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FUNDASUL – FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO CENTRO-SUL
FACULDADE CAMAQUENSE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRATIVAS
ECONOMIA I
PROFESSOR PAULO RICARDO CASA NOVA
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1. A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
1.1. A economia como ciência social
1.2. O conceito de economia
1.3. A metodologia do conhecimento econômico
1.3.1. Senso comum
1.3.2. Construção da ciência
1.3.3. Ideologia e normas
1.3.4. Os métodos indutivo e dedutivo
1.4. Compartimentos da economia
1.4.1. Análise positiva versus análise normativa
1.4.2. Micro e macroeconomia
1.4.3. Política Econômica
1.5. Os recursos econômicos
1.5.1. Terra (ou Recursos Naturais)
1.5.2. Trabalho
1.5.3. Capital (ou Bens de Capital)
1.5.4. Capacidade empresarial
1.5.5. Capacidade tecnológica
1.6. Os agentes econômicos
1.6.1. As unidades familiares
1.6.2. As empresas
1.6.3. O Governo
1.6.4. Setores econômicos
1.6.5. Tipos de bens e serviços econômicos
1.7. A escassez de recursos e as ilimitáveis necessidades
1.7.1. As ilimitáveis necessidades
1.8. Problemas econômicos básicos
1.9. Modelos econômicos
1.9.1. Fluxo circular
1.9.2. Fronteira das possibilidades de produção
1.9.3. Eficiência produtiva
1.9.4. Custos de oportunidade
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1. A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
1.1. A economia como ciência social
O estudo dos aspectos econômicos da vida faz parte de uma das mais abrangentes
categorias do conhecimento humano, as ciências sociais1.
As ciências sociais ocupam-se dos diferentes aspectos do comportamento humano.
Podem ser também caracterizadas como ciências do comportamento ou, ainda, como
ciências humanas. Compreendem áreas distintas, à medida que se possam diferenciar, por
sua natureza, os diferentes aspectos da ação do homem com os quais cada uma delas se
envolve.
Como ciência social, decorrente da atividade do homem organizado em sociedade, a
economia se relaciona com diversas outras ciências. As condições do meio social estão
relacionadas com fatores geográficos, históricos, culturais e com as instituições sociais.
Assim, a Economia mantém relações estreitas com a história, a sociologia, a psicologia, a
política, o direito, a geografia e a demografia. E, por sua natureza teórica, relaciona-se com
a lógica, a matemática e a filosofia.
O início do estudo sistemático da Economia coincidiu com os grandes avanços da
técnica e das ciências físicas e biológicas nos séculos XVIII e XIX. A construção do núcleo
científico inicial da Economia começou a partir das chamadas concepções organicistas
(biológicas) e mecanicistas (físicas). Segundo o grupo organicista, a Economia se
comportaria como um órgão vivo. Daí utilizarem-se termos como órgãos, funções,
circulação e fluxos na teoria econômica. Já para o grupo mecanicista, as leis da Economia
se comportariam como determinadas leis da Física. Daí advém os termos estática,
dinâmica, aceleração, velocidade, forças e outros. Com o passar do tempo, predominou
uma concepção humanística, que coloca em plano superior os móveis psicológicos da
atividade humana. Afinal, a Economia repousa sobre os atos humanos, e é por excelência
uma ciência social.
Apesar de ser uma ciência social, a Economia é limitada pelo meio físico, dado que
os recursos são escassos, e se ocupa de quantidades físicas e das relações entre essas
quantidades, como a que se estabelece entre a produção de bens e serviços e os fatores de
produção utilizados no processo produtivo. Daí surge a necessidade da utilização da
Matemática e da Estatística como ferramentas para estabelecer relações entre variáveis
econômicas. A Matemática toma possível escrever de forma resumida importantes
conceitos e relações de Economia e permite análises econômicas na forma de modelos
analíticos, com poucas variáveis estratégicas, que resumem os aspectos essenciais da
questão em estudo.
1
Conjunto de matérias que estudam o homem em relação com seu meio físico, cultural e social.
4
A ciência política trata das relações entre a nação e o Estado, das formas de
governo e da condução dos negócios públicos. A sociologia ocupa-se das relações sociais
e da organização estrutural da sociedade. A antropologia cultural volta-se para o estudo
das origens e da evolução, da organização e das diferentes formas de expressão cultural do
homem. A psicologia ocupa-se do comportamento do homem, de suas motivações,
valores e estímulos. Ao direito cabe fixar, com a precisão ditada pelos usos, costumes e
valores da sociedade, as normas que regularão os direitos e as obrigações individuais e
sociais. E à economia, que, como as demais áreas, abrange apenas uma fração das
ciências sociais, compete o estudo da ação econômica do homem, envolvendo
essencialmente o processo de produção, a geração e a apropriação da
renda, o dispêndio e a acumulação.
À semelhança do que ocorre com os demais ramos das ciências sociais, não se pode
considerar a economia como fechada em torno de si mesma. Pelas implicações da ação
econômica sobre outros aspectos da vida humana, o estudo da economia implica a abertura
de suas fronteiras às demais áreas das ciências humanas. Esta abertura se dá em dupla
direção. De um lado, porque a economia busca alicerçar seus princípios, conceitos e
modelos teóricos não apenas na sua própria coerência, consistência e aderência à realidade,
mas ainda nos desenvolvimentos dos demais campos do conhecimento social. De outro
lado, porque pode influir no questionamento dos princípios e das aquisições conceituais
desses mesmos campos. E vai ainda além, abrindo suas fronteiras à filosofia e à ética; à
história e às diferentes manifestações da religião, à tecnologia e aos variados ramos que
atualmente se ocupam do estudo do meio ambiente.
A autonomia de cada um dos ramos das ciências sociais não deve ser confundida
com um total isolamento, pois todas as manifestações das modernas sociedades se
encontram interligadas, apenas que a realidade deve ser observada sob diferentes óticas e
investigada em termos não unilaterais. Cada ciência observa e analisa a realidade do
aspecto material do seu objeto, segundo sua própria lógica formal. O fato, porém, é que as
visões sobre o mesmo objeto acabam se inter-relacionando.
Exemplo
Na Índia, as vacas são animais sagrados e invadem os campos em grande número à
procura de alimento. Enquanto um economista menos informado é capaz de considerar
estas manadas como fonte principal de proteínas para uma alimentação adequada, um
estudioso mais profundo tomará em consideração, ao analisar o desenvolvimento
econômico da Índia, a psicologia dos costumes.
5
1.2. O conceito de economia
Em termos etimológicos, a palavra economia vem do grego oikos (casa) e
nomos (norma, lei). Teríamos, então, a palavra oikonomia que significa a
administração de uma unidade habitacional.
A palavra economia, na Grécia Antiga, servia para indicar a administração da casa,
do patrimônio particular, enquanto a administração da polis (cidade-estado) era indicada
pela expressão economia política. Esta última expressão caiu em desuso e só voltou a
ser empregada no princípio do século 17 pelo economista francês Antoine Montchrétien,
que a introduziu em seu livro “Tratado de Economia Política” (1615).
Até chegar ao Tratado de Montchrétien, as questões econômicas de maior relevância
eram os sistemas de posse territorial, a servidão, a arrecadação de tributos, a organização
das primeiras corporações, a concessão de mercados, o comércio inter-regional, a
cunhagem e o emprego de moedas. E cada uma dessas questões era tratada sob os ângulos
da política, da filosofia e do direito canônico.
As dimensões da economia, enquanto ramo do conhecimento só se alargou com a
maior complexidade assumida pelas questões econômicas, após o Renascimento, com o
desenvolvimento nos novos Estados-nações mercantilistas – Espanha, Portugal, Inglaterra,
França e Alemanha. Nesse período, os pensadores pós-renascentistas definiam a economia
como ramo do conhecimento essencialmente voltado para a administração do Estado, sob o
objetivo central de promover seu fortalecimento.
Embora a questão dos problemas econômicos tenha sido objeto de preocupação de
pensadores da Antiguidade clássica e da Idade Média, foi somente na era moderna que
surgiu o estudo empírico e sistemático dos fenômenos econômicos de um ponto de vista
científico.
O marco inicial da etapa científica da Teoria Econômica coincidiu com os grandes
avanços da técnica e das ciências físicas e biológicas, nos séculos 18 e 19. Nesse período da
evolução do conhecimento humano, a Economia constitui seu núcleo científico, estabeleceu
sua área de ação e delimitou suas fronteiras com outras ciências. A preocupação central já
não era com o fortalecimento do Estado, mas com a riqueza das nações.
Na segunda metade do século 19, a expressão economia política foi abandonada,
sendo substituída apenas por economia. Desde então, é a denominação dominante nos
meios acadêmicos, enquanto o termo economia política ficou restrito ao pensamento
marxista.
6
A melhor definição de Economia foi dada pelo economista norte-americano Paul
Samuelson: Economia é uma ciência social que estuda a administração dos
recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos.
A administração dos recursos da sociedade é importante porque os recursos são
escassos. Escassez2 significa que a sociedade tem menos a oferecer do que aquilo que as
pessoas desejam ter. Assim como uma família não pode dar a seus membros tudo o que
estes desejam, a sociedade não pode dar a cada pessoa o padrão de vida mais alto ao qual
ela aspira.
Economia é o estudo da forma pela qual a sociedade administra seus recursos
escassos.
Os economistas estudam como as pessoas tomam decisões: o quanto trabalham, o que
compram, quanto poupam e como investem suas poupanças. Os economistas também
estudam como as pessoas interagem umas com as outras, Por exemplo, examinam como um
grande número de compradores e vendedores de um bem determinam em conjunto o preço
pelo qual o bem será vendido e a quantidade que será vendida. Por fim, os economistas
analisam forças e tendências que afetam a economia como um todo, incluindo o
crescimento da renda média e a taxa à qual os preços aumentam.
1.3. A metodologia de desenvolvimento do conhecimento econômico
A dificuldade de delimitação entre senso comum, ciência e ideologia não
se restringe, obviamente, à economia. Constata-se sua extensão praticamente a todos os
outros campos do conhecimento humano. Por isso mesmo, é útil aprofundar esses
conceitos, notadamente quanto a seu significado e atributos. A clara compreensão de cada
um deles tem muito a ver com a construção do conhecimento científico em economia e com
sua compartimentalização usual.
1.3.1. Senso comum
O entendimento do homem sobre o mundo que o cerca, tanto no âmbito de suas
relações com as forças da natureza, quanto no que diz respeito às diferentes manifestações
de sua interação social, começa por um conjunto de conhecimentos acríticos,
geralmente denominados pela expressão senso comum. À medida que o homem vai
ampliando seu contato com a natureza e com seus pares, vai também acumulando novos
conjuntos de habilidades e de práticas e, ao mesmo tempo, exercitando sua consciência, seu
discernimento, seu tino e sua perícia. Por herança cultural, gerações que se sucedem
ampliam, testam e submetem à provação experimental os conhecimentos acumulados que
lhes foram transmitidos. Boa parte destes nada mais é do que um entendimento superficial
acerca da coisa pretensamente conhecida e dominada. Outra parte resume-se à credulidade,
em geral decorrente de tentativas primitivas e inacabadas de explicar o desconhecido. E
2
Natureza limitada dos recursos da sociedade.
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outra parte não vai além da praticidade, sem, contudo, explicar por que as coisas acontecem
ou por que determinados fenômenos se manifestam. A este sistema de conhecimento, a que
podemos chamar senso comum, deve-se expressiva parcela do domínio inicial do
homem sobre os mais variados campos de sua atuação.
1.3.2. Construção da ciência
Partindo de sistemas de conhecimentos acríticos, o homem vai, progressivamente, à
busca do conhecimento científico. Da informação à consciência, do entendimento à
inteligência, das práticas aos ensaios experimentais, o senso comum vai dando lugar à
ciência, com o suceder das gerações. Este novo conjunto de conhecimentos,
sistematicamente elaborado e experimentado, traduziu, em etapas sucessivas, a passagem
do senso comum à ciência, cabendo notar que, na construção do conhecimento científico, o
homem busca pelo menos três relevantes critérios de cientificidade. Primeiro, a
coerência, significando falta de contradições, argumentação estruturada, corpo não
contraditório de enunciados, desdobramento do conhecimento de forma organizada,
conclusões a partir de deduções lógicas. Segundo, a consistência, no sentido de
resistência à argumentação contrária. E, terceiro, a objetividade, no sentido de
reprodução da realidade como ela é, não como o observador gostaria que fosse.
1.3.3. Ideologia e normas
Integrando-se ao estado do conhecimento humano e reproduzindo seu
posicionamento em relação ao mundo que o cerca, surge e se cristaliza um terceiro corpo de
idéias e de entendimentos, que chamamos ideologia. A distinção entre ciência e senso
comum fundamenta-se, como vimos, em um conjunto de critérios geralmente aceitos.
