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Opinias - Fevereiro 2015
2222222222
Por:
RODRIGO CONTRERA
Jornalista, escritor, filósofo,
autor de teatro, ator
Taboão da Serra - SP
rodrigo_contrera2@hotmail.com
A DIFICULDADE DE
SE SENTIR AMADO
CADA UM TEM seus próprios problemas.
Dificilmentenosformamoscomopessoasdaforma
como gostaríamos. Pois a verdade é que ou temos
mães ou pais com seus próprios problemas, e
ausentes ou de alguma forma incômodos, ou temos
problemas com amigos, conosco mesmos ou com a
realidadeemsi.Dealgumaforma,emvárias
situações, podemos – digo podemos, não digo com
certeza absoluta – acabar nos tornando meio
reativos ao contato.
A psicologia rasteira tende a achar que quando
temos problemas de admitir ser amados isso deve
ser problema de autoestima. Ou seja, gostamos
pouco de nós mesmos e portanto tendemos a reagir
ao amor do outro com recusa. Mas acho essa
explicação, como já disse, rasteira.
Meu pai era um cara ensimesmado, para dizer o mínimo.
Tinha suas fixações e seus problemas. Não me lembro
de UMA VEZ em que eu tenha conversado com ele.
Bom, tivemos nossos problemas – sérios –, e um dia ele
precisou do apoio da família. Claro, a situação era
complicadíssima,sériamesmo,enessassituaçõesé
preciso aquele IT que faz a diferença. Bom, não houve
nada disso. Os desentendimentos só se acirraram e
assimasituaçãofoisendo“resolvida”.
Penso nele, num cara com questões mal-resolvidas, com
situações incômodas, com erros sendo cometidos, com
incompreensões, etc. E penso se ele aceitava ser amado.
Não sei. Não posso generalizar e dizer que tudo vinha
daí. Ele está morto há quase 20 anos e nem quero
lembrar tudo o que passamos. Mas é uma hipótese.
Quando a gente discute ou reflete sobre amor e sobre
pessoas que têm problemas com isso, tendemos a pensar
que talvez o maior obstáculo ao amor seja não conseguir
amar. Mas tenho refletido algo sobre isso e penso que
talvez o problema seja outro: não querer, conseguir ou
sequer tentar se sentir amado/a. Não falo (apenas) de
amor romântico. Falo por experiência própria e pelo que
eu vejo de meus entes queridos ou nem tão queridos.
Opinias - Fevereiro 2015
2323232323
No caso de outros entes queridos, quase a mesma
coisa. Pessoas que se dedicam a você continuamente
– mães, irmãos, amigos, namoradas, etc. – que não
aceitam uma resposta de carinho – ou que fazem de
conta que não é com elas. Ou que, quando
respondemos de forma similar à que essas pessoas
utilizamparanosdemonstrarcarinho,desconsideram
ou têm algo mais a fazer. Com o tempo, a gente acaba
se afastando – ou não. O carinho a ser demonstrado
fica lá para trás.Agente prefere deixar passar. Cada
um toma seu caminho – e um dia a gente, com grande
possibilidade, nota que era isso mesmo – essa pessoa
tinhaumadificuldademuitograndeemseramada.
Conheçogentequetemproblemassimilarescom
parentes, geralmente mães e pais. Mas novamente não
posso generalizar. O mundo é duro, e temos de nos
virar. Pessoas que respondem com dureza diante de
pedidosdecarinhomuitasvezessimplesmentenão
têm tempo ou acham – muitas vezes com razão – que
não podemos ficar por aí reclamando ou dando uma
de frágeis, pedindo colo. Não é por isso que
podemos achar que tais pessoas não conseguem ou
têm dificuldade em ser amadas. Às vezes – muitas
vezes – o problema pode mesmo ser outro.
