2. Atenção à Saúde Mental na
Saúde das Crianças e
Adolescentes
Maria Cristina Riesinger Pereira
Médica Psiquiatra
SES/HIJG e SM Saúde de Palhoça - CAPSi
Mestre em Antropologia Social – UFSC/SC
3. Roteiro da Palestra
- Os Problemas de Saúde Mental (PSM) Infanto-Juvenil
- Prevalência dos PSM das Crianças e Adolescentes
- Política de Saúde Mental para Crianças e Adolescentes
/ A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
- Pesquisa na Atenção Básica (AB), no município de São
Paulo
- Algumas Tecnologias Leves de Cuidado em Saúde
Mental Infanto-Juvenil
- Conclusão
4. O impacto dos PSM Infanto-
Juvenil: crianças e adolescentes
sofrem e adoecem
- Sofrimento psíquico X prejuízo no desenvolvimento;
- Impacto nas famílias;
- Risco de TMs na vida adulta.
Pensar sobre crianças e adolescentes é pensá-los a partir
de seus contextos: seu desenvolvimento singular, sua
família e outros laços sociais; as rotinas diárias; a sua
comunidade e os outros espaços de socialização, a
creche, a pré-escola, a escola, o lazer.
5. • Crianças e adolescentes x escola;
• Fase de Adolescência;
• Suicídio e tentativa de suicídio na adolescência.
Saúde Mental das
Crianças e Adolescentes
6. Experimentalismos múltiplos: o uso de drogas na
adolescência
- Maconha, bala (LSD-ácido lisérgico), doce (ecstasy- MDMA=
Metileno Dióxido Metanfetamina), cocaína, crack, cristal
(metanfetamina potente), etc... circulam, “soltos”, na vida dos
adolescentes.
- De acordo com estudos, a maconha apresenta um risco
potencial para o desenvolvimento de transtornos
esquizofrênicos, particularmente em indivíduos vulneráveis.
- Esse risco parece estar diretamente relacionado à freqüência
e ao uso precoce
- Sindrome Amotivacional: desinteresse generalizado, mas
principalmente pelos estudo/escola. Risco de evasão escolar.
7. -Iniciativas com o objetivo de reduzir o uso de maconha
entre os jovens: impacto positivo na prevenção de futuros
casos de esquizofrenia.
-Campanhas esclarecedoras sobre esses achados p/ jovens
são necessárias e relevantes.
Experimentalismos múltiplos: o uso de drogas na
adolescência
8. • Problemas internalizantes / transtornos emocionais:
mais comuns em meninas;
• Problemas externalizantes / transtornos do
comportamento disruptivo: mais comuns em meninos;
• Transtornos do desenvolvimento.
Os principais grupos diagnósticos
A manifestação desses quadros clínicos está associada a
determinadas características individuais, familiares,
contextuais e experiências de eventos traumáticos e/ou
estressores.
9. • Eventos de vida negativos;
• Rupturas de vínculos/perdas de laços;
• Violência;
• Doenças crônicas, hospitalizações.
Eventos Estressores
Associações entre problemas de comportamento e variáveis
do ambiente familiar têm sido constantemente verificadas. A
quantidade e qualidade de eventos de vida negativos
provenientes da família vem sendo apontadas como
particularmente prejudicial ao desenvolvimento infantil, sendo
fator predisponente aos problemas de saúde mental.
10. - Associações entre problemas de
comportamento e variáveis do ambiente
familiar têm sido constantemente verificadas.
- A quantidade e qualidade de eventos de vida
negativos provenientes da família vem sendo
apontadas como particularmente prejudicial ao
desenvolvimento infantil, sendo fator
predisponente aos problemas de saúde mental.
Ambiente Familiar
11. Ambiente Familiar
• Problemas de SM dos pais: depressão, uso de álcool e
outras drogas, explosividade, etc;
• Estresse materno x problemas internalizantes;
• Vínculos frágeis com o pai;
• Depressão materna X supervisão positiva X agravos no
desenvolvimento infanto-juvenil;
• Violência intra-familiar x problemas externalizantes e
internalizantes x uso de drogas.
