1. NUMA ÉPOCA em que a
imprensa internacional ainda cai
em armadilhas de achar que o
Brasil é selva e favela, por que não
falar de espaço e qualidade?
Apesar de estarmos habituados ao
consumo de obras de pequeno
porte, o efeito que um trabalho
monumental causa no espectador e
a forma como interage com o
ambiente são pontos que não
devem ser ignorados. Pensando
nisso, a ArtRio 2013 traz um pro-
grama que aborda justamente esse
assunto: a magnificência das obras
de arte de grande escala e o resul-
tado das instalações pensadas para
ocupar um determinado espaço. O
Lupa, localizado no anexo 4 do
Píer Mauá, reúne trabalhos artísti-
cos grandiosos, inéditos ou desen-
volvidos especialmente para a
ArtRio (site-specifics). “A repre-
sentação comercial deste tipo de
obra é significativa para galerias e
foco natural de grandes coleções
públicas e privadas”, conta Brenda
Valansi, organizadora da feira.
Obras que transcendem um espa-
ço, ou integram-se a ele, têm um
valor particular e, com o avanço
do mercado de arte, cresce tam-
bém o interesse sobre elas. Você já
pensou em ter uma?
“Não creio que a escala do tra-
balho seja um grande problema que
inviabilize seu consumo. Contudo,
há questões arquitetônicas que
devem ser levadas em consideração
para a real adequação da obra”,
conta o artista plástico paulistano
Nazareno, que expõe no programa
Lupa pela galeria Luciana Caravello
Arte Contemporânea. “Sem dúvi-
da, o programa Lupa também é
uma oportunidade de chamar a
atenção de curadores para obras
dessa natureza”, explica Valansi.
“Cloison à lames réfléchissantes”, de Julio Le Parc
NEM FAVELA NEM SELVA
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EDIÇÃO ARTRIO | 7 DE SETEMBRO DE 2013
ArtRio 2013 chama atenção para obras de grande escala
FOTOS DE THAÍS PONTES
E o que se deve levar em conta
antes de comprar uma obra de
grande porte? “Qual o seu objeti-
vo? Investimento? Exposição?
Acredito que existam distintas
situações. É necessário um estudo
prévio do local e de sua posterior
manutenção”, explica Nazareno.
Ter espaço não é o suficiente. “O
comprador precisa levar em consi-
deração se o lugar será coberto,
semi coberto, fechado, interior, se
há necessidade de luz ou de
penumbra. Questões relacionadas
à instalação da obra, à sua pro-
posta”, comenta o artista plástico
argentino Julio Le Parc, que expõe
no Lupa pela galeria Nara Roesler.
Já o carioca Ernesto Neto, que
expõe no programa pela galeria
Fortes Vilaça, simplifica: “Acho
que o colecionador deve levar em
consideração a qualidade da obra
e o desejo dele.”
SITE-SPECIFICS: A INTEGRAÇÃO
ENTRE A OBRA E O ESPAÇO
Qual a diferença entre uma
obra de grande escala e um site-s-
pecific? O site-specific é uma obra
criada para existir em um determi-
nado espaço, integrando-se a ele.
“O meu processo criativo de um
site-specific envolve minha relação
de contato com o local a ser traba-
lhado. Esse espaço, muitas vezes,
ativa soluções em ideias já pré-con-
cebidas, podendo ainda ser o defla-
grador de novas ideias”, explica
Nazareno.
“Muitos de meus trabalhos
podem ser considerados pelos
outros como ‘site-específico’, com-
binação de palavras que acho
absolutamente cafona e atrasada”,
diz Neto. “No meu caso, muitas
vezes o trabalho tem mesmo um
diálogo ‘unha e carne’ com a
arquitetura e o contexto da mos-
tra, como se os aspectos construí-
dos e dados fossem uma concha, e
o trabalho, a carne”, comenta.
Os site-specifics não são comer-
cializados com tanta facilidade
hoje em dia, porém é possível
encomendar um projeto exclusivo
para um local específico caso gas-
tar uma boa quantia for uma pos-
sibilidade. Para Nazareno, trata-se
de algo muito natural: “É comum
colecionadores pedirem a um
artista que desenvolva uma obra
exclusiva para um determinado
ambiente. Ao longo da história da
arte, podemos observar diversos
exemplos disso.”
VOCÊ VÊ POR AQUI
O Lupa, no anexo 4, é um bom
lugar para você que procura inspi-
ração e nunca cogitou ter uma obra
de arte de grande porte antes. Um
dos trabalhos que mais chama aten-
ção é justamente o de Julio Le Parc,
“Cloison à lames réfléchissantes”,
feito em aço inoxidável espelhado.
“É uma obra sobre o deslocamento
do espectador. São lâminas espe-
ciais refletoras e um losango verme-
lho que vai se transformando,
mudando sua velocidade e, ao
mesmo tempo, seu espectador tam-
bém se fraciona e se torna outro
atrás da obra”, explica o artista.
“No que estamos pensando...”,
de Ernesto Neto, também intriga
os visitantes, que podem interagir
com a obra deitando-se nas redes
que fazem parte dela. “Trata-se de
uma escultura, cruzamento de duas
chapas de aço Corten e quatro
redes, uma em cada esquina. O
contato da rede de algodão com os
poros do aço são mediados pela
doçura de um botão de madeira.
No centro, há um suporte seguran-
do um vaso com uma exuberante
pata-de-elefante”, conta.
A obra “Esperando”, de
Nazareno, provoca estranheza e
faz pensar. Ele explica: “Essa obra
é uma amplificação de meus traba-
lhos envolvendo cadeiras miniatu-
rizadas, colocadas em diferentes
disposições e com títulos sugestivos
de ações humanas que envolvem
períodos de suspensão, subtração
do tempo, silêncio, espera... São 25
cadeiras, dessa vez não miniaturi-
zadas, que estão posicionadas de
maneira que seus eventuais ocu-
pantes não fiquem frente a frente,
configurando uma impossibilidade
de diálogo nos moldes civilizados
tal como conhecemos.”
“Obras monumentais instigam
a todos os visitantes, inclusive
quem não está interessado em com-
prar”, conclui Brenda Valansi.
— POR THAÍS PONTES
“Esperando”, de Nazareno
“No que estamos pensando...”, de Ernesto
Neto