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ReportagemEspecial: A Saúde nosProntos-Socorros de Taboão
Por PlínioMarcos
Qual é o estadodoatendimentoàSaúde nomunicípiode Taboãoda Serra hoje?Para tentar
responderaessapergunta,o jornal “Hoje emNotícias”passoutrês diasacompanhandoo
tratamentooferecidoàpopulaçãoemtrêsProntos-Socorrosque atendemamunicipalidade e
que estãosendogeridospelaSPDM(AssociaçãoPaulistaparao DesenvolvimentodaMedicina)
desde abril de 2013: o Pronto-Socorroe Maternidade Antena,aUPA AkiraTada e o Pronto-
Socorro Infantil e Postode Saúde doPirajussara.
O resultado,oleitorpoderáconferirnosrelatosaseguir.NoAntena,trêsmédicosatendiam
pacientesque superavamacasa de maisde 110 emperíodosde esperaque superavamas3h
(a reportagemficou2h30 para ser atendidanatriageme não conseguiu).Pessoasque
chegavamcom doreseramatendidasmaisrapidamente,massemconfirmaçãode
atendimentofinal (continuavamnoscorredores).Pessoasbrincavamdizendoque somente
após 4h poderiamesperarseratendidas.Haviaqueixasde pessoassendopassadasnafrente
das outras,e brincadeirascomonome de pacientesforamvistasinloco.NoUPA AkiraTada,
para algunscasos a triagemera realizadarapidamente,masaspessoasesperavammaisde 3h
sematendimento.NesseUPA,casosatendidosrapidamenteeramliberadossemtratamento
adequado(umbebê comsuspeitade dengue foi liberadoparaacompanhamentode plaquetas;
uma moça com maisde 40º C de febre recebeuindicaçãode Dipirona,que elajátomava;e um
acidentadoemtrabalhofoi liberadosemefetuarraios-Xe deixadoaoDeusdará) e muitas
pessoasficavamàesperapara atendimentosemprevisãosequerde passarnatriagem.Nesse
UPA,foi confirmadaa presençade trêsmédicos,massó divisadaumamédica. JánoPronto-
Socorro Infantil doPirajussara,maisde 60 pacientesesperavammaisde 2hna fila,antes
mesmoda triagem,paraatendimentoportrêsmédicosnumpronto-socorrocomapenastrês
saletaspara isso.NoPostode Saúde do mesmolocal,maisde 30 pessoas(crianças,mulherese
homens) esperavammaisde 2hpara tentarser atendidasporapenasdoismédicos,numdia
de Pediatria.Auxiliardolocal confirmou:àsvezes,haviadoismédicos,outrasvezesapenas
um,e às vezestambémnenhum.Comoissopodia acontecer?“Podendo”,suaresposta.Vejaa
seguira reportagem.
Antena
Peguei oônibus459 na BR-116, bastante lotado,e cheguei aoPronto-Socorroe Maternidade
do Antena,maisconhecidocomoAntena,uns30 minutosdepois.A construção,térreae de
grandes proporções,temumaformabastante confusa.A entrada é ladeadapor bancosde
concretoem que algumaspessoasesperam, e apassagemé forçadapor fitasde demarcação
emuma só direção.
A entradaprincipal constacomfileirasde cadeirasde alumínio,somandouns20lugares.São
duas atendentese paraser atendidoé necessáriopegarumasenha,que é indicadaporum
luminoso.Ali chegando,vejomenosde 10pessoasesperandoasua vez,que nãodemora
muito.Há na esperadesde jovenscansadosaté senhorasaparentemente semproblemasou
idosas/osque chegambastante debilitadas/os.Sento-meparavercomo funciona.Apóspegar
minhasenha,chegauma senhorabaixa,vestidacomblusaamarela,que nãosabe como
funciona.Digoa elaque precisapegarsenha,maselanão quer,e diz para que eulhe pegue.
Eu pegopara ela,que é atendidarapidamente,masdepoisde mim.
A próximasalaé a da triagem.Sãoduassaletascom enfermeiros/aschamando,umaauma, as
pessoas.Esperamnessasalamaisde 30 pessoas,sentadase empé.Há de tudo um pouco.
Desde homenscorpulentosdizendoque estãose sentindomal até pessoasmachucadaspor
quedas,porexemplo,e idososquietose cansados.Ninguémreclama.
Avançono corredore chegoa outra sala,agora não de triagem, comcadeiraspara maisuns 30
lugarese bastante gente empé.Nãohá ordemaparente nestasala,que é ladeadapor um
corredorcom gente dispersapeloscantos,emfrente a8 portaspara consulta.Ali,maisumas
30 pessoasesperando.Vejoduasdessasportasde consultacommédicosatendendo.
Do ladoesquerdodocorredor,aparecemvidrosque mostramumagrande sala emque
diversospacientesrecebeminalação.Sãoporvoltade 10 a 15 lugares,empoltronas
confortáveis.Quandovejo,umas7pessoasrecebeminalação.Olugarparece umaquário que
divide quemjárecebe algumaatençãode quemnadaparece esperarde concretoao menos
nas próximashoras.
Voltoà salade triageme espero.Enquantoespero,cheganovamente aquelasenhoradablusa
amarela,gritandode dor.As pessoasficam incomodadasemverador da senhora,e passam
algunsminutosparaque um dosmédicosdassalas de triagempeçaa outrapessoado posto
que faça algumacoisa.O atendente lhe perguntaalgo,comcertotombonachão,e ela
aparentementese recupera.Éconduzidaàsala de esperapropriamente dita.Masnãoparece
muitomelhor.
De repente,aparece umaoutrasenhoraaosgritosreclamandoque a atendente doguichê da
primeirasalatema intençãode privilegiarumafuncionáriadaSkyque apareceunoposto.A
senhorapercorre a salaexternae internaváriasvezes,reclamando,até postar-se àentradada
filade triagempara acompanharo atendimentoaseufilho.A senhoraacusaincisivamentea
atendente,que se fazde desentendida.Conversocomasenhoralogodepois,e elame dizque
impediuoprivilégio,que estavaacompanhandode perto.A atendente nãonegouoque
acontecera.
As pessoascontinuavamchegando,oatendimentonosguichêsseguiae aspessoas
avolumavam-secadavezmais.Um senhoridoso,comvestimentade paciente,andavapor
cada um dos corredorescomolharmortiçoaparentemente atrásde algoque nãoencontrava.
Aproximava-se de umenfermeiro,nãofalavanada,ouviaalgoe continuavaandando.Falei
com um rapaz altoe forte,que me disse que estavaesperando há50 min(issofoi naprimeira
hora que fiquei lá) semsequerpassarpelatriagem.Comojásabiaemque pé estavaládentro,
cogitavair embora.Perguntei-lhe qual eraseuproblema.Ele me disse que estavase sentindo
meiomal,masque morava perto.Passaram-se 10 mine nãoo vi mais.
