O artigo descreve três casos trágicos de pacientes que morreram após não conseguirem atendimento médico adequado no sistema público de saúde da cidade, destacando o caos no setor. A professora Cíntia Cristina passou por quatro unidades sem vaga e faleceu após esperar horas em um hospital particular. As irmãs Joyci e Ana Vitória morreram após alta, sendo acusados os pais de negligência. O texto critica a gestão da saúde por transferir responsabilidades e abandonar os cidadãos à
1. Artigo Jornal Folha da Manhã – 20/05/2016
Um sistema de saúde caótico
Esta semana nossa cidade foi abalada por dois casos que causaram choque, indignação e
comoção. Primeiro, duas irmãs, a menina Joyci, de 6 anos e a menina Ana Vitória, de
apenas 1 ano, morreram na UPA, depois de serem liberados após atendimento no
Hospital Geral de Guarus (HGG). Dias depois tivemos a triste notícia do falecimento da
professora e bacharel de Direito Cintia Cristina, que, lutando pela vida de forma
dramática, passou por quatro unidades de saúde da cidade sem ter conseguido uma vaga.
Desesperados, familiares levaram Cíntia a um hospital particular, onde teve que esperar
mais algumas horas. Após toda essa dramática busca por atendimento, que durou quase
sete horas, ela não resistiu.
Por não ter um plano de saúde, a professora, como tantos outros cidadãos de nosso
município, dependia das unidades de saúde pública de Campos e somente recorreu ao
hospital particular por não ter conseguido vaga para internação nem no HGG, nem no
Hospital Ferreira Machado. É um acinte, uma vergonha pública, que qualquer pessoa
dessa cidade venha a falecer por não poder ser acolhida na rede pública. Não é de hoje
que temos notícias sobre o quadro caótico da saúde neste município, pois é de
conhecimento geral que falta estrutura para atender com presteza e de forma qualificada
os moradores de Campos e região.
É um absurdo também que uma mãe e um pai percam duas de suas filhas (não uma, mas
duas), no mesmo dia, por falhas no atendimento e ainda sejam acusados de negligência. É
um absurdo que a gestão da saúde dessa cidade transfira a responsabilidade para os pais
das crianças. A administração pública de qualquer cidade é responsável por assistir seus
cidadãos, seja no momento de orientar e prevenir de doenças, seja na hora de tratar das
patologias, principalmente quando se trata de indivíduos em condição de vulnerabilidade
social. É um absurdo, um descalabro, que alguém precise pagar para não morrer em um
município que contou com R$ 15 bilhões só nos últimos oito anos.
Grande parte dos cidadãos de Campos está abandonada à própria sorte, porque no dia em
que tiverem o “azar” de precisar de cuidados para sobreviver, pode ser tarde demais. Até
quando permitiremos esse profundo desrespeito pela dignidade humana? Agora foram as
irmãs Joyci e Ana Vitória, e a professora Cíntia Cristina. E amanhã? Quem será que vai
pagar a conta do caos instalado na saúde do nosso município?