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COZINHA ESQUIZOFÊMERA
UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
COZINHA ESQUIZOFÊMERA
UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
Medeiros, Roberto Carvalho Pedrosa
Cozinha Esquizofêmera - Uma Nova Maneira de Cuidar e Pensar a Loucura / Roberto Carvalho Pedrosa de Medeiros.
- 2017.
Orientador: Adriano Mattos Corrêa
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura e Design,
2017.
Arquitetura e Urbanismo CDD 720
M 488c
FICHA CATALOGRÁFICA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - ESCOLA DE ARQUITETURA E DESIGN
GRADUAÇÃO: ARQUITETURA E URBANISMO
ORIENTADOR: ADRIANO MATTOS CORRÊA
ROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROS
BELO HORIZONTE
DEZEMBRO | 2017
COZINHA ESQUIZOFÊMERA
UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
“… E ENTRE AS CORES, O QUEIJO, A PIMENTA, O AZEITE E O AZEDO ENCONTRO
COM O SALGADO, QUE ACOLHE O DOCE E QUE REFLORESCE: SIMPLICIDADE!
E NO DOURADO DESSA COZINHA ABERTA
QUE PREPARA A VIDA, QUE COZINHA TUDO, MENOS O TEMPO!”
AUTOR DESCONHECIDO
AGRADECIMENTOS
Gostaria nesse momento, antes de dar início ao conte-
údo desse livro, de ter a oportunidade de agradecer a
todos aqueles que contribuíram para a realização desse
trabalho. Foram inúmeras as pessoas que tornaram esse
projeto possível, cada uma compartilhando um pouco do
seu conhecimento, da sua vivência e da sua experiência.
Deixo aqui um agradecimento especial ao meu orientador
o Prof. Adriano Mattos Corrêa, por ter me guiado ao lon-
go de todo o projeto, desde o seu surgimento há quase
um ano e meio atrás. Agradeço também o Bruno Soriano
e a Marta Soares da Associação Suricato e o Felipe Ar-
thur, por terem me conduzido através dos meandros que
percorrem a saúde mental, uma área que foi aos pou-
cos sendo explorada e vivenciada. Meus agradecimentos
também à Karen Zacché, a Renata Corrêa e a Maíra Mo-
rais do Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário.
Aos meus pais, meu irmão, minha namorada, à Nala, aos
meus familiares, amigos e colegas da escola de arquite-
tura que estiveram ao meu lado durante todo o desenvol-
vimento do projeto e também da minha vida acadêmica.
Acredito que somente unindo esforços e compartilhando
saberes, histórias e experiências que conseguiremos co-
locar em prática os inúmeros projetos que estão sendo
elaborados, para tentar, de alguma forma, romper com
os muros que ainda cercam a loucura. Esse trabalho faz
parte de um conjunto de ações que procuram amenizar
o sofrimento vivido diariamente por aqueles que necessi-
tam de toda a nossa atenção, amor e respeito, para que
possam assim conquistar o seu lugar no mundo.
Muito obrigado a todos!
RESUMO - ABSTRACT
The “Cozinha Esquizofêmera” project aims to create a
collaborative, shared and open space in opposition to
the traditional method of aiding mental health sufferers in
Belo Horizonte. A multifunctional, ephemeral and itinerary
structure whose main support comes from the Anti-Asylum
Movement and the Solidarity Economy.
This project comes as a reflection and an experiment
for activation and occupation of the city’s public space,
uniting an open, shared and polyvalent kitchen with so-
cial, productive and economic reinsertion for users of the
mental health network in Belo Horizonte. A project that is
beyond walls, that looks to assist the different forms and
moments of mental health suffering in a dignified and hu-
mane manner; a respectful approach to the different ways
of being, seeing and perceiving the world.
O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” tem como finalida-
de a criação de um espaço colaborativo, compartilhado
e aberto que vem a se contrapor à tradicional forma de
assistência ao portador de sofrimento mental de Belo Ho-
rizonte. Uma estrutura efêmera, multifuncional e itinerante
que tem como sustentação principal o Movimento da Luta
Antimanicomial e a Economia Solidária.
O projeto surge como uma reflexão e uma experiência de
ativação e ocupação do espaço público da cidade, que
une uma cozinha compartilhada, aberta e polivalente com
a inserção social, produtiva e econômica dos usuários da
rede de saúde mental de Belo Horizonte. Um projeto ex-
tramuros, que busca atender de modo digno e humano
às diferentes formas e momentos em que o sofrimento
mental surge e se manifesta, uma postura de respeito aos
diferentes modos de ser, ver e perceber o mundo.
“PARA NAVEGAR CONTRA A CORRENTE SÃO NECESSÁRIAS CONDIÇÕES RARAS:
ESPÍRITO DE AVENTURA, CORAGEM, PERSEVERANÇA E PAIXÃO”
NISE DA SILVEIRA
CONTEÚDO
655 - COZINHAR E CONVIVER NO ESPAÇO PÚBLICO
474 - PILARES DO PROJETO
353 - OBJETIVOS DO PROJETO
232 - MOTIVAÇÃO
011 - APRESENTAÇÃO
18710 - LINKS IMPORTANTES, BIBLIOGRAFIA E LISTA DE IMAGENS
1819 - CONCLUSÃO
1358 - UMA COZINHA ESQUIZOFÊMERA
1057 - ESTRUTURAS DE REFERÊNCIA
756 - INSPIRAÇÕES
1 - APRESENTAÇÃO
“UMA COZINHA EM CRISE SIGNIFICA UMA CIVILIZAÇÃO INTEIRA EM PERIGO:
O PERIGO DE DESCARACTERIZAR-SE”
GILBERTO FREYRE
Convido o leitor a conhecer passo a passo esse projeto
que foi elaborado com muita dedicação e carinho ao lon-
go do ano de 2017. O trabalho contou com a orientação
do Prof. Adriano Mattos Corrêa da Escola de Arquitetura
e Design da UFMG e com a ajuda de inúmeras pessoas
ligadas à rede de saúde mental de Belo Horizonte.
Busquei nessa reta final da graduação me distanciar um
pouco das questões projetuais, ditas “convencionais” da
arquitetura e do urbanismo, para adentrar em uma área
ainda pouco explorada pelos profissionais do meio. O tra-
balho que você tem agora em mãos traz uma discussão a
respeito de novas formas de uso e ocupação do espaço
público da cidade, colocando lado a lado a arquitetura e
a saúde mental, e explicitando de maneira singular a im-
portância do arquiteto como promotor e mediador de tais
aproximações, relações e conflitos.
04
Farei aqui um breve histórico do desdobramento do pro-
jeto ao longo do período que ele vem sendo elaborado.
Bom, tudo começou na disciplina “Cozinha Compartilha-
da” ministrada pelo Prof. Adriano Mattos no segundo se-
mestre de 2016. A temática da disciplina era bem ampla,
diversificada e aberta, permitindo-se com isso que cada
aluno escolhesse livremente o local para a análise e im-
plantação do projeto. Optei então por escolher o CER-
SAM Leste, localizado no Bairro Santa Tereza em Belo
Horizonte, para ser o local de elaboração da proposta da
cozinha compartilhada.
Para a concretização desse trabalho foi de extrema im-
portância a participação de alguns amigos que estão li-
gados direta ou indiretamente à saúde mental em Belo
Horizonte. Para a apresentação final dessa disciplina foi
realizado um pequeno vídeo documentando o posiciona-
mento de cada pessoa sobre a proposta final do projeto e
também um paralelo entre a proposta apresentada com a
área de estudos, atuação e experiência de cada envolvi-
do. O vídeo pode ser encontrado facilmente no YouTube
com o seguinte nome: “Projeto Cozinha Compartilhada
em um CERSAM de Belo Horizonte”.
Com o desfecho do projeto da cozinha compartilhada,
conclui que o CERSAM, mesmo se tratando de uma insti-
tuição que têm como sustentação principal o Movimento
da Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica, ainda é
uma instituição muito fechada e limitada para propostas
e práticas do gênero. Essa conclusão final trouxe uma
inquietação e uma motivação ainda maior para dar conti-
nuidade ao projeto da cozinha, pensando em meios mais
abertos, dinâmicos e autônomos de atenção e cuidados
aos portadores de sofrimento mental de Belo Horizonte.
05
“...Tal como estava era uma mesa feita de pedaços, como foram feitos certos desenhos
de esquizofrênicos, desenhos ditos entulhados, e se ela se apresentava acabada,
era só na medida em que já não havia maneira de lhe acrescentar mais nada,
mesa que se tinha tornado cada vez mais um amontoado e cada vez menos uma mesa...
E não servia para nada do que se possa esperar de uma mesa.”
trecho do livro “O Anti-édipo” de Gilles Deleuze e Félix Guatarri
O nome do projeto teve como inspiração um trecho do
livro “O Anti-Édipo” de Gilles Deleuze e Félix Guatarri exi-
bido na página seguinte. O projeto buscou a criação de
um espaço dito “esquizofrênico” e efêmero, que poderá
servir para práticas culinárias, como um espaço de expo-
sição e venda dos trabalhos e das obras realizadas pelos
usuários da rede, para pequenas apresentações teatrais
e musicais, para palestras e seminários, para uso em fei-
ras e mercados, como forma de alegoria, como consul-
tório de rua, como oficina de pintura, mosaico, costura e
bordado, etc. Um espaço que busca a aproximação dos
portadores de sofrimento mental no cenário urbano da ci-
dade e no convívio com outras pessoas.
O nome “Cozinha Esquizofêmera” acabou surgindo em
uma mesa redonda que aconteceu no seminário aberto
ao público “Arquitetura e Saúde Mental”, realizado no dia
07/07/2017 na Associação Suricato. Nesse seminário foi
exposto de maneira introdutória a proposta da cozinha,
juntamente com outros trabalhos realizados por colegas
do curso de arquitetura que traziam uma temática seme-
lhante, um diálogo entre arquitetura e saúde mental. O
nome desse projeto é então uma combinação de dois
termos, o esquizofrênico e o termo efêmero apresentado
pelo próprio caráter da estrutura da cozinha.
A proposta da “Cozinha Esquizofêmera” foi uma constru-
ção minuciosa de pequenas partes, cada uma com a sua
singularidade e importância, que acabaram por se agru-
par e dar forma a esse trabalho. O projeto e sua forma
final sofreram influências de inúmeras pessoas ligadas à
rede de saúde mental de Belo Horizonte. A cozinha surge
então como produto de um amontoado de ideias, histó-
rias, vivências e experiências... Pedaços de um todo.
07
A cozinha tem como um de seus pilares o Movimento da
Luta Antimanicomial, que é caracterizado pela luta pelos
direitos das pessoas portadoras de sofrimento mental. O
MovimentodaLutaAntimanicomialcaracteriza-sepeloseu
viés democrático, contando com a participação ativa dos
usuários da rede, familiares, amigos, profissionais e quais-
quer interessados em estabelecer uma postura de respei-
to aos diferentes modos de ser, ver e perceber o mundo.
Como todo cidadão, os portadores de sofrimento mental
possuem o direito à liberdade, a viver em sociedade e
a receber tratamento adequado e digno, sem que para
isso tenham que abrir mão de seu lugar como cidadão. O
projeto da cozinha vem então proporcionar aos usuários
uma maior autonomia e a busca pela inserção social e
produtiva no atual cenário político, econômico e social em
que vivemos.
10
A cozinha vem possibilitar uma efetiva participação
dos usuários da rede de saúde mental de Belo Ho-
rizonte, não apenas como expectadores, mas como
membros atuantes na sua construção e na sua poste-
rior administração e implantação em diferentes pon-
tos da cidade. O projeto da “Cozinha Esquizofêmera”
não se conteve à escala e às dimensões projetuais for-
mais da arquitetura. O projeto surge nesse contexto
como uma resposta crítica a essa arquitetura “fechada”.
A cozinha é uma proposta dotada de significados, valores
e lutas com foco nas relações compartilhadas e em outros
modos de se viver e de ocupar o espaço público da cida-
de, espaço esse como um dos poucos locais onde ainda é
possível conviver e aprender com as diferenças. Um terri-
tório que parece cada vez mais dominado, excludente e de
difícil apropriação pelas pessoas, uma terra de ninguém.
12
O projeto busca a construção dessa estrutura esquizo/
efêmera não se apegando a apenas um espaço físico
para a sua implantação na cidade. A cozinha foi pensada
para ser montada e desmontada de maneira prática e rá-
pida, facilitando assim o seu transporte e uso em diferen-
tes pontos de Belo Horizonte. A cozinha engloba em seu
interior os núcleos de trabalhos que já são de conheci-
mento e domínio por alguns usuários da rede, sendo eles:
a culinária, o mosaico, a costura, o bordado, a marcena-
ria, o teatro e a música. Todos esses núcleos de trabalho
serão de alguma forma “amontoados” dentro da estrutura
que será apresentada em detalhes mais adiante.
Oprojetovaimuitoalémdoatodecozinharemsi.Acozinha
abrange relações sociais, culturais, políticas e econômi-
cas. O ato de cozinhar entendido como um ato revolucio-
nário que modifica as pessoas e o território em seu entorno.
13
Vivemos em uma época bastante conflituosa e incerta no
cenário urbano, social e político das cidades. As pessoas
estão perdendo espaço para os veículos e para outros
elementos que não proporcionam uma vida social e co-
letiva satisfatória. A estrutura da cozinha busca encorajar
novas formas de ocupação do espaço público e propor-
cionar um espaço adaptável e móvel para o intercâmbio
entre as pessoas. O ato de cozinhar é apenas uma das
inúmeras possibilidades de uso que a estrutura oferece.
Umaestruturaquesóseconfiguraapartirdainteraçãoeda
relação entre as pessoas. A proposta é levar todas as ativi-
dades desenvolvidas pelos usuários nos centros de aten-
ção da rede de saúde mental para as ruas da cidade. Co-
zinhar, pintar, costurar, bordar, cantar, tocar e atuar, tudo
isso feito nas ruas e não dentro dos muros das instituições.
Precisamos “levar a loucura para passear pela cidade”.
15
O projeto é uma experiência de ativação e ocupação
do espaço público que une uma cozinha colaborativa e
aberta com a inserção social, produtiva e econômica dos
usuários da rede, um projeto extramuros. Um espaço que
busca a aproximação dos portadores de sofrimento men-
tal na vida urbana da cidade e no convívio com outras
pessoas, de maneira mais justa, igualitária e digna.
Como será visto no próximo capítulo, um dos motivos
centrais que me levou a elaborar esse projeto foi a neces-
sidade de “derrubar” os muros e portões que ainda cer-
cam a loucura. Esses limites, que são físicos e não físicos,
acabam por afastar os usuários da vivência da cidade e
do intercâmbio com as pessoas. O caminho é longo, mas
é só através do esforço coletivo e através de ações so-
ciais e políticas que poderemos garantir de alguma forma
dias melhores e mais felizes para essas pessoas.
18
Irei abordar nos capítulos a seguir quais foram as moti-
vações principais que me levaram a propor esse projeto,
os objetivos da proposta, os pilares que dão sustentação
a esse trabalho. Abordarei também sobre o ato de cozi-
nhar e conviver no espaço público da cidade e colocarei
algumas inspirações e referências projetuais que me con-
duziram para a elaboração da estrutura física da cozinha.
No final desse livro será exibido um manual de constru-
ção com todas as informações necessárias para que a
cozinha possa de fato sair do papel e ganhar as ruas da
cidade de Belo Horizonte, e quem sabe, outras cidades
também. Deixarei à disposição do leitor todos os modelos
3D da estrutura da cozinha para um melhor entendimento
da sua construção.
Para o presente trabalho foi realizado um pequeno do-
cumentário em vídeo com alguns atores de importância
QR Code
para a elaboração do mesmo. Nesse vídeo há o relato
individual de cada pessoa contanto um pouco da sua ex-
periência e vivência na saúde mental, e quais são, na sua
opinião, os benefícios que o projeto da cozinha poderá
trazer em prol daqueles que necessitam da nossa ajuda e
atenção. O link de acesso ao vídeo, assim como a versão
digital desse livro e os modelos 3D da estrutura da cozi-
nha, encontra-se na página 189, mas podem ser acessa-
dos através do QR Code abaixo.
USUÁRIOS DA REDE
POPULAÇÃO LOCAL
INSERÇÃO SOCIAL
ESTRUTURA EFÊMERA
USO DO ESPAÇO PÚBLICO
ESPAÇO COMPARTILHADO
INSERÇÃO PRODUTIVA
espaço multifuncional
LUGAR DE TROCAS
conviver com a diferença
COZINHAR NO ESPAÇO PÚBLICO
COZINHA ABERTA
19
“O cozinhar acolhe, elimina ou deixa em suspenso
fronteiras e diferenças. Comer junto não alimenta só
o corpo, mas também a alma. Desperta sentimentos
bons nas pessoas e se desdobra em histórias”
Ceci Nery
22
2 - MOTIVAÇÃO
“EU TOMO REMÉDIOS, MAS OS REMÉDIOS NÃO ME CURAM.
O QUE ME CURA É A ARTE...”