Ainda assim, esses dois compartimentos não se podem considerar estanques, entrelaçando-
se como elos de uma mesma corrente. Da distinção entre ciência e ideologia também
resultam elos entrelaçados, não obstante os critérios com que se define a ciência sejam bem
diversos daqueles com que se identificam as ideologias. Estas se caracterizam pela
justificação, pelo partidarismo e pela normatização.
A ideologia surge da exigência de legitimação, comum às mais diferentes formas de
ordenamento institucional. O campo em que gravitam as posturas ideológicas é diverso
daqueles em que se acomodam o senso comum e a ciência. A ideologia expressa um
conjunto de valores, crenças, convicções, prescrições e normas. Estas se desenvolvem a
partir da necessidade que toda organização social tem de se legitimar. Ao contrário do
senso comum e da ciência, as ideologias não buscam a neutralidade, a explicação simples e
objetiva com que o homem procura compreender o mundo que o cerca. O caráter
diferenciador da ideologia é a sua não neutralidade. O discurso ideológico é
predominantemente partidário e significa posicionamentos políticos derivados de correntes
filosóficas e de interesses de classe. Ocorre, porém, que a justificação ideológica encobre-
se com o véu do argumento científico. Daí resulta os elos de encadeamento entre a ciência e
a ideologia.
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1.3.4. Os métodos indutivo e dedutivo
Na construção da economia, como usualmente ocorre em outros ramos do
conhecimento humano, o instrumental empregado assenta-se sobre bases metodológicas.
A metodologia da elaboração científica, em sua estrutura fundamental, busca como
primeiro passo, observar sistematicamente a realidade. Depois, elaborar modelos
simplificados que a reproduzam, que identifiquem relações de causas e efeitos e que
interpretem os mais variados eventos e seus desdobramentos. No processo de elaboração,
basicamente, recorre-se a duas abordagens distintas, ainda que complementares: a
indução e a dedução. Assim, em sua acepção mais simples, as bases sobre as quais se
constrói o conhecimento científico constituem-se, preliminarmente, de processos
descritivos que conduzam ao reconhecimento da realidade e, subseqüentemente, de duas
abordagens metodológicas distintas, embora complementares, a indutiva e a dedutiva.
Em síntese, essas três bases são:
 O reconhecimento – consiste na observação sistematizada da realidade. Uma vez
definido o campo específico de investigação de um aspecto da realidade
econômica, observam-se, classificam-se e descrevem-se as categorias dessa
mesma realidade que sejam pertinentes à investigação pretendida. O
reconhecimento envolve, assim, a ampla observação do mundo real, a partir da
qual são selecionados fatos, dados e relações de comportamento que sirvam para
sua compreensão ou interpretação.
 A indução – método de raciocínio que consiste em chegar a conclusões de
validade geral a partir de conhecimentos particulares, tomando-se a observação
dos fatos do mundo empírico como base para generalizações posteriores.
 A dedução – método de raciocínio que consiste em ir do geral ao particular, dos
princípios ou premissas aos fatos.
O emprego de um ou de outro método de investigação, para a construção
sistematizada da economia, depende da natureza dos fatos econômicos com que se está
lidando. O método indutivo presta-se, mais propriamente, à investigação de aspectos da
realidade econômica passíveis de mensurações mais precisas. O dedutivo, por sua vez, é
adotado para teorizar situações sujeitas a tal número de influências entrelaçadas que se
torna difícil separar elementos relevantes para observação, ordenamentos e interpretações
derivados de levantamentos estatísticos.
1.4. Compartimentos da economia
Os conceitos de senso comum, ciência e ideologia, as metodologias básicas de
construção da economia e as vinculações entre fundamentos teóricos e pressupostos
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ideológicos são, em conjunto, essenciais para a compreensão dos conteúdos e dos
significados dos principais compartimentos da economia.
A primeira e mais importante diferenciação é entre as expressões economia positiva
e economia normativa.
1.4.1. Análise positiva versus análise normativa
Suponha que duas pessoas estejam debatendo sobre a legislação salarial.
Poderíamos ouvir afirmações como estas:
Júlia: A legislação salarial causa desemprego.
Norma: O governo deveria aumentar o salário mínimo.
Por enquanto, sem se importar se você concorda ou não com essas frases, observe
que Júlia e Norma diferem quanto ao que estão tentando fazer. Júlia fala como uma
cientista: faz uma afirmação a respeito de como o mundo funciona. Norma fala como um
formulador de políticas: ela faz uma declaração a respeito de como gostaria de mudar o
mundo.
As declarações a respeito do mundo em geral são de dois tipos. Uma, como o de
Júlia, é positivo. Declarações positivas são descritivas. Fazem afirmações a respeito de
como o mundo é. Um segundo tipo de declaração, como o de Norma, é normativo.
Declarações normativas são prescritivas. Elas tratam de como o mundo deveria ser.
Quanto à análise econômica, propriamente dita, a análise econômica positiva tem
por objetivo maior a compreensão e previsão dos fenômenos econômicos do mundo real,
sem que haja qualquer intenção de julgar essa realidade, ou de alterar o curso dos
acontecimentos. Já a análise econômica normativa preocupa-se em compreender e prever a
realidade, tendo por meta atingir determinados objetivos. Para tanto, utiliza-se de
formulação de políticas econômicas para intervir no mundo real.
Resumo: a economia positiva trata a realidade como ela é. A economia
normativa considera mudanças nessa mesma realidade, propondo como ela deve ser.
Exemplificando, a pergunta quais são as medidas que reduzem o
desemprego e quais as que evitam a inflação é de natureza positiva. É normativa
a proposição devemos dar mais importância ao desemprego do que à
inflação.
Obviamente, afirmações positivas e normativas podem estar inter-relacionadas.
Nossas visões positivas acerca de como o mundo funciona afetam nossas visões normativas
sobre que políticas seriam desejáveis. A afirmação de Júlia de que a legislação salarial
causa desemprego, se verdadeira, nos levaria a rejeitar a conclusão de Norma de que o
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governo deveria aumentar o salário mínimo. Contudo, nossas conclusões normativas não
decorrem apenas da análise positiva. Pelo contrário, elas exigem tanto análise positiva
quanto juízos de valor.
Podemos utilizar a lei do salário mínimo para comparar as análises positiva e
normativa. Segundo esta lei, é ilegal um empregador contratar um trabalhador por menos
de um salário. Sem a lei do salário mínimo, algumas empresas e alguns trabalhadores
concordariam voluntariamente com salários menores. Devido à lei do salário mínimo,
alguns trabalhadores têm dificuldade de encontrar emprego, e algumas empresas acabam
pagando mais pela mão de obra do que pagariam caso a lei não existisse. A análise positiva
da lei do salário mínimo utiliza um modelo econômico para estimar como muitos
trabalhadores perderam seus empregos por causa da lei, qual foi seu impacto sobre os
custos e lucros dos negócios, e os ganhos para os trabalhadores que recebem o salário
mínimo. Depois que os economistas tiverem concluído esta análise positiva, decidir se a lei
do salário mínimo é uma boa ideia ou uma má ideia será uma análise normativa. Os
defensores da lei acreditam que as perdas sofridas pelos empregadores e pelos
trabalhadores que estão desempregados por consequência dela mais do que compensam os
ganhos obtidos pelos trabalhadores que recebem salários mais altos do que receberiam caso
a lei não existisse. Os opositores acreditam que as perdas são maiores do que os ganhos. A
avaliação realizada por qualquer indivíduo dependeria, em parte, de seus valores e de suas
visões políticas. A análise positiva fornecida por um economista desempenharia um papel
na decisão, mas não poderia, por si só, decidir a questão a favor de um lado ou de outro.
1.4.2. Micro e macroeconomia
A economia é estudada em vários níveis. Podemos estudar as decisões de famílias e
empresas tomadas individualmente. Ou podemos estudar a interação de famílias e empresas
em mercados de produtos e serviços específicos. Ou podemos estudar o funcionamento da
economia como um todo, que é apenas o somatório das atividades dos tomadores de
decisões em todos esses mercados.
O desdobramento dos diferentes segmentos da economia fundamenta-se na divisão
usual entre microeconomia e macroeconomia.
Microeconomia é o estudo de como as famílias e as empresas fazem escolhas,
como elas interagem nos mercados e como o governo tenta influenciar as escolhas feitas
por elas. As questões microeconômicas incluem explicar como os consumidores reagem a
variações nos preços dos produtos e como as empresas decidem que preços cobrar. A
microeconomia também envolve questões relacionadas a políticas públicas, como analisar a
maneira mais eficiente de reduzir o fumo entre adolescentes, analisar os custos e benefícios
de aprovar a venda de um novo medicamento, e analisar a maneira mais eficiente de reduzir
a poluição do ar.
A macroeconomia, pelo contrário, é o estudo da economia como um todo,
incluindo temas como a inflação, o desemprego e o crescimento econômico. As questões
macroeconômicas incluem explicar por que a economia enfrenta períodos de recessão e
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desemprego crescente e por que, no longo prazo, algumas economias crescem muito mais
rapidamente do que outras. A macroeconomia também envolve questões relacionadas com
políticas públicas, como analisar se a intervenção do governo pode ou não reduzir a
gravidade das recessões.
1.4.3. Política Econômica
As proposições de política econômica enquadram-se no campo da economia
normativa. Consequentemente, além de se alicerçarem nos desenvolvimentos da teoria
econômica (micro e macro), traduzem concepção de ordenamento da vida econômica
derivadas de posições filosóficas e político-ideológicas, bem como de juízos de valor sobre
como e em que direções devem ser canalizadas os esforços econômicos da sociedade.
A formulação e a execução da política econômica envolvem dois procedimentos
interdependentes:
 A determinação dos principais objetivos (ou fins) que se pretendem alcançar,
consistentes com outros fins políticos e sociais.
 A escolha dos instrumentos (ou meios) que serão manejados para a consecução
dos objetivos determinados.
A política econômica atende a três objetivos básicos: o crescimento, a estabilidade e
a equitatividade.
 Crescimento econômico, envolvendo:
1. A melhoria ou expansão das disponibilidades de recursos para a expansão
econômica:
a) A adequação do tamanho e da estrutura da população
b) A modernização e a ampliação da capacidade instalada de produção
c) A exploração das reservas naturais
2. A implantação de infraestrutura adequada, que dê suporte à eficiente utilização
dos recursos econômicos disponíveis.
3. Adequação da capacidade de financiamento para as necessidades de
investimento.
 Estabilidade econômica, envolvendo:
1. A estabilidade geral do processo econômico, garantindo normalidade
conjuntural e sustentação dos níveis de emprego.
2. A estabilidade do nível geral de preços.
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3. O equilíbrio nas transações econômicas com o exterior, envolvendo o equilíbrio
no balanço internacional de pagamentos.
 Equitatividade, envolvendo:
1. Uma distribuição eqüitativa da renda e da riqueza.
2. A redução dos bolsões de pobreza.
3. A redução do contingente dos excluídos.
Para a consecução dos objetivos, a política econômica conta com um elenco de
instrumentos de ação:
 Instrumentos fiscais
 Instrumentos monetários
 Instrumentos cambiais
 Intervenções diretas
1.5. Os recursos econômicos
Os recursos econômicos – também denominados recursos produtivos ou fatores de
produção – são elementos utilizados no processo de fabricação dos mais variados tipos de
mercadorias as quais, por sua vez, serão utilizadas para satisfazer necessidades.
Tradicionalmente, são considerados fatores de produção a terra (terras cultiváveis,
florestas, minas), o homem (trabalho) e o capital (máquinas, equipamentos, instalações,
matérias-primas). Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização
empresarial e o conjunto ciência/técnica (pesquisa).
De modo geral, os fatores de produção são limitados e, por isso, eles se combinam
de forma diferente conforme o local e a situação histórica. Por exemplo, o emprego de
máquinas na agricultura moderna diminui o peso específico do trabalho e mesmo da terra
como fatores de produção, enquanto aumenta o peso do capital; já na agricultura escravista
ou extensiva, o peso maior encontra-se na terra e no trabalho, pois o emprego de
instrumentos de produção (máquinas) e adubos é significativamente inferior ao dos dois
primeiros fatores. Do mesmo modo, no período manufatureiro, a ênfase maior estava no
trabalho, pois os meios de produção empregados eram ainda artesanais, ao contrário do que
ocorre com o uso de tecnologia moderna, que minimiza o papel do trabalho no processo
produtivo e enfatiza o do capital. A forma como estão distribuídos os fatores de produção
tem particular importância na teoria dos preços dos fatores e na teoria dos custos de
produção, sendo, portanto fundamental na produtividade e rentabilidade da empresa.
Os recursos de produção podem ser classificados em cinco grandes grupos: terra,
trabalho, capital e capacidade empresarial, e capacidade tecnológica.
13
1.5.1. Terra (ou Recursos Naturais)
É o nome dado pelos economistas para designar os recursos naturais, renováveis ou
não, existentes na natureza, tais como florestas, terras para agricultura e a produção animal,
recursos minerais, recursos hídricos etc. O fator terra, em concepção abrangente, engloba
todos os recursos e condições existentes na natureza.
