1) O artigo discute a necessidade de revisão de programas e políticas públicas do Ministério do Turismo diante de novos desafios econômicos e demográficos.
2) Análises mostram mudança no perfil do turista estrangeiro, com maior presença de sul-americanos. Isso exige novas estratégias de promoção.
3) Também é necessário inovar na qualificação da mão de obra para os grandes eventos como Copa e Olimpíada.
Mudança de rumo: análise da carreira de sucesso do secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame
1. Quarta-feira, 16 de novembro de 2011 OPINIÃO ●
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O GLOBO
Mudança ZUENIR VENTURA
de rumo
GASTÃO VIEIRA
O cara
A A
velocidade dos acontecimen- ocupação da Rocinha, do Vidigal e que contraria o estereótipo de machão. Nu- quero estigmatizar a política. Ao contrá-
tos não raro faz detentores de Chácara do Céu não foi apenas ma época em que ministro responde a de- rio, acho que ela é em princípio nobre e
cargos no Poder Executivo da-
rem continuidade a políticas uma invasão, mas uma conquista núncias com arroubos e desafios, alternan- que só melhora atraindo os melhores. A
públicas sem uma reflexão sobre a ne- histórica, a retomada de um terri- do arrogância (“Duvido que a Dilma me ti- razão da popularidade de Beltrame é evi-
cessidade de mudanças de premissas, tório que já se julgava perdido para os ban- re”. “Só se eu for abatido a bala”) com ba- dentemente o sucesso das UPPs, mas tam-
objetivos e revisões de estratégias. Rea-
didos — um episódio cercado de signos que julação (“Presidente Dilma, desculpe. Te bém sua recusa a se meter em política ou
valiar programas e mudar paradigmas
exige visão estratégica, esforço técnico culminou com o hasteamento da bandeira amo”), José Mariano Beltrame é um homem deixar que a política se meta em seu tra-
e disposição para assumir riscos. Em que o hino chama de “lindo pendão da es- de jeito suave que vai desempenhando seu balho. Suas escolhas e critérios foram
plena preparação para os grandes even- perança”, “símbolo augusto da paz”, o que papel sem retórica, sem grandiloquência ou sempre técnicos. Não se sabe de um co-
tos esportivos, um novo cenário econô-
mico e administrativo impõe enormes soou muito a propósito para a ocasião. So- bravata. Rejeita o culto da personalidade e mandante da PM ou de um delegado da
desafios ao Ministério do Turismo. braram lições para todos, até para as tropas a exaltação do ego. Nunca foi visto enchen- Polícia Civil que tenha sido nomeado por
Entre os principais fatores que da ONU, de como capturar um chefe inimigo do o peito e dizendo “faço e aconteço”. indicação de deputados e vereadores ou
condicionam a revisão dos progra- sem adotar os seus métodos, usando a in- Se Júnior Cigano é considerado “herói”, para atender aos interesses deste ou da-
mas ministeriais estão: a prolongada
crise financeira internacional; a cres- formação e a inteligência, em vez da trucu- não sei como qualificar esse servidor públi- quele partido.
cente relevância do mercado domés- lência, como se fazia aqui antes. Houve tam- co que é hoje uma das personalidades mais O secretário de Segurança já disse mais
tico, com o crescimento expressivo bém exemplos como o dos tenentes da PM admiradas e respeitadas do Estado do Rio, de uma vez que essa mosca azul não o mor-
da classe média e a rápida mudança
Disraeli Gomes e Ronald Cadar, que recusa- recebendo aplausos por onde passa — na de, por um motivo simples e sincero como
do perfil demográfico; a importância
do Turismo para a geração de empre- ram um suborno de R$ 1 milhão, isso quan- rua, em restaurantes, numa viagem de avião. é de seu feitio: “Não entendo de política,
gos e renda, em especial como instru- do a cultura da corrupção dissemina essa O que mais tenho ouvido, inclusive de quem entendo de segurança.” Portanto, deixem o
mento de inclusão produtiva da po- prática criminosa por toda a máquina da ad- entende de eleição, é que ele pode se eleger cara fazer o que sabe. Até porque ainda fal-
pulação pobre no mercado de traba-
lho; e a determinação da presidente ministração pública em Brasília. para o que quiser. ta muito para terminar. Como ele mesmo
Dilma para que os grandes eventos O protagonista dessa história, porém, o E é aí que reside o perigo. Que partido diz, as UPPs não são o fim do processo de
programados constituam alavancas seu arquiteto, o estrategista, é um gaúcho não sonha com ele na sua legenda? Não pacificação do Rio, mas o começo.
para o desenvolvimento nacional.