Perguntei àrecepcionistaquantosmédicosestavamatendendo.Elame disse nãotercerteza,
mas depoisde algunsminutosme disse que normalmente apareciamunstrês,sópara a área
comum(ou seja,oatendimentotradicional). Vimsaberque doladodireitoficamassalasde
internaçãoe outro tipode atendimento(até olugaronde armazenamoscorposde gente que
vema falecer),masessaáreaé fechadaao públicocomum.Pergunteipelosnomesdos
médicos,eladisse nãosaber.
A senhoracomblusaagora esperavanocorredor.De repente,elaapareceunumacadeirade
rodas para pessoasidosasreclamandodadora pontode jogaro corpo todo na cadeira.Um
garoto falavapara elaque eladeviase controlar.Que se continuasse fazendochiliquesiria
piorartudo.Eu notavaque elanão sabiamuitobemo que estavafazendo.Ouseja,sentia
mesmobastante dor,que iae voltava,semelaconseguircontrolarasreaçõesmuitobem.
Voltei àssalasde triagempara verse o meunome erachamado.Já haviamse passado1h30
desde que euchegarae nadasequerde triagem.Vejam, atriagemeraapenasa fase inicial.
Depoishaveriaoatendimentopropriamente ditoe otratamento.Oatendente jovem –o
mesmoque atendeuasenhorade blusaamarela – começoua chamar umrapaz chamado
Elton.Daí ele começouabrincar chamando-ode EltonJohn.Passadosalgunsminutos,
continuavachamando-o,emmeioaoutrosnomes,de JohnLennon,comose estivesse
brincandocom algoque só ele achavagraça.
As pessoascontinuavamchegandoe se avolumavamemtodososambientes,menosna
entrada,afinal asatendentesdosguichêstrabalhavambemrápido.Meunome nãoera
chamado,entãovoltei aocorredoronde estavamosconsultórios.Nuncavi maisdoque 2
médicos – diziamque eramtrês –, e as pessoascomeçavamase acotovelaremfrente às
poucasportas abertas.Sentei pertode doissenhores.Umdelesacompanhavaooutro,que
pareciaestar– segundooamigo – com suspeitade dengue.
Conversei comoamigoe ele,que moraali perto,me disse que oAntenanãocostuma sertão
lotado.Que,segundoele,aepidemiade dengue temcausadotudoisso.Euhaviaconversado
com outras pessoas,realmente,e elasme disseramque naregiãonãohaviapassadonenhum
controle epidemiológicode respeito.Mas ele tambémme disse que em2008 haviaficado
internadonolocal por 15 diase que viamuitaspessoasentrandoe morrendosemserem
submetidasamuitoscuidados.Segundoele,algunscasoserammesmocrônicos,masoutros
ele desconfiavaque não.Nessaépoca, segundoele,oPronto-Socorronãoeraterceirizado,e,
apesardo que dissera,e aindana sua opinião,muitomelhordoque hoje.
Rimosbastante de históriasdavidae saí para verificarmaisalgunscasos.Houve umasenhora
que começoua passar mal,foi conduzidaaobanheirofemininode formaatabalhoadae
improvisada,saiuaparentemente beme continuouesperando.Houve umasenhorae filhaque
estavamcom suspeitade dengue e que permaneciam2horasesperandosemserem
atendidas.A filhame disseraque ali sóse é atendidofazendobarraco.Elamesmadisse que
uma vezsó conseguiuque aatendessemporque gritoue fezescândalo.Elaspermaneceram
maisalgumtempo,o suficiente paraa mãe dizerque ali aindanão haviampassado4 horas.
Perguntei oque eraisso. Ela me disse que umapessoaali era,tradicionalmente,atendidasó
após 4 horas de espera.
Eu precisavada listadosmédicosdolocal e o segurança me disse que poderiaencontra-lana
parte administrativa.Nãohavianinguémlá,e fucei oque estavaexposto.Haviaumalistade
médicos,que fotografei.Nãopude veraque essalistase referiaespecificamente,masparecia
sera listadodia.Os pacientesmaisgravesdeveriamsaberque tipode médicoatendiaaquele
dia,imaginei eu.Fui emboranovamente semser atendidoe tendovistoapenasduaspessoas
saindo,bemnocomeçode minhaentrada.Osoutrosperambulavamouesperavamsem
tempode espera.
UPA
A UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) AkiraTada,localizadanaEstrada do SãoFrancisco,
ficabemao ladodoponto de diversosônibusque percorremaregiãodoJardimMaria Rosa.A
vistaé magnífica,sendopossível admiraroShoppingTaboãoe o largoque foi construídopara
organizaro trânsitonaquelaárea.Aolonge,osedifíciosdoAprígioe outros,assimcomo
diversasconstruçõesinteressantes.Odiaestábembonito.
A construção,com térreoe subsolo,temumapequenaáreapara a entradade veículos.Do
meuladodireito,estáumasenhoracoma boca protegidae aparentemente enfraquecida.Um
funcionário,aoque parece dolocal,conversacomelae tentaajudá-la.Passandoapequena
guaritaà minhaesquerda,divisoumas15 pessoasdoladode fora do posto.Do meulado
esquerdo,umasenhorade relativaidade parece lamentaralgo,sendoconsoladaporparentes.
Não sei a que issose refere,nemousointerromper.Umagarota,parente da senhora,anota
algono celulare sorri de vezemquando,o que não combinacom a situação.Aoredor,
diversaspessoas,emcasaisouisoladas,que parecemesperarsempressa.Maso climanão
parece bom.Não há muitoclimapara humor.
Entro na UPA e vejoo salãoprincipal tomadode pessoas.Maisde 65 lugarestodosocupados.
Umas 15 ou 20 pessoasde pé.Do meuladoesquerdo,aofundo,umsegurançaguardandoo
acessopara o subsolodaconstrução. Aofundo,doladoesquerdo,oacessoa duas saletasque
é possível verfacilmente,onde estãoalgunsenfermeirosoumédicos,que se revezampara
chamar pessoasque se inscreveramparaseratendidas.À frente,umfuncionáriovestido
diferentemente,bastante corpulento,que deixaounãodeixaosinteressadospassaremalinha
imagináriaque divideospacientesdosconsultóriosespecíficos.
Percebo,semque ninguémme informe,que afilaparao cadastramentoparaser atendido
estáà minhadireita.Nessafila,7pessoaspara3 guichês.Perceboentãoque nãoháindicador
numéricode quemiráser chamadono salãoprincipal.Aschamadassãopor nome.Esperouns
5 ou 10 mine sou atendidonoguichê.A atendente,muitosimpática,pede omeuRGe o meu
cartão do SUS. Diz o que acontece comigo.Eurespondo.Elarecebe umcomunicadodizendo
que uma pessoa,que se identificacomo“funcionáriodoPoupaTempo”,querseratendidocom
preferência–ouseja,passandona frente dosoutros.Elari. Conversamosalgoarespeito. A
atendente verificaque pareçocansadoe me pede parair até uma determinadasalae que eu
peça para que me sejafeitotal e qual procedimento.
Vouaté lá,uma saletaquase naentradados consultóriospropriamenteditos,e láum
atendente bastante rigorosome perguntaalgoe outra atendente,jámenosrigorosa,mede
algunsdadosdo meucorpo.Sou bematendido,minhafichachegae souliberadoparaesperar.