FREDERICO EYMARD
Como foi exposto brevemente na apresentação desse li-
vro, um dos motivos principais que me levou a elaborar
esse projeto é o fato que a loucura não pode ser entendi-
da como algo que precisa ser confinada e presa. Se bus-
carmos um pouco na internet sobre o assunto, veremos já
nos primeiros minutos de pesquisa, alguns vídeos, relatos
e documentários da barbárie que ocorreu e ainda ocorre
no Brasil e no mundo nos hospitais psiquiátricos.
Deixo aqui três indicações para que o leitor possa co-
nhecer mais a fundo esse mundo tão obscuro da nossa
história, e que, ao meu ver, não deve ser ignorado tão
facilmente. A primeira indicação é o documentário “Holo-
causto Brasileiro”, baseado no livro de mesmo nome da
jornalista Daniela Arbex. O Documentário narra a história
da morte de aproximadamente 60 mil pessoas que eram
confinadas em condições de extrema decadência e hu-
milhante em um manicômio localizado na cidade de Bar-
bacena, no interior de Minas Gerais. Ao longo de várias
décadas, “pacientes” que apresentavam alguns sintomas
de doença mental e psicológica, eram trazidos de diver-
sos cantos do Brasil para serem submetidos aos mais
aterrorizantes e bárbaros tratamentos que um ser huma-
no pode se submeter. Em determinados momentos, eram
jogados em pátios, nus, em meio ao frio das montanhas
mineiras e por ali ficavam, por todo o dia, todos os dias.
Os corpos dessas pessoas eram depositados em massa
em um cemitério muito menor que o recomendável, ou
pior, eram vendidos para faculdades de medicina, como
indigentes para serem estudados e dissecados.
O documentário é chocante, mas ajudará a entender me-
lhor alguns motivos que me levaram a propor o trabalho
que você tem agora em mãos.
25
A segunda indicação que faço ao leitor é o filme brasileiro
“Nise - O Coração da Loucura”. Esse filme narra a história
da psiquiatra Nise da Silveira que revolucionou o trata-
mento oferecido para as pessoas portadoras de sofrimen-
to mental, mais especificamente para aquelas portadoras
de esquizofrenia. A psiquiatra teve um papel fundamental
para o Movimento da Luta Antimanicomial e para a Refor-
ma Psiquiátrica no Brasil. No filme é possível perceber o
descaso e o abandono vivido pelos portadores de sofri-
mento mental no Brasil na época.
No filme são exibidas as formas alternativas de tratamen-
to, tendo como apoio a arte e o afeto, em substituição
a métodos agressivos e humilhantes de tratamento que
podem ser comparados a atos de tortura. Esses métodos
infelizmente ainda perduram em alguns hospitais psiquiá-
tricos no Brasil e no mundo.
27
A terceira indicação que faço ao leitor é o filme brasileiro
baseado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano
Bueno, “Canto dos Malditos”. O filme “Bicho de Sete Ca-
beças” é um retrato chocante e humanamente cruel sobre
a realidade vivenciada por pacientes em hospitais psiqui-
átricos no Brasil e no mundo. O filme mostra de forma
escancarada a falta de humanidade e a humilhação en-
contrados nesses espaços, onde aquelas pessoas ditas
“anormais”, por não se enquadrar nos moldes comporta-
mentais impostos pela sociedade, são obrigadas, contra
a vontade, a se submeterem a tratamentos desumanos.
A partir dessas referências, além das pesquisas relacio-
nadas ao tema e através de longas conversas com pes-
soas ligadas à rede de saúde mental, notei que algo pre-
cisava ser feito para exteriorizar ainda mais essa luta, que
não é recente, e necessita cada vez mais do nosso apoio.
30
Como foi exposto nas páginas anteriores, a loucura é
algo que deve ser cuidada em liberdade, de maneira
mais digna, humana e autônoma, sem preconceitos.
Somente assim conseguiremos proporcionar aos usu-
ários uma vida mais justa e igualitária, livres de toda a
mazela, violência, dor, sofrimento e abandono. Essas
foram as motivações principais que me conduziram
na elaboração desse projeto, a necessidade de criar
espaços mais abertos de atenção aos portadores de
sofrimento mental e maneiras mais justas e diversifi-
cadas de se viver, buscando-se com isso a inserção
social e produtiva dessas pessoas na vida cotidiana.
Convido então o leitor a conhecer mais a fundo esse
trabalho e ir extraindo o máximo desse sentimento
que hoje eu tento compartilhar me espremendo atra-
vés das páginas desse livro.
31
“Pro lado de cá, não tem acesso,
mesmo que me chamem pelo nome,
mesmo que admitam meu regresso.
Toda vez que eu vou, a porta some,
a janela some na parede.
Fui pelo abandono abandonado,
aqui dentro do lado de fora”
Arnaldo Antunes.
34
3 - OBJETIVOS DO PROJETO
“QUANTAS GUERRAS TEREI QUE VENCER POR UM POUCO DE PAZ?”
AUTOR DESCONHECIDO
Nesse capítulo darei ênfase aos principais objetivos que
norteiam o projeto da “Cozinha Esquizofêmera”. Resolvi
pontuar três objetivos centrais para um melhor esclareci-
mento e posicionamento das ideias. Esses objetivos estão
sendo colocados em questão desde o início do trabalho e
foram de extrema importância para a elaboração final da
proposta.
Os objetivos do projeto surgiram como um produto con-
clusivo após às inúmeras conversas, debates e questio-
namentos que tive me baseando nos relatos de algumas
pessoas ligadas direta ou indiretamente à saúde mental
de Belo Horizonte. Foi só a partir dessas trocas de sabe-
res, experiências e vivências, e me baseando na realida-
de vivida pelos usuários, que foi possível propor alguns
objetivos centrais para a elaboração do projeto da cozi-
nha. Os objetivos serão apresentados a seguir.
38
1 - Assistir uma melhor inserção social dos portadores de
sofrimento mental na cidade de Belo Horizonte:
A cozinha passa a ser entendida então como um espaço
de trocas de experiências, de saberes, memórias e his-
tórias e como um espaço de consolidação de relações
entre as pessoas. A cidade como sendo um espaço de
convivência e de trocas entre indivíduos.
A cozinha por ser itinerante e efêmera possibilita a atua-
ção em vários locais da cidade, permitindo assim trocas
de experiências, de público e de materiais em todos os
locais e momentos. A cozinha, por funcionar em um local
público, poderá servir de diversas maneiras à população
local e aos usuários da rede de saúde mental de Belo
Horizonte. A cozinha possibilita também uma conexão e
parcerias com colaboradores e produtores locais.
39
2 - Inserção produtiva através do trabalho realizado em
conjunto:
O projeto surge como uma resposta contra a exclusão
econômica e social vivenciada pelos portadores de so-
frimento mental. Trabalhar é condição essencial, não so-
mente pela manutenção financeira, mas pela dignificação
da vida.
A produção como ferramenta de geração de renda e tra-
balho para a venda das comidas, dos trabalhos e das
obras realizadas pelos usuários, procurando com isso
o bem-estar individual e coletivo, a autoestima e a efe-
tiva inclusão social e econômica na vida cotidiana e no
mercado de trabalho. A cozinha como um movimento de
transformação social através do trabalho e da geração de
renda.
A cozinha ainda possibilitaria possíveis parcerias com
entidades do setor alimentício como por exemplo, super-
mercados, padarias, lanchonetes, restaurantes, bares,
feiras e mercados e também no setor de produção de
alimentos orgânicos localizados na região metropolitana
de Belo Horizonte.
3 - Trabalhar uma melhor qualidade de vida para os usu-
ários da rede:
Estímulo ao uso de produtos orgânicos, incentivo à agri-
cultura familiar e local, e motivação para a organização de
possíveis atividades tendo como temas o ato de cozinhar,
a manipulação dos alimentos, promover trocas de recei-
tas, saberes, experiências, memórias gustativas, etc. A
cozinha como promotora de convivência e de vizinhança
entre as pessoas.
42
O uso de produtos orgânicos fornecidos por produtores e
colaboradores locais e a conscientização por uma melhor
alimentação, aliados à inserção no mercado de trabalho
devido às práticas culinárias aprendidas, proporcionam
uma melhor qualidade de vida para os usuários, funcioná-
rios, familiares e para a população de maneira em geral.
Conclui-se então que os objetivos centrais do projeto
buscam, em sua totalidade, a inserção social e econô-
mica através do ato de cozinhar, com atividades coleti-
vas e compartilhadas em um cenário público e dinâmi-
co. O trabalho e seu produto vistos como um conjunto de
ferramentas terapêuticas por quem o exerce. A cozinha
pretende, nesse sentido, trazer uma diminuição das con-
cepções errôneas vistas pelas pessoas, que infelizmente
ainda existem e perduram, sobre a loucura.
COZINHA ESQUIZOFÊMERA
POPULAÇÃO LOCALPRODUTORES LOCAIS USUÁRIOS DA REDE
INSERÇÃO SOCIAL INSERÇÃO PRODUTIVAMELHOR QUALIDADE DE VIDA
43
“Não se cura além da conta. Gente curada demais
é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura.
Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação,
pois ela é a nossa realidade mais profunda.
Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas”
Nise da Silveira
46
4 - PILARES DO PROJETO
“PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA,
PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA:
POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS!”
ASSOCIAÇÃO DOS USUÁRIOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL DE MINAS GERAIS (ASUSSAM)
FORUM MINEIRO DE SAÚDE MENTAL - 18 DE MAIO DE 2015
Nesse capítulo do livro darei ênfase aos pilares principais
que dão sustentação ao projeto da “Cozinha Esquizofê-
mera”. Como já foi apresentado ao leitor anteriormente,
o projeto da cozinha se apoia em dois pilares fundamen-
tais, sendo eles o Movimento da Luta Antimanicomial e a
Economia Solidária.
Para entender o Movimento da Luta Antimanicomial é pre-
ciso voltar um pouco no tempo, no final da década de
70. Nesse momento da nossa história, muitos movimen-
tos ligados à saúde denunciavam os abusos cometidos
em instituições psiquiátricas, além da precarização das
condições de trabalho, reflexo do caráter autoritário do
governo no interior de tais instituições. A partir daí, surgi-
ram movimentos de trabalhadores ligados à saúde men-
tal, que colocaram em evidência a necessidade de se im-
plantar urgentemente uma reforma psiquiátrica no Brasil.
O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental
(MTSM) – que contou com a participação popular, inclusi-
ve dos familiares dos portadores de sofrimento mental – e
o Movimento Sanitário, foram dois dos maiores responsá-
veis por essa iniciativa.
O Movimento da Luta Antimanicomial nasceu no Encontro
Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental, no dia 18 de
maio de 1987, na cidade de Baurú em São Paulo, com o
lema “Por Uma Sociedade Sem Manicômios”. Denuncia-
va-se nesse encontro os abusos e a violação de direitos
humanos sofridos pelos usuários da rede de saúde men-
tal dentro dos manicômios. Lutava-se pelo fim desse tipo
de tratamento e pela instalação de serviços mais dignos,
humanos e alternativos. Pela relevância desse encontro,
a data de 18 de maio tornou-se o dia nacional da Luta
Antimanicomial.
49
O Movimento tem como meta a substituição progressi-
va dos hospitais psiquiátricos tradicionais por serviços
mais abertos e diversificados de tratamento, de modo a
atender às diferentes formas e momentos em que o so-
frimento mental surge e se manifesta. O Movimento da
Luta Antimanicomial está ligado à Reforma Psiquiátrica
iniciada em pleno período ditatorial, e caracteriza-se pela
luta pelos direitos das pessoas portadoras de sofrimento
mental. Dentro dessa luta está o combate à idéia de que
se deve isolar a pessoa com sofrimento mental através
de tratamentos médicos, idéia baseada apenas nos pre-
conceitos que cercavam e que ainda cercam a loucura.
No entanto, mesmo se tratando de uma política reconhe-
cida pelo governo brasileiro, pela Organização Pan-Ame-
ricana de Saúde (OPAS) e pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), há setores conservadores que defendem o
retorno dos hospitais psiquiátricos.
52
Uma das conquistas do Movimento da Luta Antimanico-
mial foi a Lei 10.216/2001, mais conhecida como Lei Pau-
lo Delgado, que determina o fechamento progressivo dos
hospitais psiquiátricos no país e a instalação de serviços
substitutivos de caráter mais aberto, digno e justo. A Lei
tem o intuito de garantir os direitos de pacientes porta-
dores de transtornos mentais a receberem atendimentos
menos invasivos, e priorizando o tratamento através da
reinserção na família, na inserção no mercado de traba-
lho e também na sociedade.
A partir da promulgação dessa Lei, o Brasil tem fechado
progressivamente os leitos psiquiátricos e aberto serviços
substitutivos de atenção, que são os CAPS (Centros de
Atenção Psicossocial), as Residências Terapêuticas, Pro-
gramas de Redução de Danos, Centros de Convivências,
as Oficinas de Geração de Renda, etc.
53
O Movimento de Luta Antimanicomial consiste, então, em
um diálogo de conscientização com as instituições legais
e com os cidadãos ao elaborar o discurso de que, os por-
tadores de transtornos mentais não representam ameaça
ou risco ao círculo social, ao contrário, esse seria um gran-
de componente para sua recuperação física e mental.
O paciente seria encorajado a um exercício maior de ci-
dadania, fortalecendo assim os seus vínculos familiares e
sociais, e nunca sendo isolado destes. Em substituição às
internações, os pacientes teriam acesso a atendimentos
psicológicos, atividades alternativas de lazer e tratamen-
tos menos agressivos do que aqueles que eram dados
anteriormente. A família e a sociedade de maneira geral,
teriam aqui um papel fundamental na recuperação dos
portadores de sofrimento mental, sendo os principais res-
ponsáveis por eles.
56
O segundo pilar desse projeto é a Economia Solidária,
que é caracterizada pela resposta organizada à exclusão
pelo mercado de trabalho, por parte dos que não querem
uma sociedade movida pela competição, da qual surgem
incessantemente vitoriosos e derrotados. A Economia So-
lidária é vista como uma ferramenta diferente de produzir,
vender, comprar e trocar o que é preciso para viver; sem
explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem des-
truir o ambiente, cooperando, fortalecendo o grupo, cada
um pensando no bem e no desenvolvimento da coletivi-
dade e também no próprio bem.
A economia solidária, nesse contexto, promove a inser-
ção econômica e social das pessoas que lhe fazem parte,
onde elas passam a construir empreendimentos coopera-
tivos, em que os usuários, técnicos, familiares, amigos e
outros necessitados, colaboram em conjunto.
58
A Economia Solidária vem se apresentando atualmente
como uma inovadora alternativa de geração de traba-
lho e renda, e uma resposta a favor da inclusão social,
da inserção produtiva e econômica por quem a exerce.
Compreende uma diversidade de práticas econômicas e
sociais que realizam atividades de produção de bens di-
versos, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas,
comércio justo e consumo solidário.
A Economia Solidária proporciona também um maior for-
talecimento nas relações existentes entre o campo e a
cidade, entre produtores e consumidores, permitindo as-
sim uma ação mais crítica e pró-ativa dos consumidores
sobre a qualidade de vida. Por ser um movimento social
que luta pela mudança da sociedade, nota-se que todas
essas características propiciam uma cooperação solidá-
ria por toda a sociedade.
59
Conclui-se então que o projeto da “Cozinha Esquizofême-
ra” é uma fusão desses dois movimentos apresentados
anteriormente, extraindo deles os conceitos fundamentais
e de importância para a elaboração dessa estrutura efê-
mera, colaborativa e compartilhada. Uma estrutura que
busca na sua essência a construção de um espaço aber-
to e multifuncional que vem a proporcionar a presença, a
autonomia, as trocas, a inserção social e produtiva dos
usuários da rede nos espaços públicos e coletivos. Um
espaço que só se concretiza a partir das conexões en-
tre as pessoas e que estrapola os muros dos centros de
atenção da rede de saúde mental para as ruas da cidade.
Os portadores de sofrimento mental não devem ser ex-
cluídos da sociedade e abandonados como eram antiga-
mente, mas sim, orientados e acompanhados para que
possam encontrar o seu lugar no mundo.
MELHOR QUALIDADE DE VIDAINSERÇÃO SOCIAL INSERÇÃO PRODUTIVA
PRODUTORES LOCAIS POPULAÇÃO LOCAL
USUÁRIOS DA REDE
COZINHA ESQUIZOFÊMERA
LUTA ANTIMANICOMIAL cozinhar e conviver no espaço público economia solidária
61
“Não sou o sol, mas sou calor
Não sou planeta, mas me habito
Não sou terra, mas que mundo esquisito!
Não sou mais eu
Sou calor porque sou sol
Eu me habito, porque sou planeta
Mas que mundo esquisito! Estou na terra
Não mais eu sou, pensamento e ilusão
Não, Sócrates ou Platão”
Ronaldo Xavier da Cruz
64
5 - COZINHAR E CONVIVER NO ESPAÇO PÚBLICO
“BEBIDA É ÁGUA! COMIDA É PASTO!
VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ? VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA, A GENTE QUER COMIDA, DIVERSÃO E ARTE.
A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA, A GENTE QUER SAÍDA PARA QUALQUER PARTE...