Em seu significado econômico, este recurso aproveitado pelo homem em seus
estados naturais ou então transformados, encontra-se presente em todas as atividades de
produção. A utilidade dos recursos naturais irá variar em função de fatores como facilidade
de extração, refino e transporte.
1.5.2. Trabalho
É o nome dado a todo esforço humano, físico ou mental, despendido na produção de
bens e serviços. Assim, constitui trabalho no sentido econômico o serviço prestado por um
médico, o trabalho de um operário empregado na construção civil, a supervisão de um
gerente de banco, o trabalho de um agricultor no campo.
1.5.3. Capital (ou Bens de Capital)
O fator capital constitui-se sempre das diferentes categorias de riqueza acumulada,
empregadas na geração de novas riquezas. Ou dito de outra forma: é o conjunto de bens
fabricados pelo homem e que não se destinam à satisfação das necessidades através do
consumo, mas que são utilizados no processo de produção de outros bens.
O capital inclui os edifícios, máquinas, equipamentos, instrumentos e ferramentas.
Exemplos de capital são matérias-primas, computadores, usinas, estradas de ferro,
instalações fabris, mobiliários de escritórios e todos os tipos de equipamentos utilizados na
fabricação de bens e serviços.
Em economia, o termo capital significa capital físico, isto é, máquinas e edifícios, e
não capital financeiro. Uma carteira de ações não constitui um recurso produtor de bens e
serviços, e não é capital no sentido econômico. De forma similar, ao falarmos de
investimento em economia, falamos de investimento real, isto é, da acumulação de
máquinas e edifícios e não da compra de bens financeiros. Quando, por exemplo, se realiza
a compra de ações já emitidas, não acontece um investimento real, pois ocorre somente
uma mudança de propriedade das ditas ações. Não haverá aumento de riqueza na sociedade
se esses direitos de papel aumentar sem que ocorra aumento correspondente de edifícios,
equipamentos, estoques etc.
1.5.4. Capacidade empresarial
Alguns economistas consideram a capacidade empresarial como sendo também um
fator de produção. A descoberta e a exploração de recursos naturais, a mobilização da
população em idade de produzir, a escolha dos bens de capital, a definição dos padrões
tecnológicos que serão empregados – enfim, a mobilização, a aglutinação e a combinação
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dos fatores de produção pressupõem a existência de determinada capacidade de
empreendimento. É através dela que os recursos disponíveis são reunidos, organizados e
acionados para o exercício de atividades produtivas.
1.5.5. Capacidade tecnológica
É constituída pelo conjunto de conhecimentos e habilidades que dão sustentação ao
processo de produção, envolvendo desde os conhecimentos acumulados sobre as fontes de
energia empregados, passando pelas formas de extração de reservas naturais, pelo seu
processamento, transformação e reciclagem, até chegar à configuração e ao desempenho
dos produtos finais resultantes. Trata-se, assim, de um fator de produção que envolve todo
o processo produtivo, em todas as suas etapas.
1.6. Os agentes econômicos
Há três diferentes grupos de agentes econômicos que interagem, participando direta
ou indiretamente de todas as transações que realizam dentro de determinado sistema
econômico:
 As unidades familiares
 As empresas
 O governo
1.6.1. As unidades familiares
O conceito econômico de unidades familiares engloba todos os tipos de unidades
domésticas. Sua qualificação econômica resulta de que essas unidades possuem e fornecem
os recursos de produção, apropriam-se de diferentes categorias de rendas e decidem como,
quando, onde e em que as rendas recebidas serão despendidas. As capacidades de escolha
quanto à gestão de seus orçamentos (fontes de receita e destino dos dispêndios) constituem
um dos mais importantes atributos das unidades familiares. O desempenho do sistema
econômico como um todo e o de mercados específicos (em especial os de bens de
consumo) são fortemente influenciados pelas decisões independentes de milhões de
unidades familiares.
1.6.2. As empresas
São os agentes econômicos para os quais convergem os recursos de produção
disponíveis. São as unidades que os empregam e combinam para a geração dos bens e
serviços que atenderão às necessidades de consumo e de acumulação da sociedade. Neste
sentido, empresas e unidades de produção são expressões sinônimas, do ponto de vista da
teoria econômica.
15
1.6.3. O Governo
Visto como agente econômico engloba os órgãos federais, as administrações
estaduais e municipais. Enfim, a administração pública direta e suas autarquias que
fornecem serviços de uso coletivo, de que são exemplos típicos a defesa, a segurança, a
administração da justiça e os programas públicos de saneamento básico e saúde,
urbanização, educação e cultura.
1.6.4. Setores econômicos
Na economia, os diversos papéis que desempenham os agentes econômicos –
unidades familiares, as empresas e o setor público – podem ser agrupados em três grandes
setores:
 O setor primário abrange as atividades que se realizam próximas às bases dos
recursos naturais, isto é, as atividades agrícolas, pesqueiras, pecuárias e
extrativas.
 O setor secundário inclui as atividades industriais, mediante as quais são
transformados os bens.
 O setor terciário ou de serviços reúne as atividades direcionadas a satisfazer
necessidades de serviços produtivos que não se transformam em algo material.
1.6.5. Tipos de bens e serviços econômicos
De forma geral, bens e serviços são produtos do trabalho humano que atendem a
necessidades humanas. Porém, o primeiro trata de produtos materiais (físicos) e, o segundo,
de produtos abstratos que envolvem a oferta de ações especificas realizadas geralmente por
outros seres humanos que dominam a técnica para realizá-las.
Os bens são classificados em bens livres e bens econômicos.
Os bens livres são aqueles que existem em quantidade ilimitada e podem ser
obtidos com pouco ou nenhum esforço humano. Nessa categoria está a luz solar, o ar, o mar
etc., que são bens porque satisfazem necessidades, mas cuja utilização não implica em
relações de ordem econômica. A principal característica dos bens livres é a de que não
possuem preço.
Os bens econômicos, ao contrário, são relativamente escassos e supõem a
ocorrência de esforço humano na sua obtenção. Tais bens apresentam como característica
básica o fato de terem preço.
Existem vários tipos de bens econômicos, podendo-se distingui-los por sua
natureza, por sua função na produção, por suas relações com outros bens, por suas
16
peculiaridades no que se refere à comercialização etc. Entre as principais distinções estão:
1) os bens de consumo que são aqueles diretamente usados para a satisfação das
necessidades humanas. Os bens de consumo podem ser: bens de consumo duráveis (como
carros, móveis, eletrodomésticos), e bens de consumo não duráveis (tais como gasolina,
alimentos, cigarro); 2) bens de capital: são bens de produção, que permitem produzir
outros bens, por exemplo: equipamentos, computadores, edifícios, instalações etc.
Deve ser dito que tanto os bens de consumo quanto os bens de capital são
classificados como: 1) bens finais: são bens acabados, pois já passaram por todas as etapas
de transformação possíveis; 2) bens intermediários: são bens que ainda estão inacabados,
que precisam ser transformados para atingir a sua finalidade principal. Exemplo: o aço, o
vidro e a borracha usados na produção de carros.
Os bens podem ser classificados, ainda, em: 1) bens públicos: são bens não
exclusivos e não disputáveis. Referem-se ao conjunto de bens fornecidos pelo setor
público: transporte, segurança e justiça. 2) bens privados: são bens exclusivos e disputáveis.
São produzidos e possuídos privadamente: TV, carro, computador etc.
Devemos considerar, no entanto, que até mesmo o ar que respiramos vai, pouco a
pouco, se transformando em bem econômico. O emprego de recursos para a despoluição do
ar ou para evitar que a poluição ocorra está transformando o ar num bem econômico como
outro qualquer, ou seja, um bem cuja existência exige o emprego de recursos.
Serviços não têm existência física: um ônibus é físico (portanto, é um bem), mas o
transporte que ele realiza (deslocamento de pessoas entre locais distintos) não é algo físico,
não pode ser tocado, sentido ou visto em termos de forma ou cor. Um corte de cabelo
utiliza bens físicos – tesoura, aparelho elétrico – mas não é, em si mesmo, físico. Vemos
seu resultado na pessoa, o barbeiro/cabeleireiro, agindo, mas o corte em si mesmo não
existe fisicamente. Esta aula utiliza elementos físicos – e você a está lendo em papel ou no
computador – mas a aula em si, a transmissão do conhecimento, não é física. E um dos
elementos desta aula é a energia elétrica transmitida desde uma usina a centenas ou
milhares de km de distância: você a usa (como iluminação para sua leitura em papel, ou
como fonte de energia para seu computador), mas não a vê.
Outra importante diferença: bens são primeiro produzidos e depois consumidos. Há
uma separação no tempo entre esses dois momentos. Ela pode ser grande ou pequena (anos,
décadas ou minutos) – mas sempre há distinção entre a produção e o consumo. Já os
serviços são consumidos apenas durante o período em que estão sendo prestados. Se o
motorista parar para um cochilo, o serviço de transporte se interrompe imediatamente. O
corte de cabelo acaba quando o barbeiro cessa seu trabalho. A aula termina assim que o
professor deixa de transmitir os conhecimentos pretendidos. Se o operador da usina
hidroelétrica interromper sua atividade, imediatamente você ficará sem energia e terá que
parar sua aula no computador ou sua leitura (se a luz do sol for insuficiente).
17
1.7. A escassez de recursos e as ilimitáveis necessidades
O conflito entre recursos limitados e necessidades ilimitáveis é a base da conduta
econômica do homem e do próprio desenvolvimento da economia como ramo do
conhecimento.
Para atuar sobre a natureza e extrair dela os suprimentos de que necessitam, as
sociedades economicamente organizadas, mesmo as que registraram notáveis progressos
materiais, defrontaram sempre com a limitação de seus recursos produtivos. O suprimento
de recursos sempre foi, e, provavelmente, continuará sendo limitado e finito.
A escassez é o problema econômico central de qualquer sociedade. Não houvesse
escassez não haveria necessidade de se estudar Economia.
Mas, por que existe a escassez?
A escassez existe porque as necessidades humanas a serem satisfeitas através do
consumo dos mais diversos tipos de bens e serviços são ilimitadas, ao passo que os recursos
produtivos à disposição da sociedade, e que são utilizados na produção dos mais diversos
tipos de produtos são insuficientes para se produzir o volume de bens necessários para
satisfazer as necessidades de todas as pessoas.
De acordo com as teorias econômicas, o homem pode produzir o suficiente de
qualquer bem econômico para satisfazer completamente determinada necessidade, mas
jamais poderá produzir o suficiente de todos os bens para atender simultaneamente a todas
as necessidades. De acordo com essa definição, as ciências econômicas serviriam
exatamente para gerir a escassez.
Da dura realidade da escassez decorre a necessidade da escolha. Já que não se pode
produzir tudo o que as pessoas desejam, devem ser criados mecanismos que de alguma
forma auxiliem as sociedades a decidir quais bens serão produzidos e quais necessidades
serão atendidas.
1.7.1. As ilimitáveis necessidades
Em contraposição à limitação de recursos, as necessidades3
e as aspirações sociais,
por bens e serviços públicos e privados, parecem ser ilimitáveis. Não só pela crescente
diversificação dos produtos que as modernas economias são capazes de levar aos mercados,
como também pelos cada vez mais sofisticados padrões com que se apresentam e pelos
níveis de desempenho progressivamente melhores. Em todas as sociedades modernas, as
famílias demandam mais e melhores produtos. As empresas exigem equipes de mais alta
sofisticação, mais ágeis e mais produtivas. E os governos se veem às voltas com pressões
ampliadas, exercidas pelos dois outros agentes econômicos, por mais infraestrutura
econômica e social – e de melhores e mais competitivos padrões. E também mais e
melhores bens e serviços públicos.
3
Entende-se por necessidade humana a sensação da falta de alguma coisa unida ao desejo de satisfazê-la.
18
Obviamente, as escalas de necessidades variam em função do estágio de
desenvolvimento das sociedades e das pessoas. A escala teórica da hierarquia de
necessidades de Maslow estabelece que as necessidades individuais básicas sejam de
natureza fisiológica. Depois vêm outras, que vão da segurança a busca de auto realização.
Quando buscam satisfazer suas necessidades, as pessoas procuram, normalmente,
fixar suas preferências. Assim, os primeiros bens desejados são os que satisfazem as
necessidades básicas ou primárias, como a alimentação, o vestuário e a saúde. Satisfeitas as
necessidades primárias, as pessoas passam a satisfazer outras mais refinadas, como o
turismo, ou buscam melhor qualidade dos bens que satisfazem suas necessidades primárias,
como uma habitação melhor, roupas de determinadas marcas etc. As pessoas poderão
desejar também outras coisas pessoais e imateriais, e que são igualmente importantes em
matéria de qualidade de vida, tais como: sabedoria, autoconfiança, prestígio, paz, liberdade,
amor.