Passei pelatriagem,portanto.
Não é possível guardaro rosto de toda aquelagente.Nãosei quemchegouantesoudepois.Os
semblantesdaspessoassãobastante variados,e até aquele momentonãoconsigodistinguir
alguémrealmenteemcondiçõesemergenciais.Sentonumacadeiradasprimeirasfilasno
grupopróximoaosguichêsde cadastro e às minhascostas doisrapazesconversamsobre
futebol –no caso, o cartão vermelhodadoaoLuís Fabiano.Rimosumpouco,quandochega a
esposade um delescomumbebê de colo.Disse elaque ogaroto foi diagnosticadocom
dengue,masque nãoaceitaramque ele fosse internadoaté averificaçãose ele tinha
determinadoquantidadede plaquetas.Segundoela,omédicolhe disseraque se ogaroto
apresentasse umoutronúmerode plaquetaseleseriainternado.Ogarotonãoaparentavaa
moléstiae osrapazesnão tiveramoutrasaída a não ser ir embora.Elaensaiouuma
reclamação,mas tambémnadadisse a mais.
Nosprimeiros50 minutosde espera,vi poucaspessoassendochamadaspelonome.Mas,de
repente,próximoàs13h, os atendentescomeçaramadizeronome de váriospacientes.Foi
assimque nosprimeiros60 minutosvi umas30 pessoas,maisoumenos,entrandonos
consultórios.Enquantoisso,passavaoJornal Hoje,que comentavaaepidemiade dengue no
Estado de São Paulo,a esperanospostosde saúde,asações dogovernopara proporcionar
maiorsegurançaa respeitoe asopiniõesde algunsmédicos.Umsenhorde 50 e poucosanos
liaO Estado de São Paulonomeulado direito.Puxei papocomele,que disseestaràquelahora
maisde 1h30 no posto,acompanhandoogenro,que chegarapor volta das 10h (eram13h
naquele momento).Segundoosenhor,ogenropareciaterdengue e estavasendoatendido
emalgumdos consultórios.
Fiquei maisumtemponaquele pontodoposto.Chegouumcasal:umagarota de 30 e poucos,
baixa,bonitae bastante mal,tentandose cobrir,quase chorandoe com doresgeneralizadas.O
marido,umrapaz alto e forte,conversoucomigo.Segundoele,tantoele quantoelapareciam
estarcom dengue.Segundoele,elaestavacom40º de febre.Ele pediralicençadoserviçopara
ir ao postocom ela.Perguntei se elaprecisavade algumacoisa.Elanegou.Elesficaram
esperandomaisuns40 minutosaté que elade repente foi atendida.Alguémsoube –ou sabia
– que elaprecisavaseratendidaurgentemente e aconduziuládentro.Enquantoisso, osenhor
do jornal esperava.
Aospoucos,passei a notarque haviapessoasali que estavambempioresque amédia.Essas
pessoaseram,aospoucos,atendidaspreferencialmentee saíamda sala principal.Mas
algumasficavamtambém,se lamentandode algumador oupelomenosdescansando.Tirei
algumasfotos.A sala chegava,emdeterminadosmomentos,aficarcompletamenteapinhada
de gente,muitasde pé,orientadasaosconsultórios.Emoutrosmomentos,asalaesvaziavaum
pouco,mas emmomentoalgumas cadeirasdesocupavamoupessoasdeixavamde ficarem
pé.Ao contrário,tornou-se comumque pessoassentadasdessemlugarapessoasmaisidosas.
Em uma ocasiãoemespecial,umfuncionáriopediuàspessoasque estavamacompanhando
algumpaciente que cedessemumlugar a uma paciente empiorestadode saúde oumais
idosa.
Saí desse pontodoposto e dirigi-me novamenteàscadeiraspróximasaosguichêsde cadastro.
Chegouentãoumrapaz de 30 e poucos anos,moreno,de compleiçãoforte mascomuma
posturaestranha.Reparei que ele pareciaterse machucadona pernaesquerda.A atendente –
outra,poishaviaocorridoa troca de plantão – pediuque ele se dirigisse aoutroguichê,oque
ele fezcomalgumadificuldade,poisprecisavamanterapernaesquerdaestendida.Preenchida
a ficha,ele sumiude minhavista.Reparei que elenãose sentianadabem.
Dei entãouma olhadanocorredor dosconsultórios.Eunãohaviasidochamado ainda,e
estavajá melhordoque eudiziasentir.Reparei que haviasomente umaportaabertanaquela
direção– emborahouvesse maismovimentolánofundodocorredor – e perguntei auma
pessoaque haviaentradoquantosmédicoselahaviavistoatendendoaspessoas.Eladisse que
viraapenasum médico(umamédica).Emachei estranhoe,quandosaiuumapessoalá de
dentro,perguntei amesmacoisa.A paciente disse que viraumamédica,masque haviaoutras
no subsolo.Perguntei entãoaosegurançaquantosmédicosestavamatendendo.Ele me disse
que pelamanhãhaviamaparecidonoposto quatromédicos.Vi entãoduas médicas
entrando/saindodassaletasdosubsoloe concluíque pelomenostrêsmédicosestavam
atendendotodaaquelagente.
Haviamse passadomaisde 3h (naverdade,3he meia) quandosaído local.Encontrei a garota
dos 40º de febre e perguntei aelao que acontecera.Elame disse tersidoatendida,
diagnosticadacomdengue e que haviamlhe receitadoDipirona.Eladisse àmédicaque já
tomavaaquele remédio,masque issonãofezdiferença.A garotaestavasozinha(omaridoiria
continuarno posto) e revoltada.Disse que tinhade pegarofilhoemSãoPauloe que nãosabia
aonde teriade ir para resolveroseuproblema.Despedi-me e fui aopontode ônibus.
A caminhodopontoencontrei orapaz que haviase machucadona perna.Ele estavapróximo
ao muro doposto e esperavaalguém.Converseicomele,que me contouque caíra, emlinha
reta,de umaplataforma(nãomuitoalta) e que estavamachucadona pernae no tórax.
Mostrou-me asregiõesdaaxilae do peito,dasquaistirei umafotopara cada uma,e a perna.
Disse-me que,emboratenhasidoatendido,nãolhe foramtiradasradiografiasnemdado
nenhummedicamento.Ele disseque iriaaoutrohospital e que um amigoirialeva-loaté lá.
Realmente,chegouemseguidaumacaminhonete.Ele entrounobancode trás.
Haviamse passadoquatrohoras desde que euchegaraao posto.O posto,comose sabe,
deveriaserde prontoatendimento.Peloque pudever,nãoeranemuma coisanemoutra.
Peguei omesmoônibusdagarotacom suspeitade dengue e elaapenassorriuquandolhe
disse que iriacontar,dentre outras,essasua pequenahistória.
Pronto-SocorroInfantil
Chegoao Pronto-SocorroInfantildoPirajussaraàs13h e pouco.Ele fica localizadoaumas2
quadrasda Estrada KizaemonTakeuti,apóspassarporuma praça que nem praça parece,
saindodoponto doCircular4. Já de longe é possível perceberamovimentaçãonolocal,que
estáclaramente emreformas – para aberturaao públicode uma rampa de acessopara
deficientes(poisarampaestá pronta).Perguntose háalgumareformaa mais.Não me
confirmam.