12. A Violência como Estressor Máximo
- A família serve como modelo para o aprendizado de
padrões comportamentais, emocionais e sociais dos filhos.
Quando existe violência, a família atua como um modelo
negativo, gerando comportamentos prejudiciais à
interação social e à SM das crianças e adolescentes.
- Situações de violência física, abuso sexual e violência
psicológica causam enorme impacto no desenvolvimento
emocional e cognitivo.
- Crianças e adolescentes abrigados e a alta vulnerabilidade
psicossocial;
13. Condições financeiras
desfavoráveis
- Condições de pobreza configuram-se como situações
de violência.
- Instabilidade do ambiente familiar, privações, falta de
estímulos adequado, exclusão social, restrição do
espaço físico, violência intra-familiar, violência urbana.
14. Saúde Mental das Crianças e
Adolescentes
Prevalência:
Segundo estimativas da Organização das Nações
Unidas (ONU), as crianças e adolescentes
representam respectivamente cerca de 30% e 14,2%
da população mundial.
Em revisão de literatura internacional: a média global
da taxa de prevalência de transtornos mentais nessa
população foi de 15,8%.
15. No Brasil:
- 10-20% sofre com transtornos mentais;
- 3-4% necessita de tratamento intensivo;
- Estudos entre 1980 e 2006 apontam prevalência
de 12,6%-35% (informantes eram os pais ou as
crianças) e de 7%-12,7% (através de entrevista
diagnóstica).
Saúde Mental das
Crianças e Adolescentes
16. Estudos no Brasil realizados entre 1980 e 2006:
- Pré-escolares (0-6 anos): 10,2%
- Pré-Adolescentes (6-12,13 anos): 13,2%
- Adolescentes (12 ou 13 anos – 19 anos): 16,5%
Saúde Mental das
Crianças e Adolescentes
17. • Transtornos ansiosos;
• Depressão;
• Transtornos de Comportamento, incluindo o TDAH;
• Uso de substâncias.
Transtornos mais prevalentes
Os Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) têm se
mostrado cada vez mais visíveis e prevalentes.
18. Estudo da OMS:
- Escassez de recursos para promoção da saúde
mental infanto-juvenil é de várias ordens:
econômica, humana, fragilidades nos serviços de
atendimento, falta de programas de capacitação e
de políticas de saúde mental específicas para essa
faixa etária.
Saúde Mental das
Crianças e Adolescentes
19. • Atenção Básica: ESF e UBS;
• Equipes de AB para populações específicas:
equipes de consultório de rua;
• NASF;
• CAPS i : em Santa Catarina, são 9;
• Centros de Convivência e Cultura;
• Atenção de Urgência e Emergência: UPAS,
SAMU;
• Atenção hospitalar: 4 leitos, em SC.
Política de Saúde Mental Infanto-Juvenil:
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
20. Pesquisa realizada por Edith Lauridsen-Ribeiro e
Oswaldo Yoshimi TanaKa, na rede de saúde de São
Paulo, no ano 2000 e focalizou o trabalho dos pediatras.
A Atenção Básica e a Atenção em Saúde
Mental de Crianças e Adolescentes
A pesquisa encontrou que os pediatras têm baixa
sensibilidade para reconhecer Problemas de Saúde
Mental em crianças.
A faixa etária das crianças pesquisadas: 5 à 11 anos.
21. Fatores relacionados ao baixo
reconhecimento de PSM pelos
pediatras da AB:
- Deficiência na formação:
- Foco nos aspectos físicos x desvalorização dos
aspectos psicossociais;
- Consultas focalizam na pesquisa de sintomas
que podem ser comprovados pelos exame físico
e exames complementares.
22. Fatores relacionados ao baixo
reconhecimento de PSM pelos
pediatras da AB:
- Falhas no processo de organização do trabalho:
- O tempo curto das consultas;
- A falta de profissionais especializados que
possam servir de suporte;
- Dificuldade para encaminhamento para os
serviços especializados.
23. Desvalorização das tecnologia leves da SM:
- As tecnologias de intervenção privilegiam
medicamentos e intervenções “duras” e
valorizam pouco outras abordagens;
- Dar atenção, ver e conversar mais vezes,
escutar não são consideradas tecnologias de
cuidado.