1.8. Problemas econômicos básicos
Já sabemos que vivemos em um mundo de escassez. Consequentemente, todas as
sociedades enfrentam o problema econômico de contar com uma quantidade limitada de
recursos econômicos – como trabalhadores, máquinas e matérias-primas – e, dessa maneira,
só poder produzir uma quantidade limitada de bens e serviços.
As sociedades organizam suas economias de duas maneiras principais para
responder as três perguntas o que, como e para quem produzir. Uma sociedade pode
ter uma economia centralmente planejada, em que o governo decide como os recursos
econômicos serão alocados. Ou uma sociedade pode ter uma economia de mercado, em que
são as decisões das famílias e das empresas que interagem em mercados que alocam os
recursos econômicos. O governo também desempenha um papel significativo na alocação
dos recursos.
Hoje, apenas alguns pequenos países, como Cuba e Coréia do Norte, ainda têm
economias centralmente planejadas em sua totalidade.
Em uma economia de mercado, as empresas têm que produzir bens e serviços que
atendam aos anseios dos consumidores. Neste sentido, são os consumidores que, em última
análise, decidem que bens e serviços serão produzidos. Como as empresas em uma
economia de mercado competem entre si para oferecer os produtos de mais alta qualidade
pelo menor preço, são pressionadas a utilizar os métodos de produção com os menores
custos.
Em uma economia de mercado, a ação conjunto de indivíduos e empresas permite
que milhares de mercadorias sejam produzidas de maneira espontânea, sem que haja uma
coordenação central das atividades econômicas. Na verdade, existe um mecanismo de
preços automático e inconsciente que trabalha, garantindo o funcionamento do sistema
econômico, dando a ele certa ordenação, de maneira tal que tudo é realizado sem coação ou
direção central de qualquer organismo consciente.
19
Todos os bens econômicos têm seu preço. Em um mercado livre, caracterizado pela
presença de um grande número de compradores e vendedores, os preços refletem as
quantidades que os vendedores desejam oferecer e as quantidades que os compradores
desejam comprar de cada bem.
Em uma economia complexa e interdependente, as pessoas não conseguem dizer
diretamente aos produtores o que desejam consumir. O mecanismo de mercado fornece,
através dos preços, uma forma de comunicação indireta entre consumidores e produtores,
possibilitando uma adaptação da produção às necessidades de consumo. Possibilita, ao
mesmo tempo, uma adaptação do consumo à escassez relativa dos diferentes tipos de bens e
serviços.
Qualquer sociedade deve resolver de um modo ou de outro, três problemas
econômicos fundamentais:
 Que bens e serviços produzir e em que quantidade?
Em um sistema econômico baseado nas ações apenas das famílias e das empresas,
as próprias unidades familiares determinam o valor de cada bem ou serviço através do
mercado. Quanto mais as pessoas desejarem um produto, atribuirão a ele um valor cada vez
maior. Como o valor de cada bem é medido pelo seu preço, quanto maior for a disposição
das pessoas em apoiar seus desejos com dinheiro, mais elevado deverá ser o preço desse
bem.
Assim, a maneira pela qual as unidades familiares gastam a sua renda entre os
diversos bens e serviços estabelece um sistema de avaliação entre os mesmos, ou seja,
fornece uma estrutura de preços dentro do sistema econômico que possibilita às empresas,
que perseguem o lucro, produzir aquilo que as pessoas desejam.
Em resumo: os consumidores revelam suas preferências nos mercados ao comprar
algumas coisas e não outras. As preferências dos consumidores condicionam os produtos e
assim se decide o que se deve produzir.
 Como produzir tais bens e serviços?
A concorrência entre diferentes produtores em busca de lucros decide como se
devem produzir os bens. A concorrência impulsiona as empresas a buscar combinações de
fatores que as permitam produzirem o bem com um custo mínimo. Deve-se escolher o
método de produção mais adequado, tanto do ponto de vista do custo como do rendimento,
pois o único caminho para fazer frente aos preços concorrentes será reduzir os custos e
adotar métodos cada vez mais eficientes.
 Para quem produzir, ou seja, quem consumirá os bens e serviços
produzidos?
20
Como vai se distribuir o total da produção nacional entre os diferentes indivíduos e
famílias.
A renda de cada família irá depender da quantidade dos diferentes recursos
produtivos que ela pode oferecer no mercado de fatores e do preço que as empresas estão
dispostas a pagar pela utilização dos mesmos.
A quantidade de fatores de produção pertencentes a cada unidade familiar
juntamente com o preço pago pela utilização dos mesmos irá determinar a distribuição de
renda nesse tipo de economia. Uma vez que a quantidade de bens e serviços apropriados
por cada família está limitada por seus rendimentos, tanto maior será a participação de cada
unidade familiar na determinação de o que produzir quanto maior for sua renda.
As economias de mercado respondem à pergunta “quem recebe os bens e serviços
produzidos?” com a resposta “aqueles que estiverem mais interessados e os que mais
puderem comprá-los”.
1.9. Modelos econômicos
A economia é constituída de milhões de pessoas envolvidas em muitas atividades –
compra, venda, trabalho, locação, produção e assim por diante. Para entender como
funciona a economia precisamos encontrar alguma forma de simplificar o quadro de todas
essas atividades. Em outras palavras, precisamos de um modelo4
que explique, em termos
gerais, como se organiza a economia.
Os economistas utilizam modelos para analisar problemas do mundo real. Os
modelos econômicos são versões simplificadas da realidade. Os economistas não são os
únicos a utilizar modelos: um engenheiro pode utilizar um modelo computacional de uma
ponte para auxiliá-lo a testar se ela suportará ventos fortes, um biólogo pode utilizar um
modelo físico de um ácido nucléico para melhor compreender suas propriedades. Um dos
propósitos dos modelos econômicos é tornar as ideias econômicas suficientemente
explícitas e concretas de modo que os indivíduos, as empresas ou o governo possam utilizá-
los como base para a tomada de decisões.
Os modelos econômicos omitem muitos detalhes para permitir uma visão do que é
realmente importante, ou seja, os modelos do economista não incluem todos os aspectos da
economia. Com isso, os economistas afastam muitos dos pormenores da economia que são
irrelevantes – simplificam a realidade para melhorar sua compreensão.
1.9.1. Fluxo circular
O modelo do fluxo circular da renda oferece uma forma simples de organizar todas
as transações econômicas que ocorrem em torno das famílias e das empresas na economia.
Um modelo de fluxo circular da renda mais complexo e realístico incluiria, por exemplo, o
4
Um modelo é a representação simplificada da realidade ou das principais características de uma teoria.
21
governo e o comércio internacional. Contudo, não são cruciais para um entendimento
básico da forma de organização da economia. Em função de sua simplicidade é útil ter em
mente o modelo do fluxo circular da renda quando se quer pensar sobre a forma como as
peças da economia se encaixam.
Neste modelo, a economia compreende dois tipos de tomadores de decisões –
famílias e empresas. As empresas produzem bens e serviços usando vários insumos, tais
como trabalho, terra e capital (prédios e máquinas). As famílias são as proprietárias dos
fatores de produção e consomem todos os bens e serviços produzidos pelas empresas.
Famílias e empresas interagem em dois tipos mercados5
. Nos mercados de bens
e serviços as famílias são compradoras e as empresas, vendedoras. Em outras palavras, as
famílias compram os bens e serviços produzidos pelas empresas. Nos mercados de
fatores de produção, as famílias são vendedoras e as empresas, compradoras. Nestes
mercados, as famílias oferecem às empresas os insumos necessários à produção de bens e
serviços.
No circuito interno do modelo, as empresas usam os fatores de produção para
produzir bens e serviços que, por sua vez, são vendidos às famílias nos mercados de bens e
serviços. Portanto, os fatores de produção fluem das famílias para as empresas, e os bens e
serviços fluem das empresas para as famílias.
O circuito externo do modelo mostra o fluxo de moeda. As famílias gastam reais
para comprar bens e serviços oferecidos pelas empresas. As empresas usam parte da receita
de suas vendas para pagar os fatores de produção, como, por exemplo, salários aos
funcionários. O que sobra é lucro dos donos das empresas, que por sua vez são membros
das famílias. Portanto, a despesa com bens e serviços flui das famílias para as empresas e a
renda, em forma de salários, de aluguéis e de lucros, flui das empresas para as famílias.
5
Local em que compradores e vendedores estabelecem contato e realizam transações. Concretamente, ele é
formado pelo conjunto de instituições em que são realizadas transações comerciais (feiras, lojas, bolsas de
valores ou de mercadorias etc.).
22
23
1.9.2. Fronteira das possibilidades de produção
Como vimos anteriormente, dado que os recursos são escassos, a produção de bens
e serviços não será ilimitada. Deste modo as pessoas devem escolher quais os bens e
serviços a serem produzidos e de quais deverão abrir mão do consumo. A necessidade e as
consequências destas escolhas podem ser visualizadas na demonstração das Curvas de
Possibilidade de Produção.
Uma Curva das Possibilidades de Produção demonstra todas as combinações de
produção de dois produtos, ou conjunto de produtos que uma economia tem condições de
produzir dados os seus recursos limitados. Cada ponto na curva representa a produção
máxima de cada produto. A curva representa a quantidade máxima de produção que se
pode ser produzida dos dois bens, esta é chamada de fronteira de produção.
Ao longo da curva, os pontos que a compõe, representam que a economia está
produzindo no seu nível máximo e está utilizando todos os recursos limitados que estão à
sua disposição. Os pontos à esquerda ou de dentro da curva não são desejáveis (mas que
podem ser atingidos), representam uma produção inferior à capacidade da economia. São
pontos que indicam uma combinação ineficiente, pois representam uma produção abaixo da
capacidade produtiva da economia. Quando uma economia está trabalhando neste ponto,
dissemos que as empresas (assim como a economia) estão trabalhando com capacidade
ociosa, pois não está utilizando ao máximo os recursos disponíveis.
Os pontos à direita (ou fora da curva), representam uma produção maior que a sua
capacidade de produção. Isto decorre do fato de que os recursos disponíveis estão em
volume inferior ao necessitado para aquela combinação. Uma forma de se chegar àquele
ponto (combinação) é recorrer a outros territórios, países ou mercados – através da
importação de fatores de produção, para conseguir os recursos necessários e expandir a
fronteira de produção, a outra é modificar a tecnologia de produção. Quando a fronteira de
produção expande-se (desloca-se para direita), temos uma demonstração gráfica do
crescimento econômico de um país ou território, pois cresce a produção – que faz crescer a
riqueza do país.
24
A fronteira de possibilidades de produção mostra as combinações
de produto – neste caso, de carros e computadores – que a
economia tem possibilidade de produzir.
A economia pode produzir qualquer combinação que se encontre na
fronteira ou dentro dela. Pontos além da fronteira não são viáveis
dados os recursos da economia.
25
1.9.3. Eficiência produtiva
A razão essencial da busca por eficiência6 produtiva decorre de que os recursos
são escassos, no sentido de que o suprimento de todos eles é finito ou limitado. Além disso,
o conceito econômico de escassez tem a ver com as ilimitáveis necessidades sociais. Estas
superam a dotação de recursos: os agentes buscam sempre ampliar seus níveis de
satisfação, através de maior suprimento e de maior variedade de bens e serviços. Mais
ainda: buscam produtos de qualidade cada vez mais apurada e de desempenho cada vez
mais avançado. Ao mesmo tempo, procuram aprimorar os recursos e empregá-los de tal
forma que se minimizem as taxas ocorrentes de ociosidade e desemprego e se maximizem
os retornos.
Neste sentido, a busca pela eficiência produtiva pressupõe, pelo menos, as
seguintes condições:
 Utilização de todos os recursos disponíveis, no sentido de que não se observe a
indesejável ocorrência de quaisquer formas de subemprego ou de desemprego.
Esta condição implica ausência de capacidade ociosa. Usualmente, é
conceituada como pelo emprego7 .
 Mobilização e combinação dos recursos disponíveis sob padrões ótimos de
desempenho e de organização do processo produtivo, no sentido de que não se
observe subaproveitamento do potencial máximo disponível.
1.9.4. Custo de oportunidade
Na vida somos forçados a escolher continuamente. Quando optamos por algo, temos
de renunciar a outras coisas. Como os recursos disponíveis são escassos, somente se pode
satisfazer uma necessidade se se deixa de satisfazer outra. Não há recursos materiais
suficientes, trabalho e nem capital para produzir tudo o que as pessoas desejam.
Esse problema é enfrentado pelos governos, famílias e empresas. Assim, por
exemplo, os governos têm de decidir entre construir mais colégios ou comprar mais carros
para a polícia. As famílias devem escolher entre comprar mais brinquedos para seus filhos
ou gastar seus recursos em uma nova lavadora. Do mesmo modo, as fábricas de brinquedos
devem decidir entre gastar mais recursos em publicidade ou investir para renovar a
maquinaria da fábrica.
