-
tão, com 89% das amostras
consideradas insatisfatórias,
liderou o ranking, seguido pe-
la cenoura (67%), morango
(59%), pepino (44%) e alface
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dutos coletados estavam com
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rios. No ano seguinte, a taxa
subiu para 71%.
O pesquisador do IAC ga-
rante que a pesquisa mais re-
cente, que avaliou a contami-
nação aguda, é mais eficiente
e que o entrave hoje está na
mão de obra rural. “A tecnolo-
gia de produtos e máquinas
evoluiu muito, mas não adian-
ta nada se estivermos pecan-
do na profissionalização des-
se trabalhador. Que qualifica-
ção ele tem?”, questiona Ra-
mos, alertando que o melhor
uso dos agrotóxicos depende
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“Precisamos investir na quali-
ficação para termos menor
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balhador” , afirma o especia-
lista do IAC.
IAC treina agentes sobre defensivos agrícolas
Agricultor utiliza agrotóxicos em plantação de goiaba em Valinhos: contrabando do produto coloca em risco os trabalhadores e os consumidores
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este ano no Brasil
Segundo estatísticas do setor, de 20 a 30% dos produtos vendidos no Brasil são contrabandeados
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Ramos, acreditando que
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Pernambuco (2.447). Não há
estudos mais recentes e o
próprio governo alerta que os
números podem ser maiores
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ocorrências. (JEM/AAN)
CORREIO POPULAR A7CIDADES Campinas, segunda-feira, 14 de agosto de 2017
A7

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O risco do mercado ilegal de agrotóxico

  • 1. Oriscodomercadoilegaldeagrotóxico PERIGO ||| ALIMENTAÇÃO José Eduardo Mansur DA AGÊNCIA ANHANGUERA jose.mansur@rac.com.br O mercado bilionário dos agrotóxicos esconde uma guerra velada entre a cadeia produtiva, os órgãos de fisca- lização e o judiciário. En- quanto ações na justiça ten- tam derrubar registros de pro- dutos possivelmente danosos à saúde, não se conhece os riscos dos defensivos comer- cializados ilegalmente. O País, um dos maiores exporta- dores agrícolas do globo, con- trola pragas nas lavouras com venenos contrabandea- dos e aplicados por trabalha- dores sem qualificação profis- sional. Hoje, o Brasil é líder mun- dial no consumo de defensi- vos agrícolas. Entre 2006 e 2016, o volume comercial cresceu cerca de 190%, de acordo com a Anvisa. “Diver- sos fabricantes internacio- nais de defensivos agrícolas vendem no Brasil produtos que não podem ser comer- cializados em seus mercados domésticos”, diz Sylvia Wa- chsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Or- gânicos da Sociedade Nacio- nal de Agricultura (SNA). “As isenções fiscais e tributárias que são concedidas a estes produtos também têm favore- cido o crescimento da comer- cialização” , acrescenta. De acordo com dados do governo, somente no ano pas- sado 277 novos produtos fo- ram liberados para a venda no País. Apesar dos incenti- vos, os números do Sindicato Nacional da Indústria de Pro- dutos para Defesa Vegetal (Sindiveg) mostram que o se- tor faturou US$ 9,56 bilhões em 2016, resultado 1% me- nor que o ano anterior. Em comparação a 2014, a queda foi significativa: 24%. As projeções do Sindiveg para 2017 apontam que as vendas apresentam tendên- cia de queda, não somente por causa da crise econômi- ca e pela valorização do dó- lar, mas também pela comer- cialização de produtos ile- gais. “As estimativas apon- tam que de 20 a 30% dos pro- dutos vendidos no Brasil se- jam ilegais. Muitos entram pelas fronteiras com o Para- guai, Argentina e Uruguai. Is- so é crime. É caso de polí- cia”, diz Hamilton Humberto Ramos, pesquisador do Insti- tuto Agronômico de Campi- nas (IAC). Apesar de não haver da- dos oficiais, as quantidades apreendidas pelas autorida- des este ano demonstram a gravidade do problema. No primeiro trimestre, pouco mais de sete toneladas de de- fensivos ilegais foram confis- cados em diferentes localida- des no Sul do País. Apenas no início deste mês, foram quatro toneladas no Mato Grosso do Sul e outras sete no Mato Grosso. Na região de Campinas, a Coordenado- ria de Defesa Agropecuária, órgão da Secretaria de Agri- cultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, não tem registrado irregularida- des em propriedades rurais e empresas desde 2013. O especialista do IAC infor- ma que muitos dos princí- pios ativos dos defensivos vendidos de forma ilegal são autorizados no País. “O pro- blema é que um defensivo não é composto somente pe- lo ativo. Os componentes da fórmula também têm que ser registrados”, explica Ramos, dizendo que outras substân- cias chegam a ser até mais tó- xicas que o próprio veneno agrícola. “Você pode ter um solvente não permitido nessa formulação. A grande ques- tão é que você não conhece os riscos” , diz o pesquisador. Assim, quando um produ- tor rural compra um produto ilegal, apesar de conhecer o principal componente da fór- mula e usar a mesma quanti- dade de veneno