O local – o Postode Saúde –na verdade é divididoemtrêslocais.Opronto-socorro
propriamente dito –e já apresentado –é o primeiro.Osegundoé osetor de emergências,à
esquerdadoprimeiro,nomesmoquarteirão,e oterceiroo Postode Saúde propriamente dito.
A primeiraaladoposto dolocal (ou seja,oPronto-SocorroInfantil) compõe-sede umasalade
cadastro e uma sala principal,emque principalmentemãesficamesperandosentadas(a
maioria) e muitasoutrascom crianças no coloou empé.Essas mãesesperamseremchamadas
emvoz altapor uma funcionária,que estánano fundodasala, ladeadaporum funcionário
fazendoasvezesde segurança.A sala é pequenaparatanta gente,que tambémesperaforado
prédio,narampa de acesso, e até mesmoabaixodela.
Essa salaprincipal compõe-se de umas40 cadeiras,totalmenteocupadas.Durante todoo
tempoemque pude acompanharo serviço,aspessoaspresentesnorecinto(inclusive
crianças) variaram de 60 a 80. O atendimentonocadastrogeralmente erarápido,embora
houvesse ocasiõesemque apenasumaatendente trabalhavae outraficavafalandoaocelular,
quase despreocupada.Nuncaficavammenospessoasdoque assentadasmaisumas10.
Não tendocriançapara ser cadastrada,coube-me acompanharotrabalhoverificandoque
muitasvezesmãescomcrianças de coloficavamempé,mesmoquandonão havianenhuma
pessoaque pudesse lhe darolugar.Não podendoverificarquemhaviarealmente chegado
primeiro–todas as pessoasestavamdistribuídasnasalade formaconfusa–, pude confirmar
que haviamãeshá 2 horas esperandoparaseremchamadaspelaprimeiravez(nãohavia
distinçãode triageme efetivoatendimento),enquantooutrashaviamchegadohá“apenas”30
minutos(porenquanto).Ninguémreclamava.
Perguntei aalgumasmãesse já haviamsidoatendidasnolocal.Umadisse teraparecidopela
manhã,mas desistidopelonúmerode pessoas –aindamaior doque o apresentado.Outra
disse que foraatendidaduasoutrês vezesnolocal,sempre depoisde 2ou 3 horas de espera.
Perguntei se sabiamquantosmédicosnormalmenteatendiamnopronto-socorro,e todasme
disseram:quase sempre,três.Verifiquei que olocal de atendimentotinhatrêssaletas,e que
cada uma comportavaum médico(nocaso,duas médicase um médico).Ouseja,mesmose
houvesse maismédicos,elesnãoteriamonde atender(oumaismédicosatenderiamem
apenasuma sala).Nãohavialistacom o númeroe nome dosmédicosemplantãoou
atendendo.
O segundolocal dopostoera o de emergência.Nãotendo desculpaparaentrar– não tinha
criança com situaçãode risco –, decidi nãoarriscar. Mas o local já inspiravacuidadoe certa
restrição:com rebocoà mostra,simplórioe sócom um segurançana portaria.
O Postode Saúde propriamente ditoficaàesquerda de amboslocais.Cominstalaçõesbem
maiores,àsquaisé precisoacederporuma pequenaescada,oPostode Saúde possui umasala
de cadastro bemna entrada,à direita,e algumassalas(Enfermaria,Vacinae Laboratório) logo
à esquerda.Adentrandooedifício,aparecem9consultórios,distribuídosàdireitae à
esquerda.Asplaquetasdosconsultórios:“Ginecologia”,“VigilânciaEpidemiológica”,“Agentes
Comunitáriosde Saúde”,4,6, 7 “AgendamentoEspecializado”,8,9 e 10.
Esperamno local umas25 pessoas, dentre mulheres,criançase homens.Me sentoentre as
alasde consultórios.Vejoentrandoe saindode umasalaà minhaesquerdaumamédicae um
auxiliar.Vejo,de vezemquando,outromédico,agoraà minhadireita.Ascriançasnão
parecemestranharnemlamentara demora,que parece sermenordoque no Pronto-Socorro
(neste posto,asconsultassãomarcadas).
Numdeterminadomomento,sai umamoçada sala da médicacomo auxiliarportersido
medicada.Pede orientaçãoaum dosdoisauxiliaresde atendimentoque vãoparalá e para cá,
tentandoresolvercasospontuais.Ele atende e resolve.Chegaumsenhorde idade,negro,
capengando.Senta-se numbancodocorredore espera.Nãofalacomninguéme ninguémfala
com ele.Enquantoficoolhandoamovimentação,oque durouporvoltade uma hora, noto
que uma senhoracomcriança de coloesperae não é atendida.
O atendimentodospacientesvariabastante.À minhaesquerda,algumaspessoasentramnos
consultórios,masenquantoficonolocal nãovejonenhumapessoasairapósoatendimento.À
minhadireita,chegaumasenhoracom umgaroto emcadeirade rodas.A aparente mãe
conversacom alguém,umaportade consultóriose abre,amãe e a criança entrame saem
algunsminutosdepois,aparentemente satisfeitos.Umhomemde 30 anosmaisou menos
esperacontrariadopormais de meiahora,mas a namorada sai do atendimentoe elessaem
aparentementesatisfeitos.
Chegaum dosauxiliarese sentaaomeulado,esperandoparaverificarse háalguémnasala ao
lado.Perguntoa ele quantos médicosestãoatendendo.Ele me diz:“dois,masumtá indo
embora”.Perguntose é sempre assim, comtanta criança.Não, ele me diz.“Hoje é diada
pediatria,porissotemtantacriança. Elas demorammaisna consulta,porissoa demora”.
Assinto.Faloparaele quantosmédicosatendem, emmédia,pordia.Ele diz,literalmente:
“Dois,normalmente.Àsvezes,um.Outrasvezes,nenhum”.Surpreendo-me comaúltima
afirmação.Digo:“Mas como pode?”Ele diz,meiocontrariado:“Podendo”.Emseguida,
completa:“Médico fazo que quer”.Não conversamosmais.Ele abre a portado consultórioe
vai resolverseusafazeres.
Vouao atendimentoparavera escalade médicosnolocal.Esperoum poucona filae verifico
que a escalade médicosestácoladana parede doatendimento. São6 especialidadesmais
clínica geral.Contoosmédicos,uma um, e chegoa 16. Osatendimentossãoemdiasvariados.
Para terça-feira,odiaemque compareçono local,há trêsmédicos,de váriasespecialidades.
Desistode seratendido.
VoltoaoPronto-Socorroe algumaspessoasque esperavamnãoestãomais.Outras
permanecemali,inclusive umsenhorcomquemconverseique trouxe afilhadairmãdo
cunhado.Sorridente,ele nãoreclamava,apesarde estarmaisde 1h30 com uma outra criança
no colo.Aquelagarotaque disseraestarhá “apenas30 min”continuavanomesmolugar
esperandoserchamada.Impaciente massemtraçosde revolta.Nãoera possível saber
quantaspessoashaviamsidorealmenteatendidase liberadas,ouse haviamsimplesmenteido
embora.Prevaleciaomesmoclimade atendimentosemprevisãodosoutrosprontos-socorros
visitadosnasemanaanterior.Terminadaatarefa,fui embora.