O custo de oportunidade incorpora a noção de que, não importa o que façamos, há
sempre uma escolha. Desta forma, devemos sempre comparar uma coisa – ou decisão,
frente a sua alternativa, para comparar os custos e benefícios destas escolhas.
6
Refere-se à forma de realizar uma tarefa.
7
Significa o grau máximo de utilização dos recursos produtivos de uma economia.
26
Considere o exemplo de alguém que poderia receber um salário de R$80.000 por
ano trabalhando como gerente em uma empresa, mas, em vez disso, abre sua própria
empresa. Neste caso, o custo de oportunidade de seus serviços gerenciais para sua própria
empresa é de R$80.000, mesmo se ela não pagar explicitamente um salário a si mesma.

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Fundamentos a compreensao da economia-paulo ricardo casa nova

  • 1. 1 FUNDASUL – FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO CENTRO-SUL FACULDADE CAMAQUENSE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRATIVAS ECONOMIA I PROFESSOR PAULO RICARDO CASA NOVA
  • 2. 2 1. A COMPREENSÃO DA ECONOMIA 1.1. A economia como ciência social 1.2. O conceito de economia 1.3. A metodologia do conhecimento econômico 1.3.1. Senso comum 1.3.2. Construção da ciência 1.3.3. Ideologia e normas 1.3.4. Os métodos indutivo e dedutivo 1.4. Compartimentos da economia 1.4.1. Análise positiva versus análise normativa 1.4.2. Micro e macroeconomia 1.4.3. Política Econômica 1.5. Os recursos econômicos 1.5.1. Terra (ou Recursos Naturais) 1.5.2. Trabalho 1.5.3. Capital (ou Bens de Capital) 1.5.4. Capacidade empresarial 1.5.5. Capacidade tecnológica 1.6. Os agentes econômicos 1.6.1. As unidades familiares 1.6.2. As empresas 1.6.3. O Governo 1.6.4. Setores econômicos 1.6.5. Tipos de bens e serviços econômicos 1.7. A escassez de recursos e as ilimitáveis necessidades 1.7.1. As ilimitáveis necessidades 1.8. Problemas econômicos básicos 1.9. Modelos econômicos 1.9.1. Fluxo circular 1.9.2. Fronteira das possibilidades de produção 1.9.3. Eficiência produtiva 1.9.4. Custos de oportunidade
  • 3. 3 1. A COMPREENSÃO DA ECONOMIA 1.1. A economia como ciência social O estudo dos aspectos econômicos da vida faz parte de uma das mais abrangentes categorias do conhecimento humano, as ciências sociais1. As ciências sociais ocupam-se dos diferentes aspectos do comportamento humano. Podem ser também caracterizadas como ciências do comportamento ou, ainda, como ciências humanas. Compreendem áreas distintas, à medida que se possam diferenciar, por sua natureza, os diferentes aspectos da ação do homem com os quais cada uma delas se envolve. Como ciência social, decorrente da atividade do homem organizado em sociedade, a economia se relaciona com diversas outras ciências. As condições do meio social estão relacionadas com fatores geográficos, históricos, culturais e com as instituições sociais. Assim, a Economia mantém relações estreitas com a história, a sociologia, a psicologia, a política, o direito, a geografia e a demografia. E, por sua natureza teórica, relaciona-se com a lógica, a matemática e a filosofia. O início do estudo sistemático da Economia coincidiu com os grandes avanços da técnica e das ciências físicas e biológicas nos séculos XVIII e XIX. A construção do núcleo científico inicial da Economia começou a partir das chamadas concepções organicistas (biológicas) e mecanicistas (físicas). Segundo o grupo organicista, a Economia se comportaria como um órgão vivo. Daí utilizarem-se termos como órgãos, funções, circulação e fluxos na teoria econômica. Já para o grupo mecanicista, as leis da Economia se comportariam como determinadas leis da Física. Daí advém os termos estática, dinâmica, aceleração, velocidade, forças e outros. Com o passar do tempo, predominou uma concepção humanística, que coloca em plano superior os móveis psicológicos da atividade humana. Afinal, a Economia repousa sobre os atos humanos, e é por excelência uma ciência social. Apesar de ser uma ciência social, a Economia é limitada pelo meio físico, dado que os recursos são escassos, e se ocupa de quantidades físicas e das relações entre essas quantidades, como a que se estabelece entre a produção de bens e serviços e os fatores de produção utilizados no processo produtivo. Daí surge a necessidade da utilização da Matemática e da Estatística como ferramentas para estabelecer relações entre variáveis econômicas. A Matemática toma possível escrever de forma resumida importantes conceitos e relações de Economia e permite análises econômicas na forma de modelos analíticos, com poucas variáveis estratégicas, que resumem os aspectos essenciais da questão em estudo. 1 Conjunto de matérias que estudam o homem em relação com seu meio físico, cultural e social.
  • 4. 4 A ciência política trata das relações entre a nação e o Estado, das formas de governo e da condução dos negócios públicos. A sociologia ocupa-se das relações sociais e da organização estrutural da sociedade. A antropologia cultural volta-se para o estudo das origens e da evolução, da organização e das diferentes formas de expressão cultural do homem. A psicologia ocupa-se do comportamento do homem, de suas motivações, valores e estímulos. Ao direito cabe fixar, com a precisão ditada pelos usos, costumes e valores da sociedade, as normas que regularão os direitos e as obrigações individuais e sociais. E à economia, que, como as demais áreas, abrange apenas uma fração das ciências sociais, compete o estudo da ação econômica do homem, envolvendo essencialmente o processo de produção, a geração e a apropriação da renda, o dispêndio e a acumulação. À semelhança do que ocorre com os demais ramos das ciências sociais, não se pode considerar a economia como fechada em torno de si mesma. Pelas implicações da ação econômica sobre outros aspectos da vida humana, o estudo da economia implica a abertura de suas fronteiras às demais áreas das ciências humanas. Esta abertura se dá em dupla direção. De um lado, porque a economia busca alicerçar seus princípios, conceitos e modelos teóricos não apenas na sua própria coerência, consistência e aderência à realidade, mas ainda nos desenvolvimentos dos demais campos do conhecimento social. De outro lado, porque pode influir no questionamento dos princípios e das aquisições conceituais desses mesmos campos. E vai ainda além, abrindo suas fronteiras à filosofia e à ética; à história e às diferentes manifestações da religião, à tecnologia e aos variados ramos que atualmente se ocupam do estudo do meio ambiente. A autonomia de cada um dos ramos das ciências sociais não deve ser confundida com um total isolamento, pois todas as manifestações das modernas sociedades se encontram interligadas, apenas que a realidade deve ser observada sob diferentes óticas e investigada em termos não unilaterais. Cada ciência observa e analisa a realidade do aspecto material do seu objeto, segundo sua própria lógica formal. O fato, porém, é que as visões sobre o mesmo objeto acabam se inter-relacionando. Exemplo Na Índia, as vacas são animais sagrados e invadem os campos em grande número à procura de alimento. Enquanto um economista menos informado é capaz de considerar estas manadas como fonte principal de proteínas para uma alimentação adequada, um estudioso mais profundo tomará em consideração, ao analisar o desenvolvimento econômico da Índia, a psicologia dos costumes.
  • 5. 5 1.2. O conceito de economia Em termos etimológicos, a palavra economia vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei). Teríamos, então, a palavra oikonomia que significa a administração de uma unidade habitacional. A palavra economia, na Grécia Antiga, servia para indicar a administração da casa, do patrimônio particular, enquanto a administração da polis (cidade-estado) era indicada pela expressão economia política. Esta última expressão caiu em desuso e só voltou a ser empregada no princípio do século 17 pelo economista francês Antoine Montchrétien, que a introduziu em seu livro “Tratado de Economia Política” (1615). Até chegar ao Tratado de Montchrétien, as questões econômicas de maior relevância eram os sistemas de posse territorial, a servidão, a arrecadação de tributos, a organização das primeiras corporações, a concessão de mercados, o comércio inter-regional, a cunhagem e o emprego de moedas. E cada uma dessas questões era tratada sob os ângulos da política, da filosofia e do direito canônico. As dimensões da economia, enquanto ramo do conhecimento só se alargou com a maior complexidade assumida pelas questões econômicas, após o Renascimento, com o desenvolvimento nos novos Estados-nações mercantilistas – Espanha, Portugal, Inglaterra, França e Alemanha. Nesse período, os pensadores pós-renascentistas definiam a economia como ramo do conhecimento essencialmente voltado para a administração do Estado, sob o objetivo central de promover seu fortalecimento. Embora a questão dos problemas econômicos tenha sido objeto de preocupação de pensadores da Antiguidade clássica e da Idade Média, foi somente na era moderna que surgiu o estudo empírico e sistemático dos fenômenos econômicos de um ponto de vista científico. O marco inicial da etapa científica da Teoria Econômica coincidiu com os grandes avanços da técnica e das ciências físicas e biológicas, nos séculos 18 e 19. Nesse período da evolução do conhecimento humano, a Economia constitui seu núcleo científico, estabeleceu sua área de ação e delimitou suas fronteiras com outras ciências. A preocupação central já não era com o fortalecimento do Estado, mas com a riqueza das nações. Na segunda metade do século 19, a expressão economia política foi abandonada, sendo substituída apenas por economia. Desde então, é a denominação dominante nos meios acadêmicos, enquanto o termo economia política ficou restrito ao pensamento marxista.
  • 6. 6 A melhor definição de Economia foi dada pelo economista norte-americano Paul Samuelson: Economia é uma ciência social que estuda a administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos. A administração dos recursos da sociedade é importante porque os recursos são escassos. Escassez2 significa que a sociedade tem menos a oferecer do que aquilo que as pessoas desejam ter. Assim como uma família não pode dar a seus membros tudo o que estes desejam, a sociedade não pode dar a cada pessoa o padrão de vida mais alto ao qual ela aspira. Economia é o estudo da forma pela qual a sociedade administra seus recursos escassos. Os economistas estudam como as pessoas tomam decisões: o quanto trabalham, o que compram, quanto poupam e como investem suas poupanças. Os economistas também estudam como as pessoas interagem umas com as outras, Por exemplo, examinam como um grande número de compradores e vendedores de um bem determinam em conjunto o preço pelo qual o bem será vendido e a quantidade que será vendida. Por fim, os economistas analisam forças e tendências que afetam a economia como um todo, incluindo o crescimento da renda média e a taxa à qual os preços aumentam. 1.3. A metodologia de desenvolvimento do conhecimento econômico A dificuldade de delimitação entre senso comum, ciência e ideologia não se restringe, obviamente, à economia. Constata-se sua extensão praticamente a todos os outros campos do conhecimento humano. Por isso mesmo, é útil aprofundar esses conceitos, notadamente quanto a seu significado e atributos. A clara compreensão de cada um deles tem muito a ver com a construção do conhecimento científico em economia e com sua compartimentalização usual. 1.3.1. Senso comum O entendimento do homem sobre o mundo que o cerca, tanto no âmbito de suas relações com as forças da natureza, quanto no que diz respeito às diferentes manifestações de sua interação social, começa por um conjunto de conhecimentos acríticos, geralmente denominados pela expressão senso comum. À medida que o homem vai ampliando seu contato com a natureza e com seus pares, vai também acumulando novos conjuntos de habilidades e de práticas e, ao mesmo tempo, exercitando sua consciência, seu discernimento, seu tino e sua perícia. Por herança cultural, gerações que se sucedem ampliam, testam e submetem à provação experimental os conhecimentos acumulados que lhes foram transmitidos. Boa parte destes nada mais é do que um entendimento superficial acerca da coisa pretensamente conhecida e dominada. Outra parte resume-se à credulidade, em geral decorrente de tentativas primitivas e inacabadas de explicar o desconhecido. E 2 Natureza limitada dos recursos da sociedade.