Fatores relacionados ao baixo
reconhecimento de PSM pelos
pediatras da AB:
24. Fatores relacionados ao baixo
reconhecimento de PSM pelos
pediatras da AB:
Dificuldades na incorporação dos aspectos
psicossociais nas práticas cotidianas:
- “quando a gente entra neste campo parece
que a gente não é mais médico”;
- Processo saúde-doença fica restrito aos seus
componentes físicos, biológicos e visíveis.
25. Sobre a dificuldade de acolher as questões de Saúde
Mental, os pediatras, mencionaram:
- A linguagem hermética do campo da SM
(especialmente a psicanálise);
- As características de personalidade do profissional;
- As deficiências na formação que privilegia os aspectos
físicos/biológicos;
- Ausência de instrumentos de intervenção práticos.
Atenção Básica e Problemas de
Saúde Mental Infanto-Juvenil
26. • Aquelas relacionadas à área dos transtornos
específicos do desenvolvimento (linguagem) ou
somática (enurese, bruxismo) foram as hipóteses
diagnósticas mais freqüentes.
• Hipóteses diagnósticas de transtornos ansiosos ou
depressivos - que na literatura internacional
correspondem a uma prevalência média de 10% - não
foram feitas pelos médicos.
As Hipóteses Diagnósticas de PSM:
27. - Boa sensibilidade dos pais em relação aos PSM
dos filhos.
- A presença da preocupação dos pais não
aumentou a capacidade de diagnóstico pelos
pediatras o que apontou para problemas na
abordagem de questões da área da SM durante
o atendimento médico.
Preocupação dos pais x PSM dos filhos
28. Preocupação dos pais x PSM dos filhos
As entrevistas demonstraram que os pais muitas
vezes não trazem, espontaneamente, queixas
sobre o comportamento dos filhos para a
consulta médica.
29. - Mudança no planejamento e organização dos
serviços de AB;
- Modificações na formação profissional do médico,
tanto na graduação como nas residências e pós-
graduações;
- Foco e perguntas diretas sobre as preocupações
dos pais;
- Necessidade das atividades de educação
permanente;
- Oferta concreta de serviços e profissionais de
apoio em SM.
Os resultados desse estudo
30. Tecnologias Leves de Cuidado
(Mehry):
- Acolhimento e escuta qualificada;
- Trabalhar com a lógica do Projeto Terapêutico Singular
(PTS) ou Individual;
- Na avaliação das crianças pode-se lançar mão de
questionários padronizados como o Questionário de
Capacidades e Dificuldades (SDQ);
31. Tecnologias Leves de Cuidado
(Mehry):
- Equipes com suporte de profissionais especializados
em SM - psicóloga, psiquiatra, fonoaudióloga,
psicopedagoga, terapeutas ocupacionais etc - e não
especializados em SM: educador físico, arte educador,
etc / INTERPROFISSIONALIDADE;
-Psicoterapia individual e em grupo.
32. Tecnologias Leves de Cuidado
- Oficinas de autoexpressão, grupos de conversa,
grupos educativos e de protagonismo;
- Grupo de pais: rodas de conversa sobre o
cuidado dos filhos;
33. Tecnologias Leves de Cuidado
- Na abordagem de relações conflituosas: promover o
fortalecimento de vínculos familiares através de incentivo à
criação de acordos de convivência quanto à organização da
rotina; material educativo com orientações aos cuidadores
sobre como estimular os filhos;
- Para abordar as dificuldades de acesso ao lazer: projetos
de brinquedoteca comunitária, biblioteca comunitária,
hortas, projetos esportivos, caminhadas em família;
34. - Na abordagem de problemas escolares: Projeto
Saúde-Escola / parceria do Ministério da Saúde e
Ministério da Educação: ações estendidas ao
ambiente escolar;
- Solicitar relatório escolar; estabelecer espaço e
horários para o estudo em casa, criando rotina e
participação dos pais ou cuidadores.
Tecnologias Leves de Cuidado
35. Para Concluir
- Reconhecimento e diagnóstico precoce das situações de
risco e do sofrimento/sintomas;
- Cuidado multiprofissional;
- Cuidado compartilhado com famílias e escolas;
- Reflexão entre as equipes sobre os PSM de crianças e
adolescentes;
- Educação permanente e qualificação das equipes;
- Compartilhamento das experiências exitosas.