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  • 1. ReportagemEspecial: A Saúde nosProntos-Socorros de Taboão Por PlínioMarcos Qual é o estadodoatendimentoàSaúde nomunicípiode Taboãoda Serra hoje?Para tentar responderaessapergunta,o jornal “Hoje emNotícias”passoutrês diasacompanhandoo tratamentooferecidoàpopulaçãoemtrêsProntos-Socorrosque atendemamunicipalidade e que estãosendogeridospelaSPDM(AssociaçãoPaulistaparao DesenvolvimentodaMedicina) desde abril de 2013: o Pronto-Socorroe Maternidade Antena,aUPA AkiraTada e o Pronto- Socorro Infantil e Postode Saúde doPirajussara. O resultado,oleitorpoderáconferirnosrelatosaseguir.NoAntena,trêsmédicosatendiam pacientesque superavamacasa de maisde 110 emperíodosde esperaque superavamas3h (a reportagemficou2h30 para ser atendidanatriageme não conseguiu).Pessoasque chegavamcom doreseramatendidasmaisrapidamente,massemconfirmaçãode atendimentofinal (continuavamnoscorredores).Pessoasbrincavamdizendoque somente após 4h poderiamesperarseratendidas.Haviaqueixasde pessoassendopassadasnafrente das outras,e brincadeirascomonome de pacientesforamvistasinloco.NoUPA AkiraTada, para algunscasos a triagemera realizadarapidamente,masaspessoasesperavammaisde 3h sematendimento.NesseUPA,casosatendidosrapidamenteeramliberadossemtratamento adequado(umbebê comsuspeitade dengue foi liberadoparaacompanhamentode plaquetas; uma moça com maisde 40º C de febre recebeuindicaçãode Dipirona,que elajátomava;e um acidentadoemtrabalhofoi liberadosemefetuarraios-Xe deixadoaoDeusdará) e muitas pessoasficavamàesperapara atendimentosemprevisãosequerde passarnatriagem.Nesse UPA,foi confirmadaa presençade trêsmédicos,massó divisadaumamédica. JánoPronto- Socorro Infantil doPirajussara,maisde 60 pacientesesperavammaisde 2hna fila,antes mesmoda triagem,paraatendimentoportrêsmédicosnumpronto-socorrocomapenastrês saletaspara isso.NoPostode Saúde do mesmolocal,maisde 30 pessoas(crianças,mulherese homens) esperavammaisde 2hpara tentarser atendidasporapenasdoismédicos,numdia de Pediatria.Auxiliardolocal confirmou:àsvezes,haviadoismédicos,outrasvezesapenas um,e às vezestambémnenhum.Comoissopodia acontecer?“Podendo”,suaresposta.Vejaa seguira reportagem. Antena Peguei oônibus459 na BR-116, bastante lotado,e cheguei aoPronto-Socorroe Maternidade do Antena,maisconhecidocomoAntena,uns30 minutosdepois.A construção,térreae de grandes proporções,temumaformabastante confusa.A entrada é ladeadapor bancosde concretoem que algumaspessoasesperam, e apassagemé forçadapor fitasde demarcação emuma só direção. A entradaprincipal constacomfileirasde cadeirasde alumínio,somandouns20lugares.São duas atendentese paraser atendidoé necessáriopegarumasenha,que é indicadaporum luminoso.Ali chegando,vejomenosde 10pessoasesperandoasua vez,que nãodemora muito.Há na esperadesde jovenscansadosaté senhorasaparentemente semproblemasou idosas/osque chegambastante debilitadas/os.Sento-meparavercomo funciona.Apóspegar minhasenha,chegauma senhorabaixa,vestidacomblusaamarela,que nãosabe como funciona.Digoa elaque precisapegarsenha,maselanão quer,e diz para que eulhe pegue. Eu pegopara ela,que é atendidarapidamente,masdepoisde mim.
  • 2. A próximasalaé a da triagem.Sãoduassaletascom enfermeiros/aschamando,umaauma, as pessoas.Esperamnessasalamaisde 30 pessoas,sentadase empé.Há de tudo um pouco. Desde homenscorpulentosdizendoque estãose sentindomal até pessoasmachucadaspor quedas,porexemplo,e idososquietose cansados.Ninguémreclama. Avançono corredore chegoa outra sala,agora não de triagem, comcadeiraspara maisuns 30 lugarese bastante gente empé.Nãohá ordemaparente nestasala,que é ladeadapor um corredorcom gente dispersapeloscantos,emfrente a8 portaspara consulta.Ali,maisumas 30 pessoasesperando.Vejoduasdessasportasde consultacommédicosatendendo. Do ladoesquerdodocorredor,aparecemvidrosque mostramumagrande sala emque diversospacientesrecebeminalação.Sãoporvoltade 10 a 15 lugares,empoltronas confortáveis.Quandovejo,umas7pessoasrecebeminalação.Olugarparece umaquário que divide quemjárecebe algumaatençãode quemnadaparece esperarde concretoao menos nas próximashoras. Voltoà salade triageme espero.Enquantoespero,cheganovamente aquelasenhoradablusa amarela,gritandode dor.As pessoasficam incomodadasemverador da senhora,e passam algunsminutosparaque um dosmédicosdassalas de triagempeçaa outrapessoado posto que faça algumacoisa.O atendente lhe perguntaalgo,comcertotombonachão,e ela aparentementese recupera.Éconduzidaàsala de esperapropriamente dita.Masnãoparece muitomelhor. De repente,aparece umaoutrasenhoraaosgritosreclamandoque a atendente doguichê da primeirasalatema intençãode privilegiarumafuncionáriadaSkyque apareceunoposto.A senhorapercorre a salaexternae internaváriasvezes,reclamando,até postar-se àentradada filade triagempara acompanharo atendimentoaseufilho.A senhoraacusaincisivamentea atendente,que se fazde desentendida.Conversocomasenhoralogodepois,e elame dizque impediuoprivilégio,que estavaacompanhandode perto.A atendente nãonegouoque acontecera. As pessoascontinuavamchegando,oatendimentonosguichêsseguiae aspessoas avolumavam-secadavezmais.Um senhoridoso,comvestimentade paciente,andavapor cada um dos corredorescomolharmortiçoaparentemente atrásde algoque nãoencontrava. Aproximava-se de umenfermeiro,nãofalavanada,ouviaalgoe continuavaandando.Falei com um rapaz altoe forte,que me disse que estavaesperando há50 min(issofoi naprimeira hora que fiquei lá) semsequerpassarpelatriagem.Comojásabiaemque pé estavaládentro, cogitavair embora.Perguntei-lhe qual eraseuproblema.Ele me disse que estavase sentindo meiomal,masque morava perto.Passaram-se 10 mine nãoo vi mais. Perguntei àrecepcionistaquantosmédicosestavamatendendo.Elame disse nãotercerteza, mas depoisde algunsminutosme disse que normalmente apareciamunstrês,sópara a área comum(ou seja,oatendimentotradicional). Vimsaberque doladodireitoficamassalasde internaçãoe outro tipode atendimento(até olugaronde armazenamoscorposde gente que vema falecer),masessaáreaé fechadaao públicocomum.Pergunteipelosnomesdos médicos,eladisse nãosaber. A senhoracomblusaagora esperavanocorredor.De repente,elaapareceunumacadeirade rodas para pessoasidosasreclamandodadora pontode jogaro corpo todo na cadeira.Um garoto falavapara elaque eladeviase controlar.Que se continuasse fazendochiliquesiria