A GENTE NÃO QUER SÓ DINHEIRO, A GENTE QUER DINHEIRO E FELICIDADE.
A GENTE NÃO QUER SÓ DINHEIRO, A GENTE QUER INTEIRO E NÃO PELA METADE...”
ARNALDO ANTUNES / MARCELO FROMER / SÉRGIO BRITTO
Nesse capítulo darei ênfase à importância do ato de co-
zinhar para o projeto e na sua relação com as pessoas,
com o território e com o convívio no espaço público da
cidade. O ato de cozinhar, mais do que um ato ligado à
nossa própria sobrevivência e subsistência, é uma ativi-
dade determinante para nos distinguir dos demais seres
vivos, é uma condição primordial que nos torna humanos.
O ato de cozinhar pode ser entendido como uma atividade
que acolhe as pessoas em seu entorno, modificando-as e
criando uma teia de vínculos entre as pessoas e o território.
A cozinha é entendida então como um local que auxilia a
troca de saberes e de histórias com o outro. Se pegarmos
comoreferênciaacozinhadenossascasas,veremoscomo
ela fica cheia em dias de visita. É no ambiente da cozinha
que está instalado o coração da casa, onde o dinamismo
do espaço se instaura como mediador de relações sociais.
68
O ato de cozinhar pode ser entendido como um ato revo-
lucionário e performático. Cozinhar reivindica uma rela-
ção particular com o tempo e com o espaço, é antes de
mais nada um gesto de troca e de partilha. É uma ativi-
dade que resulta na entrega, no fazer junto e nas trocas
entre indivíduos. A cozinha é um local que permite trocar
e compartilhar histórias, saberes, receitas, experiências
e conhecimentos dos mais variados possíveis. Um local
dinâmico e vivo que existe dentro das nossas tradições.
Cozinhar e comer estão diretamente relacionados, um
não existe sem o outro. Cozinhar e comer estão intima-
mente interligados através do território onde se instauram.
A cozinha é em sua essência uma forma de linguagem e
de cultura entre povos. É uma narrativa dos costumes,
memórias e das histórias de uma sociedade, um patrimô-
nio que deve ser preservado e cuidado por todos.
69
O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” coloca a cozinha
em um cenário público e coletivo, onde as trocas e as re-
lações entre os indivíduos são infinitas.
A cozinha vem então proporcionar uma maior participa-
ção dos usuários na vida cotidiana da cidade e servir de
diversas maneiras à população local e do entorno. Levar
todo esse aparato e essas qualidades que o ato de cozi-
nhar proporciona para as ruas é de um potencial incrível.
É romper com os muros que ainda cercam a loucura e dar
maiores condições para que os portadores de sofrimen-
to mental ganhem as ruas, compartilhem receitas, expe-
riências, histórias e saberes e desfrutem da convivência
e das trocas com o próximo. É ganhar novos cenários,
novas ambiências e possibilidades. É escrever um novo
capítulo na Luta Antimanicomial e virar a página da exclu-
são social, do preconceito, do sofrimento e do abandono.
72
“A liberdade é só presente,
não promete pro futuro
não comete ter saudade”
Tom Zé
73
6 - INSPIRAÇÕES
“A CRIATIVIDADE É O CATALISADOR POR EXCELÊNCIA DAS APROXIMAÇÕES DE OPOSTOS.
POR SEU INTERMÉDIO, SENSAÇÕES, EMOÇÕES, PENSAMENTOS,
SÃO LEVADOS A RECONHECEREM-SE ENTRE SI, A ASSOCIAREM-SE,
E MESMO TUMULTOS INTERNOS ADQUIREM FORMA”
NISE DA SILVEIRA
COZINHA DA CASA DO VAPOR
A Cova do Vapor é uma pequena vila de pescadores ins-
talada no condado de Almada, ao lado do rio Tejo, pró-
ximo à cidade de Lisboa em Portugal. Boa parte da área
da comunidade foi declarada como reserva natural de
preservação, e não é permitido construir sobre essa área.
Por um lado isso acabou por proteger a vila do enorme
crescimento turístico na região, mas por outro, colocou
a comunidade existente em um estado de informalidade.
A “Associação de Moradores da Cova do Vapor” substi-
tuiu a falta de presença da administração do município,
assumindo para si a responsabilidade de gerir por uma
infraestrutura pública bem trabalhada e organizando ati-
vidades para a comunidade. Inspirada pela criatividade
dos habitantes locais, a Constructlab decidiu iniciar a
Casa do Vapor, uma estrutura de auxílio e suporte à po-
pulação da vila.
78
A estrutura final da Casa do Vapor acomodou uma sala
de aula aberta, uma biblioteca pública, uma cozinha, uma
oficina de bicicleta, uma pista de skate, um campo de
jogos e um forno de pizza. O coletivo tornou-se parte da
comunidade local ao longo de quatro meses e foi capaz
de absorver várias possibilidades de uso para servir às
iniciativas locais. A construção foi rápida e simples com
o emprego de madeira reutilizada e contou com a parti-
cipação de crianças e adultos. A falta de apoio externo
tornou os habitantes ainda mais investidos e interessados
na concretização desse projeto.
Devido às restrições de construção, as instalações só
poderiam ser temporárias. No entanto, a Casa do Vapor
acabou sobrevivendo e o seu material é usado uma e ou-
tra vez, disfarçando a Casa do Vapor em formas tempo-
rárias de tempos em tempos.
79
MARCELINA BELMIRO
A cozinha aberta da Marcelina Belmiro, localizada em
Belo Horizonte, é uma proposta inovadora na venda de
produtos e pratos orgânicos e também das experiências
dos banquetes públicos. O Marcelina Belmiro, a partir da
cozinha de Patrícia Brito, é uma nova proposta que busca
em suas atividades colocar em prática o conceito da Me-
mória Gustativa. A Memória Gustativa é um conceito para
se discutir os alimentos a partir das narrativas e histórias
das pessoas e dos lugares através da comida e das tro-
cas proporcionadas pelo ato de cozinhar.
A Patrícia Brito, formada em arquitetura pela Escola de
Arquitetura e Design da UFMG, teve a ideia de transfor-
mar o seu antigo escritório, localizado no Edifício Maleta,
em uma cozinha aberta. A Patrícia dedica o seu tempo
também para a produção agrícola familiar e à educação
alimentar das pessoas no seu cotidiano.
84
COZINHA COMUM
A Cozinha Comum é um projeto elaborado por Ceci
Nery, Paula Lobato e Thiago Flores, alunos da Escola
de Arquitetura e Design da UFMG e integrantes do
Nó Coletivo. A Cozinha Comum é um espaço aberto
que foi construído de forma coletiva pelos alunos da
escola e por outros parceiros da cidade. O projeto
proporciona experimentações arquitetônicas e gas-
tronômicas diversas. A ideia do projeto é criar opor-
tunidades para estimular as trocas de informações,
receitas, mudas, alimentos, ingredientes, saberes e
vivências entre as pessoas.
O projeto por ser itinerante permite que o carrinho
percorra e se instale em diferentes lugares da cidade.
O carrinho itinerante pode ser usado de distintas ma-
neiras a partir de parcerias locais para a sua atuação
no espaço público.
90
SURICATO - UM MOSAICO DE SONHOS
A Suricato - Associação de Trabalho e Produção So-
lidária, nasceu em 1999 como uma demanda surgida
entre os usuários, por trabalho, cidadania, emanci-
pação, autonomia, realização profissional, pessoal e
social. Funcionando em regime de incubação, numa
parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, a Surica-
to é um modo diferente de trabalhar e produzir, que
busca incluir cada um do jeito que é, sem preconcei-
tos e abandono.
A Suricato constituiu-se de certa forma como um mo-
vimento social em favor dos ideais do Movimento da
Luta Antimanicomial no contexto da Reforma Psiquiá-
trica em curso no Brasil, defendendo o direito do por-
tador de sofrimento mental e sua consequente inser-
ção social e produtiva através do trabalho realizando
em conjunto.
96
Um espaço que busca exercer a generosidade e a coo-
peração como forma de resgatar a cidadania, levantar a
auto-estima, de poder render e gerar renda para os usuá-
rios. Quando foi criada, a Associação Suricato tinha como
objetivo ser um espaço de encontro entre a cidade e a
loucura, quebrando os muros representados pelos estig-
mas enfrentados pelos portadores de sofrimento mental
em Belo Horizonte.
A Associação Suricato tem como pilares o trabalho, a eco-
nomia solidária, o cooperativismo e o associativismo. A
Suricato atualmente se divide em quatro grupos de traba-
lho, sendo eles: costura, mosaico, marcenaria e cozinha.
- Marcenaria: Reforma de móveis e objetos, fabricação de
peças para o mosaico e trabalho de decoração a partir
do reaproveitamento de materiais.
97
- Costura: Produção de bolsas para o dia-a-dia, almofa-
das, panos, etc.
- Mosaico: Produção de peças, objetos e adornos ou utili-
dades como bandejas, porta-copos, porta-chaves, espe-
lhos, etc.
- Cozinha: Produção ainda pequena, atende o bar de
quinta a sábado no período da noite.
Além do bar, a Suricato, há quase quatro anos no Bairro
Floresta, expõe pinturas, mandalas, móveis, vasos, foto-
grafias e inúmeras obras de arte produzidas pelos usuá-
rios da rede de saúde mental de Belo Horizonte. A casa
se mantém com a venda dos produtos e recebe subsídio
da prefeitura. O trabalho desenvolvido pela Suricato foi
de grande relevância para a elaboração da proposta da
cozinha, por se tratar de uma instituição extramuros que
valoriza a liberdade e a autonomia dos usuários.
100
7 - ESTRUTURAS DE REFERÊNCIA
“TECER MINHAS TEIAS COM MINHAS MÃOS...
DIVIDIR MEUS SEGREDOS COM A NOITE E MINHAS VERDADES COM OS CÉUS
TRILHAR AS ESTRADAS QUE NÃO TRILHEI
ROMPER AS PORTAS TRANCADAS POR MIM
E ASSIM MINHAS MÃOS
SABERÃO DOS MEUS PÉS
E ASSIM RENASCER, E ASSIM RENASCER”
SAENS SAINT / ALTAY VELOSO
THE PUBLIC SPECTACLE
Inventados na cidade de San Francisco nos Estados Uni-
dos, os parklets estão se tornando uma parte essencial
das nossas cidades, estendendo a calçada à rua e pro-
porcionando um espaço público adicional. As calçadas
transformaram-se em zonas conflituosas, onde os pedes-
tres perdem espaço para os carros e outros veículos cir-
culantes. Os parklets surgiram então como uma estraté-
gia para expandir o domínio público, onde a largura das
calçadas é insuficiente para suportar uma vida urbana
diversificada e dinâmica.
O parklet “The Public Spectacle” da Urban Think Tank (U-
TT), encomendado em 2014 pela Swissnex San Francis-
co, e desenvolvido em parceria com Jan Gehl Architects,
busca encorajar novas formas de ocupação do espaço
público e proporcionar um espaço adaptável para o inter-
câmbio entre as pessoas.
108
O parklet ocupa o espaço destinado a uma vaga de carro
e pode assumir múltiplas configurações e possibilidades
de uso através de um conjunto de elementos móveis ane-
xados a uma estrutura feita de metal. Essas caracterís-
ticas proporcionam diferentes usos e ocupações, como
performances, exibições, workshops, shows, palestras e
muito mais. O parklet pode ser facilmente montado, des-
montado e transportado pela cidade para ganhar novos
cenários e potencialidades.
109
MOBILE CRAFT MODULE
O Mobile Craft Module é um projeto idealizado pelo Proto-
typing Mobility Advanced Architecture Studio liderado por
Adam Marcus do California College of the Arts (CCA). O
projeto buscou a criação de duas estruturas implementá-
veis ​​que podem ser reconfiguradas para atender a uma
variedade de funções e usos. Os módulos “gêmeos” po-
dem ser organizados de diversas formas para facilitar o
espaço expositivo, o espaço para eventos e o espaço de
trabalho.
O projeto serviu como pavilhão âncora da CCA duran-
te o Market Street Prototyping Festival, um evento de
três dias em San Francisco que explorou novas idéias
para projetar e ocupar o espaço público da cidade. Ao
longo do festival, os módulos compartilharam uma sé-
rie de exposições e eventos dos alunos e professo-
res da CCA com os pedestres que passavam pela rua.
114
STORY POD
A Story Pod é uma pequena biblioteca comunitária, pro-
jetada e executada pelo escritório Atelier Kastelic Buffey
(AKB). O projeto foi executado em 2015 para a pequena
cidade de Newmarket, no Canadá. A cidade fica locali-
zada no subúrbio de Toronto e possui um núcleo da era
vitoriana, rodeado por faixas crescentes de habitações
modernas. O volume colocado à beira de uma praça cívi-
ca recentemente concluída, no coração da zona histórica
da cidade, utiliza o design contemporâneo como um meio
de criar uma cidade animada dentro do seu cenário pito-
resco.
A equipe de arquitetos buscou cuidadosamente a criação
de um desenho esteticamente agradável e funcional, bem
como ecológico, econômico e fácil de construir, para que
uma equipe de construção voluntária pudesse montá-la
facilmente.
120
Ovolumepretoecompactoévistocomoummarcourbano,
convidando a quem passa pela rua principal a caminhar
pelo caminho adjacente, à beira de um rio. Durante o dia,
o convite se torna mais pronunciado quando duas das pa-
redes da fachada principal se abrem como a capa de um
livro, acolhendo as pessoas para dentro ou para reuní-las
na entrada. À noite, quando as portas estão trancadas,
as luzes de LED, alimentadas por painéis solares, brilham
através da estrutura, como uma lanterna, proporcionan-
do uma iluminação agradável para a vida noturna local.
121
CRATE HOUSE + PARSONS KITCHEN
A Parson Kitchen foi projetada em 1994 pelo artista ameri-
cano Allan Wexler. O projeto começou com a descoberta
de um espaço escondido atrás de uma parede localiza-
da no átrio de entrada da School of Constructed Envrion-
ments de Nova York. A forma negativa desse espaço tor-
nou-se a forma final da cozinha. O volume em forma de
caixa serve para o armazenamento de diversos tipos de
objetos necessários ao funcionamento completo de uma
cozinha.
A Crate House comprime uma casa inteira dentro de um
cubo contendo quatro caixotes em seu interior. Cada fun-
ção é isolada e estudada minuciosamente: cozinha, ba-
nheiro, sala e quarto. Quando é necessário realizar uma
função, a caixa é desconectada do cubo. À noite, toda a
casa se torna um quarto e quando o ocupante tem fome,
toda a casa se torna uma cozinha.
126
ADENTRO
Adentro foi uma proposta de intervenção destinada ao
Foyer Augusto de Lima do Sesc Palladium, localizado na
cidade de Belo Horizonte. A estrutura da intervenção foi
projetada por ex-alunas da Escola de Arquitetura e De-
sign da UFMG, Luisa Ganzarolli e Patrícia Cioffi. A expo-
sição foi realizada no período de 07/10/17 à 05/11/17.
A estrutura faz um convite à interação e nos remete a um
parque infantil. A intervenção buscou uma mescla das
áreas destinadas a permanência e ao descanso com
áreas de brincadeira e movimento. Mais do que simples-
mente reproduzir um parque infantil, trata-se de revivê-lo
de uma maneira nova, estética e sensorial dentro de um
novo contexto. A intervenção possibilitou estabelecer um
novo olhar e novas formas de apropriação e uso para o lo-
cal, através de novas possibilidades, novas experiências
e sensações.
Adentro é então um estímulo ao convívio e só se configura
a partir das conexões e interações entre as pessoas. Para
a construção da estrutura foram usadas peças de meta-
lon com sessão quadrada de 4x4 cm. As peças foram
soldadas umas as outras ou presas através de conexões
feitas utilizando-se parafusos sextavado.
130
8 - UMA COZINHA ESQUIZOFÊMERA
“O QUE CURA É A ALEGRIA, O QUE CURA É A FALTA DE PRECONCEITO”
NISE DA SILVEIRA
Como foi mencionado anteriormente na apresentação
desse livro, a elaboração de todo o projeto, assim como a
sua forma final, foram uma construção e combinação de
pequenas partes e elementos que acabaram por se agru-
par e dar vida à estrutura da cozinha. Um aglomerado de
ideias, propostas, indagações e reflexões a respeito de
novas formas de atenção e cuidado aos portadores de
sofrimento mental de Belo Horizonte.
O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” foi um processo
colaborativo desde o seu início, contando com a influên-
cia e participação de inúmeras pessoas ligadas à rede de
saúde mental. Antes de traçar as primeiras linhas do es-
boço da estrutura, busquei escutar minuciosamente cada
uma dessas pessoas e analisar quais eram as necessida-
des de maior relevância que iriam nortear as decisões a
serem tomadas na elaboração da estrutura da cozinha.