  • 7. 7 outra parte não vai além da praticidade, sem, contudo, explicar por que as coisas acontecem ou por que determinados fenômenos se manifestam. A este sistema de conhecimento, a que podemos chamar senso comum, deve-se expressiva parcela do domínio inicial do homem sobre os mais variados campos de sua atuação. 1.3.2. Construção da ciência Partindo de sistemas de conhecimentos acríticos, o homem vai, progressivamente, à busca do conhecimento científico. Da informação à consciência, do entendimento à inteligência, das práticas aos ensaios experimentais, o senso comum vai dando lugar à ciência, com o suceder das gerações. Este novo conjunto de conhecimentos, sistematicamente elaborado e experimentado, traduziu, em etapas sucessivas, a passagem do senso comum à ciência, cabendo notar que, na construção do conhecimento científico, o homem busca pelo menos três relevantes critérios de cientificidade. Primeiro, a coerência, significando falta de contradições, argumentação estruturada, corpo não contraditório de enunciados, desdobramento do conhecimento de forma organizada, conclusões a partir de deduções lógicas. Segundo, a consistência, no sentido de resistência à argumentação contrária. E, terceiro, a objetividade, no sentido de reprodução da realidade como ela é, não como o observador gostaria que fosse. 1.3.3. Ideologia e normas Integrando-se ao estado do conhecimento humano e reproduzindo seu posicionamento em relação ao mundo que o cerca, surge e se cristaliza um terceiro corpo de idéias e de entendimentos, que chamamos ideologia. A distinção entre ciência e senso comum fundamenta-se, como vimos, em um conjunto de critérios geralmente aceitos. Ainda assim, esses dois compartimentos não se podem considerar estanques, entrelaçando- se como elos de uma mesma corrente. Da distinção entre ciência e ideologia também resultam elos entrelaçados, não obstante os critérios com que se define a ciência sejam bem diversos daqueles com que se identificam as ideologias. Estas se caracterizam pela justificação, pelo partidarismo e pela normatização. A ideologia surge da exigência de legitimação, comum às mais diferentes formas de ordenamento institucional. O campo em que gravitam as posturas ideológicas é diverso daqueles em que se acomodam o senso comum e a ciência. A ideologia expressa um conjunto de valores, crenças, convicções, prescrições e normas. Estas se desenvolvem a partir da necessidade que toda organização social tem de se legitimar. Ao contrário do senso comum e da ciência, as ideologias não buscam a neutralidade, a explicação simples e objetiva com que o homem procura compreender o mundo que o cerca. O caráter diferenciador da ideologia é a sua não neutralidade. O discurso ideológico é predominantemente partidário e significa posicionamentos políticos derivados de correntes filosóficas e de interesses de classe. Ocorre, porém, que a justificação ideológica encobre- se com o véu do argumento científico. Daí resulta os elos de encadeamento entre a ciência e a ideologia.
  • 8. 8 1.3.4. Os métodos indutivo e dedutivo Na construção da economia, como usualmente ocorre em outros ramos do conhecimento humano, o instrumental empregado assenta-se sobre bases metodológicas. A metodologia da elaboração científica, em sua estrutura fundamental, busca como primeiro passo, observar sistematicamente a realidade. Depois, elaborar modelos simplificados que a reproduzam, que identifiquem relações de causas e efeitos e que interpretem os mais variados eventos e seus desdobramentos. No processo de elaboração, basicamente, recorre-se a duas abordagens distintas, ainda que complementares: a indução e a dedução. Assim, em sua acepção mais simples, as bases sobre as quais se constrói o conhecimento científico constituem-se, preliminarmente, de processos descritivos que conduzam ao reconhecimento da realidade e, subseqüentemente, de duas abordagens metodológicas distintas, embora complementares, a indutiva e a dedutiva. Em síntese, essas três bases são:  O reconhecimento – consiste na observação sistematizada da realidade. Uma vez definido o campo específico de investigação de um aspecto da realidade econômica, observam-se, classificam-se e descrevem-se as categorias dessa mesma realidade que sejam pertinentes à investigação pretendida. O reconhecimento envolve, assim, a ampla observação do mundo real, a partir da qual são selecionados fatos, dados e relações de comportamento que sirvam para sua compreensão ou interpretação.  A indução – método de raciocínio que consiste em chegar a conclusões de validade geral a partir de conhecimentos particulares, tomando-se a observação dos fatos do mundo empírico como base para generalizações posteriores.  A dedução – método de raciocínio que consiste em ir do geral ao particular, dos princípios ou premissas aos fatos. O emprego de um ou de outro método de investigação, para a construção sistematizada da economia, depende da natureza dos fatos econômicos com que se está lidando. O método indutivo presta-se, mais propriamente, à investigação de aspectos da realidade econômica passíveis de mensurações mais precisas. O dedutivo, por sua vez, é adotado para teorizar situações sujeitas a tal número de influências entrelaçadas que se torna difícil separar elementos relevantes para observação, ordenamentos e interpretações derivados de levantamentos estatísticos. 1.4. Compartimentos da economia Os conceitos de senso comum, ciência e ideologia, as metodologias básicas de construção da economia e as vinculações entre fundamentos teóricos e pressupostos
  • 9. 9 ideológicos são, em conjunto, essenciais para a compreensão dos conteúdos e dos significados dos principais compartimentos da economia. A primeira e mais importante diferenciação é entre as expressões economia positiva e economia normativa. 1.4.1. Análise positiva versus análise normativa Suponha que duas pessoas estejam debatendo sobre a legislação salarial. Poderíamos ouvir afirmações como estas: Júlia: A legislação salarial causa desemprego. Norma: O governo deveria aumentar o salário mínimo. Por enquanto, sem se importar se você concorda ou não com essas frases, observe que Júlia e Norma diferem quanto ao que estão tentando fazer. Júlia fala como uma cientista: faz uma afirmação a respeito de como o mundo funciona. Norma fala como um formulador de políticas: ela faz uma declaração a respeito de como gostaria de mudar o mundo. As declarações a respeito do mundo em geral são de dois tipos. Uma, como o de Júlia, é positivo. Declarações positivas são descritivas. Fazem afirmações a respeito de como o mundo é. Um segundo tipo de declaração, como o de Norma, é normativo. Declarações normativas são prescritivas. Elas tratam de como o mundo deveria ser. Quanto à análise econômica, propriamente dita, a análise econômica positiva tem por objetivo maior a compreensão e previsão dos fenômenos econômicos do mundo real, sem que haja qualquer intenção de julgar essa realidade, ou de alterar o curso dos acontecimentos. Já a análise econômica normativa preocupa-se em compreender e prever a realidade, tendo por meta atingir determinados objetivos. Para tanto, utiliza-se de formulação de políticas econômicas para intervir no mundo real. Resumo: a economia positiva trata a realidade como ela é. A economia normativa considera mudanças nessa mesma realidade, propondo como ela deve ser. Exemplificando, a pergunta quais são as medidas que reduzem o desemprego e quais as que evitam a inflação é de natureza positiva. É normativa a proposição devemos dar mais importância ao desemprego do que à inflação. Obviamente, afirmações positivas e normativas podem estar inter-relacionadas. Nossas visões positivas acerca de como o mundo funciona afetam nossas visões normativas sobre que políticas seriam desejáveis. A afirmação de Júlia de que a legislação salarial causa desemprego, se verdadeira, nos levaria a rejeitar a conclusão de Norma de que o
  • 10. 10 governo deveria aumentar o salário mínimo. Contudo, nossas conclusões normativas não decorrem apenas da análise positiva. Pelo contrário, elas exigem tanto análise positiva quanto juízos de valor. Podemos utilizar a lei do salário mínimo para comparar as análises positiva e normativa. Segundo esta lei, é ilegal um empregador contratar um trabalhador por menos de um salário. Sem a lei do salário mínimo, algumas empresas e alguns trabalhadores concordariam voluntariamente com salários menores. Devido à lei do salário mínimo, alguns trabalhadores têm dificuldade de encontrar emprego, e algumas empresas acabam pagando mais pela mão de obra do que pagariam caso a lei não existisse. A análise positiva da lei do salário mínimo utiliza um modelo econômico para estimar como muitos trabalhadores perderam seus empregos por causa da lei, qual foi seu impacto sobre os custos e lucros dos negócios, e os ganhos para os trabalhadores que recebem o salário mínimo. Depois que os economistas tiverem concluído esta análise positiva, decidir se a lei do salário mínimo é uma boa ideia ou uma má ideia será uma análise normativa. Os defensores da lei acreditam que as perdas sofridas pelos empregadores e pelos trabalhadores que estão desempregados por consequência dela mais do que compensam os ganhos obtidos pelos trabalhadores que recebem salários mais altos do que receberiam caso a lei não existisse. Os opositores acreditam que as perdas são maiores do que os ganhos. A avaliação realizada por qualquer indivíduo dependeria, em parte, de seus valores e de suas visões políticas. A análise positiva fornecida por um economista desempenharia um papel na decisão, mas não poderia, por si só, decidir a questão a favor de um lado ou de outro. 1.4.2. Micro e macroeconomia A economia é estudada em vários níveis. Podemos estudar as decisões de famílias e empresas tomadas individualmente. Ou podemos estudar a interação de famílias e empresas em mercados de produtos e serviços específicos. Ou podemos estudar o funcionamento da economia como um todo, que é apenas o somatório das atividades dos tomadores de decisões em todos esses mercados. O desdobramento dos diferentes segmentos da economia fundamenta-se na divisão usual entre microeconomia e macroeconomia. Microeconomia é o estudo de como as famílias e as empresas fazem escolhas, como elas interagem nos mercados e como o governo tenta influenciar as escolhas feitas por elas. As questões microeconômicas incluem explicar como os consumidores reagem a variações nos preços dos produtos e como as empresas decidem que preços cobrar. A microeconomia também envolve questões relacionadas a políticas públicas, como analisar a maneira mais eficiente de reduzir o fumo entre adolescentes, analisar os custos e benefícios de aprovar a venda de um novo medicamento, e analisar a maneira mais eficiente de reduzir a poluição do ar. A macroeconomia, pelo contrário, é o estudo da economia como um todo, incluindo temas como a inflação, o desemprego e o crescimento econômico. As questões macroeconômicas incluem explicar por que a economia enfrenta períodos de recessão e
  • 11. 11 desemprego crescente e por que, no longo prazo, algumas economias crescem muito mais rapidamente do que outras. A macroeconomia também envolve questões relacionadas com políticas públicas, como analisar se a intervenção do governo pode ou não reduzir a gravidade das recessões. 1.4.3. Política Econômica As proposições de política econômica enquadram-se no campo da economia normativa. Consequentemente, além de se alicerçarem nos desenvolvimentos da teoria econômica (micro e macro), traduzem concepção de ordenamento da vida econômica derivadas de posições filosóficas e político-ideológicas, bem como de juízos de valor sobre como e em que direções devem ser canalizadas os esforços econômicos da sociedade. A formulação e a execução da política econômica envolvem dois procedimentos interdependentes:  A determinação dos principais objetivos (ou fins) que se pretendem alcançar, consistentes com outros fins políticos e sociais.  A escolha dos instrumentos (ou meios) que serão manejados para a consecução dos objetivos determinados. A política econômica atende a três objetivos básicos: o crescimento, a estabilidade e a equitatividade.  Crescimento econômico, envolvendo: 1. A melhoria ou expansão das disponibilidades de recursos para a expansão econômica: a) A adequação do tamanho e da estrutura da população b) A modernização e a ampliação da capacidade instalada de produção c) A exploração das reservas naturais 2. A implantação de infraestrutura adequada, que dê suporte à eficiente utilização dos recursos econômicos disponíveis. 3. Adequação da capacidade de financiamento para as necessidades de investimento.  Estabilidade econômica, envolvendo: 1. A estabilidade geral do processo econômico, garantindo normalidade conjuntural e sustentação dos níveis de emprego. 2. A estabilidade do nível geral de preços.
  • 12. 12 3. O equilíbrio nas transações econômicas com o exterior, envolvendo o equilíbrio no balanço internacional de pagamentos.  Equitatividade, envolvendo: 1. Uma distribuição eqüitativa da renda e da riqueza. 2. A redução dos bolsões de pobreza. 3. A redução do contingente dos excluídos. Para a consecução dos objetivos, a política econômica conta com um elenco de instrumentos de ação:  Instrumentos fiscais  Instrumentos monetários  Instrumentos cambiais  Intervenções diretas 1.5. Os recursos econômicos Os recursos econômicos – também denominados recursos produtivos ou fatores de produção – são elementos utilizados no processo de fabricação dos mais variados tipos de mercadorias as quais, por sua vez, serão utilizadas para satisfazer necessidades. Tradicionalmente, são considerados fatores de produção a terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho) e o capital (máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas). Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização empresarial e o conjunto ciência/técnica (pesquisa). De modo geral, os fatores de produção são limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o local e a situação histórica. Por exemplo, o emprego de máquinas na agricultura moderna diminui o peso específico do trabalho e mesmo da terra como fatores de produção, enquanto aumenta o peso do capital; já na agricultura escravista ou extensiva, o peso maior encontra-se na terra e no trabalho, pois o emprego de instrumentos de produção (máquinas) e adubos é significativamente inferior ao dos dois primeiros fatores. Do mesmo modo, no período manufatureiro, a ênfase maior estava no trabalho, pois os meios de produção empregados eram ainda artesanais, ao contrário do que ocorre com o uso de tecnologia moderna, que minimiza o papel do trabalho no processo produtivo e enfatiza o do capital. A forma como estão distribuídos os fatores de produção tem particular importância na teoria dos preços dos fatores e na teoria dos custos de produção, sendo, portanto fundamental na produtividade e rentabilidade da empresa. Os recursos de produção podem ser classificados em cinco grandes grupos: terra, trabalho, capital e capacidade empresarial, e capacidade tecnológica.