  • 3. piorartudo.Eu notavaque elanão sabiamuitobemo que estavafazendo.Ouseja,sentia mesmobastante dor,que iae voltava,semelaconseguircontrolarasreaçõesmuitobem. Voltei àssalasde triagempara verse o meunome erachamado.Já haviamse passado1h30 desde que euchegarae nadasequerde triagem.Vejam, atriagemeraapenasa fase inicial. Depoishaveriaoatendimentopropriamente ditoe otratamento.Oatendente jovem –o mesmoque atendeuasenhorade blusaamarela – começoua chamar umrapaz chamado Elton.Daí ele começouabrincar chamando-ode EltonJohn.Passadosalgunsminutos, continuavachamando-o,emmeioaoutrosnomes,de JohnLennon,comose estivesse brincandocom algoque só ele achavagraça. As pessoascontinuavamchegandoe se avolumavamemtodososambientes,menosna entrada,afinal asatendentesdosguichêstrabalhavambemrápido.Meunome nãoera chamado,entãovoltei aocorredoronde estavamosconsultórios.Nuncavi maisdoque 2 médicos – diziamque eramtrês –, e as pessoascomeçavamase acotovelaremfrente às poucasportas abertas.Sentei pertode doissenhores.Umdelesacompanhavaooutro,que pareciaestar– segundooamigo – com suspeitade dengue. Conversei comoamigoe ele,que moraali perto,me disse que oAntenanãocostuma sertão lotado.Que,segundoele,aepidemiade dengue temcausadotudoisso.Euhaviaconversado com outras pessoas,realmente,e elasme disseramque naregiãonãohaviapassadonenhum controle epidemiológicode respeito.Mas ele tambémme disse que em2008 haviaficado internadonolocal por 15 diase que viamuitaspessoasentrandoe morrendosemserem submetidasamuitoscuidados.Segundoele,algunscasoserammesmocrônicos,masoutros ele desconfiavaque não.Nessaépoca, segundoele,oPronto-Socorronãoeraterceirizado,e, apesardo que dissera,e aindana sua opinião,muitomelhordoque hoje. Rimosbastante de históriasdavidae saí para verificarmaisalgunscasos.Houve umasenhora que começoua passar mal,foi conduzidaaobanheirofemininode formaatabalhoadae improvisada,saiuaparentemente beme continuouesperando.Houve umasenhorae filhaque estavamcom suspeitade dengue e que permaneciam2horasesperandosemserem atendidas.A filhame disseraque ali sóse é atendidofazendobarraco.Elamesmadisse que uma vezsó conseguiuque aatendessemporque gritoue fezescândalo.Elaspermaneceram maisalgumtempo,o suficiente paraa mãe dizerque ali aindanão haviampassado4 horas. Perguntei oque eraisso. Ela me disse que umapessoaali era,tradicionalmente,atendidasó após 4 horas de espera. Eu precisavada listadosmédicosdolocal e o segurança me disse que poderiaencontra-lana parte administrativa.Nãohavianinguémlá,e fucei oque estavaexposto.Haviaumalistade médicos,que fotografei.Nãopude veraque essalistase referiaespecificamente,masparecia sera listadodia.Os pacientesmaisgravesdeveriamsaberque tipode médicoatendiaaquele dia,imaginei eu.Fui emboranovamente semser atendidoe tendovistoapenasduaspessoas saindo,bemnocomeçode minhaentrada.Osoutrosperambulavamouesperavamsem tempode espera. UPA A UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) AkiraTada,localizadanaEstrada do SãoFrancisco, ficabemao ladodoponto de diversosônibusque percorremaregiãodoJardimMaria Rosa.A vistaé magnífica,sendopossível admiraroShoppingTaboãoe o largoque foi construídopara
  • 4. organizaro trânsitonaquelaárea.Aolonge,osedifíciosdoAprígioe outros,assimcomo diversasconstruçõesinteressantes.Odiaestábembonito. A construção,com térreoe subsolo,temumapequenaáreapara a entradade veículos.Do meuladodireito,estáumasenhoracoma boca protegidae aparentemente enfraquecida.Um funcionário,aoque parece dolocal,conversacomelae tentaajudá-la.Passandoapequena guaritaà minhaesquerda,divisoumas15 pessoasdoladode fora do posto.Do meulado esquerdo,umasenhorade relativaidade parece lamentaralgo,sendoconsoladaporparentes. Não sei a que issose refere,nemousointerromper.Umagarota,parente da senhora,anota algono celulare sorri de vezemquando,o que não combinacom a situação.Aoredor, diversaspessoas,emcasaisouisoladas,que parecemesperarsempressa.Maso climanão parece bom.Não há muitoclimapara humor. Entro na UPA e vejoo salãoprincipal tomadode pessoas.Maisde 65 lugarestodosocupados. Umas 15 ou 20 pessoasde pé.Do meuladoesquerdo,aofundo,umsegurançaguardandoo acessopara o subsolodaconstrução. Aofundo,doladoesquerdo,oacessoa duas saletasque é possível verfacilmente,onde estãoalgunsenfermeirosoumédicos,que se revezampara chamar pessoasque se inscreveramparaseratendidas.À frente,umfuncionáriovestido diferentemente,bastante corpulento,que deixaounãodeixaosinteressadospassaremalinha imagináriaque divideospacientesdosconsultóriosespecíficos. Percebo,semque ninguémme informe,que afilaparao cadastramentoparaser atendido estáà minhadireita.Nessafila,7pessoaspara3 guichês.Perceboentãoque nãoháindicador numéricode quemiráser chamadono salãoprincipal.Aschamadassãopor nome.Esperouns 5 ou 10 mine sou atendidonoguichê.A atendente,muitosimpática,pede omeuRGe o meu cartão do SUS. Diz o que acontece comigo.Eurespondo.Elarecebe umcomunicadodizendo que uma pessoa,que se identificacomo“funcionáriodoPoupaTempo”,querseratendidocom preferência–ouseja,passandona frente dosoutros.Elari. Conversamosalgoarespeito. A atendente verificaque pareçocansadoe me pede parair até uma determinadasalae que eu peça para que me sejafeitotal e qual procedimento. Vouaté lá,uma saletaquase naentradados consultóriospropriamenteditos,e láum atendente bastante rigorosome perguntaalgoe outra atendente,jámenosrigorosa,mede algunsdadosdo meucorpo.Sou bematendido,minhafichachegae souliberadoparaesperar. Passei