138
Em uma visita realizada à marcenaria do Centro de Con-
vivência do Bairro São Paulo, tive a oportunidade de con-
versar com o Miranda, monitor da marcenaria, com o Na-
tanael, usuário da rede, e com o Bruno, da Suricato. Nessa
conversa foi colocada em evidência a necessidade que
eles tinham de ter uma estrutura auxiliar, móvel e multi-
funcional, fora da associação e dos centros, para expor
os trabalhos desenvolvidos pelos usuários e sua poste-
rior comercialização em diferentes locais da cidade. Algo
bem semelhante daquilo que eu estava propondo desde
o início do projeto. Posto isso então, chegamos, depois
de alguns rabiscos e reflexões, em uma forma que viria a
se tornar a forma final da estrutura da cozinha. Um cubo
que pode ser desmontado e reconfigurado para atender
a diferentes tipos de usos e possibilidades. Uma estrutura
colaborativa, polivalente, compartilhada, efêmera, intera-
tiva, aberta e itinerante. Um amontoado de ideias.
140
A estrutura final da cozinha foi pensada para assumir
múltiplas configurações, através de um conjunto de
elementos móveis, anexados a um esqueleto feito de
metal, que podem ser reconfigurados para atender a
uma variedade de funções e usos no espaço público
da cidade. A estrutura convida o usuário a interagir
com os seus elementos anexos móveis e proporciona
novas experiências, sensações e possibilidades de
apropriação do espaço pelas pessoas. A cozinha só
se configura através das relações existente entre as
pessoas com o espaço, buscando com isso uma maior
conexão e intercâmbio entre as pessoas que circulam
próximo ao local. Todas essas características confe-
rem à estrutura um potencial enorme de usos e possi-
bilidades, como performances, palestras, apresenta-
ções musicais e teatrais, como lugar de exposição, de
descanso, de práticas culinárias, como oficina, etc.
141
A estrutura representa uma estratégia simples, que pode-
rá vir a ser construída, administrada e gerida pelos pró-
prios usuários da rede de saúde mental. É uma tentativa
de expandir ainda mais o conceito da Luta Antimanicomial
e levar para as ruas as oficinas de trabalho realizadas nos
centros de atenção da rede, e dar uma maior autonomia e
voz aos portadores de sofrimento mental. Trata-se então
de transportar a loucura para um novo contexto e cenário
urbano na cidade, é apoiar as interações sociais e o inter-
câmbioentreosusuárioscomaspessoasquepassampelo
local e garantir a inserção social e produtiva dos mesmos.
A estrutura se configura como uma ferramenta de auxílio
para a concretização de trocas de experiências, vivências,
histórias, saberes, conhecimentos, receitas, produtos, ali-
mentos, canções, protestos, cheiros, sabores, texturas,
cores, poemas, sons, costumes, tradições, imagens, etc.
144
A estrutura que comporta o projeto da cozinha é dividida
em duas partes, sendo a primeira composta pela Estru-
tura Externa em forma de cubo e a segunda pelos Módu-
los Água e Fogo que serão confinados no interior da Es-
trutura Externa. Ambas as partes possuem um esqueleto
de peças de metalon com sessão quadrada de 3x3 cm,
que podem ser encontradas facilmente no mercado. Os
módulos foram projetados para proporcionar uma maior
autonomia e funcionalidade em qualquer ponto da cida-
de. A estrutura da cozinha também conta com elemen-
tos auxiliares anexos feitos de madeira, que poderão ser
construídos na marcenaria do Centro de Convivência do
Bairro São Paulo pelos usuários da rede de saúde mental
de Belo Horizonte. A verba para a construção da estrutura
poderá vir através de editais do fundo municipal e estadu-
al de cultura, das associações dos usuários, através de
vaquinhas populares, de parcerias público-privada, etc.
145
ESTRUTURA FECHADA
ESTRUTURA ABERTA
FORMA FINALRESUMO
Estrutura colaborativa, multifuncional,
compartilhada, interativa, efêmera,
aberta e itinerante
O ato de cozinhar como promotor de
aproximações e de intercâmbio entre
pessoas e entre pessoas e território
Estrutura construída, administrada e
gerida pelos próprios usuários da rede
de saúde mental
Verba para construção através de editais,
por vaquinhas populares, através das
associações dos usuários e por parcerias
Diversidade de usos, possibilidades e inte-
rações. Cozinhar, pintar, costurar, bordar,
cantar, tocar e atuar
Estrutura de fácil construção, montagem,
desmontagem e transporte. Utilização de
materiais comuns no mercado
148
ESTRUTURA EXTERNA FECHADA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO INTERIOR ESTRUTURA EXTERNA ABERTA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO EXTERIOR
VISÃO GERAL DA COZINHA
149
ESTRUTURA EXTERNA FECHADA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO INTERIOR
VISÃO GERAL DA COZINHA
151 152
ESTRUTURA EXTERNA FECHADA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO INTERIOR
ESTRUTURA EXTERNA POSSIBILIDADES
153 154
MEDIDAS FACE 1 - 3
PILAR VIGA PILAR
FACE 1 + ELEMENTOS ANEXOS E CARRINHO DE DESCANSO
FACE 1 - 3
FACE 1 - 3: ESTRUTURA DE METALON FACE 3 + ELEMENTOS ANEXOS E REDE VERTICAL
Nas faces 1 e 3 da Estrutura Externa da cozinha, há a pre-
sença dos Elementos Anexos (Cubo, Vaso e Prateleira),
do Carrinho de Descanso e da Rede Vertical. O detalha-
mento dos elementos anexos serão apresentados mais a
seguir. As faces 1 e 3 são compostas de duas partes dis-
tintas (Pilar e Viga), que são presas através de parafusos
sextavado. O restante da estrutura é soldada.
155 156
FACE 1 - FECHADA E ABERTA FACE 3 - FECHADA E ABERTA
157 158
FACE 2 - MEDIDAS FACE 4 - MEDIDAS
FACE 2 + ELEMENTOS ANEXOS, ARMÁRIOS E CUBOS FECHADOS
FACE 2 - 4
FACE 2 - 4: ESTRUTURA DE METALON FACE 4 + ELEMENTOS ANEXOS, ARARA E PRATELEIRAS
Na Face 2 da Estrutura Externa, há a presença dos Ar-
mários e dos Cubos Fechados, que poderão servir para o
armazenamentos dos utensílios da cozinha e das oficinas
de pintura, mosaico, costura e bordado. Na Face 4 da
Estrutura Externa há a utilização de uma arara móvel e
prateleiras de madeira que poderão ser colocadas para
atender a novos tipos de uso e para exposições diversas.
159 160
FACE 2 - FECHADA E ABERTA FACE 4 - FECHADA E ABERTA
161 162
CUBO PRATELEIRA
CARRINHO DE DESCANSOARMÁRIO
CUBO FECHADO PRATELEIRA DO CARRINHO DE DESCANSO E DA FACE 4
VASO
Os Elementos Anexos foram pensados para dar maiores
possibilidades de uso para a estrutura da cozinha. Por se-
rem feitos de madeira, poderão ser construídos na marce-
naria do Centro de Convivência do Bairro São Paulo pelos
usuários da rede. Os elementos são móveis e podem ser
desconectados da Estrutura Externa para ganhar o entor-
no e promover a interatividade entre as pessoas.
ELEMENTOS ANEXOS
165 166
MÓDULOS ÁGUA E FOGO
167 168
MÓDULO ÁGUA - FECHADO E ABERTO
O Módulo Água foi projetado para possuir uma maior auto-
nomia e funcionalidade. Ele comporta um sistema de uso
da água com o emprego de galões de 20 L. O módulo con-
ta com bancadas auxiliares que podem ser abertas para o
uso,umapiade40x40cmeumarmárioparaarmazenamen-
to de utensílios. No lugar do armário poderá ser colocada
umacaixatérmicaparaoacondicionamentodosalimentos.
MÓDULO ÁGUA
MÓDULO ÁGUA ABERTOMÓDULO ÁGUA FECHADO
SISTEMA DE USO DA ÁGUA COM O EMPREGO DE GALÕES DE 20 L
169 170
MÓDULO FOGO - FECHADO E ABERTO
O Módulo Fogo, assim como o Módulo Água, foi projetado
para obter a maior funcionalidade, autonomia e desempe-
nho no pequeno espaço que ocupa. A estrutura metálica
proporciona a colocação de inúmeros utensílios dependu-
rados em todo o módulo. O módulo conta com um fogão de
bancadaagásde4bocas,bancadasauxiliareseumespa-
ço em seu interior para guardar algumas mesas dobráveis.
MÓDULO FOGO
MÓDULO FOGO ABERTO + MESAS DOBRÁVEISMÓDULO FOGO FECHADO
MÓDULO FOGO ABERTO
171 172
MÓDULOS - MEDIDASMÓDULOS ÁGUA E FOGO
173 174
As bases metálicas foram projetadas para garantir a mo-
vimentação da Estrutura Externa e dos Módulos. As bases
utilizam uma chapa metálica de 1/2” de espessura. Nas
bases 1 e 2 são utilizados rodízios pneumáticos de 5”com
freio e na base 3 rodízios pneumáticos de 6”. Os rodízios
sãofixadosnachapacomparafusossextavado3/8”.Acha-
pa metálica da base é soldada nos elementos da cozinha.
BASE METÁLICA
BASE METÁLICA 1 - MEDIDAS BASE METÁLICA 2 - MEDIDAS BASE METÁLICA 3 - MEDIDASVISÃO GERAL DA CONSTRUÇÃO DA BASE METÁLICA
BASE METÁLICA 1 - PERSPECTIVA BASE METÁLICA 2 - PERSPECTIVA BASE METÁLICA 3 - PERSPECTIVA
175 176
MATERIAIS
M1 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 243 cm;
M2 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 45 cm;
M3 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 147 cm;
M4 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 141 cm;
M5 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 93 cm;
M6 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 51 cm;
M7 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 135 cm;
M8 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 50 cm;
M9 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 60 cm;
M10 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 63 cm;
M11 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 125 cm;
M12 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 187 cm;
M13 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 53 cm;
M14 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 24 cm;
M15 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 27 cm;
178
“O correr da vida embrulha tudo:
a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta:
o que ela quer da gente é coragem”
Guimarães Rosa
180
9 - CONCLUSÃO
“A ÚNICA FORMA DE SE IDENTIFICAR OS PROBLEMAS É NÃO NEGÁ-LOS...
AO NOMEAR, ENCARAR AS DIFICULDADES,
PODEMOS COMPREENDER E CRIAR ALTERNATIVAS PARA SUPERÁ-LOS”
ANTÔNIO QUINET
O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” é uma proposta
crítica e diferenciada, que não se baseia em regras for-
mais das visões da arquitetura como arte aplicada às so-
luções estéticas, visuais, de acomodações e acessos à
população, mas sim, com foco nas relações humanas e
na utilização do espaço público como um local insertivo e
compartilhado.
O projeto da cozinha procura encorajar novas possibilida-
des, novos usos e novos meios de intercâmbio e diálogo
entre as pessoas na vida urbana da cidade. Uma propos-
ta que traz na sua essência a necessidade de exteriorizar
e levar a loucura para um novo contexto e para novos
cenários.
183
“Com as letras fiz as palavras
Com as palavras fiz as frases
Com as frases fiz versos
Com os versos contei histórias
Com histórias contei a vida
Com a vida vivi o melhor que pude...”
Daílton Rodrigues de Araújo
186
10 - LINKS IMPORTANTES - BIBLIOGRAFIA
“NÃO SOU NADA
NUNCA SEREI NADA
NÃO POSSO QUERER SER NADA
À PARTE ISSO, TENHO EM MIM TODOS OS SONHOS DO MUNDO”
ÁLVARO DE CAMPOS
ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro: Vida, Genocídio e 60 mil
Mortes no Maior Hospício do Brasil. São Paulo: Geração, 2013
AMARANTE, PAULO. Loucos pela vida: A Trajetória da Reforma
Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995
BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Geral de Saúde Men-
tal. Boletim Saúde Mental no SUS, ano VI, n. 26, 2007
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Legislação em
saúde mental. Brasília, DF, 2002
CAMPOS, C. R. Cidadania, Sujeito, Cersam e Manicômios. Metipolá
- Revista do Cersam Leste de Belo Horizonte, 1999
DELEUZE, G. & GUATTARI, F. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago
Editora, 1976
FREYRE, Gilberto. Manifesto Regionalista. 7.ed. Recife: FUNDAJ,
Ed. Massangana, 1996
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Política de Saúde Mental de
Belo Horizonte: O Cotidiano de Uma Utopia. Belo Horizonte: Secre-
taria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, 2008
https://drive.google.com/drive/folders/1xvkzqr34B5xowkiUcyYIrMLQGvp2wYnb
LINK DE ACESSO PARA OS ARQUIVOS DO PROJETO “COZINHA ESQUIZOFÊMERA”
https://www.youtube.com/watch?v=uQrWZ3qWkVY
COZINHA COMPARTILHADA EM UM CERSAM DE BELO HORIZONTE
https://www.youtube.com/watch?v=CVMGZqV2cP4
DOCUMENTÁRIO “HOLOCAUSTO BRASILEIRO”
http://www.constructlab.net/projects/casa-do-vapor/
CASA DO VAPOR
https://memoriagustativa.jimdo.com
MARCELINA BELMIRO
https://www.facebook.com/groups/1413804868850119/about/
COZINHA COMUM
http://www.akb.ca/projects/#/story-pod/
STORY POD
http://www.constructlab.net/projects/casa-do-vapor/
CRATE HOUSE + PARSONS KITCHEN
https://www.facebook.com/SescPalladium/videos/792662774239391/?hc_re-
f=ARQAztPCdc2POWN9mdhkal2nUVuAhvZTF87he-euM2jSJ0Np1nccz-
9fjiSRa6th1MX4&pnref=story
ADENTRO
https://suricatosolidaria.wordpress.com/espaco-cultural-suricato/
ASSOCIAÇÃO SURICATO
http://u-tt.com/project/swissnex-parklet/
THE PUBLIC SPECTACLE
http://www.variableprojects.com/mobile-craft-module/
MOBILE CRAFT MODULE
LINKS IMPORTANTES BIBLIOGRAFIA
189 190
“Uma sociedade nova surgirá um dia, como nos sonhos:
uma cidade imensa, esplêndida.
Como uma miragem, onde cada cidadão viveria do
seu trabalho e teria o seu quinhão nas alegrias comuns”
Zola
11 - LISTA DE IMAGENS
“QUEM ANDA NOS TRILHOS É TREM DE FERRO,
SOU ÁGUA QUE CORRE ENTRE AS PEDRAS: LIBERDADE CAÇA JEITO.”
MANOEL DE BARROS
1 - APRESENTAÇÃO
IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 7 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 8 - Acervo da Associação Suricato;
IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 10 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 11 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 12 - Acervo da Associação Suricato;
2 - MOTIVAÇÃO
IMAGEM 1 - Acervo da internet;
IMAGEM 2 - Acervo da internet;
IMAGEM 3 - Acervo da Associação Suricato;
IMAGEM 4 - Acervo da Associação Suricato;
IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 6 - Acervo da Associação Suricato;
3 - OBJETIVOS DO PROJETO
IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor;
4 - PILARES DO PROJETO
IMAGEM 1 - Acervo da internet;
IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 7 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 8 - Acervo da Associação Suricato;
IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 10 - Acervo pessoal do autor;
5 - COZINHAR E CONVIVER NO ESPAÇO PÚBLICO
IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor;
6 - COZINHA DA CASA DO VAPOR
IMAGEM 1 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 2 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 3 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 4 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 5 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 6 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 7 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 8 - Acervo pessoal da Constructlab;
IMAGEM 9 - Acervo pessoal da Constructlab;
7 - MARCELINA BELMIRO
IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 7 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 8 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor;
8 - COZINHA COMUM
IMAGEM 1 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 2 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 3 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 4 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 5 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 6 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 7 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 8 - Acervo da Cozinha Comum;
IMAGEM 9 - Acervo da Cozinha Comum;
9 - SURICATO - UM MOSAICO DE SONHOS
IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 5 - Acervo da Associação Suricato;
IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 7 - Acervo da Associação Suricato;
IMAGEM 8 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 10 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 11 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 12 - Acervo pessoal do autor;
IMAGEM 13 - Acervo da Associação Suricato;
IMAGEM 14 - Acervo pessoal do autor;
10 - THE PUBLIC SPECTACLE
IMAGEM 1 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 2 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 3 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 4 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 5 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 6 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 7 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 8 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 9 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 10 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
IMAGEM 11 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT);
11 - MOBILE CRAFT MODULE
IMAGEM 1 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
IMAGEM 2 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
IMAGEM 3 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
IMAGEM 4 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
IMAGEM 5 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
IMAGEM 6 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
IMAGEM 7 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
IMAGEM 8 - Acervo do Prototyping Mobility Advan-
ced Architecture Studio;
12 - STORY POD
IMAGEM 1 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
IMAGEM 2 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
IMAGEM 3 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
IMAGEM 4 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
IMAGEM 5 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
IMAGEM 6 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
IMAGEM 7 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
IMAGEM 8 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB);
13 - CRATE HOUSE + PARSONS KITCHEN
IMAGEM 1 - Acervo do Allan Wexler;
IMAGEM 2 - Acervo do Allan Wexler;
IMAGEM 3 - Acervo do Allan Wexler;
IMAGEM 4 - Acervo do Allan Wexler;
IMAGEM 5 - Acervo do Allan Wexler;
14 - ADENTRO
IMAGEM 1 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 2 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 3 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 4 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 5 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 6 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 7 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 8 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
IMAGEM 9 - Acervo da Cecília Ganzarolli;
15 - UMA COZINHA ESQUIZOFÊMERA / CONCLUSÃO
Todas as imagens, incluindo os diagramas e as mon-
tagens, pertencem ao acervo do autor.