Claro que temos de distinguir, aqui, claramente o amor,
puro e simples, do amor romântico. Não podemos
dizer que quem tem problemas de ser amado tem
tambémdificuldadedeadmitirqualqueramor
romântico. O amor romântico segue, pelo que noto,
suas próprias regras. Ou seja, não posso dizer que
aquelapessoaquealguémamaromanticamentenão
amaoutemdificuldadedemeamar(também
romanticamente)essapessoaporquetemdificuldade
em ser amada, pura e simplesmente. No amor
romântico há a questão, pura e simples, da escolha.
Mas seja como for, noto, sim, que em muitos casos
quemnãoamaromanticamentealguémpareceter,em
algumamedida,umacertadificuldadeourestriçãoem
ser amado/a. Por que digo isso? Porque noto que há
certas ocasiões em que o objeto do amor romântico
meio que desconsidera, pura e simplesmente, que o
amor e o amor romântico segue regras que às vezes
independem, em alguma medida, da liberdade de
escolha. Mas isso é problema para outro artigo.
Como assim, vocês irão dizer. Nada, não. É que acho
que às vezes as coisas simplesmente acontecem. Mas
tudo bem. Nada demais. Voltando ao caso da
dificuldade em ser amado. Há pessoas que passam
boa parte do tempo da vida com essa dificuldade.
Recusamnamorosporquesimplesmentenão
conseguem aceitar a ideia de serem vistos como
namorados. Recusam interesses diversos pelo mesmo
motivo. Em parte por problemas de autoaceitação. Em
parte, de autoestima. Depois embarcam em longos
relacionamentos sequer vendo que eram objetos de
amor romântico intenso e quase cego.Tudo então
acaba e essas pessoas ficam a ver navios.
Eu mesmo não sei bem o que penso a respeito. Só sei
que acredito ter aprendido, muito recentemente, o que
é realmente amar – amar por si só e, creio,
romanticamente – e que vejo algo em que antes
simplesmente não reparava. Qual seja, a capacidade
do outro de amar e de ser amado. Não é à toa que
MUITO aconteceu nas últimas semanas que
simplesmenteMUDOURADICALMENTEminha
vida.Comparentes,amigos,amigas,vizinhos,etc.Abri
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Dificuldade em se sentir amado e aceitar o amor dos outros

  • 1. Opinias - Fevereiro 2015 2222222222 Por: RODRIGO CONTRERA Jornalista, escritor, filósofo, autor de teatro, ator Taboão da Serra - SP rodrigo_contrera2@hotmail.com A DIFICULDADE DE SE SENTIR AMADO CADA UM TEM seus próprios problemas. Dificilmentenosformamoscomopessoasdaforma como gostaríamos. Pois a verdade é que ou temos mães ou pais com seus próprios problemas, e ausentes ou de alguma forma incômodos, ou temos problemas com amigos, conosco mesmos ou com a realidadeemsi.Dealgumaforma,emvárias situações, podemos – digo podemos, não digo com certeza absoluta – acabar nos tornando meio reativos ao contato. A psicologia rasteira tende a achar que quando temos problemas de admitir ser amados isso deve ser problema de autoestima. Ou seja, gostamos pouco de nós mesmos e portanto tendemos a reagir ao amor do outro com recusa. Mas acho essa explicação, como já disse, rasteira. Meu pai era um cara ensimesmado, para dizer o mínimo. Tinha suas fixações e seus problemas. Não me lembro de UMA VEZ em que eu tenha conversado com ele. Bom, tivemos nossos problemas – sérios –, e um dia ele precisou do apoio da família. Claro, a situação era complicadíssima,sériamesmo,enessassituaçõesé preciso aquele IT que faz a diferença. Bom, não houve nada disso. Os desentendimentos só se acirraram e assimasituaçãofoisendo“resolvida”. Penso nele, num cara com questões mal-resolvidas, com situações incômodas, com erros sendo cometidos, com incompreensões, etc. E penso se ele aceitava ser amado. Não sei. Não posso generalizar e dizer que tudo vinha daí. Ele está morto há quase 20 anos e nem quero lembrar tudo o que passamos. Mas é uma hipótese. Quando a gente discute ou reflete sobre amor e sobre pessoas que têm problemas com isso, tendemos a pensar que talvez o maior obstáculo ao amor seja não conseguir amar. Mas tenho refletido algo sobre isso e penso que talvez o problema seja outro: não querer, conseguir ou sequer tentar se sentir amado/a. Não falo (apenas) de amor romântico. Falo por experiência própria e pelo que eu vejo de meus entes queridos ou nem tão queridos.
