Este catálogo documenta a exposição individual "Semi-Automatic Sweet" da artista Vera Fonseka na Galeria António Prates, contendo informações sobre a artista e imagens de suas obras que exploram temas autobiográficos através de mandalas e técnicas mistas.
2. Catálogo:
director ANTÓNIO PRATES
assistente TIAGO RAPOSO, VANDA OLIVEIRA
artista VERA FONSEKA
texto MIGUEL MATOS
design TIAGO RAPOSO
editor GALERIAANTÓNIO PRATES
impressão e acabamento OFICINA DO PAPEL
Deste catálogo fizeram-se 200 exemplares
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida.
Capa: «Take your hands off her», técnica mista s/ tela, 119 x 128 cm, 2015
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3. «Semi-Automatic Sweet»
18 JUN - 17 JUL
s/ título
técnica mista s/ pano
145 x 187 cm, 2014
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4. 2
s/ título
técnica mista s/ tela
150 x 255 cm, 2015
As Mandalas Pop de Vera Fonseka
por Miguel Matos
Muito se tem falado desde sempre sobre a teoria de existir
ou não uma arte feminina. Uma arte que tenha características
especiais por ter sido realizada por mulheres. Além de todas
as teorias que confirmam ou desmentem esta ideia, é minha
convicção de que existe um lado feminino da arte, que pode
surgir tanto em artistas homens como mulheres. Parece-me
óbvio que existem características da feminilidade que são
mais recorrentes na produção de mulheres artistas e é neste
campo que situo os desenhos e pinturas de Vera Fonseka.
As obras desta que é a sua primeira exposição individual
vivem numa existência paradoxal entre a delicadeza minu-
ciosa dos detalhes e a brutalidade da iconografia utilizada em
simultâneo. Entre as cores vivas que sobressaem num pri-
meiro contacto com a obra e o lado sombrio da morte tam-
bém presente na mesma. Poder-se-ia dizer que muita da
bagagem cultural e pessoal de Vera está presente nas imagens
que cria, mas também muito do seu presente. Isto encontra-
-se representado de forma simbólica nestes trabalhos, desde
os tempos mais conturbados nas suas origens russas, até às
cores vivas com que introduz Lisboa como cenário, cidade
pela qual se apaixonou perdidamente.
O percurso desta exposição é marcado por um patchwork de
referências, lugares, imagens e personalidades que
Vera Fonseka considera serem representativos da sua
vivência actual, no seguimento de um trabalho anterior em
que a artista representava o seu passado como num mapa.
Esta colagem de imagens roubadas é solidificada com o
bordado colorido, presença vincada da feminilidade, da
solidez dos sentimentos e das cores numa visão optimista
da vida. Apesar das críticas que Vera imprime à sociedade
actual, o seu trabalho não se situa numa atitude satírica ou
iconoclasta. A artista não pretende romper com o que quer
que seja nem criticar o estado da arte contemporânea. Para
isso já existem muitos outros artistas. Para Vera o que a move
é a arte pela arte e não a arte pelo sistema ou contra ele. É a
arte pelo prazer e pelo instinto de a seguir. Vera produz arte
porque não sabe viver sem ela. E a dedicação à arte como
modo de vida é já em si um acto político.