193 194
“POSSO GRITAR QUE O VENTO LEVA,
MAS NO SILÊNCIO TUDO NÃO PASSA DE BRISA...”
ANDORINHA
COZINHA ESQUIZOFÊMERA
UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
ROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROSROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROS

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Cozinha Esquizofêmera

  • 1. COZINHA ESQUIZOFÊMERA UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
  • 2. COZINHA ESQUIZOFÊMERA UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
  • 3. Medeiros, Roberto Carvalho Pedrosa Cozinha Esquizofêmera - Uma Nova Maneira de Cuidar e Pensar a Loucura / Roberto Carvalho Pedrosa de Medeiros. - 2017. Orientador: Adriano Mattos Corrêa Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura e Design, 2017. Arquitetura e Urbanismo CDD 720 M 488c FICHA CATALOGRÁFICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - ESCOLA DE ARQUITETURA E DESIGN GRADUAÇÃO: ARQUITETURA E URBANISMO ORIENTADOR: ADRIANO MATTOS CORRÊA ROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROS BELO HORIZONTE DEZEMBRO | 2017 COZINHA ESQUIZOFÊMERA UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
  • 4. “… E ENTRE AS CORES, O QUEIJO, A PIMENTA, O AZEITE E O AZEDO ENCONTRO COM O SALGADO, QUE ACOLHE O DOCE E QUE REFLORESCE: SIMPLICIDADE! E NO DOURADO DESSA COZINHA ABERTA QUE PREPARA A VIDA, QUE COZINHA TUDO, MENOS O TEMPO!” AUTOR DESCONHECIDO
  • 5. AGRADECIMENTOS Gostaria nesse momento, antes de dar início ao conte- údo desse livro, de ter a oportunidade de agradecer a todos aqueles que contribuíram para a realização desse trabalho. Foram inúmeras as pessoas que tornaram esse projeto possível, cada uma compartilhando um pouco do seu conhecimento, da sua vivência e da sua experiência. Deixo aqui um agradecimento especial ao meu orientador o Prof. Adriano Mattos Corrêa, por ter me guiado ao lon- go de todo o projeto, desde o seu surgimento há quase um ano e meio atrás. Agradeço também o Bruno Soriano e a Marta Soares da Associação Suricato e o Felipe Ar- thur, por terem me conduzido através dos meandros que percorrem a saúde mental, uma área que foi aos pou- cos sendo explorada e vivenciada. Meus agradecimentos também à Karen Zacché, a Renata Corrêa e a Maíra Mo- rais do Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário. Aos meus pais, meu irmão, minha namorada, à Nala, aos meus familiares, amigos e colegas da escola de arquite- tura que estiveram ao meu lado durante todo o desenvol- vimento do projeto e também da minha vida acadêmica. Acredito que somente unindo esforços e compartilhando saberes, histórias e experiências que conseguiremos co- locar em prática os inúmeros projetos que estão sendo elaborados, para tentar, de alguma forma, romper com os muros que ainda cercam a loucura. Esse trabalho faz parte de um conjunto de ações que procuram amenizar o sofrimento vivido diariamente por aqueles que necessi- tam de toda a nossa atenção, amor e respeito, para que possam assim conquistar o seu lugar no mundo. Muito obrigado a todos!
  • 6. RESUMO - ABSTRACT The “Cozinha Esquizofêmera” project aims to create a collaborative, shared and open space in opposition to the traditional method of aiding mental health sufferers in Belo Horizonte. A multifunctional, ephemeral and itinerary structure whose main support comes from the Anti-Asylum Movement and the Solidarity Economy. This project comes as a reflection and an experiment for activation and occupation of the city’s public space, uniting an open, shared and polyvalent kitchen with so- cial, productive and economic reinsertion for users of the mental health network in Belo Horizonte. A project that is beyond walls, that looks to assist the different forms and moments of mental health suffering in a dignified and hu- mane manner; a respectful approach to the different ways of being, seeing and perceiving the world. O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” tem como finalida- de a criação de um espaço colaborativo, compartilhado e aberto que vem a se contrapor à tradicional forma de assistência ao portador de sofrimento mental de Belo Ho- rizonte. Uma estrutura efêmera, multifuncional e itinerante que tem como sustentação principal o Movimento da Luta Antimanicomial e a Economia Solidária. O projeto surge como uma reflexão e uma experiência de ativação e ocupação do espaço público da cidade, que une uma cozinha compartilhada, aberta e polivalente com a inserção social, produtiva e econômica dos usuários da rede de saúde mental de Belo Horizonte. Um projeto ex- tramuros, que busca atender de modo digno e humano às diferentes formas e momentos em que o sofrimento mental surge e se manifesta, uma postura de respeito aos diferentes modos de ser, ver e perceber o mundo.
  • 7. “PARA NAVEGAR CONTRA A CORRENTE SÃO NECESSÁRIAS CONDIÇÕES RARAS: ESPÍRITO DE AVENTURA, CORAGEM, PERSEVERANÇA E PAIXÃO” NISE DA SILVEIRA
  • 8. CONTEÚDO 655 - COZINHAR E CONVIVER NO ESPAÇO PÚBLICO 474 - PILARES DO PROJETO 353 - OBJETIVOS DO PROJETO 232 - MOTIVAÇÃO 011 - APRESENTAÇÃO 18710 - LINKS IMPORTANTES, BIBLIOGRAFIA E LISTA DE IMAGENS 1819 - CONCLUSÃO 1358 - UMA COZINHA ESQUIZOFÊMERA 1057 - ESTRUTURAS DE REFERÊNCIA 756 - INSPIRAÇÕES
  • 9. 1 - APRESENTAÇÃO “UMA COZINHA EM CRISE SIGNIFICA UMA CIVILIZAÇÃO INTEIRA EM PERIGO: O PERIGO DE DESCARACTERIZAR-SE” GILBERTO FREYRE
  • 10. Convido o leitor a conhecer passo a passo esse projeto que foi elaborado com muita dedicação e carinho ao lon- go do ano de 2017. O trabalho contou com a orientação do Prof. Adriano Mattos Corrêa da Escola de Arquitetura e Design da UFMG e com a ajuda de inúmeras pessoas ligadas à rede de saúde mental de Belo Horizonte. Busquei nessa reta final da graduação me distanciar um pouco das questões projetuais, ditas “convencionais” da arquitetura e do urbanismo, para adentrar em uma área ainda pouco explorada pelos profissionais do meio. O tra- balho que você tem agora em mãos traz uma discussão a respeito de novas formas de uso e ocupação do espaço público da cidade, colocando lado a lado a arquitetura e a saúde mental, e explicitando de maneira singular a im- portância do arquiteto como promotor e mediador de tais aproximações, relações e conflitos. 04
  • 11. Farei aqui um breve histórico do desdobramento do pro- jeto ao longo do período que ele vem sendo elaborado. Bom, tudo começou na disciplina “Cozinha Compartilha- da” ministrada pelo Prof. Adriano Mattos no segundo se- mestre de 2016. A temática da disciplina era bem ampla, diversificada e aberta, permitindo-se com isso que cada aluno escolhesse livremente o local para a análise e im- plantação do projeto. Optei então por escolher o CER- SAM Leste, localizado no Bairro Santa Tereza em Belo Horizonte, para ser o local de elaboração da proposta da cozinha compartilhada. Para a concretização desse trabalho foi de extrema im- portância a participação de alguns amigos que estão li- gados direta ou indiretamente à saúde mental em Belo Horizonte. Para a apresentação final dessa disciplina foi realizado um pequeno vídeo documentando o posiciona- mento de cada pessoa sobre a proposta final do projeto e também um paralelo entre a proposta apresentada com a área de estudos, atuação e experiência de cada envolvi- do. O vídeo pode ser encontrado facilmente no YouTube com o seguinte nome: “Projeto Cozinha Compartilhada em um CERSAM de Belo Horizonte”. Com o desfecho do projeto da cozinha compartilhada, conclui que o CERSAM, mesmo se tratando de uma insti- tuição que têm como sustentação principal o Movimento da Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica, ainda é uma instituição muito fechada e limitada para propostas e práticas do gênero. Essa conclusão final trouxe uma inquietação e uma motivação ainda maior para dar conti- nuidade ao projeto da cozinha, pensando em meios mais abertos, dinâmicos e autônomos de atenção e cuidados aos portadores de sofrimento mental de Belo Horizonte. 05
  • 12. “...Tal como estava era uma mesa feita de pedaços, como foram feitos certos desenhos de esquizofrênicos, desenhos ditos entulhados, e se ela se apresentava acabada, era só na medida em que já não havia maneira de lhe acrescentar mais nada, mesa que se tinha tornado cada vez mais um amontoado e cada vez menos uma mesa... E não servia para nada do que se possa esperar de uma mesa.” trecho do livro “O Anti-édipo” de Gilles Deleuze e Félix Guatarri O nome do projeto teve como inspiração um trecho do livro “O Anti-Édipo” de Gilles Deleuze e Félix Guatarri exi- bido na página seguinte. O projeto buscou a criação de um espaço dito “esquizofrênico” e efêmero, que poderá servir para práticas culinárias, como um espaço de expo- sição e venda dos trabalhos e das obras realizadas pelos usuários da rede, para pequenas apresentações teatrais e musicais, para palestras e seminários, para uso em fei- ras e mercados, como forma de alegoria, como consul- tório de rua, como oficina de pintura, mosaico, costura e bordado, etc. Um espaço que busca a aproximação dos portadores de sofrimento mental no cenário urbano da ci- dade e no convívio com outras pessoas. O nome “Cozinha Esquizofêmera” acabou surgindo em uma mesa redonda que aconteceu no seminário aberto ao público “Arquitetura e Saúde Mental”, realizado no dia 07/07/2017 na Associação Suricato. Nesse seminário foi exposto de maneira introdutória a proposta da cozinha, juntamente com outros trabalhos realizados por colegas do curso de arquitetura que traziam uma temática seme- lhante, um diálogo entre arquitetura e saúde mental. O nome desse projeto é então uma combinação de dois termos, o esquizofrênico e o termo efêmero apresentado pelo próprio caráter da estrutura da cozinha. A proposta da “Cozinha Esquizofêmera” foi uma constru- ção minuciosa de pequenas partes, cada uma com a sua singularidade e importância, que acabaram por se agru- par e dar forma a esse trabalho. O projeto e sua forma final sofreram influências de inúmeras pessoas ligadas à rede de saúde mental de Belo Horizonte. A cozinha surge então como produto de um amontoado de ideias, histó- rias, vivências e experiências... Pedaços de um todo. 07
  • 13. A cozinha tem como um de seus pilares o Movimento da Luta Antimanicomial, que é caracterizado pela luta pelos direitos das pessoas portadoras de sofrimento mental. O MovimentodaLutaAntimanicomialcaracteriza-sepeloseu viés democrático, contando com a participação ativa dos usuários da rede, familiares, amigos, profissionais e quais- quer interessados em estabelecer uma postura de respei- to aos diferentes modos de ser, ver e perceber o mundo. Como todo cidadão, os portadores de sofrimento mental possuem o direito à liberdade, a viver em sociedade e a receber tratamento adequado e digno, sem que para isso tenham que abrir mão de seu lugar como cidadão. O projeto da cozinha vem então proporcionar aos usuários uma maior autonomia e a busca pela inserção social e produtiva no atual cenário político, econômico e social em que vivemos. 10
  • 14. A cozinha vem possibilitar uma efetiva participação dos usuários da rede de saúde mental de Belo Ho- rizonte, não apenas como expectadores, mas como membros atuantes na sua construção e na sua poste- rior administração e implantação em diferentes pon- tos da cidade. O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” não se conteve à escala e às dimensões projetuais for- mais da arquitetura. O projeto surge nesse contexto como uma resposta crítica a essa arquitetura “fechada”. A cozinha é uma proposta dotada de significados, valores e lutas com foco nas relações compartilhadas e em outros modos de se viver e de ocupar o espaço público da cida- de, espaço esse como um dos poucos locais onde ainda é possível conviver e aprender com as diferenças. Um terri- tório que parece cada vez mais dominado, excludente e de difícil apropriação pelas pessoas, uma terra de ninguém. 12
  • 15. O projeto busca a construção dessa estrutura esquizo/ efêmera não se apegando a apenas um espaço físico para a sua implantação na cidade. A cozinha foi pensada para ser montada e desmontada de maneira prática e rá- pida, facilitando assim o seu transporte e uso em diferen- tes pontos de Belo Horizonte. A cozinha engloba em seu interior os núcleos de trabalhos que já são de conheci- mento e domínio por alguns usuários da rede, sendo eles: a culinária, o mosaico, a costura, o bordado, a marcena- ria, o teatro e a música. Todos esses núcleos de trabalho serão de alguma forma “amontoados” dentro da estrutura que será apresentada em detalhes mais adiante. Oprojetovaimuitoalémdoatodecozinharemsi.Acozinha abrange relações sociais, culturais, políticas e econômi- cas. O ato de cozinhar entendido como um ato revolucio- nário que modifica as pessoas e o território em seu entorno. 13
  • 16. Vivemos em uma época bastante conflituosa e incerta no cenário urbano, social e político das cidades. As pessoas estão perdendo espaço para os veículos e para outros elementos que não proporcionam uma vida social e co- letiva satisfatória. A estrutura da cozinha busca encorajar novas formas de ocupação do espaço público e propor- cionar um espaço adaptável e móvel para o intercâmbio entre as pessoas. O ato de cozinhar é apenas uma das inúmeras possibilidades de uso que a estrutura oferece. Umaestruturaquesóseconfiguraapartirdainteraçãoeda relação entre as pessoas. A proposta é levar todas as ativi- dades desenvolvidas pelos usuários nos centros de aten- ção da rede de saúde mental para as ruas da cidade. Co- zinhar, pintar, costurar, bordar, cantar, tocar e atuar, tudo isso feito nas ruas e não dentro dos muros das instituições. Precisamos “levar a loucura para passear pela cidade”. 15
  • 17. O projeto é uma experiência de ativação e ocupação do espaço público que une uma cozinha colaborativa e aberta com a inserção social, produtiva e econômica dos usuários da rede, um projeto extramuros. Um espaço que busca a aproximação dos portadores de sofrimento men- tal na vida urbana da cidade e no convívio com outras pessoas, de maneira mais justa, igualitária e digna. Como será visto no próximo capítulo, um dos motivos centrais que me levou a elaborar esse projeto foi a neces- sidade de “derrubar” os muros e portões que ainda cer- cam a loucura. Esses limites, que são físicos e não físicos, acabam por afastar os usuários da vivência da cidade e do intercâmbio com as pessoas. O caminho é longo, mas é só através do esforço coletivo e através de ações so- ciais e políticas que poderemos garantir de alguma forma dias melhores e mais felizes para essas pessoas. 18
  • 18. Irei abordar nos capítulos a seguir quais foram as moti- vações principais que me levaram a propor esse projeto, os objetivos da proposta, os pilares que dão sustentação a esse trabalho. Abordarei também sobre o ato de cozi- nhar e conviver no espaço público da cidade e colocarei algumas inspirações e referências projetuais que me con- duziram para a elaboração da estrutura física da cozinha. No final desse livro será exibido um manual de constru- ção com todas as informações necessárias para que a cozinha possa de fato sair do papel e ganhar as ruas da cidade de Belo Horizonte, e quem sabe, outras cidades também. Deixarei à disposição do leitor todos os modelos 3D da estrutura da cozinha para um melhor entendimento da sua construção. Para o presente trabalho foi realizado um pequeno do- cumentário em vídeo com alguns atores de importância QR Code para a elaboração do mesmo. Nesse vídeo há o relato individual de cada pessoa contanto um pouco da sua ex- periência e vivência na saúde mental, e quais são, na sua opinião, os benefícios que o projeto da cozinha poderá trazer em prol daqueles que necessitam da nossa ajuda e atenção. O link de acesso ao vídeo, assim como a versão digital desse livro e os modelos 3D da estrutura da cozi- nha, encontra-se na página 189, mas podem ser acessa- dos através do QR Code abaixo. USUÁRIOS DA REDE POPULAÇÃO LOCAL INSERÇÃO SOCIAL ESTRUTURA EFÊMERA USO DO ESPAÇO PÚBLICO ESPAÇO COMPARTILHADO INSERÇÃO PRODUTIVA espaço multifuncional LUGAR DE TROCAS conviver com a diferença COZINHAR NO ESPAÇO PÚBLICO COZINHA ABERTA 19
  • 19. “O cozinhar acolhe, elimina ou deixa em suspenso fronteiras e diferenças. Comer junto não alimenta só o corpo, mas também a alma. Desperta sentimentos bons nas pessoas e se desdobra em histórias” Ceci Nery 22
  • 20. 2 - MOTIVAÇÃO “EU TOMO REMÉDIOS, MAS OS REMÉDIOS NÃO ME CURAM. O QUE ME CURA É A ARTE...” FREDERICO EYMARD
  • 21. Como foi exposto brevemente na apresentação desse li- vro, um dos motivos principais que me levou a elaborar esse projeto é o fato que a loucura não pode ser entendi- da como algo que precisa ser confinada e presa. Se bus- carmos um pouco na internet sobre o assunto, veremos já nos primeiros minutos de pesquisa, alguns vídeos, relatos e documentários da barbárie que ocorreu e ainda ocorre no Brasil e no mundo nos hospitais psiquiátricos. Deixo aqui três indicações para que o leitor possa co- nhecer mais a fundo esse mundo tão obscuro da nossa história, e que, ao meu ver, não deve ser ignorado tão facilmente. A primeira indicação é o documentário “Holo- causto Brasileiro”, baseado no livro de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex. O Documentário narra a história da morte de aproximadamente 60 mil pessoas que eram confinadas em condições de extrema decadência e hu- milhante em um manicômio localizado na cidade de Bar- bacena, no interior de Minas Gerais. Ao longo de várias décadas, “pacientes” que apresentavam alguns sintomas de doença mental e psicológica, eram trazidos de diver- sos cantos do Brasil para serem submetidos aos mais aterrorizantes e bárbaros tratamentos que um ser huma- no pode se submeter. Em determinados momentos, eram jogados em pátios, nus, em meio ao frio das montanhas mineiras e por ali ficavam, por todo o dia, todos os dias. Os corpos dessas pessoas eram depositados em massa em um cemitério muito menor que o recomendável, ou pior, eram vendidos para faculdades de medicina, como indigentes para serem estudados e dissecados. O documentário é chocante, mas ajudará a entender me- lhor alguns motivos que me levaram a propor o trabalho que você tem agora em mãos. 25
  • 22. A segunda indicação que faço ao leitor é o filme brasileiro “Nise - O Coração da Loucura”. Esse filme narra a história da psiquiatra Nise da Silveira que revolucionou o trata- mento oferecido para as pessoas portadoras de sofrimen- to mental, mais especificamente para aquelas portadoras de esquizofrenia. A psiquiatra teve um papel fundamental para o Movimento da Luta Antimanicomial e para a Refor- ma Psiquiátrica no Brasil. No filme é possível perceber o descaso e o abandono vivido pelos portadores de sofri- mento mental no Brasil na época. No filme são exibidas as formas alternativas de tratamen- to, tendo como apoio a arte e o afeto, em substituição a métodos agressivos e humilhantes de tratamento que podem ser comparados a atos de tortura. Esses métodos infelizmente ainda perduram em alguns hospitais psiquiá- tricos no Brasil e no mundo. 27