Cada um desses elementos desdo- Marcelo
bra-se em múltiplos aspectos, que es-
tão sendo considerados; exemplos
podem ser observados nos resulta-
Barbárie
dos da pesquisa do Ministério do Tu-
rismo sobre avaliação do Brasil pelos
turistas estrangeiros (edição 2010).
anunciada
Após amplo levantamento junto a 39
mil visitantes, detectou-se uma mudan- RODRIGO DA COSTA LINES
ça recente no perfil do turista estrangei-
O
ro. O fluxo de europeus declinou, muito Senado votará o projeto do
provavelmente em função da grave cri- Código Florestal com celeri-
se naquele continente, enquanto au- dade recorde. Se mantido o
mentou o ingresso de argentinos, chile- viés até agora observado, ini-
nos, uruguaios e paraguaios. Conside- ciado com o virulento brado do depu-
rando que a crise nos países desenvol- tado Aldo Rebelo contra supostas cons-
vidos deve prolongar-se por alguns pirações internacionais, produzirá uma
anos, a mudança não é circunstancial. das maiores iniquidades de nossa his-
De fato, o número de turistas sul- tória: uma lei injusta, insegura e incons-
americanos — 2.384.186 visitantes — titucional, que premia quem desafiou a
supera em muito o de europeus legislação e pune quem a cumpriu.
(1.614.864). Diferentemente dos euro- Desconsiderou-se aquilo que o IBGE
peus, o público sul-americano entra constatou em 2006: 158,8 milhões de
majoritariamente no país por meio ro- hectares de terras com potencial agrí-
doviário e se concentra nas regiões Sul cola são ocupados por uma pecuária de
e Sudeste. Nosso olhar estratégico exi- baixíssima produtividade, quase três
ge, por consequência, maior atenção vezes a área utilizada para agricultura,
com a promoção de novos roteiros pa- 59,8 milhões de hectares. Basta o uso
ra os nossos vizinhos — para aumen- de tecnologia para aproveitamento
tarem a estadia e o gasto médio no país, mais racional e inteligente de nossas
gerando oportunidades para diversos terras e recursos naturais. O projeto
setores econômicos. propõe normas que contrariam o co-
O estudo mostra também que, cada nhecimento já produzido para permitir
vez mais, as redes sociais e o boca a bo- a consolidação de danos em áreas de
ca superam os meios tradicionais como preservação permanente e de reserva
fonte de informações. Em 2010, a inter- legal, o plantio de até 50% da reserva le-
Significado & contexto
net foi principal influência para 31% gal com eucaliptos e a construção de
dos turistas estrangeiros. Parentes e projetos habitacionais em manguezais,
amigos influenciaram 28,4% dos estran- dentre outros absurdos, como decretar
geiros que visitaram o Brasil. Guias e que o leito de um rio no período de
impressos (6,2%) somados às feiras e cheia não é mais parte dele.
eventos (1,4%) não atingem 8% no grá- ROBERTO DaMATTA temporada do “clã político” de Oliveira ralidade pública no nível das fábulas in- As áreas de preservação permanente
fico de fatores influenciadores. Os nú- Vianna e da família patriarcal de Gilber- fantis dos pequenos príncipes e filóso- — como margens de rios, encostas e
D
meros reforçam a percepção de que iz um velho ditado que “por- to Freyre, com pitadas ideológicas que fos! Ministros, senadores, governado- manguezais — são espaços protegidos
publicidade e divulgação institucional nografia é uma questão de racionalizam posições, já que ganhar res, deputados, prefeitos e secretários em razão de características específicas.