Situações contemporâneas: atenção às novas
tecnologias e sociabilidades; escassez de espaços
de lazer nas cidades
36. Fontes / Bibliografia
-Atenção Psicossocial a Crianças e Adolescentes no SUS: tecendo redes
para garantir direitos / Ministério da Saúde, Conselho Nacional do
Ministério Público. -Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
-Barata, MFO; Nóbrega KBG; Jesus, KCS; Lima, MLLT; Facundes, VLD.
Rede de cuidado a crianças e adolescentes em sofrimento psíquico:
ações de promoção à saúde. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2015 maio-
ago:225-33.
-Ciência & Saúde Coletiva. Violência e Saúde Mental na Infância e
Adolescência. ABRASCO. Volume 14 número 2. Março/Abril 2009.
-Couto, Maria Cristina Ventura; Delgado, Pedro Gabriel Godinho.
Crianças e Adolescentes na Agenda Política da Saúde Mental Brasileira:
Inclusão tardia, Desafios atuais. UFRJ, 2014.
-Ferriolli, SHT; Marturano, EM; Puntel, LP. Contexto Familiar e Problemas
de Saúde Mental Infantil no Programa Saúde da Família. Programa de
Pós-Graduação em Saúde Mental. FMRP. USP
37. -Lauridsen-Ribeiro, Edith; Tanaka, Oswaldo Yoshimi. Problemas de Saúde Mental das
Crianças: Abordagem na Atenção Básica. São Paulo: Annablume, 2005.
-Pereira, Maria Alice Ornellas. Rev Latino-Am Enfermagem, 2007julho-agosto; 15(4).
www.eerp.usp.br/rlae
-Mehry, Emerson Elias. A Perda da Dimensão Cuidadora na Produção da Saúde: Uma
Discussão do Modelo Assistencial e da Intervenção no seu Modo de Trabalhar a
Assistência.in: Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte - Reescrevendo o Público;
Ed. Xamã; São Paulo, 1998.
-Merhy, Emerson E. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em
saúde. Em: Merhy, Emerson E, Onocko, Rosana. Agir em saúde. Um desafio para o
público. São Paulo: Editora Hucitec / Buenos Aires: Lugar Editorial, 1997. p. 71 –
112.
-Polanczyk, Guilherme Vanoni; Lamberte, Maria Teresa Ramos. Psiquiatria da Infância
e Adolescência. São Paulo: Editora Manole, 2012.
-Soares-Weiser, Karla; Davidson, Michael. Uso de maconha na adolescência e risco de
esquizofrenia. In: Ver Bras. Psiquiatr. Vol 25 n. 3 São Paulo Sept. 2003
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462003000300003
-Taño, Bruna Lidia; Matsukura, Thelma Simões. Saúde Mental Infanto-Juvenil e
Desafios do Campo: Reflexões a Partir do Percurso Histórico. Cad. Ter. Ocup. UFSCar.
São Carlos, v. 23, n. 2, p. 439-447,2015.
-Thiengo, Daianna Lima ; Cavalcante, Maria Tavares ; Lovisi, Giovanni Marcos.
Prevalência de transtornos mentais entre crianças e adolescentes e fatores
associados: uma revisão sistemática. UFRJ, 2013.
38. Autismo:
https://promolifepro.com/autismo/
Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH): orientações para a
família. Rosimeire C. S. Desidério*; Maria Cristina de O. S. Miyazaki**
Suicídio na adolescência: fatores de risco, depressão e gênero
Luiza de Lima Braga; Débora Dalbosco Dell'Aglio
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala
115, 90035-003, Porto Alegre/RS.
Percepção de professores de escola pública sobre saúde mental.
Soares, AGS; Estanislau,G; Brietzkel,E; Lefèvre, F; Bressan, R.
In: Rev Saúde Pública 2014;48(6):940-948
Outras Indicações
O Começo da Vida. Estela Renner. RS/ Brasil. Filme / documentário - está
disponível no NETFLIX
Bebês. Filme / documentário - está disponível no Youtube