Mensagem do Santo Padre para 28ª Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Jane...
Missão do Cristão
1. A Missão do Cristão
Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos
fecha no nosso Eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fossemos o
centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo
a que pertencemos: A humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar
quilômetros. É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los.
E, se para descobri-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus,
então missão é partir até os confins do mundo.
Dom Hélder Câmara
Todos sabemos que Outubro é o mês das Missões. O termo Missão, quando aplicado no
contexto da Igreja, remete-nos logo para os missionários, consagrados ou leigos, que
são enviados às populações mais carentes deste mundo tão cheio de diferenças. No
entanto, a missão do católico é muito mais que a Missão Ad Gentes.
O primeiro passo para a missão, como nos disse D. Helder no poema acima, é sair de si
mesmo, não se deixar bloquear em nosso pequeno mundo, ou seja, buscando na graça
de Deus a força para sair do comodismo que tem levado tantos cristãos a uma vida
morna, individualista e frustrada. Repito, frustrada, porque já que foi feito para amar,
para sair de si não pode se realizar sozinho. Diante de uma sociedade amedrontada por
tantas realidades e também, por tantos “contos” e ilusões que separam os homens,
separando as famílias, os casais, os amigos, os irmãos… É necessária bastante coragem
e ousadia para enfrentar as ondas contrárias aos verdadeiros valores, à Fé, e assim,
permanecer fiel na responsabilidade do Batismo recebido, que tornou cada homem e
cada mulher um discípulo missionário, uma discípula missionária. Tal realidade nós
encontramos expressa em fontes extremamente ricas, como a exortação apostólica
Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, e o Documento da Conferência de Aparecida, que nos
ajudam a aprofundar nosso conhecimento a respeito e assim “dar razões de nossa fé”.
Testemunhas da ressurreição do Senhor
A Igreja deve, como Jesus, anunciar o Reino de Deus e chamar à conversão. Porém,
deve também, como Jesus, realizar aquelas obras ou “sinais” que revelam o amor de
Deus pela humanidade através do poder do Espírito. Cabe aqui uma pergunta para
destacar o sujeito e aprofundar a reflexão: Quem é “a Igreja”? O Catecismo da Igreja
2. Católica nos ensina que “A Igreja é, portanto, o povo santo de Deus” (CIC 823) e o
Concílio Vaticano II nos mostra que cada leigo individualmente deve ser perante o
mundo uma testemunha da ressurreição do Senhor e sinal do Deus vivo; na medida de
suas possibilidades deve alimentar o mundo com frutos espirituais, deve ser “o que a
alma é no corpo, isto sejam no mundo os cristãos”(Lumen Gentium 38).
Não há dúvida de que a tarefa de promover a justiça e a paz, de efetivamente prestar
solidariedade e serviço aos irmãos, sendo sinal do reino é, em primeiro lugar,
responsabilidade dos cristãos que têm competência nos diversos âmbitos da sociedade,
como na economia, na política, na saúde, na educação, na cultura etc. Novamente a
Constituição Lumen Gentium afirma que na tarefa de impregnar o mundo do espírito de
Cristo e de fazer que “atinja mais eficazmente o seu fim na justiça, na caridade e na paz,
(…) compete aos leigos a principal responsabilidade” (LG 36). Cito também uma
passagem de outro documento do Vaticano II, o qual trata do apostolado dos leigos no
mundo: “Impõe-se, pois, a todos os cristãos o dever luminoso de colaborar para que a
mensagem divina da salvação seja conhecida e acolhida por todos os homens em toda a
parte” (Apostolicam Actuositatem, 3). E para tal missão é o Espírito Santo que opera,
através dos homens, a santificação do povo de Deus através do ministério e dos
sacramentos, confere também os seus dons, distribuindo-os conforme lhe apraz (cf.
1Cor 12.7).