causam impacto decrescente, perden- geografia”. Mude-se e veja muito em pouco tempo é bom demais. de governo que montam esquemas e Já as áreas de reserva legal são espaços
do espaço para a comunicação infor- que o imoral em sua terra, é Os dirigentes são pais e mães do povo. repassam para agentes dos seus parti- de uma propriedade rural que devem
mal e interpessoal. mandamento alhures. Quando cheguei Sobretudo dos “pobres” — que têm a dos, mascarados de ONGs, verbas do ser mantidos com vegetação nativa pa-
Essa é uma tendência irreversível, nos Estados Unidos, pelos idos de 1963, sua posição social solidificada por uma povo, não estão praticando veniais ra o equilíbrio ecológico da região. Sob
que vai se consolidar rapidamente ao um mentor, que conhecia o Brasil me- carteirinha de plástico. Que os “po- “malfeitos”. Estão é roubando, como di- o ponto de vista constitucional, ambas
longo dos próximos anos, com o lhor do que eu, avisou: quando você for bres” devam ser reparados eu não te- zia papai. Roubando recursos que são são instrumentos para conferir à pro-
crescente acesso facilitado às mídias convidado para um jantar, jamais vá so- nho a menor dúvida. A questão, como da sociedade e do Brasil, não do gover- priedade privada uma função social e
digitais. Frente a essa nova realidade, zinho, como se faz no Brasil. Vá com se descobriu na Inglaterra Vitoriana, no. Dai essa centralização burocrática para garantir que o uso do patrimônio
quem não empreender formas inova- sua mulher, como fazemos a aqui. dos Gladstones e dos Disraelis, é saber pervertida porque, diferentemente das nacional representado pela Floresta
doras de divulgação perderá compe- Tomei a observação como um misto quem é efetivamente pobre e, mais originais, ela não opera impessoal e Amazônica, Mata Atlântica, Serra do
titividade no cenário internacional. de reproche e aula de etiqueta, mas não complicado que isso, como tirar o as- anonimamente, pois o que conta é Mar, Pantanal Mato-Grossense e Zona
Também devemos inovar nos proce- perdi de vista a sua dimensão cultural, sistido da passividade contida no assis- quem fez e não o que foi feito. Costeira seja feito dentro de condições
dimentos relacionados à qualificação da pois o que estava em pauta eram mo- tencialismo para integrá-lo ativamente Resumo da ópera: em outros mun- que assegurem a preservação do meio
mão de obra — prioridade absoluta do dos diversos de reunião. As “turmas” no sistema produtivo. dos, a burocracia é a “jaula de ferro” ambiente, como preveem os artigos
Ministério do Turismo, no contexto dos brasileiras — geralmente agrupadas na Meu velho pai, que foi um homem que bloqueia o carisma e reduz a “Po- 186 e 225, parágrafo 4 o da Constituição.
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preparativos para a Copa do Mundo e “rua” (em bares e botequins) — con- soturno, me disse um dia, seco como lítica” (com “p” maiúsculo) — lida, en- Não resta dúvida de que a maior parte
os Jogos Olímpicos. O desafio é fortale- gregavam homens. Em Cambridge, uma folha de chá: “No Brasil, governar tre outros, por Max Weber — como a do projeto é inconstitucional por des-
cer políticas públicas que transformem Massachusetts, entretanto, eu — um é roubar!” Fiquei chocado, mas, entre a esfera social da criatividade e da trans- considerar essas normas. Porém, isso
potenciais em resultados concretos. tanto perturbado — aprendi uma socia- sua opinião e a dos meus formação no mundo. No sequer foi abordado.
