Em 10 de outubro de 2012, uma operação da Receita Federal no Camelódromo de Porto Alegre provocou protestos e tumultos entre camelôs. A ação fiscalizou 70 bancas e recolheu produtos irregulares, enquanto manifestantes bloquearam ruas do centro da cidade. A situação só foi controlada depois do meio-dia, deixando o comércio da região tensa com a repetição desses confrontos.
Receita Federal causa tumulto em operação no Camelódromo de Porto Alegre
1. PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 10/10/2012 3DIÁRIO GAÚCHO
Revolta no Camelódromo
U
ma operação da
Receita Federal,
na manhã de
ontem, fez explodir a
situação no
Camelódromo. Com o
apoio da Polícia
Federal, da Polícia
Rodoviária Federal e da
Brigada Militar, a ação
bloqueou as entradas
ao Pop Center (novo
nome do
Camelódromo) e,
durante pelo menos
três horas, deixou
tensa a situação em
todo o Centro. Há uma
semana, uma operação
semelhante provocou
tumultos no local.
Enquanto a Operação
Brinquedo Perigoso
fiscalizava
70 bancas, os
protestos aumentavam
do lado de fora do
centro comercial.
● “Havia muitos
baderneiros”
Durante os protestos,
supostamente
comandados por
camelôs insatisfeitos
com a fiscalização,
contêineres de lixo
foram revirados. O
tumulto aumentou com
a adesão dos
ambulantes irregulares
que ficam no entorno
do Camelódromo.
Foi preciso reforço do
Batalhão de Operações
Especiais (BOE), da
Brigada Militar, para
impedir mais estragos.
– Havia muitos
baderneiros que não
trabalham aqui
provocando a
confusão, mas agimos
de forma a conter os
ânimos e evitar o
confronto – afirmou o
comandante do
policiamento da
Capital, coronel
Alfeo Freitas.
● Manifestantes
bloquearam via
A situação fugiu ao
controle pouco antes
das 11h, quando os
primeiros caminhões
começaram a levar as
mercadorias retiradas
das bancas. Aos gritos
de “queremos
trabalhar”, um grupo
correu até a Avenida
Júlio de Castilhos e
virou um contêiner. O
trânsito foi bloqueado
por eles. Quem ousou
romper a barreira,
como um motociclista,
foi atacado.
A Brigada Militar
formou uma barreira e
contornou a situação,
ainda com trânsito
bloqueado.
● Entre gritos e
ameaças
Era o início do pânico
para a vizinhança do
Camelódromo. Parte
dos manifestantes
partiu em direção às
ruas Dr. Flores e
Voluntários da Pátria.
Os comerciantes que
não baixavam as
cortinas de ferro eram
ameaçados com
pedradas e gritos.
O comércio só voltou
à normalidade depois
do meio-dia.
TUMULTO NO CENTRO
Porcercadetrêshoras,oclimafoitenso
nas ruas da área central da Capital. Ação
da Receita Federal no centro popular de
comprasdesencadeouprotestosetumulto.
RESUMO DA NOTÍCIA
EDUARDO TORRES
eduardo.torres@diariogaucho.com.br
EDUARDO RODRIGUES
eduardo.rodrigues@diariogaucho.com.br
18/10/2007
● Em 2007,
camelôs irregulares
provocaram tumultos
e confusão no Centro
de Porto Alegre
4/10/2012
● Há uma
semana, ação da
Receita causou
protestos no
Camelódromo.
... fez camelôs
bloquearem as ruas
FOTOS DIEGO VARA
Por volta das 9h,
os agentes
chegaram escoltados
pelos PMs e os
acessos ao
Camelódromo foram
bloqueados.
Segundo a
assessoria da
Receita, a intenção
era evitar um conflito
como o que
aconteceu na
semana passada,
quando uma
operação foi
suspensa.
– Se a ação era só
nas bancas que eles
sabem, por que
prejudicar todo
mundo? Nós
precisamos trabalhar
e não estão nos
deixando entrar –
criticou Cleusa
Arbello, que tem
uma banca de
roupas.
Indignado com a
pressão dos fiscais,
Ricardo Oliveira da
Costa, que tem
banca há três anos
no Pop Center, tinha
certeza que a
sequência de ações
no local é política.
– Eu me
regularizei, tudo
certinho, e eles vêm
aqui toda a semana.
Comerciantes estão
indignados com ação
Ação de fiscais
no centro
popular de
compras...
Produtos irregulares
foram recolhidos
Aumenta número de
camelôs irregulares
Enquanto lojistas do
PopCenter buscam a
formalização para
comprovar a
procedência das
mercadorias,
ambulantes
irregulares
que atuam
no entorno
seguem
desafiando
autoridades e
participando de
badernas como a de
ontem. E eles não
atuam apenas na Rua
Voluntários da Pátria.
Os caixinhas são
vistos nas ruas Doutor
Flores, Marechal
Floriano, Otávio
Rocha, Vigário José
Inácio, Andradas,
Borges de Medeiros,
Salgado Filho e até
no Largo Glênio
Peres, vendendo de
antenas de tevê a
CDs piratas.
O secretário da
Produção, Indústria e
Comércio Omar
Ferri não sabe
quantos são,
mas afirma
que, nos
últimos três
anos, cerca
de 1,3 mil
pessoas que
estavam na lista de
espera foram
contempladas com
vagas no
Camelódromo e
em outros pontos
da cidade.
– Este ano já
apreendemos 197 mil
mercadorias vendidas
por pessoas que não
querem entrar na
legalidade. É nosso
dever coibir o
comércio informal.
REUNIÃO COM A RECEITA FEDERAL
O titular da Smic,
Omar Ferri, e uma
comissão de lojistas do
Camelódromo se
reuniram ontem. Hoje,
voltam a se encontrar,
desta vez com o
superintendente da
Receita Federal no Rio
Grande do Sul, Paulo
Renato Silva da Paz.
Prefeitura e lojistas
querem que as futuras
ações fiscais sejam
realizadas em horários
que não causem
transtornos à cidade.
Paulo afirma que as
operações da Receita
são realizadas sempre
com as lojas abertas.
Na ação de ontem,
fiscais vistoriaram
27 bancas e encheram
224 sacos com
brinquedos, telefones e
aparelhos eletrônicos
apreendidos, num
total de cerca de
R$ 450 mil.
A Operação
Brinquedo Perigoso
está sendo realizada
em todo o país. De
acordo com Paulo,
ontem também foram
vistoriadas lojas da
Região Metropolitana e
Vale do Sinos.
Segurança
preocupa
Dois tumultos
em apenas uma
semana deixaram a
direção do
Camelódromo
assustada. No dia
3, no lançamento
do novo conceito
do centro popular
de compras, com a
presença de atores
da Globo, houve
confusão. Ontem,
durante o tumulto,
a administração foi
fechada e os
funcionários
liberados.
– Estamos
preocupados com
a segurança e com
a repercussão
desses atos junto
aos clientes e
lojistas. Queremos
e até incentivamos
que os
comerciantes se
formalizem, mas
desse jeito fica
difícil – lamentou o
gerente do Pop
Center, Edinardo
Danielli.
FERNANDO GOMES