  • 2. Opinias - Fevereiro 2015 2323232323 No caso de outros entes queridos, quase a mesma coisa. Pessoas que se dedicam a você continuamente – mães, irmãos, amigos, namoradas, etc. – que não aceitam uma resposta de carinho – ou que fazem de conta que não é com elas. Ou que, quando respondemos de forma similar à que essas pessoas utilizamparanosdemonstrarcarinho,desconsideram ou têm algo mais a fazer. Com o tempo, a gente acaba se afastando – ou não. O carinho a ser demonstrado fica lá para trás.Agente prefere deixar passar. Cada um toma seu caminho – e um dia a gente, com grande possibilidade, nota que era isso mesmo – essa pessoa tinhaumadificuldademuitograndeemseramada. Conheçogentequetemproblemassimilarescom parentes, geralmente mães e pais. Mas novamente não posso generalizar. O mundo é duro, e temos de nos virar. Pessoas que respondem com dureza diante de pedidosdecarinhomuitasvezessimplesmentenão têm tempo ou acham – muitas vezes com razão – que não podemos ficar por aí reclamando ou dando uma de frágeis, pedindo colo. Não é por isso que podemos achar que tais pessoas não conseguem ou têm dificuldade em ser amadas. Às vezes – muitas vezes – o problema pode mesmo ser outro. Claro que temos de distinguir, aqui, claramente o amor, puro e simples, do amor romântico. Não podemos dizer que quem tem problemas de ser amado tem tambémdificuldadedeadmitirqualqueramor romântico. O amor romântico segue, pelo que noto, suas próprias regras. Ou seja, não posso dizer que aquelapessoaquealguémamaromanticamentenão amaoutemdificuldadedemeamar(também romanticamente)essapessoaporquetemdificuldade em ser amada, pura e simplesmente. No amor romântico há a questão, pura e simples, da escolha. Mas seja como for, noto, sim, que em muitos casos quemnãoamaromanticamentealguémpareceter,em algumamedida,umacertadificuldadeourestriçãoem ser amado/a. Por que digo isso? Porque noto que há certas ocasiões em que o objeto do amor romântico meio que desconsidera, pura e simplesmente, que o amor e o amor romântico segue regras que às vezes independem, em alguma medida, da liberdade de escolha. Mas isso é problema para outro artigo. Como assim, vocês irão dizer. Nada, não. É que acho que às vezes as coisas simplesmente acontecem. Mas tudo bem. Nada demais. Voltando ao caso da dificuldade em ser amado. Há pessoas que passam boa parte do tempo da vida com essa dificuldade. Recusamnamorosporquesimplesmentenão conseguem aceitar a ideia de serem vistos como namorados. Recusam interesses diversos pelo mesmo motivo. Em parte por problemas de autoaceitação. Em parte, de autoestima. Depois embarcam em longos relacionamentos sequer vendo que eram objetos de amor romântico intenso e quase cego.Tudo então acaba e essas pessoas ficam a ver navios. Eu mesmo não sei bem o que penso a respeito. Só sei que acredito ter aprendido, muito recentemente, o que é realmente amar – amar por si só e, creio, romanticamente – e que vejo algo em que antes simplesmente não reparava. Qual seja, a capacidade do outro de amar e de ser amado. Não é à toa que MUITO aconteceu nas últimas semanas que simplesmenteMUDOURADICALMENTEminha vida.Comparentes,amigos,amigas,vizinhos,etc.Abri minha cara a tapa e não levei tapas.Ao contrário, levei só flores. Um dia conto.