No cenário brasileiro, os megae- bilidade mais caseira, aberta e mais mentores socialistas e Brasil, entretanto, esse Os impactos das alterações para o
ventos reforçam nossa crença na ne- igualitária, da qual minha mulher par- comunistas, pendemos conflito não existe. A bu- cumprimento de acordos internacio-
cessidade de se reavaliar as diretri- ticipava comigo e não por minha causa mais para o governar co- No Brasil, a rocracia está inteira- nais aprovados pelo Congresso — co-
zes e práticas dos programas do Mi- — ao meu lado, não atrás de mim. Des- mo sinônimo do “cuidar” mente sujeita ao políti- mo as Convenções sobre Mudança do
nistério do Turismo para atingirmos cobri que o elo matrimonial era com- e do “roubar” do que pa- burocracia está co. Um político que se Clima, a Proteção de Zonas Úmidas, a
as metas de qualificação. pulsório na tal América onde havia di- ra o do liberal, competi- reduz ao “pequeno po- Diversidade Biológica e a de Combate à
Vamos usar a experiência do Sistema vórcio & assédio e não existia a boa e tivo e, dizem, eficiente inteiramente der” das agendas do ve- Desertificação — tampouco foram con-
S, do Ministério da Educação e de ou- emocionante “cantada”; mas era opcio- estilo de governar admi- lho projeto pessoal ibé- siderados. Além disso, a perpetuação
tras instituições em qualificação profis- nal do meu Brasil de Niterói, então cha- nistrando ou gerencian- sujeita rico de ficar rico (tor- de tudo o que foi desmatado ilegalmen-
sional, visando a dar mais eficiência, mada de “cidade sorriso”, hoje uma ur- do. nando-se ao mesmo te até julho de 2008 fortalece a impu-
maior abrangência e otimização dos re- be desgovernada. Como levar a “espo- De um lado, há o per- ao político tempo — eis o Paraíso nidade. É o triunfo de quem não aceita
cursos públicos, por meio de progra- sa” (sobretudo se ela era bela e inteli- sonalismo que permeia a — inimputável legal- se submeter à legislação nem ao esfor-
mas como o Senac Copa 2014 e o Pro- gente) a uma festa onde se falava de tu- centralização nacional mente) ocupando car- ço dos órgãos ambientais, da socieda-
natec — que já oferece 80 mil vagas pa- do — principalmente de “política” — e, que tem uma burocracia gos públicos. Ficando de civil e do Ministério Público para fa-
ra o Turismo. Vamos trabalhar de forma entrementes, um sujeito queria “comer e uma legislação sofisticada, mas que por cima. Virando, como disse um ve- zer cumpri-la, respondendo com o uso
articulada com o Ministério da Educa- a mulher do outro” como me ensinou opera de modo desigual, confirmando e reador de Taubaté, o sr. Rodson Lima da força para mudar a lei e fazer com
ção para preencher todas essas vagas. um outro mentor importante, mas ob- reafirmando, em vez de desconstruir, a do PP, que não me deixa mentir, um que tudo fique como está.
Toda mudança acarreta resistências. viamente brasileiro? desigualdade. No Brasil, o aparelho bu- “príncipe” e, por isso, está agradecido
Mas precisamos trabalhar tendo em Altere o contexto, faça a passa- rocrático não funciona sine ira et studio aos seus eleitores que o aristocratiza- RODRIGO DA COSTA LINES é procurador da
vista que a Copa e as Olimpíadas nos gem, e os motivos e os papéis mu- (sem cólera ou parcialidade), como ram. República e coordenador do Grupo de
oferecem a oportunidade de atrair um dam de significado. queriam Tácito e Weber. Antigamente Ou seja: no “puder” e por “cima”. O Trabalho Áreas de Preservação Permanente da
turista muito mais qualificado, com dizia-se “aos amigos tudo aos inimigos “poder” entre nós é um elevador que 4 a Câmara de Coordenação e Revisão do
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gastos de, no mínimo, o dobro do tu- a lei”; hoje somos mais eficazes (e cí- só segue para cima, mas à custa da Ministério Público Federal.
rista comum e com exigências propor- Governar é administrar a coisa públi- nicos), pois simplesmente “blindamos” nossa energia. Gastando a eletricida- ..
cionais. Em nossas mãos está a respon- ca com a legitimidade dos votos da quem pratica os “malfeitos”. de e a dignidade dos cidadãos co-
sabilidade de conquistá-lo. maioria. Mas na era Lula-petista, gover- Malfeitos. Eis, caros leitores, um eu- muns plantados no chão. O GLOBO NA INTERNET
nar é “cuidar” do povo. Voltamos, com femismo brutalmente pueril, regressivo OPINIÃO Leia mais artigos
GASTÃO VIEIRA é ministro do Turismo. ajuda das ONGs lidas à brasileira, à emocionalmente, que situa a nossa mo- ROBERTO DaMATTA é antropólogo. oglobo.com.br/opiniao