  • 13. 13 1.5.1. Terra (ou Recursos Naturais) É o nome dado pelos economistas para designar os recursos naturais, renováveis ou não, existentes na natureza, tais como florestas, terras para agricultura e a produção animal, recursos minerais, recursos hídricos etc. O fator terra, em concepção abrangente, engloba todos os recursos e condições existentes na natureza. Em seu significado econômico, este recurso aproveitado pelo homem em seus estados naturais ou então transformados, encontra-se presente em todas as atividades de produção. A utilidade dos recursos naturais irá variar em função de fatores como facilidade de extração, refino e transporte. 1.5.2. Trabalho É o nome dado a todo esforço humano, físico ou mental, despendido na produção de bens e serviços. Assim, constitui trabalho no sentido econômico o serviço prestado por um médico, o trabalho de um operário empregado na construção civil, a supervisão de um gerente de banco, o trabalho de um agricultor no campo. 1.5.3. Capital (ou Bens de Capital) O fator capital constitui-se sempre das diferentes categorias de riqueza acumulada, empregadas na geração de novas riquezas. Ou dito de outra forma: é o conjunto de bens fabricados pelo homem e que não se destinam à satisfação das necessidades através do consumo, mas que são utilizados no processo de produção de outros bens. O capital inclui os edifícios, máquinas, equipamentos, instrumentos e ferramentas. Exemplos de capital são matérias-primas, computadores, usinas, estradas de ferro, instalações fabris, mobiliários de escritórios e todos os tipos de equipamentos utilizados na fabricação de bens e serviços. Em economia, o termo capital significa capital físico, isto é, máquinas e edifícios, e não capital financeiro. Uma carteira de ações não constitui um recurso produtor de bens e serviços, e não é capital no sentido econômico. De forma similar, ao falarmos de investimento em economia, falamos de investimento real, isto é, da acumulação de máquinas e edifícios e não da compra de bens financeiros. Quando, por exemplo, se realiza a compra de ações já emitidas, não acontece um investimento real, pois ocorre somente uma mudança de propriedade das ditas ações. Não haverá aumento de riqueza na sociedade se esses direitos de papel aumentar sem que ocorra aumento correspondente de edifícios, equipamentos, estoques etc. 1.5.4. Capacidade empresarial Alguns economistas consideram a capacidade empresarial como sendo também um fator de produção. A descoberta e a exploração de recursos naturais, a mobilização da população em idade de produzir, a escolha dos bens de capital, a definição dos padrões tecnológicos que serão empregados – enfim, a mobilização, a aglutinação e a combinação
  • 14. 14 dos fatores de produção pressupõem a existência de determinada capacidade de empreendimento. É através dela que os recursos disponíveis são reunidos, organizados e acionados para o exercício de atividades produtivas. 1.5.5. Capacidade tecnológica É constituída pelo conjunto de conhecimentos e habilidades que dão sustentação ao processo de produção, envolvendo desde os conhecimentos acumulados sobre as fontes de energia empregados, passando pelas formas de extração de reservas naturais, pelo seu processamento, transformação e reciclagem, até chegar à configuração e ao desempenho dos produtos finais resultantes. Trata-se, assim, de um fator de produção que envolve todo o processo produtivo, em todas as suas etapas. 1.6. Os agentes econômicos Há três diferentes grupos de agentes econômicos que interagem, participando direta ou indiretamente de todas as transações que realizam dentro de determinado sistema econômico:  As unidades familiares  As empresas  O governo 1.6.1. As unidades familiares O conceito econômico de unidades familiares engloba todos os tipos de unidades domésticas. Sua qualificação econômica resulta de que essas unidades possuem e fornecem os recursos de produção, apropriam-se de diferentes categorias de rendas e decidem como, quando, onde e em que as rendas recebidas serão despendidas. As capacidades de escolha quanto à gestão de seus orçamentos (fontes de receita e destino dos dispêndios) constituem um dos mais importantes atributos das unidades familiares. O desempenho do sistema econômico como um todo e o de mercados específicos (em especial os de bens de consumo) são fortemente influenciados pelas decisões independentes de milhões de unidades familiares. 1.6.2. As empresas São os agentes econômicos para os quais convergem os recursos de produção disponíveis. São as unidades que os empregam e combinam para a geração dos bens e serviços que atenderão às necessidades de consumo e de acumulação da sociedade. Neste sentido, empresas e unidades de produção são expressões sinônimas, do ponto de vista da teoria econômica.
  • 15. 15 1.6.3. O Governo Visto como agente econômico engloba os órgãos federais, as administrações estaduais e municipais. Enfim, a administração pública direta e suas autarquias que fornecem serviços de uso coletivo, de que são exemplos típicos a defesa, a segurança, a administração da justiça e os programas públicos de saneamento básico e saúde, urbanização, educação e cultura. 1.6.4. Setores econômicos Na economia, os diversos papéis que desempenham os agentes econômicos – unidades familiares, as empresas e o setor público – podem ser agrupados em três grandes setores:  O setor primário abrange as atividades que se realizam próximas às bases dos recursos naturais, isto é, as atividades agrícolas, pesqueiras, pecuárias e extrativas.  O setor secundário inclui as atividades industriais, mediante as quais são transformados os bens.  O setor terciário ou de serviços reúne as atividades direcionadas a satisfazer necessidades de serviços produtivos que não se transformam em algo material. 1.6.5. Tipos de bens e serviços econômicos De forma geral, bens e serviços são produtos do trabalho humano que atendem a necessidades humanas. Porém, o primeiro trata de produtos materiais (físicos) e, o segundo, de produtos abstratos que envolvem a oferta de ações especificas realizadas geralmente por outros seres humanos que dominam a técnica para realizá-las. Os bens são classificados em bens livres e bens econômicos. Os bens livres são aqueles que existem em quantidade ilimitada e podem ser obtidos com pouco ou nenhum esforço humano. Nessa categoria está a luz solar, o ar, o mar etc., que são bens porque satisfazem necessidades, mas cuja utilização não implica em relações de ordem econômica. A principal característica dos bens livres é a de que não possuem preço. Os bens econômicos, ao contrário, são relativamente escassos e supõem a ocorrência de esforço humano na sua obtenção. Tais bens apresentam como característica básica o fato de terem preço. Existem vários tipos de bens econômicos, podendo-se distingui-los por sua natureza, por sua função na produção, por suas relações com outros bens, por suas
  • 16. 16 peculiaridades no que se refere à comercialização etc. Entre as principais distinções estão: 1) os bens de consumo que são aqueles diretamente usados para a satisfação das necessidades humanas. Os bens de consumo podem ser: bens de consumo duráveis (como carros, móveis, eletrodomésticos), e bens de consumo não duráveis (tais como gasolina, alimentos, cigarro); 2) bens de capital: são bens de produção, que permitem produzir outros bens, por exemplo: equipamentos, computadores, edifícios, instalações etc. Deve ser dito que tanto os bens de consumo quanto os bens de capital são classificados como: 1) bens finais: são bens acabados, pois já passaram por todas as etapas de transformação possíveis; 2) bens intermediários: são bens que ainda estão inacabados, que precisam ser transformados para atingir a sua finalidade principal. Exemplo: o aço, o vidro e a borracha usados na produção de carros. Os bens podem ser classificados, ainda, em: 1) bens públicos: são bens não exclusivos e não disputáveis. Referem-se ao conjunto de bens fornecidos pelo setor público: transporte, segurança e justiça. 2) bens privados: são bens exclusivos e disputáveis. São produzidos e possuídos privadamente: TV, carro, computador etc. Devemos considerar, no entanto, que até mesmo o ar que respiramos vai, pouco a pouco, se transformando em bem econômico. O emprego de recursos para a despoluição do ar ou para evitar que a poluição ocorra está transformando o ar num bem econômico como outro qualquer, ou seja, um bem cuja existência exige o emprego de recursos. Serviços não têm existência física: um ônibus é físico (portanto, é um bem), mas o transporte que ele realiza (deslocamento de pessoas entre locais distintos) não é algo físico, não pode ser tocado, sentido ou visto em termos de forma ou cor. Um corte de cabelo utiliza bens físicos – tesoura, aparelho elétrico – mas não é, em si mesmo, físico. Vemos seu resultado na pessoa, o barbeiro/cabeleireiro, agindo, mas o corte em si mesmo não existe fisicamente. Esta aula utiliza elementos físicos – e você a está lendo em papel ou no computador – mas a aula em si, a transmissão do conhecimento, não é física. E um dos elementos desta aula é a energia elétrica transmitida desde uma usina a centenas ou milhares de km de distância: você a usa (como iluminação para sua leitura em papel, ou como fonte de energia para seu computador), mas não a vê. Outra importante diferença: bens são primeiro produzidos e depois consumidos. Há uma separação no tempo entre esses dois momentos. Ela pode ser grande ou pequena (anos, décadas ou minutos) – mas sempre há distinção entre a produção e o consumo. Já os serviços são consumidos apenas durante o período em que estão sendo prestados. Se o motorista parar para um cochilo, o serviço de transporte se interrompe imediatamente. O corte de cabelo acaba quando o barbeiro cessa seu trabalho. A aula termina assim que o professor deixa de transmitir os conhecimentos pretendidos. Se o operador da usina hidroelétrica interromper sua atividade, imediatamente você ficará sem energia e terá que parar sua aula no computador ou sua leitura (se a luz do sol for insuficiente).
  • 17. 17 1.7. A escassez de recursos e as ilimitáveis necessidades O conflito entre recursos limitados e necessidades ilimitáveis é a base da conduta econômica do homem e do próprio desenvolvimento da economia como ramo do conhecimento. Para atuar sobre a natureza e extrair dela os suprimentos de que necessitam, as sociedades economicamente organizadas, mesmo as que registraram notáveis progressos materiais, defrontaram sempre com a limitação de seus recursos produtivos. O suprimento de recursos sempre foi, e, provavelmente, continuará sendo limitado e finito. A escassez é o problema econômico central de qualquer sociedade. Não houvesse escassez não haveria necessidade de se estudar Economia. Mas, por que existe a escassez? A escassez existe porque as necessidades humanas a serem satisfeitas através do consumo dos mais diversos tipos de bens e serviços são ilimitadas, ao passo que os recursos produtivos à disposição da sociedade, e que são utilizados na produção dos mais diversos tipos de produtos são insuficientes para se produzir o volume de bens necessários para satisfazer as necessidades de todas as pessoas. De acordo com as teorias econômicas, o homem pode produzir o suficiente de qualquer bem econômico para satisfazer completamente determinada necessidade, mas jamais poderá produzir o suficiente de todos os bens para atender simultaneamente a todas as necessidades. De acordo com essa definição, as ciências econômicas serviriam exatamente para gerir a escassez. Da dura realidade da escassez decorre a necessidade da escolha. Já que não se pode produzir tudo o que as pessoas desejam, devem ser criados mecanismos que de alguma forma auxiliem as sociedades a decidir quais bens serão produzidos e quais necessidades serão atendidas. 1.7.1. As ilimitáveis necessidades Em contraposição à limitação de recursos, as necessidades3 e as aspirações sociais, por bens e serviços públicos e privados, parecem ser ilimitáveis. Não só pela crescente diversificação dos produtos que as modernas economias são capazes de levar aos mercados, como também pelos cada vez mais sofisticados padrões com que se apresentam e pelos níveis de desempenho progressivamente melhores. Em todas as sociedades modernas, as famílias demandam mais e melhores produtos. As empresas exigem equipes de mais alta sofisticação, mais ágeis e mais produtivas. E os governos se veem às voltas com pressões ampliadas, exercidas pelos dois outros agentes econômicos, por mais infraestrutura econômica e social – e de melhores e mais competitivos padrões. E também mais e melhores bens e serviços públicos. 3 Entende-se por necessidade humana a sensação da falta de alguma coisa unida ao desejo de satisfazê-la.
  • 18. 18 Obviamente, as escalas de necessidades variam em função do estágio de desenvolvimento das sociedades e das pessoas. A escala teórica da hierarquia de necessidades de Maslow estabelece que as necessidades individuais básicas sejam de natureza fisiológica. Depois vêm outras, que vão da segurança a busca de auto realização. Quando buscam satisfazer suas necessidades, as pessoas procuram, normalmente, fixar suas preferências. Assim, os primeiros bens desejados são os que satisfazem as necessidades básicas ou primárias, como a alimentação, o vestuário e a saúde. Satisfeitas as necessidades primárias, as pessoas passam a satisfazer outras mais refinadas, como o turismo, ou buscam melhor qualidade dos bens que satisfazem suas necessidades primárias, como uma habitação melhor, roupas de determinadas marcas etc. As pessoas poderão desejar também outras coisas pessoais e imateriais, e que são igualmente importantes em matéria de qualidade de vida, tais como: sabedoria, autoconfiança, prestígio, paz, liberdade, amor. 1.8. Problemas econômicos básicos Já sabemos que vivemos em um mundo de escassez. Consequentemente, todas as sociedades enfrentam o problema econômico de contar com uma quantidade limitada de recursos econômicos – como trabalhadores, máquinas e matérias-primas – e, dessa maneira, só poder produzir uma quantidade limitada de bens e serviços. As sociedades organizam suas economias de duas maneiras principais para responder as três perguntas o que, como e para quem produzir. Uma sociedade pode ter uma economia centralmente planejada, em que o governo decide como os recursos econômicos serão alocados. Ou uma sociedade pode ter uma economia de mercado, em que são as decisões das famílias e das empresas que interagem em mercados que alocam os recursos econômicos. O governo também desempenha um papel significativo na alocação dos recursos. Hoje, apenas alguns pequenos países, como Cuba e Coréia do Norte, ainda têm economias centralmente planejadas em sua totalidade. Em uma economia de mercado, as empresas têm que produzir bens e serviços que atendam aos anseios dos consumidores. Neste sentido, são os consumidores que, em última análise, decidem que bens e serviços serão produzidos. Como as empresas em uma economia de mercado competem entre si para oferecer os produtos de mais alta qualidade pelo menor preço, são pressionadas a utilizar os métodos de produção com os menores custos. Em uma economia de mercado, a ação conjunto de indivíduos e empresas permite que milhares de mercadorias sejam produzidas de maneira espontânea, sem que haja uma coordenação central das atividades econômicas. Na verdade, existe um mecanismo de preços automático e inconsciente que trabalha, garantindo o funcionamento do sistema econômico, dando a ele certa ordenação, de maneira tal que tudo é realizado sem coação ou direção central de qualquer organismo consciente.