  • 23. A terceira indicação que faço ao leitor é o filme brasileiro baseado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno, “Canto dos Malditos”. O filme “Bicho de Sete Ca- beças” é um retrato chocante e humanamente cruel sobre a realidade vivenciada por pacientes em hospitais psiqui- átricos no Brasil e no mundo. O filme mostra de forma escancarada a falta de humanidade e a humilhação en- contrados nesses espaços, onde aquelas pessoas ditas “anormais”, por não se enquadrar nos moldes comporta- mentais impostos pela sociedade, são obrigadas, contra a vontade, a se submeterem a tratamentos desumanos. A partir dessas referências, além das pesquisas relacio- nadas ao tema e através de longas conversas com pes- soas ligadas à rede de saúde mental, notei que algo pre- cisava ser feito para exteriorizar ainda mais essa luta, que não é recente, e necessita cada vez mais do nosso apoio. 30
  • 24. Como foi exposto nas páginas anteriores, a loucura é algo que deve ser cuidada em liberdade, de maneira mais digna, humana e autônoma, sem preconceitos. Somente assim conseguiremos proporcionar aos usu- ários uma vida mais justa e igualitária, livres de toda a mazela, violência, dor, sofrimento e abandono. Essas foram as motivações principais que me conduziram na elaboração desse projeto, a necessidade de criar espaços mais abertos de atenção aos portadores de sofrimento mental e maneiras mais justas e diversifi- cadas de se viver, buscando-se com isso a inserção social e produtiva dessas pessoas na vida cotidiana. Convido então o leitor a conhecer mais a fundo esse trabalho e ir extraindo o máximo desse sentimento que hoje eu tento compartilhar me espremendo atra- vés das páginas desse livro. 31
  • 25. “Pro lado de cá, não tem acesso, mesmo que me chamem pelo nome, mesmo que admitam meu regresso. Toda vez que eu vou, a porta some, a janela some na parede. Fui pelo abandono abandonado, aqui dentro do lado de fora” Arnaldo Antunes. 34
  • 26. 3 - OBJETIVOS DO PROJETO “QUANTAS GUERRAS TEREI QUE VENCER POR UM POUCO DE PAZ?” AUTOR DESCONHECIDO
  • 27. Nesse capítulo darei ênfase aos principais objetivos que norteiam o projeto da “Cozinha Esquizofêmera”. Resolvi pontuar três objetivos centrais para um melhor esclareci- mento e posicionamento das ideias. Esses objetivos estão sendo colocados em questão desde o início do trabalho e foram de extrema importância para a elaboração final da proposta. Os objetivos do projeto surgiram como um produto con- clusivo após às inúmeras conversas, debates e questio- namentos que tive me baseando nos relatos de algumas pessoas ligadas direta ou indiretamente à saúde mental de Belo Horizonte. Foi só a partir dessas trocas de sabe- res, experiências e vivências, e me baseando na realida- de vivida pelos usuários, que foi possível propor alguns objetivos centrais para a elaboração do projeto da cozi- nha. Os objetivos serão apresentados a seguir. 38
  • 28. 1 - Assistir uma melhor inserção social dos portadores de sofrimento mental na cidade de Belo Horizonte: A cozinha passa a ser entendida então como um espaço de trocas de experiências, de saberes, memórias e his- tórias e como um espaço de consolidação de relações entre as pessoas. A cidade como sendo um espaço de convivência e de trocas entre indivíduos. A cozinha por ser itinerante e efêmera possibilita a atua- ção em vários locais da cidade, permitindo assim trocas de experiências, de público e de materiais em todos os locais e momentos. A cozinha, por funcionar em um local público, poderá servir de diversas maneiras à população local e aos usuários da rede de saúde mental de Belo Horizonte. A cozinha possibilita também uma conexão e parcerias com colaboradores e produtores locais. 39
  • 29. 2 - Inserção produtiva através do trabalho realizado em conjunto: O projeto surge como uma resposta contra a exclusão econômica e social vivenciada pelos portadores de so- frimento mental. Trabalhar é condição essencial, não so- mente pela manutenção financeira, mas pela dignificação da vida. A produção como ferramenta de geração de renda e tra- balho para a venda das comidas, dos trabalhos e das obras realizadas pelos usuários, procurando com isso o bem-estar individual e coletivo, a autoestima e a efe- tiva inclusão social e econômica na vida cotidiana e no mercado de trabalho. A cozinha como um movimento de transformação social através do trabalho e da geração de renda. A cozinha ainda possibilitaria possíveis parcerias com entidades do setor alimentício como por exemplo, super- mercados, padarias, lanchonetes, restaurantes, bares, feiras e mercados e também no setor de produção de alimentos orgânicos localizados na região metropolitana de Belo Horizonte. 3 - Trabalhar uma melhor qualidade de vida para os usu- ários da rede: Estímulo ao uso de produtos orgânicos, incentivo à agri- cultura familiar e local, e motivação para a organização de possíveis atividades tendo como temas o ato de cozinhar, a manipulação dos alimentos, promover trocas de recei- tas, saberes, experiências, memórias gustativas, etc. A cozinha como promotora de convivência e de vizinhança entre as pessoas. 42
  • 30. O uso de produtos orgânicos fornecidos por produtores e colaboradores locais e a conscientização por uma melhor alimentação, aliados à inserção no mercado de trabalho devido às práticas culinárias aprendidas, proporcionam uma melhor qualidade de vida para os usuários, funcioná- rios, familiares e para a população de maneira em geral. Conclui-se então que os objetivos centrais do projeto buscam, em sua totalidade, a inserção social e econô- mica através do ato de cozinhar, com atividades coleti- vas e compartilhadas em um cenário público e dinâmi- co. O trabalho e seu produto vistos como um conjunto de ferramentas terapêuticas por quem o exerce. A cozinha pretende, nesse sentido, trazer uma diminuição das con- cepções errôneas vistas pelas pessoas, que infelizmente ainda existem e perduram, sobre a loucura. COZINHA ESQUIZOFÊMERA POPULAÇÃO LOCALPRODUTORES LOCAIS USUÁRIOS DA REDE INSERÇÃO SOCIAL INSERÇÃO PRODUTIVAMELHOR QUALIDADE DE VIDA 43
  • 31. “Não se cura além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas” Nise da Silveira 46
  • 32. 4 - PILARES DO PROJETO “PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA: POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS!” ASSOCIAÇÃO DOS USUÁRIOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL DE MINAS GERAIS (ASUSSAM) FORUM MINEIRO DE SAÚDE MENTAL - 18 DE MAIO DE 2015
  • 33. Nesse capítulo do livro darei ênfase aos pilares principais que dão sustentação ao projeto da “Cozinha Esquizofê- mera”. Como já foi apresentado ao leitor anteriormente, o projeto da cozinha se apoia em dois pilares fundamen- tais, sendo eles o Movimento da Luta Antimanicomial e a Economia Solidária. Para entender o Movimento da Luta Antimanicomial é pre- ciso voltar um pouco no tempo, no final da década de 70. Nesse momento da nossa história, muitos movimen- tos ligados à saúde denunciavam os abusos cometidos em instituições psiquiátricas, além da precarização das condições de trabalho, reflexo do caráter autoritário do governo no interior de tais instituições. A partir daí, surgi- ram movimentos de trabalhadores ligados à saúde men- tal, que colocaram em evidência a necessidade de se im- plantar urgentemente uma reforma psiquiátrica no Brasil. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) – que contou com a participação popular, inclusi- ve dos familiares dos portadores de sofrimento mental – e o Movimento Sanitário, foram dois dos maiores responsá- veis por essa iniciativa. O Movimento da Luta Antimanicomial nasceu no Encontro Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental, no dia 18 de maio de 1987, na cidade de Baurú em São Paulo, com o lema “Por Uma Sociedade Sem Manicômios”. Denuncia- va-se nesse encontro os abusos e a violação de direitos humanos sofridos pelos usuários da rede de saúde men- tal dentro dos manicômios. Lutava-se pelo fim desse tipo de tratamento e pela instalação de serviços mais dignos, humanos e alternativos. Pela relevância desse encontro, a data de 18 de maio tornou-se o dia nacional da Luta Antimanicomial. 49
  • 34. O Movimento tem como meta a substituição progressi- va dos hospitais psiquiátricos tradicionais por serviços mais abertos e diversificados de tratamento, de modo a atender às diferentes formas e momentos em que o so- frimento mental surge e se manifesta. O Movimento da Luta Antimanicomial está ligado à Reforma Psiquiátrica iniciada em pleno período ditatorial, e caracteriza-se pela luta pelos direitos das pessoas portadoras de sofrimento mental. Dentro dessa luta está o combate à idéia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental através de tratamentos médicos, idéia baseada apenas nos pre- conceitos que cercavam e que ainda cercam a loucura. No entanto, mesmo se tratando de uma política reconhe- cida pelo governo brasileiro, pela Organização Pan-Ame- ricana de Saúde (OPAS) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), há setores conservadores que defendem o retorno dos hospitais psiquiátricos. 52
  • 35. Uma das conquistas do Movimento da Luta Antimanico- mial foi a Lei 10.216/2001, mais conhecida como Lei Pau- lo Delgado, que determina o fechamento progressivo dos hospitais psiquiátricos no país e a instalação de serviços substitutivos de caráter mais aberto, digno e justo. A Lei tem o intuito de garantir os direitos de pacientes porta- dores de transtornos mentais a receberem atendimentos menos invasivos, e priorizando o tratamento através da reinserção na família, na inserção no mercado de traba- lho e também na sociedade. A partir da promulgação dessa Lei, o Brasil tem fechado progressivamente os leitos psiquiátricos e aberto serviços substitutivos de atenção, que são os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), as Residências Terapêuticas, Pro- gramas de Redução de Danos, Centros de Convivências, as Oficinas de Geração de Renda, etc. 53
  • 36. O Movimento de Luta Antimanicomial consiste, então, em um diálogo de conscientização com as instituições legais e com os cidadãos ao elaborar o discurso de que, os por- tadores de transtornos mentais não representam ameaça ou risco ao círculo social, ao contrário, esse seria um gran- de componente para sua recuperação física e mental. O paciente seria encorajado a um exercício maior de ci- dadania, fortalecendo assim os seus vínculos familiares e sociais, e nunca sendo isolado destes. Em substituição às internações, os pacientes teriam acesso a atendimentos psicológicos, atividades alternativas de lazer e tratamen- tos menos agressivos do que aqueles que eram dados anteriormente. A família e a sociedade de maneira geral, teriam aqui um papel fundamental na recuperação dos portadores de sofrimento mental, sendo os principais res- ponsáveis por eles. 56
  • 37. O segundo pilar desse projeto é a Economia Solidária, que é caracterizada pela resposta organizada à exclusão pelo mercado de trabalho, por parte dos que não querem uma sociedade movida pela competição, da qual surgem incessantemente vitoriosos e derrotados. A Economia So- lidária é vista como uma ferramenta diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver; sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem des- truir o ambiente, cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem e no desenvolvimento da coletivi- dade e também no próprio bem. A economia solidária, nesse contexto, promove a inser- ção econômica e social das pessoas que lhe fazem parte, onde elas passam a construir empreendimentos coopera- tivos, em que os usuários, técnicos, familiares, amigos e outros necessitados, colaboram em conjunto. 58
  • 38. A Economia Solidária vem se apresentando atualmente como uma inovadora alternativa de geração de traba- lho e renda, e uma resposta a favor da inclusão social, da inserção produtiva e econômica por quem a exerce. Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais que realizam atividades de produção de bens di- versos, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário. A Economia Solidária proporciona também um maior for- talecimento nas relações existentes entre o campo e a cidade, entre produtores e consumidores, permitindo as- sim uma ação mais crítica e pró-ativa dos consumidores sobre a qualidade de vida. Por ser um movimento social que luta pela mudança da sociedade, nota-se que todas essas características propiciam uma cooperação solidá- ria por toda a sociedade. 59
  • 39. Conclui-se então que o projeto da “Cozinha Esquizofême- ra” é uma fusão desses dois movimentos apresentados anteriormente, extraindo deles os conceitos fundamentais e de importância para a elaboração dessa estrutura efê- mera, colaborativa e compartilhada. Uma estrutura que busca na sua essência a construção de um espaço aber- to e multifuncional que vem a proporcionar a presença, a autonomia, as trocas, a inserção social e produtiva dos usuários da rede nos espaços públicos e coletivos. Um espaço que só se concretiza a partir das conexões en- tre as pessoas e que estrapola os muros dos centros de atenção da rede de saúde mental para as ruas da cidade. Os portadores de sofrimento mental não devem ser ex- cluídos da sociedade e abandonados como eram antiga- mente, mas sim, orientados e acompanhados para que possam encontrar o seu lugar no mundo. MELHOR QUALIDADE DE VIDAINSERÇÃO SOCIAL INSERÇÃO PRODUTIVA PRODUTORES LOCAIS POPULAÇÃO LOCAL USUÁRIOS DA REDE COZINHA ESQUIZOFÊMERA LUTA ANTIMANICOMIAL cozinhar e conviver no espaço público economia solidária 61
  • 40. “Não sou o sol, mas sou calor Não sou planeta, mas me habito Não sou terra, mas que mundo esquisito! Não sou mais eu Sou calor porque sou sol Eu me habito, porque sou planeta Mas que mundo esquisito! Estou na terra Não mais eu sou, pensamento e ilusão Não, Sócrates ou Platão” Ronaldo Xavier da Cruz 64
  • 41. 5 - COZINHAR E CONVIVER NO ESPAÇO PÚBLICO “BEBIDA É ÁGUA! COMIDA É PASTO! VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ? VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA, A GENTE QUER COMIDA, DIVERSÃO E ARTE. A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA, A GENTE QUER SAÍDA PARA QUALQUER PARTE... A GENTE NÃO QUER SÓ DINHEIRO, A GENTE QUER DINHEIRO E FELICIDADE. A GENTE NÃO QUER SÓ DINHEIRO, A GENTE QUER INTEIRO E NÃO PELA METADE...” ARNALDO ANTUNES / MARCELO FROMER / SÉRGIO BRITTO
  • 42. Nesse capítulo darei ênfase à importância do ato de co- zinhar para o projeto e na sua relação com as pessoas, com o território e com o convívio no espaço público da cidade. O ato de cozinhar, mais do que um ato ligado à nossa própria sobrevivência e subsistência, é uma ativi- dade determinante para nos distinguir dos demais seres vivos, é uma condição primordial que nos torna humanos. O ato de cozinhar pode ser entendido como uma atividade que acolhe as pessoas em seu entorno, modificando-as e criando uma teia de vínculos entre as pessoas e o território. A cozinha é entendida então como um local que auxilia a troca de saberes e de histórias com o outro. Se pegarmos comoreferênciaacozinhadenossascasas,veremoscomo ela fica cheia em dias de visita. É no ambiente da cozinha que está instalado o coração da casa, onde o dinamismo do espaço se instaura como mediador de relações sociais. 68
  • 43. O ato de cozinhar pode ser entendido como um ato revo- lucionário e performático. Cozinhar reivindica uma rela- ção particular com o tempo e com o espaço, é antes de mais nada um gesto de troca e de partilha. É uma ativi- dade que resulta na entrega, no fazer junto e nas trocas entre indivíduos. A cozinha é um local que permite trocar e compartilhar histórias, saberes, receitas, experiências e conhecimentos dos mais variados possíveis. Um local dinâmico e vivo que existe dentro das nossas tradições. Cozinhar e comer estão diretamente relacionados, um não existe sem o outro. Cozinhar e comer estão intima- mente interligados através do território onde se instauram. A cozinha é em sua essência uma forma de linguagem e de cultura entre povos. É uma narrativa dos costumes, memórias e das histórias de uma sociedade, um patrimô- nio que deve ser preservado e cuidado por todos. 69
  • 44. O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” coloca a cozinha em um cenário público e coletivo, onde as trocas e as re- lações entre os indivíduos são infinitas. A cozinha vem então proporcionar uma maior participa- ção dos usuários na vida cotidiana da cidade e servir de diversas maneiras à população local e do entorno. Levar todo esse aparato e essas qualidades que o ato de cozi- nhar proporciona para as ruas é de um potencial incrível. É romper com os muros que ainda cercam a loucura e dar maiores condições para que os portadores de sofrimen- to mental ganhem as ruas, compartilhem receitas, expe- riências, histórias e saberes e desfrutem da convivência e das trocas com o próximo. É ganhar novos cenários, novas ambiências e possibilidades. É escrever um novo capítulo na Luta Antimanicomial e virar a página da exclu- são social, do preconceito, do sofrimento e do abandono. 72
  • 45. “A liberdade é só presente, não promete pro futuro não comete ter saudade” Tom Zé 73
  • 46. 6 - INSPIRAÇÕES “A CRIATIVIDADE É O CATALISADOR POR EXCELÊNCIA DAS APROXIMAÇÕES DE OPOSTOS. POR SEU INTERMÉDIO, SENSAÇÕES, EMOÇÕES, PENSAMENTOS, SÃO LEVADOS A RECONHECEREM-SE ENTRE SI, A ASSOCIAREM-SE, E MESMO TUMULTOS INTERNOS ADQUIREM FORMA” NISE DA SILVEIRA
  • 47. COZINHA DA CASA DO VAPOR A Cova do Vapor é uma pequena vila de pescadores ins- talada no condado de Almada, ao lado do rio Tejo, pró- ximo à cidade de Lisboa em Portugal. Boa parte da área da comunidade foi declarada como reserva natural de preservação, e não é permitido construir sobre essa área. Por um lado isso acabou por proteger a vila do enorme crescimento turístico na região, mas por outro, colocou a comunidade existente em um estado de informalidade. A “Associação de Moradores da Cova do Vapor” substi- tuiu a falta de presença da administração do município, assumindo para si a responsabilidade de gerir por uma infraestrutura pública bem trabalhada e organizando ati- vidades para a comunidade. Inspirada pela criatividade dos habitantes locais, a Constructlab decidiu iniciar a Casa do Vapor, uma estrutura de auxílio e suporte à po- pulação da vila. 78
  • 48. A estrutura final da Casa do Vapor acomodou uma sala de aula aberta, uma biblioteca pública, uma cozinha, uma oficina de bicicleta, uma pista de skate, um campo de jogos e um forno de pizza. O coletivo tornou-se parte da comunidade local ao longo de quatro meses e foi capaz de absorver várias possibilidades de uso para servir às iniciativas locais. A construção foi rápida e simples com o emprego de madeira reutilizada e contou com a parti- cipação de crianças e adultos. A falta de apoio externo tornou os habitantes ainda mais investidos e interessados na concretização desse projeto. Devido às restrições de construção, as instalações só poderiam ser temporárias. No entanto, a Casa do Vapor acabou sobrevivendo e o seu material é usado uma e ou- tra vez, disfarçando a Casa do Vapor em formas tempo- rárias de tempos em tempos. 79
  • 49.