na lavoura, pode estar exposto a um ris- co diferente de contamina- ção, comprometendo ainda os alimentos cultivados. Mas, sobre os produtos liberados para a venda, Ramos assegu- ra que o uso correto dos agro- tóxicos não oferece perigo nem ao produtor rural e nem aos consumidores. “O Brasil está partindo para um siste- ma de avaliação de riscos mais claro, inclusive preven- do a utilização dos produtos em diferentes cenários”, afir- ma o perito em tecnologia de aplicação de defensivos. Proibidos Desde 2008, seis substâncias foram banidas do País e ou- tras pesquisas ainda avaliam a potencialidade tóxica de princípios ativos como o car- bofurano, mas sem laudos conclusivos. “Os procedimen- tos de análise e estudos da An- visa têm sido complexos devi- do a liminares concedidas a favor das empresas produto- ras, o que dificulta o trabalho da Agência para inibir a co- mercialização”, diz Sylvia Wa- chsner. Há dois anos, a justiça ne- gou o pedido do Ministério Público sobre a suspensão da comercialização do herbicida 2,4-D. Ainda tramitam nos tri- bunais outras ações relaciona- das ao glifosato. Já o para- quat foi alvo de discussão ano passado na Anvisa e aca- bou tendo a venda liberada pelos técnicos. Análise de alimentos Nesta década, a Anvisa publi- cou dois estudos onde avalia os produtos consumidos pe- los brasileiros, no entanto o órgão usou diferentes meto- dologias na análise dos índi- ces de contaminação pelos produtos químicos. No levantamento realizado entre 2013 e 2015, a Agência avaliou o risco agudo de into- xicação 24 horas após o con- sumo dos alimentos. Das amostras coletadas, 98,9% não apresentaram potencial de prejuízo à saúde. De outra forma, 38,3% dos produtos ti- veram um nível permitido de resíduos e outros 19,7% tra- ziam índices insatisfatórios de agentes químicos. No en- tanto, a Anvisa ratificou que as irregularidades não repre- sentavam perigos ao consumi- dor, mas alertou que 12% das amostras de laranja apresen- taram potencial de risco. Aba- caxi (5%), couve (2,6%), uva (2,2%) e alface (1,3%) vieram na sequência. Apesar de o manejo dos agrotóxicos não ter sofrido mudanças significativas, o es- tudo anterior da Anvisa, reali- zado entre 2011 e 2012, mos- trou outros vilões. O pimen- tão, com 89% das amostras consideradas insatisfatórias, liderou o ranking, seguido pe- la cenoura (67%), morango (59%), pepino (44%) e alface (43%). Em 2011, 64% dos pro- dutos coletados estavam com índices de resíduos satisfató- rios. No ano seguinte, a taxa subiu para 71%. O pesquisador do IAC ga- rante que a pesquisa mais re- cente, que avaliou a contami- nação aguda, é mais eficiente e que o entrave hoje está na mão de obra rural. “A tecnolo- gia de produtos e máquinas evoluiu muito, mas não adian- ta nada se estivermos pecan- do na profissionalização des- se trabalhador. Que qualifica- ção ele tem?”, questiona Ra- mos, alertando que o melhor uso dos agrotóxicos depende do entendimento dos riscos. “Precisamos investir na quali- ficação para termos menor contaminação do ambiente, do alimento e do próprio tra- balhador” , afirma o especia- lista do IAC. IAC treina agentes sobre defensivos agrícolas Agricultor utiliza agrotóxicos em plantação de goiaba em Valinhos: contrabando do produto coloca em risco os trabalhadores e os consumidores 277 Tiveram o uso e venda liberados este ano no Brasil Segundo estatísticas do setor, de 20 a 30% dos produtos vendidos no Brasil são contrabandeados Cedoc/RAC Uso de defensivos ilícitos coloca saúde de todos em risco NOVOS PRODUTOS A Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Agrotóxicos do IAC funciona em Jundiaí. O objetivo é treinar agentes, como representantes de cooperativas e professores, que possam repassar o conhecimento adiante. O pesquisador do IAC acredita que, em todo o País, os cursos sobre defensivos consigam beneficiar 100 mil pessoas por ano, mas é uma abrangência longe da ideal. "Vamos levar 20 anos para oferecer conhecimento para os que estão aí. Ou agilizamos isso ou vamos ter esse problema eternamente. Por isso, temos que fazer a informação chegar a todos e com urgência" , explica Ramos, acreditando que número de pessoas que aplicam defensivos agrícolas seja superior a dois milhões em todo o País. Não existe um levantamento oficial sobre o assunto. Em relação aos acidentes com químicos, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp (Ciatox) registrou 120 atendimentos por exposição a agrotóxicos, em atividades laborais, entre 2014 e agosto deste ano. A região de Campinas responde por 66% desses pacientes e metade dos casos envolve a intoxicação por inseticidas. No panorama nacional, de acordo com as estatísticas do Ministério da Saúde, de 2007 a 2015, o Brasil registrou 28.321 casos de intoxicação por agrotóxicos agrícolas. O campeão de notificações é o Paraná, com 5.307 apontamentos, seguido de São Paulo (3.127774) e Pernambuco (2.447). Não há estudos mais recentes e o próprio governo alerta que os números podem ser maiores pela falta de registro ou irregularidades nas ocorrências. (JEM/AAN) CORREIO POPULAR A7CIDADES Campinas, segunda-feira, 14 de agosto de 2017 A7