pelatriagem,portanto. Não é possível guardaro rosto de toda aquelagente.Nãosei quemchegouantesoudepois.Os semblantesdaspessoassãobastante variados,e até aquele momentonãoconsigodistinguir alguémrealmenteemcondiçõesemergenciais.Sentonumacadeiradasprimeirasfilasno grupopróximoaosguichêsde cadastro e às minhascostas doisrapazesconversamsobre futebol –no caso, o cartão vermelhodadoaoLuís Fabiano.Rimosumpouco,quandochega a esposade um delescomumbebê de colo.Disse elaque ogaroto foi diagnosticadocom dengue,masque nãoaceitaramque ele fosse internadoaté averificaçãose ele tinha determinadoquantidadede plaquetas.Segundoela,omédicolhe disseraque se ogaroto apresentasse umoutronúmerode plaquetaseleseriainternado.Ogarotonãoaparentavaa moléstiae osrapazesnão tiveramoutrasaída a não ser ir embora.Elaensaiouuma reclamação,mas tambémnadadisse a mais. Nosprimeiros50 minutosde espera,vi poucaspessoassendochamadaspelonome.Mas,de repente,próximoàs13h, os atendentescomeçaramadizeronome de váriospacientes.Foi assimque nosprimeiros60 minutosvi umas30 pessoas,maisoumenos,entrandonos
  • 5. consultórios.Enquantoisso,passavaoJornal Hoje,que comentavaaepidemiade dengue no Estado de São Paulo,a esperanospostosde saúde,asações dogovernopara proporcionar maiorsegurançaa respeitoe asopiniõesde algunsmédicos.Umsenhorde 50 e poucosanos liaO Estado de São Paulonomeulado direito.Puxei papocomele,que disseestaràquelahora maisde 1h30 no posto,acompanhandoogenro,que chegarapor volta das 10h (eram13h naquele momento).Segundoosenhor,ogenropareciaterdengue e estavasendoatendido emalgumdos consultórios. Fiquei maisumtemponaquele pontodoposto.Chegouumcasal:umagarota de 30 e poucos, baixa,bonitae bastante mal,tentandose cobrir,quase chorandoe com doresgeneralizadas.O marido,umrapaz alto e forte,conversoucomigo.Segundoele,tantoele quantoelapareciam estarcom dengue.Segundoele,elaestavacom40º de febre.Ele pediralicençadoserviçopara ir ao postocom ela.Perguntei se elaprecisavade algumacoisa.Elanegou.Elesficaram esperandomaisuns40 minutosaté que elade repente foi atendida.Alguémsoube –ou sabia – que elaprecisavaseratendidaurgentemente e aconduziuládentro.Enquantoisso, osenhor do jornal esperava. Aospoucos,passei a notarque haviapessoasali que estavambempioresque amédia.Essas pessoaseram,aospoucos,atendidaspreferencialmentee saíamda sala principal.Mas algumasficavamtambém,se lamentandode algumador oupelomenosdescansando.Tirei algumasfotos.A sala chegava,emdeterminadosmomentos,aficarcompletamenteapinhada de gente,muitasde pé,orientadasaosconsultórios.Emoutrosmomentos,asalaesvaziavaum pouco,mas emmomentoalgumas cadeirasdesocupavamoupessoasdeixavamde ficarem pé.Ao contrário,tornou-se comumque pessoassentadasdessemlugarapessoasmaisidosas. Em uma ocasiãoemespecial,umfuncionáriopediuàspessoasque estavamacompanhando algumpaciente que cedessemumlugar a uma paciente empiorestadode saúde oumais idosa. Saí desse pontodoposto e dirigi-me novamenteàscadeiraspróximasaosguichêsde cadastro. Chegouentãoumrapaz de 30 e poucos anos,moreno,de compleiçãoforte mascomuma posturaestranha.Reparei que ele pareciaterse machucadona pernaesquerda.A atendente – outra,poishaviaocorridoa troca de plantão – pediuque ele se dirigisse aoutroguichê,oque ele fezcomalgumadificuldade,poisprecisavamanterapernaesquerdaestendida.Preenchida a ficha,ele sumiude minhavista.Reparei que elenãose sentianadabem. Dei entãouma olhadanocorredor dosconsultórios.Eunãohaviasidochamado ainda,e estavajá melhordoque eudiziasentir.Reparei que haviasomente umaportaabertanaquela direção– emborahouvesse maismovimentolánofundodocorredor – e perguntei auma pessoaque haviaentradoquantosmédicoselahaviavistoatendendoaspessoas.Eladisse que viraapenasum médico(umamédica).Emachei estranhoe,quandosaiuumapessoalá de dentro,perguntei amesmacoisa.A paciente disse que viraumamédica,masque haviaoutras no subsolo.Perguntei entãoaosegurançaquantosmédicosestavamatendendo.Ele me disse que pelamanhãhaviamaparecidonoposto quatromédicos.Vi entãoduas médicas entrando/saindodassaletasdosubsoloe concluíque pelomenostrêsmédicosestavam atendendotodaaquelagente. Haviamse passadomaisde 3h (naverdade,3he meia) quandosaído local.Encontrei a garota dos 40º de febre e perguntei aelao que acontecera.Elame disse tersidoatendida, diagnosticadacomdengue e que haviamlhe receitadoDipirona.Eladisse àmédicaque já tomavaaquele remédio,masque issonãofezdiferença.A garotaestavasozinha(omaridoiria
  • 6. continuarno posto) e revoltada.Disse que tinhade pegarofilhoemSãoPauloe que nãosabia aonde teriade ir para resolveroseuproblema.Despedi-me e fui aopontode ônibus. A caminhodopontoencontrei orapaz que haviase machucadona perna.Ele estavapróximo ao muro doposto e esperavaalguém.Converseicomele,que me contouque caíra, emlinha reta,de umaplataforma(nãomuitoalta) e que estavamachucadona pernae no tórax. Mostrou-me asregiõesdaaxilae do peito,dasquaistirei umafotopara cada uma,e a perna. Disse-me que,emboratenhasidoatendido,nãolhe foramtiradasradiografiasnemdado nenhummedicamento.Ele disseque iriaaoutrohospital e que um amigoirialeva-loaté lá. Realmente,chegouemseguidaumacaminhonete.Ele entrounobancode trás. Haviamse passadoquatrohoras desde que euchegaraao posto.O posto,comose sabe, deveriaserde prontoatendimento.Peloque pudever,nãoeranemuma coisanemoutra. Peguei omesmoônibusdagarotacom suspeitade dengue e elaapenassorriuquandolhe disse que iriacontar,dentre outras,essasua pequenahistória. Pronto-SocorroInfantil Chegoao Pronto-SocorroInfantildoPirajussaraàs13h e pouco.Ele fica localizadoaumas2 quadrasda Estrada KizaemonTakeuti,apóspassarporuma praça que nem praça parece, saindodoponto doCircular4. Já de longe é possível perceberamovimentaçãonolocal,que estáclaramente emreformas – para aberturaao públicode uma rampa de acessopara deficientes(poisarampaestá pronta).Perguntose háalgumareformaa mais.Não me confirmam. O local – o Postode Saúde –na verdade é divididoemtrêslocais.Opronto-socorro propriamente dito –e já apresentado –é o primeiro.Osegundoé osetor de emergências,à esquerdadoprimeiro,nomesmoquarteirão,e oterceiroo Postode Saúde propriamente dito. A primeiraaladoposto dolocal (ou seja,oPronto-SocorroInfantil) compõe-sede umasalade cadastro e uma sala principal,emque principalmentemãesficamesperandosentadas(a maioria) e muitasoutrascom crianças no coloou empé.Essas mãesesperamseremchamadas emvoz altapor uma funcionária,que estánano fundodasala, ladeadaporum funcionário fazendoasvezesde segurança.A sala é pequenaparatanta gente,que tambémesperaforado prédio,narampa de acesso, e até mesmoabaixodela. Essa salaprincipal compõe-se de umas40 cadeiras,totalmenteocupadas.Durante todoo tempoemque pude acompanharo serviço,aspessoaspresentesnorecinto(inclusive crianças) variaram de 60 a 80. O atendimentonocadastrogeralmente erarápido,embora houvesse ocasiõesemque apenasumaatendente trabalhavae outraficavafalandoaocelular, quase despreocupada.Nuncaficavammenospessoasdoque assentadasmaisumas10. Não tendocriançapara ser cadastrada,coube-me acompanharotrabalhoverificandoque muitasvezesmãescomcrianças de coloficavamempé,mesmoquandonão havianenhuma pessoaque pudesse lhe darolugar.Não podendoverificarquemhaviarealmente chegado primeiro–todas as pessoasestavamdistribuídasnasalade formaconfusa–, pude confirmar que haviamãeshá 2 horas esperandoparaseremchamadaspelaprimeiravez(nãohavia distinçãode triageme efetivoatendimento),enquantooutrashaviamchegadohá“apenas”30 minutos(porenquanto).Ninguémreclamava. Perguntei aalgumasmãesse já haviamsidoatendidasnolocal.Umadisse teraparecidopela manhã,mas desistidopelonúmerode pessoas –aindamaior doque o apresentado.Outra
  • 7. disse que foraatendidaduasoutrês vezesnolocal,sempre depoisde 2ou 3 horas de espera. Perguntei se sabiamquantosmédicosnormalmenteatendiamnopronto-socorro,e todasme disseram:quase sempre,três.Verifiquei que olocal de atendimentotinhatrêssaletas,e que cada uma comportavaum médico(nocaso,duas médicase um médico).Ouseja,mesmose houvesse maismédicos,elesnãoteriamonde atender(oumaismédicosatenderiamem apenasuma sala).Nãohavialistacom o númeroe nome dosmédicosemplantãoou atendendo. O segundolocal dopostoera o de emergência.Nãotendo desculpaparaentrar– não tinha criança com situaçãode risco –, decidi nãoarriscar. Mas o local já inspiravacuidadoe certa restrição:com rebocoà mostra,simplórioe sócom um segurançana portaria. O Postode Saúde propriamente ditoficaàesquerda de amboslocais.Cominstalaçõesbem maiores,àsquaisé precisoacederporuma pequenaescada,oPostode Saúde possui umasala de cadastro bemna entrada,à direita,e algumassalas(Enfermaria,Vacinae Laboratório) logo à esquerda.Adentrandooedifício,aparecem9consultórios,distribuídosàdireitae à esquerda.Asplaquetasdosconsultórios:“Ginecologia”,“VigilânciaEpidemiológica”,“Agentes Comunitáriosde Saúde”,4,6, 7 “AgendamentoEspecializado”,8,9 e 10. Esperamno local umas25 pessoas, dentre mulheres,criançase homens.Me sentoentre as alasde consultórios.Vejoentrandoe saindode umasalaà minhaesquerdaumamédicae um auxiliar.Vejo,de vezemquando,outromédico,agoraà minhadireita.Ascriançasnão parecemestranharnemlamentara demora,que parece sermenordoque no Pronto-Socorro (neste posto,asconsultassãomarcadas). Numdeterminadomomento,sai umamoçada sala da médicacomo auxiliarportersido medicada.Pede orientaçãoaum dosdoisauxiliaresde atendimentoque vãoparalá e para cá, tentandoresolvercasospontuais.Ele atende e resolve.Chegaumsenhorde idade,negro, capengando.Senta-se numbancodocorredore espera.Nãofalacomninguéme ninguémfala com ele.Enquantoficoolhandoamovimentação,oque durouporvoltade uma hora, noto que uma senhoracomcriança de coloesperae não é atendida. O atendimentodospacientesvariabastante.À minhaesquerda,algumaspessoasentramnos consultórios,masenquantoficonolocal nãovejonenhumapessoasairapósoatendimento.À minhadireita,chegaumasenhoracom umgaroto emcadeirade rodas.A aparente mãe conversacom alguém,umaportade consultóriose abre,amãe e a criança entrame saem algunsminutosdepois,aparentemente satisfeitos.Umhomemde 30 anosmaisou menos esperacontrariadopormais de meiahora,mas a namorada sai do atendimentoe elessaem aparentementesatisfeitos. Chegaum dosauxiliarese sentaaomeulado,esperandoparaverificarse háalguémnasala ao lado.Perguntoa ele quantos médicosestãoatendendo.Ele me diz:“dois,masumtá indo embora”.Perguntose é sempre assim, comtanta criança.Não, ele me diz.“Hoje é diada pediatria,porissotemtantacriança. Elas demorammaisna consulta,porissoa demora”. Assinto.Faloparaele quantosmédicosatendem, emmédia,pordia.Ele diz,literalmente: “Dois,normalmente.Àsvezes,um.Outrasvezes,nenhum”.Surpreendo-me comaúltima afirmação.Digo:“Mas como pode?”Ele diz,meiocontrariado:“Podendo”.Emseguida, completa:“Médico fazo que quer”.Não conversamosmais.Ele abre a portado consultórioe vai resolverseusafazeres.
  • 8. Vouao atendimentoparavera escalade médicosnolocal.Esperoum poucona filae verifico que a escalade médicosestácoladana parede doatendimento. São6 especialidadesmais clínica geral.Contoosmédicos,uma um, e chegoa 16. Osatendimentossãoemdiasvariados. Para terça-feira,odiaemque compareçono local,há trêsmédicos,de váriasespecialidades. Desistode seratendido. VoltoaoPronto-Socorroe algumaspessoasque esperavamnãoestãomais.Outras permanecemali,inclusive umsenhorcomquemconverseique trouxe afilhadairmãdo cunhado.Sorridente,ele nãoreclamava,apesarde estarmaisde 1h30 com uma outra criança no colo.Aquelagarotaque disseraestarhá “apenas30 min”continuavanomesmolugar esperandoserchamada.Impaciente massemtraçosde revolta.Nãoera possível saber quantaspessoashaviamsidorealmenteatendidase liberadas,ouse haviamsimplesmenteido embora.Prevaleciaomesmoclimade atendimentosemprevisãodosoutrosprontos-socorros visitadosnasemanaanterior.Terminadaatarefa,fui embora.