  • 50. MARCELINA BELMIRO A cozinha aberta da Marcelina Belmiro, localizada em Belo Horizonte, é uma proposta inovadora na venda de produtos e pratos orgânicos e também das experiências dos banquetes públicos. O Marcelina Belmiro, a partir da cozinha de Patrícia Brito, é uma nova proposta que busca em suas atividades colocar em prática o conceito da Me- mória Gustativa. A Memória Gustativa é um conceito para se discutir os alimentos a partir das narrativas e histórias das pessoas e dos lugares através da comida e das tro- cas proporcionadas pelo ato de cozinhar. A Patrícia Brito, formada em arquitetura pela Escola de Arquitetura e Design da UFMG, teve a ideia de transfor- mar o seu antigo escritório, localizado no Edifício Maleta, em uma cozinha aberta. A Patrícia dedica o seu tempo também para a produção agrícola familiar e à educação alimentar das pessoas no seu cotidiano. 84
  • 51.
  • 52.
  • 53. COZINHA COMUM A Cozinha Comum é um projeto elaborado por Ceci Nery, Paula Lobato e Thiago Flores, alunos da Escola de Arquitetura e Design da UFMG e integrantes do Nó Coletivo. A Cozinha Comum é um espaço aberto que foi construído de forma coletiva pelos alunos da escola e por outros parceiros da cidade. O projeto proporciona experimentações arquitetônicas e gas- tronômicas diversas. A ideia do projeto é criar opor- tunidades para estimular as trocas de informações, receitas, mudas, alimentos, ingredientes, saberes e vivências entre as pessoas. O projeto por ser itinerante permite que o carrinho percorra e se instale em diferentes lugares da cidade. O carrinho itinerante pode ser usado de distintas ma- neiras a partir de parcerias locais para a sua atuação no espaço público. 90
  • 54.
  • 55.
  • 56. SURICATO - UM MOSAICO DE SONHOS A Suricato - Associação de Trabalho e Produção So- lidária, nasceu em 1999 como uma demanda surgida entre os usuários, por trabalho, cidadania, emanci- pação, autonomia, realização profissional, pessoal e social. Funcionando em regime de incubação, numa parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, a Surica- to é um modo diferente de trabalhar e produzir, que busca incluir cada um do jeito que é, sem preconcei- tos e abandono. A Suricato constituiu-se de certa forma como um mo- vimento social em favor dos ideais do Movimento da Luta Antimanicomial no contexto da Reforma Psiquiá- trica em curso no Brasil, defendendo o direito do por- tador de sofrimento mental e sua consequente inser- ção social e produtiva através do trabalho realizando em conjunto. 96
  • 57. Um espaço que busca exercer a generosidade e a coo- peração como forma de resgatar a cidadania, levantar a auto-estima, de poder render e gerar renda para os usuá- rios. Quando foi criada, a Associação Suricato tinha como objetivo ser um espaço de encontro entre a cidade e a loucura, quebrando os muros representados pelos estig- mas enfrentados pelos portadores de sofrimento mental em Belo Horizonte. A Associação Suricato tem como pilares o trabalho, a eco- nomia solidária, o cooperativismo e o associativismo. A Suricato atualmente se divide em quatro grupos de traba- lho, sendo eles: costura, mosaico, marcenaria e cozinha. - Marcenaria: Reforma de móveis e objetos, fabricação de peças para o mosaico e trabalho de decoração a partir do reaproveitamento de materiais. 97
  • 58. - Costura: Produção de bolsas para o dia-a-dia, almofa- das, panos, etc. - Mosaico: Produção de peças, objetos e adornos ou utili- dades como bandejas, porta-copos, porta-chaves, espe- lhos, etc. - Cozinha: Produção ainda pequena, atende o bar de quinta a sábado no período da noite. Além do bar, a Suricato, há quase quatro anos no Bairro Floresta, expõe pinturas, mandalas, móveis, vasos, foto- grafias e inúmeras obras de arte produzidas pelos usuá- rios da rede de saúde mental de Belo Horizonte. A casa se mantém com a venda dos produtos e recebe subsídio da prefeitura. O trabalho desenvolvido pela Suricato foi de grande relevância para a elaboração da proposta da cozinha, por se tratar de uma instituição extramuros que valoriza a liberdade e a autonomia dos usuários. 100
  • 59.
  • 60.
  • 61. 7 - ESTRUTURAS DE REFERÊNCIA “TECER MINHAS TEIAS COM MINHAS MÃOS... DIVIDIR MEUS SEGREDOS COM A NOITE E MINHAS VERDADES COM OS CÉUS TRILHAR AS ESTRADAS QUE NÃO TRILHEI ROMPER AS PORTAS TRANCADAS POR MIM E ASSIM MINHAS MÃOS SABERÃO DOS MEUS PÉS E ASSIM RENASCER, E ASSIM RENASCER” SAENS SAINT / ALTAY VELOSO
  • 62. THE PUBLIC SPECTACLE Inventados na cidade de San Francisco nos Estados Uni- dos, os parklets estão se tornando uma parte essencial das nossas cidades, estendendo a calçada à rua e pro- porcionando um espaço público adicional. As calçadas transformaram-se em zonas conflituosas, onde os pedes- tres perdem espaço para os carros e outros veículos cir- culantes. Os parklets surgiram então como uma estraté- gia para expandir o domínio público, onde a largura das calçadas é insuficiente para suportar uma vida urbana diversificada e dinâmica. O parklet “The Public Spectacle” da Urban Think Tank (U- TT), encomendado em 2014 pela Swissnex San Francis- co, e desenvolvido em parceria com Jan Gehl Architects, busca encorajar novas formas de ocupação do espaço público e proporcionar um espaço adaptável para o inter- câmbio entre as pessoas. 108
  • 63. O parklet ocupa o espaço destinado a uma vaga de carro e pode assumir múltiplas configurações e possibilidades de uso através de um conjunto de elementos móveis ane- xados a uma estrutura feita de metal. Essas caracterís- ticas proporcionam diferentes usos e ocupações, como performances, exibições, workshops, shows, palestras e muito mais. O parklet pode ser facilmente montado, des- montado e transportado pela cidade para ganhar novos cenários e potencialidades. 109
  • 64.
  • 65. MOBILE CRAFT MODULE O Mobile Craft Module é um projeto idealizado pelo Proto- typing Mobility Advanced Architecture Studio liderado por Adam Marcus do California College of the Arts (CCA). O projeto buscou a criação de duas estruturas implementá- veis ​​que podem ser reconfiguradas para atender a uma variedade de funções e usos. Os módulos “gêmeos” po- dem ser organizados de diversas formas para facilitar o espaço expositivo, o espaço para eventos e o espaço de trabalho. O projeto serviu como pavilhão âncora da CCA duran- te o Market Street Prototyping Festival, um evento de três dias em San Francisco que explorou novas idéias para projetar e ocupar o espaço público da cidade. Ao longo do festival, os módulos compartilharam uma sé- rie de exposições e eventos dos alunos e professo- res da CCA com os pedestres que passavam pela rua. 114
  • 66.
  • 67.
  • 68. STORY POD A Story Pod é uma pequena biblioteca comunitária, pro- jetada e executada pelo escritório Atelier Kastelic Buffey (AKB). O projeto foi executado em 2015 para a pequena cidade de Newmarket, no Canadá. A cidade fica locali- zada no subúrbio de Toronto e possui um núcleo da era vitoriana, rodeado por faixas crescentes de habitações modernas. O volume colocado à beira de uma praça cívi- ca recentemente concluída, no coração da zona histórica da cidade, utiliza o design contemporâneo como um meio de criar uma cidade animada dentro do seu cenário pito- resco. A equipe de arquitetos buscou cuidadosamente a criação de um desenho esteticamente agradável e funcional, bem como ecológico, econômico e fácil de construir, para que uma equipe de construção voluntária pudesse montá-la facilmente. 120
  • 69. Ovolumepretoecompactoévistocomoummarcourbano, convidando a quem passa pela rua principal a caminhar pelo caminho adjacente, à beira de um rio. Durante o dia, o convite se torna mais pronunciado quando duas das pa- redes da fachada principal se abrem como a capa de um livro, acolhendo as pessoas para dentro ou para reuní-las na entrada. À noite, quando as portas estão trancadas, as luzes de LED, alimentadas por painéis solares, brilham através da estrutura, como uma lanterna, proporcionan- do uma iluminação agradável para a vida noturna local. 121
  • 70.
  • 71. CRATE HOUSE + PARSONS KITCHEN A Parson Kitchen foi projetada em 1994 pelo artista ameri- cano Allan Wexler. O projeto começou com a descoberta de um espaço escondido atrás de uma parede localiza- da no átrio de entrada da School of Constructed Envrion- ments de Nova York. A forma negativa desse espaço tor- nou-se a forma final da cozinha. O volume em forma de caixa serve para o armazenamento de diversos tipos de objetos necessários ao funcionamento completo de uma cozinha. A Crate House comprime uma casa inteira dentro de um cubo contendo quatro caixotes em seu interior. Cada fun- ção é isolada e estudada minuciosamente: cozinha, ba- nheiro, sala e quarto. Quando é necessário realizar uma função, a caixa é desconectada do cubo. À noite, toda a casa se torna um quarto e quando o ocupante tem fome, toda a casa se torna uma cozinha. 126
  • 72.
  • 73. ADENTRO Adentro foi uma proposta de intervenção destinada ao Foyer Augusto de Lima do Sesc Palladium, localizado na cidade de Belo Horizonte. A estrutura da intervenção foi projetada por ex-alunas da Escola de Arquitetura e De- sign da UFMG, Luisa Ganzarolli e Patrícia Cioffi. A expo- sição foi realizada no período de 07/10/17 à 05/11/17. A estrutura faz um convite à interação e nos remete a um parque infantil. A intervenção buscou uma mescla das áreas destinadas a permanência e ao descanso com áreas de brincadeira e movimento. Mais do que simples- mente reproduzir um parque infantil, trata-se de revivê-lo de uma maneira nova, estética e sensorial dentro de um novo contexto. A intervenção possibilitou estabelecer um novo olhar e novas formas de apropriação e uso para o lo- cal, através de novas possibilidades, novas experiências e sensações. Adentro é então um estímulo ao convívio e só se configura a partir das conexões e interações entre as pessoas. Para a construção da estrutura foram usadas peças de meta- lon com sessão quadrada de 4x4 cm. As peças foram soldadas umas as outras ou presas através de conexões feitas utilizando-se parafusos sextavado. 130
  • 74.
  • 75.