  • 19. 19 Todos os bens econômicos têm seu preço. Em um mercado livre, caracterizado pela presença de um grande número de compradores e vendedores, os preços refletem as quantidades que os vendedores desejam oferecer e as quantidades que os compradores desejam comprar de cada bem. Em uma economia complexa e interdependente, as pessoas não conseguem dizer diretamente aos produtores o que desejam consumir. O mecanismo de mercado fornece, através dos preços, uma forma de comunicação indireta entre consumidores e produtores, possibilitando uma adaptação da produção às necessidades de consumo. Possibilita, ao mesmo tempo, uma adaptação do consumo à escassez relativa dos diferentes tipos de bens e serviços. Qualquer sociedade deve resolver de um modo ou de outro, três problemas econômicos fundamentais:  Que bens e serviços produzir e em que quantidade? Em um sistema econômico baseado nas ações apenas das famílias e das empresas, as próprias unidades familiares determinam o valor de cada bem ou serviço através do mercado. Quanto mais as pessoas desejarem um produto, atribuirão a ele um valor cada vez maior. Como o valor de cada bem é medido pelo seu preço, quanto maior for a disposição das pessoas em apoiar seus desejos com dinheiro, mais elevado deverá ser o preço desse bem. Assim, a maneira pela qual as unidades familiares gastam a sua renda entre os diversos bens e serviços estabelece um sistema de avaliação entre os mesmos, ou seja, fornece uma estrutura de preços dentro do sistema econômico que possibilita às empresas, que perseguem o lucro, produzir aquilo que as pessoas desejam. Em resumo: os consumidores revelam suas preferências nos mercados ao comprar algumas coisas e não outras. As preferências dos consumidores condicionam os produtos e assim se decide o que se deve produzir.  Como produzir tais bens e serviços? A concorrência entre diferentes produtores em busca de lucros decide como se devem produzir os bens. A concorrência impulsiona as empresas a buscar combinações de fatores que as permitam produzirem o bem com um custo mínimo. Deve-se escolher o método de produção mais adequado, tanto do ponto de vista do custo como do rendimento, pois o único caminho para fazer frente aos preços concorrentes será reduzir os custos e adotar métodos cada vez mais eficientes.  Para quem produzir, ou seja, quem consumirá os bens e serviços produzidos?
  • 20. 20 Como vai se distribuir o total da produção nacional entre os diferentes indivíduos e famílias. A renda de cada família irá depender da quantidade dos diferentes recursos produtivos que ela pode oferecer no mercado de fatores e do preço que as empresas estão dispostas a pagar pela utilização dos mesmos. A quantidade de fatores de produção pertencentes a cada unidade familiar juntamente com o preço pago pela utilização dos mesmos irá determinar a distribuição de renda nesse tipo de economia. Uma vez que a quantidade de bens e serviços apropriados por cada família está limitada por seus rendimentos, tanto maior será a participação de cada unidade familiar na determinação de o que produzir quanto maior for sua renda. As economias de mercado respondem à pergunta “quem recebe os bens e serviços produzidos?” com a resposta “aqueles que estiverem mais interessados e os que mais puderem comprá-los”. 1.9. Modelos econômicos A economia é constituída de milhões de pessoas envolvidas em muitas atividades – compra, venda, trabalho, locação, produção e assim por diante. Para entender como funciona a economia precisamos encontrar alguma forma de simplificar o quadro de todas essas atividades. Em outras palavras, precisamos de um modelo4 que explique, em termos gerais, como se organiza a economia. Os economistas utilizam modelos para analisar problemas do mundo real. Os modelos econômicos são versões simplificadas da realidade. Os economistas não são os únicos a utilizar modelos: um engenheiro pode utilizar um modelo computacional de uma ponte para auxiliá-lo a testar se ela suportará ventos fortes, um biólogo pode utilizar um modelo físico de um ácido nucléico para melhor compreender suas propriedades. Um dos propósitos dos modelos econômicos é tornar as ideias econômicas suficientemente explícitas e concretas de modo que os indivíduos, as empresas ou o governo possam utilizá- los como base para a tomada de decisões. Os modelos econômicos omitem muitos detalhes para permitir uma visão do que é realmente importante, ou seja, os modelos do economista não incluem todos os aspectos da economia. Com isso, os economistas afastam muitos dos pormenores da economia que são irrelevantes – simplificam a realidade para melhorar sua compreensão. 1.9.1. Fluxo circular O modelo do fluxo circular da renda oferece uma forma simples de organizar todas as transações econômicas que ocorrem em torno das famílias e das empresas na economia. Um modelo de fluxo circular da renda mais complexo e realístico incluiria, por exemplo, o 4 Um modelo é a representação simplificada da realidade ou das principais características de uma teoria.
  • 21. 21 governo e o comércio internacional. Contudo, não são cruciais para um entendimento básico da forma de organização da economia. Em função de sua simplicidade é útil ter em mente o modelo do fluxo circular da renda quando se quer pensar sobre a forma como as peças da economia se encaixam. Neste modelo, a economia compreende dois tipos de tomadores de decisões – famílias e empresas. As empresas produzem bens e serviços usando vários insumos, tais como trabalho, terra e capital (prédios e máquinas). As famílias são as proprietárias dos fatores de produção e consomem todos os bens e serviços produzidos pelas empresas. Famílias e empresas interagem em dois tipos mercados5 . Nos mercados de bens e serviços as famílias são compradoras e as empresas, vendedoras. Em outras palavras, as famílias compram os bens e serviços produzidos pelas empresas. Nos mercados de fatores de produção, as famílias são vendedoras e as empresas, compradoras. Nestes mercados, as famílias oferecem às empresas os insumos necessários à produção de bens e serviços. No circuito interno do modelo, as empresas usam os fatores de produção para produzir bens e serviços que, por sua vez, são vendidos às famílias nos mercados de bens e serviços. Portanto, os fatores de produção fluem das famílias para as empresas, e os bens e serviços fluem das empresas para as famílias. O circuito externo do modelo mostra o fluxo de moeda. As famílias gastam reais para comprar bens e serviços oferecidos pelas empresas. As empresas usam parte da receita de suas vendas para pagar os fatores de produção, como, por exemplo, salários aos funcionários. O que sobra é lucro dos donos das empresas, que por sua vez são membros das famílias. Portanto, a despesa com bens e serviços flui das famílias para as empresas e a renda, em forma de salários, de aluguéis e de lucros, flui das empresas para as famílias. 5 Local em que compradores e vendedores estabelecem contato e realizam transações. Concretamente, ele é formado pelo conjunto de instituições em que são realizadas transações comerciais (feiras, lojas, bolsas de valores ou de mercadorias etc.).
  • 22. 22
  • 23. 23 1.9.2. Fronteira das possibilidades de produção Como vimos anteriormente, dado que os recursos são escassos, a produção de bens e serviços não será ilimitada. Deste modo as pessoas devem escolher quais os bens e serviços a serem produzidos e de quais deverão abrir mão do consumo. A necessidade e as consequências destas escolhas podem ser visualizadas na demonstração das Curvas de Possibilidade de Produção. Uma Curva das Possibilidades de Produção demonstra todas as combinações de produção de dois produtos, ou conjunto de produtos que uma economia tem condições de produzir dados os seus recursos limitados. Cada ponto na curva representa a produção máxima de cada produto. A curva representa a quantidade máxima de produção que se pode ser produzida dos dois bens, esta é chamada de fronteira de produção. Ao longo da curva, os pontos que a compõe, representam que a economia está produzindo no seu nível máximo e está utilizando todos os recursos limitados que estão à sua disposição. Os pontos à esquerda ou de dentro da curva não são desejáveis (mas que podem ser atingidos), representam uma produção inferior à capacidade da economia. São pontos que indicam uma combinação ineficiente, pois representam uma produção abaixo da capacidade produtiva da economia. Quando uma economia está trabalhando neste ponto, dissemos que as empresas (assim como a economia) estão trabalhando com capacidade ociosa, pois não está utilizando ao máximo os recursos disponíveis. Os pontos à direita (ou fora da curva), representam uma produção maior que a sua capacidade de produção. Isto decorre do fato de que os recursos disponíveis estão em volume inferior ao necessitado para aquela combinação. Uma forma de se chegar àquele ponto (combinação) é recorrer a outros territórios, países ou mercados – através da importação de fatores de produção, para conseguir os recursos necessários e expandir a fronteira de produção, a outra é modificar a tecnologia de produção. Quando a fronteira de produção expande-se (desloca-se para direita), temos uma demonstração gráfica do crescimento econômico de um país ou território, pois cresce a produção – que faz crescer a riqueza do país.
  • 24. 24 A fronteira de possibilidades de produção mostra as combinações de produto – neste caso, de carros e computadores – que a economia tem possibilidade de produzir. A economia pode produzir qualquer combinação que se encontre na fronteira ou dentro dela. Pontos além da fronteira não são viáveis dados os recursos da economia.
  • 25. 25 1.9.3. Eficiência produtiva A razão essencial da busca por eficiência6 produtiva decorre de que os recursos são escassos, no sentido de que o suprimento de todos eles é finito ou limitado. Além disso, o conceito econômico de escassez tem a ver com as ilimitáveis necessidades sociais. Estas superam a dotação de recursos: os agentes buscam sempre ampliar seus níveis de satisfação, através de maior suprimento e de maior variedade de bens e serviços. Mais ainda: buscam produtos de qualidade cada vez mais apurada e de desempenho cada vez mais avançado. Ao mesmo tempo, procuram aprimorar os recursos e empregá-los de tal forma que se minimizem as taxas ocorrentes de ociosidade e desemprego e se maximizem os retornos. Neste sentido, a busca pela eficiência produtiva pressupõe, pelo menos, as seguintes condições:  Utilização de todos os recursos disponíveis, no sentido de que não se observe a indesejável ocorrência de quaisquer formas de subemprego ou de desemprego. Esta condição implica ausência de capacidade ociosa. Usualmente, é conceituada como pelo emprego7 .  Mobilização e combinação dos recursos disponíveis sob padrões ótimos de desempenho e de organização do processo produtivo, no sentido de que não se observe subaproveitamento do potencial máximo disponível. 1.9.4. Custo de oportunidade Na vida somos forçados a escolher continuamente. Quando optamos por algo, temos de renunciar a outras coisas. Como os recursos disponíveis são escassos, somente se pode satisfazer uma necessidade se se deixa de satisfazer outra. Não há recursos materiais suficientes, trabalho e nem capital para produzir tudo o que as pessoas desejam. Esse problema é enfrentado pelos governos, famílias e empresas. Assim, por exemplo, os governos têm de decidir entre construir mais colégios ou comprar mais carros para a polícia. As famílias devem escolher entre comprar mais brinquedos para seus filhos ou gastar seus recursos em uma nova lavadora. Do mesmo modo, as fábricas de brinquedos devem decidir entre gastar mais recursos em publicidade ou investir para renovar a maquinaria da fábrica. O custo de oportunidade incorpora a noção de que, não importa o que façamos, há sempre uma escolha. Desta forma, devemos sempre comparar uma coisa – ou decisão, frente a sua alternativa, para comparar os custos e benefícios destas escolhas. 6 Refere-se à forma de realizar uma tarefa. 7 Significa o grau máximo de utilização dos recursos produtivos de uma economia.
  • 26. 26 Considere o exemplo de alguém que poderia receber um salário de R$80.000 por ano trabalhando como gerente em uma empresa, mas, em vez disso, abre sua própria empresa. Neste caso, o custo de oportunidade de seus serviços gerenciais para sua própria empresa é de R$80.000, mesmo se ela não pagar explicitamente um salário a si mesma.