O artigo discute o avanço do zika vírus e microcefalia no Nordeste brasileiro, a necessidade de apoio às famílias afetadas e de informações confiáveis sobre a doença. Também ressalta que questões estruturais como saneamento básico, ainda precário em muitas cidades, facilitam a proliferação do mosquito transmissor.
1. Artigo Publicado na Folha da Manhã - 19/02
A guerra contra o mosquito
Nos últimos meses acompanhamos o avanço do problema gerado pelo zika vírus no Brasil,
sobretudo devido à possível relação do vírus com o recente aumento dos casos de microcefalia
em fetos e recém-nascidos. Estados nordestinos como Bahia, Paraíba e Pernambuco são os mais
afetados pela epidemia. Muitas mulheres deram à luz a bebês que viverão uma vida de grandes
limitações. É assustador pensar no que significa de fato que esta condição cerebral possua
caráter epidêmico. E é de fundamental importância que as famílias destas crianças recebam todo
o apoio possível, para que seja amenizada a gravidade dos danos.
Muitas notícias e boatos têm sido espalhados a respeito das formas de transmissão do vírus Zika,
o que tem criado uma atmosfera de medo e desconfiança pelo país. Uma boa saída para impedir
a divulgação de inverdades sobre o tema seria a criação de uma plataforma oficial de informações
com dados acurados a respeito do que os cientistas sabem e ainda não sabem a respeito do
vírus. Vinculado a isto, o incentivo aos órgãos nacionais que realizam pesquisas científicas é
condição sine qua non para acelerar o processo de criação de uma vacina que combata a doença.
É importante que a população adote medidas de prevenção contra o mosquito. No entanto, os
governos dos âmbitos federal, estadual e municipal precisam se unir para solucionar problemas
estruturais que atravessam o Brasil desde o começo do processo de modernização do nosso país.
Pautas políticas do século XIX, como o acesso universal ao saneamento básico, o que inclui o
acesso à distribuição de água potável e ao tratamento do esgoto, ainda não conseguiram ser
plenamente implementadas em muitas cidades brasileiras em pleno século XXI. E são
precisamente as regiões com maior acesso precário a esses direitos básicos as mais afetadas
pela proliferação das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti.
Em nossa cidade a inércia ficou comprovada, já que um projeto de autoria do vereador Fred
Machado (PPS), sancionado em 2013, previa uma série de ações para combater o mosquito e
evitar uma epidemia. Porém, só agora, quase três anos depois, o governo se movimenta e
apresenta um projeto idêntico, revelando a falta de planejamento e o descaso com a proposta do
vereador de oposição. É preciso que seja realizado um trabalho de prevenção dessas doenças
através do combate ao mosquito transmissor, a começar pela garantia dos serviços públicos mais
elementares a toda a população. Se não começarmos a trabalhar, juntos, para resolver as
questões que se apresentam como as causas mais básicas desta epidemia, dificilmente
poderemos evitar que problemas desta dimensão atinjam o país.