  • 76. 8 - UMA COZINHA ESQUIZOFÊMERA “O QUE CURA É A ALEGRIA, O QUE CURA É A FALTA DE PRECONCEITO” NISE DA SILVEIRA
  • 77. Como foi mencionado anteriormente na apresentação desse livro, a elaboração de todo o projeto, assim como a sua forma final, foram uma construção e combinação de pequenas partes e elementos que acabaram por se agru- par e dar vida à estrutura da cozinha. Um aglomerado de ideias, propostas, indagações e reflexões a respeito de novas formas de atenção e cuidado aos portadores de sofrimento mental de Belo Horizonte. O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” foi um processo colaborativo desde o seu início, contando com a influên- cia e participação de inúmeras pessoas ligadas à rede de saúde mental. Antes de traçar as primeiras linhas do es- boço da estrutura, busquei escutar minuciosamente cada uma dessas pessoas e analisar quais eram as necessida- des de maior relevância que iriam nortear as decisões a serem tomadas na elaboração da estrutura da cozinha. 138
  • 78. Em uma visita realizada à marcenaria do Centro de Con- vivência do Bairro São Paulo, tive a oportunidade de con- versar com o Miranda, monitor da marcenaria, com o Na- tanael, usuário da rede, e com o Bruno, da Suricato. Nessa conversa foi colocada em evidência a necessidade que eles tinham de ter uma estrutura auxiliar, móvel e multi- funcional, fora da associação e dos centros, para expor os trabalhos desenvolvidos pelos usuários e sua poste- rior comercialização em diferentes locais da cidade. Algo bem semelhante daquilo que eu estava propondo desde o início do projeto. Posto isso então, chegamos, depois de alguns rabiscos e reflexões, em uma forma que viria a se tornar a forma final da estrutura da cozinha. Um cubo que pode ser desmontado e reconfigurado para atender a diferentes tipos de usos e possibilidades. Uma estrutura colaborativa, polivalente, compartilhada, efêmera, intera- tiva, aberta e itinerante. Um amontoado de ideias. 140
  • 79. A estrutura final da cozinha foi pensada para assumir múltiplas configurações, através de um conjunto de elementos móveis, anexados a um esqueleto feito de metal, que podem ser reconfigurados para atender a uma variedade de funções e usos no espaço público da cidade. A estrutura convida o usuário a interagir com os seus elementos anexos móveis e proporciona novas experiências, sensações e possibilidades de apropriação do espaço pelas pessoas. A cozinha só se configura através das relações existente entre as pessoas com o espaço, buscando com isso uma maior conexão e intercâmbio entre as pessoas que circulam próximo ao local. Todas essas características confe- rem à estrutura um potencial enorme de usos e possi- bilidades, como performances, palestras, apresenta- ções musicais e teatrais, como lugar de exposição, de descanso, de práticas culinárias, como oficina, etc. 141
  • 80. A estrutura representa uma estratégia simples, que pode- rá vir a ser construída, administrada e gerida pelos pró- prios usuários da rede de saúde mental. É uma tentativa de expandir ainda mais o conceito da Luta Antimanicomial e levar para as ruas as oficinas de trabalho realizadas nos centros de atenção da rede, e dar uma maior autonomia e voz aos portadores de sofrimento mental. Trata-se então de transportar a loucura para um novo contexto e cenário urbano na cidade, é apoiar as interações sociais e o inter- câmbioentreosusuárioscomaspessoasquepassampelo local e garantir a inserção social e produtiva dos mesmos. A estrutura se configura como uma ferramenta de auxílio para a concretização de trocas de experiências, vivências, histórias, saberes, conhecimentos, receitas, produtos, ali- mentos, canções, protestos, cheiros, sabores, texturas, cores, poemas, sons, costumes, tradições, imagens, etc. 144
  • 81. A estrutura que comporta o projeto da cozinha é dividida em duas partes, sendo a primeira composta pela Estru- tura Externa em forma de cubo e a segunda pelos Módu- los Água e Fogo que serão confinados no interior da Es- trutura Externa. Ambas as partes possuem um esqueleto de peças de metalon com sessão quadrada de 3x3 cm, que podem ser encontradas facilmente no mercado. Os módulos foram projetados para proporcionar uma maior autonomia e funcionalidade em qualquer ponto da cida- de. A estrutura da cozinha também conta com elemen- tos auxiliares anexos feitos de madeira, que poderão ser construídos na marcenaria do Centro de Convivência do Bairro São Paulo pelos usuários da rede de saúde mental de Belo Horizonte. A verba para a construção da estrutura poderá vir através de editais do fundo municipal e estadu- al de cultura, das associações dos usuários, através de vaquinhas populares, de parcerias público-privada, etc. 145
  • 82. ESTRUTURA FECHADA ESTRUTURA ABERTA FORMA FINALRESUMO Estrutura colaborativa, multifuncional, compartilhada, interativa, efêmera, aberta e itinerante O ato de cozinhar como promotor de aproximações e de intercâmbio entre pessoas e entre pessoas e território Estrutura construída, administrada e gerida pelos próprios usuários da rede de saúde mental Verba para construção através de editais, por vaquinhas populares, através das associações dos usuários e por parcerias Diversidade de usos, possibilidades e inte- rações. Cozinhar, pintar, costurar, bordar, cantar, tocar e atuar Estrutura de fácil construção, montagem, desmontagem e transporte. Utilização de materiais comuns no mercado 148
  • 83. ESTRUTURA EXTERNA FECHADA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO INTERIOR ESTRUTURA EXTERNA ABERTA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO EXTERIOR VISÃO GERAL DA COZINHA 149
  • 84. ESTRUTURA EXTERNA FECHADA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO INTERIOR VISÃO GERAL DA COZINHA 151 152
  • 85. ESTRUTURA EXTERNA FECHADA + MÓDULOS ÁGUA E FOGO NO INTERIOR ESTRUTURA EXTERNA POSSIBILIDADES 153 154
  • 86. MEDIDAS FACE 1 - 3 PILAR VIGA PILAR FACE 1 + ELEMENTOS ANEXOS E CARRINHO DE DESCANSO FACE 1 - 3 FACE 1 - 3: ESTRUTURA DE METALON FACE 3 + ELEMENTOS ANEXOS E REDE VERTICAL Nas faces 1 e 3 da Estrutura Externa da cozinha, há a pre- sença dos Elementos Anexos (Cubo, Vaso e Prateleira), do Carrinho de Descanso e da Rede Vertical. O detalha- mento dos elementos anexos serão apresentados mais a seguir. As faces 1 e 3 são compostas de duas partes dis- tintas (Pilar e Viga), que são presas através de parafusos sextavado. O restante da estrutura é soldada. 155 156
  • 87. FACE 1 - FECHADA E ABERTA FACE 3 - FECHADA E ABERTA 157 158
  • 88. FACE 2 - MEDIDAS FACE 4 - MEDIDAS FACE 2 + ELEMENTOS ANEXOS, ARMÁRIOS E CUBOS FECHADOS FACE 2 - 4 FACE 2 - 4: ESTRUTURA DE METALON FACE 4 + ELEMENTOS ANEXOS, ARARA E PRATELEIRAS Na Face 2 da Estrutura Externa, há a presença dos Ar- mários e dos Cubos Fechados, que poderão servir para o armazenamentos dos utensílios da cozinha e das oficinas de pintura, mosaico, costura e bordado. Na Face 4 da Estrutura Externa há a utilização de uma arara móvel e prateleiras de madeira que poderão ser colocadas para atender a novos tipos de uso e para exposições diversas. 159 160
  • 89. FACE 2 - FECHADA E ABERTA FACE 4 - FECHADA E ABERTA 161 162
  • 90.
  • 91. CUBO PRATELEIRA CARRINHO DE DESCANSOARMÁRIO CUBO FECHADO PRATELEIRA DO CARRINHO DE DESCANSO E DA FACE 4 VASO Os Elementos Anexos foram pensados para dar maiores possibilidades de uso para a estrutura da cozinha. Por se- rem feitos de madeira, poderão ser construídos na marce- naria do Centro de Convivência do Bairro São Paulo pelos usuários da rede. Os elementos são móveis e podem ser desconectados da Estrutura Externa para ganhar o entor- no e promover a interatividade entre as pessoas. ELEMENTOS ANEXOS 165 166
  • 92. MÓDULOS ÁGUA E FOGO 167 168
  • 93. MÓDULO ÁGUA - FECHADO E ABERTO O Módulo Água foi projetado para possuir uma maior auto- nomia e funcionalidade. Ele comporta um sistema de uso da água com o emprego de galões de 20 L. O módulo con- ta com bancadas auxiliares que podem ser abertas para o uso,umapiade40x40cmeumarmárioparaarmazenamen- to de utensílios. No lugar do armário poderá ser colocada umacaixatérmicaparaoacondicionamentodosalimentos. MÓDULO ÁGUA MÓDULO ÁGUA ABERTOMÓDULO ÁGUA FECHADO SISTEMA DE USO DA ÁGUA COM O EMPREGO DE GALÕES DE 20 L 169 170
  • 94. MÓDULO FOGO - FECHADO E ABERTO O Módulo Fogo, assim como o Módulo Água, foi projetado para obter a maior funcionalidade, autonomia e desempe- nho no pequeno espaço que ocupa. A estrutura metálica proporciona a colocação de inúmeros utensílios dependu- rados em todo o módulo. O módulo conta com um fogão de bancadaagásde4bocas,bancadasauxiliareseumespa- ço em seu interior para guardar algumas mesas dobráveis. MÓDULO FOGO MÓDULO FOGO ABERTO + MESAS DOBRÁVEISMÓDULO FOGO FECHADO MÓDULO FOGO ABERTO 171 172
  • 95. MÓDULOS - MEDIDASMÓDULOS ÁGUA E FOGO 173 174
  • 96. As bases metálicas foram projetadas para garantir a mo- vimentação da Estrutura Externa e dos Módulos. As bases utilizam uma chapa metálica de 1/2” de espessura. Nas bases 1 e 2 são utilizados rodízios pneumáticos de 5”com freio e na base 3 rodízios pneumáticos de 6”. Os rodízios sãofixadosnachapacomparafusossextavado3/8”.Acha- pa metálica da base é soldada nos elementos da cozinha. BASE METÁLICA BASE METÁLICA 1 - MEDIDAS BASE METÁLICA 2 - MEDIDAS BASE METÁLICA 3 - MEDIDASVISÃO GERAL DA CONSTRUÇÃO DA BASE METÁLICA BASE METÁLICA 1 - PERSPECTIVA BASE METÁLICA 2 - PERSPECTIVA BASE METÁLICA 3 - PERSPECTIVA 175 176
  • 97. MATERIAIS M1 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 243 cm; M2 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 45 cm; M3 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 147 cm; M4 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 141 cm; M5 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 93 cm; M6 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 51 cm; M7 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 135 cm; M8 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 50 cm; M9 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 60 cm; M10 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 63 cm; M11 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 125 cm; M12 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 187 cm; M13 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 53 cm; M14 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 24 cm; M15 - Metalon 3x3 cm - Comprimento: 27 cm; 178
  • 98. “O correr da vida embrulha tudo: a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta: o que ela quer da gente é coragem” Guimarães Rosa 180
  • 99. 9 - CONCLUSÃO “A ÚNICA FORMA DE SE IDENTIFICAR OS PROBLEMAS É NÃO NEGÁ-LOS... AO NOMEAR, ENCARAR AS DIFICULDADES, PODEMOS COMPREENDER E CRIAR ALTERNATIVAS PARA SUPERÁ-LOS” ANTÔNIO QUINET
  • 100. O projeto da “Cozinha Esquizofêmera” é uma proposta crítica e diferenciada, que não se baseia em regras for- mais das visões da arquitetura como arte aplicada às so- luções estéticas, visuais, de acomodações e acessos à população, mas sim, com foco nas relações humanas e na utilização do espaço público como um local insertivo e compartilhado. O projeto da cozinha procura encorajar novas possibilida- des, novos usos e novos meios de intercâmbio e diálogo entre as pessoas na vida urbana da cidade. Uma propos- ta que traz na sua essência a necessidade de exteriorizar e levar a loucura para um novo contexto e para novos cenários. 183
  • 101. “Com as letras fiz as palavras Com as palavras fiz as frases Com as frases fiz versos Com os versos contei histórias Com histórias contei a vida Com a vida vivi o melhor que pude...” Daílton Rodrigues de Araújo 186
  • 102. 10 - LINKS IMPORTANTES - BIBLIOGRAFIA “NÃO SOU NADA NUNCA SEREI NADA NÃO POSSO QUERER SER NADA À PARTE ISSO, TENHO EM MIM TODOS OS SONHOS DO MUNDO” ÁLVARO DE CAMPOS
  • 103. ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro: Vida, Genocídio e 60 mil Mortes no Maior Hospício do Brasil. São Paulo: Geração, 2013 AMARANTE, PAULO. Loucos pela vida: A Trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995 BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Geral de Saúde Men- tal. Boletim Saúde Mental no SUS, ano VI, n. 26, 2007 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Legislação em saúde mental. Brasília, DF, 2002 CAMPOS, C. R. Cidadania, Sujeito, Cersam e Manicômios. Metipolá - Revista do Cersam Leste de Belo Horizonte, 1999 DELEUZE, G. & GUATTARI, F. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1976 FREYRE, Gilberto. Manifesto Regionalista. 7.ed. Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana, 1996 PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Política de Saúde Mental de Belo Horizonte: O Cotidiano de Uma Utopia. Belo Horizonte: Secre- taria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, 2008 https://drive.google.com/drive/folders/1xvkzqr34B5xowkiUcyYIrMLQGvp2wYnb LINK DE ACESSO PARA OS ARQUIVOS DO PROJETO “COZINHA ESQUIZOFÊMERA” https://www.youtube.com/watch?v=uQrWZ3qWkVY COZINHA COMPARTILHADA EM UM CERSAM DE BELO HORIZONTE https://www.youtube.com/watch?v=CVMGZqV2cP4 DOCUMENTÁRIO “HOLOCAUSTO BRASILEIRO” http://www.constructlab.net/projects/casa-do-vapor/ CASA DO VAPOR https://memoriagustativa.jimdo.com MARCELINA BELMIRO https://www.facebook.com/groups/1413804868850119/about/ COZINHA COMUM http://www.akb.ca/projects/#/story-pod/ STORY POD http://www.constructlab.net/projects/casa-do-vapor/ CRATE HOUSE + PARSONS KITCHEN https://www.facebook.com/SescPalladium/videos/792662774239391/?hc_re- f=ARQAztPCdc2POWN9mdhkal2nUVuAhvZTF87he-euM2jSJ0Np1nccz- 9fjiSRa6th1MX4&pnref=story ADENTRO https://suricatosolidaria.wordpress.com/espaco-cultural-suricato/ ASSOCIAÇÃO SURICATO http://u-tt.com/project/swissnex-parklet/ THE PUBLIC SPECTACLE http://www.variableprojects.com/mobile-craft-module/ MOBILE CRAFT MODULE LINKS IMPORTANTES BIBLIOGRAFIA 189 190 “Uma sociedade nova surgirá um dia, como nos sonhos: uma cidade imensa, esplêndida. Como uma miragem, onde cada cidadão viveria do seu trabalho e teria o seu quinhão nas alegrias comuns” Zola
  • 104. 11 - LISTA DE IMAGENS “QUEM ANDA NOS TRILHOS É TREM DE FERRO, SOU ÁGUA QUE CORRE ENTRE AS PEDRAS: LIBERDADE CAÇA JEITO.” MANOEL DE BARROS
  • 105. 1 - APRESENTAÇÃO IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 7 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 8 - Acervo da Associação Suricato; IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 10 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 11 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 12 - Acervo da Associação Suricato; 2 - MOTIVAÇÃO IMAGEM 1 - Acervo da internet; IMAGEM 2 - Acervo da internet; IMAGEM 3 - Acervo da Associação Suricato; IMAGEM 4 - Acervo da Associação Suricato; IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 6 - Acervo da Associação Suricato; 3 - OBJETIVOS DO PROJETO IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor; 4 - PILARES DO PROJETO IMAGEM 1 - Acervo da internet; IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 7 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 8 - Acervo da Associação Suricato; IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 10 - Acervo pessoal do autor; 5 - COZINHAR E CONVIVER NO ESPAÇO PÚBLICO IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor; 6 - COZINHA DA CASA DO VAPOR IMAGEM 1 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 2 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 3 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 4 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 5 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 6 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 7 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 8 - Acervo pessoal da Constructlab; IMAGEM 9 - Acervo pessoal da Constructlab; 7 - MARCELINA BELMIRO IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 5 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 7 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 8 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor; 8 - COZINHA COMUM IMAGEM 1 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 2 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 3 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 4 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 5 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 6 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 7 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 8 - Acervo da Cozinha Comum; IMAGEM 9 - Acervo da Cozinha Comum; 9 - SURICATO - UM MOSAICO DE SONHOS IMAGEM 1 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 2 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 3 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 4 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 5 - Acervo da Associação Suricato; IMAGEM 6 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 7 - Acervo da Associação Suricato; IMAGEM 8 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 9 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 10 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 11 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 12 - Acervo pessoal do autor; IMAGEM 13 - Acervo da Associação Suricato; IMAGEM 14 - Acervo pessoal do autor; 10 - THE PUBLIC SPECTACLE IMAGEM 1 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 2 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 3 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 4 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 5 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 6 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 7 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 8 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 9 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 10 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); IMAGEM 11 - Acervo da Urban Think Tank (U-TT); 11 - MOBILE CRAFT MODULE IMAGEM 1 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; IMAGEM 2 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; IMAGEM 3 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; IMAGEM 4 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; IMAGEM 5 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; IMAGEM 6 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; IMAGEM 7 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; IMAGEM 8 - Acervo do Prototyping Mobility Advan- ced Architecture Studio; 12 - STORY POD IMAGEM 1 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); IMAGEM 2 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); IMAGEM 3 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); IMAGEM 4 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); IMAGEM 5 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); IMAGEM 6 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); IMAGEM 7 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); IMAGEM 8 - Acervo do Atelier Kastelic Buffey (AKB); 13 - CRATE HOUSE + PARSONS KITCHEN IMAGEM 1 - Acervo do Allan Wexler; IMAGEM 2 - Acervo do Allan Wexler; IMAGEM 3 - Acervo do Allan Wexler; IMAGEM 4 - Acervo do Allan Wexler; IMAGEM 5 - Acervo do Allan Wexler; 14 - ADENTRO IMAGEM 1 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 2 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 3 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 4 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 5 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 6 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 7 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 8 - Acervo da Cecília Ganzarolli; IMAGEM 9 - Acervo da Cecília Ganzarolli; 15 - UMA COZINHA ESQUIZOFÊMERA / CONCLUSÃO Todas as imagens, incluindo os diagramas e as mon- tagens, pertencem ao acervo do autor. 193 194
  • 106. “POSSO GRITAR QUE O VENTO LEVA, MAS NO SILÊNCIO TUDO NÃO PASSA DE BRISA...” ANDORINHA
  • 107. COZINHA ESQUIZOFÊMERA UMA NOVA MANEIRA DE CUIDAR E PENSAR A LOUCURA
  • 108. ROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROSROBERTO CARVALHO PEDROSA DE MEDEIROS