No centro das obras de Vera Fonseka vive uma estrutura que
prende e alicerça todos os elementos que a compõem: a
mandala. A mandala é uma forma circular de representação
do cosmos. Aliás, mandala é a palavra em sânscrito para
“círculo”. Uma estrutura de círculos e quadrados
concêntricos que para Vera Fonseca serve o propósito de
ordenação do caos do mundo em que vive, mais do que um
simbolismo da dimensão espiritual. A mandala, na obra de
Vera Fonseka, é o compasso pelo qual a artista organiza no
papel ou na tela os elementos e objectos visuais que repete
e reproduz. Produz assim dinamismo, movimento e rotação
nas suas peças. A partir deste centro explodem cores, linhas,
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5. 3
texturas e ícones que parecem ter sido feitos no espírito do
“doodle”, como se pode verificar, por exemplo, no trabalho
de Joana Rosa. As texturas minuciosas e repetições de pa-
drões encontram paralelos com pormenores presentes na
obra de Raúl Perez, embora essa referência não seja
consciente. Estas não são referências da artista, são teias de
ligações artísticas mais ligadas à coincidência do que a
ligações concretas. O universo doméstico é uma realidade
que aparece insinuada aqui e além nestas obras em elementos
que apenas aparentemente são decorativos. Os conflitos da
guerra surgem da mesma forma, quase inusitada numa
violência que é coberta de cores, como numa alusão a Andy
Warhol em atitude claramente pop. Pop é também uma
linguagem que se imiscui no seu trabalho, sob a forma do
stencil, técnica típica da street art, apropriada neste caso para
a pintura. O stencil, despojado hoje em dia de toda a vertente
“street” é já um produto cultural, que Vera aproveita e inclui
como mais uma técnica.
Na produção de Vera Fonseka, o acaso é permanente no
decurso da realização de cada desenho, de cada pintura.
Vera não realiza estudos nem traça planos antes de lançar
a tinta na superfície. Em dripping, pintura, desenho, risco,
stencil, colagem, recorte e outras técnicas, é possível
reconhecer formas de Lisboa (até mesmo a sardinha que
para Vera representa a alegria de Junho, mês da sua chegada
à cidade), bombas de amor, máscaras anti-gás, pistolas pop,
guitarras, tudo e mais uns etceteras. Elementos
autobiográficos de medo e amor, desde a Rússia até
Portugal.
s/ título
técnica mista s/ tela
95 x 152 cm, 2014
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19. 2014 - Salão de Primavera/Prémio Rainha Isabel
de Bragança, Casino do Estoril
2014 - Arte e Cultura, Eka Unity Palace
2014 - FABLAB, Protocolo Experimental, Museu
Nacional de Portalegre
2014 - GABA, Faculdade de Belas artes de Lisboa
2014 - C de…Cores/”Revoluções” – Coletiva de
alunos da Fbaul
2014 - 11º aniversário “Amplexo a Mário Elias”,
Câmara Municipal de Mértola
2013 - XVIII Bienal Artes Plásticas – Festa do
“Avante”, Quinta da Atalaia-Amora-Seixal
2012 - GABA, Faculdade de Belas Artes de
Universidade de Lisboa
2012 - Bologna Children´s Book Fair, Piazza
Costituzione, 6 Bologna
2011 - XVII Galeria Aberta, Galeria dos Escu-
deiros, Câmara Municipal de Beja
2011 - Exposição Internacional de Artes Plásticas
de Vendas Novas, Auditório Municipal Centro
Cultural de Vendas Novas
Natural da Estónia, Vera Fonseka reside em
Portugal há mais de dez anos.
Licenciada em Artes Plásticas - Pintura, pela Fac-
uldade de Belas Artes de Lisboa, em 2014, é atual-
mente mestranda em Desenho, ilustradora, e artista
representada pela Galeria António Prates.
Inspirada pela teoria da sociedade espectáculo de
Guy Debord, que transpõe para a tela como espaço
de “espectáculo da cor e da condição humana”, e
pelo conceito de mapeamento do cérebro, de
António Damásio, a artista baseia o seu trabalho
em estruturas, com relevo para as mandalas, em
busca de uma perfeição que a vida distorce,
misturando técnicas, tecidos, papéis, recortes, no
que considera ser um trabalho de arqueologia
aplicado à tela.
VERA FONSEKA
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
2015 - Galeria António Prates - “Semi-Automatic
Sweet“
EXPOSIÇÕES COLECTIVAS
2015 - ARTLAB – Protocolo Simbólico, Galeria
FBAUL
2015 - Finalistas de Pintura Fbaul 2014, Sociedade
Nacional de Belas Artes
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